Crescer On-line - março de 2020

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nº 127 Março de 2020

“Esta é a hora em que podemos reaprender tantas coisas. Podemos reaprender a estar nas nossas casas, mas também a sentir que depende de nós o nosso prédio, a nossa rua, o nosso bairro, a nossa cidade, o nosso país, dando substância efetiva a palavras, tantas vezes destituídas dela, como são as palavras proximidade, vizinhança, humanidade, povo e cidadania. (…) Sem nos tocarmos, podemos reaprender o valor da saudação, o estímulo de um cumprimento, a incrível força que recebemos de um sorriso ou de um olhar.” (Cardeal José Tolentino de Mendonça)


Viver a quaresma – Renascer A fé que professamos, mesmo feridos, obriga-nos a estar de pé, como Maria. Distantes por contenção mas presentes por compaixão. Não nos vamos render nem dar por vencidos. Mas é preciso renascer. “Maria estava de pé junto à cruz” (Cf. Jo.19, 25). Estar de pé é, provavelmente, o desafio mais “pertinente” da quaresma que estamos a viver. A quaresma que tínhamos previsto, com os nossos planos de conversão, terminou precocemente e já não serve para as circunstâncias que vivemos. A realidade obrigou-nos a todos a entrar em quarentena. Esta é a nova quaresma. A quaresma que não imaginávamos possível, que nunca tínhamos vivido, a quaresma feita, não de jejuns ou abstinências “normais”, mas a quaresma da sobrevivência da própria condição humana que chegou ao mundo sem aviso de receção. A quaresma de 2020 está a levar-nos para cenários inimagináveis, de duelo entre a vida e a morte, entre a ameaça e a superação, entre o inesperado e a esperança.É possível estarmos atordoados com a ameaça que estamos a viver. De repente, tudo se precipitou e nada do que podemos e sabemos chega para enfrentar este novo adamastor. Mesmo com esperança, é difícil aceitar os dias duros que estamos a viver. As horas não passam, as notícias desfazem-nos, as orações não chegam. Como continuar de pé, a reerguer a própria vida sem nos podermos consolar uns aos outros, sem nos alimentarmos do pão de Deus? Ainda ontem nos sentávamos todos juntos a rir, a conversar e partilhar sonhos e dificuldades, a inventar projetos de solidariedade ou a programar noites de partilha e oração; ainda ontem preparávamos o casamento, descobríamos em casal que estávamos grávidos ou pedíamos um empréstimo para pagar a primeira prestação da casa que sonhámos. Ainda ontem comíamos um gelado no Santini, trocávamos juras de amor na praia, preparávamos às escondidas a festa das bodas de oiro dos avós, fazíamos os exames do primeiro semestre, ensaiávamos a Via Sacra da Paróquia. Ontem, a vida era o que era e hoje, sabemos que não era pouco o que nos parecia só “alguma coisa”. Hoje, teve que ser tudo desmarcado e adiado e, de repente, parece que tudo nos é proibido ou dificultado. (continua na próxima página) Crescer on-line - Março de 2020 - Página nº 1


Hoje, provavelmente, percebemos a distância que vai entre o virtual e o real, sem desdém para nenhuma das partes. Estamos perto, vemo-nos mas não nos podemos abraçar. Somos nós sem sermos tudo o que há em nós. Vivemos proibidos uns dos outros e estar longe tornou-se, ainda que provisoriamente, na forma mais inesperada de relação e de respeito. A caridade da quaresma é inédita e tem agora o nome de contingência, prevenção, isolamento e distância e, a esmola, outra das ferramentas quaresmais obrigatórias, reinventa-se, generosa, talvez até excessiva, em mil ajudas que nos chegam de todos os lados, através das plataformas digitais como uma verdadeira bênção para vencermos o tédio e a insegurança dos amigos, que sem certezas esperam o dia de manhã. Estamos todos em vigília, preocupados mas desarmados. Ao princípio, obcecados com os nossos afazeres imprescindíveis, na concorrência brutal das nossas vidas de sucesso, tudo aparecia e nos parecia, que Deus perdoe a nossa insensibilidade, um problema dos chineses. As notícias eram terríveis, as imagens alarmantes, a situação era preocupante e devastadora. Mas era uma dor vivida do outro lado do mundo, eram outros os protagonistas e outros eram as vítimas, talvez, um pouco, à imagem do modo como vamos acompanhando a situação dos refugiados: comove mas não move. Agora tudo mudou e vai continuar a mudar. No teatro das operações estamos nós, as potenciais “vítimas” somos nós, a história da impotência humana faz-se connosco. Somos nós os atores desta tragédia para a qual não estávamos preparados nem temos uma resposta, apesar de todos os heróis que, por nós, por cada um de nós, combatem diariamente nas trincheiras dos hospitais, na resistência dos próprios limites, uma luta desigual, sem pressas, entre David e Golias. Como tem sido difícil reconciliarmo-nos com a nossa condição frágil, impreparada para tão grande batalha! Quem poderá travar esse vírus cobarde e presunçoso, que se julga imperador e senhor das nossas vidas? Quem poderá escapar a esta ameaça viral depois de nos termos convencido que éramos intocáveis, incríveis, imortais antes da própria morte? É a vida que está em jogo. A terrível ameaça que se propaga cobardemente entre nós, age calada e devora-nos sem razão e sem culpa. Parece um castigo mas não é. É só uma praga que, com muito trabalho científico e muita confiança em Deus, vamos vencer. Até lá, vagarosamente, à medida que os dias da quaresma se vão rezando, precisamos urgentemente de reler a condição humana, deixar todos os mitos e Prometeus alarmistas e recomeçar, renascer, recriar a vida a partir de Cristo que, por amor carregou, transformou e deu sentido à própria cruz. Sózinho mas não abandonado, isolado mas não esquecido. Maria estava de pé, com Ele, n’Ele. A fé que professamos, mesmo feridos, obriga-nos a estar de pé, como Maria. Distantes por contenção mas presentes por compaixão. Não nos vamos render nem dar por vencidos. Já todos na vida nascemos e renascemos muitas vezes. Nascemos para renascer. Ninguém nasceu sozinho. Nasceu de sua mãe, nasceu com a própria mãe. Nasceu para nascer, para renascer todas as vezes que for preciso. Todos sabemos o que é refazer uma vida, recomeçar a partir do nada, fazer das migalhas pão, sem poder contar com nada nem com ninguém. Nascemos e renascemos para existir. ( Continua na próxima página) Crescer on-line - Março de 2020 - Página nº 2


Infelizmente é ainda muito cedo para cantar vitória ou descansar. A quaresma de 2020 vai ser um caminho duro mas não interminável, condenado a prolongar-se para além da Páscoa da Ressurreição. Temos um enorme deserto a percorrer sem sabermos, com a certeza desejada, como vamos conseguir chegar ao fim. Faremos este longo caminho a tremer, talvez até sem GPS ou outras bússolas mas nunca nos sentiremos perdidos. Caminhamos ansiosos mas não angustiados. Já não vamos pelos nossos sonhos. Vamos pelo dever humano de existir. Vamos pelos outros! Não nos vamos render. Vamos resistir, lutar, combater. Vamos vencer este Gólgota como Cristo venceu o pecado na cruz. Nesta quaresma, a santidade pessoal já não é um projeto de conversão para agradar a Deus e ampliar a alma. A nossa conversão é muito mais do que um desassossego que eleva. A nossa vida ficou sem garantia e ganhou, paradoxalmente, nas cinzas desta quaresma sanitária, um estatuto de valor universal. Impagável, inegociável. Não importa se os que já foram apanhados pela “peste” são santos ou pecadores, milionários ou sem abrigo, grandes artistas ou iletrados. São seres humanos, são da nossa condição, são nossos irmãos, são filhos do mesmo Deus. Esta é a “revelação” da Quaresma deste ano. Descobrimo-nos frágeis e irmãos. No fundo, devemo-nos uns aos outros. O País está em emergência sanitária, os hospitais estão em “guerra” e os médicos exaustos, as escolas e as igrejas estão em serviço on-line, as praias e os jardins estão proibidos, as bibliotecas e os cinemas estão fechados, as ruas estão desertas, os mais velhos estão escondidos, as famílias estão refugiadas nas suas casas quase anestesiadas no mundo digital, a fingir ou pelo menos a exorcizar os medos que surpreendem os mais fortes, os inquebráveis, todos. Afinal, estamos todos a descobrir que na vida ninguém tem um seguro infalível contra todos os riscos. O jejum quaresmal ganhou uma dimensão que nunca imaginaríamos há umas semanas atrás. Estamos proibidos de viver com o essencial que julgávamos intocável: os outros, a comunidade. Conviver, abraçar, viajar é um luxo adiado, sem preço. Quase não podemos celebrar nem a vida nem a morte. Tudo está ou em rutura ou em espera. Ao mesmo tempo, este jejum obriga a uma tal intensidade de vida que para alguns é um excesso tremendo. Excesso de preocupação pela própria saúde; excesso pelo bem-estar dos amigos e familiares mais próximos; excesso de vida em casa, entre marido e mulher, entre pais e filhos; excesso de notícias, de boatos, de silêncio, de limites, de solidão, de medos e precauções. (…) Nesta quaresma trágica e irónica não devemos estar juntos, só podemos estar fechados. O que não podemos é estar contra os outros, fora uns dos outros, fora do Corpo de Cristo. Falta-nos o pão de Cristo mas não nos falta a dor de Cristo. Comunguemos a dor dos nossos irmãos. Nas mãos abertas, limpas, dignas e pobres, prontas a receber o pão do Céu, recebemos o vazio e o silêncio dos que gritam por Cristo sem resposta. Como poderíamos comungar Cristo sem comungar os “sem Cristo”, os “sem alegria”, “os sem terra”, “os sem amor”, os “sem nada”? É a esta esperança imaculada que a via dolorosa nos conduz. Não para encontrar a alegria do depois, a alegria que está no fim mas a alegria que está por dentro, que permanece na dor, a alegria da semente que resiste na terra e que brotará, se for preciso, do meio das pedras. É esta alegria que vemos sair das redes sociais, das janelas e varandas, e canta e aplaude e agradece e enobrece a condição humana. É a alegria que salva, que redime, que antecipa o memorial da ressurreição. De pé, com Cristo, por dentro de cada um, vai-se fazendo a nossa quaresma, em cada olhar cheio de amor. Hoje renascemos da dor do outro, inteiros, de pé e vemos a vida como um parto incontornável, arriscado e sem epidural. Está visto que sem a experiência da dor a nossa alegria será sempre incompleta. Agora que estamos a experimentar, na própria pele, a verdade da contingência humana, não deixemos de rezar, uns pelos outros, como irmãos que somos, como Jesus nos ensinou: Pai Nosso… P. Carlos Carneiro sj

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O silêncio O silêncio parou para te falar Para te escutar Para estar contigo Para te amar Para te compreender Para te iluminar Para te libertar. O silêncio parou para te ver Para te olhar Para te perceber Para te experimentar Para te provar Para te inspirar Para te vencer. O silêncio parou para te assumir Para te inundar Para te curtir Para te encantar Para te seduzir Para te cativar Para te abrasar. O silêncio é habitado pelo amor, Trindade Santa Fonte de graça e de vida Ele parou para te encontrar. Faz silêncio diante do amor E Deus habitará em ti; Como quem mistura a vida O Amor se mistura dentro do teu ser. És dentro e fora, para dentro e para fora, O silêncio parou para te revelar Teus espaços interiores e exteriores. Ele quer te habitar para que saibas quem és Para que sejas tu mesmo Para que Deus seja Ele mesmo o teu Deus Para que tu sejas diante de tudo E tudo seja diante de ti. A consciência da vida Está na consciência do silêncio que mora em ti. Faz do teu silêncio comunhão na presença: Não és um espaço vazio O amor terno e criador de Deus mora em ti. P. José Luís Coelho, CSh

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CATEQUESES DO PAPA FRANCISCO SOBRE O BATISMO (III) A Páscoa de Cristo, com a sua carga de novidade, chega até nós através do Batismo para nos transformar à sua imagem: os batizados pertencem a Jesus Cristo, Ele é o Senhor da sua existência. O Batismo é o «fundamento de toda a vida cristã» (CIC 1213). É o primeiro dos Sacramentos, porque é a porta que permite a Cristo Senhor habitar a nossa pessoa e, a nós, imergir-nos no seu Mistério. O verbo grego “batizar” significa “imergir” (cf. CIC, 1214). O banho com a água é um rito comum em várias crenças para exprimir a passagem de uma condição para outra, sinal de purificação para um novo início. Mas para nós cristãos não deve passar despercebido que se é o corpo a ser imergido na água, é a alma que é imersa em Cristo para receber o perdão do pecado e resplandecer de luz divina (cf. Tertuliano, Sobre a ressurreição dos mortos, VIII, 3; ccl 2, 931; pl 2, 806). Em virtude do Espírito Santo, o Batismo imerge-nos na morte e ressurreição do Senhor, afogando na pia batismal o homem velho, dominado pelo pecado que separa de Deus, e fazendo com que nasça o homem novo, recriado em Jesus. N’Ele, todos os filhos de Adão são chamados para a vida nova. Ou seja, o Batismo é um renascimento. Estou certo, certíssimo de que todos nós recordamos a data do nosso nascimento: tenho a certeza. Mas questiono-me, com alguma dúvida, e pergunto-vos: cada um de vós recorda qual foi a data do próprio batismo? Alguns dizem sim — está bem. Mas é um sim um pouco débil, porque talvez muitos não recordem. Mas se festejamos o dia do nascimento, como não festejar — pelo menos recordar — o dia do renascimento? Dar-vos-ei um dever de casa, uma tarefa hoje para fazer em casa. Quantos de vós que não se recordam a data do batismo, perguntem à mãe, aos tios, aos netos, perguntem: “Sabes qual é a data do batismo?", e nunca mais a esqueçais. E demos graças ao Senhor por aquele dia, porque é precisamente o dia em que Jesus entrou em nós, que o Espírito Santo entrou em nós. Compreendestes bem o dever de casa? Todos devemos saber a data do nosso batismo. É outro aniversário: o aniversário do renascimento. Não vos esqueçais de fazer isto, por favor. Recordemos as últimas palavras do Ressuscitado aos Apóstolos: são precisamente um mandato: «Ide e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 19). Através do lavacro batismal, quem crê em Cristo é imerso na própria vida da Trindade. (Continua na próxima página)

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De facto, a do Batismo não é uma água qualquer, mas a água sobre a qual é invocado o Espírito que «dá a vida» (Credo). Pensemos no que Jesus disse a Nicodemos para lhe explicar o nascimento para a vida divina: «Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito» (Jo 3, 5-6). Portanto o Batismo é também chamado “regeneração”: acreditamos que Deus nos salvou «pela sua misericórdia, com uma água que regenera e renova no Espírito» (Tt 3, 5). Por conseguinte, o Batismo é sinal eficaz de renascimento, para caminhar em novidade de vida. Recorda-o São Paulo aos cristãos de Roma: «Ignorais, porventura, que todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Pelo batismo sepultámo-nos juntamente com Ele, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós também numa vida nova» (Rm 6, 3-4). Imergindo-nos em Cristo, o Batismo torna-nos também membros do seu Corpo, que é a Igreja, e participamos da sua missão no mundo (cf. CIC 1213). Nós batizados não estamos isolados: somos membros do Corpo de Cristo. A vitalidade que brota da pia batismal é ilustrada por estas palavras de Jesus: «Eu sou a videira, vós as varas: quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto» (cf. Jo 15, 5). A mesma vida, a do Espírito Santo, escorre de Cristo para os batizados, unindo-os num só Corpo (cf. 1 Cor 12, 13), crismado pela santa unção e alimentado na mesa eucarística. O Batismo permite que Cristo viva em nós e a nós que vivamos unidos a Ele, para colaborar na Igreja, cada um segundo a própria condição, para a transformação do mundo. Recebido uma única vez, o lavacro batismal ilumina toda a nossa vida, guiando os nossos passos até à Jerusalém do Céu. Há um antes e um depois do Batismo. O Sacramento pressupõe um caminho de fé, que chamamos catecumenato, evidente quando é um adulto que pede o Batismo. Mas também as crianças desde a antiguidade, são batizadas na fé dos pais (cf. Rito do Batismo das crianças, Introdução, 2). E sobre isto gostaria de vos dizer algo. Alguns pensam: mas por que batizar uma criança que não entende? Esperemos que cresça, que compreenda e seja ela mesma a pedir o Batismo. Mas isto significa não ter confiança no Espírito Santo, porque quando batizamos uma criança, naquela criança entra o Espírito Santo, e o Espírito Santo faz com que cresça naquela criança, desde pequenina, virtudes cristãs que depois florescerão. Sempre se deve dar esta oportunidade a todos, a todas as crianças, de ter dentro de si o Espírito Santo que as guie durante a vida. Não deixeis de batizar as crianças! Ninguém merece o Batismo, que é sempre dom gratuito para todos, adultos e recém-nascidos. Mas como acontece com uma semente cheia de vida, este dom ganha raízes e dá fruto num terreno alimentado pela fé. As promessas batismais que a cada ano renovamos na Vigília Pascal devem ser reavivadas todos os dias a fim de que o Batismo “cristifique”: não devemos ter medo desta palavra; o Batismo “cristifica-nos", quem recebeu o Batismo e é “cristificado” assemelha-se a Cristo, transforma-se em Cristo, tornando-se deveras outro Cristo. (Praça de S. Pedro, 11 de abril de 2018)

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PALAVRA DO FUNDADOR O cristão é um ‘novo ser’

O aforismo do grego antigo ‘gnōthi seauton’ (nosce te ipsum) - conhece-te a ti mesmo – continuará a ser sempre uma norma sapientíssima e fecunda de vida. Que coisa ‘somos’ nós, homens? Que coisa ‘somos’ nós, cristãos? Temos – como tais – um ‘ser’ específico, original e todo nosso? E, para usar uma palavra de origem grega, mas tornada técnica, poderá dizer-se que há uma ontologia própria do ser cristão? Existe, afinal, o ser cristão? A resposta é muito simples, mas fecunda e importante. É preciso dizer que o cristão é, realmente, um ‘novo ser’. São Paulo fala-nos da ‘nova criatura’, do ‘homem novo’ que foi criado segundo Deus, na justiça e na santidade verdadeira. “Renovai o vosso espírito e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, na justiça e na santidade” (Efésios 4, 23-24). O homem velho é Adão e os seus filhos, dele nascidos no pecado – na culpa – original. O homem novo é Cristo e os seus filhos, nascidos d’Ele pela graça. “Somos feitura sua, criados em Cristo Jesus” (Efésios 2, 10) diz, ainda, o Apóstolo. Na Segunda Carta aos Coríntios (5,17), Paulo diz: ‘Se alguém está em Cristo é uma nova criatura; passou o que era velho: tudo se fez novo”. Na Carta aos Gálatas (6, 15), exclama nesta perentória afirmação: ‘"a circuncisão e a incircuncisão de nada valem, mas sim a nova criatura". O cristão é, certamente, um ‘ser humano’ e, por isso, social, membro da comunidade humana. Mas, é muito mais do que isso: é um novo ser, um ser humano renovado, um ser transformado. É … ‘filho de Deus’ «filius Dei». Toda a doutrina do ser humano, isto é, a sua ‘ontologia’ transforma-se, por isso, em doutrina do ser humano-divino, quer dizer, em ontologia do filho de Deus. Que o seja de modo misterioso, não importa: é filho de Deus e isso basta; é-o em sentido exacto e rigoroso. Chamamo-nos e somos filhos de Deus: «Filii Dei nominamur et sumus» (1 Jo. 3, 1). E "o próprio Espírito dá testemunho à nossa alma de que somos filhos de Deus. E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo, contanto que soframos com Ele, para que, também com Ele, sejamos glorificados." (Rom. 8, 16-17). A nova doutrina do ser – a nova ontologia do homem feito Deus – é como o prolongamento da própria ontologia de Deus feito homem, isto é, Jesus Cristo: “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro; gerado não criado, consubstancial ao Pai”. (Ascolta, si fa sera, 74-76)

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Movimento Oásis em Portugal (1958 – 2018) 60 ANOS - 60 TESTEMUNHOS Ao Movimento Oásis devo grandes experiências

Para falar do Oásis tenho de recuar mais de 30 anos e voltar a ser uma jovem de 14 ou 15 anos! Foi como elemento do Grupo de Jovens da Paróquia de Canelas que tive o primeiro contacto com esta Casa, com estas Pessoas, com esta Espiritualidade que, verdadeiramente, transforma! Foi nesta singular capela que, pela primeira vez na minha vida, tive a certeza de Jesus me falar! E foi tão real e tão marcante esse momento que, ainda hoje, volto a ele, quando me sinto mais insegura e mais incapaz de escutar Jesus. Ainda hoje, é nesta capela que o meu coração mais facilmente se abre ao diálogo com Deus, que, aqui, me parece sempre mais próximo, mais presente, mais íntimo. Os anos foram passando, veio a faculdade, o trabalho, o casamento e estive muito tempo sem voltar ao Oásis… E, já com mais de 30 anos e dois filhotes pequenos, senti que havia uma parte da minha vida que não estava completa, havia um vazio, e voltei ao lugar onde tinha sido tão feliz, onde tinha aprendido tanto e experienciado momentos eternos… O Movimento Oásis ensina-me a estar atenta a mim própria e aos outros e ensina-me a dar valor ao que sou, ao que tenho e ao que posso e só assim tenho o discernimento necessário para o SIM de cada momento (que às vezes tem de ser expresso na palavra não). Ao Movimento Oásis, à Espiritualidade iniciada e proposta pelo seu fundador e a tantas, tantas pessoas que pelas suas palavras e forma de viver continuam a ensinar-me o significado das palavras Entrega, Serviço, Sim, Disponibilidade de coração devo grande parte da minha relação com Deus – o Deus de amor que habita em nós, nos interpela, nos anima e nos quer felizes! Ao Movimento Oásis devo grandes experiências, grandes vivências, grandes aprendizagens, na vida dos meus filhos! E isso não se paga… agradece-se! E eu sou muito grata a Deus e a todos aqueles que ELE vai colocando nos nossos caminhos. Ao Movimento Oásis devo um grande grupo amigos – e as amizades que têm por base Jesus Cristo são para toda a vida! Ao Oásis devo uma grande parte da minha conduta e uma vontade de querer ser melhor em cada dia, porque me sinto comprometida! Não sei o que já dei aos outros, mas sei que o que recebi é incomensurável! Será que eu podia ser feliz se não pertencesse ao Oásis? Podia! Mas não era a mesma coisa! Cândida Rangel Carvalho (Nelinha)

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Curso 06 a 08 de março Senhor, Tu que nos acolheste nesta família do Oásis, ilumina-nos com a Tua luz e ajuda-nos a não ter vergonha de proclamar o Teu nome ao nosso próximo. Não podemos deixar de agradecer a todos aqueles que se disponibilizaram para que este retiro fosse maravilhoso. Por causa deles vivemos novamente o nosso batismo no serviço por amor. O nosso coração está a transbordar de alegria! De hoje em diante tudo faremos para desenvolver ao máximo os dons que Deus nos deu; queremos estar atentos ao mundo que nos rodeia, queremos ser humildes, dizer SIM a Cristo e SIM aos outros.

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Pára! Escuta! Olha! Reunião do grupo de asais “Semente” Nem me lembro de quando comecei a ouvir este slogan. Alguém se lembra? Pois. Era um slogan aplicado às regras de trânsito e as crianças aprendiam assim a respeitar os perigos da estrada. Pára! Escuta! Olha! Nos dias que vivemos, este slogan força-nos a uma PARAgem real, a uma ESCUTA interior e a um OLHAr cada vez mais atento e verdadeiro; primeiro, para dentro de nós e depois de nos conhecermos realmente… para o outro que espera – ou não – mas aceita a nossa presença, a nossa ajuda, o nosso afago, ou simplesmente o nosso sorriso ou o nosso olhar. “Os dias que vivemos são difíceis. Mesmo com sol, parecem dias tristes. Sentimo-nos perdidos, na escuridão do medo. Como o cego, também não vemos. Não vemos esse vírus ameaçador invisível aos nossos olhos. Este é o tempo de ver, o tempo de ter um olhar contemplativo sobre o mundo e sobre os outros à luz do amor divino. À luz da fé, vemos que Jesus nos quer curar, mas pede a nossa colaboração. À luz da fé, vemos que já não basta olhar para as nossas razões e direitos. Precisamos do olhar dos outros, um novo modo de olhar, para ver melhor. Nestes tempos obscuros, a luz da fé não elimina toda a nossa dor. Mas ilumina a nossa esperança. Sem participar da eucaristia, continuamos a ter o alimento da Palavra à nossa mão, na Bíblia. A palavra de Deus seja o farol dos nossos passos e a luz dos nossos caminhos. Temos os olhos abertos e vivemos de modo novo ou padecemos de vista cansada, de vistas curtas, de miopia ou de astigmatismo vital?” O grupo de casais “Semente”, com a presença do Padre Araújo também quis parar e escutar-se. Assim, na tarde de domingo dia 22 de março, por meio de teleconferência, todos pudemos olhar-nos e partilhar as experiências pessoais no que se refere a esta crise que nos traz o Covid-19, podendo clarificar algumas dúvidas. Alguns dos filhos também quiseram, ainda que por instantes, participar da reunião. Para compor a tarde, em cada lar não faltou o chá, o sumo de laranja e umas saborosas bolachas. Todos ficaram desejosos que… se esta situação se mantiver… continuemos a encontrar-nos. Pára! Escuta! Olha! E mesmo que por vezes as lágrimas nos escorram de cansaço, de tristeza, de revolta, de… ou de… mantenhamos a certeza que somos Amados e Acolhidos…SEMPRE! Desistir, como eu digo às minhas crianças…é para os fracos. Isso NÃO. Pára! Escuta! Olha! Isabel Campos

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Recordando P. Virgínio Rotondi – Homem do SIM (Na passagem do 30º aniversário da morte do fundador do Movimento Oásis e do Instituto Secular “Ancilla Domini” 13 de abril 1990 – 13 de abril 2020) Nasce em Vicovaro, Roma – Itália, no dia 22 de Maio de 1912. É o terceiro de cinco filhos de uma família de origem humilde. Faz a escola primária na sua terra natal. Com uma bolsa de estudos, continua, durante três anos, a sua formação elementar. Entra no Seminário de Santa Escolástica, em Subiaco, e em seguida, frequenta o Seminário de Magliano, onde completa o ensino secundário. No Collegio Leoniano de Anagni (dirigido pelos Jesuítas), pólo da Pontifícia Universidade Gregoriana, frequenta os cursos de Filosofia e Teologia. Licenciado em Filosofia aos vinte anos, entra, em 1932, no noviciado da Companhia de Jesus, em Galloro-Ariccia (Roma) onde permanece dois anos, e prossegue os seus estudos teológicos, em Roma, na Universidade Gregoriana. Licenciado em Teologia, em 1934, obtém, também, habilitação para lecionar a área de Letras. Em 13 de Maio de 1942, foi ordenado presbítero na igreja de São Roberto Bellarmino, em Roma, e inicia o seu ministério sacerdotal. Em 1944, em Florença, funda a associação CIDROS, um projeto inspirado no Apostolado da Oração e na Cruzada Eucarística e destinado a rapazes dos 11 aos 14 anos. Em 1945, regressa a Roma e é nomeado diretor do Apostolado da Oração e assistente espiritual dos ferroviários de Roma. Pouco a pouco, vem ao de cima, a sua capacidade oratória que, unida à sua vasta cultura e à sua profunda formação doutrinal, o tornam conhecido e admirado. É reconhecido como ‘exegeta arguto’, ‘especialista em doutrina social da Igreja’ e um ‘claro e fiel divulgador dos princípios afirmados nas encíclicas e documentos do Magistério da Igreja’. Pelo seu amor e fidelidade ao Magistério pontifício, são-lhe pedidos ‘serviços especiais’ que o levam a ter relações privilegiadas com os Papas: frequentes e variadas com Pio XII mas, também, delicadas e importantes com os seus sucessores. Com originalidade e audácia, soube enfrentar ‘temas fraturantes’, suscitando uma forte corrente de serviço à Igreja, criando espaço para a emergência do apostolado católico. Pela sua preparação cultural e linguística (falava correntemente francês, português, espanhol e inglês) e pela sua intensa vida apostólica contactava, frequentemente, com Prelados, a vários níveis, para tratar de questões eclesiásticas e pastorais. Não menos importante foi a sua relação com numerosos governantes e políticos, tantos homens da cultura (cristãos e não cristãos, crentes e não crentes), empresários, artistas e pessoas marginalizadas. No dia 1 de Novembro de 1950, em Roma, funda o Movimento Oásis, orientado para a juventude. Rapidamente se espalhou pela Itália inteira e pelo mundo e torna-se o seu particular campo de ação à qual entrega a quase totalidade do seu coração de apóstolo e de sacerdote. Em 25 de Março de 1958, na Diocese de Frascati (Roma) dá início ao Instituto Secular “Ancilla Domini”. Em 1959, inicia a sua atividade no mundo da comunicação social. Foi uma atividade muito intensa e ininterrupta até 1990. Durante 19 anos coordena, para além do mais, a primeira transmissão ecuménica semanal com um espaço mensal de diálogo: “Ascolta, si fa será”. Colabora em revistas semanais de editoras como Rusconi, Mondadori, Rizzoli... e em jornais diários como “Il Tempo”, “Il Popolo”, “Avvenire”... É diretor responsável de revistas mensais, entre as quais a revista “Crescere”, órgão de ligação e de espiritualidade do Movimento Oásis. No decurso da sua vida, publicou vários livros, de temas diversos, entre os quais “30 colloqui” com Padre Rotondi, “Tre minuti per te”... Com uma sensibilidade musical profunda - tocava órgão, piano, viola e acordeão - compôs vários cânticos e músicas sacras. Faleceu, em Villa Sorriso – Centro Internacional do Movimento Oásis, por ele construído, na Via dei Laghi, Grottaferrata (próximo de Castelgandolfo) – em 13 de Abril de 1990. Em 1 de Novembro de 1991, os seus restos mortais foram trasladados do cemitério de Verano - Roma, para a Capela “Maria, Ancilla Domini”, de Villa Sorriso.

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COVID-19: ADIAMENTO DAS ATIVIDADES Em virtude da situação de saúde pública que Portugal se encontra a viver em razão do COVID-19, o Movimento Oásis informa que as atividades agendadas para os meses de março e abril se encontram adiadas para data a agendar. Aqueles que se encontram inscritos nas ditas atividades serão futuramente contactados.

Movimento Oásis Centro de Espiritualidade Rua Mirante de Sonhos, 105 4445-511 Ermesinde - tel. 229712935 http://www.movimentooasis.com Contactos : padrearaujo@sapo.pt / oasis@movimentooasis.com Crescer on-line - Maiol de 2019 - Página nº 1


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