MELANCIA mag #7 março

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MELANCIA mag

Cultura Visual & Lifestyle # 7 | Marรงo 2016 | www.facebook.com/melanciamag

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@joanarosac_illustration


MELANCIA cultura visual e livestyle mag #7 / março 2016

idealizadoras Juliana Lima & Mafalda Jesus sp e

al ci

Gonçalo Ribeiro | street art Florigrafia | Ilustração Alexandre Alonso | pintor Filipa de Sousa | desportista David Santos | tatuador Filipa Jacinto | designer Rosa Pomar | bloguer & artista Tipografia Dias | tipografia João Jesus | câmara Gabriel Campino | receita de melancia Cátia Fialho | make up Miguel Bartolomeu Ana Henriques | texto & revisão Patricia Marques Família | Amigos

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Capa e Contra Capa by: A FLORIGRAFIA

e-mail: melanciamag@gmail.com | facebook/melanciamag | instagram: @melanciamag


um olá à primavera E Março já chegou! Manhãs de Inverno, tardes de Verão e o mês inteiro para ler a Melancia! Este é um mês de promessas e mudanças, em que tudo pode acontecer. Começa encasacado mas vai andando e libertando-se de pesos e amarras. Solta-te com os conteúdos coloridos e inspiradores que preparámos para esta edição primaveril. Conhece o projecto tipográfico Já Sinto, a street art do Gonçalo, as telas do Alexandre, a oficina e os Workshops do Dias, as tatuagens do David, os crafts da Rosa, as acrobacias da Filipa no longboard, as ilustrações e as fotografias da Rafaela e da Natália e as brincadeiras em lego do Michal. E tu, que aventuras vais viver este mês?



PROJETO “DUOS”

por: Miguel Bartolomeu Vivemos num mundo em que a dualidade é determinante para como depreendemos todos os conceitos, começando pelo bem e o mal. São, somente, capacidades de observação. Nós humanos, só temos um corpo que serve de veículo para tudo o que sentimos e pensamos. É nesta singularidade do corpo que não nos permite expor duas coisas ao mesmo tempo por muito que se sinta como tal. A capacidade de ver num momento só duas expressões da mesma pessoa. Legenda: 1- Raquel Rolim 2- Patricia Ribeiro 3- Sara Vieira da Silva




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A FLORIGRAFIA

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GONÇALO MAR

60 JÁ SINTO

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ALEXANDRE ALONSO

ROSA POMAR

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RECEITA DE MELANCIA

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TIPOGRAFIA DIAS

#melanciamag

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FILIPA SOUSA

104 AGENDA

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DAVID SANTOS

MICHAL KULESKA

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98 TOMA NOTA

MAKEUP

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108 ESTILO QUE ANDA POR AÍ



Ilustração & Street Art

Entrevista por: Mafalda Jesus Ilustrações por: David Santos

A inspiração vem do surf, do mar, da Marvel, do breakdance, do surrealismo… Chega? GonçaloMar, de 41 anos, street artist da Margem Sul, vê em cada parede, em cada equipamento urbano, uma obra de arte em potência. Formado em Design de Moda, não descarta nenhuma influência. Tudo conflui para propagar estas energias boas. À noite, lê O Principezinho às filhas.

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1) MELANCIA: Quem é o Gonçalo? GONÇALO: O Gonçalo é uma pessoa perfeitamente normal, que despertou cedo para uma paixão que lhe mudou a vida. A pintura, as cores, as formas, tudo isso me chamava a atenção, sentia e sinto ainda uma enorme vontade de desenhar, de criar. Olho à volta e imagino personagens e situações que gostava de retratar. Enfim, sou a pessoa que dá o corpo ao Artista. 2) M: Porquê “MAR”? G: O “MAR” vem de 1998, quando comecei no movimento artístico, mais conhecido por Graffiti, precisava de ter um pseudônimo que me identificasse como autor, um nome que ficasse directamente ligado a mim. E que de alguma forma reflectisse um pouco da minha pessoa e ao fim de algum tempo de reflexão surge o “MAR”. Como uma das minhas grandes paixões é o surf, desde de muito cedo, quis juntar as duas coisas que me dão um prazer imenso, a pintura e o surf. 3) M: Estudaste Design de Moda. Como é que a street art entrou na tua vida? G: O StreetArt/Graffiti entrou na minha vida muito sorrateiramente, acho que começou primeiro pela musica (Chaka Khan- I feel for you) e filmes de breakdance que chegavam das Américas e depois o “graff” veio quase como a cereja no topo do bolo, fiquei logo a querer fazer igual, mas isto nos anos 90 e não passaram de experiências com latas de spray da garagem dos meus pais e luvas de dedos cortados a tentar imitar o “snake move”. Só depois mais tarde em 98 é que decidi fazer uma experiência mais séria, quando conheci o Klit e Roket (Almada Writters) num estúdio de animação nas Olaias. Por essa altura tinha entrado na Faculdade de Arquitectura de Lisboa para o curso de Design de Moda que me deu alguma bagagem académica e contacto com outras áreas. Mas sempre senti o impulso de pintar de desenhar, encarava e encaro as paredes e os demais objectos na cidade, como suportes de acções tanto de intervenção como de arte por si só. Acho uma combinação perfeita, as cidades cinzentas com estes rasgos de cores.

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4) M: A moda ainda faz parte do teu dia a dia? De que forma é que as duas áreas se cruzam? G: A moda em si não, já não faz parte do meu dia a dia, tirando alguns projectos mais interessantes, mas fez durante os meus primeiros anos depois de ter completado o curso. O cruzamento que procurei fazer depois de terminado o curso foi direccionar-me para um mercado que de certa forma está, directamente ligado ao mundo do street art. Trabalhei para uma marca ligada ao streetwear, porque no fundo este fenômeno global despoletou um mercado imenso e com uma linguagem muito própria dessa geração. Mas sentia-me mais livre na rua a criar e a estar ligado ao momento e ao que me rodeia. 5) M: Fala-nos das tuas referências e inspirações. G: As minhas referências são muitas e boas! Vão desde o que tenho guardado na memória dos meus tempos de adolescente e o percurso que fiz ate aqui, o Universo Marvel, o Mar, a Natureza, as pessoas, até ao sentido mais profundo da cor. Gosto de trabalhar contrastes, formas. Gosto do Surrealismo, do “nonsense”, um bom filme inspira-me, há tantas coisas que nos passam fugazmente, mas se olharmos com atenção a beleza dos detalhes, conseguimos tirar inspiração para o nosso dia a dia. 6) M: Mostra-nos o trabalho que te deixou mais orgulhoso e explicanos porquê. G: Não tenho nenhum trabalho que me deixe mais orgulhoso que outro, acabam todos por ser importantes na altura que os fazemos. Acho que cada trabalho que faço acabo sempre por evoluir um pouco na procura, apercebo-me de questões técnicas, de encaixes, de formas novas e isso consigo levar comigo e para um próximo projecto que vai ser outro passo para melhorar mais um pouco e assim sucessivamente. Não quero dizer que o último é sempre o melhor, mas entendo que o último é sempre o mais apreciado por ser novidade!

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7) M: Fizeste parte de muitas exposições individuais e coletivas nacionais e internacionais como: “Underdogs”, “WOOL”, “Crono”, “Walk&Talk”, entre outras. Como lidas com a responsabilidade de surpreender e inovar exposição após exposição? G: É uma responsabilidade bastante grande, sei que já habituei as pessoas a um estilo muito único, mas o fator surpresa para mim é sempre o fundamental de uma exposição. Gosto que as pessoas fiquem surpreendidas com o que viram e que estejam a fazer uma viagem em cada uma das peças que apresento. Gosto de sentir que as pessoas tenham algum impulso para ver as coisas que vou mostrando. 8) M: Se tivesses que definir o teu estilo, o que dirias? G: Eu definiria o meu estilo neste momento de Lowbrow/ PopSurrealistic/ Figurativo. Sei que é uma definição bastante comprida, mas é um conjunto de movimentos artísticos em que eu me sinto confortável e acho que encaixa no meu estilo. 9) M: Qual o maior obstáculo de um“street artist” em Portugal? G: Nunca foi tão boa época para se ser “street artist”. Estamos numa época em que já somos aceites, de uma forma geral, com algum valor, ou seja, as pessoas perceberam que podes complementar o espaço urbano. Deixamos de ser marginais,

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existe uma leitura mais condescendente por parte do publico em geral. Provavelmente o maior obstáculo de um “street artist” é manter a capacidade de continuar num caminho sustentável, apelativo. Continuo a dizer que é uma aventura, e como tal, temos de ter consciência que existem momentos melhores que outros, e o objectivo final é sempre a consagração do trabalho e viver a realização dos sonhos que perseguimos sem nunca desistir. 10) M: E que noção é que um artista nunca deve perder? G: Um artista nunca deve perder a vontade de se espantar a si próprio. Quer isto dizer que, nunca devemos parar de experimentar, sair da zona de conforto é imperativo. 11) M: Trabalho de rua ou exposições em galeria? G: Sinto-me bem com os dois, acho que se complementam. Chegámos a um ponto da nossa história em já nada podemos perguntar se o trabalho de rua pode ser levado para o interior, ou vice-versa. Quando nos afirmamos como Artistas de rua ou Muralistas, não significa que só façamos trabalhos de rua, existe todo um corpo de obra que justifica ser transportado para outros suportes. Temos é que fazer essa passagem de uma forma coerente para ter um trabalho válido.


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1. “Novelo | Expansão” 2. “report | rua de baixo” 3. “Casa das historias” Torres Vedras 4, 7. Setúbal 5. “WOOL” Covilhã 6. Chão do Loureiro | Lx 8. Lisboa 9. O Bairro i o Mundo, Quinta do Mocho 10. “Lionesa Wall | Matosinhos” 11. LxFactory 12. “O Beijo”

12) M: Qual é o teu lema de vida? G: Tenho vários lemas, mas o que tento colocar em primeiro lugar é o de sentirme bem comigo para estar bem com os outros. Acredito muito em energias, nas suas mais diversas formas e acredito que mantendo uma energia positiva consegues passar essa energia e de certeza que boas coisas acontecem. Simplificar e colocar tudo em perspectiva. 13) M: Onde encontramos o Gonçalo quando não está a pintar? G: Quando não estou a pintar, estou a cuidar das minhas filhas e a fazer uma série de coisas que me trazem de volta à terra, porque quando pinto fico um bocado desligado de compromissos. 14) M: Com quem gostavas de conversar? G: Gostava de conversar com uma série de pessoas que, de certa forma, influenciam comportamentos e conseguem ser obstinados no seu percurso, em todas as áreas. Ouvir falar também é inspirador, não propriamente pelo dom da palavra mas pelo relato de um percurso surpreendente. 15) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos leitores :) G: Gostava que todos fizessem um exercício que podia ser interessante, que se resume à leitura/visionamento de “O Principezinho” e refletissem sobre as prioridades que cada um deve impor a si mesmo para levar uma vida mais feliz na perseguição dos seus sonhos. 9 MELANCIA 17


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“UM ARTISTA NUNCA DEVE PERDER A VONTADE DE SE ESPANTAR A SI PRÓPRIO. QUER ISTO DIZER QUE, NUNCA DEVEMOS PARAR DE EXPERIMENTAR, SAIR DA ZONA DE CONFORTO É IMPERATIVO. ”

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magazines books posters underthecover.pt Rua Marquês Sá da Bandeira 88b 1050-150 Lisboa

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Ilustração, Fotografia e Flores

Entrevista por: Juliana Lima Imagens A Florigrafia

O equinócio da primavera em Portugal ocorre, em 2016, a 20 de março, às 04h30, sinalizando o primeiro dia da estação. E nós não podíamos deixar de marcar este acontecimento na nossa revista. Escolhemos a Florigrafia, um projeto inspirador que alia a ilustração, a fotografia e as flores. Entrevistámos a dupla de criativas brasileiras por trás destes encantos e, descobrimos que ainda não se conhecem pessoalmente. Incrível, não? Saiba como a Rafaela Melo, 25 anos, ilustradora de Pernambuco, e a Natália Viana, 28, fotógrafa, de Belém do Pará, que atualmente vive na cidade de São Paulo, se conheceram, como idealizaram este projeto despretensioso que está a conquistar muita gente e a despertar o interesse de parceria de muitas marcas por aí.

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1) MELANCIA: Quem é a Rafaela? RAFAELA: Somos tantas coisas ao mesmo tempo que torna-se difícil descrever. Mas nesse caso, sou a Rafaela, que ama transformar tudo em ilustração. 2) M: E a Natalia, quem é? NATALIA: Pergunta difícil. Eu, vocês, estamos sempre evoluindo. Mas uma certeza eu tenho, sou uma pessoa que não consegue viver sem criatividade e música. 3) M: De onde são; qual a formação de cada uma e o que fazem, além da Florigrafia? R: Sou de Pernambuco, formada em Design pela UFPE, trabalho como designer e ilustradora. N: Sou de Belém do Pará (atualmente moro em São Paulo), tenho um Bacharelato em Moda. Sou estilista e empreendedora, já tive minha própria marca de roupas. 4) M: Como é que se conheceram? FLORIGRAFIA: Através do Flickr, há uns seis ou sete anos. Mas ainda não nos conhecemos pessoalmente. 5) M: E como surgiu a ideia de unirem ilustração, fotografia e flores e criarem este projecto tão encantador chamado Florigrafia? Contem-nos um pouco sobre o vosso propósito, os objetivos e o conceito. R: O projeto começou meio ao acaso, eu passei um tempo sem desenhar por causa da minha monografia e, quando voltei, as

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flores apareceram e eu continuei a desenhar. A Natália também estava nessa temporada de flores e, quando percebi, já estava a chamá-la para começar o projeto comigo. N: Eu tinha acabado de me mudar para São Paulo quando a Rafa me chamou para fazer o projeto com ela. Estava no processo de me adaptar ao novo, numa altura para viver novas experiências e expressar-me de outra forma. 6) M: Quando começaram, imaginavam que teriam tão boa receptividade, ótima repercussão e tanto sucesso? F: Não, não imaginávamos. O projeto surgiu da ideia de incrementar os nossos portfólios. Não esperávamos que as pessoas fossem gostar e se identificar tanto. 7) M: Já estabeleceram grandes parcerias e foram convidadas por diversas marcas e para outros projectos. Como é que se sentem em relação a isso? F: Ficamos muito felizes e eufóricas e comemoramos muito a cada nova conquista. É muito recompensador ver o projeto a crescer e a ser valorizado. 8) M: Qual a parceria com que mais se identificam e da qual mais gostam? Porquê? F: Nós amamos projetos criativos, feito por pessoas como nós, que acreditam no seu potencial e não têm medo de expor as suas ideias. Ideias que possam fazer com que o mundo e o dia de alguém seja mais feliz. São parcerias com pessoas assim que gostamos de fazer. Todas as que já fizemos são especiais.


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9) M: Nos vossos trabalhos, tão delicados, sentimos sempre que há ali uma historinha por trás da imagem. Uma personagem, um local, uma atividade, um sentimento. Além de lindo, isso tudo é o que torna tão especial cada um dos vossos trabalhos. Como é que constroem cada uma das vossas peças? F: A maioria não teve planeamento. Algo como: “Hoje nós vamos fazer uma menina no parque a comer um gelado”. Não é assim que acontece. Cada uma tem o seu tempo para criar, e o processo criativo acontece de forma muito individual. A Rafaela envia-me os desenhos e faço a montagem com as minhas fotos, ou eu mando as fotos para ela. É incrível como nossas artes se completam, essa sintonia criativa que temos. Esse é o segredo. 10) M: As personagens dos vossos trabalhos são inspiradas em pessoas reais? F: Acho que posso dizer que sim! Mesmo que não seja alguém em específico (já desenhei algumas meninas das quais gosto do trabalho ou estilo) todas as acabam por representar alguém real. Vemos nos comentários as amigas que se marcam e falam “olha você”, “parece com você”.

utilizar as flores que eu preferir, por exemplo. Na maioria das vezes, e desde o início do projeto, nunca tive uma ideia préconcebida na minha cabeça. Vou brincando com as flores e imaginando o que podemos fazer juntas (eu e as flores, haha)! A natureza é inspiradora! Claro que há dias, mesmo com a casa toda florida, em que eu não consigo criar nada! E é aí que peço à Rafaela me enviar tudo que ela tiver de desenhos, porque sei que vai inspirar-me a criar algo para o projeto. 13) M: Em todas as áreas criativas é preciso uma constante busca, por isso os artistas procuram inspirações e referências para evoluir. Quais são as vossas? F: Acho que o segredo é ter referências bem variadas, porque tudo pode virar inspiração. Fotografias, desenhos, textos, músicas, filmes, tudo! 14) M: Deixem um recadinho à MELANCIA mag e aos leitores ;) F: Não sentir medo de criar algo que faça sentido, primeiramente, para si, é maravilhoso e libertador.

11) M: Rafaela, que tipo de técnicas e materiais utilizas para desenhar? R: Os desenhos são todos manuais, então papel, lápis e caneta nanquim são sempre usados. Em alguns casos, uso aguarela também para destacar algum detalhe ou criar um efeito diferente. Os desenhos depois são scanneados e editados no Photoshop para retirar o fundo do papel. 12) M: Natália, quando tiras as tuas fotografias para os trabalhos do projeto Florigrafia, já tens uma ideia na cabeça e o briefing alinhado com a tua parceira? Como funciona o teu processo? N: O briefing só acontece se for algum trabalho específico para um cliente, isso quando é pedido, porque há projetos que desenvolvemos para outras pessoas e elas deixam-nos totalmente livres para criar o que quisermos. No caso das fotos,

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“Acho que o segredo é ter referências bem variadas, porque tudo pode virar inspiração. Fotografias, desenhos, textos, músicas, filmes, tudo! ”

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Pintura

Entrevista por: Mafalda Jesus Pinturas por: Alexandre Alonso

Sob o caos aparente, emerge o universo figurativo de Alexandre, plasmado em telas gigantes que procuram retratar a complexidade da condição humana. Não é ligeira a empreitada deste arquitecto de formação mas as suas referências também não o são. Velázquez, El Greco, Rembrandt estão no seu panteão e, entre os contemporâneos, Frank Auerbach ocupa o pedestal. Eis a história de como a vida muda não em três tempos, mas com três retratos.

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“A COMPLEXIDADE DA CONDIÇÃO HUMANA, NO MEU ENTENDER É O TEMA MAIS DESAFIANTE E DIFÍCIL QUE EXISTE. TRADUZIR ISSO NUMA IMAGEM DE ALGUÉM É MUITO COMPLEXO, MAS AO MESMO TEMPO, ABSOLUTAMENTE FASCINANTE E IMPREVISÍVEL.”

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1) MELANCIA: Quem é o Alexandre? ALEXANDRE: O Alexandre é alguém que desde sempre esteve ligado ás artes como forma principal de expressão. Sou um Pintor autodidata que vive e trabalha em Lisboa. Sou essencialmente um figurativo, mas com uma base fortemente assente na abstração, onde o aparente caos, através das múltiplas sobreposições de tinta e num processo cumulativo, constrói o sujeito, normalmente em telas de grandes dimensões. 2) M: Conta-nos como chegaste à pintura. A: Tal como anteriormente referi, todo o meu percurso académico e de vida esteve, de alguma forma ligado às artes e não me lembro da minha pessoa sem um lápis ou uma caneta ao lado todo o tempo. A pintura no entanto resultou de uma proposta feita por 3 amigos que me desafiaram a construir 3 retratos, e de repente, toda a minha vida se transformou. 3) M:Qual é a tua maior referência e inspiração? A: A minha inspiração tem muito mais que ver com trabalho constante do que propriamente com um processo divino de iluminação espontânea. Parafraseando Picasso, “espero que a inspiração me encontre a trabalhar”. Parte desse trabalho é o olhar muito atento para outros artistas. Apesar de todos os dias encontrar artistas novos, tenho alguns que são referências constantes e que admiro e estudo de forma constante. Velázquez pela forma quase sobre humana com que consegue

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oferecer vida a qualquer elemento da imagem em que toca com uma simplicidade assustadora. No Prado descobri El Greco que se tem vindo a revelar absolutamente crucial no meu entendimento das cores e da distorção/abstração figurativa. E Rembrandt para me relembrar de que não percebo mesmo nada disto. Em termos de contemporaneidade, Frank Auerbach é na minha opinião, o mais importante artista contemporâneo vivo e a forma liberta e aparentemente caótica com que ele constrói (ou desconstrói) os seus trabalhos, é algo que me fascina, e onde encontro muito material investigativo. Daniel Richter tem um trabalho fabuloso e ainda estou a tentar descodificar a forma como ele organiza as cores, tal como Adrian Ghenie, Cecily Brown, entre outros. São mesmo muitos, e absolutamente fundamentais no meu trabalho. 4) M: Porque escolheste representar pessoas? O que têm elas de especial? A: A complexidade da condição humana, no meu entender é o tema mais desafiante e difícil que existe. Traduzir isso numa imagem de alguém é muito complexo, mas ao mesmo tempo, absolutamente fascinante e imprevisível. Dificilmente neste momento me vejo a pintar uma paisagem. 5) M: Onde fazes a diferença? A: Espero que no momento em que alguém olha para uma obra que eu fiz e a reconhece como sendo minha. (Uma das razoes pelas quais assino as minhas telas no verso)


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“Existe ingratidão em quase tudo, e não me parece que a arte seja diferente nesse sentido. Por oposição acho que a arte também pode ser excessivamente generosa.”

6) M: Neste momento, que papel tem a arquitetura na tua vida? Sentes que de alguma forma te ajuda no desenvolvimento do teu trabalho? A: A arquitetura fez parte da minha vida na ultima década e meia. Será por isso, absolutamente impossível dissociar a minha leitura e análise das coisas, da formação que tive enquanto arquiteto e que certamente serviu para me enriquecer enquanto artista. Não sei se me ajuda ou por vezes dificulta. Mas acredito que me oferece seguramente uma leitura de espaço e proporção muito mais especificas e, nesse aspeto, talvez também mais eficaz. De qualquer maneira, é tremendamente especulativo tentar quantificar essa afetação da arquitetura ao meu trabalho. Uma coisa é absolutamente real e a única certeza que tenho: Só pinto como pinto porque fui arquiteto, e isso, sendo bom ou mau, produz um resultado direto na forma como crio, construo e entendo o corpo do meu trabalho. 7) M: Qual foi a pior crítica que te fizeram e o que tiraste de positivo disso? A: Não me lembro de nenhuma crítica significativa, apesar de existirem opiniões, algumas completamente divergentes com as opções que eu tomei na construção da obra. 8) M: Existe ingratidão para com a arte? A: Existe ingratidão em quase tudo, e não me parece que a arte seja diferente nesse sentido. Por oposição acho que a arte também pode ser excessivamente generosa. 9) M: Destaca um quadro teu e diz-nos porquê. A: ’Symphony in Blue, Scherzo’. Existem quadros que ganham uma intensidade tão própria que rapidamente nos deixam de nos pertencer (se é que em algum momento nos pertenceram). Foi o caso dessa tela. É impossível ignorar a presença que esse olhar tem no espaço onde for introduzido. Tem uma dinâmica e uma energia muito própria que não sei bem como foram criadas. 4 34 MELANCIA


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1. “The stairway” 2, 3, 6. Detalhes de pinturas 4. “Symphony in Blue, Scherzo” 5. “Clarity” 7. “The fifth stripe” 8. “Portrait of Luís” 9. “Self-Portrait £3” 10. “January in Spring”

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10) M: Qual é o teu lema de vida? A: Neste momento seguramente, “um quadro de cada vez”. 11) M: O que guardaste para 2016? O que vem aí? A: Vai ser um ano interessante com muitos desafios, onde continuarei a produzir os meus retratos mas talvez o momento de maior destaque seja a realização de uma exposição individual com o intuito de internacionalização do meu trabalho, da qual ainda não posso falar com muito pormenor, mas posso adiantar que as negociações estão quase concluídas. Estou a tentar reunir as condições para a realização de uma outra exposição individual maioritariamente com os trabalhos já pertencentes a coleções privadas e alguns outros completamente novos. E ainda existe uma proposta para a realização em breve, de um mural de 50 m2 na cidade de Lisboa, em Maio, com curadoria de Ana Vilar Bravo. 12) M: Onde encontramos o Alexandre a um domingo? A: No estúdio a trabalhar com a música bem alta. 13) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos leitores :) A: Não deixem de procurar aquilo que vos faz feliz, ou isto perde todo o sentido. 7

“UMA COISA É ABSOLUTAMENTE REAL E A ÚNICA CERTEZA QUE TENHO: SÓ PINTO COMO PINTO PORQUE FUI ARQUITETO, E ISSO, SENDO BOM OU MAU, PRODUZ UM RESULTADO DIRETO NA FORMA COMO CRIO, CONSTRUO E ENTENDO O CORPO DO MEU TRABALHO.”

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Starting Line - Piod達o 2014. Fotografia por Mario Barge 40 MELANCIA


Desporto e Aventura

Entrevista por: Juliana Lima Fotografias: Acervo Fippz

Uma rapariga de energia contagiante, Filipa de Sousa, também conhecida como Fippz, tem 24 anos e conta-nos que o seu interesse pelo desporto e pela prática do skate sempre existiu, mas que foi apenas em 2013 que subiu a um longboard pela primeira vez, em Paris. Desde então tornou-se um vício. Três anos e seis longboard depois, como ela mesma diz, “tem sido tudo downhill!” Nesta entrevista, conta-nos um pouco das suas aventuras e medos, além de mostrar a sua evolução e a sua paixão pela modalidade. Aventura-te connosco e descubre a opinião da Fippz sobre a prática de longboard por raparigas no mundo e cá, em Portugal.

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1) MELANCIA mag: Quem é a Fillipa de Sousa? Fippz De Sousa: Uma criatura mitológica de origens lusitanas. Filipa de Sousa é conhecida como Fippz há muitos anos. Responde a ambos os nomes. Já sobreviveu a 24 invernos, usando hibernação extensiva entre filmes de culto e pizzas familiares. Filipa vive de extremos. Esteve sempre envolvida em áreas criativas. É apreciadora de boa música, especialmente bom rock. Os videojogos fazem parte da sua vida desde que sabe falar. Trabalhou com cavalos muitos anos. Competiu brevemente e abandonou a área derivado de uma lesão. Praticou entretanto, imensos desportos. E-Sports, também. Mas um dia experimentou um skate longboard. 2) M: Como e quando surgiu a teu gosto pelo longboard skate? F: Sempre gostei de skate. Quis desde cedo aprender, bicicleta e patins já faziam parte do reportório e a curiosidade foi crescendo ao ver amigos a praticar. Mas o timing nunca foi certo, vontade esta então que se foi desvanecendo. Isto é, até 2013. Frequentava na altura o curso de animação 2D/3D. Lá, surpreendentemente, conheci um número considerável de skaters a quem chamava colegas de turma. Meti-me em cima de um longboard pela primeira vez em Paris. Estávamos numa viagem de turma. Tanto matutei que com a ajuda destes amigos decidi que, regressando a Lisboa, estava na altura de aprender. Semanas passaram. Muitos finais de tarde de Maio no skatepark em São Sebastião, muita paciência e tábuas emprestadas depois aprendi finalmente a andar de skate. Fez-se um “click” desde então. Tornou-se um vício. A minha escapatória da realidade. Em Junho de 2013, recebi o que viria a ser a minha primeira tábua. E nestes últimos três anos, e seis longboards depois… Tem sido tudo Downhill! [pun intended – (trocadilho intencional entre o nome da modalidade e a tradução literal, ‘descer a colina’)] Hoje gosto especialmente de freeride, que é na verdade downhill técnico, misturando manobras de controlo de velocidade, como slides e carving. É uma forma menos directa de descer, mas igualmente (ou até mais) gratificante.

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3) M: Sabemos que costumas andar com um grupo de pessoas que podem variar entre 2-3 a 10-15 por sessão. Como conheceste estes teus companheiros do desporto e com quem mais frequentemente praticas? F: Inicialmente, não conhecia ninguém. Os amigos que me introduziram ao longboard, apresentaram-me então aos grupos de longboard nacionais, LX Longboarding e Girls Like It Long, no Facebook. Mostraram-me a Loboska, a loja de longboard skate de Lisboa para comprar material. Fui conhecendo pessoas conforme comecei a comparecer mais e mais em meetings e eventos. Ao início era intimidante, tenho de admitir. Era “rookie” [novata]. Muita gente, dos mais diversos “backgrounds” que aos meus olhos era de uma habilidade absurda. Mas a comunidade é extremamente acolhedora. Receberam-me bem e num piscar de olhos tornamo-nos “família”. Há caras que vêm e vão. Muitas partiram desde que comecei esta aventura. Mas muitas apareceram. Tive a oportunidade de ver muita gente a evoluir perante os meus olhos, como eu própria evoluí, aos olhos dos que me antecedem nesta comunidade. E é com estes que permanecem aqui que costumo skatar. São caras recorrentes. Malta gira, pessoas simpáticas e, além de mais, cooperativas. Todos os níveis e modalidades de longboard skate são bemvindos. Estou sempre bem acompanhada, seja a descer estradas de montanha ou a trocar de rodas no café. Não seria a mesma coisa sem estas pessoas. Nas sessões semanais/fimde-semana, basta aparecer nos spots. Há sempre alguém por lá, com um sorriso na cara e de skate debaixo dos pés. 2 42 MELANCIA


4) M: Uma vez ou outra acontecem eventos e o número de participantes pode chegar a 100 pessoas. Qual foi a última vez que foste a um evento destes? Fala-nos sobre a esta experiência de estar com tanta gente que gosta do mesmo que tu. F: O último evento dessa escala a que fui aconteceu em Setembro 2015, o “Longboard River Sessions Amieira do Tejo”. Foi a primeira edição num spot de freeride já conhecido de alguns dos nossos colegas, mas em grande escala. A organização foi excelente por parte da Câmara Municipal de Nisa, e outras entidades (riders inclusive). Os participantes vieram do país inteiro, Lisboa compareceu em números altos e Porto, igualmente, Viana do Castelo, Algarve entre muito. Foi um evento a nível nacional. Contámos com cerca de 50 riders activos nos dois dias do evento. E também com constante presença dos habitantes locais, que vieram em elevado número assistir ao evento. Convido-vos a explorar a página desta organização, e a darem o vosso apoio para que este evento se repita este ano, e no próximo: https://www.facebook.com/ longboardamieira/ Mais recentemente, em Janeiro 2016 foi organizado em Talaíde também, a segunda edição do evento “King Of The Hill”, que utiliza um circuito (a que chamamos de “La Marguerita”) com o objetivo de cronometrar o melhor tempo entre cerca de 30 riders. Contamos também com a malta do Norte e Sul do país que participou no evento da Amieira do Tejo. O vencedor recebeu um prémio e o direito ao trono, mas é um evento com o objetivo de competirmos connosco próprios. especialmente, para puxar por nós. Ainda não tive a oportunidade de participar num evento de larga escala internacional, embora tenha como objetivo ir ao “Freeride de Velefique” (Espanha) e ao “KNK” (Eslovénia) brevemente. Num futuro ainda incerto, pretendo juntar-me ao “Maryhill Festival of Speed” ou “Giant’s Head” (EUA). Outro género de eventos que costuma juntar skaters em grande escala são os cruisings ou passeios. Costumamos faze-los com frequência no Paredão da Torre, Oeiras, pelas 22h às quintas-feiras. Se o tempo permitir. Com menos frequência, organizamos cruisings em Lisboa, para fazer um passeio tranquilo pela cidade mas com alguma adrenalina à mistura, já que a capital tem sete colinas. Outrora, este eveto chegou a ultrapassar os 100 participantes. Agora juntam-se cerca de 30. Não deixa de ser uma boa maneira de passear pela cidade. 5) M: Conta-nos de forma resumida como funciona um dia típico teu. F: Os meus dias são difíceis de descrever. Tenho horários com um ritmo improvisado, caótico. Depende tudo do que tenha para fazer. Não sou fã de “deitar cedo/acordar cedo”. Gosto da calma de trabalhar de noite e poder ser notívaga é uma vantagem que me traz o freelancing. Tento acordar antes das 13 horas, num dia normal. Fazer o que tiver de fazer como a lida da casa, tratar do meu furão. Se o tempo permitir tento ir skatar à tarde. Mas em geral, depende muito. Sou caseira no Inverno, mas no Verão não paro em casa. 6) M: Frequentemente, andas na periferia de Lisboa, se for para descer ladeiras, em locais fechados ou de trânsito controlado. Falaste de alguns spots como Ericeira, Amadora/Cemitério, Venda do Pinheiro, Belas, etc, sendo que cada sítio tem a sua mecânica específica. Entretanto, destacaste Talaíde como sendo o vosso quintal. Porquê? F: Talaíde é o spot mais centralizado e sendo fechado ao trânsito, tende a ser mais frequentado. É o “quintal” da malta de Lisboa e arredores que se especializa em freeride. É um local já frequentado há bastante tempo, há vídeos que datam a

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2007/08. É um spot completo. Dispõe de várias descidas com várias intensidades e várias inclinações. Essas descidas criam uma rede de circuitos possíveis a descer em gincana desde o topo. É extremamente divertido. É também o sitio perfeito para aprender e para dominar manobras. Como um surfista aprecia a onda perfeita, um longboarder é também apreciador de bom asfalto, e este spot possui exactamente isso. Na Ericeira, costumamos frequentar vários spots também com os riders da zona, umas descidas mais intensos que outras. Belas e Venda do Pinheiro são minicircuitos de downhill, para iniciação. A descida da Amadora é uma “night-run”. Um spot bastante usado para eventos devido à sua dinâmica é a zona Industrial da Vialonga e quase ao lado, a MegaRampa. Uma reta de cerca de 200 metros com 12-14% graus de inclinação. Depois dispomos de outros imensos spots que não posso falar publicamente, para que se mantenham privados. 7) M: Qual foi melhor spot que já tiveste a oportunidade de andar? F: O melhor spot é sempre o próximo! Não explorei tantos sítios quanto amigos meus que já andam há mais anos e já foram para o estrangeiro, mas até hoje o meu local favorito de freeride é na Amieira do Tejo. Uma descida rápida, dinâmica, cheia de curvas e um asfalto desafiante. Gosto igualmente da “irmã mais pequena” dessa descida, numa terra vizinha chamada Belver. A minha missão este ano é mudar isso. Numa montanha algures em Portugal (ou até lá fora!). Os meus olhos estão virados para o Piodão e Freeride do Inferno (Espanha) de momento. Quanto a downhill, Serra d’Ossa e Vila Velha de Ródão. A descarga de adrenalina de descer uma estrada a uma velocidade considerável, apenas com uma tábua nos pés garante-lhes um

lugar no pódio, ao lado da Amieira. 8) M: Apesar se já aparecer algumas raparigas na prática da modalidade, ainda vemos mais rapazes a andar de skate e longboard. Como te sentes em relação a isto? F: Este assunto por si só, dava um artigo singular. Tentarei resumir o que sinto do meu ponto de vista. O longboarding lá fora é grande. Europa, as Américas (especialmente EUA), África do Sul, Coreia do Sul, Japão. Por exemplo, em Espanha a população geral de skaters, lojas e eventos relacionados é inúmeras vezes maior que a nossa. E lá, o número de raparigas a andar de longboard (e a andar bastante bem diga-se, a nível mundial) é exuberante comparado com Portugal. Porquê? Porque a modalidade lá está a anos-luz de Portugal. Em propagação e produção de eventos. 9) M: Por que é que achas que isso acontece? F: Portugal é um país pequeno e retrógrado. O longboard é uma coisa recente e ainda desconhecida. É um nicho pequeno dentro do skate, embora que tem vindo a tomar popularidade recentemente através das redes sociais especialmente, pois está algo “na moda”. Isso é tanto bom como mau. Talvez por estar na ponta da Europa, parece que demora cá chegar a mentalidade relaxada dos nossos vizinhos. Como já se vê um pouco com o surf. Quando alguém pensa skate, pensa “halfpipes”. Pensa saltar escadas, “flips”, “grindar” rails. Pensa caneladas, nódoas negras e suor, pensa rufias, hooligans, adolescentes rebeldes. Pensa graffitis e vandalismo. Pensa “boy’s club”. Pode ser verdade para alguns. O que nos motiva a skatar, depende de país para país, de grupo para grupo. De pessoa para pessoa.

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9) M: Por que é que achas que isso acontece? F: Portugal é um país pequeno e retrógrado. O longboard é uma coisa recente e ainda desconhecida. É um nicho pequeno dentro do skate, embora que tem vindo a tomar popularidade recentemente através das redes sociais especialmente, pois está algo “na moda”. Isso é tanto bom como mau. Talvez por estar na ponta da Europa, parece que demora cá chegar a mentalidade relaxada dos nossos vizinhos. Como já se vê um pouco com o surf. Quando alguém pensa skate, pensa “halfpipes”. Pensa saltar escadas, “flips”, “grindar” rails. Pensa caneladas, nódoas negras e suor, pensa rufias, hooligans, adolescentes rebeldes. Pensa graffitis e vandalismo. Pensa “boy’s club”. Pode ser verdade para alguns. O que nos motiva a skatar, depende de país para país, de grupo para grupo. De pessoa para pessoa. 10) M: Consideras que existe um certo estigma/preconceito? F: Os estereótipos desmotivam à primeira vista, pois a rapariga que tem medo de se aleijar, fica a ver curiosa com medo de se sujar ou estragar a roupa nova, e especialmente de ser julgada. O estigma do skate ser um mundo estranho, habitado por homens. Que a rapariga neste mundo não é bem-vinda. Que vai ser renegada pelos seus porque pratica uma atividade com uma história turbulenta com a legalidade e aceitação na sociedade. 11) M: Mas alguma vez sentiste na pele que houvesse discriminação sexista ou de qualquer outro tipo? F: Vamos ser honestos, há idiotas em todo o lado. Mas digo-vos isto: NUNCA. Nunca em qualquer situação este estigma se confirmou verdadeiro para mim. Somos todos iguais no longboard. Independentemente da cor, sexo, religião, nacionalidade, número de calçado, preferências sexuais. Seja street skate ou longboard skate, nunca me disseram que não podia, devia ou pertencia. Pelo contrário. Sempre me incentivaram para conseguir, poder e pertencer. Honestamente, skatar com rapazes faz-me tentar com mais força. Provar não a eles, mas sim a nós próprias que tudo é possível com um pouco de esforço.

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12) M: Conheces raparigas que também pratiquem, como tu? F: Há raparigas a andar de skate cá. Conheço algumas, cada uma na sua modalidade. De momento, excluindo-me a mim, existe apenas uma rapariga a praticar freeride e downhill comigo. Chama-se Rita Sanfer. Nas palavras dela, andar com uma comunidade maioritariamente masculina alivia o drama a longo termo. Nunca temos intrigas e o que tiver de ser dito, é dito face a face. Ao longo do tempo em que pratico, já vieram e foram algumas, mas ora a vida pessoal ou profissional as impedem, ou a falta de vontade ou tempo. Algumas também se isolavam em grupos de raparigas apenas. Coisa que nunca compreendi bem neste meio. Outras andam isoladas. Tento sempre não parecer uma testemunha de Jeová quando as encontro, pois gosto de as introduzir à nossa comunidade maior. 13) M: Que conselho darias a todas as que gostariam de experimentar e não o fizeram, se calhar, por medo desse estigma? F: Gostava que mais raparigas com interesse no skate soubessem disto. Tal como em qualquer ambiente, é só saber escolher as companhias. Fazer amigos. Amigos suportam-se. E skatar com amigos é a melhor sensação do mundo. Até conheço raparigas que gostavam de aprender. Mas não há ninguém para lhes dar aquele empurrãozinho, aquela garantia de que vai correr tudo bem, que se vão divertir e não sair magoadas. Muitas são mesmo namoradas de amigos 46 MELANCIA

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8 1. Toeside Slide -Loboska Event 2013. 2. Evento Loboska 2014. 3. Cruising de Lisboa, Junho 2013. 4. Longboard Dancing , Agosto 2015. Fotografia por Mario Barge. 5. Coleman Slide, Fevereiro 2014. Fotografia por Luan Silva. 6. Lisboa Representing Street Surfing 2015. 7. Starting Line - King Of The Hill 2016. Fotografia por Mario Barge 8. Longboard River Sessions Amieira do Tejo 2015. 9. Toeside Slide - Ericeira 2014. Fotografia por Mario Barge 10. Pantera nas Portas de Rรณdรฃo 2016 (Tรกbua de Downhill Marca Bombsquad BattleRoyale). 11. Fillipa De Sousa. Profile Street Surfing 2015. 13 MELANCIA 47


meus. Que se sentam a olhar para nós, mas sem motivação para andar. Sinto constantemente uma responsabilidade enorme para com todas as raparigas que encontro a andar de skate ou com curiosidade sobre o longboard. Não consigo evitar ser o exemplo, a prova física que “se eu consigo, tu também consegues”. 14) M: Tens alguma ideia para ajudar estas “rookies”? F: Sou bastante dedicada a ensinar malta nova a andar. Tenciono começar a dar workshops em Março, a partir do próximo evento da loja Loboska a acontecer dia 19, na Vialonga. Este ano haverá também, em Março, o “Women’s Longboard Camp”, um evento internacional que trará raparigas de fora a experimentar o longboard em Portugal, durante uma semana de eventos, workshops e convívio entre skaters. 15) M: Fala-nos sobre o grupo mais pequeno onde estás integrada, que costuma sair de Lisboa em busca de serras e estradas de montanha mais hardcore pelo país fora. Para a prática de downhill e freeride com mais adrenalina, mais rápido. F: Estes longboarders e eu não temos nenhuma crew específica. Somos todos amigos. Tomamos a iniciativa de organizar o roadtrip através do grupo GLIL (Girls Like It Long). Todos nós temos os nossos projetos. Mas todos são loucos como eu. Alguns ainda mais. Uns colegas meus de equipa, Team Riders da Street Surfing e da Loboska, já fomos em roadtrip umas quantas vezes. E tencionamos ir de novo e mais vezes no futuro. Costuma ser mais fácil no Verão, pois aproveitamos as férias para tirar uma semana ou um fim-de-semana prolongado. Em norma, nunca vai menos de um carro cheio. Saímos normalmente às 6-8h da manhã de Lisboa. Tenho de organizar “shuttle cars” para transportar os riders para o topo da descida. Negociar gasolina e gastos de portagens. Walkie-Talkies e “encerra-fila” (carro que vai atrás). “Spotters” nas curvas sem visibilidade, pois estas estradas na sua maioria não são fechadas ao tráfego. Nós, claro, obedecemos às leis de trânsito, e mantemo-nos sempre na nossa faixa, com especial atenção quando vamos juntos em “pack-run”. É uma boa atividade de grupo. E tem muitas expressões técnicas! Conhecemo-nos mais intimamente como longboarders. E também pessoalmente.

16) M: O que mais te motiva e te inspira a andar de longboard? F: Pessoalmente, ser livre. Nos 10 segundos, 10 minutos, 10 horas em que esteja em cima do skate sou livre. Nada importa naquele momento. E tudo importa naquele momento, também. Como disse anteriormente, é a minha escapatória da realidade! Tornou-se um vício a superar todos os outros. Pode parecer dramático até, mas é isto. Sentir as rodas debaixo de mim, a turbulência nos pés, o suor a escorrer e a alegria de uma run feita, de um slide bem executado, da velocidade, do “flow”. Tudo isso vale a pena. Vale a pena o esforço. Mesmo quando a vontade se dissipa, em alturas mais stressantes, voltar a andar e estar lá, rodeada de amigos a fazer aquilo de que gosto motivame dentro e fora do longboard. Além de que é o exercício mais completo que já fiz. E fiz muitos desportos na minha vida. Nunca meti foi os pés num ginásio. No meu ginásio, há árvores e arbustos! E o único barulho que se ouve, além dos passarinhos, é o das nossas rodas. 17) M: A prática do skate longboard exige muita técnica e coragem. É um desporto com muitos riscos. Já te magoaste a sério? F: Felizmente, não. Devo a minha vida aos meus capacetes. Não desço sem um. Se for uma coisa leve, uso um normal de skate. Se for coisa para ultrapassar os 40km/h ou mais técnico, tenho um capacete integral. Nunca parti nada e espero que nunca aconteça, mas não tiro a hipótese. Há que saber lidar com a dor. Toda a gente cai. São ossos do ofício. São raros acidentes graves, mesmo assim. 90% vão resultar nas chamadas “road rashes”, aqueles raspões e esfolanços. O asfalto é um ralador de queijo para a nossa pele. O essencial é ter capacete e luvas de slide (luvas especiais grossas com um puck que serve para raspar no chão como ponto de apoio). Joelheiras e cotoveleiras são opcionais, mas aconselháveis. Quanto a pior acidente que tive, bom... Fui contra uma rotunda a 40km/h aproximadamente. Resultado: Fiquei um mês sem andar de skate (e na semana inicial, a pé), com um hematoma abismal na coxa. Faz dois anos. Recuperei a 100%, embora tenha marcas. Cada marca minha é uma medalha. Uma história. Algo que me faz lembrar dos meus erros e inexperiência. Não vale a pena fingir que não se cai. Aprender a cair faz parte. E com isso, as medalhas são menos frequentes mas mais importantes. Agora assustei toda a gente

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que ficou com vontade de experimentar, não foi? Aprender a lidar com estas coisas, faz-nos crescer. Diz a expressão “Skateboarding destroyed my body but saved my soul” (O skateboarding destruiu o meu corpo mas salvou a minha alma), não poderia ser mais real. 18) M: Como lidas com o medo e a adrenalina quando vais experimentar um novo spot nunca antes explorado por ti ou por alguém do grupo que está contigo? F: Depende do spot. Se estivermos a falar de uma run de montanha que não tenha descido... Nervoso miudinho misturado com vontade de descer. Faço 1001 histórias na minha cabeça a processar toda a informação que tenho do spot. Os nosso pioneiros de spots são muitos, ainda não tive a oportunidade de estrear um sítio novo. Logo, costumo ter algum feedback, mesmo que pouco, se for um local recentemente descoberto. No entanto, vou com muita calma. Mental e física. Não me considero de modo algum “pró” na modalidade. Sou progressiva com a minha aprendizagem. Tenho de empurrar-me muitas vezes para fora da minha zona de conforto. O medo empurra-me mais ainda. Se não arriscar, nunca saberei. Prefiro arrepender-me de ter feito mal do que de nunca ter tentado, porque ao menos tentando mal, aprendo a fazer bem. 19) M: Quais os teus objetivos com o skate longboard? F: Sou bastante competitiva mas nunca encarei o skate como uma coisa a ser ganha. Tenho patrocínios, mas nunca vi no skate uma maneira de fazer dinheiro. Honestamente, só peço que me faça feliz. Os meus objetivos são cumpridos sempre que desço algo de longboard. Sempre que olho para o lado e tenho alguém a skatar comigo. Sempre que viajo para skatar. Sempre que conheço pessoas novas a skatar ou por causa do longboarding. 10

20) M: E o teu lema de vida, qual é? F: Não tenho nenhuma frase feita/lema, mas tenho vida. E enquanto a tiver vou fazer, ter, ser e estar. Parar é apenas no fim. Se não parei é porque não é o fim. :) Vá tenho um pronto. “Do or motherfucking die tryin’. \m/” [Faz ou morre a tentar] 21) M: Onde encontramos o Fillipa quando não está a andar de longboard? F: Na sua “Batcave” a trabalhar, ou a montar skates, ou a jogar e a ser a maior geek, ou a ver filmes e a comer pizza com amigos.

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22) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos leitores :) F: Agradeço à MELANCA a oportunidade de me pôr a falar sobre as coisas que mexem comigo. As melhoras à Inês Rodrigues, que foi quem me recomendou. À Juliana pelo voto de confiança e paciência que terminasse isto. Meninas e menino, agarrem-se, que vem daqui lamechice! A vocês só digo isto... Se querem alguma coisa nesta vida, não fiquem agarrados cerebralmente a um ecrã de televisão, telemóveis, redes sociais, etc (a não ser que trabalhem nessas áreas) não se esforcem o mínimo dos mínimos, nunca se contentem e nunca parem de aprender. Seja curiosos sobre tudo, questionem tudo. “Caguem” nas coisas supérfluas da vida. Corram atrás do que querem. JÁ. Não parem até a terem. Se falharem, apanhem as peças e levantem-se que haverá mais coisas para querer. Mas a força maior é “querer”. Por muito pouca diferença que faça, alguma faz, ao contrário de nada fazer, por isso experimentem sem medos, explorem todas as possibilidades. Já chega, vá. Comam os vegetais e lavem os dentes todas as noites. Beijinhos e ride on.

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HOT YOGA TÓNICO

COM JEAN-PIERRE DE OLIVEIRA

Para tonificar, emagrecer e ganhar vitalidade.

Aulas de yoga em sala aquecida até 40º, na Rua António Pedro 1B, Anjos, Yoga Live Academy. Horário: Segunda das 12h30 às 13h30 e quarta das 19h30 as 21h.

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Mais informações em: www.yoga-spirit.pt MELANCIA 51


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Tatuagem

Entrevista por: Mafalda Jesus Tatuagens: David Santos

Se quiserem encontrar o David, basta procurarem no Domus Tattoo Art em Setúbal. É no estúdio que este tatuador profissional, discreto e calmo, passa a maior parte do tempo. A atender clientes ou a estudar novas criações. Começou pelo desenho, depois pelo graffiti, mas sempre curioso e fascinado pela tatuagem. Gosta de simbolismo, de geometria sagrada e acredita que o seu estilo não está definido, mas sim em evolução permanente. É sobretudo a noite que o inspira.

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1) MELANCIA: Quem é o David? DAVID: É sempre difícil fazer uma auto descrição, mas diria que sou alguém discreto, que não gosta de dar nas vistas. Sou observador, gosto de estar atento ao que me rodeia, aos detalhes e aprendo muito visualmente. Sou paciente e calmo, tanto na minha vida pessoal, como no meu trabalho e no que pretendo desenvolver através dele. 2) M: Há quanto tempo tatuas e como começou? D: Eu já tatuo há cerca de 5 anos, aliados a 1 ano de gestão de loja e aprendizagem. Acabei por vir parar ao ramo da tatuagem assim que terminei o 12ºano, apesar de o meu agrupamento ser diferente da área artística, nunca deixei de me sentir ligado às artes.O desenho sempre me ocupou os tempos livres e até chegou a interferir com as aulas. Fiz graffiti durante alguns anos, desenhei retratos a carvão, pintura acrílica e óleo sobre tela. A tatuagem deixava-me muito curioso, queria perceber como se desenrolava o processo e a sensibilidade e destreza que o tatuador tinha que ter para conseguir desenhar numa “tela viva”. Durante a minha aprendizagem fui picado pelo bichinho de pegar numa máquina e comecei por fazer uns pequenos traços em pele de porco que comprava no talho. Lembro-me de ter feito uns dados com umas chamas com cores berrantes (aquele típico flash tattoo design anos 90), logo numa das primeiras experiências. Obviamente os resultados não eram perfeitos, mas também não eram maus e rapidamente comecei a tatuar amigos e familiares. A confiança que depositavam em mim foi o que me ajudou a evoluir cada vez mais. 3) M: Como classificas o teu estilo/traço? D: Não consigo rotular o meu estilo, é o que é. Nas minhas tatuagens uso sempre pontilhismo, gosto de simbolismo e de referencias alusivas a geometria sagrada, sempre numa onda mais gráfica. Sinto que ainda não me estabeleci, que o meu trabalho está numa constante metamorfose e isso agrada-me. Oiço muitas vezes os clientes referirem-se ao meu traço como sendo diferente dos outros. Como tenho tudo mecanizado, sai-me naturalmente e tento dar sempre o máximo. Tento elevar a fasquia a cada tatuagem.

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4) M: Quais são as tuas referências e inspirações? D: Podia estar a referir vários nomes e, obviamente, sigo o trabalho de vários artistas diariamente, mas a verdadeira inspiração vem de dentro. Sou influenciado pela forma como me sinto no momento em que preparo o desenho, a música que oiço, as pessoas que me rodeiam e na energia que o cliente me transmite quando faço a consulta pessoalmente. Posso ainda dizer que a noite me inspira, os meus projectos são quase todos criados de noite. 5) M: Tens sempre a agenda cheia, qual foi o segredo para este sucesso? D: A minha agenda nem sempre foi cheia e o meu intuito nem foi trabalhar nesse sentido. Sempre trabalhei para tentar ser melhor e estabelecer-me de acordo com os meus objectivos. Simplesmente aconteceu e continua a acontecer, fico contente por todos os dias ser requisitado e pedirem-me projetos interessantes. Não existe grande segredo, basta acreditar em nós próprios, muito trabalho, dedicação e acima de tudo humildade. 6) M: Com o olhar mais criterioso e treinado de hoje, como classificarias a tua primeira tatuagem? D: Hoje em dia ainda dou por mim a ver as primeiras tatuagens que fiz e avalio-as tal como as que fiz a semana passada, por exemplo. É um processo continuo, em que temos que estar sempre a evoluir ou a inovar e nunca devemos achar que está bom porque, se isso acontecer, então acaba tudo. Não fico constrangido de ver trabalhos antigos, porque sei que dei o meu melhor naquela altura e só eu e o meu cliente é que temos de gostar e sentir isso. Para mim a tatuagem é pessoal a esse ponto.

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“É um processo continuo, em que temos que estar sempre a evoluir ou a inovar e nunca devemos achar que está bom porque, se isso acontecer, então acaba tudo. ”

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7) M: Qual é o cliente ideal? O que chega com um rascunho ou o que te dá liberdade criativa? D: Deve-se dizer “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”. Se for possível gosto de falar pessoalmente com o cliente e saber quais as suas ideias, discutir todos os pormenores e deixar a pessoa à vontade (que às vezes é a sua primeira tatuagem). Dentro disso gosto de ter alguma liberdade criativa, o cliente só sai a ganhar, porque o resultado é um desenho que é original. Acho que ouvir o cliente é bastante importante e deve ser respeitado, porque até pode não perceber nada de tatuagens, mas de uma forma ou outra vai salientar o que considera importante, impedindo o tatuador de errar ou não corresponder às suas expectativas. É importante lembrar que o cliente vive a tattoo na 1ª pessoa. 8) M: Que tatuagem te deixou mais orgulhoso? D: É sempre difícil eleger uma. Algumas tatuagens que deixaram-me orgulhoso por mais pequeno que o desenho fosse e sem que nunca as tenha partilhado nas diversas redes sociais. São memórias que gosto de guardar para mim. Existem também casos de clientes que terminam tatuagens grandes, que demoram várias sessões a serem feitas e no final se emocionam, seja pelo que a tatuagem significa para eles ou pelo resultado final e eu obviamente fico feliz e orgulhoso. Essa é sem dúvida a melhor recompensa que se pode ter. Não desfazendo de todas as outras, esta tatuagem foi um dos casos, exigiu imenso esforço, paciência e dedicação das duas partes. (fotografia na página seguinte) 9) M: Qual é o maior desafio profissional nesta indústria? D: Corresponder às expectativas do cliente. Existe sempre pressão, boa ou má, desde o momento em que se dá a primeira picada. 10) M: Qual é o teu lema de vida? D: A vida é um dia de cada vez e não há pressas de chegar ao final da viagem. O segredo é desfrutar da viagem e prestar atenção aos pequenos detalhes, sentir o vento e o sol na cara, desviar uma pedra ou outra do caminho, que faz sempre parte, e dar o máximo. 11) M: Onde encontramos o David quando não está a tatuar? D: Confesso que sou um workaholic e passo grande parte do tempo a desenhar e a ver o trabalho de outros tatuadores. Sempre que consigo, passo tempo com a minha família, que me dá muita força e apoio. Mas se não me virem no estúdio é porque provavelmente estou à porta, a sair ou a entrar. A questão é que gosto demasiado disto para me conseguir cansar. Acabo por pensar “o que vou fazer pela Tatuagem?”, depois de tudo o que a Tatuagem fez por mim. 12) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos leitores :) D: Sigam os vossos sonhos, lutem e agarrem-se ao que acreditam e gostam. Com trabalho e dedicação conseguem ser o que quiserem, se não tiverem medo de sacrificar outras coisas, isso é certo! Eu chamo ao que faço de trabalho, para ser levado a sério, mas eu não o considero. Gosto do que faço e, se tenho a sorte e oportunidade de o fazer, vou desfrutar desta viagem. Que ela seja bem longa!

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INSPIRA

Tipografia & Street Art

Entrevista por: Mafalda Jesus Imagens: Divulgação

Filipa, 24 anos, é uma poeta mas não uma fingidora. Gosta de contar e transcrever o que deveras sente. Por palavras, vocábulos gráficos na forma exacta para transmitir a mensagem pretendida. Se ela não escolhesse prestar homenagem à Língua Portuguesa, diríamos que back to basics é o seu lema. Ela gosta de voltar, uma e outra vez, à tipografia, à gráfica, aos materiais que fazem as letras ver e falar. As palavras somos nós.

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1) MELANCIA: Quem é a Filipa? FILIPA: Sou o que sinto. Sinto muito, sinto tanto que resolvi virar um sentimento e o projeto “Já Sinto” nasceu assim, do meu enorme sentir. Além disso sou apaixonada por poesia, arte, design... enfim, sou apaixonada pela vida! 2) M: Como surgiu o “Já Sinto”? F: Este projeto nasceu de palavras que ficam por dizer, de sentimentos que não acabam, de um enorme amor e de uma saudade interminável. Advém também do que sinto que todos os designers devem ter em consideração nas suas práticas profissionais, aqui falo do enorme poder de comunicação que temos e das inúmeras oportunidades que existem de utilizar o design de forma responsável e de modo a poder marcar uma diferença. Senti essa oportunidade de marcar a diferença com o projeto “Já Sinto” e ao invés de realizar um design que parece bem mas que é superficial, quis utilizar um que pratica o bem! Que comunica valores culturais e sociais à sociedade que urgentemente precisa de ver essas ideias difundidas. A cidade tornou-se num livro aberto onde todos os dias alguém escreve o seu texto. Enquanto designer quero fazer-me ouvir e, para tal, quero ter a minha quota-parte na participação da cultura visual da cidade e no texto que está a ser escrito nela. Por isso, aliei a esta missão o que podemos considerar a expressão artística da atualidade, que denominamos por arte urbana, ela deposita as mais variadas mensagens visuais nas cidades e enquanto designer entendi que nós também fazemos parte dessas mensagens. O que pretendi comunicar com este projeto é que cada um de nós tem um papel importante para fazer do mundo um lugar melhor. Quero aliar o máximo de pessoas que consiga para que todos possamos ter a participação no texto que constitui a cidade e juntos possamos escrever uma história que valha a pena ser lida. Por isso o manifesto deste projeto é — vive, aprende e passa a mensagem! 3) M: Na tua opinião, qual é a importância da tipografia no mundo do design? F: A tipografia é, inquestionavelmente, um dos elementos mais importantes do design. Cada letra transmite, de acordo com as características da forma, um conceito diferente e o designer deve entender as palavras e dar sua contribuição sobre o conteúdo da mensagem. “A beleza na tipografia vem dela própria quando o compositor traz um certo amor ao seu trabalho. Quem não ama o que faz, não pode esperar agradar os outros.” Jan Tschichold O designer em que me inspirei para a criação da tipografia deste projeto foi Edward Fella, que afirmou: “A letra vê, a letra fala” (1987). Então, tomei como ponto de princípio que diferentes letras são então, diferentes falas e vozes, e este projeto pedia isso. Ao unir a arte urbana ao design e a construir este projeto sobre diferentes obras urbanas, diferentes artistas, emoções e mensagens distintas, senti como dever incluir isso nas tipografias que iria usar. Diferentes letras, falas, vozes... Cada uma reflete as diferentes personalidades e culturas díspares de quem as escreveu na cidade. Apesar de distintas, há um sentido de união transmitido através da cor, e, para surpresa, ao serem todas diferentes criou-se um sentido de harmonia entre elas. Essa harmonia, o elemento que as une, simbolicamente é a nossa Língua Portuguesa. 4) M: Estiveste no Brasil um ano. Quais são os principais ensinamentos que trouxeste de lá? F: Essa é fácil: “Gentileza Gera Gentileza!”

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“ESTE PROJETO NASCEU DE PALAVRAS QUE FICAM POR DIZER, DE SENTIMENTOS QUE NÃO ACABAM, DE UM ENORME AMOR E DE UMA SAUDADE INTERMINÁVEL.”


5) M: O teu projeto vive apenas da Língua Portuguesa. Porquê? F: “Esqueça as fronteiras, amar nunca foi um país” Pedro Gabriel, em “Eu me chamo António.” Essas mensagens não estavam apenas no Brasil, elas existem em várias partes do mundo, mas os ensinamentos com que lá me deparei disseram algo ainda mais forte, falaram a minha língua, falaram-me em Português. O intercâmbio acabou e regressei a Portugal de forma a poder concretizar este projeto, e o que senti foi saudade. A palavra “saudade”, por mais que se tente encontrar em outras línguas, nenhuma expressão define este sentimento luso-brasileiro. São apenas tentativas de determinar esse sentimento que só são capazes de sentir os povos da cultura portuguesa. Devido a esta saudade sentida, a Língua Portuguesa é o que me permite estar lá, mesmo que de facto não esteja. Isto provocou em mim, uma quebra das fronteiras que nos separam a todos. E se, de alguma forma, eu consegui quebrar essa barreira, penso que encontrei aqui o significado que serve por si próprio como a mensagem mais importante deste projeto: a que está implícita nele, a que simboliza o sentimento que todos partilhamos pela nossa língua. E assim decidi que as mensagens do meu projeto seriam todas em Português. 6) M: A palavra certa diz tudo. Elege uma frase e explica-nos porquê. F: O que tem de ser, tem muita força. Acredito nesta frase por circunstâncias da vida em que esta me provou ser real! Às vezes, tentamos fugir a algo que nos é destinado, outras, corremos

atrás de algo que não é para ser, mas, no final do dia, sem dúvida, que o que tiver de acontecer, aquilo que tiver de ser, ninguém consegue parar. 7) M: Onde fazes a diferença? F:O mais importante deste projeto não é qual a diferença que estou a fazer, o que quis foi mostrar que todos podemos e devemos marcar a diferença. Por isso, tento chamar a atenção de quem o faz todos os dias na cidade, porque comecei a questionar o que leva alguém a sair de casa às 3 da manha, para ir pintar paredes? Perdes o teu tempo, o teu dinheiro e tudo isso para fazer algo que eu acredito ser muito importante, que creio ser o dever de todo o artista: conectar pessoas, emocionar, surpreender e inspirar. Por admirar quem o faz, quis juntarme a manifestação silenciosa que ocorre nas cidades através das palavras. Acredito que a melhor arma são as palavras, são um caminho não violento e inteligente quando se quer mudar alguma coisa. 8) M: Qual é a sensação de passar a mensagem para a parede? F: O mundo digital, por vezes, torna-se inatingível, por isso quando posso tento sempre regressar às práticas manuais. As oficinas e as questões gráficas do Design fascinam-me. Quando trabalho com materiais e produzo coisas, percebo que é isso que nos permite criar peças únicas e torna tudo muito mais pessoal! Tirar um dia para pintar um mural é voltar às origens, pintar uma frase é espalhar bons sentimentos e ambas as sensações são incríveis.


“A vida é um dia de cada vez e não há pressas de chegar ao final da viagem. O segredo é desfrutar da viagem e prestar atenção aos pequenos detalhes...”

9) M: És uma pessoa cheia de ideias e energia. Conta-nos como é um dia na tua vida. F: Ui. Pois sou!!!! Energia não me falta, felizmente! O que me permite estar sempre a produzir trabalho. Um dia normal é ser designer do início ao fim (exceto se for ao fim-de-semana, aí dou-me ao luxo de ser quem eu quiser). Trabalho a full-time em design gráfico e quando saio do meu trabalho, no final do dia, tento gerir outros trabalhos que vou aceitando em regime de freelancing e, à parte de tudo isto, continuo a gerir o projeto “Já Sinto”. É bastante trabalhoso e exige muito tempo da minha vida pessoal gerir tantos projetos, mas realmente faço o que o amo e não posso reclamar. Esta energia toda tem que ser gasta de alguma forma, que seja então a produzir tudo o que imagino! 10) M: Que frase te disseram, que não esqueces? F: “Se o passado te chamar não lhe respondas, não tem nada de novo a dizer-te.” 11) M: Qual é o teu lema de vida? F: “A vida só se dá, Pra quem se deu” - Vinicius de Moraes. 12) M: O que podemos esperar do “Já Sinto” em 2016? F: “Já Sinto” a sair do papel e a ganhar novas formas! Vai passar para a cidade em força este ano! 13) M: Onde encontramos a Filipa a um domingo? F: Ultimamente, em miradouros! Detesto o conceito de domingo ser um dia de descanso! Por isso faço tudo o que puder para fugir a isso, tento sempre ir passear em Lisboa. Não me canso desta cidade, há sempre algo por descobrir! 14) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos leitores :) F: A vida é um dia de cada vez e não há pressas de chegar ao final da viagem. O segredo é desfrutar da viagem e prestar atenção aos pequenos detalhes, sentir o vento e o sol na cara, desviar uma pedra ou outra do caminho, que faz sempre parte, e dar o máximo.

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Blog e Trabalhos manuais

Entrevista por: Juliana Lima Imagens: Acervo Rosa Pomar

Conheci o trabalho da Rosa Pomar há alguns anos por indicação de uma amiga que sabia do meu gosto pelo triô, crochê e a costura! Ainda me lembro quando a Ana, a minha amiga, me enviou o link do blog “Ervilha Cor de Rosa” acompanhado de uma mensagem muito querida a dizer que eu ia amar. Ela tinha razão, amei. Desde então acompanho as dicas e as novidades. Já comprei muito material na Retrosaria e indiqueiàs minhas amigas. Nesta entrevista, Rosa conta-nos como tudo começou e fala-nos sobre a importância que o blog teve na sua vida e das suas inspirações e influências.

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1) MELANCIA: Sabemos que o teu blog, na época, com outro nome, nasceu em 2001. Qual era o teu propósito na altura? E por que decidiste mudar o nome para “Ervilha cor de rosa”? Rosa: Inicialmente, foi uma forma de manter um diário de viagem durante um verão que passei em Nova Iorque a fazer um curso na School of Visual Arts. A ideia era manter os amigos ao corrente das minhas aventuras por lá, só que, na altura, poucas eram as pessoas que sabiam o que era um blog, por isso não funcionou lá muito bem! Eu sempre tinha tido o hábito dos diários (escritos, desenhados com colagens) e o blog era uma ferramenta nova para explorar esse meu lado - nunca mais o abandonei. Chamava-se simplesmente @ny (“em Nova Iorque”). O nome mudou mais tarde, aquando do nascimento da minha filha mais velha, e é uma brincadeira com o meu nome e o dela. 2) M: Já lá vai muito tempo desta época, entretanto!! Conta-nos como te sentes a completar 15 anos de partilhas, a ensinar e inspirar tanta gente através de uma plataforma digital? R: A Ervilha Cor de Rosa é uma parte muito importante da minha vida, acompanhou-me praticamente durante toda a minha vida adulta e registou o meu crescimento como pessoa, como mãe e também todo o meu percurso profissional. Por ser um dos blogs mais antigos em Portugal e também por ter de certa forma lançado vários temas e áreas de interesse, foi, de facto, uma referência para muitas pessoas, sobretudo as que tiveram filhos mais ou menos ao mesmo tempo que eu. Eu tornei-me adulta enquanto autora do blog e do lado de lá uma série de gente cresceu com o que eu escrevia como companhia. Vejo isso como uma coisa muito bonita. O feedback dessas pessoas deu-me imenso. Entretanto, a internet mudou muito e hoje em dia sente-se que o “tempo dos blogs” deu em grande medida lugar ao tempo do Facebook e do Instagram. Como tantos outros bloggers, ainda estou a ajustar-me a essa mudança. 3) M: Lembras-te quando começaste a fazer trabalhos crafts e handmade? Adoraríamos saber como tudo começou... R: Não me lembro de não fazer. Aprendi com a minha mãe e a minha avó a brincar com fios e tecidos e experimentei um pouco de tudo ao longo da infância, dos bordados ao macramé, tecelagem, trabalhos com missangas, costura, depois o tricô e o crochê... Costumo dizer às minhas alunas que tive a sorte de aprender todas estas coisas com mulheres que não correspondiam de todo à ideia de “fada do lar”. Ambas

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eram feministas e tinham as suas carreiras profissionais. Talvez por isso nunca achei que fazer malha ou costura fossem incompatíveis com ser uma mulher com outro tipo de interesses. 4) M: Entre os trabalhos manuais que fazes), qual é o teu preferido e porquê? R: É impossível escolher. Nos últimos tempos tenho-me dedicado sobretudo ao tricô (ter um bebé pequenino é um grande estímulo), mas também adoro fiar, fazer mantas de retalhos, tecer... 5) M: A MELANCIA adora os teus bonecos de panos. Fala-nos um pouco sobre eles e sobre o teu processo criativo. R: Obrigada! Comecei a fazer bonecos de pano quando a minha filha mais velha nasceu (há 13 anos!). A minha mãe fez-me bonecos de pano que me acompanharam toda a infância, por isso foi uma vontade que surgiu muito naturalmente. Nessa altura, tinha acabado de comprar a minha primeira máquina de costura e estava deslumbrada com as possibilidades. Tinha dado os primeiros passos no universo da ilustração, algum tempo antes, e os bonecos de pano permitiam-me, de certa forma, continuar a explorar esse universo, mas agora a três dimensões. 6) M: Depois do teu sucesso com um espaço virtual, criaste o teu cantinho físico, em Lisboa, para partilhar imensos mimos e tudo aquilo que têm a ver com o teu universo tão inspirador. Como surgiu a Retrosaria? R: A Retrosaria surgiu, em grande medida, dos inúmeros emails que me enviavam a perguntar onde comprava os materiais que usava nas minhas peças. As coisas mudaram muitos nos últimos anos, mas em 2007 encontrar fios de boa qualidade para tricô e tecidos de algodão com motivos bonitos era uma missão quase impossível. Daí nasceu a ideia de disponibilizar esses materiais para o público português, primeiro apenas online e depois também numa loja “verdadeira”, desde 2009. Pouco tempo mais tarde, teve início o meu projecto de criar fios para tricotar a partir de lã de raças autóctones portuguesas. Primeiro nasceu a Beiroa, que neste momento já vendemos para mais seis países, e desde aí a colecção não tem parado de aumentar. Dentro de tudo o que faço é, sem dúvida, uma das coisas que mais prazer me dão.

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“Provavelmente se não fosse mãe a minha vida teria levado um rumo totalmente diferente. Os bonecos nasceram para a minha filha mais velha e foi dos bonecos que nasceram todas as outras coisas.”

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7) M: Tens um bebé recém-nascido, e duas meninas crescidinhas que, uma vez ou outra, aparecem nas tuas publicações. Ser mãe inspira-te ainda mais nos teus trabalhos? R: Claro que sim! Provavelmente, se não fosse mãe, a minha vida teria levado um rumo totalmente diferente. Os bonecos nasceram para a minha filha mais velha e foi deles que nasceram todas as outras coisas.

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8) M: E, o contrário é verdadeiro? Achas que influencias e inspiras as tuas filhas a seguirem o mesmo caminho das linhas, maquinas de costuras, lãs e agulhas? R: Isso não me preocupa nada. É normal que elas tenham familiaridade com esta área porque cresceram a ver-me trabalhar. Ambas sabem fazer malha e a mais velha gosta muito de brincar na máquina de costura, mas espero que sigam o seu próprio caminho, seja ele parecido ou muito diferente do meu. Agradame pensar que ganharam estas competências comigo, mas que importa é que se sintam felizes com as escolhas que fizerem. 9) M: Em 2013, lançaste o teu primeiro livro “Malhas Portuguesas. História e prática do Tricot em Portugal, com 20 modelos de inspiração tradicional”. Fala-nos sobre esta experiência. R: Escrever esse livro foi um pouco como ter mais um filho. Foram vários anos de pesquisa em museus e bibliotecas, muitos quilómetros percorridos para aprender as técnicas tradicionais com pessoas de Norte a Sul do país e nas ilhas. O livro tem tido uma enorme aceitação tanto cá em Portugal como no estrangeiro, onde muitas vezes é adquirido por pessoas que nem sequer leem português, mas que se interessam pelas diferentes tradições e técnicas de fazer malha. 7


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1. Boneco. 2. Um gorro com motivo de manta alentejana. 3. A Retrosaria. 4 e 5 AIt’s #pompom time! (2014). 6. Aprender com os mestres. 7. O prazer de ensinar. 8 e 9. Etiquetas de alguns dos fios de lã portuguesa da Retrosaria (realizados por ilustradores portugueses) 10 e 11. a pair of matching baby pants. #retrosariarosapomar #joãoyarn #knitting 12. Livro: Malhas Portuguesas. História e prática do tricot em Portugal, com 20 modelos de inspiração tradicional 13. entre a meada e as agulhas. 14. Workshop de malhas tradicionais no Museu de Etnologia. 9 MELANCIA 75


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10) M:Estudaste História Medieval. Achas que isso influenciou e contribuíu nas pesquisas e na criação do teu projeto “Lã em Tempo Real”? R: Com certeza que sim. O meu percurso académico forneceume as ferramentas necessárias para fazer esse trabalho de recolha, seja em bibliotecas ou no campo. Quando me perguntam o que estudei, comentam frequentemente que vim parar a uma área profissional completamente diferente, mas, na verdade, a minha formação condiciona em muito a forma como trabalho, os projetos que vou tendo, etc. 11) M:Como organizas os teus dias com tantas atividades para conciliar? R: Nunca tive um emprego (com patrão, horário, ordenado e essas coisas que sempre associámos às “pessoas crescidas”) e comecei a trabalhar antes dos 20 anos, por isso nem sei como é viver de outra forma. Não sou particularmente organizada nem tenho horas específicas para cada tarefa. Há sempre trabalho menos criativo a que é preciso dar despacho, seja pôr a correspondência em dia ou gerir os stocks da loja, mas isso é compensado com projetos mais estimulantes aos quais todos os dias dou atenção, como planear os meus próximos fios, pensar em paletas de cores, tirar fotografias, visitar um artesão, etc. 12) M:Qual o teu lema de vida? R: Não tenho. Mas há uma coisa que já dei por mim a dizer às minhas filhas muitas vezes: é bom ser diferente (às vezes custa um bocadinho, mas vale a pena). 13) M:E os teus planos para 2016, quais são? R: São segredo :) 14) M:Para fechar, deixa um recado à MELANCIA mag e aos leitores :) R: Aprendam com as vossas avós!

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“ERVILHA COR DE ROSA É UMA PARTE MUITO IMPORTANTE DA MINHA VIDA, ACOMPANHOU-ME PRATICAMENTE DURANTE TODA A MINH VIDA ADULTA E REGISTOU O MEU CRESCIMENTO COMO PESSOA, COMO MÃE E TAMBÉM TODO O MEU PERCURSO PROFSSIONAL.” ROSA POMAR

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Tipografia

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DIAS Entrevista por: Juliana Lima Imagens: Acervo Dias + Inês Cardoso

Uma oficina que dá a oportunidade de experenciar um ofício em vias de extinção. Assim é a Tipografia Dias que, apesar já ter mais de 10 anos de existência em Leiria, Portugal, zona de naturalidade do seu fundador, chegou à capital portuguesa apenas no ano passado. Entrevistámos Rúben Dias, 37 anos, e designer de formação. Abriunos as portas do seu espaço e contou-nos sobre a sua paixão e a criação dos workshops que tem sido pensados para ser um primeiro contacto com a tipografia de caracteres móveis. Surpreende-te com esta iniciativa e faz como os designers, arquitectos e fotógrafos que andam a procura de experiências como esta! ;)

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1) MELANCIA mag: Como e quando surgiu a Oficina Tipografia Dias? RUBEN DIAS: Comecei a “respirar” material tipográfico desde o início da faculdade. Sempre que dava com uma oficina, enfiava o nariz e procurava meter conversa com os tipógrafos, muito desconfiados por um miúdo querer saber de um ofício que estava em vias de extinção. O primeiro espaço surge em 2001 numa sala emprestada no centro histórico de Leiria, no quarteirão onde a minha avó vivia. Depois passou para casa dos meus pais, nos arrabaldes da cidade, e apenas no ano passado veio para Lisboa. 2) M: Como apareceu o teu interesse pela tipografia? O que fazias antes de abrir este teu espaço? R: Por graça, gosto de dizer que desde o Ciclo [5º ano] que copiava as letras de um catálogo da Letraset que o meu pai tinha lá em casa. Aquele livro com uma argola de espiral branca e capa vermelha fascinava-me e sempre que precisava de fazer letras ia lá copiar alguma. Normalmente, alguma coisa por demais decorada. Lembro-me de um tipo que era feito de lápis torcidos e do qual fiz uma réplica para um trabalho do Ciclo. Na faculdade, desde cedo, o tema me dominou a atenção e comecei a vasculhar sobre o assunto, procurando devorar tudo o que encontrava na internet e adquirindo livros avidamente. Normalmente, derretia dois terços da mesada em livros e revistas, logo nos primeiros dias do mês.

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3) M: Deste à oficina o teu apelido. Já por aí percebemos a tua dedicação e envolvimento neste projecto. Quando decidiste abrir a oficina? R: O nome é acima de tudo um piscar de olho, em jeito de homenagem às centenas de tipografias que utilizavam o apelido do seu proprietário para se designarem. Tipografia Mendes, Tipografia Silva, ou Tipografia Dias. Não conheci nenhuma com este nome em concreto, mas acredito que tenham existido várias. Não sei como me ocorreu, mas o meu sobrenome pareceu-me que encaixava tão bem, que desde logo não consegui resistir. O nome foi ganhando força e quando se reuniram as condições para implementar a oficina no mesmo espaço do meu atelier (que era para mim uma condicionante obrigatória para trazer a oficina) era chegada a hora do projeto ganhar uma forma mais pública. E assim que terminei o Doutoramento, abriu-se espaço para poder fazer acontecer o que há vários anos pretendia pôr em prática. 4) M: Fala-nos dos teus objetivos na altura que lançaste o espaço e como te sentes agora com a avolução. R: A oficina em Lisboa e nos moldes que está actualmente a funcionar é ainda muito recente. Tem pouco mais de meio ano. Estou extremamente surpreendido com o interesse que tem havido pela oficina. Quer na procura de workshops, quer na de pessoas que querem realizar projetos com caracteres móveis. O entusiasmo que recebo no decorrer dos workshops e novamente no final de cada um desses intensos dias é extremamente

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gratificante. Poder ensinar algo que me fascina e perceber que isso deixa as pessoas mais ricas é uma grande recompensa. 5) M: Num mundo cada vez mais digital, chamou-nos a atenção um espaço que oferece workshops e dá a oportunidade aos interessados de viver a experiência do processo de impressão com caracteres móveis de madeira e chumbo. Quem consideras o público-alvo destas sessões? R: Os workshops destinam-se a qualquer pessoa, mas tem sido procurado maioritariamente por designers, arquitectos e fotógrafos. Estamos a acreditar que será uma questão de tempo até aparecerem pessoas de outras áreas, uma vez que não é necessária qualquer experiência para participar. Tal como se pode ir fazer um salto tandem de para-quedas e passar uma boa tarde com uma experiência diferente, ou conhecer outras pessoas que gostem das mesmas coisas que nós. Vários amigos nos têm pedido para fazer workshops para crianças e por isso já estamos a preparar um para o próximo mês de abril. 6) M: Hoje em dia é mesmo raro encontrar alguém que tem um acervo de centenas de tipos de letras como o teu. Como criaste esta tua coleção? R: Na sua generalidade surgem de horas de “namoro” com

os tipógrafos, que têm de uma forma generalizada uma enorme relutância em desfazer-se deste género de materiais. Os tipógrafos começavam desde muito cedo a trabalhar e desenvolvem um carinho especial pelos tipos, pelos prelos, enfim, por todos os materiais necessários numa oficina. Inicialmente, ficam muito desconfiados por acreditar que um rapaz novo está interessado em tipografia de caracteres móveis. 7) M: Para ensinares, tens de dominar muito bem as técnicas todas e ter profundo conhecimento sobre o tema. Onde aprendeste tudo o que sabes sobre tipografia? R: Tenho aprendido muito nas longas conversas que vou tendo com os tipógrafos que procuro conhecer nas poucas oficinas que se mantêm em atividade. Estes profissionais possuem um conhecimento que está desaparecer lentamente e, coma parca existência de manuais que temos em Portugal, corremos o risco de não conseguir preservar este conhecimento. O desenvolvimento do doutoramento permitiu-me procurar mais informação e pelo caminho tive a sorte de conhecer vários tipógrafos. Não posso deixar de destacar o sr. Benjamim Godinho, tipógrafo, ex-director da Oficina de composição da Imprensa Nacional de Lisboa, actualmente reformado e com quem tenho aprendido imenso. Volta e meia reunimo-nos

“Poder ensinar algo que me fascina e perceber que isso deixa as pessoas mais ricas é uma grande recompensa.” DIAS. 5

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aqui na oficina e as histórias e os ensinamentos parecem nunca ter fim, existe sempre mais para aprender. No outro dia, no decorrer de um workshop em que estava presente, ensinou-nos como recuperar uma composição empastelada (desmoronada), utilizando água para dar firmeza aos caracteres. Isto são coisas que não se aprendem nos livros. Só um tipógrafo com prática pode possuir este tipo de conhecimento. Além deste lado prático, para o desenvolvimento do doutoramento, em que estudei os tipos de letra da Impressão Régia no século XVIII, propondo o redesign de um desses tipos, para a actualidade, tornou-se necessário efectuar uma exaustiva investigação que me permitisse escrever sobre estas coisas. Precisava de construir a minha bibliografia e, como amante de livros que sou, acabei por me tornar um habitué nos alfarrabistas, onde, de uma forma errante, fui colecionando tudo o que tenha a ver com tipografia. Fui juntando uma simpática colecção de livros nacionais. Os estrangeiros, habitualmente, mando vir de fora, mas ambos se têm revelado um complemento absolutamente essencial para solidificar o conhecimento. 8) M: Sabemos que proporcionas uma experiência tipográfica completa aos participantes, oferecendo um processo semelhante à impressão executada por Gutenberg. Como idealizas e estruturas as sessões? R: Os workshops que temos estado a desenvolver foram pensados como um primeiro contacto com a tipografia de caracteres móveis. Inicia-se com uma breve apresentação sobre o modo como eram realizados os tipos que se irão utilizar de seguida. Depois de apresentadas as ferramentas e o modo de as utilizar, está na hora de pôr a mão nos tipos. Orientamos os participantes a investigar os tipos existentes nos cavaletes, à procura de um tom para a comunicação que pretendem realizar e no desenvolvimento de uma composição. Uma vez terminada a composição, segue-se uma prova e a afinação da composição final, para a realização da impressão, que é realizada por cada participante para que possa levar consigo alguns exemplares. Estamos a preparar workshops avançados (como se de um nível dois se tratasse) contemplando mais horas e permitindo explorar a impressão com várias cores e composições mais complexas. 9) M: O que mais te motiva e encanta nestas tuas atividades com as letras? R: Costumo dizer que sou uma pessoa extremamente racional. A tipografia permite-me construir objetos gráficos a partir de uma lógica que encontro na tipografia. Por exemplo, habitualmente, quando se desenvolve um objeto gráfico no computador define-se o formato da página, e nesse momento o “branco” (como se fosse uma folha de papel em branco) é um dado adquirido, já está. Quando trabalhamos com caracteres móveis o “branco” é um

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objecto físico que tem necessariamente de ser colocado para definir as margens, os espaços entre o título, o subtítulo, o texto e as palavras. A métrica de Cíceros, sobre a qual está desenvolvido o material tipográfico, permite um raciocínio extremamente lógico que continua a moldar o modo com vejo o design actualmente. Por outro lado, a partilha da minha experiência, quer em workshops, quer em projectos que temos desenvolvido na tipografia, tem sido extremamente enriquecedora. A colaboração com o Ricardo Dantas, que tem estado comigo desde a chegada da tipografia a Lisboa, tem permitido chegar mais longe quer na visibilidade quer na execução dos projecto e dos workshops. Neste momento, estamos a colaborar no “Manual Prático do Tipógrafo” com a Joana Monteiro do Clube de Tipos, que se revela a cada dia mais enriquecedora. Cada vez tenho mais certezas de que prefiro trabalhar em equipa desenvolvendo projetos em conjunto. 10) M: Conta-nos um episódio que aconteceu na Oficina Tipografia Dias e que marcou a tua vida. R: Lembro-me de um episódio que não tendo mudado a minha vida é por demais interessante. Pouco depois instalar as coisas aqui na oficina, estava a arrumar alguns catálogos de tipos que se venderam em Portugal, quando abro o da Fundição Tipográfica Manuel Guedes, na folha de rosto, e me deparo com a seguinte morada: Rua João Saraiva 28 A... pensei que me tinha enganado e voltei a ler. Rua João Saraiva 28... por instantes fiquei baralhado, mas... mas... esta é a actual morada da Tipografia Dias. Voltei a ler duas e três vezes para conseguir perceber que não havia nenhuma confusão. Era mesmo isso. Sem ter feito nada para que assim fosse, acabei por ter vindo montar a minha oficina, onde em tempos funcionou a uma fundidora tipográfica! É extraordinário. 11) M: Onde encontramos o Rúben quanto não está na Oficina? R: Em qualquer lugar, acabo por estar sempre acompanhado pelas letras, porque as vejo em todo lado. Além da oficina, existe o atelier Item Zero que desenvolve essencialmente projetos editoriais, as aulas de tipografia que leciono na ESAD, os Tipos das Letras, que é um colectivo que fundei em conjunto com o Ricardo Santos e o Aprígio Morgado para desenvolvimento de projectos com letras. O último projeto dos Tipos das Letras foi o RUHA – um stencil e uma família de tipos de letra. Desenho os meus tipos de letra em formato digital. Vasculho recorrentemente alfarrabistas, investigo e escrevo sobre tipografia e o desenho de tipos de letra. 12) M: Deixa um recado à MELANCIA mag e aos leitores :) R: Estamos sempre interessados em saber mais sobre letras. Se precisarem de descobrir alguma coisa que se relacione com as letras ou a tipografia em geral, será um prazer e um desafio conseguir ajudar, basta aparecer pela tipografia.

1, 3, 5, 7, 8, 10, 11 Tipografia Dias, fotogtafias do acerbo da oficina que retatam as etapas e o envolvimenbto dos participantes durante a realização dos workshops (Janerio e Fevereiro de 2016). 2 e 6 Resultados de trabalhos realizados nos workshops. 4, 9, 12, 13. Fotografias de pormenores da Oficnia por Inês Carvalho.

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Fotografia

Michal Kulesza Entrevista por: Ana Alexandre Henriques Fotografias por: Michal Kuleska

Nasceu na Polónia, é designer, fotógrafo e realizador e decidiu criar um mundo alternativo, marcado por situações e objectos bem conhecidos de todos nós, mas com elementos construídos em Lego, no seu “Lego Photo Project”. Vale a pena ver, siga Michal Kulesza no Instagram, em instagram.com/michal.kulesza, ou passe em tookapic.com/michalkulesza e não se vai arrepender. Especialmente se for fã dos tijolinhos coloridos!

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Já imaginou, ao pequeno-almoço, comer uma torrada quente e estaladiça barrada com... Lego? Beber uma cerveja fresca, com espuma, feita com os famosos tijolinhos que encantam miúdos e graúdos desde 1930? Jogar ténis? Comer cereais? Usar um casaco com botões feitos com as peças do famoso brinquedo dinamarquês? Poderíamos continuar a exemplificar, mas não há nada como ver. Michał Kuleszaé um designer, fotógrafo e realizador polaco que decidiu pegar em situações do dia-a-dia e objetos do nosso quotidiano e imaginá-los com peças de Lego integradas. Seja comida, roupa, gadgets ou o que lhe passar pela imaginação, tudo serve para integrar os cenários a que dá vida, transformando ovos, sushi, manteiga, bananas, papel higiénico, dinheiro, chinelos... em criações minimalistas que trazem recordações da infância, devido à sua composição. Não há quem não tenha vibrado e passado horas de diversão com as construções com os tijolos coloridos, quando era mais pequeno, ou “Lego” (Le+Go) não tivesse nascido a partir da junção das primeiras sílabas das palavras dinamarquesas, “leg godt”, que significam “brincar bem”. Como tal, Kulesza aproveitou o imaginário de todos nós para chamar a atenção e marcar a diferença, neste seu mundo surreal e alternativo, mas que, ainda assim, nos parece tão próximo. Apesar de toda a inspiração e imaginação do designer polaco, há algo a que não foi possível fugir... Pisar uma peça de Lego, estando descalço, continua a dar uma dor “do caraças”...

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FUSCA

UM ECOSSITEMA DE ARTE! Em Portugal, a Fusca é uma plataforma e galeria que pretende divulgar e promover artistas e os seus respetivos trabalhos, agenciando e potencializando os artistas, criando uma sinergia com entidades, galerias e investidores. Sediada na Startup Braga, nasceu em Junho de 2015 e, em apenas 5 meses, já divulgou mais de 100 artistas nacionais e internacionais. Se és artista, não deixes de tentar saber um pouco mais sobre este projeto. Acessível, segura e interessante, a plataforma Fusca propõe ser um espaço de encontro entre os diferentes players, potenciando o networking. Enjoy! Sabe mais em: fuscaconcept.wordpress.com

MARIA GRANEL

BIOLÓGICO NA MEDIDA! Se bem te recordas, na MELANCIA mag #1 apresentámos-te a Original Unverpackt, um ponto de venda de bens de consumo sem embalagens descartáveis localizado em Berlim. A boa notícia é que agora o mesmo conceito chegou a Lisboa. Na Maria Granel, situada na zona de Alvalade podes levar o teu recipiente de casa ou usar um da loja e só levas a quantidade que desejares, nem que seja só uma amostra para experimentar. São produtos a granel e biológicos, dois factores que dão a esta mercearia o título de pioneira nacional na actividade Rua José Duro, 22B - Lisboa, Portugal Sabe mais em: www.mariagranel.com

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INDUSTRIA CRIATIVA

ATENÇAO CRIATIVOS, ABRIU A CAÇA AO LOBO! És criativo e queres estar atento às melhores ofertas de emprego na tua área? Temos a dica certa para ti: www.industriacriativa.pt! Seja FullTime, Emprego Freelancer ou Estágio, há de tudo um pouco para os Profissionais da Indústria Criativa em Portugal. Sem apoios, fundos, empréstimos, financiamento ou patrocínios, Predro Lobo, Nuno Guerra e Ana Morais (do blog “Anita dos 7 ofícios” com quem já estivemos à conversa na MELANCIA mag #4) decidiram criar uma ferramenta definitiva para acabar com o “desenrasca”. Foi aí que nasceu o Industria Criativa, um site rápido, intuitivo e grátis. Como funciona? Criativos divulgam portfólio para se promoverem, Empresários publicam ofertas de trabalho para encontrar o Profissional com o perfil ideal. Simples! ;)

DAILY DAY

MÚSICA, ROUPAS E EXPOSIÇÕES! Já imaginaste uma loja de roupa com exposições e concertos? Ou uma galeria de arte com música ao vivo que vende peças cheias de estilo para o teu dia a dia? Este espaço existe e está localizado no Porto. Daily Day é uma loja com cerca de 250m² que já conquistou o público e foi até considerado um centro cultural. Como loja, pretende dar a conhecer o trabalho de designers e autores portugueses mas, ao mesmo tempo, ter marcas com as quais os turistas se identifiquem. Para além de música todos os fins de semana, no dia 13 de Fevereiro, às 17h30, vai haver um recital de poesia do livro “A Cidade de Garret”, de Eugénio de Andrade. Se estiveres pelo Porto, não percas! Sabe mais em: www.daily-day.com

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delĂ­cia de melancia por: gabriel campino

“Ravioli� de melancia, coco e baunilha com salada de manga e morango, gel de melancia e sorbet de morango

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1. MOUSSE DE COCO E BAUNILHA PARA RAVIOLI - 200g leite coco - 20g açúcar - 1g essência de baunilha - 3 folhas de gelatina - 130g nata batida

4. SORBET DE MORANGO - 350g de morango - 100g de açúcar - 100g de água

1. Fever o leite de coco com o açúcar, juntar as folhas de gelatina previamente demolhadas em água fria, e adicionar a essência de baunilha.

2. Colocar na máquina de gelados até ficar com a consistência de gelado.

2. Deixar arrefecer um pouco. 3. Quando a mistura estiver tépida envolver a nata batida. Colocar a mousse num molde de meia esfera (ou outro se desejar) e levar ao congelador. 2. CAPA DE MELANCIA PARA RAVIOLI - 300g de sumo de melancia - 100g de açúcar - 50g de água - 4 folhas de gelatina 1. Ferver o sumo, a água e o açúcar e adicionar a gelatina previamente demolha em água fria. 2. Reservar para utilizar mais tarde. 3. BASE DE BOLO DE COCO PARA O RAVIOLI - 100g de manteiga - 100g de açúcar - 3 ovos - 60g de farinha - 40 g de coco ralado - 6 g de fermento em pó 1. Bater a manteiga e o açúcar ate obter um creme, depois juntar os ovos e por fim a farinha, o coco e o fermento. 2. Colocar numa forma e levar ao forno a 160 graus cerca de 15 a 20 minutos. 3. Retirar do forno e reservar. 4. Quando estiver frio cortar o bolo na horizontal e com a ajuda de um corta massas cortar círculos fininhos e do tamanho da base do molde que usar para a mousse de coco.

1. Triturar os morangos até obter uma polpa, ferver a água e o açúcar cerca de 2 minutos e juntar ao morango.

5. GEL DE MELANCIA - 100g de sumo de melancia - 60g água - 60g açúcar - 2 folhas de gelatina 1. Ferver a água com o açúcar, adicionar a gelatina previamente demolhada em água fria, e juntar ao sumo de melancia. 2. Reservar no frio. 3. Quando estiver solidificado triturar com a varinha mágica até obter a consistência de um gel. 4. Colocar o gel num saco pasteleiro. 6. SALADA - 100g de manga cortada em cubos pequenos - 50 g de morangos cortados em quartos EMPRATAR Finalizar o “ravioli”: 1. Desmoldar a mousse do molde, enquanto ainda está congelada espetar um palito na parte de cima da mousse ( para segura-la bem) e mergulhar a mousse na capa de melancia ainda morna, para assim criar uma capa vermelha e brilhante a envolver a mousse, e colocar-la em cima do círculo de bolo de coco. 2. Colocar o ravioli no prato, dispor os cubos de manga e os morangos ao comprido do prato e alinhados com o ravioli, colocar uns pontos do gel de melancia nos espaços entre manga e os morangos e com a ajuda de uma colher colocar uma bola de sorbet de morango á ponta do prato.

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Mercado Gourmet do Campo Pequeno

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MONSTRA

Em Março assista ao Monstra em Lisboa e fique a par do que de melhor se faz no cinema de animação a nível mundial. Este festival dura uma semana e possui uma programação diversificada que inclui retrospetivas de autores e de outros países, sessões infantojuvenis, exposições, formação (workshops/ masterclasses) e ainda um conjunto de espetáculos transversais onde a animação se mistura com as outras artes. .3 a 13 | Lisboa

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O Mercado Gourmet está de volta ao Campo Pequeno, com a melhor oferta nacional de produtos gastronómicos e vinícolas de origem portuguesa. Dos enchidos ao mel, passando pelas ervas aromáticas e patês, há soluções para todos os gostos. 4 a 6 | Campo Pequeno, Lisboa

03

TALK FEST

TALKFEST é o único fórum internacional em Portugal dedicado exclusivamente aos festivais de música. O programa tem Conferências, seminários, apresentações profissionais e científicos, documentários, concertos e, pela primeira vez os Festival Awards ibéricos e Feira de Emprego. 3 e 4 | FIL, Lisboa

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CAPARICA PRIMAVERA SURF FEST

Dez dias de surf e música para festejar a Primavera! Seis concertos, 20 artistas e DJ no primeiro festival do ano. Entre 17 e 26 de Março, a Costa da Caparica vai viver de novo a oportunidade para se oferecer a todos no que por natureza – e pela natureza – tem de melhor: as suas ondas, as suas areias, o surf que corta as ondas, e a música que anima a vida! 17 a 26 | Costa da Caparica

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St. Patrick’s Festival

Um festival para toda a família festajar o St. Patrick\’s Festival em Lisboa 2016 Jardim da Torre de Belém, Lisboa


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LISBOA DANCE FESTIVAL

Um projeto com um conceito progressivo em que as modernas linguagens da música Eletrónica: House, Techno, Afro se fundem com a Disco e o Hip Hop, unindo-se para lançar um novo formato de festival. 4 e 5 | LX Factory, Lisboa

MODALISBOA KISS

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Apresenta as coleções para o outono/inverno 16/17 dos principais criadores da moda nacional. Um evento sedutor e singular que serve de celebração para os 25 anos da ModaLisboa em 2016. Simboliza essa arte de dar e receber que durante todos estes anos catalisou a imaginação dos criadores e suscitou a curiosidade dos públicos. 10 a 13 | Pátio da Galé, Lisboa

rço 30

FESTA DO CINEMA ITALIANO

Silly Dancing Lx

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No próximo dia 20 se março vamos dar as boas vindas à Primavera. Das 15h às 17h vamos dançar Lisboa! Uma nova forma de conhecer gente, as ruas da cidade e boa música portuguesa. O que é necessário trazer?- Telemóvel/Mp3 e auriculares - Descarregar a playlist (estará disponível em breve) - Roupa e calçado confortáveis Cais do Sodré, Lisboa

Em 2016 a 9ª edição do 8 ½ Festa do Cinema Italiano dá o pontapé de arranque em Lisboa, de 30 de Março a 7 de Abril, apresentando o melhor do cinema produzido em Itália aliado à experiência daquilo que é ser-se italiano, através de actividades diversas que não deixarão de surpreender. 30 de Março a 7 de Abril | Cinema São Jorge, Lisboa

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make up A PRIMAVERA ESTÁ A CHEGAR! Segue esta sugestão de maquilhagem da Cátia Fialho e garante um look leve e fresco, para entrar na Primavera em grande estilo!

Maquilhagem por: Cátia Fialho | Fotografias por: João Portela 106MELANCIA


1. Com um pincel de esfumar, marcar bem o côncavo com um castanho terra forte para o definirmos bem.

2. Utilizar uma sombra castanho escuro e um pincel de esfumar menor para marcar o cantinho externo do olho.

3. Utilizar na pálpebra uma sombra bronze esfumando com o pincel nas zonas que liga com as outras sombras de forma a criar um degrade.

4. Com um pincel lápis passar a mesma sombra bronze a baixo da linha de água.

5. Utilizar um lápis preto na linha de água inferior e superior.

6. Passar bastante máscara de cílios e colocar pestanas falsas para um look mais poderoso.

DICAS: 1. fazer uma pele bem clean e iluminada para o look ficar mais leve e colocar um batom clarinho com um pouco de brilho... E teras um look irresistível MELANCIA 107


anda POR AÍ PATRICIA MARQUES IDADE: 27 anos

PROFISSAO: Atriz e Apresentadora de Televisão Este mês partilhamos o estilo da portuguesa Patricia Marques, atriz e apresentadora de Televisão, que esteve numa sessão fotográfica pelas ruas de Miraflores, Lisboa. Curiosamente o bairro onde a Patricia morou durante 6 anos!

LOOK: Camisa, calças, top, chapéu: Ondatex

O MEU HOBBIE É Praticar desporto e aproveitar o sol com os amigos. O MEU ESTILO É Desde indie e boho chic a looks mais clássicos, dependendo da ocasião. 108MELANCIA


@joanarosac_illustration


by: A FLORIGRAFIA

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