DMB - Edição #06

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Editorial Lucas Fernandes Nessa mesma área de editorial, eu come-

Diretor e fundador da Design Magazine Brasil. Atua com design desde 2010. Focado em direção de projetos, mas também domina outras áreas do design. ros, que tem grande potencial e determinação.

cei o ano de 2014 declarando o retorno da De-

Parafraseando o que eu disse no editorial

sign Magazine Brasil, que havia ficado parada

da edição 02, “o designer deveria estar em tudo”.

por vários meses (a edição 00 foi lançada em

Eu acredito que o profissional do design ainda

agosto de 2013 e a 01 apenas em fevereiro de

tem que conquistar muito do seu espaço por

2014). Naquela época eu nem imaginava que

aqui, e espero poder ver e fazer parte disso junto

pudéssemos crescer tanto. Um bom exemplo

com a minha equipe.

disso é nossa página no Facebook, que em ja-

Estamos preparando coisas novas para

neiro possuía menos de humildes 400 curtidas,

o futuro, vocês saberão mais sobre isso em

e hoje já tem quase 17 mil fãs, não só do Brasil,

breve, eu espero. Por enquanto, aproveitem a

mas do mundo todo. E eu acredito que isso é

nossa última edição desse ano e, se possível,

apenas o começo.

aproveitem a época de festas para descansar

Nós ainda temos muito o que crescer, e espero que possamos fazer isso junto com os designers e outros profissionais criativos brasilei-

2 • Edição 06

e recarregar as energias. 2014 foi bom e espero que 2015 possa ser ainda melhor. Boas festar e até o ano que vem.


VENHA E DESCUBRA FLORIANÓPOLIS DE 15 DE MAIO A 12 DE JULHO DE 2015

Visite as exposições, workshops, seminários nacionais e internacionais, e outros eventos de design que tomarão conta da cidade.

Incentivo

Realização

Revista Oficial

Patrocínio

Co-realização

Iniciativa ®

Apoio Institucional

Cia Aérea Oficial


Sumário

Minimalismo: menos é mais

Place branding Pág. 08

Economia e moda

Pág. 14

Palácio da Alvorada Pág. 22

ColorADD

Design versátil com Renato Saes Pág. 34

4 • Edição 06

Pág. 28

Pág. 42


Design Magazine Brasil

Dezembro 2014 • 5


Créditos Diretor Lucas Fernandes Idealizadores Diego Gomes Douglas Silva Gilberto Ferreira Leandro Siqueira Lucas Fernandes Projeto gráfico Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes Thiago Seixas Vitor Cardoso

Edição #06 - Dezembro/2014 Redatores Hebert Tomazine Isabelle Soares João Valle Thiago Seixas Tiago Krusse Vitor Cardoso Diagramação Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes

Ilustrações Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Wendel Fragoso Revisão Juliana Teixera Lourrane Alves Capa Beatriz Vieira

Logotipo Elementoa À Solta

Site designmagazine.com.br Redes Sociais facebook.com/revistadesignmagazine.br twitter.com/DMBr_Oficial Email lucas@designmagazinebrasil.com.br A Design Magazine Brasil é uma revista digital derivada da Design Magazine de Portugal. O conteúdo textual e imagético da revista pertence aos seus respectívos autores e não pode ser reproduzido sem autorização prévia. 6 • Edição 06


Design Magazine Brasil

Dezembro 2014 • 7


Minimalismo: menos é mais Arte da vitrine: Hebert Tomazine.

Hebert Tomazine

Apaixonado e especializado em design editorial, grids, proporções e minimalismo. Trabalha na área desde 2008. Atualmente atua como designer gráfico e editorial na Diocese de Duque de Caxias.

“É vital destacar o que realmente é importante, ao ponto de tornar todo o restante irrelevante.”

8 • Edição 06


Design Magazine Brasil

Imagem: decorativedecorideas.com

Design tradicional japonês, shouji.

Sendo um dos movimentos artísticos e cultu-

Influências

rais mais importantes do século XX e início do sécu-

O design minimalista possui diversas influên-

lo XXI, o minimalismo se tornou não o mais popular,

cias, algumas delas são: a simplicidade do design

mas o movimento adotado em mais campos do

tradicional japonês, e do movimento artístico “De

que qualquer outra tendência do design. A razão é

Stihl” (O Estilo), que tem como base a simplicidade

desconhecida, sendo de fato ele mais conceitual do

e abstração, reduzindo projetos à sua forma essen-

que um estilo visual, não é chamativo, mas possui

cial, valores, formas e cores primárias.

forte influência, difundido principalmente nas artes visuais, design e na música. No século XX, ocorreram três grandes tendências que podem ser chamadas de minimalistas: construtivismo, vanguarda russa e modernismo. Dezembro 2014 • 9


Minimalismo: menos é mais Imagem: lissongallery.com

Por Robert Mangold

Características

Uma dica importante é remover elementos

O arquiteto Ludwig Mies van der Rohe

até um passo antes que o projeto pare de “funcio-

definiu o estilo como “menos é mais”, e o de-

nar” ou ser compreendido. Este teoricamente é o

signer BuckminsterFuller como “fazer mais

ápice do design minimalista.

com menos”. Possui como característica o mínimo de

Referências

recursos e elementos, omitindo informações e

Uma fonte interessante de referência e

elementos desnecessários. Limita-se ao uso de

para maior conhecimento sobre o assunto é o

cores, utilizando um alto nível de contraste para

blog (em inglês) Minimalissimo (minimalissimo.

facilitar a legibilidade. Destacando formas geo-

com), um blog focado em diversas categorias do

métricas simples e repetidas, dando foco ape-

design minimalista, incluindo arte, arquitetura,

nas no essencial. Espaços sem preenchimento

design gráfico e design industrial.

são uma forte característica do minimalismo.

Eu particularmente me apaixonei pelo blog,

Evita o uso de informações textuais,

é uma ótima fonte de referências e tendências

mas quando necessário, são utilizadas tipo-

dentro deste tema, principalmente por fugir da

grafias simples com um alto nível de legibili-

atual overdose de ‘cartaz minimalistade tudo’,

dade, geralmente sem serifas. Não possui um

que eu também sou usuário. Sendo o minimalis-

alinhamento definido, mas sempre se utiliza

mo muito mais do que isso. Essa frase chega a ser

de arranjos legíveis.

cômica pelo conceito do movimento, ou não.

10 • Edição 06


Design Magazine Brasil Imagem: demilked.com

“Minimalist Black and White Photography” por Hossein Zare

Dezembro 2014 • 11


Minimalismo: menos é mais

Tendência

são os layouts limpos, de fácil navegação, intui-

O conceito minimalista é uma atual tendência

tivos, com uma diagramação milimétricamente

para web design e aplicativos. No passado, o foco era

organizada, transmitindo uma sensação de nave-

em sites com ilustrações chamativas e animações,

gação agradável ao usuário, onde o conteúdo é o

que supostamente impressionavam os visitantes.

mais importante.

Depois, veio uma mudança que tentou trazer a vida

O background não é mais importante que a

real para a tela, com texturas realistas, sombras e ca-

informação. Se algo não é relevante, simplesmen-

racterísticas reais dos objetos. Hoje o foco se opõe a

te não precisa estar lá, mas o que muito se vê pela

todas estas técnicas de design “artificiais”, em favor

web são planos de fundo confusos e esteticamente

de uma estética digital mais simplificada e clássica.

desagradáveis, texturas fortes, que atrapalham a

É dito que um dos principais aspectos que tor-

leitura e cansam mais rapidamente a visão do usuá-

nam um site minimalista é utilizando em sua cons-

rio. Em geral, elementos que diminuem o tempo de

trução poucas cores e inserindo poucos elementos

permanência e que acabam com o desejo do usuá-

em suas páginas, o conteúdo, por ser o mais impor-

rio de retornar aquele site. Simplicidade é a chave.

tante, deve ter destaque e ênfase, e tudo isso d eve

Um fato interessante do movimento minima-

contribuir para que o usuário tenha uma navegação

lista e obviamente pelo tamanho da internet é que

mais intuitiva, encontrando aquilo que precisa rapi-

cada web designer trabalha de maneira diferente

damente, fazendo com que sua experiência seja a

do outro, dependendo de sua formação, gerando

melhor possível.

vários tipos diferentes de minimalismo. O que é óti-

Creio que a melhor maneira para identificar o conceito minimalista na web e em aplicativos,

mo para a criação e para o movimento, mas impossibilita classificar um padrão. Imagem: pixelbot.ro

12 • Edição 06


Design Magazine Brasil Imagem: unitydes.com

Dissidência: Flat Design

trados sobre a ideia de simplicidade e função do

O ‘flat design’ é uma estética visual dissidente

elemento. Com elementos sólidos e cores vivas

do minimalismo, que ao pé da letra significa ‘design

dando a ênfase necessária para separá-los, forne-

plano’, podendo ser aplicada em qualquer layout.

cem um ambiente limpo e nítido, texto conciso e

Em termos de interface, tem como principal carac-

direto, elementos de interface com botões e links

terísticas a redução de efeitos e de tudo que possa

claros e perceptíveis. Tudo deve ser projetado com

poluir e causar interferência visual.

o mesmo objetivo para criar um projeto visual e

O conceito do flat design tem relação com

funcional coeso.

a ideia de não se utilizar elementos que simulem

O ideal, como sempre, é ter bom senso, tendo

tridimensionalidade, mantendo a simplicidade

em mente que, não é porque está em evidência, que

e privilegiando a informação. Com o uso de cores

esse estilo deve ser aplicado em qualquer projeto.

chapadas e bons contrastes, e sem a utilização de

Embora o mundo esteja seguindo a tendên-

recursos como sombras e gradientes, temos ele-

cia do liso, o design não vai ser plano para sempre.

mentos visuais minimalistas mais extremos.

Depois do nivelamento radical, provavelmente va-

Em um site eficaz com base nos conceitos flat design, todos os elementos devem ser cen-

mos ver o retorno cuidadoso da dimensionalidade onde ela for realmente necessária. Dezembro 2014 • 13


Place branding Arte da vitrine: Douglas Silva.

Thiago Seixas

Designer gráfico e de produto, apaixonado por artes e futebol. Buscando conhecimento e experiências, para um dia poder ser uma referência e inspiração para os novos designers.

“Apesar do recorrente interesse acerca do assunto, é preciso ter em mente que o desenvolvimento da marca de um lugar não é uma tarefa simples e rápida.”

14 • Edição 06


Design Magazine Brasil

No dia dezoito de outubro aconteceu no Instituto Europeu di Design do Rio de Janeiro o Directions, evento que reuniu diversas autoridades do campo do place branding. O desenvolvimento de marcas para cidades e países vem ganhando relevância e notoriedade, atraindo atenção de diversos órgãos públicos e privados, que muitas vezes se juntam para realizar projetos que tragam benefícios sócio-econômico para o lugar. A abordagem do place branding dentro do design não é um assunto novo, porém vem sendo cada vez mais discutido e desenvolvido nos últimos anos, todavia no mundo globalizado em que vivemos hoje, cidades modernas disputam entre si pela atenção de investidores, turistas e grandes eventos. Governos vêm tomando consciência dessa movimentação e buscam por especialistas que possam desenvolver novas estratégias para suas cidades e países. Dezembro 2014 • 15


Place branding Representando o interesse público neste assunto, o Directions foi aberto com a palavra do ministro do turismo Vinicius Lages, que mostrou o interesse do governo brasileiro em investir de

“PEOPLE MAKE GLASGOW”, marca oficial da cidade de Glasgow, na Escócia.

uma maneira incisiva nesta área. Ele deixou bem claro que o governo brasileiro tem como objetivo desenvolver uma estratégia para que o próprio povo conheça mais o seu país e valorize suas diversas culturas, além disso, querem repensar forpara alcançarmos o sucesso de outros países, precisamos transpor a barreira partidária que faz com que as estratégias mudem toda vez que novos governantes assumam o poder.

“Portanto, o place branding é um campo enorme para ser explorado e os designers têm um papel fundamental dentro dele.” Apesar do recorrente interesse acerca do assunto, é preciso ter em mente que o desenvolvimento da marca de um lugar não é uma tarefa simples e rápida. É necessário compreender que o place branding não é apenas a criação de um logotipo ou de um slogan. Criar a marca de um lugar vai muito além disso. Ela exige um grande estudo, diversas estratégias e, principalmente, 16 • Edição 06

Imagem: Thomas Nugent

mas para atrair mais turistas. Vinicius frisou que


Design Magazine Brasil

Ministro do Turismo Vinícius Lages

objetivos muito claros. Desenvolver um projeto

ambição do lugar e com isso definir os objetivos

em longo prazo também é um dos requisitos para

claramente. Outro tópico levantado por ela foi o

se criar uma marca de sucesso.

sentimento de afeição que os cidadãos desen-

O branding de lugares assemelha-se ao

volvem pelo local em que moram e visitam. O elo

branding para empresas, ou produtos. Raquel

afetivo que une as pessoas ao local é crucial para

Goulart, diretora de branding da agência Sara-

que os projetos de branding para lugares sejam

vah, diz que é preciso estar muito atento a ima-

bem sucedidos. Fazer com que o cidadão repen-

gem do lugar e, também, a reputação que ele está

se o que é dele e qual é o seu papel com relação à

passando. Raquel também é professora do curso

sociedade também é a função do place branding.

de Place branding do Instituto Europeu di Design

A marca de um lugar é seu DNA, como diz

do Rio, e faz parte do Best Place Institute, uma

Paul O’Connor, diretor executivo do World Busi-

sociedade de especialistas que se uniram para

ness Chicago. É a sua essência, é aquilo que passa

desenvolver pesquisas e estudos no campo do

de geração para geração, de uma forma autêntica

branding e marketing para lugares. Em sua pa-

e que a diferencia dos outros lugares. Cada lugar

lestra no Directions, Raquel chamou a atenção

tem seu valor, seu significado, suas histórias e suas

para a importância da marca não tentar agradar

expectativas. Dentro deste contexto, outro pales-

e atingir a todos, é necessário entender qual é a

trante do Directions, o geógrafo urbano Martin Dezembro 2014 • 17


“I amsterdam”, marca oficial da cidade de Amsterdã, nos Países Baixos.

Boisen, diz que são esses aspectos que carregam a reputação do lugar para além de suas fronteiras. Martin foi consultor de mais de cinquenta projetos pela Europa e também é membro do Best Place Institute. Martin diz que ações falam mais alto do que um logotipo, um dos segredos para o sucesso de uma marca é engajar as pessoas, fazendo com que eles participem do projeto e ajudem a espalhar as ideias. Falando sobre isso, um ponto extremamente relevante é a devida atenção que um projeto de place branding deve dar aos seus stakeholders (todas as partes que possuem algum interesse no projeto). Pensar nos cidadãos, visitantes, órgãos, empresas e todos aqueles que têm uma conexão com o lugar é primordial, pois são para eles que a 18 • Edição 06

Imagem: Jos van Zetten

Place branding


Design Magazine Brasil marca será desenvolvida. Saber sobre a diferença entre o objetivo da marca e a percepção do lugar por seus stakeholders é a chave para o desenvolvimento de uma estratégia coerente. Um bom exemplo disso é o caso da Colômbia, que recentemente desenvolveu uma nova marca, que levou em conta a participação de todos como investidores, tanto o público-alvo de fora do país, quando os próprios moradores. Assim eles diminuíram a diferença entre aquilo que que-

Dezembro 2014 • 19


Place branding

Ana Lycia Gayoso - Rio Eu Amo Eu Cuido

riam transmitir para o mundo e a realidade do ponto de vista interno. O resultado disso foi uma nova representação gráfica que transmite toda a riqueza e diversidade do país, tanto a tangível como a intangível, e uma estratégia que mostra para todo o resto do mundo que a Colômbia possui inúmeros aspectos positivos, e convidando-os a conhecê-los. Assim a Colômbia se posta diante dos outros países como a resposta para o destino de turistas e investidores, e evoca de sua população um sentimento de orgulho e amor pelo seu país. Com objetivos claros e técnicas bem definidas, a Colômbia já colhe bons frutos de seu place branding. Portanto, o place branding é um campo enorme para ser explorado e os designers têm um papel fundamental dentro dele. É importante perceber que o branding de lugares vai muito 20 • Edição 06


Design Magazine Brasil além da imagem, porém este é, sem dúvidas, um aspecto fundamental. Os projetos bem sucedidos provam que o desenvolvimento da marca de um país ou cidade traz inúmeros benefícios, dos quais os principais são o crescimento econômico e uma ligação mais positiva das pessoas com o lugar. Logo, pesquisar, discutir e difundir o conhecimento desta nova abordagem é de extrema importância para progredirmos na área, aumentando o número de casos de sucesso, trazendo assim mais notoriedade e confiança por parte dos governos, das organizações e da sociedade como um todo.

Rio Eu Amo Eu Cuido - Aplicação

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Economia e moda Arte da vitrine: Douglas Silva.

Isabelle Soares

Designer de moda com foco por artes. Apaixonada pela anatomia humana e pela utilização do mesmo como tela para seus trabalhos. Ama a moda por ser a forma mais comum das pessoas transmitirem quem são.

“[...] a moda, por sua vez, proporciona emprego para aproximadamente dois milhões de pessoas [...]”

22 • Edição 06


Design Magazine Brasil Imagem: stevepb

Como matéria de estréia, gostaria de iniciar falando sobre a importância da moda na economia brasileira, como algo tão superficialmente relatado move a vida de tantas pessoas, que, entretanto, nem sempre estão relacionadas diretamente com a moda: os consumidores. O que se esconde por trás do glamour das passarelas e dos editoriais de moda das revistas e internet, e o que isso verdadeiramente representa. Qual a importância da segmentação de mercado no mundo da moda, como o comportamento do consumidor influencia na projeção das marcas? A moda está presente na vida de todos, é de consumo inevitável e completamente comum, isso não inclui apenas grandes marcas, grifes famosas e as mais variadas lojas de departamento, mas também existem num mundo desconhecido por nós a grande produção independente de marcas e pessoas desconhecidas, a moda, por sua vez, proporciona emprego para aproximadamente dois milhões de pessoas, e segundo a ABIT (Associação Brasileira de Indústria Têxtil) contribui para a economia brasileira com participação de 5% do PIB (Produto Interno Bruto).

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Economia e moda

Imagem: daBinsi

Tudo o que conhecemos que não é perecível no mundo da moda é considerado Economia Criativa, que também inclui outros 14 setores, como Gastronomia, Artesanato e Design. Economia Criativa é um conceito emergente que trata da interface entre criatividade, economia, cultura e tecnologia, segundo a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento). A economia também se dá a partir disso, e envolve vários profissionais que trabalham na área. Segundo a ONU, a Economia Criativa é um setor responsável por 10% do PIB mundial, e a moda faz parte disso. Segundo dados encontrados no Instituto Nacional de Moda e Design, a Economia criativa é considerada a Terceira Revolução Industrial e deve movimentar US$ 6 trilhões até 2020. Enquanto o comércio internacional registrou em 2008 uma queda de 12%, o mercado de bens criativos e serviços continuou a crescer, atingindo US$ 592 bilhões no mesmo ano, indicando um crescimento de 14% em 6

Imagem: Leandro Siqueira

anos consecutivos.

24 • Edição 06


Design Magazine Brasil É muito fácil observar, o ser humano se divide em várias categorias e estilos, sendo eles responsáveis pela segmentação de mercado, onde se criam áreas para facilitar a procura do consumidor pelo produto idealizado. Sendo assim, com o mercado segmentado, há facilidade também para a indústria na hora de produzir, na opinião de vários atuantes na área de moda, o mesmo reduz desperdícios e tempo, pois o contato com fornecedores se torna mais hábil. O mesmo se dá ao consumidor, que com praticidade saberá onde e quando encontrar o que precisa. O mercado da moda se torna com o tempo cada vez mais competitivo por ser uma área de ampla atuação, o que irá influenciar na compra do consumidor são fatores como qualidade, preço e facilitação na hora de obter o produto. As empresas, assim, decidem em

Imagem: Andi_Graf

Dezembro 2014 • 25


Imagem: michell zappa

Economia e moda

qual dessas áreas quer se destacar, portanto, a grande produção nem sempre é o alvo das empresas, produzir com qualidade pode também influenciar muito na hora da compra, esse fator depende do tipo de público que a empresa pretende atender, onde mora, o que pensa, aonde vai e até mesmo o que come. São exemplos de como pesquisar quem é seu cliente. Por se tratar de comportamento e identidade, a moda é bastante renovável, e muda assim como o consumidor, o que aumenta a movimentação na economia. A grande produção se dá pela necessidade da indumentária e o grande desejo pela moda atual. Assim, podemos observar que a economia não está apenas na produção e venda de roupas, os profissionais da área também são 26 • Edição 06


Design Magazine Brasil reconhecidos e apoiados em diversos programas por seu trabalho criativo e renovável. O que move a economia na moda não é apenas o seu consumo, mas toda produção, pesquisa, arte e criação. Hoje, por ser uma área bastante influente, com um crescimento muito grande em todo o mundo, a geração de empregos na área também tende a aumentar junto à indústria da moda. Percebemos também a amplitude que tem esse segmento, com a introdução ao assunto “Economia e Moda” de forma mais técnica, para explicar com praticidade a importância econômica dessa grandiosa área. Com esse crescimento, a moda ainda terá sua oportunidade de atingir a maturidade, e como economia criativa nunca entrará em declínio.

Imagem: wikimedia

Dezembro 2014 • 27


Palácio da Alvorada Arte da vitrine: Wendel Fragoso.

João Valle

Estudante de arquitetura e urbanismo na Unigranrio, formado em técnico de design de interiores no Senac, apreciador de vinho e artista plástico de fim de semana.

“Em sua composição foi adotada uma forma simples e pura onde a beleza da obra decorresse apenas de suas proporções e da própria estrutura, o que num passado era característica de grandes obras arquitetônicas.” 28 • Edição 06


Design Magazine Brasil Nesta edição da Design Magazine Brasil, discorreremos sobre mais uma das obras do Arquiteto Oscar Niemeyer, o Palácio da Alvorada, construído para ser a residência dos presidentes brasileiros. Sua construção foi iniciada em 3 de abril de 1957 e sua inauguração foi dada em 30 de junho de 1958. Erguida sob o solo da então nova capital do Brasil, decretada pelo presidente Juscelino Kubitschek, Brasília tinha sido criada com o propósito de ser uma utopia, baseada nos conceitos socialistas, entretanto, na prática nunca alcançou esse propósito. O palácio da Alvorada recebeu esse nome do próprio presidente Juscelino Kubitschek, quando indagado pelo nome “Alvorada” ele respondeu: “O que é Brasília, senão a alvorada de um novo dia para o Brasil?” Imagem: copa2014.gov.br

Dezembro 2014 • 29


Palácio da Alvorada

Imagem: wikipedia.org

Composição Arquitetônica O palácio começou a ser executado antes mesmo de aprovado o Plano Piloto do urbanista Lúcio Costa. Em sua composição foi adotada uma forma simples e pura onde a beleza da obra decorresse apenas de suas proporções e da própria estrutura, o que num passado era característica de grandes obras arquitetônicas. O palácio está localizado numa península que divide o Lago Paranoá em Lago Sul e Lago Norte, também é um dos ícones da arquitetura moderna no Brasil, além de ter sido símbolo do progresso cultural e técnico do País durante a década de 50. 30 • Edição 06


Design Magazine Brasil Foi erguido de alvenaria, revestido com mármore e vedado com folhas de vidro que proporcionam a integração entre o ambiente interno e externo. Sua estrutura é suportada por pilares internos que aliviam a carga suportada pelas colunas externas, que passam a ter uma função secundária, recebendo apenas as cargas mais leves da cobertura e a da laje do passadiço perimetral, elevada de 1,50 metros do solo. Neste trecho, a laje de cobertura não apresenta continuidade com a laje da parte interna, ela é curva e se afina em direção à borda, reduzindo ainda mais a carga transferida para a fachada. Nos pilares internos, recuados da fachada e dissimulados por um invólucro externo de aço, se concentra a função principal do suporte. Essas mesmas colunas externas em forma de parábola, cujo formato deu origem ao emblema da cidade, foi disposta de acordo com o que Niemeyer propunha, dando-se a impressão de leveza à edificação. Imagem: wikipedia.org

Dezembro 2014 • 31


Palácio da Alvorada O lado externo da edificação possui um lago que espelha o palácio dando uma impressão de imensidão, além de ser complementado com a escultura feita em bronze, chamada de As Laras, pelo artista plástico brasileiro Alfredo Ceschiatti. O ambiente interno possui 3 pavimentos, a laje do piso térreo localiza-se brevemente elevada em relação ao solo exterior, em nível coincidente com os setores de maior dimensão horizontal dos pilares externos, e é neste piso que se encontram os setores sociais do palácio e os salões utilizados pela presidência em eventos e solenidades. Pela elevação do piso térreo, o subsolo recebe ainda ventilação natural e insolação, nele localizam-se os ambientes de serviços (como cozinha e almoxarifados) e os cômodos e dormitórios dos funcionários, além de possuir um auditório com capacidade para 30 pessoas e um salão de jogos. No primeiro pavimento se encontra o setor efetivamente residencial do palácio, no qual se localizam os ambientes privados usados pela família do presidente.

Imagem: wikipedia.org

32 • Edição 06


Design Magazine Brasil

Imagem: ebc.com.br

Iluminação Após as obras de restauração, a iluminação disposta nos pilares do palácio possuem um efeito chamado “cancelamento de sombras” onde posicionam-se os refletores um ao lado do outro, em linha, de maneira que o facho luminoso de um vai cancelando a sombra do outro. Foram empregadas lâmpadas de vapor metálico 4200K, com filtro de correção para elevar a temperatura de cor a 5200K, conhecida como “luz do dia”. Para evitar uma possível monotonia branca, as palmeiras do jardim foram iluminadas com lâmpadas do tipo PAR, com temperatura de cor 3000K, “aquecendo” ligeiramente os tons da vegetação, sem exageros, para não causar incômodo ou parecer artificial demais. Dezembro 2014 • 33


ColorADD Imagens: Cortesia de Miguel Neiva.

Tiago Krusse

Fundador e diretor da DESIGN MAGAZINE. Jornalista profissional há mais de 20 anos. Sempre se dedicando à produção de informação sobre design, arquitetura e arte por esse mundo afora.

“[...] e aqui o design entra no expoente máximo do racionalismo.”

34 • Edição 06


Design Magazine Brasil Miguel Neiva é o designer responsável pela pesquisa, criação e desenvolvimento do ColorADD, o sistema gráfico de representação das cores pensado para as cerca de 350 milhões de pessoas que sofrem de daltonismo em todo o mundo. Desde o arranque do projeto em 2000 até os nossos dias, esta entrevista nos deixa um relato de um profissional empenhado e apaixonado por uma causa de inclusão social para a qual ele criou uma espécie de design de medicamento para uma patologia hereditária que só no Brasil afeta 9 milhões de pessoas.

Uma conversa sobre bom design O que é o ColorADD?

outras. O que eu fiz foi procurar uma simbo-

É um código gráfico, que eu criei, que re-

logia gráfica que teria que cumprir uma série

presenta as cores. No fundo a ideia foi criar

de requisitos, o código tinha de ser simples

uma ferramenta que permitisse que um daltô-

pois estamos falando de uma linguagem que

nico conseguisse identificar as cores, sem vê

pudesse ser entendida por todas as pessoas –

-las. O daltonismo é uma patologia, sem cura,

não só por quem tem uma cultura visual mais

de transmissão hereditária e que afeta maio-

apurada, como um designer ou um arquite-

ritariamente os homens. A ideia foi, depois

to. O aspecto essencial era a simplicidade, a

de uma investigação desenvolvida durante

fim de permitir que esse código pudesse ser

oito anos, muito deste tempo com daltônicos,

reproduzido em diferentes suportes e deriva-

perceber se a ferramenta fazia sentido, se eles

ções, sem nunca perder a sua silhueta, a sua

precisariam dela e aferir sobre os tipos das

forma, e mais do que isso, foi ligar-se entre

suas necessidades.

eles da mesma maneira que nós, se ligarmos

Surge assim o código, que é uma lingua-

as cores conseguimos ter o desdobramento

gem gráfica fundamentada naquilo que é o

da simbologia, também em outros símbolos.

conceito adquirido, que todos nós trazemos

Ou seja, o amarelo mais o vermelho dá o la-

da escola. No fundo foi criar algo que pudesse

ranja e se pegarmos no símbolo do amarelo

ter um processo de aprendizagem muito rápi-

mais o do vermelho temos o símbolo do la-

do, muito intuitivo - fosse ele para uma crian-

ranja. E o processo, apenas com três elemen-

ça de 5 anos ou para um adulto de 95 - e que

tos gráficos, consegue fazer a identificação de

tem por base o conceito das cores primárias.

todas as cores com base no tal conhecimento

Nós aprendemos e testamos que existem

adquirido, tornando-o assim muito mais sim-

as três cores primárias: o azul o vermelho e o

ples de aprender e muito mais fácil de levar a

amarelo, e juntando essas cores dão todas as

todo o lado. Dezembro 2014 • 35


ColorADD

Quando é que se iniciou o processo de pesquisa e desenvolvimento do código?

bilidade prática e que garantisse essa tal criação de acessibilidade e essa tal inclusão.

Este projeto teve como base a minha tese de

Terminados esses oito anos em que fiz a pro-

mestrado, iniciado em 2000, e depois de pesquisar

teção do projeto, em que defendi a minha tese, esti-

percebi que nada no mundo poderia resolver, nem

ve um ano e meio escrevendo artigos, que são lidos

que parcialmente, esta questão do daltonismo. Esta-

em diversos congressos internacionais para garantir

mos falando de uma dificuldade que é um problema

o reconhecimento e a acreditação da área científica.

da sociedade, pelo fato de existirem 350 milhões de

Isso para mim era muito importante, não era eu di-

pessoas, 9 milhões no Brasil por exemplo, que não

zendo que o que tinha feito era a solução mas sim as

identificam corretamente as cores, sendo que 90%

pessoas com as competências e as responsabilida-

da comunicação é feita através da cor/ideia.

des na área validando a solução.

Quando em 2000, numa primeira abordagem

Passado todo esse percurso, o projeto tornou-

com médicos fiquei sabendo que não havia cura para

se naturalmente muito mais simples de divulgar,

o daltonismo e que era uma limitação ou uma defi-

muito mais simples de implementar e com gran-

ciência com diferentes níveis e graus e, mais do que

de cobertura midiática, também fruto de toda essa

isso, quando estive com os daltônicos me dei conta

publicação científica. No final de 2008, princípios

da enorme vontade deles de que existisse alguma

de 2009, foi criada uma equipe para começarmos a

coisa que os ajudasse. Arranquei com um pressupos-

trabalhar, desde aí até hoje na implementação do

to muito claro: incluir sem discriminar.

código. A implementação do código tinha de sair da

O processo extravasou logo, e logicamente

publicação, que era a minha tese, e entrar nos produ-

aquilo que era uma tese de mestrado, começaram a

tos, suportes, serviços em que a cor é um fator deter-

ser oito anos de investigação e de desenvolvimento,

minante de identificação, orientação ou escolha. E aí

de maneira que a ferramenta pudesse ser muito mais

estamos desde 2010, que foi a data da primeira im-

do que uma publicação enfiada numa biblioteca de

plementação do código, trabalhando com diferentes

uma universidade, e sim algo que tivesse uma aplica-

empresas e diferentes áreas.

36 • Edição 06


Design Magazine Brasil Que tipos de perturbação na incapacidade de distinguir as cores podem ser identificados? Há vários tipos de daltonismo e tem tudo a ver com a falha dos bastonetes na retina. O problema do daltonismo é na zona da retina, em que estão os bastonetes, são esses elementos que nos direcionam aos três cones que temos e os cones consequentemente emitem um sinal ao cérebro que nos permite identificar as cores. O daltonismo é a falha desses bastonetes. Os diferentes tipos de daltonismo que existem dependem da quantidade de bastonetes que

Mas há outros tipos, a tritanopia que afeta a

falham, e nós temos 125 milhões deles em cada

zona do espectro do azul e do amarelo. Curiosamen-

olho. Depende também da zona onde eles falham.

te no estudo que eu fiz com os daltônicos havia um

O que eu quero dizer com isto é que, por exemplo, a

que dizia que tinha um carro azul banana, pois para

maior parte dos daltônicos faz a confusão entre ver-

ele a cor da banana e a cor do mar eram exatamente

des e vermelhos e tudo que anda à volta disso, pois

vistas da mesma maneira.

quanto mais falharem, mais isso se alastra aos tons

Dos 350 milhões de daltônicos 2% são mono-

castanhos, aos laranjas, e esta tipologia é designada

cromáticos, são pessoas que vêem o preto e o bran-

por deuteranopia. Precisamente porque nós temos

co e que não têm nenhum elemento que possa fazer

o canal do verde e do vermelho no cromossoma x. O

essa informação direta aos cones. Curiosamente co-

azul está no cromossoma sempre. O cromossoma x

nheço alguns e ainda mais raro algumas mulheres,

se teve uma limitação ou uma deficiência vai afetar

porque uma mulher também pode ser daltônica.

esses dois canais de cor. Quem é mais afetado por esta doença? Os mais afetados são os homens, porque a questão está no cromossoma x. A mulher, como tem dois cromossomas x se receber do pai o cromossoma, torna-se apenas portador, pois um x compensa o outro. É uma doença congênita e hereditária? Certo, embora possa ser adquirida por problemas de diabetes, tiroide ou por consumos excessivos de drogas. Tudo aquilo que pode degenerar problemas de visão consequentemente de acuidade visual, Dezembro 2014 • 37


ColorADD acaba se refletindo na acuidade visual à cor, mas esses valores que falamos derivam de transmissão hereditária. Na relação, é um para cada dez no caso dos homens e uma para cada duzentas mulheres.

Até ao momento quais têm sido os maiores exemplos da aplicação deste código? São muitos e todos eles são relevantes, pois a grande preocupação que tive com este projeto foi testar a sua transversalidade. Uma das mais

Este código de cores foi pensado para ser implementado em que tipos de situações?

emblemáticas implementações do código é inquestionavelmente a dos lápis de cor. Porque os

Qualquer situação, desde que nós as inter-

lápis de cor representam a sua utilidade efetiva,

pretemos como uma vertente, e aqui o design en-

que é pintar com uma determinada cor, porque

tra no expoente máximo do racionalismo. Um dal-

faz uma ligação às crianças e porque está envol-

tônico não vê um pôr-do-sol igual a uma pessoa

vido em todo um processo de pedagogia e edu-

que não o seja, mas aí o código não traz a solução

cação. Agora se houver um daltônico para quem

porque não se vai colocar os símbolos na nature-

esta aplicabilidade não seja importante, acabo

za. Sempre que a cor é um fator de identificação,

por não ter relevância.

orientação ou escolha, quer seja de um produto,

Daí o nosso enfoque ser na transversalidade

uma peça de vestuário, lápis de cor, linhas dos ma-

e por conseguinte, isso resulta que todas as imple-

pas de transportes ou outras situações, essa trans-

mentações sejam importantes, mas os exemplos

versalidade é total e já a testamos, aí o código faz

com mais destaque são os lápis de cor, ao nível da

sentido porque o daltônico precisa de ser orienta-

educação, a sua aplicabilidade em manuais esco-

do para a cor. Ele não vai vê-la mas ele precisa sa-

lares, exames nacionais, etc. E neste capítulo da

ber onde está a linha amarela, qual o lápis laranja

educação há a intenção de equipar as bibliotecas

ou a camisola verde.

escolares com a simbologia, porque segundo as

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Design Magazine Brasil

normativas da Unesco a cor é um fator relevante

o semáforo nutricional ajuda a perceber se os pro-

para a identificação das diferentes temáticas.

dutos têm muitas calorias, sais, açúcares e gorduras.

Uma outra área é a da saúde, em que a cor é

Em parques de estacionamento, em contentores de

importante e o código já é utilizado nos fármacos

recolha seletiva de resíduos. A transversalidade da

hospitalares. No setor dos transportes, com a utiliza-

aplicabilidade do código é plena.

ção nos mapas metropolitanos, onde a cor segundo testes já publicados e conclusões comprovadas é de fato, o elemento de identificação das linhas. No ves-

Qual tem sido a reação dos daltônicos a esta solução para a sua incapacidade visual?

tuário, onde 90% dos daltônicos precisam de ajuda

Isso tem sido muito gratificante para mim e

para comprar roupa e em casa têm a necessidade

para toda a equipe que trabalha no código porque

do código para decidir na escolha de indumentária

a reação é impressionante. Por exemplo, ainda há

que fazem no seu dia-a-dia. Neste setor do vestuário

poucos dias recebi um email de uma mãe na Argen-

o código já está presente em 30 milhões de peças de

tina que soube que uma universidade estava de-

roupa que são vendidas por todo o mundo. Na área

senvolvendo um estudo e uma investigação sobre

financeira, em que a cor sublinha a importância dos

o ColorADD e por isso nos informava que o seu filho

valores e dos riscos, com uma espécie de semáforo

se disponibilizava para fazer parte dessa iniciativa. O

de cores utilizando o código. Na área alimentar, onde

impacto é incrível e motivador, no fundo eles recebeDezembro 2014 • 39


ColorADD ram uma ferramenta que não têm que pagar por ela e que lhes permite preservar a sua condição pois não têm que se expor. Este pormenor foi importante e assumido desde o início, preservar e proteger a pessoa que tem essa incapacidade de distinguir as cores, até porque há casos de bullying e de discriminação social. E ainda tem as diversas associações de daltônicos, nacionais e estrangeiras, que todos os dias nos enviam informação assim como também a divulgam. Isto resolve um problema social. O código integra-se dentro do Design de Comunicação com uma inequívoca componente social no sentido de promover a melhoria de vida de um conjunto de pessoas com necessidades específicas. De que forma é sustentada a implementação do código e como foi pensado o retorno pela sua pesquisa, desenvolvimento e aplicação? O Design tem de fato a nobre missão de tornar o mundo mais acessível e mais inclusivo, dentro do conceito design for all. É portanto design de comunicação puro, fazendo algo que pudesse ser tão simples que todos pudessem entendê-lo. Num artigo que ainda não tinha referenciado, este meu design foi descrito como um medicamento porque é usado para resolver um problema que é uma patologia. O projeto para ser garantido, sustentável e em permanente trabalho procurou essencialmente uma autonomia a todos os níveis que nos garantisse não depender de outros e prosseguir o caminho idealizado por nós. Criamos um modelo de negócio social em que todas as empresas que tenham na cor um fator de comunicação dos seus produtos possam utilizar o código. Para esse efeito nos é paga uma licença 40 • Edição 06


Design Magazine Brasil que é acessível e indexada à dimensão de cada em-

da internacionalmente e com uma grande expressão

presa. Para nós é um processo que só fazia sentido

no Brasil, me elegeu como seu fellow. Sou portanto o

desta maneira e que tem uma vantagem, que é esta

único português membro desta organização que tem

noção do valor partilhado.

três mil pessoas trabalhando por todo o mundo atra-

Quero dar o exemplo da empresa que pro-

vés de um projeto de design, e daí o reconhecimento

duz os lápis, a Viarco, que o fato de utilizar o códi-

inquestionável da vertente social da história: a inclu-

go nos seus produtos permitiu que ela exportasse

são. Por outro lado menciono o programa Zero Pro-

para diferentes países. Estes fatores de inovação e

ject, promovido pelas Nações Unidas, que reconhe-

de responsabilidade social acabam sendo muito

ceu o ColorADD como uma das 50 inovações práticas

positivos para as empresas, bem como para todo

na área das acessibilidades a nível mundial e, aqui, já

o processo de divulgação e de utilização do código

é numa vertente funcional. O Estado Português me

por diversos produtos.

condecorou com a Medalha da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Qual tem sido a repercussão e o reconhecimento deste trabalho? Nunca imaginei que fosse ter toda esta repercussão e reconhecimento. Todo o percurso e os prê-

Que novo projeto com características semelhantes ao ColorADD podemos esperar do Miguel Neiva?

mios que o código vai ganhando é para mim, como

Neste momento é impossível deixar todo

designer, um orgulho. Isto porque o design saiu do

este processo e tudo isto só faz sentido quando

âmbito da esfera do que é o design e entrou na socie-

levado a um número máximo de pessoas. Incluir

dade. A Ashoka que é uma organização mundial com

sem discriminar, e todo o sistema andará sempre

uma missão de empreendorismo social, reconheci-

em torno destas bases.

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Design versátil com Renato Saes Imagens: Cortesia de Renato Saes.

Vitor Cardoso

Carioca amante do conhecimento, cultura artística, idiomas e computação gráfica. Youtuber e autodidáta, atua como designer na Rede Solaris Network e como freelancer.

“Todo produto e/ou serviço pode ser inovado, isto somente é questão de projeto.”

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Design Magazine Brasil Por muitas vezes o designer é visto ou rotulado como um profissional restrito a um determinado ramo e produto ou geralmente com um profissional da área de interiores. No entanto, por mais que ele venha seguir um ramo com mais vigor, é apto a trabalhar em diversas esferas do mercado.

“Renato Saes é uma dessas mentes criativas e versáteis, capaz de expandir sua área de atuação” Renato Saes é uma dessas mentes criativas e versáteis, capaz de expandir sua área de atuação, como também abranger elementos de âmbitos diferentes em um único projeto. Segundo ele, o profissional da área deve ter sempre o anseio de inovar e ser incessante na busca de novas referências e tipos de projetos, isso mantém o profissional com maior vivacidade e estabilidade no mercado, uma vez que há possibilidade de uma demanda maior de projetos. Formado em Design de Produto pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduado pelo Instituto Europeo di Design, atuou de designer a coordenador em grandes escritórios premiados no Brasil e exterior. Ao longo desses escritórios, participou de várias etapas de projeto e obteve o conheci-

Renato Saes

mento de diversos materiais e seus respectivos usos. Além disso, obteve a assimilação do papel Dezembro 2014 • 43


Design versátil com Renato Saes

Swizee Skateboards. Shape desenvolvido em alumínio naval. Skate + Design

profissional conforme a ótica da economia nacional. Estes conhecimentos, somados a absorção dos ideais europeus de design e a vontade de ter seu próprio negócio, foram motivadores para a criação de seu próprio escritório. Desde então, seu escritório segue o ramo do Design Industrial, no entanto de modo multifacetado. Hoje seu Studio, mantém uma excelente parceria com clientes no Brasil e França, e indústrias

“Trabalhar com a criação promove a possibilidade de desenvolvimento de projetos de skates até produtos médico-hospitalares.”

de diversos ramos de atividade. Como ele mesmo afirma, trabalhar com a criação promove a possibilidade de desen-

ção de seus projetos até seu produto final, isso

volvimento de projetos de skates até produtos

também assegura que o projeto seja funcional,

médico-hospitalares. Outro fator também pe-

viável e atrativo.

culiar nos trabalhos de Renato Saes é a incli-

Entre seus projetos, destacamos dois que

nação de sua participação em todas as etapas

podem mostrar tanto a qualidade do seu traba-

de um projeto. Além do prazer de ver a evolu-

lho, quanto a inovação e a sua versatilidade:

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Design Magazine Brasil

Moeda do Ayrton Senna

Moeda especialmente confeccionada e com lançamento no Instituto Ayrton Senna. Em um lado aparece uma inscrição da Rainha Elizabeth II junto ao valor nominal, ano e país emitente, do outro uma imagem do piloto colorida. A moeda é uma homenagem que representa um pouco de cada brasileiro que vibrou e chorou, de todos os fãs, amigos e familiares de Ayrton. A embalagem também apresenta elementos que não poderiam ficar de fora, como a velocidade, uma bela ultrapassagem e a chuva.

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Design versátil com Renato Saes

Desodorante corporal masculino Axe. Design gráfico. Estudos conceituais de novos grafismos. AXE Design.

Studio Renato Saes Desenvolvimento de produto. Co-autoria.

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Design Magazine Brasil

Lustre Linha Pontilhada A luminária remete ao origami e kirigami, ainda também ao design de embalagens. Elas são feitas de alumínio e podem ser reutilizadas, recicladas e ganhar novas formas no pós-uso. Esta luminária foi finalista do Prêmio House&Gift 2014, desenvolvida para a Munclair Lustre Brasil e lançadas na Expolux 2014, também foi exposta na Light Fair - Las Vegas 2014.

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