Jornal MUH! #3

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Uberaba/MG

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o incentivo da lei Agenda Cultural bloco da vaca verde

Literal

A áfrica na dança de roberta roldão Perfil


editorial Conheci a poesia de Jorge Alberto Nabut no palco, interpretada pela Cia.Rogê. Meses depois Geografia da Palavra chegou, de presente, em livro. Geografia apresenta em poesia o cenário de um cotidiano com metáforas que simbolizam a figura humanizada do boi: o boi avança sobreano/de crepon verde-amarelo/... estende os cascos para Nenê Engraxate encerá-los/está pronto para a soirée / o capataz-atrás segue suas pegadas/pela solene procissão bovina/no centro da cidade encantada. Será que Jorge profetizou nossa Vaca Verde, bloco de carnaval de rua criado pelo MUH!? Parece que sim. Este é o momento que os uberabenses esperavam: uma cidade rica na economia e em seu conceito cultural, onde os personagens saem da condição de expectadores do mundo para entrar em ação. Assim como no texto inicial do capítulo ‘Sirça e seu destino’: o vínculo intimista entre a mulher e o boi cujo personagem não se acanha de deixar a “Janela Colonial” para integrar o elenco desse arremedo de inserção na sociedade. É chegada a hora de botar nosso bloco na rua. - @jornalmuh Em fevereiro:

play,

Pudins ou bicicletas? O povo pensa que foi culpa da Igreja. A Igreja deu forma e justificativa ao novo tipo de controle que então nascia, por necessidade da fábrica e do aprimoramento da produção. Poderia ter sido qualquer outra desculpa. É aí que tudo vira pecado. Sim, porque todos precisam saber o que você faz ou deixa de fazer: na escola, no trabalho (você trabalha? Com o que? Por quê?), em casa, na rua, na cozinha, no banheiro, no quarto! Os quinze minutos de fama se tornaram mandatórios. Hoje, não é mais opção. As perguntas clichê que se faziam às celebridades décadas atrás são as mesmas direcionadas aos amigos, aos inimigos, aos recém conhecidos e aos desconhecidos. “O que você faz?” “Qual sua cor preferida?” “Como foi sua primeira vez?” “Você é Gay?” O “pecado”, o “errado”… antes estavam só no ato (sugestão de pesquisa: Hanne Blank). 2

Era algo que vinha e passava. Que nem gripe. Não era uma condição-identidade que iria segui-lo aonde fosse. Dez AveMarias e quatro Pai-Nossos e tudo passava. Hoje não. Hoje virou cruz, rótulo, marca. E que até você sente necessidade de carregar e explicar e definir e respirar e morrer e… O estranho é que ninguém estranha o fato de que o que você faz ou deixa de fazer na cama seja algo tão relevante ao ponto de definir quem você é, em que você trabalha, como você gesticula, quanta grana você tem, que tipo de bebida gosta, qual sua cor preferida e quão bem sucedido você seria. Inventou-se um rótulo. E essa porcaria de rótulo, junto com tantos outros, a gente vai carregando. Como medalhões. Vai ver que é pra proteção. Pra proteger a gente de ver quem realmente somos. - Victor Gargiulo muh! • #3

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podcast

MUH! Uberaba/MG Fundado em 25 de outubro de 2012

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Conselho editorial Ana Márcia

Lima, Bruna Bernabei, Bruno Assis, Juliana Castejon, Law Cosci, Mariana do Espirito Santo, Thaís Cólus | Parceria Livraria Alternativa | Editora Mariana do Espirito Santo | Projeto editorial, gráfico e editoração Mari Comunicação | Impressão Gráfica Novatta | Tiragem Mil Anuncie: 034-9162.7809

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Desembarcou, mostrou o sujeito: sorriso leve e o olhar também o era Me contava do azul diferente que o cercava quando ia dormir e desse azul, conheci o sujeito e o desejei mais perto Mergulhei. Desembarcou, e entendi, menina como sou astuta, como fui que foi maré que o trouxe para perto de mim Sabia que era criatura do mar e menina como estou, chorei O deixei partir... Mas seu coração, desembarcou, Ordem e Progresso em mim. Meninos do trapiche. - Gabriele Moraes Meninos da Candelária. Meninos do nosso Brasil. Meninos que se tornam homens em Versos românticos tempo precoce. Quero morrer dentro do teu beijo Drogas, roubos, fome. E despertar no íntimo do teu ser Homens que viram Deuses na E ainda com muito mais desejo, realidade distante. Viver; viver somente para te querer. Amparo, carinho, proteção, violência. Não há mais beijos, apenas meu pranto; Meninos sem infância. Homens sem futuro. Lembraste? A última vez que te vi Inocência, realidade, verdade, Beijei-te tanto, tanto, tanto, e no entanto, Homens. Mesmo assim, ali mesmo te perdi. Ruas, favelas, tráfego, crianças. Vida sem dignidade. Sei que me excedo nas palavras de amor, Aqui. Quisera ter no lugar do meu pobre coração Brasil. Um vazio que não coubesse essa grande dor Que me faz sofrer e que virou paixão. Com todas as letras. - J. N. Assis / Ituverava-SP NOSSOS MENINOS - Patrícia Amaral

Meandros da vida No início tinha medo daí então me preveni mas logo abaixei a guarda no instante em que te vi. - Bruno Assis

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A ciranda da bailarina des sables

- Texto: Mariana do Espirito Santo Fotografia: Guilherme de Sene

Roberta Roldão e sua energia brasileira com tempero africano 4

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oberta Roldão atravessou o Atlântico e mudou seu nome para Roberta Roldão Macauley. A viagem para a África trouxe para sua vida não apenas um novo sobrenome, mas a descoberta e a definição de sua identidade como bailarina e paixão pela cultura de um continente tão rico e carente. Fez intercâmbio no Senegal, onde ensinou nosso samba e aprendeu o balé contemporâneo da Ecole des Sables (Escola de Areia), companhia reconhecida mundiamente pela técnica de balé na areia. Se apaixonou pela cultura daquele lugar e por Prince Macauley, africano com quem se casou.

Roberta começou a dançar aos seis anos, nas tradicionais turmas de balé clássico, mas seu tipo físico - culote, coxas e quadril largos - fez com que ela se sentisse um patinho feio. Mais adiante veio a moda da lambada e com ela a descoberta das danças que estavam na rua. “Preferi as danças que permitem rebolar, do pé no chão, que não tinham a linha estética perfeita, mas tinham energia. A dança popular me dá o contato com a terra, com o público. Não tem a distância do teatro italiano. Gosto de quando o público também passa a ser ator”. Daí foi para

o samba de gafieira, disciplina que ensinou anos depois na Ecole de Sables como parte do intercâmbio. A bailarina acredita em uma linguagem universal, na dança que se nivela ao expectador, coletiva e aberta à participação de qualquer idade.

praticado no Senegal, e para que as bailarinas consigam ser reconhecidas por seu trabalho, elas precisam sair do continente para firmar uma carreira e voltam para a África com outro nome, com nova condição social para serem admitidas em seu país.

Roberta traz em sua dança uma carga da consciência de direitos e deveres políticos, onde mostra um corpo que interpreta a defesa de uma cultura. A artista teve este posicionamento sedimentado pelo estudo do Direito, e sempre acreditou que o corpo é quem conta a história de uma pessoa ou grupo. “Acredito em um corpo anárquico, que pode romper com as estruturas impostas pelo sistema e mostrar uma nova linguagem. A dança é uma forma de mostrar poder, de impor supremacia.”

De volta ao Brasil, o casal Macauley passou por situações de racismo. Em Uberaba, mesmo tendo potencial técnico e acadêmico, Roberta sente muitas dificuldades para colocar seu trabalho em prática. “Gostaria de sobreviver da arte. Uberaba foi construída pelos escravos, tem uma dívida em resgatar e valorizar cultura afro. Temos aqui mais de cem ternos de congo, que só aparecem no 13 de maio. O olhar também deve ser direcionado a esses decendentes que estão aqui.” Roldão é crítica sobre os tradicionalismos uberabenses. “Existem dois perfis de artistas. Aquele que é um porta-voz e o que é marionete, um repetidor de conceitos. Em Uberaba, infelizmente, até instituições de arte não são democráticas; elas querem colocar barreiras para que o pobre não entre onde a arte está.”

No Senegal, Roldão teve malária três vezes, presenciou guerra civil e testemunhou a o silêncio da mulher africana. “Elas são polivalentes, mas com voz calada. Na África os costumes tradicionais valem mais que as leis, mas mesmo com a submissão, as mulheres se tornam cada vez mais fortes”. Há uma luta de igualdade, entretanto a profissionalização na dança, para a mulher, ainda é difícil. O turismo sexual é bastante

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No ano passado, o casal fundou a Companhia Internacional de Dança Africana Prince Macauley.

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agenda cultural

Nesta escola, eles ensinam os movimentos da dança afro com o balé clássico. A técnica é trabalhada na areia, nos moldes da companhia senegalense e é a única no Brasil. O trabalho da Companhia vai além da dança. É essencial ensinar também a cultura africana, colocar os alunos em processo de imersão, de troca de conhecimento e memória corporal.

R. Major Eustáquio, 500. Informações: (34) 3333-6824

• “Runas de Odin: Um oráculo para o seu autoconhecimento” com Denis Magnus. Aos sábados, das 09h às 12h30. Quanto: R$45,00. É necessário agendamento.

Oficina

• “Grupo de conversas terapêuticas” Às segundas-feiras, das 19h às 20h30. Coordenação: Carmen Lia F. Laterza (Psicóloga). Gratuito.

Roberta voltou Macauley. Com mais energia e entusiasmo, sua alma está cada vez mais negra. A bailarina acredita que Uberaba possa mudar os conceitos e mostrar sua riqueza cultural nos palcos, na areia, praças, folias, tambores e na pele dos artistas e do público.

Exposição

Óleo sobre tela, cerâmica e arte reciclada (trabalhos com fibras, cascas e sementes, côco). Artista: Fátima Penha. Período exposição: de 16 a 23 de fevereiro.

Cursos

• “Desafinados”, com Daniel Lopes. Inscrições abertas para aulas de 2013, que acontecerão às segundas e quartas-feiras, das 19h às 20h30.

Ensinam errado às crianças nas escolas quando dizem que o Brasil se limita ao norte com as Guianas, com a Colômbia, com a Venezuela; ao sul com o Uruguai, a Argentina; a leste com o oceano Atlântico. A leste o Brasil se limita com a África. A fronteira oriental do Brasil é o contorno da África. É lá que está a nossa fronteira. Trecho da entrevista de Alberto da Costa e Silva, autor do livro Um rio chamado Atlântico para o Coletivo Multimídia África_ Brasil. Conheça: http://tasaver.org

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• “O ofício de contar histórias”, com Adriana Fonseca. Vagas limitadas. Inscrições na Livraria.

play, video

Assista entrevista com Prince Macauley em nossa página: facebook.com/jornalmuh muh! • #3

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Panorama

o incentivo da lei Cidade do zebu avança no financiamento da cultura seguindo o modelo de arrecadação consolidado em vários estados No ano passado, Uberaba aprovou a Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Por meio dela, projetos culturais poderão obter financiamento de empresas que abatem parte do seu IPTU e destinam ao projeto. O edital para inscrição de projetos foi aberto em dezembro. No entanto, continha vários erros, o que levou a nova administração da Fundação Cultural a suspender, sem data prevista, o prazo de inscrições. A Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LEIC), por sua vez, diminuiu a contrapartida das empresas. Agora, elas poderão abater dos impostos até 99% do valor destinado ao projeto aprovado, o que pode aumentar os investimentos principalmente de empresas de médio e pequeno porte.

Desde que foi criada, há 15 anos, a LEIC vem comprovando sua importância para a viabilização de projetos culturais em Minas Gerais, seja na capital ou no interior. Entre 1.888 propostas inscritas, dois produtores uberabenses foram aprovados no último edital para captar recursos por meio da Lei Estadual: “Reciclown e Educação: Uma Tarefa de Casa na Escola”, do empreendedor Mayron Engel, e “2o Festival Nacional de Catira de Uberaba”, de Gilberto Andrade Rezende.

ela. Não exclui, no entanto, o caráter mercadológico que sua aplicação impregna no modelo de concorrência. Os projetos são inscritos em edital, aprovados por critérios técnicos e artísticos, porém isso não garante que serão financiados. Depois de aprovados, cabe às empresas escolherem os projetos que serão beneficiados, criando assim uma anacronia. Muitas vezes, projetos de valorização de culturas populares e regionais perdem espaços para projetos com maior potencial de marketing para as empresas.

È certo que as leis de incentivo à cultura (em todos os níveis, federal, estadual e municipal) constituem um mecanismo de financiamento importante da cultura. Muitos projetos não teriam ganhado as ruas sem

Cabe ao poder público, produtores e artistas repensarem um modelo de financiamento da cultura que priorize a valorização da produção artística e não seu potencial de mercado.

bloco de carnaval de rua. evento #gratuito. Venha com traje de carnaval ou roupa verde

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Palco

Grita que o Rock chegou! Sem grito não existe o bom e velho rock and roll A Sapólio Rádio Produções promove mais uma vez na cidade o Festival Grito Rock, unindo artistas uberabenses e de outras regiões. São três dias de rock, festa e diversão. Neste ano, o Festival é realizado em 300 cidades e 30 países. O Grito Rock Mundo é promovido pelo Fora do Eixo, financiado pelo Fora do Eixo Card e produzido com o apoio do Toque no Brasil. Realizado desde 2009, o intuito é apenas um: reunir no mesmo local todos aqueles que gostam de música, apreciando também o que vem de outras partes do país e do mundo.

O Grito do Rock é um evento para conhecer atrações que tocam nos festivais de peso na cena roqueira, com sons que vão desde o Alternativo, Indie, Hard Rock, Blues, ao Folk. Além da boa música, o festival conta também com a cultura cervejeira da Biergarten - Bebidas Especiais - a venda de passaportes no Dexter Pub, os apoios Jornal Muh, Jornal do Triângulo, Nuvem design, Estúdio Lado B, Mira Produtora e Diego Aragão para trazer artistas a quem curte todos os gostos musicais.

programação Passaporte para os três dias do evento por R$ 30,00 à venda no Dexter Pub. • Dexter Pub - Av. Santos Dumont, 2301 Data: 31/01 Ingresso: R$ 15,00 Line-up:Edgar Raposo (Lisboa) e Juninho Oliveira (Ura) • Madrid - Rua Tristão de Castro, 24 Data: 01/02 Ingresso: R$ 15,00 Shows: Puritanos (Ura), Brunna Buzollo (Ura) e Gloom (Goiânia) • Madrid Data: 02/02 Ingresso: R$ 15,00 Shows: Valsa Binária (Belo Horizonte), Granvizir (Ura) Rock Rocket (São Paulo)

+ info: facebook.com/SapolioRadio facebook.com/FestivalGritoRock

Foto: Mayara Bizinoto

Em sua quinta edição em Uberaba, o Grito do Rock é uma opção alternativa de evento para quem busca bandas diferenciadas, com músicas próprias e com

qualidade. O evento recebe esse ano os Djs Edgar Raposo (Lisboa) dono da Groove Records, Julinho Oliveira (Ura), as bandas Puritanos (Ura), Valsa Binária (Belo Horizonte), Brunna Buzollo (Ura), Gloom (Goiânia), Granvizir (Ura) e Rock Rockets (São Paulo).

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