Revista IPD Farma - Ano III - Edição 6 / 2012

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X PESQUISA

BIODIVERSIDADE

Revista IPD Farma • Ano III • Edição 6 / 2012

Indústria tenta acabar com essa falsa dicotomia que atrasa o desenvolvimento tecnológico

Edição Especial



Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos

Editorial

Índice

Foto: Divulgação/Cristália

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FOMENTO Setor farmoquímico busca estratégias para se reestruturar e garantir insumos para a indústria nacional de medicamentos

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FITOTERÁPICOS Tudo aponta que o processo de registro de fitoterápicos vai bem. Mas as controvérsias não acabaram e o pós-registro ocupa o centro dos debates

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CAPA Abifina e IPD-Farma reúnem propostas para solucionar o imbróglio que se tornou fazer pesquisa com biodiversidade brasileira

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PESQUISA CLÍNICA Anvisa e Ministério da Saúde mostram o que estão fazendo para reduzir os prazos de aprovação dos estudos com seres humanos

DOENÇAS NEGLIGENCIADAS

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Coordenadora do Programa Clínico em Doença de Chagas da DNDi, Isabela Ribeiro traça um panorama dos esforços mundiais no combate às doenças da pobreza

Expediente

Revista IPD-Farma • Ano III • Edição 6

Diretor Geral: Roberto Nicolsky .

Coordenadora: Mariana Sandroni

Acesse: www.ipd-farma.org.br Tiragem: 2.500 exemplares .

Coordenação Editorial: Natália Calandrini

Gerente de Marketing e Eventos: Alexandre Nicolsky .

Webmaster: Ukla Fernandes .

Diretor de Arte: Ricardo Meirelles .

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Assistente de Arte: Jessica Silva

Colaboração: Indira Rodrigues

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Comunicação: Luciana Ferreira, Fernanda Magnani, Natália Calandrini

Revisão: Mariana Sandroni e .Natália Calandrini .

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Diagramação: Jessica Gama

Estagiária: Indira Rodrigues

Mais um ano de ENIFarMed: aguardamos novos avanços .

O Encontro Nacional da Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed) chega à sexta edição nos dias 28 e 29 de agosto, em São Paulo. Nesses anos, o evento cresceu e amadureceu. Ao olharmos o cenário da indústria da saúde, percebemos claramente os efeitos da união de forças feita no ENIFarMed, onde foi repetidamente reforçada pela indústria, por exemplo, a importância das compras públicas para impulsionar o setor. Eis que o Governo aprova em 2012 as margens de preferência para os segmentos de fármacos e medicamentos e de produtos médicohospitalares. Uma vitória que incita a uma participação ainda maior nos debates do ENIFarMed. Por isso, dedicamos esta edição integralmente ao evento. A cada ano, o ENIFarMed aprofunda suas proposições, como mostrarão as próximas páginas. É o caso da P&D com material da biodiversidade brasileira, que está paralisada desde 2001. As primeiras propostas para desatar esse nó estão surgindo, com o levantamento realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), junto com o IPD-Farma. Os detalhes você verá na reportagem de capa desta edição. O segmento de fitoterápicos é outro que evoluiu, no que toca o processo de registro. Mas chegou o momento de estudar os problemas do pós-registro. Da mesma forma, novos caminhos precisam ser trilhados para se obter avanços nas pesquisas clínicas. Mais assuntos serão analisados nas páginas a seguir – um aperitivo do 6º ENIFarMed que oferecemos para você. .

Boa leitura. . A Revista IPD-Farma é uma publicação da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica

Ogari Pacheco .

Vice-Presidente do Conselho Deliberativo do IPD-Farma

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“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”

Produção nacional de farmoquímicos Painel discutirá estratégias do País para recuperar o setor

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1.284/10 do Ministério da Saúde. De acordo com o pesquisador, essa internalização não incluiria necessariamente o processo completo de desenvolvimento do produto. Por meio de parcerias com multinacionais, laboratórios, entre outras instituições, seriam definidas rotas sintéticas de produção, trazendo para o Brasil apenas fases do desenvolvimento. “A melhor parte é que essas etapas por si já seriam rentáveis. Assim, o empresariado teria vontade de investir”, defende. Para Magalhães, a compra governamental consiste no maior incentivo do Estado para que a indústria invista em processos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no setor farmoquímico. “O empresário precisa sentir que não está sozinho quando assume o risco do desenvolvimento tecnológico”, explica Magalhães. “Como acontece com as doenças negligenciadas”. No Brasil, empresas que investem no desenvolvi-

mento de fármacos voltados para o tratamento de doenças como Chagas, malária, entre outras, recebem apoio do Governo por meio do uso do poder de compra do Estado para que tais medicamentos cheguem à população. Foto: Divulgação/Fiocruz

fomento

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palavra é reestruturação. De acordo com Jorge Magalhães, pesquisador de Farmanguinhos/ Fiocruz, a indústria brasileira de fármacos precisa superar o atraso tecnológico acumulado desde a década de 90 quando o setor foi solapado com a abertura econômica do País. Assim poderá voltar a produzir com vigor e garantir o abastecimento nacional de matériasprimas para medicamentos. É para discutir o tema que Magalhães mediará o painel “Estratégias para incentivo da produção de fármacos no Brasil”, no 6º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed). Segundo o moderador da mesa, o Brasil tem competência para desenvolver tecnologias próprias, mas pode acelerar o processo prospectando modelos do exterior. Algumas experiências já vão nesse sentido. “Hoje, temos políticas como as Parcerias Público-Privadas (PPPs) e as transferências tecnológicas. Isso é ótimo”, afirma Magalhães. Por essa razão, o pesquisador defende a internalização da produção de fármacos no País. Ela seria realizada a partir das compras públicas de medicamentos prioritários para o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecidos na Portaria


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A luta continua no pós-registro

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pós a consolidação de ajustes na Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 14/2010, que versa sobre o registro de fitoterápicos, agora as principais mudanças regulatórias pleiteadas pelo setor se referem aos aspectos de qualidade. O assunto estará em foco no 6º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed). Segundo o moderador do painel, Luis Marques, pesquisador do mestrado em Farmácia da Uniban, não existe hoje o acompanhamento adequado de alterações que venham a ser feitas em produtos desenvolvidos e já registrados. Nos casos em que o fabricante usa a matéria-prima de um determinado fornecedor no processo de registro e depois, por questões comerciais, precisa substituí-lo, as características dos lotes podem ser distintas daquelas especificadas. Portanto, podem não garantir a eficácia e a segurança dos fitoterápicos. “Na ocorrência dessas alterações, devemos estabelecer um tipo de validação para os novos lotes, que confirme estarem mantidas as especificações adequadas na qualidade dos produtos”, afirma Marques. “Em relação à mudança da RDC 14 para incorporação desse aspecto da qualidade, parece não haver tal necessidade, podendo-se

Na ocorrência de alterações nas matérias-primas, devemos estabelecer um tipo de validação para os novos lotes que confirme estarem mantidas as especificações

. Luis Marques, pesquisador da Uniban

realizar tais orientações através de uma nota técnica”, defende Marques. Também é preciso fiscalizar os produtos no mercado. O especialista conta que, em alguns de seus estudos, foram detectados lotes de medicamentos à base de Ginkgo biloba e de Panax ginseng, entre outras espécies, sem as características oficiais de quali-

dade esperadas para produtos registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De modo similar ao verificado no mercado internacional, lotes de matériasprimas indianas e chinesas – comumente usadas no Brasil – nem sempre cumprem as especificações farmacopeicas adequadas para garantir a eficácia e a segurança dos fitoterápicos. Portanto, esses insumos também precisam ser cuidadosamente avaliados. Para estudar soluções para a questão, irão compor a mesa representantes do setor distribuidor e de farmácia de manipulação, entre outros segmentos. O primeiro vai debater como será possível exigir um certificado de Boas Práticas de Fabricação para a impor tação de insumos farmacêuticos naturais. O Brasil ainda não tem norma para regular a atividade – a Consulta Pública n o 63, de 23 setembro de 2009, foi uma primeira tentativa, porém não finalizada. As farmácias de manipulação sofrem de problema semelhante. “O setor montou, há tempos, um sistema nacional de avaliação de amostras. Vamos conhecê-lo e saber se está resolvendo. Nesta edição do ENIFarMed, o painel de fitoterápicos traz esses dois segmentos pela primeira vez para enriquecer o debate”, opina Marques. 5

fitoterápicos

Segmento de fitoterápicos precisa de mecanismos para controlar alterações em produtos registrados


“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”

O insustentável sistema de acesso à biodiversidade Setor produtivo articula medidas para alterar a medida provisória que regula – e trava – a pesquisa com recursos naturais brasileiros

capa

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polêmica que envolve o desenvolvimento de produtos a partir da biodiversidade brasileira está longe do fim, mas uma solução pode estar a caminho. Uma primeira iniciativa é a consolidação de propostas do setor produtivo para reformular o marco regulatório, projeto liderado pela Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), junto com o IPD-Farma. Outra tentativa, estudada pelo Governo e que já suscita divergências, é a criação de um fundo com o objetivo de pagar às comunidades o valor relativo ao uso de seu conhecimento tradicional pelas empresas. As alternativas serão debatidas no 6º Encontro Nacional da Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed). Segundo Márcio Falci, diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da farmacêutica Biolab, as empresas temem que o fundo acabe funcionando apenas como um imposto disfarçado. Pior: que ele incida sobre diferentes fases do desenvolvimento do produto, desconsiderando o risco da inovação, que pode ou não ter retorno financeiro. “O mais certo seria a empresa que produziu o extrato negociar diretamente com aquele indivíduo que deu a matéria-prima. Afinal, ele é quem receberá os royalties”. Porém, essa não é uma conta fácil de fazer, pois valorar a informação – um 6

ativo intangível – é um dos grandes dilemas da humanidade hoje. De acordo com Fabiana Souza, professora da Secretaria de Educação e Qualidade de Ensino do Amazonas, o conhecimento tradicional permite às empresas reduzir o tempo de bioprospecção (pesquisa de material biológico com a finalidade de ex p l o r a r o s r e c u r s o s g e n é t i c o s ) . Portanto, para se fazer a repartição do benefício, é preciso calcular em quanto esse tempo foi reduzido. A empresa precisa, ainda, estimar o quanto economizou com a informação. Por outro lado, a comunidade precisa entender e concordar com essa atribuição de valor.

. Choque de culturas Como se não bastasse, identidades culturais das mais diversas compõem o cenário das negociações. São comunidades ribeirinhas, quilombolas ou indígenas, que, não raro, falam dialetos, ressalta Fabiana, doutora em biotecnologia vegetal pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os empresários, por sua vez, surgem na cena com jargão corporativo e aparato jurídico. Pegando emprestadas as palavras da especialista, nesta verdadeira “Torre de Babel” o desafio é traduzir os pleitos para se constituir contratos em “uma mesma língua”. “As comunidades não sabem o que é


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Insegurança jurídica A Medida Provisória (MP) 2.186/ 2001, que rege o acesso à biodiversidade brasileira para fins de pesquisa e desenvolvimento, versa sobre temas diversos e leva a dúvidas que raramente são sanadas pelo Cgen, segundo relatos das empresas. Conta ainda com o agravante de prever multas de até R$ 50 milhões, que já foram aplicadas mesmo em companhias que fizeram a repartição dos benefícios em acordo com a comunidade, como no

conhecido caso da Natura. Em 2010, a empresa foi multada em R$ 21 milhões pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por explorar recursos genéticos sem a autorização prévia do Cgen. A insegurança jurídica estacionou toda a P&D com biodiversidade do País, seja nas universidades ou nas indústrias. A Biolab é uma delas. “Já temos sete projetos parados. Um deles só terá resposta daqui a um ano. Até lá, teremos perdido a inovação”, relata Falci, mencionando que a empresa, após desistir de investimentos no Brasil, foi buscar matéria-prima da Amazônia

Temos sete projetos parados. Um deles só terá resposta daqui a um ano. Até lá, teremos perdido a inovação

. Marcio Falci, Biolab

peruana. “Quanto mais estudamos, mais vemos o quanto a MP é complicada”, diz Maria Celeste Emerick, coordenadora de G e s t ã o Te c n o l ó g i c a d a F i o c r u z . Surpreendente, por exemplo, foi entender que vacinas e outros itens com uso de material genético humano também estão incluídos na categoria de “patrimônio genético”. Portanto, seu desenvolvimento figura como mais uma das atividades de P&D no País que estão paralisadas em função de insegurança jurídica, ainda que envolva produtos essenciais para as políticas de saúde pública.

capa

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Foto: Divulgação/Biolab

inovação, tecnologia, nem mesmo conhecimento tradicional associado. Além disso, cada pesquisa vem de um universo diferente, com termos técnicos difíceis: genética, biotecnologia, fitoterápicos. Como se pode chegar a um acordo? As comunidades querem negociar com os empresários, mas precisam de capacitação”, explica a pesquisadora, que já trabalhou em mais de 15 comunidades indígenas. Fabiana aponta, ainda, a grande dificuldade de identificar quando existiu ou não o acesso ao conhecimento tradicional associado. Há casos em que empresas alegam não ter feito o acesso, mas populações locais posteriormente pleiteiam na Justiça o direito ao pagamento. O problema recai em uma questão de interpretação, pois a empresa pode ter obtido a informação pelo que se chama de “conhecimento difuso”. Ainda assim, Fabiana admite que algumas companhias preferem não declarar o acesso a matéria da biodiversidade ao Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (Cgen), para evitar o complicado processo de aprovação da pesquisa exigido pela norma vigente.

Como alterar o marco regulatório

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dificuldade no acesso aos recursos da biodiversidade vem desde 2000 e criticar somente já não basta; chegou a hora de agir. Assim Ana Claudia Oliveira, gerente de Biodiversidade e Propriedade Intelectual da Abifina, explica o que motivou a entidade a buscar a parceria com o IPD-Farma para reunir propostas para alterar a MP 2.186/2001. “Existem projetos que estão há 10 anos aguardando liberação. Resolvemos decidir isso de vez. O Ministério do Meio Ambiente declarou diversas vezes que está disposto a receber ideias, por isso vamos levá-las”, declara Ana. “Esperamos apoiar a estruturação da

base legal e regulatória para a pesquisa e o desenvolvimento a partir da fauna, flora e m i c r o b i o t a b r a s i l e i r a s d e fo r m a democrática”, reforça a coordenadora do IPD-Farma, Mariana Sandroni. Uma das propostas recorrentes entre representantes da indústria é anular a necessidade de autorização prévia do Cgen, que poderia ser substituída por relatórios periódicos das atividades. Há, ainda, quem peça uma legislação só para regular o acesso ao conhecimento tradicional, dada a especificidade do tema. E, para as empresa que já atuam na área e receberam multas, o setor pede a anistia, o que já foi recusado pelo Governo.

O d o c u m e n to p r é v i o s e r á apresentado em agosto no 6º ENIFarMed e sua versão final será apresentada ao governo durante o Workshop de Biodiversidade, previsto para setembro, e em audiências agendadas com os ministérios envolvidos. As contribuições podem ser enviadas para o e-mail: marcolegal@abifina.org.br.

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pesquisa clínica

“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”

Na Anvisa, a fila anda Nova resolução da agência acelera aprovação dos estudos clínicos, iniciando movimento que pode chegar ao sistema CEP-Conep

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Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos

. Jailson de Barros Correia, Ministério da Saúde

Dos 107 pedidos de pesquisa clínica que estão na fila aguardando parecer, 80% podem ser enquadrados nos novos critérios de análise simplificada, segundo Patrícia Ferrari Andreotti, coordenadora de Pesquisas e Ensaios Clínicos e Medicamentos Novos da Anvisa. Para que as solicitações hoje em andamento na Anvisa sejam incluídas na análise simplificada, o responsável deve fazer a solicitação na agência. O novo procedimento exclui os estudos clínicos com vacinas e antirretrovirais. “Nestes casos, a pesquisa deve estar de acordo com os programas de saúde do governo e passar pela avaliação conjunta com outros órgãos”.

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Brasil ensaia o primeiro grande passo para agilizar a aprovação de protocolos de pesquisa clínica para medicamentos. Em junho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) no 36, que simplifica a análise dos pedidos quando a pesquisa já tiver sido aprovada nas agências reguladoras dos Estados Unidos, Europa, Japão, Austrália ou Canadá. O mesmo vale para quando o estudo já tiver iniciado o recrutamento de voluntários em outro país participante. A Anvisa estima que, com a novidade, reduzirá à metade o tempo de aprovação dos projetos, o que hoje leva em média 180 dias.

. Ética, mas sem burocracia A RDC no 36 não altera os trâmites relativos à avaliação dos aspectos éticos das pesquisas. Portanto, para que o tempo global de liberação dos projetos seja reduzido, resta ser resolvida a burocracia no sistema que envolve a dupla aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e por seus respectivos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP). Segundo Jailson de Barros Correia, diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde (MS), ganha força a ideia de que a Conep crie um sistema de acreditação dos CEPs, que, uma vez chancelados, teriam mais independência para atuar.

. Melhorias em andamento Como iniciativas que estão sendo adotadas para melhorar o sistema CEPConep, Correia aponta a contratação de pessoal, novas instalações físicas e maior volume de recursos. A Conep, com sua Secretaria Executiva agora ligada ao MS, recebeu a alocação de R$ 10 milhões ao ano para ações como a capacitação dos profissionais dos CEPs e a implantação da Plataforma Brasil. Este sistema informatizado conta com módulo em fase experimental para emitir pareceres em tempo real, o que deverá encurtar as etapas de aprovação. Correia garante que “já é perceptível” a redução dos prazos na Conep, em especial desde o ano passado. “Em geral, as primeiras respostas estão sendo dadas no prazo regulamentar. Aquele prazo de um ano (tempo médio de aprovação incluindo o processo da Anvisa e do CEPConep) caiu há tempos”, aponta. Em outros países, a média para aprovação de protocolos de pesquisa clínica é de dois a três meses. De acordo com João Massud, a necessidade por novos medicamentos mais eficazes e seguros tem movimentado o investimento de US$ 80 bilhões anualmente em pesquisa e desenvolvimento no mundo. Preocupa ao setor produtivo brasileiro ficar de fora da geração de conhecimento nesse que é um dos segmentos mais inovadores da indústria. 9 9

pesquisa clínica

As primeiras respostas para os projetos de pesquisa clínica estão sendo dadas no prazo regulamentar

João Massud, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica (SBMF) e moderador do painel de pesquisa clínica no 6º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed), concorda que delegar poder aos CEPs diminuiria os entraves. “Os CEPs foram aprovados previamente pela própria Conep, então essa dupla aprovação do projeto de pesquisa não faz sentido”, afirma. Massud aponta outro problema. “A Conep possui muitas restrições burocráticas e ideológicas. Uma delas é ser contra a cooperação entre empresas brasileiras e estrangeiras. Do jeito que o processo está, o Brasil hoje não recebe nem 1% do total de P&D mundial. É o que chamamos de custo da burocracia”.


“Inovação no Complexo Industrial da Saúde”

Foto: Divulgação/DNDi

Pela cura da desigualdade “O problema da falta de P&D para as doenças da pobreza é sistêmico”

Isabela Ribeiro

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doenças negligenciadas

a década em que se consolidou o conceito de sustentabilidade, também evoluiu a consciência mundial sobre o impacto socioeconômico das doenças negligenciadas. Típico mal dos países em desenvolvimento, elas constituem ao mesmo tempo os sintomas e as causas da pobreza, estando à margem dos investimentos em P&D. Mas o tema começa a entrar na agenda de governos, empresas e entidades do terceiro setor, que buscam soluções conjuntamente. Temos exemplos recentes. A primeira vacina para esquistossomose está sendo desenvolvida pela Fiocruz com a empresa Ourofino Agronegócios. A Roche, depois de ter feito a transferência de tecnologia do benznidazol – usado no tratamento da doença de Chagas –, retirou em 2006 seu próprio registro do medicamento no Brasil. O Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco (Lafepe), que é uma instituição pública, registrou o produto como novo medicamento, passando a produzi-lo nas doses adulta e pediátrica. A coordenadora do Programa Clínico em Doença de Chagas da iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), Isabela Ribeiro, conta como o assunto do 6º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed) vem sendo tratado mundialmente. As doenças negligenciadas estão sendo menos negligenciadas? Há 12 anos, a pesquisa e o desenvolvimento (P&D) de novos tratamentos para as doenças tropicais negligenciadas se encontravam estagnadas. Ao longo da última década, houve uma série de avanços significativos neste cenário, vindo de diferentes setores. Novos atores emergiram, como as Parcerias para o Desenvolvimento de Produtos (PDP's): fundada em 2003, a DNDi é uma entre as organizações criadas para preencher as lacunas existentes em P&D para as doenças que afetam os mais pobres do mundo, nas áreas mais remotas. Desde 2003, a DNDi, em parceria com instituições públicas e privadas, lançou seis novos tratamentos para a malária, a doença do sono, a doença de Chagas e a leishmaniose visceral. Nos últimos anos, 16 novos produtos foram lançados, por 15 PDPs distintas, para doenças negligenciadas. No entanto, tais avanços são, em sua maioria, incremen10

tais, e inovações científicas significativas continuam sendo extremamente necessárias. No preenchimento das lacunas em P&D para as doenças da pobreza, serão necessários engajamento e coordenação entre os novos e tradicionais atores, na definição de prioridades de pesquisa e na busca por mecanismos sustentáveis de financiamento. Qual é o papel do Estado na P&D dessa área? Apesar dos resultados positivos entregues apresentados pelo modelo PDP e da importância da participação da indústria privada neste processo, o problema da falta de P&D para as doenças da pobreza é sistêmico. Na atual conjuntura, a participação do Estado é fundamental no fornecimento de financiamento sustentável, e na definição de prioridades de P&D que respondam às reais e urgentes necessidades em saúde da população. O envolvimento dos países endêmicos, particu-

larmente, é essencial em todas as etapas do processo. O sucesso no combate às doenças negligenciadas depende da participação ativa destes governos, da definição de políticas e incentivos para a inovação, até a garantia do acesso dos pacientes aos tratamentos disponíveis. Quanto se investe no mundo em pesquisa nesse campo? Estima-se que, em 2005, US$ 160 bilhões tenham sido empregados em pesquisa em saúde, em todo o mundo. No entanto, o relatório GFINDER de 2011 indica que somente US$ 3,2 bilhões foram gastos, em 2010, em P&D para doenças negligenciadas. Tradicionalmente, as nações mais ricas lideram como financiadoras de projetos em todo o mundo. Porém, calcula-se que o financiamento público proveniente destas tenha caído 6% em 2010. Mecanismos de financiamento sustentável para doenças negligenciadas seguem sendo necessários.



Participe do mais importante encontro do setor Público-alvo: - indústria: a cadeia produtiva de fármacos e medicamentos apresenta propostas para impulsionar seu processo de inovação

28 e 29

Centro de de agosto Convenções Rebouças -SP de 2012

ALGUNS TEMAS: - doenças negligenciadas, - estudos não-clínicos - pesquisa clínica

- governo: ministérios e agências de fomento debatem soluções nas áreas de regulação, normalização, registro de patentes, financiamento e subvenção - academia: gestores e pesquisadores se atualizam sobre temas emergentes e as necessidades da indústria para buscar parcerias para suas pesquisas

e no âmbito do evento

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