Revista da Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade

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ISSN 1984-3577

S達o Paulo, v. 5, n. 3, Out. 2012


 2012 Intertox Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte. As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda. Seções Artigo Original; Artigo de Atualização; Comunicação Breve; Ensaio; Nota de Atualização e Revisão Idiomas de Publicação Português e Inglês Contribuições devem ser enviadas para <m.flynn@intertox.com.br>. Disponível em: <http:// revinter.intertox.com.br>. Normalização e Produção Website Henry Douglas Capa Henry Douglas Projeto Gráfico Henry Douglas RevInter – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade. / InterTox uma empresa do conhecimento. – v. 5, n. 2, (jun. 2012).- São Paulo: Intertox. 2012. Quadrimestral ISSN: 1984-3577 1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento. Biblioteca InterTox II. Título.

1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento. Biblioteca InterTox II. Título. Rua Turiassú, 390 - cj. 95 - Perdizes - 05005-000 - São Paulo - SP – Brasil Tel.: 55 11 3872-8970

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Expediente Editor(a) Maurea Nicoletti Flynn Doutora em Oceanografia (USP) Com Especialização Ecologia Comitê Científico (2011-2013) Irene Videira Lima Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML-SP por 22 anos. Marcus E. M. da Matta Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP). Engenheiro Ambiental e Turismólogo. Moysés Chasin Farmacêutico-bioquímico pela UNESP-SP especializado em Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública. Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe especial e Diretor no Serviço Técnico de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal da SSP/São Paulo. Diretor executivo da InterTox desde 1999. Ricardo Baroud Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor Científico da PLURAIS Revista Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA Revista Baiana de Tecnologia.

Conselho Editorial Científico (2011-2013) Alice A. da Matta Chasin Doutora em Toxicologia (USP)

Eduardo Athayde Coordenador no Brasil do WWI - World Watch Institute Eustáquio Linhares Borges Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, exProfessor Adjunto de Toxicologia da UFBA. Fausto Antonio de Azevedo Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA, ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia. Isarita Martins Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas (USP), Pós-doutorado em Química Analítica (UNICAMP), FarmacêuticaBioquímica Universidade Federal de Alfenas MG. João S. Furtado Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado (Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, NC, EUA). José Armando-Jr Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP), Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF). Sylvio de Queiroz Mattoso Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do CEPED-BA.

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Sumário TOXICOLOGIA Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal

06

Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho

28

Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública

42

Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais

60

ECOLOGIA DO ESTRESSE / ECOTOXICOLOGIA Caracterizando a cor do ruído em séries temporais geradas teoricamente e aplicadas em séries de programas de monitoramento.

76

SUSTENTABILIDADE A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. 83 Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder Empresarial

95

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Artigo Original Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal Exposure Pesticides: Cross Sectional Study

Myrella Klesy Silva Martins 1Enfermeira.

Especialista em Enfermagem do Trabalho pela Faculdade São Francisco da Paraíba.

Gilberto Santos Cerqueira 2Farmacêutico.

Mestre em Farmacologia. Doutorando em Farmacologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. Professor da Faculdade Vale do Salgado giufarmacia@hotmail.com

Ana Márcia Alves Sampaio 3Enfermeira.

Especialista em Enfermagem do Trabalho pela Faculdade São Francisco da Paraíba.

Aline Alves Lopes 4Enfermeira.

Especialista em Enfermagem do Trabalho. Enfermeira do Trabalho da Empresa. Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Piauí.

Rivelilson Mendes Freitas 4Enfermeira.

Especialista em Enfermagem do Trabalho. Enfermeira do Trabalho da Empresa. Professor Doutor do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Piauí.

MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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Artigo Original Resumo

As intoxicações com agrotóxicos representam as mais perigosas formas de intoxicação que afetam o trabalhador rural, podendo causar desde doenças a problemas reprodutivos. O objetivo desse trabalho foi descrever a exposição ocupacional de trabalhadores do município do Icó, Ce. Realizou-se um estudo analítico transversal com abordagem quantitativa com 48 agricultores do município. Observou-se que não existe diferença estatística na exposição ocupacional e no uso de equipamento de proteção individual. Verificou-se que as principais manifestações clínicas das intoxicações com agrotóxicos foram: cefaléia, tonturas, náuseas/vômitos e ardência nos olhos. A elevada prevalência dos quadros de intoxicação, neste estudo, sugere a necessidade da atuação dos órgãos competentes, governo e profissionais de saúde local, para estimular a prevenção e o desenvolvendo de ações integradoras e interdisciplinares visando à proteção da saúde do trabalhador frente aos efeitos nocivos dos agrotóxicos, assim como apontar estratégias alternativas de sistema de plantio.

Palavras-chave: Agrotóxicos. Exposição ocupacional. Agricultores

Abstract Acute poisoning with pesticides is one of the most dangerous affecting farm workers, causing diseases or reproductive problems. The aim of this study was to describe the occupational exposure of workers in the city of Ico, Ce. We conducted a cross sectional study with a quantitative approach with 48 farmers in the municipality. It was observed that there is no statistical difference in occupational exposure and use of personal protective equipment. It was found that the clinical manifestations of poisoning with pesticides were headache, dizziness, nausea/vomiting and burning eyes. The high prevalence of intoxication suggests the need for the competent bodies, government and local health professionals to encourage prevention and develop interdisciplinary and integrative actions aimed at protecting workers' health against the harmful effects of pesticides, as well as pointing out alternative strategies for management systems.

Keywords: Pesticides. Occupational exposure. Farmers

MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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Artigo Original Introdução

No Brasil a exposição ocupacional aos agrotóxicos é um problema de saúde pública com grande número de subnotificações. Associado a esse problema observa-se um crescimento do agro negócio gerando também impacto na saúde de trabalhador, enquanto que a política pública de saúde para prevenção das intoxicações são incipientes. Muito pouco ou nada desses impactos é embutido no preço desses insumos ou de bens alimentícios produzidos no Brasil, sendo assumidos pelo sistema de saúde e da previdência social (SOARES; PORTO, 2012). Desde a entrada dos agrotóxicos no país na década de 1960, aumentou ainda mais os riscos de adoecer e morrer, aos quais os trabalhadores rurais já estavam expostos (SILVA et al., 2005). À medida que a utilização dos agrotóxicos e a prática agrícola se tornaram indissociáveis, as populações humanas se tornaram vulneráveis às contaminações por essas substâncias (MOTA, 2009). Atualmente, esses compostos químicos têm sido utilizados em grande escala por várias áreas produtivas, e com bastante intensidade no setor agrícola. O Brasil, por exemplo, se enquadra entre os maiores consumidores mundiais de agrotóxicos, apresentando um papel estratégico para a produção de alimentos, tanto para o mercado externo quanto interno. No nordeste brasileiro, vários trabalhadores se intoxicam com agrotóxicos todos os anos (BRASIL, 2009; CERQUEIRA et al., 2010). Dados lançados mostram que em 2001 o Brasil consumiu 151.523 toneladas de ingredientes ativos de agrotóxicos (ANVISA, 2003). Registros confirmam que a cada ano os agrotóxicos permanecem ganhando expansibilidade no Brasil com estimativas de consumo bastante expressivo e com grande movimentação econômica no comércio brasileiro. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola (SINDAG, 2011), a venda com defensivos, no período de janeiro a outubro de 2011 girou uma ordem de MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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Artigo Original

mais de 10 milhões de reais. Este valor esteve 10% a mais em relação ao mesmo período do ano anterior. O largo consumo de agrotóxicos tem trazido enormes consequências para a população, entre elas as intoxicações. Últimos dados lançado pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX, 2011) informam que somente no ano de 2009, houve um registro de 5253 casos de intoxicação e/ou envenenamento por agrotóxicos de uso agrícola. As consequências advindas da utilização dos agrotóxicos no meio rural são em geral condicionadas por fatores intrinsecamente relacionados, como por exemplo, o uso inadequado dessas substâncias, a pressão exercida pela indústria e comércio para sua utilização, a alta toxicidade de certos produtos, a ausência de informações sobre a saúde, a segurança de fácil apropriação por parte dos trabalhadores e a deficiência dos mecanismos de vigilância, que têm sido muito precárias. Juntamente a esse quadro, as tradições culturais, a sociedade e a economia, são determinantes que podem agravar ainda mais (PERES et al., 2005). Diante disso, pela elevada utilização destes produtos no cotidiano de muitos agricultores, associado aos vários casos de intoxicações com esses produtos no nordeste brasileiro, resolveu-se descrever a exposição ocupacional a agrotóxicos de um grupo de trabalhadores do município de Icó, Ceará.

Metodologia Trata-se

de

um

estudo

exploratório

transversal

com

abordagem

quantitativa. A pesquisa exploratória possui como objetivo familiarizar-se com um assunto ainda pouco conhecido, pouco explorado, proporcionando uma maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo de caso (GIL, 2008).

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Artigo Original

A pesquisa transversal pode ser de incidência e prevalência. É o estudo

epidemiológico no qual fator e efeito são observados num mesmo momento histórico e, atualmente, tem sido o mais empregado (ALMEIDA-FILHO; ROUQUAYROL, 2002; BORDALO, 2006). O cenário da investigação deu-se no município de Icó, Ceará. Essa cidade foi à terceira vila instalada no Ceará sendo um dos principais municípios do estado, destacando-se pela agricultura e extrativismo vegetal. A Cidade do Icó, CE possui uma população com cerca de 65.456 mil habitantes com distribuição heterogênea entre as zonas rural e urbana sendo a maior aglomeração na zona urbana (IBGE, 2011; NICOLAU et al., 2011). Foram entrevistados 48 agricultores que frequentavam as reuniões da associação de agricultores da cidade, nas devidas comunidades de abrangência residencial. A amostra foi do tipo conveniente. Para seleção dos indivíduos que participaram da amostra, usamos técnica de randomização, com os seguintes critérios de inclusão, ser agricultor e morador da cidade a mais de 1 ano, idade superior a 18 anos e aceitar participar da pesquisa. Para a coleta de dados entre os agricultores que foram selecionados para a pesquisa, aplicou-se um questionário baseado no modelo dos trabalhos de Freitas et al., (2007) e modificado por Cerqueira et al., (2010) através de autopreenchimento e de modo sigiloso. A coleta de dados foi realizada por um pesquisador previamente treinado para a aplicação do questionário. A análise dos dados foi do tipo descritivo, a fim de identificar a utilização de agrotóxicos. Foi utilizado para organização do banco de dados o programa de computador Excel versão 2003 e como instrumento de análise estatística o aplicativo Graph Pad Prisma versão 5.0. Este estudo foi derivado de um projeto de pesquisa intitulado Exposição ocupacional a agrotóxicos em trabalhadores da área de abrangência de uma unidade de saúde da família Engenheiros Ávidos, o qual foi aprovado pelo Comitê MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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Artigo Original

de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (Protocolo 83/2006). Essa pesquisa não possui nenhum conflito de interesse e segue os preceitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, norma que regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos e Declaração de Helsinque (BRASIL, 1996). Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Resultados de Discussão Os dados obtidos junto aos trabalhadores rurais da área estudada revelam uma grande predominância do sexo masculino na atividade agrícola da região. Dos 48 envolvidos 97,91% corresponde a esta categoria. Tal estudo encontra-se semelhante ao de outros autores, fato que aponta a população masculina como o sexo predominante na atividade rural (BERDOR et al., 2009; BRITO; GOMIDE; CÂMARA, 2009; JACOBSON et al., 2009). Com relação à idade, a população apresentou uma variável de 24 a 68 anos. Entre estes, observa-se que 16,66% está entre 24 a 40 anos, 70,83% na faixa etária entre 41 a 59 anos, enquanto os maiores de 60 anos, ou seja, população idosa, correspondem apenas a 12,5%. Sobre o grau de escolaridade, os resultados apontaram que poucos indivíduos chegaram a concluir ou mesmo iniciar o segundo grau, apenas 6,25%. Quase metade dos participantes, 47,91% possui o ensino fundamental incompleto, quadro apontado como baixo nível escolar. O quadro é ainda mais preocupante ao identificarmos que os 35,41% representantes da parcela amostral diz respeito a pessoas não alfabetizadas, indicando carência educacional e de formação, fato que implica diretamente no vínculo de conhecimento das informações. No estudo de Cerqueira et al., (2010), o nível de escolaridade, influenciou diretamente na obtenção de informações sobre os produtos utilizados pelos agricultores. Comprovou-se que devido à linguagem utilizada somado ao fato da não alfabetização, maioria dos entrevistados não executava a leitura de rótulos

MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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dos produtos. Esses dados corroboram com os estudos de Siqueira e Kruse (2008) que observaram essa mesma problemática. Comentam que devido à linguagem técnica das pessoas que utilizam os agrotóxicos serem pouco acessível, informações relacionadas à saúde e segurança do mesmo tornam-se de difícil apropriação. Semelhante, complementam Peres e Moreira (2007) que o risco associado ao uso dos agrotóxicos está aumentado entre os trabalhadores rurais devido a maioria das informações dessas substâncias serem ininteligíveis. De um modo geral, os trabalhadores iniciaram precocemente a atividade na agricultura. O tempo de ingresso da maioria (91,66%) foi quando criança, entre 6–12 anos. Uma pequena minoria, apenas 8,33% relatou ter iniciado a profissão a partir de 12 anos e entre estes, apenas 2,08% já eram adultos. Como se percebe, antecipadamente, ainda bem jovens lhes foi dada a responsabilidade de trabalho na agricultura e que por vez, passando este ramo, a ser uma rotina na vida dessas pessoas, estando presente até os dias atuais. Sobre os agrotóxicos, o estudo revelou que seu uso é bem comum nessa população. A predominância (83,33%) destes produtos nas atividades agrícolas encontra-se expressos na Tabela 1 em relação ao sexo. Tabela 1 - Exposição ocupacional a agrotóxicos em trabalhadores da cidade de Icó, CE em relação ao sexo Sexo

Exposição ocupacional Sim n

Não %

n

%

X2

p-valor

0,2043

0,6513

Masculino

39

81,25

08

16,66

Feminino

01

2,08

0

0

Verificou-se que não existe diferença estatisticamente significante entre a utilização de agrotóxico pelos participantes (83,33%) com relação ao sexo

MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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(X2=0,2043, p=0,6513) (Tabela 1). Sendo que a exposição ocupacional ocorre da mesma forma em ambos os sexos. Importante ressaltar que a decisão pela não utilização de agrotóxicos pelos trabalhadores na área rural nem sempre é dimensionada por questões conscientes. Nesta ocasião, confirmou-se que os 16,66% restantes dos entrevistados revelaram que a não utilização de tais produtos nas suas atividades, se deu por conta de intolerância ao mesmo, por outros momentos passados terem utilizado e apresentado reações desagradáveis. Os efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde são diversos podendo causar nas vítimas desde sintomas comuns e reversíveis, até mesmo problemas com complicações muitas vezes fatais. Dados lançados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX, 2009) destacam que os agrotóxicos de uso agrícola é a principal causa das letalidades por agente tóxico. Entre os mais sérios dos possíveis danos causados por estes produtos, está a genotoxicidade. Uma atenção especial deve ser dada devido a natureza do processo ser geralmente irreversível e a sua manifestação está associada ao longo período de latência (NUNES; TAJARA, 1998). A utilização de agrotóxicos nas plantações tem continuamente, sido situação muito presente na realidade do trabalho agrícola, colocado em risco a vida dos trabalhadores rurais. A possibilidade do controle de pragas e doenças nas plantações para aumentar a produtividade agrícola e atender as crescentes necessidades alimentares da população, é, entre outras, questões entrelaçadas que justificam esse fato. Pesquisa desenvolvida por Peres et al., (2001) aponta claramente essa questão. De modo generalizado os discursos e as práticas evidenciadas pelos trabalhadores tenderam a justificar o uso de agrotóxicos pela necessidade de uma agricultura mais produtiva e que com isso, dar suporte a população que vem crescendo rápida e exponencialmente e em contrapartida havendo drástica diminuição das terras disponíveis para a agricultura.

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Na população estudada, foi citada uma grande diversidade de nomes

comerciais de agrotóxicos, em torno de 22. Cada agricultor afirmou fazer uso de um ou mais tipo de defensivo agrícola. Verificou que os inseticidas organofosforados foram os mais utilizados pelos agricultores, (52,33%), seguido dos herbicidas (27,9%), Piretróides (5,81%) e os agrotóxicos que não foram identificados correspondeu a 13,95% como mostra a tabela 2. Os agrotóxicos não identificados dizem respeito àqueles que os trabalhadores não souberam especificar o nome corretamente. Tabela 2 - Distribuição dos agrotóxicos utilizados pelos agricultores de acordo com a classe correspondente Classe dos agrotóxicos

N

%

Organofosforados

45

52,33

Herbicidas

24

27,9

Piretróides

05

5,81

Não Identificados

12

13,95

Total

86

100

Nossos dados corroboram com o de outros estudos, onde os organofosforados predominaram

entre

os

agrotóxicos

mais

utilizados

pelos

participantes

(JACOBSON et al., 2009; CERQUEIRA et. al., 2010; FARIA, ROSA, FACCHINI, 2009). No mundo, a utilização dos organofosforados é intensa, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil (RIBEIRO; MELLA, 2007). São compostos que no organismo humano possuem uma capacidade de absorção bastante rápida pelas três vias: oral, dérmica e respiratória (ROMÃO; VIEIRA, 2004). Outra característica marcante, é que são praguicidas altamente tóxicos, tendo como principais efeitos a inibição da enzima acetilcolinesterase. Esta enzima tem como função hidrolisar a acetilcolina (ACh) liberada na fenda sináptica do

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sistema nervoso autônomo, central e na junção neuromuscular. Seu acúmulo provoca intoxicações e pode levar a morte (JÚNIOR et al., 2004). Nos seres humanos, os organofosforados possuem grau variado de toxicidade provocando o surgimento de sudorese, distúrbios gastrintestinais, miose, taquicardia,

arritmias,

fraqueza,

convulsões

e

morte

(ANDRADE-FILHO;

CAMPOLINA; DIAS, 2001). Relata-se ainda que a exposição a estes inseticidas possa desencadear vários distúrbios do sistema nervoso, principalmente aqueles relacionados à neurotoxicidade destes produtos, observados através de efeitos neurológicos retardados (PERES; MOREIRA, 2007). Fica evidente que o estabelecimento do agrotóxico deve sempre está associado ao conhecimento do homem do campo. A magnitude do impacto resultante do uso destes produtos poderá ser menos desgastante, caso o trabalhador possua conhecimento a respeito da sua gravidade. A frequência da aplicação do agrotóxico variou dentro do grupo, diversificando de acordo com às vezes de plantação/ano. No entanto, focamos para o tempo diário depreendido para aplicação do produto, isto é, a jornada de trabalho envolvendo a utilização do agrotóxico. Daqueles que afirmaram utilizar agrotóxicos nas plantações, isto é, 83,33%, 52,08% concentram na atividade mais de 6 horas diárias, e 31,25% não excedem esse total de horas como demonstrado na tabela 3. Tabela 3 - Tempo de exposição a agrotóxicos em trabalhadores da cidade de Icó, CE Tempo de exposição

Exposição ocupacional

Sim n

Não %

n

%

X2

p-valor

10,43

0,0012

+6 horas

25

52,08

00

0

-6 horas

15

31.25

08

16,66

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Entre os 83,33% trabalhadores que utilizavam agrotóxico, verificou-se

que existiu diferença estatisticamente significante para àqueles que utilizaram por mais de seis horas diárias (X2=10,43, p=0,0012) (Tabela 3). A jornada de trabalho é um quesito indiscutível para compreensão da intensidade de exposição do trabalhador ao agrotóxico, pois sintetiza Mota (2009), que a exposição a estes compostos e a outras substâncias sintéticas será maior quanto maior for a jornada de trabalho agrícola. A intensidade da exposição a estes compostos, não fica por ai. Os trabalhadores participam praticamente de todas as fases do processo envolvendo os agrotóxicos, das atividades de mistura/preparação da calda, aplicação e lavagem do maquinário. Em quase todas as situações, normalmente quem aplica o produto (87,49%), prepara a calda e limpa o equipamento, 90% e 85% respectivamente. É perceptível a vulnerabilidade de ações que expõem tais trabalhadores a essa questão. Fragmentos encontrados em outros estudos discutem a gravidade de tais ações associadas a outros fatores comumente observados na atividade laboral dessas pessoas. Autores como Silva et al., (2005) abordam que geralmente como essas pessoas preparam e aplicam os agrotóxicos numa situação em que estão presentes, ao mesmo tempo, esforço físico e temperaturas elevadas, por exemplo, a exposição a esses produtos químicos será muito maior. Ao que diz respeito às situações de sinais e sintomas, foi bastante diversificado. Dos quarenta trabalhadores que manuseiam com estes produtos, trinta e dois deles (80%) queixaram-se de pelo menos um advento durante e/ou após a aplicação do agrotóxico. Dentre os mais referidos, esteve associado ao sistema nervoso, como as dores de cabeça. Os sinais e sintomas foram sistematizados de acordo com o órgão/sistema relacionado. A tabela 5 mostra os colhidos nos discursos.

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Artigo Original Tabela 4 - Manifestações clínicas apresentadas pelos agricultores de Icó, CE, de acordo com o orgão/sistema relacionado

Orgão/sistema relacionado n %

Sinais/sintomas

Dores de cabeça

22

14,02 Tonturas

20

12,74 Sistema nervoso 7,0

Nervosismo

11

Falta de forças

10

Dificuldade de dormir

09

6,36

5,73 Subtotal 72

45,85

Sistema digestório

Náusea/vômitos

21

13,38

Empachamento

05

3,18

Falta de apetite

7,65

Diarréia

02

1,27

Subtotal

40

25,48

Ardência nos olhos Visão turva Gosto de veneno na boca Ardência no nariz Sistema sensorial

12

Epistase Boca seca

09 04 02 01 01 01

5,73 2,54 1,27 0,64 0,64 0,64

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Artigo Original Prurido nos olhos

01

0,64

Olhos avermelhados

01

0,64

Cheiro de veneno

01

0,64

Subtotal Sistema respiratório

21

Cansaço

14

Subtotal

8,91

14

Manchas na pele ou despelamento Pele e anexos

13,38

Ardência/Quintura na pele Alergia no corpo

01

Subtotal

10

TOTAL

8,91 06

3,82

03

1,91

157

0,64 6,37 100

Nossos dados corroboram com os estudos de Araújo et al., (2007) por revelarem uma elevada prevalência de quadros de intoxicação por agrotóxico, fato que demonstra substancialmente a precariedade com que são realizadas as atividades envolvendo a manipulação com esses produtos. É bem comum, pessoas que vivem constantemente em contato com os agrotóxicos, apresentarem reações adversas a saúde. A problemática ocasionada pela exposição aos agrotóxicos é variada. Muitos autores têm abordado em seus estudos as consequências advindas por essas circunstâncias (NUNES; TAJARA, 1998; CALDAS, SOUZA, 2000; ARAÚJO et al., 2007). É notória a importância de lidar

corretamente com

os

agrotóxicos.

Por

sua periculosidade,

torna-se

indispensável saber manipulá-los da forma mais segura possível, sendo desejado o excesso de zelo por parte dos envolvidos. De todos os trabalhadores rurais que referiram ter sofrido intoxicação, apenas nove (28,12%), relatou procurar ajuda médica pelo menos uma vez na vida para tratar os sintomas. O restante afirmou ter o costume da automedicação e ou

MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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Artigo Original

em certos casos se dirigir a algum balconista de farmácia, como também corresponder à indicação de amigos e farmacêutico. No homem, as intoxicações podem ocorrer de duas formas. A exposição a um determinado produto químico em grandes doses por um curto período causa os efeitos agudos. A associação causa/efeito geralmente é fácil de ser estabelecida. O quadro agudo varia de intensidade, desde leve até grave, como náusea, vômito e cefaléia até mesmo à dificuldade de respirar, presença de hemorragia, convulsões, coma e morte. A outra forma de intoxicação e mais preocupante, é a crônica. Esta é de reconhecimento clínico bem mais difícil, principalmente quando há exposição a múltiplos contaminantes, situação bastante comum no trabalho agrícola. Está relacionada com exposições por longos períodos e em baixas concentrações (SILVA et at., 2005). Os sinais e sintomas apresentados por uma pessoa intoxicada variam de acordo com sua forma e/ou estágio que se apresenta, no entanto, outro fato importante merece registro. Esclarecem Silva et al., (2006) que sempre que um paciente sair de um quadro de intoxicação aguda, deve-se investigar a possibilidade de uma intoxicação crônica a partir da história de exposição, pois os sinais e/ou sintomas presentes na intoxicação aguda podem também ser relativos à intoxicação crônica. Dessa maneira é de grande importância, que a equipe de saúde e particularmente, o médico, que assiste pacientes com este tipo de agravo fiquem bastante atentos. Como se percebe, nem sempre o quadro clínico para a intoxicação aguda e crônica se encontra bem definido. Para trabalhar e produzir frente ao risco torna-se imprescindível que o homem, ao manusear com agrotóxicos, reconheça e tome certos cuidados, procurando evitar os perigos existentes. Em relação à percepção dos agricultores quanto ao risco de trabalhar com essas substâncias, mais da metade (54,16%) consideram esses produtos prejudiciais a saúde, reconhecendo o impacto que ele pode trazer na vida daqueles que manipulam com essas substâncias. Semelhante ao nosso estudo foi o de Brito; Gomide e Câmara (2009). Ao analisarem a opinião

MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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dos informantes a respeito dos riscos dos agrotóxicos à saúde, verificaram que grande maioria respondeu acreditar que esses compostos químicos podem fazer mal a sua saúde. Em síntese, entre os riscos citados pelos trabalhadores deste estudo, encontra-se, a possibilidade do surgimento de sinais e sintomas desagradáveis, de desenvolver doenças, de intoxicação, envenenamento e risco de morte após o uso inadequado com esses produtos no campo. Contudo, apesar de possuírem algum tipo de entendimento a respeito dos efeitos adversos à saúde, os relatos, porém, demonstraram pessoas ainda não tão bem esclarecidas e precisas a respeito do potencial tóxico dos agrotóxicos. Este modelo sugere a necessidade de maiores informações, pois como frisam outros pesquisadores, as referências aos cuidados, ao uso seletivo e à existência de alternativas a seu emprego, estão ausentes no comércio (PERES et al., 2001). As informações dirigidas ao homem do campo ainda se encontram inteiramente dependentes de uma série de interesses, principalmente o econômico (PERES; MOREIRA, 2007). Os riscos a que o trabalhador está exposto, mais que entidades físicas independentes, estão intimamente relacionadas com a maneira com que essa população enfrenta os perigos existentes. O conhecimento destes determinantes é essencial ao entendimento do problema. Para esta informação registra-se todos os utensílios de proteção utilizados pelo grupo: luvas, máscara, chapéu, óculos de segurança, botas e roupas de proteção. A grande maioria dos que manipulam com estes produtos não se protegem adequadamente, (72,92%) utilizam apenas um e/ou dois destes protetores. O uso de mais de dois equipamentos de proteção foi referido por uma pequena minoria (10,41%), como observado na tabela 5. Importante ressaltar que destes últimos apenas (2,08%) utiliza todos os equipamentos de proteção aqui listados.

MARTINS, Myrella Klesy Silva; CERQUEIRA, Gilberto Santos; SAMPAIO, Ana Márcia Alves; LOPES, Aline Alves; FREITAS, Rivelilson Mendes. Exposição Ocupacional aos Agrotóxicos: Um Estudo Transversal. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 6-27, Out. 2012.

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Artigo Original Tabela 5 - Uso de EPIs pelos trabalhadores rurais da cidade de Icó, CE, durante a exposição a agrotóxicos Uso de EPIs + 2

Exposição ocupacional Sim n

Não %

n

%

X2

p-valor

1,116

0,2907

Uso EPI

05

10,41

00

0

Não Usa

35

72,92

08

16,66

Constatou-se que não existe diferença estatisticamente significante entre os participantes que utilizam até dois equipamentos de proteção em relação àqueles que fazem uso de mais de dois equipamentos de proteção. Consumo (X2=1,116, p=0,2907) (Tabela 5). Os resultados encontrados no presente estudo indicam baixa utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs) durante o manuseio com agrotóxicos. A análise desse dado possibilitou um achado semelhante ao de Recena e Caldas (2008). Do ponto de vista operacional, os métodos utilizados para a segurança devem ser seguidos a rigor, uma vez que as sequelas apresentadas pelo seu uso inadequado, em muitos casos são impossíveis de se reverter com precisão. Com essa visão, a proteção através do uso de EPIs adequados, é atualmente a referência básica adotada, pois quando adequados e bem utilizados podem evitar e ou reduzir a quantidade de agrotóxicos que possa vir a entrar no organismo. A razão alegada pelos agricultores para a não utilização dos equipamentos de proteção se deveu pela carência econômica, ausência de informação sobre a importância da segurança diante o manuseio com esses agentes químicos, e em outras circunstâncias tratouse de um comportamento voluntário desenhado pelo desleixo com relação ao seguimento desses aspectos. Naturalmente, certas vezes devido à difícil viabilização no setor rural, a utilização dos equipamentos de proteção quase não é seguida a vigor. Essa

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problemática é apontada por outros autores, como Siqueira e Kruse, (2008). Frisam que no momento do preparo e na sua utilização, os EPIs tendem a não ser utilizados devido nem sempre estes encontrarem-se adequados à realidade e ao clima enfrentados pelos trabalhadores brasileiros. Assim sendo, a atitude de desprezo ao risco não pode ser tomada ao pé da letra, como se o trabalhador desconhecesse por completo os riscos inerentes à atividade executada. Para firmar a importância de manusear agrotóxicos protegido adequadamente com os EPIs, Soares; Freitas e Coutinho (2005) em estudo procurando avaliar as características do trabalho rural em determinado município do Rio de Janeiro, constataram que as chances de intoxicação entre dois indivíduos com semelhantes atribuições de modelo, exceto o uso de EPI, esteve aumentada em até 535% para àquele que não o utiliza. Já é bem sábia, que o uso inadequado do agrotóxico expõe o operador a contaminação. Porém tal fato pode ser amenizado quando são respeitadas e seguidas as orientações básicas conforme determina a lei. As preocupações com a segurança e a saúde no trabalho agrícola merecem destaque por conta da contínua expansão de produção agrícola. É indiscutível que tantos trabalhadores continuem altamente expostos, sendo normalmente intoxicados/contaminados em decorrência de práticas inadequadas na utilização destes produtos de notória toxicidade. Considerações Finais Os dados aqui sumarizados revelaram que o grupo de trabalhadores entrevistados encontra-se vulnerável à exposição dos agrotóxicos e às intoxicações causadas por essas substâncias devido a fatores como, baixa escolaridade, carência econômica o que dificulta o investimento em equipamentos de proteção, situações despreparadas para a manipulação dessas substâncias devida à ausência de apoio técnico necessário, como a falta de equipamentos de proteção adequados, tempo e frequência de exposição e ausência de informações sobre os riscos associados à saúde em decorrência de determinados agrotóxicos.

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A conscientização dos agricultores quanto aos elevados riscos advindos

pela utilização de agrotóxicos, é o primeiro passo para mudar o atual quadro. Dessa maneira, é de extrema importância que os órgãos competentes, governo e profissionais de saúde local, estimulem a prevenção desenvolvendo ações integradoras e interdisciplinares que visem à proteção da saúde do trabalhador por meio do estabelecimento de políticas voltadas basicamente para campanhas educativas, fortalecendo a importância da utilização de equipamentos de proteção e adoção de outras ações/cuidados, frente aos efeitos nocivos dos agrotóxicos, assim como apontar estratégias alternativas de sistema de plantio. Referências ALMEIDA-FILHO, N.; ROUQUAYROL, M.Z. Introdução a epidemiologia. Rio de janeiro: Medsi, 2002. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos: relatório Anual 4/06/2001 – 30/ 06/2002, Brasília, 2003.

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Artigo Original Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho

Mariana Costa de Menezes Farmacêutica graduada pelo Curso de Farmácia da Universidade Federal do Ceará.

Auriana Serra Vasconcelos Farmacêutica graduada pelo Curso de Farmácia da Universidade Federal do Ceará.

Janete Eliza de Sá Soares Professora doutora da Disciplina de Toxicologia de Alimentos, Departamento de Farmácia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

Wanderley Pinheiro de Holanda Junior Perito farmacêutico, da Perícia Forense do Ceará (PEFOCE).

Teresa Maria de Jesus Ponte Carvalho Professora doutora da Disciplina de Análises Toxicológicas, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

MENESES, Mariana Costa de; VASCONCELOS, Auriana Serra; SOARES, Janete Eliza de Sá; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho . RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 28-41, Out. 2012.

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Artigo Original Resumo

As análises toxicológicas exercem papel importante na identificação de agentes tóxicos em materiais diversos. A metodologia de investigação de uma análise forense inicia-se por testes de triagem e em uma fase posterior através dos métodos de confirmação. Os métodos de triagem visam orientar os estudos dirigidos os quais são considerados métodos confirmatórios. O objetivo do trabalho foi desenvolver métodos cromatográficos qualitativos por Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) para identificação de aldicarb e carbofuran em amostras de raticidas comercializados ilegalmente (chumbinho). Por CCD, o agente cromogênico selecionado foi o cloreto de paládio em HCl e nebulização por carbonato de sódio e a fase móvel selecionada foi n-hexano:acetato de etila (50:50). Por CLAE, a fase móvel utilizada foi acetonitrila:água (55:45 v/v), pH 3,0 com ácido fosfórico (1:2, v/v). O comportamento cromatográfico por CCD foi: coloração amarela (aldicarb) e marrom (carbofuran), fator de retenção de 0,5 e 0,65, respectivamente. A presença de aldicarb e carbofuran foi evidenciada nas três amostras de chumbinho analisadas por CCD. Na análise confirmatória por CLAE, o aldicarb e carbofuran foram confirmados nas amostras 1 e 2, mas, apenas carbofuran foi confirmado na amostra 3. A CCD é um método de triagem menos seletivo e a CLAE é considerada um método de confirmação, sendo essencial na utilização em análises forenses. As condições cromatográficas utilizadas nas duas metodologias permitiram a diferenciação dos padrões analisados. Palavras-chave: Chumbinho, Aldicarb, Carbofuran, CLAE, CCD

MENESES, Mariana Costa de; VASCONCELOS, Auriana Serra; SOARES, Janete Eliza de Sá; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho . RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 28-41, Out. 2012.

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Artigo Original Abstract

The toxicological analyzes play an important role in the identification of toxic agents in different materials. The research methodology for forensic analysis begins with screening at a later stage with the methods of confirmation. The screening methods designed to guide directed study, since they indicate substances to be confirmed. The aim of this study was to develop chromatographic methods for qualitative Thin Layer Chromatography (TLC) and High Performance Liquid Chromatography (HPLC) for identification of aldicarb and carbofuran, in samples of rat poison sold illegally, the “chumbinho”. By TLC, the chromogenic agent selected was palladium chloride in HCl, followed by spraying of sodium carbonate and the mobile phase selected was n-hexane: ethyl acetate (50:50). By HPLC, the mobile phase was acetonitrile:water (55:45 v/v), pH 3.0 with phosphoric acid (1:2, v/v). The TLC chromatographic behavior was: yellow (aldicarb) and brown (carbofuran), with retention factor of 0.5 and 0.65, respectively. The presence of aldicarb and carbofuran was detected in three samples of “chumbinho” analyzed by TLC. In confirmatory analysis by HPLC, the aldicarb and carbofuran were confirmed in samples 1 and 2, but only carbofuran was confirmed in the sample 3. The CCD is a less selective screening method and HPLC is considered a confirmatory method, emphasizing this use in forensic analysis. The chromatographic conditions used in the two methods allowed differentiation patterns analyzed. Keywords: Chumbinho, Aldicarb, Carbofuran, HPLC, TLC

MENESES, Mariana Costa de; VASCONCELOS, Auriana Serra; SOARES, Janete Eliza de Sá; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho . RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 28-41, Out. 2012.

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Artigo Original 1 - Introdução

A Toxicologia Forense trata da aplicação da ciência dos toxicantes com o objetivo de elucidar um evento criminal (MOREAU; SIQUEIRA, 2008) e está intimamente ligada às Análises Toxicológicas, que são análises químicas capazes de quantificar e/ou identificar substâncias que causem efeitos tóxicos no organismo (KLAASSEN, 2008). Portanto, as análises toxicológicas exercem papel importante ao detectar e identificar agentes tóxicos em material biológico ou em materiais diversos como água, alimentos, medicamentos e produtos comercializados no mercado ilícito que estejam envolvidos em ocorrências policiais/legais (OGA et al., 2008). A metodologia de investigação de uma análise forense inicia-se por testes gerais ou de triagem e em uma fase posterior recorre-se aos métodos de confirmação (RANGEL, 2003). Os métodos de triagem visam orientar o estudo dirigido, pois indicam substâncias a serem confirmadas, bem como excluem grupos. Os métodos dirigidos são considerados confirmatórios (MOREAU; SIQUEIRA, 2008). A Cromatografia em Camada Delgada (CCD) tem sido empregada como método de triagem para a detecção de compostos carbâmicos, como o aldicarb (XAVIER et al., 2007) e a CLAE como método de confirmação (MELITO, 2004) com finalidade forense. A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência é bastante utilizada como método de triagem ou confirmação e, juntamente com a espectrometria de massa, é a técnica de eleição para confirmação por fornecer máxima especificidade possível (MOREAU; SIQUEIRA 2008). O praguicida conhecido por “chumbinho” é comercializado ilegalmente como raticida, sendo utilizado também em tentativas de suicídio e homicídios (MORAES, 1999; REBELO 2006). Atualmente, é um produto que tem papel importante nas intoxicações exógenas no Brasil por ser de fácil acesso e baixo custo, apresentando altos índices de mortalidade e morbidade, tornando-se um problema de Saúde Pública (SILVA, 2010) e um produto de interesse da Toxicologia Forense.

MENESES, Mariana Costa de; VASCONCELOS, Auriana Serra; SOARES, Janete Eliza de Sá; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho . RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 28-41, Out. 2012.

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Artigo Original

Logo, o desenvolvimento de métodos capazes de identificar substâncias de

interesse forense, permite estabelecer nexo causal entre um determinado evento e um efeito, ou mesmo a tentativa deste, possibilitando a elucidação de uma investigação. O objetivo do trabalho é padronizar métodos cromatográficos qualitativos por Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) para identificação de aldicarb e carbofuran em amostras de raticidas comercializados ilegalmente (chumbinho).

2 Materiais e Métodos Trata-se de um estudo analítico, qualitativo, utilizando-se o método de Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). O trabalho foi realizado no Laboratório de Pesquisa em Toxicologia do Curso de Farmácia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Os carbamatos utilizados foram aldicarb (Fluka® 99,9%) e carbofuran (Aldrich® 98%) e as amostras apreendidas de chumbinho foram cedidas pela PEFOCE (Perícia Forense do Ceará). .

2.1 Equipamentos e materiais Foram utilizados os seguintes equipamentos: aparelho de CLAE com sistema de bombeamento, detector com arranjo de diodos (PDA) (Accela Thermo Scientific®) e sistema de aquisição de dados ChromQuest 5.0 (Thermo Scientific®); Coluna analítica ODS HYPERSIL (250 x 4,6 mm) da Thermo Scientific®; Bomba à vácuo GAST®; Balança Analítica de precisão RK®-200; Micropipetadores automáticos (PIPETMAN®Neo GILSON® ); Sistema de purificação de água Purelab (ELGA®, com resistividade 18,2 MΩ.cm). E, como reagentes: diclorometano, ácido fosfórico e acetona, para análise (VETEC® P.A). Metanol (ISOFAR®) e acetonitrila (J.T.Baker®), grau HPLC, além de cromatoplacas para CCD (ALUGRAM ® SIL G/UV 254).

MENESES, Mariana Costa de; VASCONCELOS, Auriana Serra; SOARES, Janete Eliza de Sá; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho . RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 28-41, Out. 2012.

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Artigo Original 2.2 Condições cromatográficas

Para a Cromatografia em Camada Delgada (CCD), foram preparadas soluções de aldicarb e carbofuran a 5 % em Metanol P.A. e as amostras de chumbinho foram maceradas, tendo o diclorometano P.A. como solvente extrator e aplicadas em cromatoplacas. Foram utilizados os seguintes reveladores: 1- Rodamina B 0,25 % Etanol; 2Solução de Draggendorf: inicialmente foram preparadas as soluções estoque A (2g de nitrato básico de bismuto e 25 ml de ácido acético em 100 ml de água destilada) e B (Solução aquosa de iodeto de potássio 40 %). E em seguida a solução de uso: 10 ml da solução A, 10 ml da solução B, 20 ml de ácido acético e completando-se o volume com 100 mL de água destilada; 3- Cloreto de Paládio 0,5 % em HCl 10 %; 4Carbonato de Sódio 10 %; 5-Reativo de Iodoplatinato: 1g de ácido hexacloroplatínico em 100 ml de água contendo 10g de iodeto de potássio (MORAES et al., 1991; BRITO FILHO, 1983 apud BELUTA, 2010; BULCÃO et al., 2010; XAVIER et al., 2007). Foram testadas diferentes fases móveis, variando os solventes (n-hexano, clorofórmio, acetona, acetato de etila) e as proporções destes, a fim de escolher a fase com melhor separação das substâncias padrões analisadas (Tabela 1). Para a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), a solução do padrão aldicarb foi preparada a 1 % em metanol e em seguida foi diluída obtendo-se uma concentração de 1 µg/mL. A solução estoque de carbofuran foi preparada na concentração de 200 μg/mL em acetonitrila grau HPLC. Diluindo-se a solução estoque com acetonitrila:água (50:50), obtiveram-se as soluções trabalho de 10 μg/mL e de 5 μg/mL, as quais foram armazenadas em frasco âmbar. Foi utilizado o comprimento de onda de 205nm e fase móvel constituída de solventes como água, acetonitrila e metanol testados em diferentes proporções e utilizando-se aditivos como o ácido fosfórico.

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Artigo Original 3- Resultados e Discussão

3.1 Análise das substâncias por CCD Diversas fases móveis foram testadas (Tabela 1) e a fase composta por nhexano/acetato de etila (50:50) foi a que apresentou uma melhor separação das substâncias padrões analisadas. Comparando-se as fases móveis testadas observou-se que ao utilizar um solvente de maior polaridade (clorofórmio versus hexano ou acetato de etila versus hexano), aumenta a capacidade de eluição dos padrões analisados. Logo, aumentando-se a proporção de acetato de etila, obtevese um valor de Rf satisfatório e distinto entre os padrões analisados.

Tabela 1: Eluentes testados para CCD Eluente

Aldicarb (Rf)

Carbofuran (Rf)

n-hexano/acetona ( 80:20)

0,17

0,20

Clorofórmio/acetona (70:30)

0,68

0,68

n-hexano/acetona 70:30

0,27

0,35

SR

SR

n-hexano/acetona 60:40

0,45

0,47

n-hexano/acetona 70:30

0,38

0,43

SR

SR

0,50

0,65

n-hexano/metanol/amônia 80:20:2

Hexano:acetato de etila 90:10 n-hexano/acetato de etila 50:50 SR: não houve eluição; Rf: fator de retenção

Os agentes cromogênicos (reveladores) utilizados em análises de carbamatos foram selecionados na literatura e utilizados individualmente e, em combinação. A Tabela 2 mostra a relação de colorações obtidas pelos padrões aldicarb e carbofuran após a revelação das placas. A utilização de métodos químicos e físicos para detectar compostos após separação ou identificação por CCD é de fundamental importância, pois, através

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Artigo Original

destes artifícios, substâncias incolores como o aldicarb e carbofuran podem ser visualizadas (COLLINS et al.,2007). O Draggendorf iodado e o reagente de Iodoplatinato

apesar

de

serem

utilizados

na

identificação

de

alcalóides

(TOUCHSTONE, 1992), não apresentou uma revelação satisfatória. E a Rodamina , na presença do carbonato de cálcio, apresentou a formação de mancha rósea para os dois compostos analisados. O cloreto de paládio é um reagente cromogênico utilizado em marcha analítica para detecção de praguicidas (ALVES, 2005). Dentre os sistemas reveladores testados, a revelação realizada com o cloreto de paládio seguido de nebulização por carbonato de sódio foi considerado o que apresentou melhor adequação para identificação de aldicarb e carbofuran no presente estudo, uma vez que o cloreto de paládio gera coloração distinta entre as substâncias analisadas, podendo a cor ser uma característica de diferenciação de aldicarb (colocação amarela) e carbofuran (coloração marrom). O carbonato de sódio age como fixador, ressaltando a cor e permitindo que a mancha fique visível por mais tempo do que se o cloreto de paládio fosse aplicado isoladamente. TABELA 2: Comportamento dos padrões (aldicarb e carbofuran) frente aos diversos agentes cromogênicos utilizados no processo de revelação por CCD Revelador

Aldicarb

Carbofuran

Iodoplatino

Branco fugaz

Branco fugaz

Rodamina β

Sem visualização

Sem visualização

Rodamina β e Na2CO3

Róseo claro

Róseo claro

Cloreto de Paládio

Amarelo

Branco

Draggendorf

Sem visualização

Sem visualização

Rodamina e Cloreto de Paládio

Róseo

Róseo

Cloreto de Paládio e Na2CO3

Amarelo

Marrom

Iodoplatino e Na2CO3

Sem visualização

Sem visualização

Na2CO3 – Carbonato de sódio

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Artigo Original As três amostras de chumbinho apreendidas pela PEFOCE foram analisadas utilizando-se a fase móvel n-hexano/acetato de etila (50/50) e o sistema de revelação Cloreto de Paládio e Na2CO3. As soluções das amostras foram posteriormente aplicadas na cromatoplaca juntamente com os padrões (aldicarb e carbofuran) (Tabela 3). TABELA 3: Análise por CCD das amostras apreendidas. Padrões/Amostras

Fator de Retenção

Cores

(Rf) Aldicarb

0,35

Amarela

Carbofuran

0,46

Marrom

Amostra 1

0,35 e 0,46

Amarela / Marrom

Amostra 2

0,35 e 0,46

Amarela /Marrom

Amostra 3

0,35e 0,46

Amarela /Marrom

Condições CCD: Fase Móvel (n-hexano:acetato de etila- 50:50); Revelação: Cloreto de Paládio e Na2CO3

A análise qualitativa de uma substância realiza-se através da cor da mancha e de seu fator de retenção (COLLINS et al., 2007). As amostras analisadas apresentaram comportamentos semelhantes aos padrões, suspeitando-se após a CCD da presença dos compostos aldicarb e carbofuran nos produtos apreendidos, cujos resultados serão confirmados pela CLAE. 3.2- Análise das substâncias por CLAE Foram utilizadas a solução estoque 200 μg/ml em acetonitrila e soluções de trabalho de 5μg/ml e 10 μg/ml (Àgua:ACN 1:1 ). O ideal é que o solvente utilizado no preparo das soluções de análise seja o mesmo da fase móvel, para que não sofra precipitação no injetor ou na coluna (COLLINS et al., 2007). Entre os comprimentos de onda analisados, aquele que se obteve máxima absorção foi o de 205 nm. Dentre as composições apresentadas, a que forneceu melhor resolução e separação dos analitos foi a mistura acetonitrila:água (55:45,v/v), acidificada até pH 3,0 com ácido fosfórico (1:2, v/v).

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Artigo Original

Devido à polaridade da fase estacionária em CLAE, normalmente mais apolar

que a móvel, quanto mais hidrofóbico for o analito analisado, mais ele é retido. Ao acidificar a fase móvel, o analito se torna ionizado, fica menos hidrofóbico e diminui a sua retenção na fase estacionária (KURZ, 2007). Por isso, para garantir melhor separação e resolução dos analitos em estudo é necessária a acidificação da fase móvel. Foi realizada a análise dos padrões aldicarb e carbofuran em soluções distintas e posteriormente em uma única solução, observando-se que os padrões analisados (aldicarb – 4,1 min e carbofuran – 4,9 min), logo havendo separação das substâncias nas condições de análise portanto, identificados de maneira satisfatória. O cromatograma a seguir ilustra o comportamento obtido por esta análise (Figura 1). FIGURA 1: Cromatograma padrões de aldicarb e carbofuran em CLAE UV- 205nm, coluna ODS HYPERSIL. Fase móvel ACN:H20 (55:45) com H 3PO4 (1:2) pH 3; fluxo 1ml/min.

As amostras de chumbinho apreendidas pela PEFOCE e extraídas com diclorometano foram analisadas por CLAE nas mesmas condições de análise que os padrões de aldicarb e carbofuran (Figura 2). MENESES, Mariana Costa de; VASCONCELOS, Auriana Serra; SOARES, Janete Eliza de Sá; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho . RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 28-41, Out. 2012.

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Artigo Original

Nos cromatogramas A e B, referentes às amostras 1 e 2, respectivamente,

pôde-se identificar a presença de aldicarb (tempo de retenção = 4,1 na amostra 1 e 3,9 na amostra 2) e carbofuran (tempo de retenção = 4,9 na amostra 1 e 5,0 na amostra 2). Enquanto que no cromatograma C referente à amostra 3, observa-se apenas a presença do carbofuran (tempo de retenção = 5,0). FIGURA 2: Cromatogramas das amostras de chumbinho em CLAE UV- 205nm, coluna ODS HYPERSIL em fase móvel ACN:H20 (55:45) com H3PO4 (1:2) até pH 3; fluxo 1ml/min. A- Amostra 1. B – Amostra 2. C – Amostra 3.

A

B

C

Em todos os cromatogramas obtidos foi possível observar o aparecimento de picos que não correspondiam aos padrões analisados. Por tratar-se de amostras impuras e não de padrões, tal comportamento já era esperado. Novos procedimentos para o preparo da amostra devem ser testados como a extração em fase sólida, a fim de que seja eliminado o maior número de interferentes. O preparo da amostra tem como objetivo a remoção dos componentes interferentes das amostras, a extração dos analitos da matriz estudada, além do enriquecimento

seletivo

das

substâncias

a

serem

analisadas

(MOREAU;

SIQUEIRA, 2008). MENESES, Mariana Costa de; VASCONCELOS, Auriana Serra; SOARES, Janete Eliza de Sá; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Utilização de métodos analíticos na toxicologia forense para identificação de carbamatos presentes no chumbinho . RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 28-41, Out. 2012.

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Artigo Original 4- Conclusão As condições cromatográficas obtidas e selecionadas durante o estudo permitiram

a diferenciação dos carbamatos

estudados, sendo possível a

padronização do método por CCD e por CLAE para identificação de aldicarb e carbofuran em amostras de raticidas comercializados ilegalmente (chumbinho). A análise por CCD com fase móvel n-hexano/acetato de etila (50/50) e revelação com cloreto de paládio e carbonato de sódio, identificou a presença de aldicarb e carbofuran nas três amostras estudadas. Já o método por CLAE UV205nm, coluna ODS HYPERSIL, fase móvel ACN:H20 (55:45) com H3PO4 (1:2) até pH 3; fluxo 1ml/min., indicou a presença de aldicarb e carbofuran nas amostras 1 e 2 e a presença de apenas carbofuran na amostra 3. Isto se justifica, uma vez que a CCD é um método de triagem e menos seletivo. Os resultados de triagem orientam os métodos dirigidos, considerados confirmatórios. A CLAE é considerada um método de confirmação (MOREAU; SIQUEIRA, 2008). Portanto, pode-se afirmar que as amostras1 e 2 possuem aldicarb e carbofuran em sua composição e que a amostra 3 possui apenas carbofuran em sua composição, não sendo identificada a presença de aldicarb. 5- Referências ALVES, S.R. Toxicologia Forense e Saúde Pública: desenvolvimento e avaliação de um sistema de informações como ferramenta para a vigilância de agravos decorrentes da utilização de substâncias químicas. 151f. Tese (Doutorado) Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2005. BELLUTA, I. et al. Avaliação temporal e espacial no córrego do Cintra (BotucatuSP) frente aos defensivos agrícolas e parâmetros físico-químicos de qualidade da água: um estudo de caso. Rev. Energia Agric., Botucatu, v. 25, n. 2, p.54-73, 2010.

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Artigo Original BULCÃO, R.P. et al. Intoxicação em cães e gatos: diagnóstico toxicológico empregando cromatografia em camada delgada e cromatografia líquida de alta pressão com detecção ultravioleta em amostras estomacais. Ciência Rural, Santa Maria, v.40, n.5, p.1109-1113, 2010. COLLINS, C.H. et al. Fundamentos de cromatografia. Campinas: Unicamp. 2ª Ed. 451 p. 2007. KLAASSEN, C. D. Carasett and Doull´s Toxicology: The Basic Science of Poisons. 7th ed. Kansas City: Mcgraw-hill. 1309 p. 2008 KURZ, M. H. S. Estudo de métodos empregando extração em fase sólida e análise por HPLC-DAD e GC-ECD para a determinação de resíduos de pesticidas em águas e da degradação a campo. 161 f. Tese (Doutorado) Programa de Pós-graduação em Química, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007. MELITO, A. L. Metodologia para identificação cromatográfica de aldicarb em sangue de cães e gatos intoxicados. 64 f. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. MORAES, E. C. F.; SZNELWAR, R. B.; FERNICOLA, N. A. G. Manual de Toxicologia Analítica. São Paulo: Livraria Roca, 229 p. 1991. MORAES, A. C. L. Contribuição para o estudo da intoxicação humana por carbamatos: o problema do “chumbinho” no Rio de Janeiro. 133 f. Dissertação (Mestrado) - Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1999.

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Artigo Original

MOREAU, R. L. M.; SIQUEIRA, M. E. P. B. Toxicologia Analítica. 1ª Ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,. 2008. OGA, S.; CAMARGO, M. M. A.; BATISTUZZO, J. A. O. Fundamentos de toxicologia. 3ª Ed. São Paulo: Atheneu, 2008. RANGEL, R. Noções gerais sobre outras Ciências Forenses. Porto: Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, 58 p. 2003. REBELO, F.M. Intoxicações por Agrotóxicos e Raticidas no Distrito Federal em 2004 e 2005. 104 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília, Brasília, 2006. SILVA, A. C. S; VILELA, F. P; BRANDÃO I, G. M. O. N. Intoxicação exógena por “chumbinho” como forma de autoextermínio no Estado de Goiás, 2003 - 2007. Rev. Eletrônica Enferm. Goiânia, v. 12, n.4, p.686-691, 2010. TOUCHSTONE, J. C. Practice of thin layer chromatography 3th ed. Pensilvânia: John Wiley & Sons, 1992. XAVIER, F.G. et al. Cromatografia em camada delgada para o diagnóstico da intoxicação por aldicarb (“chumbinho”) em cães e gatos. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., São Paulo, v. 59, n. 5, p.1231-1235, 2007. XAVIER, F. G. Intoxicação por Aldicarb ("Chumbinho"): I- Estudo das alterações post mortem microscópicas em cães e gatos II - Avaliação dos efeitos tóxicos em camundongos. 2008. 201 f. Tese (Doutorado) - Curso de Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

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ENSAIO Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública

Helen Michelle de Jesus Affe¹ ¹Helen Michelle de Jesus Affe – Bióloga, Mestre em Ecologia de Sistemas Aquáticos Tropicais. Pesquisadora no Laboratório de Oceanografia Biológica, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, Ilhéus, Bahia. helenmaffe@gmail.com

Suzi de Almeida V. Barboni² ²Suzi de Almeida Vasconcelos Barboni - Licenciatura em Ciências, Habilitação em Biologia, Doutoranda em Saúde Pública. Professor adjunto da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, Laboratório de Microbiologia Aplicada e Saúde Pública (LAMASP), Feira de Santana, Bahia.

AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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ENSAIO Resumo

As toxinas produzidas por algumas espécies de cianobactérias são metabólitos secundários de grande importância no âmbito da saúde pública tendo em vista os riscos que estas toxinas oferecem à saúde humana quando correm em corpos hídricos utilizados para abastecimento. De uma forma geral existem quatro grupos de cianotoxinas, classificados em função de sua ação no organismo e orgão alvo afetado. As neurotoxinas atuam no sistema nervoso bloqueando a transmissão do sinal neurônio-neurônio. Hepatotoxinas atuam sobre o citoesqueleto dos hepatócitos provocando perda da função hepática. Há indícios de que a ação de doses sub-letais de hepatotoxinas estaria associada ao desenvolvimento de câncer hepático. As dermatotoxinas são relacionadas com casos de dermatites de contato relacionada à ocorrência de microalgas produtoras de dermatoxinas, especialmente em águas de uso recreacional. Citotoxinas, por sua vez, formam um grupo intermediário de cianotoxinas com estrutura química semelhante às neurotoxinas e causando sintomas similares aos provocados pelas hepatotoxinas. No presente trabalho busca-se discutir a importância do conhecimento à respeito das espécies formadoras de metabólitos tóxicos e do seu monitoramento em mananciais de abastecimento com vistas ao controle dos riscos que estas oferecem à saúde pública.

Palavras-chave: Cianotoxinas, Água, Saúde Pública.

AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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ENSAIO Abstract

The toxins produced by some species of cyanobacteria secondary metabolites are of great importance in the context of public health in view of the risks that these toxins offer both to human health when they run into water bodies used for supply. In general there are four groups of cyanotoxins, classified according to their action in the body and target organ affected. The neurotoxins act on the nervous system by blocking the transmission of the signal neuron-neuron. Hepatotoxins act on the cytoskeleton of hepatocytes leading to loss of liver function. There is evidence that the action of sublethal doses of hepatotoxins was associated with the development of liver cancer. The dermatotoxins are related to cases of contact dermatitis related to the occurrence of microalgae producing dermatoxinas, especially in recreational water use. Cytotoxins, in turn, form a group of cyanotoxins intermediate with a chemical structure similar to neurotoxins and causing symptoms similar to those caused by hepatotoxins. In this paper seeks to discuss the importance of knowledge about the species forming toxic metabolites and their sources of supply monitoring in order to control the risks that they offer to the public health.

Key words: Cyanotoxins, Water, Public Health.

INTRODUÇÃO

O que são cianotoxinas?

As cianotoxinas são metabólitos secundários produzidos por algumas espécies de cianobactérias (cianofíceas ou algas azuis) agrupados, de acordo com sua ação no organismo afetado, em: neurotoxinas (saxitoxina, neusaxitoxinas, anatoxina-a e anatoxina-a(s)), hepatotoxinas (microcistinas e nodularinas), dermatotoxinas

(aplisiatoxinas

e

debromoaplisiatoxina)

ou

citotoxinas

(cilindrospermopsinas) apresentando uma série de efeitos patológicos no organismo intoxicado (HALLEGRAEFF et al., 1995; LAGOS et al., 1999; CHORUS, 2001; SOTERO-SANTOS et al., 2008; BITENCOUT-OLIVEIRA, 2011). De uma forma geral, as neurotoxinas atuam bloqueando a transmissão do sinal nervoso neurônio-neurônio e têm um efeito muito rápido, entre alguns AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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ENSAIO

minutos a poucas horas. A anatoxina-a foi a primeira toxina de cianobactérias a ser química e funcionalmente definida. Trata-se de uma amina secundária que é capaz de desencadear reações tais como desequilíbrio físico, fasciculação muscular, respiração ofegante e convulsões, além de morte devido à parada respiratória (AZEVEDO, 1998). As saxitoxinas e neusaxitoxinas atuam nos canais de sódio nos axônios interrompendo a transmissão nervosa (CARMICHAEL, 1996) podendo provocar morte por asfixia. Doses letais de saxitoxinas para o homem oscilam entre 1 e 3mg. A ingestão de quantidades menores que 1,1mg pode produzir sintomas neuromusculares de importância variável, como entumescimento, náuseas, movimentos desordenados e dificuldades respiratórias (Cianca, 2006). Espécies dos gêneros: Anabaena, Aphanizomenon, Planktothrix, Trichodesmium, Lyngbya e Cylindrospermopsis são as principais produtoras de saxitoxinas e anatoxina-a (CHORUS; BARTRAM, 1999, LAGOS et al., 1999, PROENÇA et al., 2009, FERRÃO-FILHO et al., 2010). Hepatotoxinas são polipeptídios cíclicos que atuam sobre o citoesqueleto dos hepatócitos inibindo as proteínas fosfatases e provocando perda da função hepática pela deformação celular e conseqüentes hemorragias intra-hepáticas, o que leva a um grande aumento no peso do fígado. Pesquisas apontam que a ação de doses subletais das hepatotoxinas (microcistinas e nodularinas) estaria associada ao desenvolvimento de câncer hepático (FALCONER 1996; ZHANG et al., 2009). Em investigações desenvolvidas na China, em uma localidade onde ocorriam elevada frequência dessa neoplasia, detectou-se a ocorrência de cianobactérias nos mananciais de água usadospara consumo pela população local (CÔELHO, 1998). Microcistinas e nodularinas são hepatotoxinas produzidas por espécies dos gêneros: Microcystis, Anabaena, Nodularia, Oscillatoria, Nostoc e Cylindrospermopsis (CARMICHAEL 1994; CHORUS; BARTRAM, 1999; MAGALHÃES et al., 2001; AZEVEDO et al., 2002; FIGUEIREDO et al., 2004; KANKAANPÄA et al., 2007). A ocorrência de dermatites de contato está relacionada à detecção, especialmente em águas de uso recreacional, de microalgas produtoras de dermatoxinas compostas por alcalóides associados, inclusive, com a formação de

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ENSAIO

tumores e inflamação gastrointestinal por ingestão de água contaminada (CHORUS; BARTRAM, 1999). As citotoxinas formam um grupo intermediário de cianotoxinas produzidas pelas espécies Cylindrospermopsis raciborskii, Umezakia natans e Aphanizomenon ovalisporum. Apresentam a estrutura química de alcalóide, como as neurotoxinas, e sintomatologia similar à provocada pelas hepatotoxinas, já tendo sido associadas à patologias em rins, baço, fígado, timo e coração humano (CHORUS; BARTRAM, 1999).

Florações de algas nocivas e eutrofização

As cianobactérias figuram entre os primeiros organismos existentes no planeta. São microrganismos oxifotoautotróficos, com capacidade de fixação de nitrogênio (diazotróficos) que desempenharam um papel importante na formação da atmosfera oxidante da forma que esta é conhecida hoje, como os primeiros seres fotossintetizantes do planeta (DISMUSKES, 2001). São organismos de vida livre com uma ampla plasticidade ecológica, habitando uma grande variedade de habitats. Contêm clorofila a e o amido das cianofícias (glicogênio) como substâncias de armazenamento (LEE, 1999) e sua coloração verde-azulada, decorre da presença dos pigmentos ficocianina, aloficocianina, ficoeritrina e beta-caroteno nas membranas lipoproteicas (ZOHARY; ROBERTS, 1990; FARQUAHR et al., 2000; FURTADO, 2007; RODRIGUES, 2008; MANTOVANI 2011). O desenvolvimento massivo (florações ou blooms) desses microrganismos geralmente está associado às condições eutróficas da água, decorrentes do crescente enriquecimento de matéria orgânica, especialmente de Fósforo e Nitrogênio, ocasionados pelas descargas contínuas de esgotos domésticos e industriais nos corpos hídricos, representando, inclusive sérios problemas de saúde pública (BITENCOUT-OLIVEIRA; MOLICA, 2003), embora se saiba que florações algais ocorram naturalmente e de forma sazonal em alguns ambientes, como resposta á condições propícias do regime de luz do sol, disponibilidade de nutrientes e

AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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condições hidrodinâmicas, que modificam a estabilidade da coluna de água (SOLÉ et al., 2005). Ambientes de águas calmas com elevado tempo de residência, estratificação térmica e onde a velocidade do vento é insuficiente para promover misturas na coluna d’água, apresentam condições ideais para o desenvolvimento de florações (TUNDISI et al., 2004) que se apresentam como manchas coloridas na superfície da água e tem como grande inconveniente o fato de em mais de 60% dos casos serem formadas por espécies potencialmente tóxicas que provocam reações diversas no organismo humano (TUCCI et al., 2006). Nos últimos anos têm sido observadas grandes incidências de florações dessas algas em todo o mundo o que, frequentemente, vem sendo associada às condições tróficas da água (DOKULIL; TEUBNER, 2000; HUSZAR et al., 2000). As espécies de cianobactérias mais comumente encontradas formando florações são: Anabaena

flos-aquae,

Microcystis

aeruginosa,

Aphanizomenon

flos-aquae,

Oscillatoria agardii e Nodularia spumigena, todas produtoras de toxinas (MATTHIENSEN et al., 1999). Em reservatórios brasileiros, uma das espécies de cianobactéria de maior incidência é Cylindrospermopsis raciborskii. Trata-se de uma espécie produtora de toxinas extremamente agressivas que tanto podem causar problemas de Saúde Pública, quanto danos ao meio ambiente. Sua alta competitividade em ambientes eutrofizados, aliada à sua capacidade de formar florações e produzir toxinas, fazem desta espécie uma das cianobactérias mais estudadas tanto do ponto de vista ecológico, quanto de Saúde Pública. São duas as toxinas mais conhecidas: cilindrospermopsinas, um alcalóide com ação no fígado e rins, e a “toxina de poder paralisante” do tipo PSP (Paralytic Shellfish Poisons), que age no sistema neuromuscular (TUCCI et al., 2003).

Envenenamento por cianotoxinas no Brasil – casos de Saúde Pública

AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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ENSAIO No ano de 1988, foram registrados inúmeros casos de intoxicação humana relacionados ao consumo da água do reservatório de abastecimento público do Município de Itaparica na Bahia. A investigação destes eventos remeteram à causa dos problemas ao florescimento de microalgas tóxicas no referido reservatório (BITENCOUT-OLIVEIRA, MOLICA, 2003). O caso mais conhecido de intoxicação por cianotoxinas no Brasil ocorreu em Caruaru – Pernambuco em 1996, quando morreram 52 pacientes de hemodiálise no município. Este foi o ponto inicial para que as autoridades de Saúde Pública do Brasil voltassem a atenção para a importância das pesquisas sobre a ocorrência de cianobactérias em águas de abastecimento público e as toxinas produzidas biologicamente por algumas espécies formadoras de florações nos mananciais e pontos a montante destes (JOCHIMSEN et al., 1998; AZEVEDO et al., 2002). Estudos subsequentes ao caso de Caruaru apontaram que cianobactérias dos gêneros Aphanizomenon, Oscillatoria, Microcystis, Anabaena e Cylindrospermopsis eram dominantes nos reservatórios pernambucanos desde o início da década de 90. As análises químicas e biológicas das amostras, específicas do centro de hemodiálise, confirmaram a presença de microcistinas e cilindrospermopsinas na água (AZEVEDO et al., 2002; DÖRR et al., 2010). Na Bahia, em trabalho desenvolvido nas Estações de Tratamento de Água situadas no recôncavo baiano que recebem água da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu, SILVA (2003) detectou a ocorrência de cianobactérias potencialmente tóxicas, em nove das doze amostras da água bruta analisadas. Nas águas de abastecimento do município de Cachoeira registrou-se a ocorrência dos gêneros Phormidium e Anabaena; em Cruz das Almas, além de Phormidium, foi detectado o gênero Microcystis, e em Muritiba, nas três amostras de água bruta coletadas, registrou-se a ocorrência de Oscillatoria sp.. O referido autor ressalta que não foram encontradas microalgas nas amostras de água tratada. No entanto, é de fundamental importância a realização de testes confirmativos que detectem a presença de toxinas em águas de abastecimento, uma vez que ao sofrerem lise AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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celular as cianobactérias podem não estar presentes, mas as toxinas produzidas por estas podem ser liberadas por lise celular para o meio líquido. BITTENCOURT-OLIVEIRA et al. (2011) mencionam a escassez de trabalhos específicos sobre a ocorrência de toxinas algais em reservatórios brasileiros, relatando a detecção de cilindrospermopsinas em florações de cianobactérias em três reservatórios no Nordeste do Brasil, discutindo a facilidade de dispersão dessas toxinas e dos seus organismos produtores em decorrência das conexões existentes entre as bacias hidrográficas.

Cianobactérias e o padrão de potabilidade da água (legislação)

A importância do controle da qualidade da água de abastecimento público reside no conhecimento de que esta é um forte veículo transmissor de doenças e de que não há promoção de Saúde Pública sem a garantia de acesso da população à água de boa qualidade, tendo o Poder Público o dever de assegurar e promover a distribuição de água potável (SCLIAR, 2001). Em muitos países da América do Sul, o desenvolvimento de florações de cianobactérias potencialmente nocivas é fator de preocupação para a Saúde Pública, uma vez que diversas cidades utilizam para os mais diversos usos, água oriunda de reservatórios eutrofizados (DÖRR et al., 2010). As florações podem provocar alterações nos aspectos organolépticos da água, como mudanças na cor e odor desagradável, causando tanto danos ecológicos como para a saúde humana (PAERL et al., 2001). Ecologicamente as florações podem ocasionar alterações na estrutura da teia trófica aquática, podendo ser formadas por espécies não palatáveis ou tóxicas aos consumidores, além de interromper a ciclagem de nutrientes e condicionar perdas de biodiversidade local (PAERL et al., 2001). Isso compromete o desenvolvimento de outras espécies pelo próprio acúmulo de sua biomassa ou pela produção dos compostos tóxicos que atuam, a principio, como mecanismos de defesa contra AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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predadores (SOLÉ et al., 2005, FLYNN, 2008, GRANÉLI et al., 2008). Perante um desastre ecológico de grandes proporções na Bahia de Todos os Santos ocorrido em março de 2007, que ocasionou a morte de 50 toneladas de pescado, surgiu a desconfiança de tratar-se de uma floração de cianobactérias e teve início uma gama de pesquisas para verificar a possibilidade de estarem envolvidas espécies potencialmente tóxicas. Com o fim dos estudos, o laudo técnico publicado em 08 de abril de 2007 atestou que os microrganismos responsáveis eram dinoflagelados (Gymnodinium sanguineum), formadores do fenômeno da maré vermelha, e que as espécies presentes não eram produtoras de toxinas e, por isso, não ofereciam riscos à saúde humana (ARGÔLO; CARMEL, 2007). A concentração da biomassa algal na superfície leva a um aumento da turbidez e uma paulatina deterioração da coluna d’água que podem ocasionar, inclusive, perdas econômicas em decorrência da proibição de atividades de pesca e recreação, caracterizando o primeiro tipo de floração de microalgas nocivas (HALLEGRAEFF

et

al.,

1995,

ANDERSON

et

al.,

2002),

ou

ainda

o

comprometimento ou interrupção da produção em áreas de cultivo de organismos aquáticos. Durante a decomposição das células de uma floração (senescência do bloom), ocorre um excessivo consumo de oxigênio (hipoxia), atuando como principal fator responsável pelo declínio ou eliminação dos peixes, moluscos e outros organismos em decorrência das condições de anoxia na água (PAERL, 2008). Além disso, o acúmulo de células das microalgas pode bloquear as brânquias de peixes e moluscos, por exemplo, comprometendo a respiração e/ou alimentação destes organismos. (FERRARIO et al., 2002). Devendo-se considerar ainda que algumas toxinas podem ser acumuladas nos tecidos de organismos filtradores (SHUMWAY, 1990; LEFEBVRE et al., 2002; VALE, 2004; NOGUEIRA et al., 2010) que, uma vez sendo consumidos pelo homem, acarretam doenças e até a morte (LEE, 1999). A ocorrência de espécies como Microcystis aeruginosa e Cylindrospermopsis raciborskii formando florações em águas de abastecimento público, corresponde a um sério problema em estações de tratamento, configurando-se em uma situação de AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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risco à Saúde Pública em decorrência da produção de compostos neurotóxicos, hepatotóxicos ou dermatotoxico (YUNES, et al. 2005). Segundo estes autores, florações de cianobactérias potencialmente tóxicas têm sido registradas em vários ecossistemas aquáticos no Brasil, geralmente em épocas de maior consumo de água, nos meses de verão, causando entupimento de filtros e problemas estéticos, o que inviabiliza o uso do corpo hídrico contaminado para qualquer fim. Segundo a Portaria n° 518 de 25 de março de 2004 do Ministério da Saúde são deveres e obrigações do Ministério da Saúde e da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), dentre outros, o acompanhamento e vigilância da qualidade da água, o estabelecimento de referências laboratoriais (nacionais e regionais) para dar suporte às ações de vigilância da qualidade da água para consumo humano, a definição de diretrizes específicas para estabelecimento de um plano de amostragem a ser implementado pelos Estados, Distrito Federal ou Municípios no exercício das atividades de vigilância da qualidade da água no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. O Art. 4 da referida portaria trata especificamente da preocupação com a ocorrência de cianobactérias e dos efeitos que estas podem acarretar à saúde humana devido à produção de toxinas, destacando-se os gêneros Microcystis, Anabaena, Cylindrospermopsis, Oscillatoria, Planktothrix e Aphanocapsa, como potenciais produtores de toxinas nocivas.

Monitoramento das florações e tratamento da água Freqüentes casos de florações em ETAs demonstraram a necessidade da adequação de técnicas de tratamento da água que garantam à população e aos órgãos de vigilância a confiabilidade da sua potabilidade. De uma forma geral, o primeiro passo do tratamento da água é feito colocando-se algicidas (sulfato de cobre ou peróxido de hidrogênio) nas represas, contudo, a aplicação desses produtos AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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é desaconselhada em ecossistemas de grande extensão ou em águas usadas para abastecimento, pesca, irrigação ou outros usos humanos, considerando-se os efeitos adversos da sua própria toxicidade ou, ainda porque na morte das algas por lise celular, pode ocorrer a liberação das toxinas em concentração suficiente para causar danos a outras espécies, comprometendo o uso da água (FERNANDES et al., 2006; FERNANDES et al., 2009). O tratamento com algicidas é mais eficiente apenas no início da sucessão ecológica da floração e sua eficiência vai diminuindo gradativamente nas fases mais avançadas (BEYRUTH, 1992), além de apresentar efeitos apenas temporários (dias) e custos elevados. O controle e redução da entrada de nutrientes nos copos hídricos, bem como a quebra da estratificação térmica através de mecanismos que promovam mecânica ou hidrologicamente misturas verticais da coluna d’água, especialmente em reservatórios, e a redução do tempo de retenção das águas são algumas das alternativas adotadas para o controle de florações em águas de abastecimento público (PAERL, 2008). Florações algais em manaciais de abastecimento público respondem por um aumento considerável dos custos de tratamento da água, em decorrência do entupimento de filtros das estações de tratamento (ETAs) alterando, inclusive, o sabor e odor da água tratada (PAERL et al., 2001; TUCCI; SANT’ ANNA, 2003). As toxinas algais são compostos altamente hidrosolúveis, passando facilmente pelo sistema de tratamento convencional, embora as autoridades de saúde pública venham assumindo que os padrões de purificação da água utilizados nas ETAs são capazes de remover qualquer problema em potencial. Entretanto, conhecendo-se a dinâmica e estrutura muito pequena das cianotoxinas sabe-se que estas, quando em solução, não podem ser retiradas através dos processos de tratamento padrão (TUCCI; SANT’ ANNA, 2003). O monitoramento de cianobactérias em corpos d’água usados como fonte para consumo humano, recreação, irrigação e abastecimento público, em geral, foi considerado uma das áreas prioritárias pela Organização Mundial de Saúde, estabelecendo por meio de uma medida provisória, especificamente para as

AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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microcistinas, concentrações máximas de 1μg/L em água para consumo humano e de 20μg/L em águas de uso recreativo (WHO, 2003). No Brasil, a portaria 518/2004, editada pelo Ministério da Saúde Brasil, que substitui a Portaria 1469 de 29/12/2000, determina para as empresas de abastecimento de água o monitoramento e quantificação das células de cianobactérias nos mananciais. Estabelecendo ainda como valor máximo o limite de 20.000 cél/mL

-1

nos pontos de captação, acima dos quais obriga que seja feita a

análise semanal de microcistinas na água tratada limitando em 1,0Mg.L-1 o valor máximo

aceitável.

Esta

Portaria

ainda

recomenda

a

análise

de

cilindrospermopsinas e equivalente de saxitoxinas, determinando os valores máximos aceitáveis em 15,0Mg.L-1 e 3,0Mg.L-1, respectivamente dentre os critérios de potabilidade da água para consumo além dos requisitos que envolvem os parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos que não ofereçam risco a saúde humana (MATTHIENSEN et al., 1999). De acordo com o Capítulo V Art. 19 da referida Portaria, amostras semestrais da água bruta devem ser coletadas, em reservatórios alimentados por mananciais superficiais, para serem analisadas de acordo com os parâmetros exigidos na legislação vigente de classificação e enquadramento de águas superficiais. Quando o número total de células de cianobactérias potencialmente nocivas for igual ou superior a 20.000 cél/ml (2mm3/L de biovolume) o teste de toxicidade com camundongos (albinos suíços) é aconselhado para verificação da ocorrência especifica de cianotoxinas.

Outras considerações Merece destaque a importância da formação de especialistas que saibam interpretar os resultados dos testes e classificá-los dentro dos limites de toxicidade que o método fornece considerando as metodologias citadas na Portaria (YUNES et al., 2005). De acordo com CORDEIRO-ARAÚJO et al. (2010) o monitoramento limnológico de um reservatório é indispensável, uma vez que as condições AFFE, Helen Michelle de Jesus; BARBONI, Suzi de Almeida V. Cianobactérias potencialmente tóxicas de importância em Saúde Pública. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 42-59, Out. 2012.

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ambientais são mutáveis e, em caso da ocorrência de eventos mais prolongados de estiagem, por exemplo, o desenvolvimento de cianobactérias pode ser favorecido pelo aumento no tempo de residência e na estabilidade térmica, a exemplo do que se observa em outros reservatórios de abastecimento da região semiárida. Ressaltando-se ainda a importância da identificação desses organismos como base para estudos de manejo de ecossistemas aquáticos podendo oferecer subsídios que norteiem iniciativas de prevenção e controle de florações potencialmente tóxicas, minimizando os riscos para a Saúde Pública.

Agradecimentos

As autoras agradecem à Dra. Andrea Tucci pela colaboração na elaboração da Monografia da primeira autora, trabalho que foi base da escrita deste ensaio.

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Artigo Original Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais

Amanda Assunção Vieira

VIEIRA, Amanda Assunção. Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 60-75, Out. 2012.

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Artigo Original Resumo

A intoxicação aguda torna-se uma razão comum de internação hospitalar e os dados de toxicologia analítica são imprescindíveis no estabelecimento de um diagnóstico de intoxicação e orientação correta do tratamento. Entretanto, a maioria dos pacientes tem sua recuperação completa sem um tratamento específico devido à falta de um laboratório especializado. Baseado nisso, este artigo teve como objetivo fornecer informações necessárias para a implementação de um laboratório de análises toxicológicas em departamentos de emergência de hospitais que contribua para a qualificação do diagnóstico e monitoramento dos casos de intoxicação, abrangendo os exames laboratoriais, as substâncias mais frequentemente envolvidas, os métodos analíticos, a estrutura e a organização necessários para satisfazer as exigências de um hospital. Concluiu-se que as análises toxicológicas de emergência podem influenciar na gestão imediata do paciente intoxicado e devem ser prestadas nos hospitais regionais, e que estabelecer ações que visem um melhor diagnóstico e tratamento eficiente para as intoxicações agudas mais relatadas através dos estudos epidemiológicos permite que a estrutura, organização e os métodos analíticos de detecção podem ser adaptados de acordo com a necessidade de cada região. Palavras-chave: análises toxicológicas, hospital, emergência, intoxicação.

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Artigo Original Abstract: The acute intoxication becomes a common reason for hospitalization and the analytical toxicology data are essential in establishing a diagnosis of poisoning and the correct orientation of the treatment. However, most patients have complete recovery without specific treatment due to lack of a specialized laboratory. Based on this, this study aimed to provide information necessary for the implementation of a laboratory for toxicological analysis in emergency departments of hospitals that contribute to the quality of diagnosis and monitoring of cases of poisoning, including laboratory tests, the substances most frequently involved, analytical methods, structure and organization needed to meet the requirements of a hospital. It was concluded that the emergency toxicological analyzes can influence the immediate management of patients intoxicated and should be provided in regional hospitals, and actions that aim to establish a better diagnosis and effective treatment for acute poisoning most frequently reported by epidemiological studies allows the structure, organization, and the analytical detection methods may be adapted according to the needs of each region KEY-WORDS: toxicological analysis, hospital, emergency, intoxication

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Artigo Original

Introdução As intoxicações são causas importantes de visitas não somente nos centros de intoxicação, mas também no departamento de emergência em hospitais. Há uma parcela significativa de internações constituídas por casos que podem levar a resultados sérios dependendo do agente e do tempo de permanência no hospital (KAVALCI, DURUKAN, 2009). A disponibilidade de instalações de análises toxicológicas nestes casos pode atenuar os problemas toxicológicos sem a exigência de equipamentos complexos e de alto custo. Um laboratório de emergência toxicológica também pode ajudar em outras áreas clínicas como avaliar o uso de drogas ilícitas e no diagnóstico e tratamento de envenenamento com toxinas ambientais, bem como na gestão de incidentes relacionados com a liberação acidental ou intencional de substâncias químicas no ambiente (incidentes químicos) e outros aspectos da segurança química (FLANAGAN, 2005). Desta forma, a finalidade de um laboratório de toxicologia em hospitais é proporcionar excelência em assistência médica, ensino e pesquisa em cuidados médicos e toxicologia, minimizando custos desnecessários através de uma abordagem sistematizada multidisciplinar. Cidades como Portland, Indianapolis e Pittsburgh são exemplos de centros de toxicologia filiados a emergências médicas de hospitais (DAYA, 2002). A criação de Centros de Toxicologia Médica tem sido impulsionada, em certa medida, por evidências que sugerem que até 50% das mortes por intoxicação no hospital pode ser prevenida através da utilização de centros de toxicologia e tratamento especializado (DONAVAN, MARTIN, 1993). Sendo assim, um laboratório de análises toxicológicas hospitalar não se destina a competir com os centros regionais de informação ou centros de controle de intoxicação, mas sim VIEIRA, Amanda Assunção. Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 60-75, Out. 2012.

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Artigo Original

trabalhar com eles para melhorar o sistema global de cuidados regional na intoxicação humana (DAYA, 2002). O presente artigo tem como objetivo fornecer informações necessárias para a o diagnóstico do paciente intoxicado e a implementação de um laboratório de análises toxicológicas em departamentos de emergência de hospitais que contribua para a qualificação do diagnóstico e monitoramento dos casos de intoxicação, favorecendo o tratamento precoce com diminuição de seqüelas e risco ao paciente e potencial redução de admissão hospitalar.

Materiais e Métodos Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura especializada, realizada entre agosto a dezembro de 2011, que incluiu consulta a livros e periódicos presentes na Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e artigos científicos selecionados através de busca no banco de dados do Scielo e da Bireme, a partir das fontes Medline e Lilacs. A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde criados pela Biblioteca Virtual em Saúde. As palavras-chave utilizadas na busca foram intoxicação, técnicas e procedimentos de laboratório, toxicologia, atendimento de emergência, infraestrutura sanitária, administração e organização hospitalar.

Informações

adicionais foram obtidas através de sites de instituições oficiais como Ministério da Saúde (MS), OMS (Organização Mundial da Saúde), ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), SINITOX (Sistema Nacional de Informações TóxicoFarmacológicas), AACT (Academia Americana de Toxicologia Clínica), AAPCC (Associação Americana de Centros de Controle de Intoxicação) e ACMT (Colégio Americano de Toxicologia Médica). Em seguida, buscou-se estudar e compreender os agentes tóxicos mais freqüentes e os principais métodos de diagnóstico empregados nos casos de intoxicação, seguido da estrutura e organização necessária para adequá-los a uma estrutura hospitalar com atendimentos de emergência.

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Artigo Original Análises Toxicológicas

A análise toxicológica é requerida sempre que se torna necessário identificar ou confirmar uma intoxicação aguda, ou ainda, dar subsídio no tratamento do paciente intoxicado. Sua principal característica é a exigência de ser realizada em um curto prazo de tempo, de 2 a 24h no máximo (MOREAU, SIQUEIRA, 2008). A análise inicia-se com uma avaliação da anamnese e da síndrome tóxica, buscando direcionar os testes e reduzir o número de possíveis agentes tóxicos (WHO, 2007). O resultado obtido nas análises toxicológicas estabelece a relação de causa e efeito, ou seja, se houve ou não a intoxicação sobre a qual recai a suspeita (ANVISA, 2004). Quando há suspeita de intoxicação aguda, o médico precisa fazer uma série de perguntas a fim de estabelecer um diagnóstico. No caso de um paciente inconsciente (coma), as circunstâncias em que ele foi encontrado e se todos os frascos de comprimido ou outros recipientes (resíduos de cena) estavam presentes pode ser importante. Se o paciente está acordado, deverá ser questionado sobre a presença de substâncias tóxicas em casa ou no local de trabalho.

O histórico

médico do paciente (incluindo drogas prescritas e qualquer doença psiquiátrica), a ocupação e os hobbies também podem ser relevantes, pois eles podem indicar um eventual acesso a substâncias específicas (FLANAGAN, 2005). Posteriormente, o exame físico do paciente pode indicar a droga ou a classe de drogas envolvida. As características clínicas associadas com algumas das intoxicações mais comuns são descritas na Tabela 1.

Tabela 1: Achados clinicos encontrados nas intoxicações

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Artigo Original CARACTERÍSTICA CLÍNICA

INTOXICAÇÃO

Agitação

Anticolinérgicos, hipoglicemia, simpatomiméticos, abstinência de etanol e sedativos

Alopecia

Agentes alcalinizantes, radiação, selenio, tálio.

Ataxia

Benzodiazepínicos, carbamazepina, CO, fenitoína, hipoglicemia, lítio, mercúrio, óxido nítrico, etanol.

Cegueira ou ↓ da visão

Cáusticos (local), cocaína, cisplatina, mercúrio, metanol, quinidina, tálio.

Pele azulada

Amiodarona, metemoglobina, prata.

Constipação

Anticolinérgicos, botulismo, opióides.

Surdez, zumbido

Aminoglicosídeos, cisplatina, metais, diuréticos alça, quinidina, salicilatos.

Sudorese

Anfetamina, colinergicos, hipoglicemia, abstinência de opioides, etanol e sedativos, salicilatos, síndrome serotoninérgica, simpatomiméticos.

Diarréia

Arsênico e outros metais, ácido bórico, plantas irritantes, catárticos, colinérgicos, radiação e outros.

Descoloração da gengiva

Arsênico, bismuto, mercúrio.

Alucinação

Anticolinérgicos, agonistas dopamina, alcaloides, ergot, etanol, simpatomiméticos, triptamina.

Dor de cabeça

Monóxido carbono, hipoglicemia, inibidores MAO.

Acidose metabólica

Metanol, uremia, cetoacidoses (diabetes, fome, alcoolismo), paraldeíco, etformina, isonizida, cianeto, etilenoglicol, tolueno, salicilatos.

Fonte: GOLDFRANK et al, 2007

Ocasionalmente, um odor característico pode ser detectado na respiração do paciente intoxicado ou nas roupas, a qual também pode direcionar a exposição ou a intoxicação por um agente específico (KLAASSEN, 2008). A Tabela 2 lista alguns dos odores reconhecidos e substâncias associadas com o odor. VIEIRA, Amanda Assunção. Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 60-75, Out. 2012.

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Artigo Original Tabela 2: Odores característicos associados com intoxicações ODOR

TOXICANTE

Amêndoas amargas

Cianeto.

Ovos

Sulfeto de hidrogênio, mercaptanos.

Alho

As, organofosforados, DMSO, tálio.

Naftalina

Naftaleno, cânfora.

Vinil

Etclorvinol.

Wintergreen

Metilsalicilato.

Fonte: KLAASSEN, 2008 Entretanto, o valor desta abordagem é limitado se substâncias com diferentes ações forem absorvidas ou consumidas. Ademais, muitas drogas têm efeitos similares sobre o corpo e algumas características clínicas pode ser o resultado de efeitos secundários. Devido a isso, intoxicações com compostos especificos podem ser mal dignosticados e torna-se necessário a outros métodos de diagnóstico.

Exames Toxicológicos Na definição de exames toxicológicos que devem estar disponíveis em um laboratório de emergência em hospitais, é adequado fazer recomendações sobre quais testes (soro, plasma ou urina) têm maior impacto no manejo do paciente, e podem ser entregues de forma realista (WU, MCKAY, 2005). As diretrizes internacionais mais importantes sobre toxicologia analítica foram publicadas pela Academia Nacional de Bioquímica Clinica Norte-Americana (National Academy of Clinical Biochemistry-NACB) e pela Associação Britânica de Bioquímicos Clínicos (Association of Clinical Biochemists-ACB). As recomendações da NACB definem que o laboratório clínico deve fornecer dois níveis de testes de drogas. O primeiro nível inclui testes quantitativos em soro ou plasma com alvos selecionados, e testes qualitativos em urina (WU et al, 2003). Uma segunda série de testes mais complicados e demorados é recomendado para pacientes com problemas médicos de exposição toxicológico contínuo de drogas e substâncias químicas não identificadas no Nível I, no caso de

pacientes internados no

hospital que permanecem intoxicados, prostrados, ou em coma onde, com um amplo espectro de triagem, não seriam identificados com base nos resultados do primeiro nível de VIEIRA, Amanda Assunção. Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 60-75, Out. 2012.

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Artigo Original testes. É indicado uma avaliação mais aprofundada por um toxicologista clínico treinado que geralmente ocorre fora do ambiente de emergência (WU et al, 2003). Existem muitos outros padrões e diretrizes publicados por diferentes organizações norte-americanas. A Associação Americana dos Centros de Controle de Intoxicação (AAPCC) e a Academia Americana de de Toxicologia Clínica (AACT) focam nas diretrizes de manejo ao paciente intoxicado fora do hospital. Já o Colégio Americano de Toxicologia Médica publicou as diretrizes que definem expectativas razoáveis para Centros Regionais de Toxicologia em departamentos de emergência médica (ACMT, 2010). Assim, caberá ao laboratório escolher as orientações que melhor se ajuste e possam ser aplicada dependendo da situação do laboratório, área de atividade e do ambiente jurídico e regulamentar (PENDERS, VERSTRAETE, 2006). Entretanto, cabe ressaltar que o perfil epidemiológico no Brasil é diferente de outros países. Análises para detectar o uso de derivados do ópio e fenciclidina, por exemplo, drogas geralmente testadas em países da América do Norte e Comunidade Européia, não são empregadas no Brasil, uma vez que sua frequencia de abuso é baixa em relação às demais substâncias (THIESEN, 2002). Neste caso, para implementação do laboratório toxicológico é necessário que se estabeleçam estudos epidemiológicos que permitam relacionar prevalência e incidência dos principais agentes toxicológicos e casos de intoxicação, com estudos municipais, estaduais, regionais ou nacionais. No Brasil, o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) é responsável pela coleta, compilação, análise e divulgação dos casos de intoxicação e envenenamento notificados no país. Os dados de intoxicação são disponibilizados nas publicações anuais que compilam as informações dos 36 Centros de Controle de Intoxicações (CCIs) localizados em 19 estados e no Distrito Federal (PRESGRAVE, CAMACHO, VILLAS BOAS, 2009).

Intoxicações mais Frequentes e Metodologia de Análise O paciente intoxicado difere, em alguns aspectos, daqueles assistidos no cotidiano de um atendimento de emergência, pois, habitualmente, não se trata de pessoas doentes no sentido estrito da palavra; a intoxicação se dá em pessoas saudáveis que desenvolvem sintomas e sinais decorrentes do contato com substâncias externas e dos efeitos sistêmicos delas (OLIVEIRA, MENEZES, 2003). Conhecer o quadro clínico e o manejo das principais intoxicações, desta forma, é essencial àqueles que prestam assistência médica de emergência. No Brasil, como na maioria dos países, os medicamentos se apresentam como o principal agente tóxico, VIEIRA, Amanda Assunção. Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 60-75, Out. 2012.

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Artigo Original respondendo por, aproximadamente, 30% dos casos de intoxicação humana registrados, anualmente, pelo SINITOX (SINITOX, 2010).

Os agentes tóxicos mais frequentemente

envolvidos na intoxicação são: paracetamol, salicilatos, acetilcolinesterase e colinesterase, metemoglobina e carboxihemoglobina, barbitúricos e benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos, e, como droga de abuso, o etanol e a cocaína. Na escolha da metodologia de análise num serviço de emergência, devem ser considerados fatores como baixo custo operacional, simplicidade e rapidez de execução. A tabela 5 compara os recursos das metodologias usadas no laboratório de toxicologia. Tabela 5: Comparação dos métodos de análise toxicológica Método

Sensibilidade

Especificidade

Quantificação

Rapidez

Custo

Testes de cores

+

±

Não

Rápido

$

Imunoensaios

+

+

Sim

Médio

$$

CCD

+

++

Não

Lento

$$

CLAE

++

++

Sim

Médio

$$

CG

++

++

Sim

Médio

$$

CG/EM

+++

+++

Sim

Lento

$$$

CL/EM/EM

+++

+++

Sim

Médio

$$$$

Fonte: GOLDFRANK, 2002

A tabela 6 exemplifica o tipo de amostra e a metodologia que pode ser empregada para a análise dos principais agentes tóxicos.

Tabela 6: Principais agentes tóxicos e metodologia empregada

Agente tóxico

Amostra

Metodologia de análise

Referência

Paracetamol

Sangue

Espectrofotometria visível

Sebben et al., 2010

Salicilatos

Plasma e soro

Colorimétrico-Método de Trinder

Moreau, Siqueira, 2008

Acetilcolinesterase e colinesterase

Sangue

Espectrofotométrico ou colorimétrico

Moreau, Siqueira, 2008

Metemoglobina e carboxihemoglobina

Sangue

Espectrofotometria

Moreau, Siqueira, 2008

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Artigo Original Barbitúricos e benzodiazepínicos

Sangue e urina

Spots tests

Marek et al., 2004

Cromatogafia líquida de alta eficiência

Frahnert et al. 2003

Sangue

Cromatografia Gasosa

Feltraco et al., 2009

Urina

Imonofluorescência polarizada ou Cromatografia em camada delgada

Moreau, Siqueira, 2008

Antidepressivos tricíclicos Etanol

Cocaína

Em geral, cada uma destas técnicas pode ser adaptada para detectar um grande número de drogas e substâncias químicas (FORD et al., 2001). Algumas abordagens que podem ser utilizadas na detecção sistemática de agentes químicos no paciente intoxicado. Citam-se, para tal, referências como: Américo et al., 2008; Lai et al., 1997; Fabbri et al., 2004 e Puopolo et al., 1991.

Laboratório Na tarefa de estabelecer um serviço de toxicologia analítica, é importante observar a infra-estrutura, instrumentação, fornecimento de reagentes e materiais de referência, formação de pessoal, treinamento e desenvolvimento, certificação e credenciamento do laboratório (FLANAGAN, 2005). Definir os setores essenciais de um laboratório implica em viabilizar a criação de uma estrutura física adequada. A RDC nº 50, de 21 de fevereiro de 2002 da ANVISA dispõe sobre o Regulamento Técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde (ANVISA, 2002). Os laboratórios de análises toxicológicas são geralmente situados ao lado, ou fazem parte do departamento de emergência clinica. A vantagem de adaptar um laboratório dentro dos já existentes é de que muitas instalações e procedimentos necessários para o bom funcionamento do laboratório já estão em vigor (FLANAGAN, 2005). Por causa da necessidade de funcionamento 24h por dia, faz-se necessária a previsão de uma área de apoio, sobretudo para os técnicos plantonistas (MOURA, VIRIATO, 2004). Quanto à definição dos materiais de acabamento, por se tratar de VIEIRA, Amanda Assunção. Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 60-75, Out. 2012.

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área classificada como critica pelo Ministério da Saúde, como acabamento das superfícies das paredes usa-se pintura com tinta acrílica hospitalar. Para revestimento do piso, podem ser aplicados pisos monolíticos do tipo Korodur. Os pisos do tipo porcelanato e cerâmico antiderrapante devem ter resistência à abrasão e a corroção por produtos químicos. O rodapé deve ser curvo, do tipo hospitalar. O forro deve ser projetado de modo a garantir um espaço entre a laje e forro que permita a passagem de tubulações, canaletas e dutos. O ambiente de prática laboratorial deve ser servido por lavatórios de louça e deverão ser dispostos chuveiros do tipo lava olhos. Para o acondicionamento dos kits e amostras é comum adotar-se câmaras frias em substituição às geladeiras, com inúmeras vantagens associadas a economia de energia e de espaço (MOURA, VIRIATO, 2004). O regulamento técnico para funcionamento de laboratórios clínicos baseia-se em conceitos definidos na Resolução nº 302, de 2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. De acordo com esta, o laboratório clínico e o posto de coleta laboratorial devem possuir alvará atualizado, expedido pelo órgão sanitário competente, um profissional legalmente habilitado como responsável técnico e devem estar inscritos no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. Além disso, o laboratório exige estrutura organizacional documentada (ANVISA, 2005)

Conclusão Pode-se concluir, ante ao exposto, que as análises toxicológicas de emergência podem influenciar na gestão imediata do paciente intoxicado e devem ser prestadas nos hospitais regionais, pois facilitam o diagnóstico correto da intoxicação e melhoram o resultado final dos pacientes internados em um departamento de emergência por overdose ou intoxicações; com potencial redução de admissão hospitalar. Para tanto, é possível estabelecer ações que visem um melhor diagnóstico e tratamento eficiente para as intoxicações agudas mais relatadas através dos estudos epidemiológicos desenvolvidos pelo SINITOX, onde os fatores etiológicos VIEIRA, Amanda Assunção. Laboratório de Análises Toxicológicas de Emergência em Hospitais. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 60-75, Out. 2012.

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envolvidos nas intoxicações e o aumento das incidências de determinadas intoxicações são revelados. Deste modo a estrutura, organização e os métodos analíticos de detecção podem ser adaptados de acordo com a necessidade e epidemiologia local de cada região.

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Artigo Original

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ENSAIO Caracterizando a cor do ruído em séries temporais geradas teoricamente e aplicadas em séries de programas de monitoramento William Roberto Luiz Silva Pereira Graduado em ciências biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Assessor técnico do Instituto I2S – Inteligência para Sustentabilidade.

PEREIRA, William Roberto Luiz Silva. Caracterizando a cor do ruído em séries temporais geradas teoricamente e aplicadas em séries de programas de monitoramento. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 76-82, Out. 2012.

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ENSAIO Tanto no setor privado quando no acadêmico é quase certo que iremos deparar com uma série temporal, não importa o ramo de atividade de atuação. Os exemplos são vastíssimos e podemos lembrar vários. Um médico faz uma análise do eletro-encefalograma ou um eletrocardiograma e consegue fazer diagnósticos observando os padrões gráficos e quando algo estranho é detectado, o médico entra em alerta: uma mudança no padrão do gráfico pode indicar a presença de uma patologia. No mercado financeiro a ferramenta primordial de atuação são as análises gráficas de variações temporais, quer seja de ações, de índices de bolsa, de volatilidade, de taxas cambiais, etc. Mas as séries temporais econômicas não seguem padrões bem definidos como nas séries biomédicas e os economistas estão munidos com diversas ferramentas estatísticas que fornecem um indicador: médias-móveis, bandas Bollinger, estocástico, candlesticks, são alguns exemplos. Na agronomia não é diferente. O preço da arroba do boi é determinado pelo mercado e varia tanto quando o preço do litro do leite, dos insumos usados na criação etc. E as empresas precisam fechar o volume de vendas e monitorá-lo mês a mês para obter um diagnóstico de como andam as coisas. E se um mês bom é sucedido de outro mês bom, de bons resultados, o patrão fica bem satisfeito. Mas se um mês ruim é sucedido de outro mês ruim, e depois outro, e outro... uhm, é sinal de que medidas sérias deverão ser tomadas. E em pesquisas acadêmicas as séries temporais são corriqueiras. Ao monitorar de tempo em tempo, por exemplo, a DBO (demanda bioquímica de oxigênio, ou seja, a quantidade de oxigênio presente na água e utilizada pelos micro-organismos para realizar oxidação bioquímica) num rio, por exemplo, logo surge uma série temporal que não revela um padrão visual como nos eletroencefalogramas e isso ocorre também em monitoramento de densidades populacionais de certos organismos. As variações temporais de chuva, de incidência de terremoto em uma localidade, de salinidade em regiões oceânicas ou de praia, ou variação temporal de marés, de ocorrência de manchas solares, ciclos lunares, ciclos circadianos, ..., não importa o fenômeno, todos são passíveis de serem monitorados e apresentados numa série temporal, as vezes com padrões evidentes, as vezes com comportamento quase que imprevisível. Se as séries temporais são ubíquas, é muito necessário que haja alguma teoria ou alguma ferramenta que permita entender e caracterizar uma série temporal qualquer. Existem diversas estatísticas que fornecem uma maneira de identificar padrões, graus de tendência, força de correlação entre um dado da série PEREIRA, William Roberto Luiz Silva. Caracterizando a cor do ruído em séries temporais geradas teoricamente e aplicadas em séries de programas de monitoramento. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 76-82, Out. 2012.

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e outro. E para testar essas estatísticas existe uma maneira de gerar séries temporais: é o Processo Auto-regressivo de Primeira Ordem AR (1), que seguindo a notação sugerida por PETCHEY et al (1997):

sendo α o parâmetro que controla a auto-correlação e pode assumir valores -1 < α < 1, uma variável aleatória (geralmente sorteada através de uma Distribuição Gaussiana Padrão) e β uma variável que controla a magnitude da flutuação da série temporal. Os ecólogos têm bastante interesse nessa ferramenta. Os organismos dependem do ambiente onde vivem e algumas vezes são condicionados pelas condições climáticas locais, ora pelo regime de chuvas, pela temperatura, pelas estações do ano, pelas queimadas (como no Cerrado) ou pela umidade (como as Florestas Tropicais), pela evapo-transpiração das plantas, etc. Apesar das séries temporais geradas apresentarem comportamento bem característico, os ecólogos verificaram que as séries temporais abióticas guardam algum tipo de autocorrelação positiva, ou fraca ou muito forte. Portanto, eles geralmente se referem a séries temporais abióticas como séries avermelhadas (ou Reddened). Como se entende e estende esse conceito? Uma série temporal pode apresentar um padrão muito bem definido e existem dois exemplos-limite: no primeiro exemplo há um momento de subida pode ser sucedido de outro momento de subida, e por outro, e por aí vai, caracterizando uma série com auto-correlação totalmente positiva; e o outro exemplo extremo pode ser uma série onde ocorra um momento de subida e no tempo seguinte surge um momento de descida, e no outro tempo um momento de subida, permanecendo um sobe-desce permanente, fazendo ser essa série ter auto-correlação totalmente negativa. Uma série com auto-correlação totalmente positiva tem o valor 1 e uma série com auto-correlação totalmente negativa tem o valor igual a -1. Mas nas situações reais quase não existem séries com auto-correlação totalmente positiva ou totalmente negativa, mas a imensa gama de possibilidades permite que a auto-correlação dessa série seja medida, podendo adquirir valores entre -1 < α < 1. Existem metodologias próprias para que a auto-correlação de uma série temporal qualquer seja medida. O Processo Auto-regressivo de Primeira Ordem é capaz de gerar séries cobrindo toda essas possibilidades pelo controle do parâmetro α e essa metodologia PEREIRA, William Roberto Luiz Silva. Caracterizando a cor do ruído em séries temporais geradas teoricamente e aplicadas em séries de programas de monitoramento. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 76-82, Out. 2012.

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é uma das maneiras de gerar séries temporais onde é possível controlar seu grau de auto-correlação. Os desdobramentos são imensos. Quando uma série temporal possui α = -1 (auto-correlação negativa), a série é dita possuir um Ruído Azul, podendo assumir valores que vão diminuindo até atingir α = 0 (ausência de auto-correlação). Quando essa condição acontece a série temporal é chamada possuir um Ruído Branco (ou ainda White Noise ou Gaussian Noise) (fig. 1). Se usarmos a equação (1) com α = 0 e β = 1 teremos simplesmente

ou seja, o Processo Auto-regressivo de Primeira Ordem se torna uma Distribuição Gaussiana (definindo a priori que ε é uma variável aleatória sorteada gaussianamente) retomando o seu conceito fundamental de independência entre εt e εt+1. Portanto a inserção do parâmetro α simplesmente rompe com o princípio de independência entre os números gerados na série, fazendo o processo adquirir algum grau de dependência (ou em termos estatísticos, de auto-correlação). A série temporal pode assumir valores de auto-correlação que vão aumentando gradativamente até atingir α = 1. Quando a auto-correlação é totalmente positiva a série temporal é classificada pelo Ruído Vermelho (ou Ruído Rosa ou pelo inglês Pink Noise ou Red Noise). Nesse intervalo entre 0 < α < 1, a série pode assumir diversos graus de auto-correlação positiva e esse espectro de possibilidades junto as análises exaustivas de variáveis bióticas e abióticas levaram os teóricos da ecológica classificar tais séries Avermelhadas (ou no inglês Reddened) (fig. 2). Portanto, quando os ecólogos afirmam que as séries temporais de variáveis bióticas e abióticas são Avermelhadas, eles estão dizendo que existe algum grau de auto-correlação positiva nessas séries. Isso foi determinado porque diversas pesquisas já foram realizadas na procura de algum tipo de tendência em séries temporais de fenômenos populacionais e climáticos e os pesquisadores verificaram que tais processos não são tão aleatórios quanto os gráficos mostravam, onde a maioria dessas apresentava algum tipo de auto-correlação positiva (Sugihara, 1995; Rohani et al., 2004).

PEREIRA, William Roberto Luiz Silva. Caracterizando a cor do ruído em séries temporais geradas teoricamente e aplicadas em séries de programas de monitoramento. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 76-82, Out. 2012.

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Fig. 1) Ruído Azul – a série temporal apresentam auto-correlação negativa (α = -1) e a medida que a série diminui auto-correlação (fica menos azulada) α assume valores entre -1 < α < 0 até não apresentar nenhuma auto-correlação (cada ponto da série é independente uma da outra) assumindo um Ruído Branco (ou Ruído Gaussiano) quando α = 0. Com essas constatações em mãos, os ecólogos puderam, finalmente, modelar o comportamento de uma população biológica teórica inserindo nas equações um fator que simula a influência da variável ambiental sobre a capacidade-suporte da população (PETCHEY et al., 1997; CUDDINGTON & YODZIS, 1999; HEINO et al., 2000) ou sobre o fator de dependência da densidade (KAITALA et al., 1997). Com esses modelos é possível saber até que ponto a população persiste no ambiente em função da própria dinâmica da população (regulado por fatores dependentes da densidade) ou em função da cor do ruído das variações ambientais.

PEREIRA, William Roberto Luiz Silva. Caracterizando a cor do ruído em séries temporais geradas teoricamente e aplicadas em séries de programas de monitoramento. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 76-82, Out. 2012.

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Fig. 2) Ruído Vermelho – a série temporal apresentam auto-correlação positiva (α = 1) e a medida que a diminui auto-correlação (fica menos avermelhada) α assume valores 1 < α < 0 até não apresentar nenhuma auto-correlação (cada ponto da série é independente uma da outra) assumindo um Ruído Branco (ou Ruído Gaussiano) quando α = 0.

A emergência atual exige que a dinâmica das populações biológicas seja entendida para fins conservacionistas, manejo de pragas, para que a própria dinâmica populacional indique o status de sua persistência no ambiente frente alguma alteração climática ou algum estresse ambiental ou para que se estime o risco de extinção. Além disso, o Processo Autoregressivo de Primeira Ordem facilita em muito na compreensão das séries temporais de uma maneira geral, podendo ser aplicada em qualquer estudo onde se realize um monitoramento de uma variável de interesse qualquer dentro de um determinado espaço de tempo.

PEREIRA, William Roberto Luiz Silva. Caracterizando a cor do ruído em séries temporais geradas teoricamente e aplicadas em séries de programas de monitoramento. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 76-82, Out. 2012.

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O estudo de monitoramento onde a variável-alvo é quantificado ao longo de um determinado espaço de tempo pode fornecer informações importantes sobre o funcionamento dessa variável dentro do sistema onde está inserido, e além do mais existem estatísticas próprias que podem revelar o grau de auto-correlação e cor da série temporal e de posse desses valores, a série monitorada experimentalmente pode ser reproduzida pelo Processo Autoregressivo de Primeira Ordem e ser incorporada em outros modelos, fornecendo informações importantes do fenômeno até antes incompreensível em sua totalidade.

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ENSAIO A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas

Paula Meerholz Roosch¹ ¹ Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduação em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental pelas Faculdades Oswaldo Cruz e MBA em Gestão e Engenharia da Qualidade pela Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Consultoria Ambiental, Consultoria de Sistemas de Gestão Integrados, auditorias e Coordenação de Estudos de Impacto Ambientais. E-mail: paularoosch@gmail.com

ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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ENSAIO Resumo

Os danos ambientais provocados pelos padrões de desenvolvimento econômico adotados pelo homem resultaram na reflexão sobre a necessidade da preservação ambiental. As normas da série ISO 14.000 surgiram como instrumento que permitiu que organizações adotassem práticas sustentáveis, independentemente de sua área de atuação. A norma ISO 14.001 permitiu a certificação dos sistemas de gestão ambiental (SGA) nas empresas, caso fossem implantados atendendo os requisitos normativos. Apesar de a certificação ambiental representar uma redução de custo da empresa a médio e longo prazo, a implantação do SGA exige investimentos significativos, o que pode representar uma barreira para as micro e pequenas empresas. No entanto, nos últimos anos, o custo da implantação tem sido reduzido por diversos fatores e as empresas de menor porte têm optado cada vez mais por buscar a certificação ambiental. Como resultado, um SGA consolidado agrega valor ao negócio, melhora a imagem e a competitividade da empresa no mercado e impacta positivamente seu desempenho financeiro e ambiental. Palavras chave: Norma ISO 14.001; Sistema de Gestão Ambiental; Certificação Ambiental; Micro e Pequenas Empresas.

ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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ENSAIO Abstract

Environmental damage caused by economic development patterns adopted by the man induced the reflection about the need of environmental preservation. The standards of ISO 14000 series emerged as a tool that allowed organizations to adopt sustainable practices, regardless of their area of expertise. ISO 14001 standard enabled companies to certificate their Environmental Management Systems (EMS) if they were implemented in compliance with the standard requirements. Despite the environmental certification represents a reduction of the company’s cost in medium and long term, the implementation of EMS requires significant investments, which may represent a barrier to micro and small enterprises. However lately the cost of the implementation has been decreased for various causes. Smaller companies have increasingly opted for environmental certification. As a result, consolidated EMS increases value to business, improves the image and competitiveness of the company in the market and has positive impact on their financial and environmental performance. Key-words: ISO 14.001 Standard; Environmental Management Environmental Certification; Micro and Small Companies.

System;

ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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Histórico da Evolução Ambiental As políticas de incentivo ao consumo, particularmente a divulgação do

“American Way of Life”1, promoveram a necessidade compulsiva de aquisição de bens e, consequentemente, a cultura do desperdício. Para suprir a crescente demanda por mercadorias, a exploração dos recursos naturais aumentou exponencialmente a partir do século XVIII, sem que houvesse a preocupação com a preservação ambiental e com o futuro das próximas gerações. Apenas a partir da década de 70, o homem passou a refletir sobre as implicações de um desenvolvimento baseado exclusivamente no crescimento econômico, dissociado da questão ambiental. Nesta época, de acordo com Ribero (2001), o economista Ignacy Sachs gerou o conceito de ecodesenvolvimento, estabelecendo uma relação entre a sociedade e seu meio ambiente natural. Em 1987 se definiu oficialmente o conceito de desenvolvimento sustentável no Relatório de Brundtland2, quando a importância pela busca de boas práticas ambientais e sociais conciliadas ao crescimento econômico ganhou maior importância e espaço na mídia. Isso representou um marco na evolução do histórico ambiental mundial, possibilitando a reflexão sobre a inviabilidade dos padrões de desenvolvimento adotados, que, de forma geral, deixavam de considerar a preservação ambiental e a responsabilidade social.

1 American Way of Life: Tradução para Estilo de vida americano; Refere-se a um modelo de prosperidade e bemestar socioeconômico difundido nos Estados Unidos e posteriormente para o mundo todo, que teve seu auge no período pós-segunda guerra mundial. Esse modelo incentivava o consumo abundante de bens para que o indivíduo alcançasse a felicidade (TEIXEIRA, 2008). 2 Relatório de Brundtland: Em abril de l987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento apresenta o relatório Nosso Futuro Comum (Our Common Future) em Brundtland, Noruega. O relatório parte do pressuposto da possibilidade e da necessidade de conciliar crescimento econômico e conservação ambiental e divulga o conceito de desenvolvimento sustentável, sendo definido como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras também atenderem as suas (GUIMARÃES, 1991).

ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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Na ECO 92, conferência realizada pela Organização das Nações Unidas no

Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, líderes de Estados do mundo todo se reuniram para discutir meios de redução dos danos ambientais e direcionar ações fundamentadas no desenvolvimento sustentável. Dois importantes resultados desta Conferência foram a Agenda 21, documento elaborado para direcionar ações em nível macro – principalmente na atuação dos governos e órgãos públicos – e as normas da série ISO3 14000, que possibilitaram uma atuação em um contexto micro nas organizações (SEIFFERT, 2010). Desde então, empresas têm adotado em sua política e na divulgação de seus produtos termos como “sustentabilidade” e “ecologicamente corretos”, para refletir a preocupação com a preservação ambiental no processo produtivo e/ou nas características do próprio produto. Embora nem sempre esta divulgação reflita atitudes ambientalmente adequadas, a maior possibilidade de atuação no mercado por empresas que poluam em menor escala reflete a constante demanda dos consumidores por mercadorias e serviços que tenham menor impacto no Meio Ambiente. Este fator tem incentivado a implantação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) no mundo todo.

Implantação de Sistemas de Gestão Ambiental Na década de 90, a consolidação da norma ISO 14.001 possibilitou a padronização da implantação de sistemas de gestão ambiental em empresas. Segundo Dias (2007 apud ARAÚJO, 2010), um SGA tem como objetivo fazer com que os impactos ambientais causados por diferentes organizações não ultrapassem a capacidade de regeneração do meio ambiente. Para Júnior (1998 apud ARAÚJO, 2010) é a forma como as empresas administram a relação de suas atividades com o meio ambiente que ela explora. Já Nilsson (1998 apud ARAÚJO, 2010) descreve que gestão ambiental envolve planejamento, organização e orienta a empresa a alcançar metas ambientais planejadas. O conceito de gestão ambiental remete ao conceito de gerenciamento ambiental, embora o significado do primeiro seja mais amplo: a Gestão Ambiental inclui não só o gerenciamento das atividades e processos de uma organização e sua ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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relação com o meio ambiente, mas engloba também a definição da política ambiental e do planejamento do sistema (SEIFFERT, 2010). Os requisitos da norma ISO 14.001 orientam a estruturação de um Sistema de Gestão Ambiental a partir da abordagem do ciclo de PDCA, uma ferramenta da qualidade conceituada pela norma ISO 9.0014. Os significados das siglas PDCA são:

3 ISO: International Organization for Standardization. 4 ISO 9001: Norma que estabelece requisitos para o Sistema de Gestão da Qualidade. P – plan (Planejamento): O primeiro passo consiste no planejamento do sistema de gestão ambiental, incluindo a definição da política ambiental da organização, que direcionará o SGA. A partir da política e dos aspectos ambientais5 identificados, a organização define os objetivos e metas que pretende atingir. Nesta etapa, a direção planeja os recursos humanos, financeiros e tecnológicos necessários para a implantação consolidada do SGA. Os métodos e procedimentos para fundamentar o sistema também são estabelecidos no planejamento. D – do (Executar): Nesta etapa são implantados os controles operacionais baseados nos procedimentos já estabelecidos, permitindo a coleta de dados e o posterior monitoramento do SGA. A conscientização e treinamento das pessoas envolvidas são fatores fundamentais para garantir a execução adequada dos processos. C – check (Verificar): Todos os controles e monitoramentos realizados na fase de execução são analisados e comparados com as metas estabelecidas. A – act (Agir): A partir da análise crítica realizada na etapa anterior, constatam-se falhas reais ou potenciais no sistema que direcionarão a execução de ações corretivas e preventivas. Este processo é fundamental para garantir a melhoria contínua do SGA. A norma ISO 14.001 menciona que o SGA pode ser aplicado para qualquer tipo de organização, uma vez que os requisitos normativos são genéricos. Porém, ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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ressalta-se que a implantação deve ser coerente ao tamanho, estrutura e à própria cultura da empresa. Nesse sentido, Seiffert (2010) salienta que, na implantação do SGA, não se deve buscar soluções ótimas para problemas detectados, mas sim a solução mais adequada, ou seja, mais integrada e flexível dentro do contexto vivenciado.

Importância da Implantação de Sistemas de Gestão Ambiental em Micro e Pequenas Empresas Desde a criação das normas ISO 14000, paralelamente à elaboração de muitos regulamentos legais ambientais, cada vez mais empresas estão aderindo à certificação da norma ABNT NBR ISO 14001. Esta permite que a empresa receba um certificado se o seu sistema de gestão ambiental estiver adequadamente implantado de acordo com os requisitos da norma. Os requisitos normativos estão relacionados com questões estratégicas das organizações, com o intuito de orientar a melhoria constante de seu desempenho ambiental. Através da definição e análise dos objetivos e metas ambientais determinados de acordo com a política ambiental da empresa, problemas são detectados e examinados, possibilitando a adoção de ações corretivas e preventivas, conforme citado anteriormente na abordagem do PDCA. A procura pela implantação de SGA tem sido cada vez mais constante em organizações de diferentes segmentos, estimulada pelo desejo de melhoria de imagem frente aos clientes, busca ao atendimento legal, preocupação com riscos ambientais, além de agregação de valor ao negócio.

5 Aspecto Ambiental: De acordo com a norma ABNT NBR ISO 14001:2004, aspecto ambiental pode ser definido como elemento das atividades, produtos e serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente (ABNT, 2004).

ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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O Brasil ocupa uma boa posição no ranking dos países com maior número de

certificados emitidos (Tabela 1), comparando-se a países desenvolvidos. Segundo Pombo & Magrini (2008), nos grandes parques industriais como São Paulo e Rio de Janeiro, as empresas brasileiras estão tomando atitudes proativas com relação ao meio ambiente, adquirindo capacidade de competir no mercado internacional globalizado. Tabela 1. Números de certificados ISO 14.001 emitidos em todo o mundo. Países Números de Certificados ISO 14.001 Japão 19.477 China 12.682 Espanha 7.872 Itália 7.080 Reino Unido 6.223 Estados Unidos 5.100 Alemanha 5.094 Coréia 4.955 Suécia 4.043 República Checa 2.122 Brasil 2.100 França 2.089 Canadá 1.706 Suiça 1.562 Índia 1.500 Taiwan 1.494 Austrália 1.406 Fonte: ABNT, 2006.

Quando o Brasil alcançou a marca de 2000 certificações (REVISTA MEIO AMBIENTE INDUSTRIAL, 2005), por meio de uma análise das empresas certificadas observou-se que a grande maioria delas é de médio ou grande porte. No entanto, com o passar dos anos, esta tendência vem mudando e micro e pequenas empresas têm buscado a certificação de seus sistemas de gestão ambiental. Isso também decorreu porque grandes empresas estão sugerindo ou até mesmo exigindo que os seus fornecedores obtenham certificação ambiental (LEMOS, 2004 apud POMBO & MAGRINI, 2008). As micro e pequenas empresas no Brasil correspondem cerca de 98% do total de empresas registradas (SEBRAE, 2010). Apesar do potencial poluidor de uma empresa de pequeno porte ser significativamente menor do que o de uma empresa

ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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de médio e grande porte, o conjunto de micro e pequenas empresas tem impacto cumulativo no Meio Ambiente, especialmente aquelas atuantes no setor industrial. Para garantir a implantação eficaz de SGAs, são necessários recursos humanos capacitados, bem como recursos materiais e financeiros. Mesmo agregando valor, é necessário um investimento considerável para a sua implantação eficaz, bem como a constante injeção de capital na posterior manutenção do sistema. A necessidade de recursos é uma barreira e, muitas vezes, restrição para micro e pequenas empresas que possuem menor poder aquisitivo e estão inseridas em um contexto econômico mais instável em relação às empresas de grande porte. Nos últimos anos pode-se observar uma redução dos custos da implantação de SGA, o que tem incentivado pequenas empresas a procurarem a certificação ISO 14.001. Esta redução pode ser justificada pela maior disponibilidade de profissionais especializados na área, aumentando a concorrência e opções de aquisição deste tipo de serviço. As empresas podem optar pela contratação de pessoas especializadas na área ambiental ou de consultorias para consolidar seu SGA. Segundo Tibor & Feldman (1996 apud POMBO & MAGRINI, 2008) os altos custos podem deixar de ser uma barreira na medida em que a empresa comece com um sistema de gestão ambiental básico, gradualmente transformando-o em um sistema mais sofisticado, partindo do princípio da melhoria contínua. Muitas empresas também têm optado pela implantação conjunta de SGAs, elaborando procedimentos e metodologias em comum, discutindo soluções e controles que podem ser adotados em conjunto e reduzindo o prazo de implantação. A redução dos custos da contratação de auditorias realizadas por empresas certificadoras é outro fator que contribuiu para tornar o processo menos custoso. Como os requisitos da norma ISO 14001 preveem o atendimento a requisitos legais aplicáveis à empresa, diminuem-se os riscos de autuação por órgãos públicos ou até mesmo interdição do negócio – o que, além de representar um prejuízo significativo, também prejudica a imagem da empresa frente à sociedade, refletindo em perdas imensuráveis. O atendimento à legislação ambiental contribui, portanto, ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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com prevenção de penalidades e tempo dirigido à remediação de possíveis passivos ambientais6. Além disso, a implantação do SGA reflete na redução de gastos totais da empresa a médio e longo prazo, pois a mesma instiga a adoção de tecnologias que diminuam a utilização de recursos no processo e/ou reduzam ou previnam a poluição, considerando sua aplicabilidade e a análise do custo/benefício. Técnicas de “produção mais limpa” também melhoram o gerenciamento dos processos e contribuem com a execução de ações que, sem a necessidade de muitos gastos, melhoram a produtividade e a gestão de recursos da organização. Porter & Linde (1995 apud ALBERTON & JÚNIOR, 1997) afirmam que os esforços para reduzir a poluição e maximizar os retornos seguem os mesmos princípios básicos, incluindo o uso eficiente dos recursos, a substituição por materiais menos caros e a eliminação de atividades desnecessárias. Nesse sentido, Scherer (1998 apud ALBERTON & JÚNIOR, 1997) afirma que a gestão de um sistema ambiental funciona como instrumento de planejamento estratégico, para conciliar visões, estratégias de investimento e gestão de custos. De acordo com Alberton & Júnior (2007), a integração do SGA com sistema de gestão da qualidade já implantados, baseado na norma ISO 9.001, também impactam no aumento de benefícios para as empresas devido à redução dos custos de implantação, certificação e manutenção do SGA. De modo geral, a certificação ambiental tem como consequência a melhoria da imagem da empresa frente aos consumidores e à sociedade em geral, contribuindo para o chamado marketing verde e atraindo consumidores preocupados com a questão ambiental. A tendência é que as micro e pequenas empresas busquem cada vez mais a certificação ambiental, uma vez que a mesma tem sido um pré-requisito exigido na realização de muitos negócios domésticos e internacionais. Desta forma, a implantação agrega valor à empresa, diante do aumento da possibilidade de competitividade no mercado global e de melhorias no seu desempenho ambiental e financeiro. 6 Passivo Ambiental: dano ambiental presente, decorrente de atividades do passado ou de um acidente.

ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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ROOSCH, Paula M. A importância da implantação de Sistemas de Gestão Ambiental e sua aplicação em micro e pequenas empresas. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 83-94, Out. 2012.

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ENSAIO Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial* Fausto Antonio de Azevedo Farmacêutico-Bioquímico (USP), Mestre em Toxicologia (USP), Especialista em Saúde Pública (USP), ex-Farm.-Bioquímico Toxicólogo da Cetesb (SP), ex-Gerente Técnico do Centro de Recursos Ambientais (CRA - Bahia), ex-Presidente do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED - Bahia), ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia (Seplantec - Bahia), ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais (CRA - Bahia), ex-Superintendente de Planejamento Estratégico (Seplan - Bahia), ex- Assessor Técnico da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS - Câmara Federal - Brasília). Diretor Executivo da AGIR - Associação Guardião da APA do Pratigi. fausto@pratigi.org * Publicado originalmente em AGIRÁS Revista AGIR de Ambiente e Sustentabilidades Ibirapitanga (BA), v. 1, n. 1, ago./nov. 2009.

AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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1 O pensamento como base para a liderança. Autoconhecimento Tanto quanto possível temos estudado e observado criticamente o comportamento humano em sociedade e suas relações com a natureza, o meio ambiente. E o resultado dessa observação não nos agrada. Notamos que, de um lado o ser humano, de modo geral, tem-se afastado de si e de seus valores mais nobres, o que nos motivou a querer entender um pouco as questões da liderança. De outro lado, esse mesmo ser humano tem dedicado uma atenção bastante pálida aos cuidados ambientais, cuidados para com sua única casa. Isso, a seu turno, motivou nossa vida profissional. Em consequência, o artigo presente procura reunir as duas preocupações, trazendo à discussão o fato de que, além da necessidade permanente de desenvolver lideranças sadias e voltadas para o bem coletivo, essas lideranças, mais do que nunca, devem agora incorporar todos os princípios de uma ética e uma estética ambientais, a fim de que haja ainda uma chance de sobrevivência para a humanidade e seu planetinha azul. Assim, o presente artigo é uma espécie de compilação lógica de outros dois que pudemos publicar e que serão adiante citados. Faremos uma síntese do texto anterior como ponte para o proposto no título desse artigo. Naquele trabalho1 perguntávamos: quem será o herói de minha própria vida? quem me guiará? quem me liderará? Perguntas que habitam a mente e as preocupações de todos nós. Respondê-las é a primeira atitude na caminhada para se atingir capacidade de liderança. Para tanto, necessário se faz um passo atrás, em direção à procura do ser, de quem e do que nós somos. Conhecer-se é ter ciência real das forças e carências pessoais. Forças: potencialidades, qualidades, virtudes, talentos, capacidades específicas. Carências: insuficiências e impropriedades de formação mais os medos e fantasmas próprios, dentre estes, timidez, depressão, obsessão, irascibilidade, rigidez, perfeccionismo e detalhismo compulsivos, sofreguidão quanto ao futuro, culto vaidoso e desmedido à imagem social. Entendido e aceito o grande princípio socrático do autoconhecimento, a pergunta que salta é: épossívelhaverumlíderquenãoseconheça(quenão conheçaa simesmo)? Obviamente, não. A construção do autoconhecimento, solitária construção, é escarpada e dolorosa, tanto quanto as dores de um parto. Continuamos crescentemente vítimas de idolatrias, que nos expulsam de nós. Nesses nossos tempos surgiram novos profetas, que têm sutilezas refinadas, ardis tecnológicos, e mantêm, assim (como outros faziam antigamente, mas por métodos mais grosseiros), a dominação que lhes convém, ou a seus grupos. Não é exagero percebermos o mundo de hoje como decadente, em desintegração moral, cada vez mais sob o império de uma ideologia

AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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individualista. Parece-nos que domina uma atualização da máxima de Protágoras: “o homem é a medida das coisas”. Nossas atitudes cotidianas, a mecânica psicossocial de hoje, fazem-nos acreditar, de fato, que ao homem tudo pode – esclareça-se: ao interesse humano, à vaidade humana, à cobiça. Assim como parece ter ficado fora de moda a busca pelo transcendente, ainda que não místico, e pelo bem coletivo. A necessidade de transcendência, como se nota atualmente, se esgota na construção de um Deus individual à semelhança de si! Nenhuma religião no mundo ocidental conserva mais a capacidade de poder estabelecer uma força ordenadora e uma divindade comum. Hoje é árido para as pessoas, principalmente os jovens, praticarem o pensamento – o seu real pensamento. Enfatizamos os jovens porque a eles pertence o momento presente e o reconhecimento da contestação, a eles se credita, mais do que a outros, o direito de não concordar, de indagar, de contra-argumentar, de confrontar. Mas fica muito difícil quando todas as demais mentes estão formatadas por outros alinhamentos e intenções. Como posso mergulhar em mim, procurar o autoconhecimento desvestindo-me do tudo que aí fora está dito que eu sou e para eu ser? Como, sozinho, lutar contra isso sem virar um estranho. Se o dourado ‘modo de ser’ bombardeado pela mídia é um, e o rebanho o assume, como solitariamente eu poderei ser outro, sabendo que minha energia emocional tem que se nutrir nesse mundo além de mim? Essas perguntas, e outras da mesma genética, poderiam ser feitas quase interminavelmente. Então, é hercúleo, sem dúvida, nos tempos presentes e para um ser humano comum, remar contra a corrente, fazer a imersão, e tentar descobrir o que verdadeiramente se é, o que eu sou em minha essência, na fronteira última, e não aquilo que a agência de publicidade X diz que eu sou (ou deveria ser). Todo esse intricado cenário só faz inibir o jovem, desorientando-o. Insistimos com o jovem, i) porque o Brasil é um país de população jovem, de acordo com todas as estatísticas do IBGE2, ii) porque a maior parte das pessoas que constituem o suposto público-alvo dos cursos e livros de liderança são do sexo masculino e têm até 30 anos de idade (observação pessoal), iii) porque é exatamente esse o segmento da PEA (População Economicamente Ativa) destinado a comandar projetos e empresas no curto e no médio prazos. Uma força que atua potentemente durante essa idade jovem, e que teve seu epicentro na adolescência, é a da agregação, da formação de grupo. Quanto mais jovem se é (cronológica ou psicologicamente) maior a necessidade de turma e mais difícil a convivência com a solidão amadurecedora e com imersões em si, o que se dizer então da assunção de comportamentos não tribais. Eis a grande dificuldade que o exercício do autoconhecimento tem a encarar. Além do mais, é inegável a tendência dos mais jovens à veneração, o que via de regra resulta em cegueira. E como nossa atual lógica de mercado postula tudo isso: o consumo, a padronização, a aglutinação, a formação de torcidas consumidoras, a construção da personalidade individualizada e não-rebanho fica cada vez mais custosa, penosa.

AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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ENSAIO Por sob a mesmice, por sob a vontade de rebanho, surge também, embora com algum grau de anestesia, a vontade da diferenciação, a buscaculto da individualidade, da necessidade de se apartar para se ver e ser, e essa individualização, de alguma maneira, termina por reforçar o senso de competitividade, que tão bem o próprio sistema coopta, para, servindo-se da mídia e dos consultores especialistas de plantão, produzir a crença na necessidade e na existência de líderes. E tome-se cursos de fim de semana para formar os tais! Virtudes Arrisquemos algo herético: reunir oito virtudes convenientes à sobrevivência do líder e de sua liderança. Qual o risco? A leviandade de fundir quatro virtudes apontadas por Platão, as naturais (ou cardeais) – prudência, fortaleza, temperança, justiça – com as quatro virtudes mencionadas por Nietzsche (aforismo 284 de Para Além do Bem e do Mal) – coragem, perspicácia, simpatia e solidão. Os dois pensadores também se encontravam preocupados com a formação de verdadeiros líderes, fosse o rei filósofo, fosse o filósofo do futuro. Das oito, que nos detenhamos numa delas: a solidão. Esta porque, talvez, de algum modo amalgame todas as demais. Solidão e Reflexão Solidão (do latim solitudine) é a virtude que mais desapareceu de nossos tempos atuais. Mais: por uma série de motivos, e até de interesses, ela passou a ser associada a algo ruim, discriminável, mesmo patológico. O dicionário a entende como estado do que se encontra ou vive só, isolamento, e também, situação ou sensação de quem vive isolado numa comunidade. Chame-se atenção para que o dicionário descreveu um estado e não emitiu qualquer juízo de bom ou mau a respeito. Mas o ser humano atual, em sua ânsia fremente e contínua de se referir pelos outros, de se espelhar nos outros, e por ter medo de si, passou a equivaler solidão a castigo. É fácil notar que a sociedade de consumo e seus líderes e títeres fomentam a não solidão, isto porque a vida sempre em conjunto, em turma (independentemente da tendência humana ao gregário), anima, excita e faz buscar o consumo (do necessário e da miríade de supérfluos que há), na medida em que não deixa tempo e espaço para a busca da reflexão crítica. E esse mecanismo vai-se tornando de tal modo preponderante e poderoso, como bem quer a megamáquina, que nem ao voltar para casa, na brevíssima parte do dia em que fica só, o indivíduo sabe mais experimentar tal situação, tendo perdido por completo a percepção desse prazer, e, ao entrar, imediatamente liga aparelho de som, secretária eletrônica... em resumo: foge de si, de seu pensar. E a cruenta ironia, da qual atualmente poucos se dão conta, é que a pessoa que assim age está construindo os sólidos alicerces para uma solidão esta sim doentia, porque é a solidão decorrente do divórcio consigo, da separação entre o eu afazeres e o eu AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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profundo, o eu agenda e o eu essência (restando este cada vez mais remoto, desconhecido, estranho – e, primeira reação do humano: o estranho sempre causa medo!). O eu práxis, eu mundano que todos nós também temos que ter, porque faz parte do dia a dia, vive em nosso eu maior, mas não pode se igualar a nós no todo, não se confunde conosco. No nosso entender, solidão, em hipótese alguma, é ser só ou estar só. Não ter vida interior é que é solidão, e é exatamente isso o que a maioria das pessoas está fazendo consigo ao não ficar só: está covardemente matando sua vida interior. Se é tão dificultoso, por que a insistência em buscar o autoconhecimento? Quando não por outras questões, pela própria estratégia da formação de um líder, posto que sem autodomínio, o domínio de si, ninguém poderá exercer uma liderança, e só se pode atingir a condição de autodomínio pelo pleno (maior possível) autoconhecimento. A busca honesta e competente de autoconhecimento deverá levar a pessoa a conhecer-se, o que é atingir sabedoria, e a sabedoria leva, de volta, ao autoconhecimento, o processo sendo mutuamente retroalimentador e propulsor.

Percepção do entorno Ninguém que tenha inteligência age contra o melhor ou, se por acaso o faz, é por ignorância. Quem tem conhecimento real de si, e, portanto de seu entorno, age na melhor direção e na direção do que é melhor para si e para seu grupo, age na direção do certo (atitude obrigatória para o líder), cria empatias. Quem tem conhecimento do melhor e quer o melhor sabe amar. E no amor ao próximo (equipe), no amor à causa (projeto), existe um interesse oculto, uma segunda intenção sadia: é que o “estado de amor” é uma condição pessoal de alta energia e, por isso, excelente fonte para realimentação permanente do espírito e para resistência a deformações. Poderíamos mesmo afirmar que, nas relações humanas, tudo que é feito desprovido de amor é imoral, porque pode se tornar relação de uso, apenas. Como imoral se tornou nas sociedades ocidentalizadas a mercantilização e a coisificação do humano. Na matéria do humano, o grande impacto estabelecido pela revolução industrial, impacto que perdura até nossos dias, é que, consoante o provado por Max Scheler3, o aprimoramento tecnológico, que permitiu o avanço na capacidade de produção, terminou por equivaler, ou mesmo igualar, o ser humano a dinheiro. A grande equação da revolução industrial foi: homem = produção = dinheiro. Portanto, o homem fica igualado ao dinheiro. Fica mercantilizado, sem amor, fica coisificado. Tanto pode ser trocado por um rolls-royce quanto por uma banana, dependendo do homem. A verdadeira liderança, em si e para atingir seus resultados, só pode ser um ato de amor. A liderança de fato deriva de uma causa, que se sustenta numa visão que só se realiza num ato de amor – e não existe técnica para que se ensine amor!

AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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Para investir ainda mais nessa reflexão, sugerimos a obra de Martin 4 Buber , pois somos levados a pensar que o verdadeiro líder só será aquele que em relação a todos os que o cercam houver desenvolvido o diálogo “eu-tu eterno”, e um tal líder é aquele que jamais se separa dos seus ou da causa. Contestarão: “mas a formação do ser é função dos pais, da sociedade e do Estado”. Tudo isso, no entanto, tem falhado escandalosamente e, justamente por tal motivo, proliferem talvez tantos cursicos e livrecos de autoajuda e de liderança. Toda vez que a verdadeira educação, a ontológica, aquela da gênese do ser, não se dá, surgem as muitas educações especializadas para isso e para aquilo. Mas de fato, se o assunto é educação, desde longa data não somos treinados, não somos educados, no sentido do fazer-se ser, do autoconhecimento. Não temos nem o hábito nem a técnica finalizada para isso. Ademais, nesses nossos tempos, não da globalização, mas de sua mutação mais perniciosa, tempos da homogeneização, buscar a essência de si e a essência de ser implica, comprovadamente, em desgarrar do ‘rebanho’, em marchar contra o passo, e acaba se tornando tarefa de herói, quase de super-homem. E para terminar a crítica ao processo educacional, registre-se que nosso sistema universitário há décadas vem-se especializando com afinco em formar bons profissionais empregados – ‘ter um bom emprego é tudo que se almeja’ – e, não, formar empresários. Mando Para mostrar que não há mar de rosas, vamos admitir que algum candidato talentoso e abnegado tenha suplantado a barreira do autoconhecimento e todas as demais dessa corrida de obstáculos e haja, finalmente, atingido o status de líder de um acontecimento. Só então é que ele se verá frente a frente com o maior de todos os desafios: o de mandar. Sim, porque por mais que técnicas de relacionamento queiram dissimular (e há grande risco nisso, por exemplo, a virulência do fingimento), o líder terá que mandar, inclusive, e eis a maior de todas as dificuldades: mandar em si. Nietzsche faz o seguinte interessantíssimo comentário5: “Mandar é mais difícil do que obedecer; e não apenas porque aquele que manda suporta o peso de todos os que obedecem, e essa carga facilmente o derruba. Mandar parece-me um perigo e um risco. E quando manda, o vivo sempre se arrisca. E quando manda a si próprio também tem de expiar a sua autoridade, tem de ser juiz, vingador e vítima das suas próprias leis.”

AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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ENSAIO Vontade

A linha de raciocínio é pois: mando -+ vontade -+ comando. Para comandar uma tarefa, seja ela solitária ou compartilhada com outros, o primeiro passo, fator limitante do processo, é a vontade. O que é vontade? Por trás dessa simpática palavra se oculta um complexo mundo de sensações, suposições, desejos, expectativas, afetos e gratificações. Um indivíduo pode, num dado momento de sua vida, arregimentar em si todos os pré-requisitos para liderar um desafio, sobretudo, como foi dito antes, pode mesmo ter obtido um excelente nível de conhecimento próprio, porém se ele não tiver a vontade para tanto, mais ainda, conhecimento e consciência dessa sua vontade6, de suas artimanhas, do que ela disfarça de prazer pela realização e pelo comando, ele não será um líder, mas um ditador de ordens de comando. É absolutamente necessário que o caminho do autoconhecimento tenha conferido ao sujeito uma noção tão honesta e tão exata de si quanto possível, de suas forças, de suas fraquezas, de seus propósitos, de sua capacidade de diligência, do grau de sua independência nas decisões e encaminhamentos, para que a partir disso ele avalie a força de sua vontade e o quanto dessa poupança há depositado no banco da ação, porque saques acontecerão, e muitos. imaginação Mas talvez só vontade não seja suficiente. Se lermos a obra de Émile 7 Coué descobriremos que o que nos impulsiona adiante, para o bem ou para o mal, é a autossugestão consciente, que vem do poder da imaginação. Imaginação, outro grande aliado que podermos ter. Uma forte capacidade de imaginação se confunde com a visão, indispensável ao exercício de liderança. independência com interdependência Autoconhecimento e vontade e consciência da vontade e imaginação. Está pronto o arsenal? Ainda não. Infeliz ou felizmente outro item a lapidar precisa estar em cena e ser discutido: a independência. Independência é essencial à liderança. Só pode ter independência, o máximo possível, quem de fato se autoconhece e domina e lidera, também ao máximo, a fisiologia de suas vontades. Permitindo-nos a redundância, independência é não depender: não depender materialmente, não depender emocionalmente, não depender psicologicamente, não depender historicamente, não depender intelectualmente, não depender politicamente, tudo isso na medida dos limites de suas possibilidades. E, mais importante, a sutil armadilha sempre à espreita: não depender de si, isto é, de seus fantasmas (sobretudo os do passado, da infância e adolescência), de seus demônios, das vozes do inferno próprio que querem auferir alguma forma de vantagem ou benefício egoísta daquilo que se está a fazer. É muito comum percebermos na ação de líderes (pseudolíderes) interesses velados, escusos. Ora, o que se passa é que se o líder ao liderar AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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tem de fato algum outro intento em mente que não a consecução do próprio mister da liderança, se, secretamente, vislumbra um ganho pessoal, só dele (ou ainda que para um grupo seu), além de estar traindo o processo, maculando-o de falsidade, ele estará realmente construindo uma nãoliderança na proporção em que a verdadeira liderança só existe em estado de franca independência do espírito do líder. A liderança real não se subordina a interesses que não o resultado antevisto para aquele processo e pactuado entre todos. Convém registrar o grau de dificuldade intrínseco a ser independente. Dificuldade e riscos. Independência é atributo de poucos. Por fim, a independência em grau maior faz com que se perceba e se assuma a interdependência, pressuposto básico para uma vida fraterna e mais produtiva. Processo O autoconhecimento é, em si, também um processo. Ninguém deve se iludir imaginando que após estudar o assunto, arquitetar a técnica que lhe seja mais condizente e aplicá-la, culminará por atingir uma verdadeira percepção tomografada de si. Isso não existe. Então, com razão poderão nos interpelar: e para que tanta conversa se é assim? Pois aí está: autoconhecer-se deve ser tomado como meta permanente, algo que tem começo e não tem fim, mas que a cada ciclo completado nos catapulta a um patamar mais alto e melhor da incrível capacidade de percepção de si. Lancemos mesmo à discussão a referência das permanentes transformações da vida, da fluidez dos fatos, das contínuas alterações dos marcos e das perspectivas, tanto ao modo heraclitiano quanto ao aprofundamento nietzschiano, para que possamos postular que tão rápido quanto nos conhecemos mediante um exercício sério de autoconhecimento já precisamos nos investigar novamente, posto que o próprio fato de atingir um nível mais elevado de autoconhecimento já nos modificou. Por isso, não cremos que haja a cilada de tornarmo-nos desinteressantes para nós por melhor nos conhecermos. Sublinhe-se que o processo de autoconhecimento não fornece um produto acabado, pronto (há mesmo autores de peso que desacreditam da possibilidade de haver um autoconhecimento). Ele, tão somente pode melhorar o conhecimento que de nós temos (nos aspectos qualitativo e quantitativo) e precisa estar sendo constantemente refeito, avaliado e validado.

Cuidado Cumpre notar que o processo de autoconhecimento, a busca do conhecimento do próprio, do eu, do interno, poderá trazer em si temperos especiais. Por exemplo, o despertar ou o salientar do cuidado, do zelo por si. Quando e quanto melhor me focalizo, aí necessariamente incluindo o inventário dos pontos fracos e reais carências, mais posso, talvez, adotar mediadas AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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cuidadosas para proteção adequada, superação e crescimento interior. O cuidado é um atributo, uma faculdade bastante importante. É curiosíssimo constatar que tal palavra deriva do latim cogitatu, com o significado de pensado, pensamento, reflexão. Para nós, em seu conteúdo semântico atual sobressaem, dentre outros, os de: atenção, precaução, cautela, desvelo, zelo, inquietação de espírito. Assim, cuidar de si seria pensar em si com competência suficiente para saber ter precaução por si e acautelar-se. Cuidar de si seria inquietar o próprio espírito na busca do eu mais verdadeiro. Nosso ser será sempre nosso maior patrimônio, nunca rivalizado por qualquer tipo de riqueza ou poder. Conhecer e cuidar desse patrimônio implica em: i) manter elevada a autoestima positiva, ii) melhor perceber aos outros e não ter vergonha de evidenciar cuidados, no cabível, por eles também, iii) por extensão, cuidar do que é externo ao ser, destacadamente da natureza, mãe e fonte da própria vida que me disponho a cuidar.

Compreensão Interativa Devemos ainda registrar um forte benefício colateral para quem persegue o autoconhecimento: a prática de se conhecer, por meio da técnica mais ajustada e da disciplina para tanto, fatalmente ajudará muito a pessoa a compreender o mundo que a cerca, a melhor compreendê-lo. Ocorrem-nos os ensinamentos de Paul Ricoeur8, que, falando a respeito da hermenêutica, nos diz que compreender um texto é encadear um novo discurso no discurso do texto (vamos supor que o texto seja nosso próprio eu, nosso livro interior, o registro do que temos sido e temos feito). Isto supõe que o texto seja aberto. Ler é apropriar-se do sentido do texto. Dum lado não há reflexão sem meditação sobre os signos; doutro lado, não há explicação sem a compreensão do mundo e de si mesmo.

2 O pensamento ambiental como alimento para a liderança Resumimos até aqui um percurso clássico dos fatores considerados prérequisitos para o exercício da verdadeira liderança. Autoconhecimento, virtude da solidão, solidão e reflexão, percepção do entorno, mando, vontade moral, imaginação, independência com interdependência, noção de processo, capacidade de cuidado, compreensão interativa. Ética e prática ambiental Contudo, todos esses atributos em soma e sinergia, se foram suficientes algum dia para estofar o verdadeiro líder, hoje não são mais, em definitivo. Um novo atributo, vigoroso e essencial, vem se juntar àquele elenco: o da ética e da prática ambiental9. Essa qualidade tão necessária agora e AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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inexistente antes dos anos 1960, torna-se agudamente obrigatória, tanto para o líder empresarial, quanto o político e também para o líder comunitário e o religioso. Nesses tempos de Supercapitalismo, o grande desafio que enfrentamos todos é fazer do líder empresarial um ser humano sensível e receptivo aos temas ambientais e aos sociais. O que estamos preconizando, mais do que nunca, é que no espírito do líder empresarial de hoje se amalgamem os conteúdos do eco da economia com o eco da ecologia. A palavra oikos, do grego antigo, de onde deriva o termo eco, estava para eles relacionada ao comando de um chefe (líder) guerreiro. Este liderava a família e um grande conjunto de agregados (não muito diferente do que se via, em séculos passados, na formação do Brasil, conforme tão bem demonstrado por Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro). Segundo Maurício Waldman10: “Um segundo detalhamento é que oikos, dizendo respeito à produção e ao consumo, implicaria a impossibilidade de separarmos o conceito de ecologia do conceito de economia”. De fato: ecologia vem de oikos + logos, vale dizer, o estudo da casa, enquanto economia vem de oikos + nomos, ou seja, ordem, organização da casa. Isso nos mostra, claramente, que a preocupação econômica não pode existir de forma desvinculada da preocupação ecológica. O líder empresarial que está voltado a gerar resultados econômicos para seus clientes e acionistas, não pode, todavia, um só segundo esquecer-se que tanto cliente (consumidor) quanto acionista (investidor) também têm, mesmo que não explicitamente, total interesse na manutenção de sua oikos, posto que sem ele não poderá haver qualquer forma de ganho (lucro) real. Não há economia fora na existência física do planeta e de sua lógica de ciclos e formas de vida. Destarte, imprescindível afirmar que agora a primeira tarefa da liderança é garantir a qualidade (sustentabilidade) ambiental. O verdadeiro líder é aquele que entende a fisiologia ambiental em seus aspectos capitais e incorpora essa percepção de maneira inexpugnável às demais dimensões da liderança. Para sua formação, dentre outros livros, deve fazer parte obrigatória de sua biblioteca a obra do norte-americano Lester Brown, pioneiro dessa ecoeconomia, que esteve em São Paulo recentemente para lançar seu novo livro: Plano B 4.0: Mobilização para Salvar a Civilização, no qual nos conclama a assumir esse “esforço de guerra” por meio de atitudes individuais e coletivas, públicas e privadas11. Mobilização para uma aliança, poderíamos cogitar. Uma aliança ambiental, para salvar o planeta. O que é tão novo quanto a Bíblia, afinal é no Gênesis que iremos encontrar a informação: “Disse também Deus a Noé e a seus filhos: Eis que estabeleço a minha aliança convosco e com a vossa descendência, e com todos os seres viventes que estão convosco... todos os animais da terra... aliança entre mim e a terra.” (Gn 9:9, 10, 13). Associando as idéias de liderança e de aliança, diríamos, ainda, que liderar nada mais é do que estabelecer alianças.

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[...] No entanto, não se dispõe de meios para determinar as obrigações sociais do setor privado, a não ser o processo democrático. Aumentar o senso de ‘responsabilidade social’ das empresas é objetivo valioso, mas o melhor meio de realizá-lo é tornar a democracia mais eficaz.15 O líder empresarial, com formação ambiental correta, saberá se conduzir no meio desse emaranhado de interesses e contradições.

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Para discutir um pouco o tema da ética ambiental, falemos antes de ética, analisando um fato curioso. O Ano Internacional do Planeta Terra (AIPT) 16, comemorado a partir de janeiro de 2007, com término em dezembro de 2009, mas ênfase em 2008, teve sua proclamação declarada na Assembléia Geral das Organizações das Nações Unidas, em dezembro de 2005. Proposta apoiada por 191 países, o AIPT tem como objetivos: (1) Demonstrar o grande potencial das Ciências da Terra na construção de uma sociedade mais segura, saudável, solidária e sustentada; (2) Encorajar a sociedade a doravante aplicar este potencial mais eficientemente, em seu próprio benefício. A liderança mundial das atividades é responsabilidade maior da União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS - International Union of Geological Science) e da Divisão de Ciências da Terra da UNESCO, além de 12 importantes Organizações Parceiras Fundadoras e 26 Parceiros Associados. O Brasil criou um Comitê Nacional para cuidar do assunto17. Quem se lembra disso? Provavelmente poucos, mesmo dentre os profissionais do setor. Eis exatamente onde cabe profunda indagação a respeito de ética. Em sua origem, ética diz respeito ao distanciamento que há entre o que se propugna e o que se pratica. Assim, não há ética onde existe distância entre esses dois termos. Traduzindo, não basta pensar, há que se executar. Não basta querer, há que se acreditar e agir. Caso contrário, todas as vontades e quereres e supostos valores nunca passarão de retórica, ou, pior ainda, pirotecnia. Como desde há muito também se sabe que a verdade e o que é certo acabaram se aproximando e se confundindo com o que é bom, então sendo certo haver íntima proximidade entre o que é pensado e dito e o que é feito, o ético passa a ser bom. E o que é bom, é de se supor, acontece para o bem. Dessa forma a ética ambiental está em pensar e fazer o correto para a natureza. Propugnamos pelos mesmos ditames alinhados na ética ambiental profunda do filósofo norueguês, criador da ecosofia, Arne Næss e seguidores, mas queremos insistir com o pensamento de outro filósofo, que foi um importante teórico da ética e da ecologia, Hans Jonas18, e que formulou um novo e elevado princípio de moralidade: “Aja de tal modo que os efeitos de sua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana genuína.” Disse Hans Jonas: “Os fins do homem moram na natureza.” Outro importante filósofo da atualidade, o francês Luc Ferry [19], entende da seguinte maneira esse pensamento de Jonas: [...] os objetivos que os seres humanos deveriam assumir no plano ético se inscrevem, como pensavam os estóicos, na ordem mesma do mundo, de modo que o

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‘dever-ser’ – ou seja o que moralmente é preciso fazer – não está separado do ser, da natureza tal como ela é.20

Tudo o que eu devo fazer não se separa da natureza se a natureza está em mim; se eu sou parte da natureza, o que faço contra ela faço contra mim; o que faço para ela, faço para mim; o que de bom faço para mim, faço para ela também. Ocorre que como o homem sempre se refere a si próprio como algo no tempo e no espaço e, em escala, ele sempre se percebe pequeno diante da eternidade do tempo e da imensidão do universo – até mesmo do planeta Terra –, e as repercussões negativas de suas ações de destruição surgindo distantes ou no espaço ou no tempo, isto como que o anestesia, serve como cortina enganosa, que não lhe permite ver com clareza o dolo de seus atos. É preciso que se traga para a consciência presente todas as transformações negativas ocorridas em nosso hábitat em consequência de nossas ações. É preciso que passemos a avaliar melhor os impactos de nossas ações. É preciso que retiremos de nosso arsenal de desejos tudo aquilo que é supérfluo e desnecessário ao ser. É preciso que tenhamos a coragem de inaugurar um novo modelo educacional, não voltado a atender a lógica produtivista-consumista do capitalismo. Aliás, longe de estar fazendo um discurso de esquerda, pelo contrário, é preciso que lembremos que o capitalismo não é o único sistema de vida possível para nossa sociedade humana. É preciso lembrar que nada mudará na ordem do Cosmo se amanhã deixarmos, todos nós, de tomar um certo refrigerante ou de usar aquele determinado produto. A ética ambiental impõe que não queiramos utilizar inutilmente recursos do meio ambiente. Isto retroage a que reexaminemos aquilo que consumimos, no quê e no quanto. A ética ambiental impõe que conheçamos (cognição racional e emocional) mais a natureza. Sem querer evitar os reais benefícios das conquistas e dos avanços humanos, a ética ambiental reclama que sejamos mais cuidadosos e examinemos a fundo o que nos traz e o que não nos traz ganhos, aquilo que é só questão de fútil comodidade ou de modismo afirmador de psicologias individuais pouco seguras. Sobretudo, a ética ambiental não admite um faz-de-conta ético, como aquele da ecologia rasa e que, entre nós, tem-se tornado mais e mais rasa ainda. Por fim, a ética ambiental não se contentaria apenas em preservar a vida do planeta e a vida humana, não, como muito bem disse Hans Jonas, devemos conservar, manter, preservar a vida sim, mas a vida humana genuína! Em 9 de março de 2008, o Vaticano tornou pública sua posição quanto à ética referente a vários pontos polêmicos da atualidade. A Igreja Católica entendeu que21:

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A manipulação genética, o uso de drogas, a desigualdade social e a poluição ambiental estão entre os novos pecados capitais pelos quais os cristãos devem pedir perdão, segundo a nova lista apresentada pela Santa Sé. O Vaticano atualizou a lista de pecados capitais para adaptá-la à "realidade da globalização". Os novos pecados capitais – merecedores de condenação segundo a Igreja Católica – serão agregados aos anteriores: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, vaidade e preguiça. Publicada no domingo no jornal do Vaticano, Osservatore Romano, a lista foi divulgada depois que o Papa Bento 16 denunciou a "queda do sentimento de pecado no mundo secularizado", em meio à redução no número de católicos que praticam a confissão.

Monsenhor Gianfranco Girotti, responsável pelo tribunal da Cúria Romana, disse ao Osservatore Romano que, diferentemente dos anteriores, os novos pecados vão além dos direitos individuais e têm dimensão social. Há várias áreas relacionadas aos direitos individuais e sociais dentro das quais incorrer em atitudes pecaminosas. Antes de mais nada, a área bioética, dentro da qual não podemos deixar de denunciar algumas violações de direitos fundamentais da natureza humana, através de experiências e manipulações genéticas, cujos êxitos são difíceis de prever e manter sob controle. De acordo com o Monsenhor, a injustiça social e os crimes ambientais encontram-se também na listagem das novas ofensas pelas quais os fiéis devem pedir perdão e se penitenciar. Independentemente do efetivo e rápido resultado para a qualidade do meio ambiente mundial dessa decisão da Santa Sé, é inegável que, do ponto de vista ético e moral, tal fato representa um grande ganho e um avanço, na medida em que todos os cidadãos do planeta, seja qual for sua crença religiosa, são compelidos a refletir acerca das suas atitudes individuais que podem repercutir de forma muito negativa para o todo social, desde que em desacordo com as normas e orientações de uma educação ambiental consciente e cívica.

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Uma educação ambiental desde o mais tenro berço e continuadamente, eis do que necessitamos. Uma educação ambiental que desenvolva, fixe e incorpore valores de forma inelutável. Educação que alinhe princípios à estética, vontade ao poder, sabedoria à prática, senso crítico e racionalidade à paz. É preciso que saibamos, todos, que viver é uma questão muito mais de simples e pura sabedoria do que de consumo, de ostentação, enfim, de ciência. A própria ciência e seu método, seja qual for, devem estar sujeitos, no sentido de subordinados, à sabedoria. A propósito, o grande filósofo inglês Bertrand Russell muito competentemente faz a distinção entre sabedoria (wisdom, em sua língua) e conhecimento (knowledge). Consoante, nos diz Alberto Oliva: À sabedoria incumbe determinar o uso que se vai dar ao conhecimento. Por exemplo, este produz a bomba atômica, aquela define que (des)uso será feito dela. Além do mais, caso se arvorasse a estatuir como se deve viver, a ciência assumiria uma função normativa que a aproximaria da filosofia e da religião e a afastaria de seus propósitos.22 A prática ambiental que todos e cada um de nós devem adotar (dever, segundo todos os dicionários de Língua Portuguesa, tem em primeiro sentido o de ter obrigação de) é a de agir, conduzir-se e fazer com que ajam e se conduzam segundo a ética ambiental. Nesse sentido, existem algumas (boas) iniciativas de educação e conclamação, embora sejam ainda muito pífios todos os resultados obtidos. Várias entidades divulgam recomendações daquilo que hoje se considera uma atitude ecologicamente saudável e correta. Contudo, um exame crítico dessas sugestões revela que quase todas se prendem, também, a um modo raso de ver o cuidado ambiental, ou seja, são, na maioria, consertos para o que já se estragou ou se está estragando. Não podemos permitir que venha a acontecer aquilo contra o que adverte a cientista política Lorraine Elliott: “O século XXI pode transfigurar-se numa espécie de ponto de não retorno ambiental e, portanto, devemos neste momento encetar opções corretas.”23 Opções corretas... A prática ambiental, decorrente da ética ambiental que defendemos, incorpora o culto à estética ambiental, à beleza do fenômeno da vida, que existe por si e em si, desde muito antes da ocorrência do humano, embora só por ele possa ser percebida e exaltada. O humano tem absoluta necessidade do belo, sem o qual as percepções se entorpecem e brutalizam. Brutalizar o humano e suas atitudes advém justamente do não conhecimento do que é belo, belo por ser bom e moral. O belo é bom. O bom é belo. Belo e bom são as bases do moral e do ético. A beleza, se expurgada de nossas ações e observações, se impedida em nossa prática, leva-nos a uma forma simultânea de intoxicação aguda e crônica: o quadro agudo denotado pela violência e o desrespeito ao outro, ao coletivo e ao ambiente natural; o

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quadro crônico caracterizado pela depressão e o alheamento de si. Quem não percebe o belo em tudo que há, que estava antes dele e dele nem precisou para ser, não está pronto para viver: está, isso sim, pronto para consumir, tal ato significando a busca compulsiva e extenuante, ainda que inconsciente, por um pouco ou algum aspecto de/do ser. A beleza da natureza é simples e não demanda explicações. Intuir e sentir tal beleza é um ato maior da intelectualidade que carregamos como potencial. Não é um ato religioso, embora o sentimento de uma religiosidade ao natural possa ser, ele próprio, natural e útil. Só os seres que despertam sua sensibilidade, como instrumento de conexão com a vida e os fluxos de vida, os que treinam seus olhares, os que elevam seu discurso desmaterializando-o, estão próximos ou prontos para a compreensão dessa estética ambiental, verdadeiro propósito lúdico de bemestar para esse breve experimento que a Natureza nos proporciona/proporcionou como seus escolhidos e eleitos. Se é verdade que é preciso educar, acrescentamos que é preciso educar pela arte e pela estética ambiental, patrimônio maior – e grátis – aqui deixado para nosso conforto e deleite!

Referências [1] SOUZA NETO, M. J.; AZEVEDO, F. A. A personalidade daquele que exercerá o papel de líder. TECBAHIA R. Baiana Tecnol., Camaçari, v. 21, n. 2-3, p. 5-27, 2006. [2] [IBGE] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Dados estratificados da população brasileira, Censo 2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/pop_C ens o2000.pdf>. [3] Max Scheler nasceu em 22 de agosto de 1874, em Munique, e faleceu em 19 de maio de 1928, em Frankfurt am Main. Tornou-se conhecido por seus trabalhos em fenomenologia, ética e antropologia filosófica. Desenvolveu o método filosófico do fundador da fenomenologia Edmund Husserl e foi chamado por Jose Ortega y Gasset “o primeiro homem do paraíso filosófico”. Em 1954, Karol Wojtyla, mais tarde o papa João Paulo II, defendeu a tese de doutorado Uma avaliação da possibilidade de construir uma Ética Cristã com base no sistema de Max Scheler. O centro do pensamento de Scheler é sua Teoria do Valor, segundo a qual o “valor-ser” de um objeto é anterior à percepção. A realidade axiológica dos valores é anterior ao conhecimento. Valores e seus correspondentes ‘desvalores’ existem em um ordenamento objetivo de categorias. Outras de suas importantes idéias foram: categorização de valores, intuição emocional, valores baseados em ética, ressentimento. De sua vasta obra pode-se destacar: On the Eternal in Man; Man's Place in Nature (A posição do Homem no Cosmos); Ressentiment; Formalism in Ethics and Non-Formal Ethics of Values: a New Attempt toward AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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the Foundation of an Ethical Personalism (publicação alemã original 191316); Person and Self-value: Three Essays; On Feeling, Knowing, and Valuing. Selected Writings. [4] Martin Buber nasceu em Viena, a 8 de fevereiro de 1878, e faleceu em Jerusalém, a 13 de junho de 1965. Sua formação universitária foi em Viena. Tinha educação poliglota: em casa aprendeu ídiche e alemão; na escola, hebraico, francês e polonês. Buber era filósofo, escritor e pedagogo, de inspiração sionista. Vale citar: BARTHOLO JÚNIOR, Roberto. Você e eu: Martin Buber, presença palavra. 1. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. 120 p. (Coleção idéias sustentáveis). ISBN 85-86435-51-1. [5] Friedrich Nietzsche. AssimFalouZaratustra,umlivroparatodoseparaninguém. Parte II. A vitória sobre si mesmo. [6] Pensamos em vontade no sentido Kantiano, com conteúdo moral na ação. Ver SILVA, André Luiz Olivier da. De Hume a Kant: as determinações da vontade e a ação livre. Intuitio, v. 2, n. 2, 2009. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/view/59 37>. [7] Émile Coué, farmacêutico e psicoterapeuta, nasceu em Troyes, França, em 26 de fevereiro de 1857. Tornou-se célebre por desenvolver um método de terapia baseado na auto-sugestão. A respeito consultar: COUÉ, Émile. O domínio de si mesmo pela auto-sugestão consciente. São Paulo: Martin Claret, 2003. 144 p. (Coleção a obra- prima de cada Autor, 113). [8] Paul Ricoeur nasceu em Valence, França, em 27 de fevereiro de 1913, e morreu em Chatenay Malabry, próximo a Paris, em 20 de maio de 2005. Foi um dos grandes nomes do pensamento francês no pós-Segunda Guerra e se tornou conhecido por combinar a descrição fenomenológica e a interpretação hermenêutica. Por isso ele se liga a dois outros grandes fenomenologistas hermenêuticos: Martin Heidegger e Hans- Gerog Gadamer. Na Universidade de Yale, EUA, Ricoeur produziu uma importante obra de filosofia política. Ele também pesquisou linguística, psicanálise, estruturalismo e hermenêutica, com um interesse particular pelos textos do cristianismo. Cristão e antitotalitarista, notabilizou-se pela oposição à guerra da Argélia (1954-1962) e à da Bósnia, em 1992. Entre as suas obras contam-se Histoire et Verité (1955), Soi-même comme un Autre (1990), La Memoire, l'Histoire, l'Oubli (2000) e L'Hermenéutique Biblique (2001). Página oficial na Internet: <http://ricoeur.iaf.ac.at>. [9] AZEVEDO, Fausto Antonio de; VALENÇA, Mariluce Zepter. Por uma ética e uma estética ambientais. Risco ambiental e sociedade. Revinter Revista Intertox de Toxicologia, São Paulo, v. 2, n. 1, fev. 2009. Disponível em: <http://www.intertox.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1 90&It emid=147&lang=br>.

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[10] WALDMAN, Maurício. Meio ambiente e Antropologia. São Paulo: Senac, 2006. p. 222. [11] O lançamento ocorreu em outubro de 2009, no Museu de Arte de São Paulo, na cidade de São Paulo, conforme relato pessoal de Eduardo Athayde, Diretor no Brasil do WWI - Worldwatch Institute. [12] REICH, Robert B. Supercapitalismo: como o capitalismo tem transformado os negócios, a democracia e o cotidiano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 266 p. [13] A esse respeito sugere-se consultar: BARROS-PLATIAU, Ana Flávia; VARELLA, Marcelo Dias; SCHLEICHER, Rafael T. Meio ambiente e relações internacionais: perspectivas teóricas, respostas institucionais e novas dimensões de debate. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 47, n. 2, July/Dec. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S00 3473292004000200004&script=sci_artte xt>. [14]

Consultar

<www.mma.gov.br/estruturas/agenda21/_arquivos/estocolmo.doc>. [15] REICH, Robert B. Supercapitalismo: como o capitalismo tem transformado os negócios, a democracia e o cotidiano. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 266 p. [16] Consultar <http://www.unb.br/ig/sigep/destaques/AIPT.pdf>. [17] Consultar <http://agenciact.mct.gov.br/index.php/content/view/42407.html>. [18] Hans Jonas nasceu em 10 de maio de 1903, em Mönchengladbach, Alemanha, e faleceu em 5 de fevereiro de 1993, em New Rochelle, New York. Estudou com Husserl, Heidegger e Bultmann e teve como companheiros de estudo Hannah Arendt e Günther Anders. Graduou-se em Marburg e obteve a livre docência em 1928. Estudou o gnosticismo, tornando-se um dos especialistas mundiais. É uma referência no campo das éticas deontológicas, com repercussão na bioética, tecnoética e ética ecológica. Em 1933, com o advento do nacional-socialismo, emigrou para a Palestina e depois para a Itália, onde, como soldado da brigada judaica, ajudou a combater o fascismo. Em 1949, transferiu-se para o Canadá e, em seguida, para os Estados Unidos, onde passou a viver e lecionar. Tornou-se conhecido, primeiramente, por sua obra histórico- filosófica sobre a Gnose e, mais tarde, por seus trabalhos sobre a filosofia da biologia. Desde o final dos anos 1960, Hans Jonas voltou sua atenção para as questões éticas suscitadas pelo progresso da tecnologia. Sua obra maior, The Imperative of Responsibility (publicada em 1979, em alemão, e AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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em 1984, em inglês), que teve importância capital para o movimento ambiental na Alemanha, constituiu a razão principal para a outorga do título de doutor honoris causa em filosofia, concedido em julho de 1992 pela Freie Universität Berlin. Recebeu depois, em Udine, Itália, uma homenagem e um prêmio pela tradução italiana dessa obra. Este trabalho se concentra nos problemas sociais e éticos criados pela tecnologia. Jonas insiste que a sobrevivência humana depende de nosso esforço para cuidar de nosso planeta e de seu futuro. [19] Luc Ferry, filósofo, nasceu em 1o. de janeiro de 1951, em Colombes, nos Hauts- de-Seine, Paris. Foi Ministro da Educação, em França, entre 2002 e 2004. Ferry tem sido um dos principais defensores do Humanismo Secular, visão de mundo que se contrapõe à religião, por conta de seu compromisso com o uso da razão crítica, em vez da fé, na busca de respostas para as questões humanas mais importantes. Define a filosofia como uma soteriologia, isto é, uma doutrina da salvação. Ela é, assim, uma concorrente das grandes religiões, e não é, portanto, mais do que uma reflexão crítica. Ferry tem uma vasta produção escrita e em seu livro de 1992, Le Nouvel Ordre écologique (subtítulo A árvore, o animal e o homem), prêmio Médicis de ensaio e prêmio Jean-Jacques-Rousseau (lançado no Brasil como A nova ordem ecológica. São Paulo: Ensaio, 1994), ele critica certas tendências do ecologismo, em particular a Ecologia Profunda representada no pensamento dos filósofos Hans Jonas e Michel Serres. [20] FERRY, Luc. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 51. [21] Conforme matéria de 10 de março de 2008 – Vaticano divulga lista de novos pecados capitais, em Globo.com. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL3442825602,00.html10/03/2008>. [22] OLIVA, Alberto. Anarquismo e conhecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 10. [23] ELLIOT, Lorraine. The global politics of the environment 1977. Londres: MacMillan Press, 1998. p. 253.

AZEVEDO, Fausto Antonio de. Liderança Ambiental – O Novo Desafio (Competência) para o Líder empresarial. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 5, n. 3, p. 95-113, Out. 2012.

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