Revinter - Volume 9 • Número 3 • Out de 2016 - São Paulo

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ISSN 1984-3577

São Paulo, v. 9, n. 3, Out. 2016

 2016 Intertox


Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado. Meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte. As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda. Seções CIÊNCIAS BIOLÓGICAS II; FARMÁCIA (ANÁLISE TOXICOLÓGICA); CIÊNCIAS AGRÁRIAS I (AGRONOMIA); MEDICINA; SAÚDE COLETIVA; BIODIVERSIDADE; INTERDISCIPLINAR Idiomas de Publicação Português e Inglês Contribuições devem ser enviadas para <a.camera@intertox.com.br>. Disponível em: <http://www.revistarevinter.com.br>. Normalização e Produção Web site Henry Douglas Capa Henry Douglas Projeto Gráfico Henry Douglas

R61i

Revinter: Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade – Intertox – v. 9, n. 2 (out. 2016) - . São Paulo: Intertox, 2016. Quadrimestral ISSN 1984-3577

1.Toxicologia. 2. Risco Químico. 3. Meio Ambiente I. Intertox II. Título Rua Turiassú, 390 – cj. 95 – Perdizes – 05005-000 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3868-6970 http://www.intertox.com.br / intertox@intertox.com.br Revinter, v. 09, n. 03, out. 2016.

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Expediente Editor Coordenador

Eduardo Athayde

Fausto Antônio de Azevedo

Coordenador no Brasil do WWI - World Watch Institute

Mestre em Toxicologia pela USP, Diretor Executivo de Expansão Internacional. Bibliotecária Responsável

Eustáquio Memoriam)

Linhares

Borges

(In

Bacharel em Biblioteconomia e Ciência da informação pela FESPSP.

Mestre em Toxicologia (USP), exPresidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA.

Comitê Científico (2011-2013)

Isarita Martins

Irene Videira Lima Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML-SP por 22 anos.

Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas (USP), Pósdoutorado em Química Analítica (UNICAMP), Farmacêutica- Bioquímica Universidade Federal de Alfenas MG.

Marcus E. M. da Matta

João S. Furtado (In Memoriam)

Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP). Engenheiro Ambiental e Turismólogo.

Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado (Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, NC, EUA).

Andrezza Catharina Camera

Moysés Chasin Farmacêutico-bioquímico pela UNESP-SP especializado em Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública. Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe especial e Diretor no Serviço Técnico de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal da SSP/São Paulo. Diretor executivo da InterTox desde 1999. Ricardo Baroud Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor Científico da PLURAIS Revista Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA Revista Baiana de Tecnologia. Comitê Editorial (2011-2013)

José Armando-Jr Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP), Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF). Sylvio de Queiroz Mattoso Doutor em Engenharia Presidente do CEPED-BA.

(USP),

ex-

Gilberto Santos Cerqueira Laboratório de Anatomia Universidade Federal do Piauí, CSHNB e Professor Adjunto do curso de Nutrição do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Piauí.

Alice A. da Matta Chasin Doutora em Toxicologia pela USP. Revinter, v. 09, n. 03, out. 2016.

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Editorial Os avanços tecnológicos que a humanidade sofreu nas últimas décadas revolucionaram os meios de comunicação e interação humana. A transição do físico para o digital, do papel para o tablet, ainda que não inteiriça e perpétua fez com que as novas gerações adotassem relações diferentes com os outros e com si mesmo. A passagem dos periódicos científicos do físico para o digital é um processo que data de mais de 30 anos, hoje, obrigatoriamente para que aja verdadeira divulgação do conhecimento científico é necessária a versão digital das revistas científicas. Mesmo que permaneça um saudosismo quando ao papel e o encadernado físico, o suporte digital tem como objetivos a diminuição do tempo do processo editorial, resolução da problemática da falta de espaço físico e principalmente a divulgação mundial do conhecimento. Mesmo que a Revinter ainda conte com poucos exemplares de seus volumes físicos, sempre em busca da maior amplitude de público possível, nós adotamos a versão digital como a principal, utilizando da plataforma Open Journal System como mais uma forma de divulgação e acesso. Nosso objetivo é sempre chegar a todos os pesquisadores, curiosos e cientistas que buscam a informação sobre o risco químico, ambiental e toxicológico. Ainda pensando no formato digital das revistas científicas, somos confrontados com uma problemática de recuperação assustadora: a perda de dados em ambiente digital. O armazenamento “em nuvem” tem vantagens maravilhosas, a beleza do arquivamento em servidor externo, acesso rápido e espaço praticamente ilimitado também traz consequências; A perda da informação em nuvem é algo comum, o acesso a links quebrados, páginas fora do ar e documentação corrompida são os pesares do armazenamento em nuvem. Quando falamos em informação científica, sua perda acarreta desvantagens não só para seus autores e editores, mas para a própria humanidade. Em busca de uma solução, orgulhosamente anunciamos que a partir desse número a Revinter conta com o DOI (Digital Object Identifier). Um código alfanumérico garantido através do convênio ABEC e CrossRef que irá garantir o permanente acesso ao conteúdo da Revinter em meio digital, mesmo que a revista deixe de existir. Revinter, v. 09, n. 03, out. 2016.

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Ademais nós saudamos nossos colaboradores, autores, avaliadores, editores e leitores por mais um número, o terceiro e último do ano de 2016. Agradecemos a participação de todos e convidamos a leitura e ponderação sobre nossos artigos, revisões e resenha. Caso tenha interesse em colaborar com sugestões, críticas e comentários, entre em contato com a bibliotecária responsável através do e-mail: a.camera@intertox.com.br.

Andrezza Catharina Camera Bibliotecária Responsável – CRB-8/9955 São Paulo, 21 de outubro de 2016.

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Sumário ARTIGOS ORIGINAIS E REVISÕES DE LITERATURA Aspectos toxicológicos do descarte de Medicamentos: Uma questão em saúde

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Análise das atitudes de risco de consumidores em restaurantes self-service do município de Picos-PI 21 Características físico-químicas e toxicológicas do Triticonazol

36

Síndrome do Roubo da Subclávia e Síndrome do Roubo coronário-subclávio: Um resgate na literatura 50 Intoxicação medicamentosa em crianças: uma revisão de literatura

64

RESENHAS Glutathione S-Transferase Gene Polymorphisms: Modulator of Genetic Damage in Gasoline Pump Workers 72

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Aspectos toxicológicos do descarte de Medicamentos: Uma questão de educação em saúde Sandna Larissa Freitas dos Santos Acadêmica do 8º período do Curso de Farmácia da Faculdade Católica Rainha do Sertão- FCRS. Quixadá-Ceará, Brasil. E-mail: sandy.lary@hotmail.com. Karla Bruna Nogueira Torres Barros Farmacêutica. Mestre em Ensino na Saúde pela Universidade Estadual do Ceará. Docente e Coordenadora do Curso de Farmácia da Faculdade Católica Rainha do Sertão. Regilane Matos da Silva Prado Doutora em Farmacologia pela Universidade Federal do Ceará. Docente do Curso de Farmácia da Faculdade Católica Rainha do Sertão. Francisco Rodrigo de Azevedo Mendes de Oliveira Farmacêutico, Mestre em Ciências Farmacêuticas – UFPI, Professor de Farmacologia, FCRS, Quixadá/CE, Brasil.

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol9ed3.226

Resumo Os riscos do descarte incorreto de medicamentos são considerados uma ameaça à saúde de crianças ou pessoas carentes que possam reutilizá-los, pelo reuso indevido por descuido de sobras de medicamentos. Assim, podem ocorrer reações adversas graves, intoxicações, entre outros problemas, incluindo a agressão ao meio ambiente por meio da contaminação da água, do solo e de animais. Com isso, o objetivo desse estudo foi realizar uma revisão sobre os aspectos toxicológicos do descarte de medicamentos relacionados a educação em saúde. Foi realizada uma revisão bibliográfica através das bases de dados Pubmed, SciELO, e Bireme, selecionandose estudos relevantes para a discussão do tema abordado. Após análise dos artigos selecionados, verificou-se que a com a análise química observa a presença de fármacos como antibióticos, hormônios, anestésicos, depressivos, anti-inflamatórios dentre outros em esgoto doméstico, em águas superficiais e sedimentos, os quais além de ocasionar riscos residuais no meio ambiente pode apresentar efeitos Revinter, v. 09, n. 03, p. 07-20, out. 2016.

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adversos em organismos aquáticos e terrestres. No que se refere aos possíveis efeitos em seres humanos, é constatada a existência de alguns indícios de sua prejudicialidade, bem como a proliferação de doenças e da diminuição da qualidade de vida do indivíduo. Com efeito promover campanhas de coleta de medicamentos vencidos, as quais possam conscientizar a população sobre o descarte adequado e os problemas que podem ocorrer com destinação incorreta destes, é de extrema importância, sendo também essencial realizar divulgação na mídia sobre a coleta, montar postos de recolhimento nas farmácias e encaminhar o material para destinação correta, e, dessa forma, as informações sobre os danos possam chegar até a população. Palavras-chave: Toxicologia. Descarte de medicamentos. Educação em saúde.

Toxicological Aspects of Drug disposal: A question of health education Abstract The risks of incorrect disposal of medications are considered a threat to the health of children or poor people who can reuse them for the improper reuse careless of drug leftovers. Thus, serious adverse reactions may occur, poisoning, among other problems, including damage to the environment through contamination of water, soil and animals. Thus, the aim of this study was to conduct a literature review on toxicological aspects of disposal of medicines related to health education. A literature review was performed through PubMed, SciELO and Bireme databases, selecting relevant studies to discuss the issue addressed. After analyzing the selected articles, it has been found that with the chemical analysis were oberved the presence of substances such as antibiotics, hormones, anesthetics, antidepressants, antiinflammatories and others in domestic sewage, surface water and sediment, which besides causing the residual risks environment may have adverse effects on aquatic and terrestrial organisms. As regards the possible effects on humans, it is found that there is some evidence prejudicial, as well as the proliferation of diseases and the reduction of the individual's life quality. Indeed promote collection of expired drugs campaigns, which can raise awareness about the proper disposal and the problems that can occur with improper disposal of these, it is of utmost importance, and is also essential to conduct media coverage about collecting, mounting posts gathering in pharmacies and forward the material for proper disposal, and thus, the information about the damage can reach the population. Keywords: Toxicology. Disposal of medicines. Health education. Recebido em 03/11/2015 Aceito em 15/08/2016

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INTRODUÇÃO O crescente avanço da ciência na área da saúde e os estudos de novos tratamentos trouxeram diversos benefícios à população, o que também possibilitou um aumento considerável na fabricação e descoberta de novas fórmulas e na quantidade de medicamentos disponíveis para comercialização e consumo.

A facilidade na

aquisição dos produtos medicamentosos associado a automedicação, tem como consequência um acúmulo de medicamentos nas residências domiciliares e portanto um descarte inapropriado dessas substâncias. A ANVISA estima que cerca de 30 mil toneladas de medicamentos são descartadas pelos consumidores a cada ano no Brasil (CARNEIRO, 2011). Conforme observado por CARVALHO et al. (2009), o desconhecimento da população e a falta de orientação por parte dos poderes públicos, ocasionados pela escassez de campanhas informativas, são as principais causas desse descarte inadequado. No âmbito ambiental, o descarte inapropriado de medicamentos, principalmente no lixo comum ou na rede de esgoto, pode contaminar o solo, as águas superficiais, como em rios, lagos e oceanos e águas subterrâneas, nos lençóis freáticos. Resquício de uma ampla variedade de fármacos podem entrar no ambiente por meio de uma rede complexa de fontes e mecanismos. Assim, dentre as principais vias de entrada de fármacos no ambiente, resultante do seu uso intencional, quando são eliminados por excreção após a ingestão, injeção ou infusão, é pela remoção de medicação tópica durante o banho e pela disposição de medicamentos vencidos ou não mais desejados no lixo ou no esgoto (GRACIANI; FERREIRA, 2014). Além disso, quando expostas a condições adversas de luz, umidade e temperatura, as substâncias químicas podem ser transformadas em substâncias tóxicas e afetar o equilíbrio do meio ambiente, alterando ciclos biogeoquímicos, interferindo nas cadeias alimentares (GRACIAN; FERREIRA, 2014). Os antibióticos, por exemplo, quando descartados inadequadamente, favorecem o surgimento de bactérias resistentes. Ademais, essas substâncias podem ser repassadas por contato humano em lixões ou por acidentes em crianças, levando em consideração que medicamentos são utilizados sem considerar prazo de validade ou são eliminados de maneira inadequada, gerando um problema ambiental e de saúde pública (EICKHOFF; HEINECK; SEIXAS, 2009). Apesar dos efeitos tóxicos resultantes da exposição aos fármacos ainda não serem totalmente evidenciados, estudos recentes indicam que estes compostos podem Revinter, v. 09, n. 03, p. 07-20, out. 2016.

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interferir no metabolismo e no comportamento dos organismos aquáticos, resultando em desequilíbrio das suas populações (MARTINS, et al, 2013; MATHIAS, et al, 2014). Dentre os fármacos considerados causadores de problemas ambientais devido às quantidades consumidas, toxicidade ao organismo e persistência no ambiente, estão os betabloqueadores, analgésicos e anti-inflamatórios, hormônios esteroides, citostáticos e os antineoplásicos, agentes redutores de lipídeos no sangue, antiparasitários e antibióticos (CRESTANA & SILVA, 2011). Uma fração do ingrediente ativo, no organismo humano é eliminada na urina ou em menor quantidade nas fezes, sendo que a quantidade excretada depende do tipo de medicamento e do indivíduo. O ingrediente ativo segue então para a estação de tratamento de esgoto (ETE), onde uma parte é removida pelo tratamento (esta remoção depende do tipo de medicamento e da tecnologia de processo), e finalmente o efluente é lançado nos corpos hídricos (PONEZI et al, 2007). De acordo com Carneiro (2011), os medicamentos vencidos, ou não mais desejados, que são lançados diretamente nas pias e vasos sanitários, sendo uma prática comum nas residências, chegam às estações de tratamento de esgoto na sua forma original, podendo acarretar alterações no metabolismo no corpo humano. Deste modo, o consumo indevido de medicamentos, principalmente os de data de validade expirada, pode levar ao surgimento de reações adversas graves, intoxicações, entre outros problemas, comprometendo decisivamente a saúde e a qualidade de vida dos usuários (ANVISA, 2011). Face ao exposto, é possível perceber que a falta de informação é um dos maiores problemas adjunto dessa situação. Com efeito, o primeiro passo é a educação no âmbito ambiental, para o esclarecimento da população sobre as implicações do descarte impróprio e informação sobre os efeitos tóxicos dessas substâncias advindas de ações errôneas. Com base nisso, o estudo objetiva esclarecer os aspectos toxicológicos do descarte de medicamentos que proporcionam riscos à saúde pública e ao meio ambiente, de modo que o vincule a educação em saúde numa discussão que retrate os impactos ao ambiente e o efeito danoso ao organismo humano.

Metodologia

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A metodologia empregada foi a revisão sistemática, que se baseia em estudos primários, utilizando métodos previamente definidos e explícitos para identificar, selecionar e avaliar criticamente pesquisas consideradas relevantes (MENDES et al, 2008). A Identificação dos artigos foi feita através da busca nos bancos de dados informatizados Pubmed (National Library of MedicineNational Institutes of Health), Bireme (Biblioteca Virtual em Saúde) e Scielo (Biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online) de 2007 a 2015. As palavras-chaves utilizadas na identificação dos artigos foram: “toxicologia”, “descarte de medicamentos”, “educação em saúde”, e suas traduções para língua inglesa. Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram: artigos originais de pesquisa sobre educação em Aspectos Toxicológicos do descarte de Medicamentos, publicados em português, espanhol e inglês, bem como revisões da literatura dissertações e teses. Os critérios de exclusão foram: artigos não pesquisados no Brasil, editoriais, relatos de casos, estudos apresentados em Congressos e Seminários, e publicados em anos anteriores. Os resumos foram avaliados, e realizado a leitura das produções que atenderam os critérios estabelecidos previamente e que foram selecionadas para este estudo. Organizou-se a temática em: O descarte adequado de medicamentos; Aspectos toxicológicos dos descartes de Medicamentos e Requisitos para Educação em Saúde sobre a toxicidade por fármacos. Resultados e Discussões Obteve-se um total de 32 publicações relacionados ao tema, sendo que apenas 18 se esquadravam dentro dos critérios de inclusão. Destes 16 (88,88%) eram descritos em português, 1 (5,5%) em inglês e 1(5,5%) em espanhol. Quanto ao período de publicação, constatou-se que os anos que apresentaram maior número de artigos publicados foram 2009, sendo que nos últimos três anos obteve: quatro artigos em 2013 (22,2%), 2014 com duas (11,1%) e 2015 com uma (5,5%) publicação.

O descarte adequado de medicamentos Revinter, v. 09, n. 03, p. 07-20, out. 2016.

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A gravidade do descarte incorreto de medicamentos é vista em casos como o dos antibióticos, que dispostos sem cuidados na natureza, são responsáveis pelo desenvolvimento de bactérias resistentes às terapêuticas dispostas (MARTINS, et al, 2013). Outros merecem destaque os estrogênios pelo seu potencial de afetar adversamente o sistema reprodutivo de organismos aquáticos e a feminização de peixes machos presentes em rios contaminados com descarte de efluentes de estação de tratamento de esgoto (EICKHOFF et al, 2009). Nesse âmbito, os medicamentos são classificados como resíduos de saúde do grupo B (resíduo químico) e têm seu destino final regulamentados pelos Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente. No entanto, apesar dos avanços na legislação sobre o gerenciamento dos resíduos gerados nos serviços de saúde, os processos de tratamento e disposição final dos resíduos de medicamentos não são claramente definidos, sendo o usuário o responsável pelo descarte em suas residências dos seus medicamentos vencidos ou danificados (EICKHOFF et al, 2009). Na sua maioria, o descarte de medicamentos vencidos, é realizado no lixo domiciliar e no vaso sanitário e pode causar sérios problemas a saúde pública e ao meio ambiente. Estudos demonstram que diversas substâncias não são totalmente removidas durante os processos convencionais de tratamento de esgotos (POMATI et al, 2008; CARVALHO et al, 2009). Em relação ao gerenciamento e destinação final de medicamento, no Brasil, ainda, não se tem legislação específica em vigor. O assunto é abordado pela RDC Nº 306, de 7 de dezembro de 2004, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde e pela Resolução Nº 358, do M.A. 2005 dispondo sobre o tratamento e à disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências (FALQUETO & KLIGERMAN, 2013). Os resíduos farmacêuticos gerados pelo consumo da medicina humana e veterinária, e pelos medicamentos que não são consumidos – seja pelo vencimento do produto ou mudança nos tratamentos médicos, pela devolução e recolhimento de medicamentos do mercado, entre outros - acabam sendo eliminados no meio ambiente, tendo como principal via de acesso as Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETARs) e Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Como resultado, tem-se a contaminação do solo e dos corpos hídricos (Figura 1) (ALVARENGA; NICOLETTI, 2010). Revinter, v. 09, n. 03, p. 07-20, out. 2016.

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Figura 1- Possíveis rotas dos fármacos no ambiente:

Fonte: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (2013, p.113).

Segundo Ponezzi et al. (2007) trabalhos de pesquisas no campo de análise química tem relatado a presença de fármacos como antibióticos, hormônios, anestésicos, depressivos, anti-inflamatórios dentre outros em esgoto doméstico, em águas superficiais e sedimentos. A ocorrência de fármacos residuais no meio ambiente pode apresentar efeitos adversos em organismos aquáticos e terrestres. Dessa forma, alguns autores como Serafim et al. (2007) orientam o descarte de medicamentos líquidos, com exceção de antibióticos e os de controle especial, em água corrente (pia, tanque ou vaso sanitário), sendo a embalagem descartada diretamente no lixo após lavagem, no caso de medicamentos sólidos como comprimidos, tabletes e drágeas, podem ser dissolvidos em água e dispensados da mesma forma que os líquidos. Entretanto, Eickhoff et al (2009) evidenciaram a contaminação de águas superficiais através de rede de esgotos, por isso, não é recomendado esse tipo de descarte. Bueno et al (2009) afirmam que substâncias sujeitas a controle especial devem ser descartadas por incineração, pelo sistema de esgotos ou transferidos para uma farmácia, para que seja realizada por profissionais a sua destruição. Muitos profissionais recomendam que os medicamentos sejam descartados pela descarga do banheiro (GRACIANI; FERREIRA, 2014; VAZ et al, 2011). Entretanto, já há evidencias da contaminação de águas superficiais, através da rede de esgotos, e que os plásticos contendo PVC (cloro polivinil), existentes nas embalagens, podem Revinter, v. 09, n. 03, p. 07-20, out. 2016.

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produzir dióxidos, furanos e outros poluentes tóxicos do ar, quando incinerados (BUENO et al. 2006). O Guidelines for Safe Disposal of Unwanted Pharmaceutical in and after Emergencies publicado pela OMS é destinado a autoridades de países, com o objetivo de implantação de uma política de gerenciamento e destinação final de medicamentos (WHO, 1999). Os métodos de descarte abordados são: retorno à indústria, disposição em aterro (quando o resíduo for encapsulado ou inativado), em aterro sanitário com proteção ao aquífero e esgotos, incineração em containers fechados, incineração em média temperatura e decomposição química. Entretanto, o guia é mais apropriado para grandes volumes e situações de emergência (FALQUETO et al,2010). De acordo com a legislação brasileira, os serviços de saúde são os responsáveis pelo correto gerenciamento de todos os resíduos dos serviços de saúde (RSS) por eles gerados, devendo atender às normas e exigências legais, desde o momento de sua geração até a sua destinação final. Nesse contexto, a legislação é deficiente, por não mencionar a destinação final adequada para os resíduos líquidos. Além disso, é direcionada para estabelecimentos de saúde e não informa detalhes que orientem a população. Com isso, raramente existe uma coleta adequada desses resíduos por parte das prefeituras municipais (UEDA et al, 2009). De acordo com o estudo realizado por Vaz et al. (2011) os resultados comprovaram que a população possui o hábito de descartar os medicamentos de forma errônea e em locais inadequados (Tabela 01), apesar de demonstrar maior conhecimento em relação às consequências do descarte indevido, talvez pelo fato de não existir nenhuma orientação formal sobre o assunto por parte dos profissionais e órgãos competentes em relação ao descarte correto de medicamentos vencidos e/ou danificados.

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Tabela 01: Possíveis formas de descartes de medicamento pela população e suas consequências. Formas de descartes dos medicamentos pela população

Consequências

Lixo comum

As substâncias presentes nos medicamentos acabam sendo transferidas para os meios receptores hídricos ou para o solo.

Vaso sanitário Pia/tanque

Aumento de fármacos no sistema de águas residuais.

Entrega a alguma instituição de saúde/ Entrega em órgão de saúde competente Vigilância Sanitária.

Geralmente os resíduos de medicamentos, as embalagens os objetos usados para ministrálos têm como destino final a incineração ou são levados para aterros industriais.

Fonte: VAZ; FREITAS; CIRQUEIRA,2011.

Aspectos toxicológicos dos descartes de Medicamentos Os riscos do descarte incorreto de medicamentos são prescritos pela ANVISA, pela ameaça à saúde de crianças ou pessoas carentes que possam reutilizá-los, pelo reuso indevido por descuido de sobras de medicamentos. Assim, podem ocorrer reações adversas graves, intoxicações, entre outros problemas, incluindo a agressão ao meio ambiente por meio da contaminação da água, do solo e de animais. Conforme Mendes et al (2007) medicamentos alteram estados fisiológicos, e podem apresentar adversidades à saúde pública, e sob condições instáveis, são capazes de ser grosseiramente enquadrados como resíduos perigosos. Exceções à regra estão as vitaminas, os chás, e medicamentos de composição inócua, de elevada biodegradabilidade, que não prejudicam nem mesmo cepas de microrganismos que degradam a matéria orgânica junto aos sistemas de esgotos. De acordo com o estudo de Ferreira et al. (2015), no Brasil é comum o registro de intoxicação de crianças por consumo de medicamentos armazenados em locais inadequados e de fácil acesso, essa pesquisa revelou que o local de armazenagem dos medicamentos eram fora do alcance das crianças, porem em ambientes impróprios que poderiam influenciar na qualidade do medicamento. Entretanto, Bueno et al. (2006), em sua pesquisa observaram ao serem armazenados em locais arejados os medicamentos não induzem a ineficácia das propriedades terapêuticas. No que se refere aos possíveis efeitos em seres humanos, é constatada a existência de alguns indícios de sua prejudicialidade, bem como a proliferação de doenças e da Revinter, v. 09, n. 03, p. 07-20, out. 2016.

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diminuição da qualidade de vida da população. Nesse sentido, é destacada a pesquisa efetuada por Pomati et al (2008) que apresenta uma mistura de contaminantes farmacêuticos em concentrações ambientalmente relevantes, que inibiram o crescimento de células embrionárias (diminuição de até 30% na proliferação celular) com influência à sua fisiologia e morfologia constatadas em testes de laboratório. Os efeitos ambientais mais graves podem ser observados no que se refere a compostos desreguladores endócrinos, havendo demonstrações de que a exposição a efluentes de estações de tratamento de água pode causar a feminização de algumas espécies de peixes (POMATI et al, 2008; EICKHOFF et al, 2009). Do mesmo modo, existem evidências de que os estrogênios podem afetar sistemas reprodutivos de determinados organismos aquáticos e terrestres ocasionando o surgimento de anormalidades e deterioração reprodutiva nos casos de exposição (CARVALHO et al, 2009). EICKHOFF et al (2009) ressaltam que a resistência a drogas consiste em outra significativa preocupação sobre as consequências ambientais dos fármacos, em especial o potencial de criar cepas resistentes a antibióticos patógenos. Nesse sentido, Ueda et al, (2009) apontam que os resíduos de antibióticos são suspeitos de induzir resistência a cepas bacterianas representando uma ameaça à saúde pública em razão do tratamento de infecções não poder ser viabilizado com o uso de antídotos conhecidos no presente. Contudo, os medicamentos descartados na pia, vaso sanitário e no lixo comum além de levar à contaminação do solo e da água, atingem a fauna e flora que participam do ciclo de vida da região afetada em animais e o próprio ser humano em suas próprias residências podem ser contaminados por via oral, respiratória e cutânea.

Requisitos para Educação em Saúde sobre a toxicidade por fármacos O descarte inadequado dos medicamentos é feito pela maioria das pessoas por falta de informação e divulgação sobre os danos causados pelos agentes químicos ao meio ambiente e por carência de postos de coleta. Destarte, o destino dos medicamentos que sobram de tratamentos finalizados e dos que são comprados em quantidades desnecessárias são na maioria das vezes descartados em lixo comum. A falta de

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tempo, a utilização de prescrições anteriores ou o acreditar que não é necessário procurar um médico são as justificativas para esse uso desmoderado. O armazenamento e estocagem excedente de medicamentos nas residências se dá, na maioria das vezes pela automedicação excessiva ou mesmo pelo não conhecimento dos riscos evidentes no uso de fármacos sem acompanhamento de um profissional. É possível observar que a população infantil é mais susceptível a intoxicação por medicamentos, pelo depósito e conservação inadequados nas residências e possível descarte incorreto daqueles vencidos ou danificados (BUENO et al. 2006) Em estudo realizado por Hoppe e Araújo (2012), foi apontado que a população tem a percepção dos principais problemas decorrentes do descarte incorreto de medicamentos. Os entrevistados eram conscientes que o descarte inadequado de medicamentos causa problemas à saúde humana e danos ambientais. Entretanto, eles utilizavam esta forma de descarte por não ter opção consolidada e difundida entre a população de como proceder para um descarte correto dos medicamentos (HOPPE e ARAUJO, 2012). A existência das chamadas “farmácias caseiras” aumenta o risco de ingestão acidental dos medicamentos pelas crianças, expõe os medicamentos a condições nem sempre adequadas de armazenamento e facilita a existência de medicamentos vencidos no ambiente, sem identificação adequada ou em quantidade exagerada, sendo formados verdadeiros estoques domésticos. Os locais de armazenagem mais comuns nas residências são, os armários, mesas de cabeceiras, gavetas, espaços sob pias e prateleiras e o descarte de medicamentos no lixo comum permitem que as crianças tenham fácil acesso aos medicamentos (MENDES et al, 2006). Dessa forma, importância fundamental deve ser dada ao descarte de substâncias químicas, em especial medicamentos, os quais contaminam o meio ambiente, muitas vezes de maneira irreversível, o que só pode ser feito por meio de programas de educação ambiental e, ainda, com a implantação de políticas públicas relacionadas ao aspecto de descarte de medicamentos, visando à proteção do meio ambiente e, consequentemente, de toda a humanidade (MATHIAS et al, 2014). Promover campanhas de coleta de medicamentos vencidos, as quais possam conscientizar a população sobre o descarte adequado e os problemas que podem ocorrer com destinação incorreta de medicamento, é de extrema importância, sendo Revinter, v. 09, n. 03, p. 07-20, out. 2016.

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também essencial realizar divulgação na mídia sobre a coleta, montar postos de recolhimento nas farmácias e encaminhar o material para destinação correta, e, dessa forma, as informações sobre os danos possam chegar até a população. Falqueto et al (2010) ressaltam a importância de adquirir medicamentos na quantidade necessária, evitando o desperdício e sobra. Para isso, Eickhoff et al (2009) lembram que laboratórios devem produzir medicamentos fracionados, de modo a racionalizar o uso dos mesmos pelos consumidores, sendo comprada a quantidade necessária para o referido tratamento. Carvalho (2009) afirma que para a educação socioambiental, é necessário incentivar o estudo da responsabilidade socioambiental em escolas, nos hospitais, nas residências, e que os órgãos responsáveis promovam ações para mostrar ao público a relevância da questão socioambiental e as implicações do descarte de medicamentos no ambiente e sua toxicidade no organismo humano. Nessa perspectiva, a complexidade de desafios a serem enfrentados pela realização da assistência farmacêutica, leva à imprescindibilidade do engajamento do farmacêutico em campanhas educativas sobre o uso racional e à conscientização do usuário sobre a necessidade de manter o fármaco em condições ideais para a sua conservação, garantindo assim a qualidade do medicamento, bem como o descarte correto daqueles que não serão mais utilizados, que estejam vencidos ou avariados, a fim de evitar a toxicidade gerada pelos medicamentos. Considerações Finais Apesar de ser um processo lento e gradual, o descarte de medicamentos requer não apenas regulamentação mais específica mas também a formação de profissionais de gestão e ainda métodos de orientação da população para dispor corretamente dos riscos tóxicos e ambientes domésticos. Um caminho para solucionar a questão do descarte incorreto de medicamentos é o aprimoramento do marco regulatório, exercício do bom-senso o treinamento dos profissionais de saúde, aliado com a educação continuada para o esclarecimento da população em geral. A tomada de medidas no contexto da biossegurança, aliando economia de recursos, preservação do meio ambiente, ética e responsabilidade poderá garantir mais qualidade de vida no presente e um futuro mais saudável para as próximas gerações.

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Análise das atitudes de risco de consumidores em restaurantes self- service do município de Picos-PI. Lígia de Moura Leal Graduada em Nutrição da Universidade Federal do Piauí – UFPI/CSHNB. E-mail: ligiamouraleal@hotmail.com Mísia Joyner de Sousa Dias Monteiro Graduada em Nutrição da Universidade Federal do Piauí – UFPI/CSHNB. E-mail: misiajoyner@hotmail.com Natália Santos Luz Docente do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Piauí – UFPI/CSHNB. E-mail: nataliasantosluzpicos@hotmail.com Expedito de Passos Dias Monteiro Docente Licenciado/ Pós graduado em Letras Inglês pela Universidade Estadual do Piaui – UESPI. E-mail: expedito59@yahoo.com.br

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol9ed3.207

Resumo Atualmente percebe- se que com o avanço industrial os indivíduos modificaram seu estilo de vida, principalmente em relação aos hábitos alimentares, passando a desfrutar menos da alimentação a domicílio, o que prova o aumento da demanda dos serviços de alimentação coletiva. Nesse contexto os restaurantes do tipo self-service são um dos mais frequentados pelos brasileiros, pois oferecem uma vasta gama de opções de preparações. É comum nesse sistema de distribuição os consumidores manterem o contato direto com alimentos que estão exibidos no balcão, onde ocorre frequentemente a contaminação dos alimentos. Dessa forma objetivo do estudo foi investigar possíveis atitudes de riscos praticados por consumidores em restaurantes do tipo self-service em um município do Piauí. Trata-se de um estudo exploratório com características descritivas, que utilizou técnicas de observação não participante. Analisou-se sete restaurantes de autosserviço, localizados no perímetro urbano do município, em três etapas consecutivas. Na primeira foi observada a lavagem das mãos pelos consumidores antes do autosserviço. Na segunda, foi construída uma ficha de avaliação a partir da observação das atividades de risco e na terceira, contabilizaram-se as práticas das atitudes de risco por parte dos consumidores. Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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Identificou-se que muitos consumidores praticam atitudes relevantes como “falar em cima das preparações”, “Levar ou colocar objetos no balcão de distribuição” e “Arrumar alimentos do prato com os utensílios das preparações”. Evidenciando que a contaminação dos alimentos não é exclusivamente responsabilidade dos manipuladores, já que os consumidores também desempenham papel importante no processo analisado. Palavras-chave: Atitudes de risco. Consumidores. Self- Service.

Analysis of attitudes risk of consumers in self-service restaurants of city of Picos-PI. Abstract Currently it can see that with industrial advance individuals changed their lifestyle, especially in relation to food habits in less enjoy feeding the household, which proves the increasing demand of collective food services. In that context the self- service restaurants are one of the most frequented by Brazilians, as offer a wide range of preparations options. It is common that distribution system, such as self- service restaurants, consumers maintain direct contact on foods that are displayed in the distribution counter, in which often occurs food contamination. Thus objective of the study was investigate possible risk attitudes practiced by consumers in self- service type of restaurant in a city of Piaui. This is of a study exploratory way with descriptive characteristics, which used non participant observation technique. Was analyzed seven restaurants, of self- service located in the urban area of city in three consecutive stages. First there was the washing of hands by consumers before the self- service. In second step, an evaluation form from observation and definition of risk activities was built and the third stage counted up the practices of risk attitudes by consumers. Identified which very consumers practice relevant attitudes as “Talk over the preparations”, “Take or place objects in the distribution counter” and “Put away the food dish with the tools of preparations”. Showing contamination of food is not only responsibility of handers since as consumers also play an important role in the analysis process. Keywords: Risk attitudes, Consumers, Self-service.

Recebido em 05/11/2015 Aceito em 03/10/2016

Introdução Atualmente percebe- se que com o avanço industrial os indivíduos modificaram seu estilo de vida, principalmente em relação aos hábitos alimentares, passando a desfrutar menos da alimentação a domicílio, o que prova o aumento da demanda dos Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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serviços de alimentação coletiva. O crescimento dessa demanda está relacionado a inúmeros fatores, entre eles, destaca-se o aumento da jornada de trabalho, especialmente a mão de obra feminina, pois com a pouca disponibilidade de tempo para preparar suas refeições, torna-se prático o consumo de refeições em restaurantes, principalmente os do tipo self-service (CHOUMAN; PONSANO; MICHELIN, 2010). No serviço self-service, o restaurante oferece opções de guarnição, carne, pratos base (arroz com feijão), saladas, sobremesas, que variam conforme o local em quantidade e variedade e os consumidores se servem em balcões de distribuição do alimento. Pode ser “por quilo”, quando a pessoa, após se servir pesa a quantidade de comida e paga um valor proporcional ou come-se à vontade e o valor é fixo. Com este serviço, o estabelecimento economiza com mão-de-obra (menor número de garçons) e o serviço é considerado, pelo cliente, como mais rápido (PINEYURA, 2006). Dentre os estabelecimentos do segmento comercial de alimentação, um dos mais frequentados pelos brasileiros são os restaurantes self-service, onde o consumidor escolhe o que deseja colocar em seu prato (BANCZEK et al., 2010). Estes estão em segundo lugar no ranking de unidades produtoras de refeições (UPR) com maior ocorrência de doenças transmitidas por alimentos (DTA) (CARVALHO et al., 2012). É comum nesse sistema de distribuição, restaurantes, os consumidores manterem o contato direto com os alimentos que estão exibidos no balcão, onde ocorre frequentemente a contaminação dos alimentos (ZANDONADI et al., 2007). No entanto, os consumidores acreditam que não são responsáveis na mesma intensidade que os manipuladores com relação à segurança alimentar (JEVSNIK et al., 2008). Entretanto, sabe- se que se o indivíduo estiver infectado por uma bactéria Staphylococcus aureus (presente no nariz, garganta, líquidos corporais, sangue e saliva), pode contaminar o alimento e assim ocorrer o desenvolvimento de algum tipo de Doença Transmitida por Alimentos (DTA) (TONDO e BARTZ, 2011). Ademais, as mãos também são importantes veículos de contaminação, quando em contato com o alimento, equipamento, utensílio e ambiente. O ato de espirrar e falar também pode contaminar o alimento com uma grande quantidade de micro-organismo (ZANDONADI, 2007). Práticas como deixar as mangas do uniforme encostar-se ao Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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alimento, conversar, tocar no cabelo enquanto está se servindo podem causar a contaminação e desenvolver as DTAs (RODRIGUES, 2004). A Organização Mundial de Saúde define doença transmitida por alimento (DTA) como ‘’ uma doença de natureza infecciosa ou toxica causada por, ou através do consumo de alimento ou agua’’ (OMS, 2001). Na descrição de um surto de DTA, alguns fatores devem ser considerados: a situação; o número de pessoas afetadas; o índice de ataque por idade, sexo e raça; o número de pessoas que não foram atingidas, o agente e o período de incubação; a natureza clínica da doença; o veículo alimentar e o modo de transmissão para os alimentos e para as vítimas (HOBBS & ROBERTS, 1999). Muitos casos de enfermidades transmitidas por alimentos não são notificados, pois seus sintomas são geralmente parecidos com gripes ou discretas diarreias e vômitos. Dentre os sinais e sintomas mais comuns tem-se dor de estômago, náusea, vômitos, diarreia e febre por período prolongado (FORSYTHE, 2000). Um dos instrumentos para manter um controle higiênico-sanitário eficiente de uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) são a elaboração e implantação do Manual de Boas Práticas (MBP) que é fundamental para a produção de alimentos com qualidade, tanto do ponto de vista nutricional quanto em relação à segurança alimentar (ANVISA, 2004). Os restaurantes self-service precisam estar permanentemente atentos para funcionar em conformidade legal e normativa com a Resolução da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)- RDC nº 216 de 15 de setembro de 2004, que dispões sobre o Regulamento Técnico de Boas Praticas de Serviços de Alimentação (BRASIL, 2004). Contudo, nem sempre é o que se observa nesses locais. Logo, é importante atentarmos em alertar e orientar a população sobre à auto contaminação, podendo esta ser evitada por meio de atitudes apropriadas durante a montagem dos pratos e, informar que a prevenção da contaminação dos alimentos não é tarefa exclusiva dos manipuladores de alimentos, já que os consumidores também desempenham papel importante na cadeia analisada. O presente estudo tem como objetivo investigar as possíveis atitudes de risco praticadas por consumidores, em restaurantes do tipo self-service no município de Picos- PI. Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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Materiais e Métodos Foi realizado um estudo exploratório com característica descritiva e técnica de observação não participante em 7 restaurantes do tipo self-service do município de Picos- PI, não havendo abordagem por parte das pesquisadoras com relação aos indivíduos. Dessa forma, foram obtidos dados quantitativos que permitiram a demonstração estatística dos resultados. O estudo foi desenvolvido em três etapas: na primeira observou-se a lavagem das mãos pelos consumidores antes do autosserviço, com amostra de 458 consumidores. Na segunda etapa, foi construído o instrumento a partir da observação e definição das atividades de risco e, na terceira etapa contabilizaram-se as práticas das atitudes de risco por parte dos consumidores. A primeira etapa foi realizada durante uma semana, baseando-se na observação do uso do lavatório localizado no refeitório pelos consumidores para lavagem das mãos, além do uso de sabão líquido e papel toalha não reciclado. Na segunda etapa foi elaborada uma ficha de avaliação de observação das atitudes de risco, que permitiu observar as atitudes praticadas pelos consumidores, no momento do autosserviço, por um período de cinco dias consecutivos. Assim, as atitudes avaliadas foram: recontaminar as mãos após lavagem; mexer no cabelo nas proximidades do balcão de distribuição; falar nas proximidades do balcão de distribuição durante o autosserviço; levar objetos para o balcão de distribuição; deixar objetos ou parte do corpo terem contato com as preparações; tossir sobre as preparações; espirrar sobre preparações; trocar os utensílios das preparações; deixar o utensílio cair dentro da preparação; retirar alimentos do seu prato e devolvê-los às cubas; consumir alimentos enquanto se servia das preparações; arrumar alimentos no prato com os utensílios das preparações. A terceira etapa foi realizada durante três dias, e se ateve à observação e quantificação do número de consumidores que praticavam atitudes de risco no momento do autosserviço. A observação foi efetuada a cada três indivíduos no período de maior movimentação do restaurante (11h às 13h), indicado pela nutricionista do estabelecimento.

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A análise dos dados foi realizada no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) na versão 20.0, que determinou o percentual de pessoas que praticavam as atitudes de risco.

Resultados e Discussões A coleta de dados do presente estudo foi realizada em 7 restaurantes do tipo selfservice, designados como restaurantes de A a G, dentre 8 que a cidade apresenta. Foi excluído um restaurante da amostra, pois este não apresentou fluxo de consumidores no período da coleta. O restaurante (C) apresentou uma maior frequência de consumidores com um percentual de 30,8%, seguido do restaurante (B) que apresentou um percentual 28,6% como mostrado no gráfico 1.

Gráfico 1. Percentual de frequências de consumidores nos restaurantes self-service de Picos, 2015.

FONTE: Pesquisa de campo, 2015.

Almeida (2006) afirma em seu estudo que, quanto mais requintado o ambiente, melhor será a avaliação de qualidade do alimento e que esta é influenciada pelo design do local e maior preço. Descreve também que os restaurantes institucionais são ambientes pouco requintados, com ausência de decoração ou música ambiente, Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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fatores que refletem de forma negativa na qualidade percebida pelo consumidor. Além disso, o uso de música suave, além de propiciar aos usuários um ambiente agradável durante a refeição, segundo Silva Junior (1995), ajuda na eliminação da conversa, minimizando o risco de contaminação dos alimentos. Neste estudo pudemos observar que as possíveis causas para a maior procura dos consumidores aos restaurantes B e C dentre os 7 restaurantes analisados, são: praticidade, oferta de grande variedades de preparações levando a uma aceitação significativa pela população, ambiente limpo e arejado, preço proporcional ao peso das suas refeições, atendimento pelos funcionários é satisfatório pelos consumidores, boa localização, fácil acesso e proximidade ao ambiente de trabalho ou domicilio, apresentando vantagens para os usuários. Dos consumidores avaliados em uma amostra de 458 pessoas, observou-se que o sexo feminino apresentou maior frequência no consumo de refeições fora de casa do tipo self-service 259 (56,56%), evidenciando que há um aumento no mercado de trabalho feminino, devido ao tempo escasso, possibilita- se em optar por refeições fora de casa (Tabela 1).

Tabela1. Distribuição dos consumidores que frequentam os restaurantes self- service de Picos, 2015. SEXO

FREQUENCIA

PORCENTAGEM

FEMININO (%)

259

56,6%

MASCULINO (%)

198

43,2%

TOTAL

458

100%

FONTE: Pesquisa de campo, 2015.

Resultados semelhantes foram encontrados por Avelar e Rezende (2013) em estudo realizado, em que registra 56,8% são do sexo feminino. Henriques et al., (2014) em seu estudo identificaram que 49,6% dos participantes eram do sexo feminino e 50,4% eram do sexo masculino. Teixeira et al., (2015) em seu estudo observou que a população estudada era composta por 18,4% do sexo masculino e 81,6% do sexo feminino. Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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Nosso estudo observou- se o ciclo de vida de ambos os sexos, em que vale ressaltar que os de maior frequência em UPRs (Unidades Produtoras de Refeições) foram os adultos 439 (95,9%) (Tabela 2). Alguns motivos podem justificar a prevalência extremamente superior de adultos frequentando esse ambiente, entre estes, o fato deste ciclo de vida estar geralmente inserido no mercado de trabalho, muitas vezes dispondo de horário limitado para realizar as refeições, dificultando o preparo da alimentação em ambiente domiciliar. Justificando a escolha dos restaurantes do tipo self-service por serem estes um autosserviço prático e de rápido atendimento (ALVES e UENO, 2010).

Tabela 2. Distribuição, frequência e percentual dos diversos ciclos de vida observados nos restaurantes self- service de Picos, 2015. CICLO DE VIDA

FREQUENCIA

CRIANÇAS

PORCENTAGEM

7

1,5%

ADOLESCENTES

12

2,6%

ADULTOS

439

95,9%

TOTAL

458

100%

FONTE: Pesquisa de campo, 2015.

A tabela 3 apresenta o percentual das atitudes de risco cometidas pelos consumidores no momento do autosserviço considerando todos os restaurantes self-service. A mais prevalente foi “falar em cima das preparações” (54,6%). Outra atitude relevante foi “levar ou colocar objetos no balcão de distribuição” (32,8%). E já a atitude “arrumar alimentos do prato com os utensílios das preparações” obtiveram resultados significativos (23,8%), sendo que esses valores são considerados como uma media estatística das observações realizadas em todos os estabelecimentos participantes.

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Tabela 3. Percentual de consumidores que praticaram atitudes de risco no momento da preparação de seus pratos em self- service de Picos-PI, 2015. ATITUDES

%

FALAR EM CIMA DAS PREPARAÇOES

54,6

LEVAR OU COLOCAR OBJETOS NO BALCÃO DE DISTRIBUIÇÃO

32,8

ARRUMAR ALIMENTOS NO PRATO COM OS UTENSÍLIOS DAS PREPARAÇÕES

23,8

MEXER NO CABELO NAS PREPARAÇOES

11,8

DEIXAR O UTENSÍLIO CAIR DENTRO DA PREPARAÇÃO

7

RECONTAMINAR AS MÃOS APÓS LAVAGEM

4,6

TROCAR OS UTENSÍLIOS DAS PREPARAÇÕES

2,6

RETIRAR ALIMENTOS DO SEU PRATO E DEVOLVÊ-LOS ÀS CUBAS

2,6

DEIXAR OBJETOS OU PARTE DO CORPO TOCAREM NAS PREPARAÇÕES

2,4

ESPIRRAR SOBRE PREPARAÇÕES

2

CONSUMIR ALIMENTOS ANTES DA PESAGEM

1,5

TOSSIR SOBRE AS PREPARAÇÕES

0

FONTE: Pesquisa de campo, 2015.

Corroboram com os resultados deste estudo os de Medeiros et al., (2012) onde foi possível perceber que as mais frequentes foram falar em cima das preparações no momento do autosserviço (51%), arrumar os alimentos no prato com os utensílios das preparações (38%) e deixar a gravata, a manga da camisa, bolsas, blusas, vestidos ou casacos tocarem nas preparações (33%) e Zandonadi et al., (2007) verificando que 53% dos clientes falavam em cima das preparações, 50% utilizavam utensílios de uma preparação em outra já servida no prato do consumidor e 24% dos usuários arrumavam os alimentos no prato com os utensílios das preparações. Já no estudo de Banczek et al., (2010) constatou-se que 69,23% dos clientes falavam sobre as preparações no balcão de distribuição e 30,76% mexiam nos cabelos perto das preparações expostas, podendo ocasionar quedas de cabelo, contaminando os alimentos. Henriques et al., (2014) constatou em seu estudo que as atitudes “conversar enquanto se servem” (43,9%) e “utilizar utensílios de servir para arrumar os alimentos no seu prato” (37,2%), foram as mais frequentes no momento de compor suas refeições. Segundo Tondo e Bartz (2011), cerca de 30 a 40% dos humanos são portadores assintomáticos de Staphylococcus aureus. Esse micro-organismo pode estar na Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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nasofaringe (nariz e garganta), ouvidos, mãos e pele dos humanos. A intoxicação causada por alimentos contendo enterotoxinas de Staphylococcus aureus é um dos tipos mais comuns de doenças transmitidas por alimentos em todo o mundo. Destarte, a elevada frequência de atitudes de risco como as averiguadas no estudo em questão e em outros semelhantes podem proporcionar um aumento do risco de contaminação (PIGOTT, 2013). A tabela 4 apresenta a lista de atitudes de risco cometidas pelos 458 consumidores e o percentual correspondente a cada um dos restaurantes self-service incluso na amostra. Essa tabela nos proporciona a oportunidade de avaliar as atitudes cometidas pelos consumidores em cada restaurante que integra este estudo, permitindo uma análise mais particular da realidade de cada self-service. Este estudo priorizou observar apenas as pessoas que realizaram a higienização das mãos antes das refeições, pois assim tornava claro o objetivo do estudo que seria observar quais outras atitudes que a princípio poderiam ser inofensivas oferecendo riscos à saúde dos consumidores, determinando a influência do consumidor como potencial veículo do risco de contaminação dos alimentos em restaurantes do tipo self -service durante o autosserviço. O restaurante E foi o que mais apresentou consumidores que recontaminaram as mãos após a lavagem, 25,9%. Após a lavagem correta das mãos os consumidores enxugavam- nas passando- as em suas roupas ocorrendo com isso a recontaminação. A lavagem das mãos com água e sabão retira a maior parte dos micro-organismos que constituem a flora bacteriana transitória dentre as quais gramnegativas Salmonella, Escherichia coli, Shigela entre outras. Entretanto, estes microorganismos não vivem indefinidamente nas mãos, mas sobrevive o tempo suficiente para serem transferidos direta ou indiretamente para o alimento, podendo gerar surtos de toxinfecção alimentar (ZANDONADI et al., 2007). Esse dado trás evidências de que mesmo a atitude adequada de lavar as mãos, seguidas de recontaminação, trará novamente os perigos expostos pela não lavagem das mãos. A atitude de mexer nos cabelos perto das preparações alcançou uma amostra significativa paras os restaurantes C, D, E com prevalência de 19,8%, 22,58%, 29,8% respectivamente. O presente estudo quando comparado com o de Verbeno et al., (2008), em que o mesmo identificaram percentuais distintos, em 3 restaurantes, de Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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consumidores que mexeram no cabelo próximo das preparações obtendo valores (25%, 18% e 8%). Portanto, um fio de cabelo pode carregar uma quantidade enorme de microrganismos, (Em 1 mm de cabelo pode conter até 50.000 microrganismo (ANVISA, 2007), como bactérias, fungos e outros parasitas que podem levar a Doenças Veiculadas por Alimentos, tornando- se uma atitude perigosa. Tabela 4. Percentual de atitudes de risco cometidas pelos consumidores de cada restaurante selfservice de Picos, 2015. RESTAURANTES ATITUDES DE RISCO (%) A B C D E F G RECONTAMINAR AS MAOS APÓS A LAVAGEM MEXER NO CABELO PERTO DAS PREPARAÇOES FALAR EM CIMA DAS PREPARAÇOES LEVAR OU COLOCAR OBJETOS NO BALCAO DE DISTRIBUIÇAO DEIXAR OBJETOS OU PARTE DO CORPO TOCAREM NAS PREPARAÇOES TOSSIR SOBRE AS PREPARAÇOES ESPIRRAR SOBRE AS PREPARAÇOES TROCAR OS UTENSILIOS DAS PREPARAÇOES DEIXAR O UTENSILIO CAIR DENTRO DA PREPARAÇAO RETIRAR ALIMENTOS DO SEU PRATO E DEVOLVE- LOS AS CUBAS CONSUMIR ALIMENTOS ANTES DA PESAGEM ARRUMAR ALIMENTOS DO PRATO COM OS UTENSILIOS DAS PREPARAÇOES FONTE: Pesquisa de campo, 2015.

2,5 -

3,05 2,2

6,3 19,8

22,58

25,9 29,6

15,9

2,5

80 -

57,2 44,3

34,04 32,6

41,9 29,03

62,9 2,5

88,6 38,6

78,8 66,6

-

-

1,4

9,7

-

4,5

3,05

-

-

0,7

19

2,5 12

4,5

6,1

-

-

1,4

-

-

2,3

-

-

-

0,7

19,3

12

-

3

-

0,8

0,7

9,7

-

-

6

-

-

61,7

41,9

24

-

3

Quando levamos em consideração a atitude de falar em cima das preparações destacaram-se com maior porcentagem os restaurantes A, E, F e G com 80%, 62,9%, 88,6% e 78,8% respectivamente. Uma vez que os estabelecimentos visitados não dispunham de barreira de proteção, considerando risco para contaminação. No entanto, de acordo com a Resolução RDC nº 216 da ANVISA (BRASIL, 2004), o equipamento de exposição do alimento preparado na área de consumo, no caso o balcão de distribuição, deve dispor de barreiras de proteção que previnam a contaminação em decorrência da proximidade ou ação do consumidor e de outras fontes. Portanto, à ausência de barreira de proteção (vidro) torna o risco de contaminação maior, já que, a saliva possui bactérias cocos gram positivas Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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(Staphilococos, Streptococos) e cocos gram negativos (Neisseria, Veilonella), bacilos gram negativos (bacterióides, fusobacterium), espiroqueta. Os restaurantes B e G foram observados resultados significativos na apreciação da atitude “levar ou colocar objetos no balcão de distribuição’’ tendo valores 44,3% e 66,6% respectivamente. Resultado esse que pode demonstrar a pouca preocupação com este fato, em detrimento do que pode acontecer com os objetos levados ao balcão. É importante ainda ressaltar que os restaurantes citados possuem barreira de proteção (aço) no balcão de distribuição o que dificulta o contato mais próximo com os alimentos. Esse fato permite deduzir, que o habito de levar ou colocar objetos no balcão na hora do porcionamento representa um perigo diminuído de contaminação nos alimentos. A troca de utensílios da preparação representa um risco para a contaminação cruzada e teve resultados significativos nos restaurantes D e E com 19% e 12% respectivamente. Quando comparado ao estudo de Verbeno et al., 2008, o percentual de consumidores que trocaram os utensílios das preparações foi 6,5%, obtendo resultados inferiores em relação a este estudo. Os resultados sugerem que, alguns consumidores não têm ciência, mesmo com a disposição de um utensílio para cada preparação na utilização de um mesmo instrumento para diversos pratos o que pode proporcionar aumento do perigo de contaminação cruzada. Com relação a atitude de retirar alimentos do seu prato e devolvê- los as cubas demonstraram semelhança de resultados quando comparado com trocar os utensílios da preparação, identificando percentual para os restaurantes D (19,3%) e E (12%), portanto desempenhando papel importante no processo analisado. A atitude arrumar alimentos do prato com os utensílios das preparações foi mais frequente pelos consumidores nos restaurantes C e D com 61,7% e 41,9% respectivamente. Verbeno et al., (2008) analisou a frequência desta atitude que foi inferior quando comparada a este estudo representando o valor de 26,5%. Sendo que essa conduta nos leva a crer que o risco de contaminação e os perigos são evidentes por parte dos consumidores e que a prevenção da contaminação dos alimentos não é tarefa exclusiva dos manipuladores, pois os consumidores também desempenham papel importante na cadeia analisada (ZANDONADI et al., 2007). Revinter, v. 09, n. 03, p. 21-35, out. 2016.

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Possivelmente esse cenário de inúmeras atitudes de risco cometidas por grande parte da amostragem está relacionado ao desconhecimento do consumidor sobre boas práticas em restaurantes do tipo self-service, ignorando o fato de que suas condutas podem também favorecer a contaminação, o que indica a necessidade de campanhas educativas no sentido de socializar informações relativas à segurança alimentar e demonstrar a corresponsabilidade do consumidor nesse contexto.

Conclusão A partir dos resultados obtidos com este estudo pode-se concluir que os consumidores também desempenham papel importante na cadeia analisada, prevalecendo dentre as muitas atitudes cometidas involuntariamente pelos consumidores “falar em cima das preparações”, “levar ou colocar objetos no balcão de distribuição” e “arrumar os alimentos com os utensílios das preparações”. Evidenciando que a contaminação dos alimentos não é exclusivamente responsabilidade dos manipuladores, mas de um conjunto de atitudes que podem contaminar o alimento e consequentemente provocar doenças transmitidas por alimentos (DTAs). Vale ressaltar a necessidade de mais estudos nessa área, além de maior investimento em estratégias de informação para a conscientização dos consumidores sobre as atitudes apropriadas no momento do autosserviço. Estratégias como a confecção de folders e cartazes educativos afixados em locais estratégicos, podem proporcionar aos consumidores o conhecimento de que também são sujeitos participantes e responsáveis sobre os alimentos que consomem, e dessa forma minimizar a frequência das contaminações dos alimentos e consequentemente surgimento de intoxicações alimentares.

Referências

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Características físico-químicas e toxicológicas do Triticonazol Gabriela Iná Savioli Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo. Leonardo Galvão Gregório Graduando em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo. Letícia de Jesus Ferreira Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo. Lucas do Carmo Garcia Técnico em Meio Ambiente, pela ETEC de Suzano, Centro Paula Souza. Graduando em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo. Marília Trivilin Mendes Graduanda em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo. Rafael Zanoni Camargo Graduando em Engenharia Ambiental, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Tecnologia – Limeira, São Paulo.

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol9ed3.254

Resumo Triticonazol é um fungicida utilizado no tratamento de pragas das culturas do trigo e cevada. Sua solubilidade em água é baixa (9,3 mg/L) e apresenta um coeficiente de partição octanol-água de 3,29 (log Kow), o que permite inferir que a substância tem tendência mediana para acumular em tecidos adiposos. A molécula é pouco volátil Revinter, v. 09, n. 03, p. 36-49, Out. 2016.

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devido a sua baixa pressão de vapor 1x10-6 Pa. Dependendo das características do solo ele tende a ficar mais ou menos adsorvido, com Koc variando de 184 a 563 L/kg. Com base em estudos de toxicidade realizados com cães, obteve-se uma dose de referência de 0,025 mg/kg/dia (EFSA, 2005), sendo possível derivar um padrão de potabilidade de 0,075 mg/L. Os dados de toxicidade para biota aquática indicam maior toxicidade para o crustáceo de água salgada, Americamysis bahia, com uma concentração de efeito não observado (CENO) de 0,025µg/L. Para água doce a maior toxicidade é para o peixe Pimephales promelas com CENO de 8,7µg/L. A partir desses valores foi possível encontrar o critério de proteção da vida aquática cujo valor obtido é 0,87µg/L para água doce e 0,0025µg/L para a água salgada. No Brasil, não foram encontrados relatos da presença do triticonazol em corpos hídricos. Portanto, primeiramente mais estudos devem ser realizados para assim avaliar uma possível necessidade de inclusão do Triticonazol na legislação. Palavras-chave: Triticonazol. Fungicida. Toxicidade. Critério de qualidade de água.

Physico-chemical and toxicological properties of the Triticonazole Abstract Triticonazole is a fungicide used on wheat and barley crops for pest control. Its solubility in water is low (9,3 mg/L) and it has an octanol-water partition coefficient of 3,29 log Kow, which allows to infer that the substance has an average tendency to accumulate in adipose tissue. Due to its low vapor pressure of 1x10-6 Pa the molecule has a small volatility. With a Koc ranging from 184 to 563 L/kg its disposition to be adsorbed depends on soil characteristics. A reference dose of 0,025 mg/kg/day was obtained based on toxicity test in dogs, being possible to derive a potability standard of 0,075 mg/L. The toxicity data for the aquatic biota indicates the highest toxicity for the salty water crustacean, Americamysis bahia, with an no observed effect concentration (NOEC) of 0,025 μg/L. In fresh water, the highest toxicity is for the fish Pimephales promelas with an NOEC of 8,7 μg/L. From the analysis of the previous data it was possible to determinate an aquatic life protection criterion of 0,87 μg/L for fresh water and 0,0025 μg/L for salty water. In Brazil, reports of triticonazole hydric presence were not found. Therefore, first more studies should be developed in order to evaluate a possible need for inclusion of the compound in laws. Keywords: Triticonazole. Fungicide. Toxicity. Water quality criteria.

Recebido em 17/03/2016 Aceito em 17/08/2016

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Introdução Os agrotóxicos surgiram no século XX, na primeira guerra mundial, e foram amplamente utilizados na segunda guerra mundial como arma química. Com o término das grandes guerras, esta classe de produtos passou a ser comercializada como “defensivo” agrícola. O Decreto nº 4074/2002 define os agrotóxicos e afins como produtos e agentes cuja finalidade é controlar as ações danosas de uma praga (insetos, fungos, bactérias entre outros) (BRASIL, 2002). Os princípios ativos e os coadjuvantes utilizados para a formulação dos agrotóxicos podem ser potencialmente danosos ao meio ambiente e à saúde humana. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e dados estatísticos mostram que em 2013, foram vendidas, aproximadamente 496 mil toneladas de agrotóxicos no Brasil. Sendo que a classe mais vendida foi a dos herbicidas, seguido dos inseticidas e fungicidas (IBAMA, 2013). O triticonazol é um fungicida sintético, do grupo químico triazol aprovado para ser empregado no tratamento de pragas das culturas do trigo e cevada, entre as quais, a Cinza ou Oídio, doença causada pelo fungo Blumeria graminis que afeta as culturas de trigo e causa quedas no rendimento, devido à redução de fotossíntese que torna a planta enfraquecida. O fungicida é aplicado nas sementes por meio de uma única aplicação antes do plantio, tendo como objetivo o controle de doenças nas próprias sementes e na parte aérea da planta (AGROFIT, 2003). Portanto, a forma principal que o agrotóxico atinge o meio ambiente é através do solo, devido ao seu modo de aplicação. TSegundo a EFSA (2005), o triticonazol fica por vários meses após a semeadura no solo, servindo como um reservatório para nutrir a planta com este composto, sendo ele absorvido lentamente pelas mudas através da semente e raízes. Entre os principais fabricantes e fornecedores de produtos que utilizam o composto estão as empresas Aventis, Bayer CropScience e a BASF. A última é a empresa titular do registro no Brasil, comercialmente vendido com o nome de Premis. Os três fornecedores seguem padrões de legislações locais e estão vinculados a questões de Revinter, v. 09, n. 03, p. 36-49, Out. 2016.

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proteção ambiental, então poderiam se mostrar dispostos a atender possíveis critérios em se tratando da comercialização do fungicida. O presente artigo tem como finalidade apresentar informações sobre as características físico-químicas e toxicológicas do Triticonazol, dados de ocorrência ambiental, regulamentação para o contexto ambiental no Brasil e em outros países, assim como propor critérios de potabilidade e de proteção para a vida aquática.

Metodologia Foi realizada pesquisa em livros, bases de dados científicas nacionais e internacionais, dentre elas: Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (AGROFIT), European Food Safety Authority (EFSA), US Environmental Protection Agency (USEPA), Pesticide Properties Database (PPDB), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), etc. Pesquisas nas legislações e normas brasileiras (Ministério da Saúde, CONAMA e Portarias) e de outros países (Estados Unidos, Canadá, Comunidade Européia, entre outros).

Resultados e discussões Características físico-químicas e comportamento ambiental O triticonazol pertence ao grupo dos triazóis, possui nome químico (RS)-(E)-5-(4chlorobenzylidene)-2,2-dimethyl-1-(1H-1,2,4-triazol-1-ylmethyl)cyclopentanol Fórmula molecular �

7

. A fórmula estrutural é apresentada na Figura 1.

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e


Figura 1: Fórmula Estrutural do Triticonazol. Fonte: PubChem, 2016.

O potencial de uma substância alcançar ou ser encontrada em diferentes compartimentos ambientais pode ser avaliado por medições de parâmetros em laboratório ou modelagens. O conhecimento sobre as características físico-químicas é imprescindível para o entendimento do comportamento de um agrotóxico na água, ar, solo ou na biota após sua aplicação. Um desses parâmetros é a Pressão de Vapor, como indicador da volatilidade. A volatilidade está associada a propriedade da substância em evaporar à temperatura ambiente. A pressão de vapor do triticonazol é 1x10-6 Pa a 25ºC (University of Hertfordshire, 2014), o que indica que a molécula é pouco volátil. Neste caso, este dado sugere baixa probabilidade do triticonazol ser encontrado no ar, sem aquecimento prévio, o que seria necessário para a substância passar do estado líquido para o estado de vapor. O KOC (coeficiente de adsorção normalizado pelo carbono orgânico) indica a capacidade da molécula em se aderir e permanecer a partícula do solo ou sedimento. De acordo com o University of Hertfordshire (2014), o triticonazol apresenta valor de KOC no intervalo de 184 a 563 L/kg, dependendo do tipo de solo e pH, isso significa que a substância apresenta um potencial moderado de mobilidade (USEPA, 2016).

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O valor de KOW (coeficiente de partição octanol-água) representa a medida de como uma substância dispõe-se entre dois solventes que não se misturam, como a água (polar) e o óleo (apolar). Desta forma, o KOW está relacionado com a polaridade da molécula. Ainda é utilizado para avaliar a capacidade desta molécula em aderir a tecidos gordurosos. PO triticonazol apresenta valor de log KOW de 3,29. No geral, esses valores indicam uma tendência moderada do triticonazol em ser encontrado na água, tendo probabilidade de ser encontrado nos tecidos adiposos de peixes e não dissolvido, uma vez que sua solubilidade (9,3 mg/L de água) é baixa de acordo com a classificação do University of Hertfordshire (2015). Ainda assim, essa tendência em ser encontrado na água desconsidera o funcionamento metabólico do organismo que foi exposto a ela, por esse motivo se torna importante avaliar o potencial de bioacumulação e o potencial de bioconcentração. O triticonazol não apresenta potencial de bioacumulação (processo de absorção de substâncias por um determinado organismo) e em se tratando da bioconcentração (aumento da concentração de determinada substância tóxica nos organismos, comparado ao meio abiótico) seu BCF (fator de biocentração) é 94, indicando baixo risco para peixes (EFSA, 2005). Conforme estudos da EFSA (2005), o triticonazol apresenta elevada persistência no ambiente e uma lenta taxa de degradação com meia vida superior a 100 dias no solo, 392 dias na água e 224 dias no sedimento.

Identificação e quantificação do perigo Informações toxicológicas para a saúde humana

A quantidade máxima de uma substância que um indivíduo pode ingerir durante toda a vida, sem que efeitos adversos ocorram, é conhecida como dose de referência ou IDA, Ingestão Diária Aceitável. Ela é importante para o cálculo do padrão de potabilidade no qual outros fatores estão envolvidos: fator de alocação, que seria uma parcela da IDA ou dose de referência, destinada a uma fonte específica de exposição; peso corpóreo médio e consumo diário de água (UMBUZEIRO, 2012).

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O estudo realizado pela EFSA (2005) observou diversos endpoints, para toxicidade reprodutiva foi considerado um NOAEL (nível de efeito adverso não observado) de 48,4 mg/kg de peso corpóreo/dia tanto para efeitos parentais como reprodutivos. Considerando genotoxicidade, o triticonazol não induziu mutação gênica em nenhum dos testes com cepas de bactéria S.typhimurium, assim como em culturas de células de mamíferos, portanto concluiu-se que a substância não apresenta potencial genotóxico (EFSA, 2005). De acordo com a EFSA (2005), o menor NOAEL encontrado para o triticonazol é de 2,5 mg/kg de peso corpóreo/dia, valor obtido a partir de estudos com cães, no qual redução do ganho de peso foi observado. Sendo aplicado um fator de incerteza 100 para resultar na dose de referência de 0,025 mg/kg de peso corpóreo/dia. O valor para a IDA do triticonazol não foi encontrado na monografia da ANVISA.

Informações toxicológicas para biota aquática

O ingrediente ativo Triticonazol apresentou CL50/CE50 (Concentração Letal/ Efetiva para 50% dos organismos teste) entre 2,3-5,6 mg/L para peixes, entre 0,79-2,5 mg/L para algas, de 7,6 mg/L para crustáceos, ambos de água doce. Já para espécies de água salgada apresentou 5,7 mg/L para peixes, 0,35 mg/L para algas, 1,6 mg/L para crustáceos e 3,3 mg/L para ostra marinha. Enquanto os dados de toxicidade crônica, CENO (concentração de efeito não observado), são apresentados nas tabelas 1 e 2.

Tabela 1 - Dados de toxicidade para espécies de água salgada.

Tempo Exposição

Espécie Skeletonema Diatomácea)

costatum

Americamysis Camarão)

bahia

(Alga,

(Crustáceo,

Cyprinodon variegatus (Peixe) Revinter, v. 09, n. 03, p. 36-49, Out. 2016.

de

CENO (µg/L)

5 dias

33

28 dias

0,025

34 dias

122 Página 42


Crassostrea virginica (Ostra)

4 dias

1400

Fonte: USEPA, 2013.

Tabela 2- Dados de toxicidade para espécies de água doce. Fonte: EFSA, 2005; USEPA 2013.

Tempo Exposição

Espécie Anabaena Azulada)

flosaquae

(Alga

Verde-

de

CENO (µg/L)

5 dias

<2600

5 dias

170

5 dias

<2500

Daphnia magna (Microcrustáceo)

21 dias

92

Pimephales promelas (Peixe)

35 dias

8,7

Oncorhynchus mykiss (Peixe)

28 dias

10

Lemna gibba (Planta Aquática)

14 dias

330

Navicula pelliculosa (Alga, Diatomácea) Pseudokirchneriella Verde)

subcapitata

(Alga

Fonte: EFSA, 2005; USEPA 2013.

GHS (Sistema Globalmente Harmonizado)

O GHS é um sistema harmonizado de critérios classificação do perigo, utilizado para a classificação do perigo dos produtos químicos e também a sua rotulagem. Sendo possível, a partir dele, obter informações para a saúde humana e do meio ambiente. No Brasil ele é apresentado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas na Norma Brasileira Regulamentadora conjunto nº 14725. A classificação dos perigos ao ambiente aquático é divida em duas categorias, aguda de I a III e crônica de I a IV. Sendo determinadas com base em dados de toxicidade (CL50, CE50 e CENO) e impacto ambiental (degradabilidade e bioacumulação) (ABNT, 2009). Sendo os mesmos listados na tabela 3 abaixo.

Tabela 3 – Dados de toxicidade aguda referentes a organismos aquáticos para o triticonazol destinados para classificação no GHS. Revinter, v. 09, n. 03, p. 36-49, Out. 2016.

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Organismo Teste

Tempo exposição

Peixe (Oncorhynchus mykiss)

96 horas

CL50: > 3,6

Crustáceo (Daphnia magna)

48 horas

CE50: 9,0

Alga subcapitata)

72 horas

CE50: >1,0

(Pseudokirchneriella

de

Endpoint (mg/L)

Fonte: University of Hertfordshire, 2014; EFSA, 2005.

Desta forma, o triticonazol é classificado na categoria II para a toxidade aguda (ABNT, 2009). Sendo que segundo ABNT (2012), é necessário para a rotulagem do produto a frase de perigo: “Tóxico para os organismos aquáticos”. Para classificação quanto à toxicidade crônica, além das informações de toxidade aguda, é necessário também dados como Fator de Bioconcentração (BCF), degradabilidade e valores de CENO. Como o triticonazol apresenta baixo potencial de bioconcentração, com o fator de 94 (University of Hertfordshire, 2014), associando com dados de meia-vida e CENO, a classificação obtida para toxicidade crônica é a categoria II (ABNT, 2009). Sendo necessário no rótulo o pictograma referente ao meio ambiente e a frase de perigo: “Tóxico para os organismos aquáticos, com efeitos prolongados” (ABNT, 2012).

Informações sobre ocorrência ambiental Após sua aplicação, o fungicida pode ter como destino águas superficiais ou subterrâneas devido a fatores físicos, como a lixiviação, e o escoamento devido à chuva e irrigação. Deste modo foram encontradas ocorrências do triticonazol apenas em águas superficiais, o que volta a referenciar o valor previamente calculado do Koc que também revela a mobilidade mediada do fungicida em se deslocar para outros lugares e ainda assim, os casos de ocorrência se remetem às águas superficiais novamente. ada a mobilidade moderada da substância, ou seja, a tendência mediana do fungicida em se deslocar para outros lugares, há chances de que ele continue na água superficial. A primeira delas em uma bacia hidrográfica na Argentina, em que de 44 amostras, 7% detectaram presença do fungicida com concentrações abaixo do limite Revinter, v. 09, n. 03, p. 36-49, Out. 2016.

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de quantificação (LQ) de 25 ng/L, sendo que o limite de detecção (LD) nesse estudo era 0,65 ng/L (GERÓNIMO et al., 2014). Em Wisconsin, Estados Unidos, em uma área com predominância agrícola, foi detectada a presença do triticonazol em 2% das 63 amostras retiradas, com uma concentração de máxima de 66,8 ng/L (ORLANDO et al., 2009).

Cálculo de critérios de potabilidade e para proteção da vida aquática Cálculo do Critério de Potabilidade

Utilizando IDA de 0,025 mg/kg/dia, multiplicado pelo peso médio do brasileiro de 60 kg, divido pelo consumo médio de água por dia de um adulto (2 litros), utilizando um fator de alocação para água de 10% escolhido baseado no modo de aplicação, valores de solubilidade, Koc e de log Kow. Foi obtido o valor de 0,075 mg/L para o critério de qualidade de água potável destinada ao consumo humano.

Critérios para proteção de vida aquática

O menor CENO encontrado para água salgada, conforme a tabela 1, foi para o crustáceo Americamysis Bahia (USEPA, 2013), para o cálculo do critério para águas salgadas divide-se o valor de 0,025µg/L por um fator de incerteza de 10 (SBMCTA, 2011), pois tem-se dados para três níveis tróficos. O valor obtido foi de 0,0025µg/L. O menor CENO encontrado para água doce, conforme a tabela 2, foi para o peixe Pimephales promelas (USEPA, 2013), para o cálculo do critério para águas doces divide-se o valor de 8,7µg/L por um fator de incerteza de 10 (SBMCTA, 2011), pois tem-se dados para três níveis tróficos. O valor obtido foi de 0,87µg/L.

Regulamentação

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No Brasil é permitida a comercialização do Triticonazol, através da marca comercial Premis (AGROFIT, 2003). No entanto, não se encontram concentrações máximas permitidas do agrotóxico na água na Portaria de Potabilidade 2914/2011 (BRASIL, 2011). Também, o fungicida não é regulamentado no CONAMA 396/2008 (BRASIL, 2008) e CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005), que tratam de águas subterrâneas e superficiais respectivamente. Na Europa, segundo o Jornal Oficial da União Européia (2006) e a Base de Dados da Comissão Européia (EC, 2015) não foram encontrados o limite máximo para o Triticonazol na água destinada ao consumo humano, somente a existência da regulamentação do uso da substância em países da Europa. Nos Estados Unidos, o produto é regulamentado segundo o Pesticide Action Network (2014), porém, não foram encontradas concentrações máximas permitidas para o Triticonazol.

Conclusões De acordo com os critérios calculados neste trabalho, foi possível concluir com base nos dados de exposição obtidos na Argentina e nos Estados Unidos, que os valores não superam os critérios para proteção da vida aquática e nem de potabilidade. Como no Brasil não foram encontrados dados de ocorrência não é possível fazer a avaliação de risco da substância, pois além das características de perigo observadas através dos critérios (potabilidade e proteção da vida aquática) é necessário haver potencial de exposição. Sendo assim, é necessário mais estudos sobre a ocorrência do composto, para que posteriormente seja avaliado a necessidade da inclusão do Triticonazol na legislação brasileira.

Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNINCAS. NBR 14725-2. Produtos químicos - Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente, Parte 2: Sistema de classificação de perigo, 2009 Versão corrigida 2010. documentos/seg_2_2013/nbr147252.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2015.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14725-3. Produtos químicos - Informações sobre segurança, saúde e meio ambiente, Parte 3: Rotulagem, 2012. Versão corrigida 3:2015. AGROFIT. Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários, Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento (MAPA), 2003. Disponível em: <http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/ principal_agrofit_cons>. Acesso em: 04 abr. 2015. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Monografias de Agrotóxicos. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/d513858049c466f0a0e8a 66dcbd9c63c/Microsoft+Word+-+T40++Triticonazol.pdf?MOD=AJPERES>. Acesso em: 04 abr. 2015. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Decreto nº 4074, de 04 de janeiro de 2002 Regulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4074.htm>. Acesso em: 05 abr. 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 2.914, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade.Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>. Acesso em: 19mai. 2015. CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO Nº 357, DE 17 DE MARÇO DE 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Publicada no DOU nº 053, de 18/03/2005, págs. 58-63.Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2015. CONAMA, Conselho Nacional do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO CONAMA nº 396, de 3 de abril de 2008. Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências. Publicada no DOU nº 66, de 7 de abril de 2008, Seção 1, páginas 64-68.Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legislacao/CONAMA_RES_CONS_2008_396. pdf>. Acesso em: 05 abr. 2015. Revinter, v. 09, n. 03, p. 36-49, Out. 2016.

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EC, European Commission. Triticonazole.EU Pesticides databse. Disponível em: <http://ec.europa.eu/sanco_pesticides/public/?event=activesubstance.detail&languag e=EN&selectedID=2001>. Acesso em: 16 mai. 2015. EFSA.European Food Safety Authority.Conclusion regarding the peer review of the pesticide risk assessment of the active substance triticonazole, 2005. Disponível em: <http://www.efsa.europa.eu/en/efsajournal/doc/33ar.pdf>. Acesso em: 04 abr. 2015. Gerónimo, E.; Aparicio, V.C.; Bárbaro, S.; Portocarrero, R.; Jaime, S.; Costa, J.L. Presence of pesticides in surface water from four sub-basins in Argentina. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0045653514001052>.Acesso em: 28 mai. 2015. IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Relatório de Comercialização dos Agrotóxicos. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/areas-tematicas-qa/relatorios-de-comercializacao-deagrotoxicos/pagina-3>.Acesso em: 05 abr. 2015. Jornal Oficial da União Européia.DIRECTIVA 2006/39/CE DA COMISSÃO de 12 de Abril de 2006. que altera a Directiva 91/414/CEE do Conselho com o objectivo de incluir as substâncias activasclodinafope, pirimicarbe, rimsulfurão, tolclofos-metilo e triticonazol. Disponível em: <http://eurlex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2006:104:0030:0035:P T:PDF>. Acesso em: 16 mai. 2015. National Center for Biotechnology Information. PubChem Compound Database; Triciconazole CID=6537961, Disponível em: <https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/6537961>. Acesso em: 17 jun. 2016. Orlando, J.L.; Smalling, K.L.; Reilly, T.J.; Fishman, N.S.; Boehlke A.; Meyer, M.T. e Kuivila, K.M. Occurrence of fungicides and other pesticides in surface water, groundwater, and sediment from three targeted-use areas in the United States, 2009. U.S. Geological Survey. Disponível em: <http://pubs.usgs.gov/ds/797/pdf/ds797.pdf>. Acesso em: 28 mai. 2015. Pesticide Action Network North America. Triticonazole - Identification, toxicity, use, water pollution potential, ecological toxicity and regulatory information. Pesticides Database –Chemicals, 2014. Disponível em: Revinter, v. 09, n. 03, p. 36-49, Out. 2016.

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Síndrome do Roubo da Subclávia e Síndrome do Roubo coronário-subclávio: Um resgate na Literatura Maria Lucianny Lima Barbosa Graduanda de Nutrição da Universidade Federal do Piauí UFPI/CSHNB. Aluna de Iniciação Científica PIBIC-CNPq. Liga Acadêmica de Anatomia. Ana Rafaela Silva Pereira Graduanda de Nutrição da Universidade Federal do Piauí/CSHNB. Rosielle Alves de Moura Graduanda de Nutrição da Universidade Federal do Piauí/CSHNB. Aluna de Iniciação Científica Voluntária. UFPI/CSHNB. Osvaldo Pereira da Costa Sobrinho Graduando de Medicina da Universidade Federal do Ceará Faculdade de Medicina Universidade Federal do Ceará. Daniela França Barros Pessoa Enfermeira. Doutora em Enfermem. Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Piauí Campus Parnaíba. Ana Paula Fragoso de Freitas Enfermeira. Doutoranda pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal do Ceará. Gilberto Santos Cerqueira Farmacêutico. Doutor em Farmacologia. Faculdade de Medicina, Programa de Pós Graduação em Ciências Biomédicas Universidade Federal do Piauí Campus Parnaíba. E-mail: giufarmacia@hotmail.com. Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol9ed3.256

Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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Resumo A síndrome do roubo coronário-subclávio é definida como o fluxo sanguíneo invertido de uma coronária, por meio de um enxerto da artéria mamária interna esquerda em direção à subclávia médio-distal, e ocorre devido à estenose significativa ou oclusão total da porção proximal desta última. É uma doença que apresenta morbidade significativa com possíveis complicações como trombose, anóxia e morte. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão da literatura sobre a síndrome do roubo coronário-subclávio. Foi realizado um estudo de revisão bibliográfica através das bases de dados do SciELO, Pubmed, Bireme e Google Acadêmico. Os sintomas, os antecedentes clínicos e principalmente a diferença de pulso e pressão entre os braços nos faz pensar na síndrome do Roubo da Subclávia. O exame com ecodoppler colorido e arteriografia é importante ferramenta no diagnóstico. Observou-se que o tratamento é cirúrgico com remoção da estenose ou da oclusão arterial. Além disso, existem poucos programas para prevenção e diagnósticos precoce dessa doença. Constatou-se que a síndrome do roubo coronário-subclávio é uma doença pouco conhecida de alta mortalidade se não diagnosticada e tratada adequadamente. Assim, pode-se concluir que, exames preventivos de rotina em pacientes com alteração de pressão arterial tornam-se necessários para uma detecção precoce dessa doença. Palavras-chave: Anatomia. Artéria subclávia. Morfologia. Síndrome do roubo subclávio. Síndrome do roubo coronário-subclávio.

Steal Coronary-Subclavian Syndrome: Literature Review Abstract The syndrome of coronary-subclavian steal is defined as the reversed blood flow in a coronary artery by means of a grafting of the left internal mammary artery toward the middle-distal subclavian, and occurs due to severe stenosis or total occlusion of the proximal portion of the latter. It is a disease with significant morbidity with possible complications such as thrombosis, anoxia and death. The objective of this study was to perform a literature review of the coronary-subclavian steal syndrome. a bibliographic review was carried out through the databases SciELO, Pubmed, Bireme and Google Scholar. The symptoms, medical history and especially the pulse and pressure difference between arms makes us think of the subclavian steal syndrome. Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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The examination with color Doppler ultrasound and arteriography are an important tool in the diagnosis. It was observed that the treatment is surgical removal with stenosis or arterial occlusion. Furthermore, there are few programs for prevention and early diagnosis of this disease. It was found that the coronary-subclavian steal syndrome is a disease little known high mortality if not diagnosed and treated properly. Thus, one may conclude that, routine preventive examination in patients with blood pressure change becomes necessary for early detection of this disease. Keywords: Anatomy. Subclavian artery. Subclavian steal syndrome. Coronarysubclavian steal syndrome. Morphology

Recebido em 10/04/2016 Aceito em 19/07/2016

Introdução A primeira observação angiográfica da inversão do fluxo da subclávia foi realizada por Cantorni em 1960 (1960 apud PASSOS; ALVES; SOUZA, 2013). Tal observação passou a ser aplicada, inicialmente, no estudo de Goldberg e Reivich (1962), no qual foram relatados casos de dois pacientes com sintomas cerebrais de isquemia associada à inversão do fluxo através da artéria vertebral ligada, secundariamente, à obstrução da subclávia (PASSOS; ALVES; SOUZA, 2013). A síndrome do roubo da subclávia (SRS) é caracterizada pela inversão de fluxo da artéria vertebral devido a uma oclusão ou lesão estenótica na origem da artéria subclávia, sendo mais frequentes em sua porção distal esquerda. (ALMEIDA et al., 2014). A artéria vertebral começa na raiz do pescoço, sendo o primeiro ramo da artéria subclávia. Intracranialmente, as duas artérias vertebrais se unem formando a artéria basilar. Essa artéria e seus ramos contribuem para a constituição da estrutura do ciclo arterial cerebral (de Willis), além de serem, por vezes, denominados circulação posterior do encéfalo (DALLEY; KEITH, 2006). A estenose da artéria subclávia apresenta pouca incidência na população em geral, no entanto, possui uma frequência relativamente maior em pessoas diabéticas, Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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fumantes e acometidos de doença arterial periférica, tratando-se desse modo, de uma doença com natureza aterosclerótica (OSTERNE et al., 2013). Osterne et al (2013) relatam ainda sobre outro aspecto anatômico, o qual também caracteriza uma síndrome de roubo de fluxo em pacientes que possuem sinais clínicos de insuficiência vascular. Isso caracteriza a síndrome do roubo coronário-subclávio (SRCS), a qual é definida como a reversão do fluxo sanguíneo de uma coronária, por meio de um enxerto da artéria mamária interna esquerda (AMIE) em direção à subclávia médio-distal, e ocorre devido à estenose significativa ou oclusão total da porção proximal desta última (TARIQ et al., 2012). A fisiopatologia das duas síndromes é semelhante, no entanto, apresentam diferenças entre si com relação aos sintomas, pois dentre os relacionados à SRS está à claudicação, isto é, dor muscular no membro superior e sintomas vertebro basilares (tontura, vertigem, ataxia e síncope), já na SRCS podem estar presentes sinais cardíacos como dor tipo angina pectoris e episódios de arritmia; e não cardíacos, tais como tontura, vertigem, ataxia e claudicação do membro superior. O quadro normalmente é desencadeado ou exacerbado pelo esforço físico, além disso, os pacientes também podem ser assintomáticos (MILLER et al., 2012; ARGIRIOU et al., 2007; SADEK et al., 2008; KURSAKLIOGLU et al., 2009). Devido à escassez de estudos e a relevância clínica do tema para inovação de procedimentos terapêuticos e cirúrgicos, objetivou-se realizar uma revisão de literatura sobre a SRS e a SRCS, trazendo aspectos como tratamento, sintomas e etiologia, como o desfecho das publicações mais recentes em relação a tais síndromes. Metodologia Realizou-se

uma revisão

bibliográfica na

literatura embasada em artigos

científicos. Segundo Gil (2007) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado como livros, artigos e teses. A pesquisa possui caráter exploratório, pois permite maior familiaridade com o problema, aprimoramento de ideias ou descoberta de intuições. Pretende-se, assim, colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre as síndromes em questão. Esse estudo de revisão bibliográfica possui base descritiva e foi realizado no período de julho de 2015 a janeiro de 2016, através da verificação de dados coletados na Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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literatura com o objetivo de selecionar estudos atualizados e relevantes para a discussão do tema levantado, os quais foram encontrados em bibliotecas virtuais e base de dados como Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Pubmed, Science Direct, Bireme e Google Acadêmico. Para promover a busca dos resumos foram acessados os sites supracitados e consultado os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), identificando os seguintes termos: Síndrome do roubo da subclávia e Síndrome do roubo coronário-subclávio, sendo considerados apenas os artigos que possuíam esse descritor no seu resumo ou abstract. Além dos critérios de inclusão já mencionados foram incluídos apenas os artigos publicados nos últimos 10 anos. A avaliação dos dados foi pautada na síndrome do roubo subclávio e síndrome do roubo coronário-subclávio e foram verificadas as concordâncias e discrepâncias a respeito de cada tópico da análise. Após o reconhecimento das ideias estabelecidas de cada autor, foi feita uma apreciação crítica da literatura e os resultados foram expostos textualmente. Realizaram-se ainda, as cabíveis reflexões que a temática possibilitou. Resultados e Discussão Após a realização de pesquisas nas diferentes bases de dados foram identificadas 15 publicações sobre a síndrome do roubo subclávio e/ou síndrome do roubo coronáriosubclávio, as quais se encontram distribuídas na tabela 1 abaixo. Tabela 1. Distribuição das publicações encontradas

Bases de dados

Ano

N

%

Google acadêmico

2006-2015

4

26,67

PubMed

2009-2015

6

40,00

Science Direct

2013-2014

2

13,33

Scielo

2008-2012

2

13,33

Bireme

2012

1

6,67

15

100

Total

Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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Dessa forma, observa-se que a maior parte dos artigos é da base de dados Pubmed com 40%. Etiologia da síndrome do roubo da subclávia e síndrome do roubo coronário subclávio De acordo com Vieira et al (2012), a síndrome do roubo coronário-subclávio é uma causa rara de isquemia miocárdica após cirurgia de revascularização do miocárdio (0,1% a 6%), sendo a principal etiologia a aterosclerose. Também tem sido descrito casos em pacientes com arterite de Takayasu ou malformações da artéria mamária interna esquerda, como a presença de fístulas arteriovenosas (MILLER et al., 2012). A síndrome do roubo coronário-subclávio (SRCS) possui incidência na população com doença aterosclerótica de 3%. A existência de doença vascular periférica é o melhor fator preditivo da ocorrência da SRCS. A prevalência é difícil de determinar, uma vez que muitos doentes não apresentam sintomas devido ao desenvolvimento de uma rede colateral supletiva (GUARDADO et al., 2005). Embora a etiologia mais frequente para a SRCS seja a aterosclerose, em alguns casos os sintomas talvez não sejam tão evidentes, principalmente na presença de lesões do eixo vertebro-basilar e das artérias carótidas, que podem confundir o diagnóstico preciso da causa dos sintomas (FRANÇA; BREDT; JÚNIOR, 2004). Sintomatologia da síndrome do rouba da subclávia e síndrome do roubo coronário subclávio Os mecanismos da sintomatologia podem ser de natureza hemodinâmica ou embólica. Cantorni, em 1960 descreveu radiologicamente a “síndrome do roubo da artéria subclávia” em um paciente assintomático pela primeira vez (1960 apud FRANÇA; BREDT; JÚNIOR, 2004). Os sintomas dessa síndrome parecem ocorrer apenas quando o exercício do membro superior aumenta a demanda de fluxo sanguíneo, ocasionando o “roubo” da circulação cerebral posterior. Muito questionada por vários cirurgiões vasculares, essa síndrome não parece ser uma indicação única para cirurgia (FRANÇA; BREDT; JÚNIOR, 2004). Há relatos de pacientes que apresentam quadro sintomático de dor em hemotórax esquerdo tipo de angina pectoris com esforços médios, principalmente nas atividades envolvendo os membros superiores, associada à dispneia leve e sudorese. Também Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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ocorre a negação de claudicação de membros, tontura ou síncope. Alguns não apresentam sopros, tem pulsos amplos e simétricos nos membros superiores e inferiores (MILLER et al., 2012). Diagnóstico e tratamento da síndrome do roubo da subclávia e síndrome do roubo coronário subclávio O Doppler pulsado (PW) é útil na análise da artéria vertebral, registrando informações capazes de identificar a presença da Síndrome do Roubo da Subclávia. Com base nas alterações hemodinâmicas da artéria vertebral avaliadas pelo estudo com Doppler Espectral, podem ser identificados três tipos de roubo da subclávia: oculto, parcial e completo. Em relação ao seu tratamento, existem dúvidas sobre o papel da terapia antiplaquetária dupla (PASSOS; ALVES; SOUZA, 2013). Segundo Almeida et al (2014), o diagnóstico da síndrome do roubo coronáriosubclávia deve ser suspeitado em pacientes com diferença de pulso e pressão arterial nos membros superiores, que se apresentam com angina pectoris (dor torácica originada por insuficiência de sangue e oxigênio para o coração), e que fizeram uma revascularização do miocárdio. Seu tratamento deve ser cirúrgico ou com um by-pass. Após o surgimento das técnicas minimamente invasivas, utiliza-se também a angioplastia transluminal. Por ser um tema relativamente novo, os artigos selecionados para composição da tabela 2 foram apenas os publicados nos últimos 10 anos. Na tabela 2 abaixo se observa os desfechos das principais publicações relacionadas à síndrome do rouba da subclávia e/ou síndrome do roubo coronário subclávio. Tabela 2. Principais publicações relacionadas com a síndrome do roubo subclávio e síndrome do roubo coronário-subclávio.

Autor

Desfecho do estudo

Tipo

de

estudo Moreira;

Paciente de 56 anos, sexo masculino, com Relato

Nadai;

diagnóstico de Síndrome do Roubo da Subclávia, caso

Monteiro,

foi encaminhado para a reabilitação vestibular,

2007

com queixa de tontura, zumbido e desequilíbrio

de

após tratamento cirúrgico. O mesmo evoluiu com Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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uma melhora de 85% do quadro após 6 meses de tratamento. Tan et al., Descreveram o caso de mulher de 83 anos de Relato 2007

de

idade, de origem indiana, que foi diagnóstica com caso a síndrome do roubo coronário subclávio, com estenose grave na artéria subclávia esquerda e fluxo retrógado até o enxerto da artéria mamária interna esquerda. Foi realizada na mesma uma angioplastia com implante de stent na artéria subclávia esquerda, apresentando melhora do fluxo sanguíneo.

Gomes

et Observaram que a estenose da artéria subclávia Relato de

al., 2008

esquerda não é rara em pacientes com indicação caso de cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM). Portanto, em pacientes candidatos a CRM, a realização de arteriografia seletiva da artéria subclávia esquerda deve ser considerada, pois há risco de comprometimento do fluxo e síndrome do roubo coronário-subclávio em pacientes com estenose da subclávia não diagnosticada que recebem enxerto de artéria torácica interna esquerda.

Kursakllioglu Relataram o caso de um paciente com síndrome Relato de et al., 2009

do

roubo

diagnosticado

coronário-subclávio com

taquicardia

que

foi caso

ventricular

monomórfica sustentada cinco anos após cirurgia de revascularização da coronária. Este paciente foi submetido à nova intervenção devido a um enxerto de desvio entre a aorta descendente e a artéria subclávia esquerda, o que causou um completo alívio de episódios taquicardíacos ventricular.

Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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Passos;

Observaram que o advento da angioplastia Relato de

Alves;

transluminal percutânea e, em seguida, dos caso consiste

Souza, 2013 Stents,

na

combinação

de

procedimentos preferenciais no tratamento dos casos sintomático da Síndrome do Roubo da Subclávia. Tariq et al., Relataram o caso de uma mulher idosa com Relato de 2012.

sintomas de síncope, pressão arterial de 141/65 caso mm Hg (braço direito) e 80/43 mm Hg (braço esquerdo),

bem

como

pulsos

braquiais

detectáveis apenas por ultrassonografia. A angiografia por ressonância magnética confirmou a oclusão total da artéria subclávia esquerda com roubo da subclávia clássico. A paciente teve angioplastia

transluminal

percutânea

com

implante de stent da artéria subclávia esquerda e manteve-se assintomática por 2 anos, seguidos de agressiva modificação dos fatores de risco. Milller et al., Relataram o caso de um paciente com a Relato 2012

de

síndrome do roubo coronário-subclávio que foi caso submetido implante

à de

angioplastia stent.

percutânea

Após

o

com

procedimento

constatou-se boa recuperação, apresentando regressão dos sintomas no pós-operatório. Vieira et al., Segundo este, a síndrome do roubo coronário- Relato 2012

subclávia

possui

como

principal

de

etiologia caso

aterosclerose e embora a via cirúrgica tenha sido o

tratamento

de

escolha

no

passado,

a

revascularização endovascular é usada nos dias de hoje como permeabilidade no segundo e quinto anos após angioplastia (100% e 85% a 95%)

apresentando

baixa

morbidade

e

mortalidade. Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

Página 58


Lopes et al., Relataram o caso uma de paciente de 55 anos, Relato 2013

de

com oclusão no segmento proximal da artéria caso subclávia esquerda, a qual foi submetida à angioplastia transluminal percutânea e implante de stent com reparo da lesão e restabelecimento do fluxo. A mesma obteve um bom resultado terapêutico com estes procedimentos.

Moreno et

Acompanharam o caso de um homem de 67 anos Relato

al., 2013

de idade, com angina recorrente depois de caso

de

submetido à revascularização do miocárdio com a artéria mamária interna esquerda descendente anterior extracorpórea. O roubo coronariano do mesmo foi confirmado através de testes de isquemia. O tratamento percutâneo eficaz para este

paciente

foi

realizado

por

meio

de

embolização com molas, com sintomas clínicos de melhora do fluxo. Faggioli et

Observaram

uma

abordagem

endovascular Estudo

al., 2014

adaptada que foi utilizada para tratar a Síndrome casos

de

do Roubo Coronário Subclávio. No entanto, verificou-se

durante

ocorrência

de

letais,

quais

as

a

execução

complicações precisaram

desta

a

potencialmente ser

corrigidas

rapidamente. Mufty;

Descreveram um caso de isquemia crônica do Relato

Janssen;

membro superior esquerdo causada por uma caso

Schepers,

oclusão na artéria subclávia. A estenose foi

2014

tratada primeiramente com bypass carotídeo subclávio,

seguido

por

angioplastia

de

com

colocação de stent da artéria subclávia por causa de oclusão do bypass. Devido à insuficiência desses procedimentos houve a necessidade de realização

de

um

Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

cruzamento

by-pass, Página 59


demonstrando assim as dificuldades envolvidas na escolha do melhor tratamento para estenose da artéria subclávia. Kirsanov;

Apresentaram 3 relatos de casos sobre a Relato

Khorev;

formação da síndrome do roubo da subclávia caso

Kulikov,

vertebral. Por meio de digitalização duplex,

2015.

angiografia

e

tomografia

de

computadorizada

multispiral demostrou-se deformidades da artéria subclávia no primeiro segmento (proximal à origem da artéria vertebral) com estenose típica de síndrome do roubo. Maiodna et

Seus estudos relataram um caso raro de Relato

al., 2015

síndrome do roubo subclávio, secundário a uma caso

de

fístula de diálise arteriovenosa, em paciente com doença renal em estado final. Sakamoto et Relato de uma mulher idosa, após a verificação Relato al, 2015.

arterial

constatou-se

que

estava

de

medindo caso

141/65mm Hg (braço direito) e 80/43mm Hg (braço esquerdo), onde o pulso braquial só era detectado com a ultrassonografia. Constatou-se fluxo reverso na artéria vertebral esquerda e, uma artéria subclávia esquerda distal anormal. A paciente passou por uma angioplastia translumial percutânea com implante de stent na artéria subclávia esquerda abordando a artéria femoral direita com filtro de proteção da artéria coronária interna e proteção do balão da artéria vertebral e artéria torácica interna. O tratamento da estenose grave da artéria subclávia foi conseguido com sucesso e sem complicações.

Considerações Finais Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

Página 60


Constatou-se que a produção científica para a síndrome do roubo subclávio e síndrome do roubo coronário-subclávio é incipiente necessitando de melhores estudos para esclarecer a fisiopatologia e métodos terapêuticos para o manejo adequado da doença. Além disso, métodos avançados de imagem tornam-se essenciais para uma melhor descrição anatômica e radiológica da doença, facilitando assim, o diagnóstico da afecção.

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Revinter, v. 09, n. 03, p. 50-63, Out. 2016.

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Intoxicação medicamentosa em crianças: uma revisão de literatura Álvaro Arrué Witter Graduando de Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas – FACIME/UESPI Ana Isabella Silva Rabêlo Medeiros Graduanda de Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas – FACIME/UESPI. Lucas Martins Teixeira Graduando de Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas – FACIME/UESPI. Marina Gabriele Mendes Barbosa Graduanda de Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas – FACIME/UESPI. Suélin Paula dos Santos Graduanda de Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas – FACIME/UESPI. Rosemeire Brandim Marques Docente da Faculdade3 de Ciências Médicas – FACIME-UESPI. E-mail: rosebmarques@hotmail.com

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol9ed3.274 Resumo Os medicamentos representam a principal causa de intoxicação, segundo dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), sendo, inclusive, a principal causa de intoxicação nas crianças de 0 a 15 anos. Verificar a participação dos medicamentos nas intoxicações infantis e identificar medidas preventivas para esse problema. Tratou-se de uma revisão literária, a partir de artigos obtidos nas bases de dados eletrônicas disponíveis. Os principais medicamentos envolvidos foram descongestionantes nasais, broncodilatadores, analgésicos, anticonvulsivantes e contraceptivos orais. Os principais sintomas Revinter, v. 09, n. 03, p. 64-71, out. 2016.

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manifestados são vômitos, diarreia, desidratação, hipertermia e acidose metabólica, podendo ser facilmente confundido com outras patologias. Isso dificulta o diagnóstico e tratamento precoce, o que acaba por favorecer a ocorrência de casos graves. Fazse necessária uma revisão nas práticas de prescrição médica na faixa etária infantil, bem como de políticas de saúde relacionadas ao uso de medicamentos, combatendo a cultura da automedicação. Palavras-chave: Envenenamento. Crianças. Medicamentos. Toxicidade de drogas.

Medicine poisoning in children: a literature review Abstract The drugs are the leading cause of poisoning, according to data released by the National System of Toxic-Pharmacological Information (SINITOX), and even the leading cause of poisoning in children 0-15 years. To investigate the involvement of drugs in children poisonings and identify preventive measures for this problem. This was a literary review, from papers through the available electronic databases. The main drugs involved were nasal decongestants, bronchodilators, analgesics, anticonvulsants and oral contraceptives. The main symptoms are manifested vomiting, diarrhea, dehydration, hyperthermia and metabolic acidosis and can be easily confused with other diseases. This complicates the diagnosis and early treatment, which ultimately favor the occurrence of severe cases. A review on prescription practices it is necessary in the children's age and health policies related to drug use, combating the culture of self-medication. Keywords: Poisoning. Children. Medicine. Drug Toxicity.

Recebido em 07/10/2016 Aceito em 27/10/2016

Introdução Os medicamentos representam a principal causa de intoxicação, segundo dados divulgados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), sendo, inclusive, a principal causa de intoxicação nas crianças de 0 a 15 anos. Há diferenças na intoxicação de crianças e adultos no que se refere a suscetibilidade, já que depende da combinação de toxicocinética e toxicodinâmica e fatores de exposição (RAMOS, et al. 2005). Com base nos últimos dados do SINITOX (2013), é possível identificar que a faixa etária mais atingida é a de crianças entre 1 a 4 anos, tendo predominância no sexo Revinter, v. 09, n. 03, p. 64-71, out. 2016.

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feminino e, considerando a região do país, tem-se a região Sudeste com o maior número de casos. Um dos fatores para a inserção de crianças neste quadro de intoxicações pode ser pela falta de orientação médica nem sempre requerida pelos responsáveis, gerando riscos pelo uso incorreto de medicamentos (LESSA; BOCHNER, 2008). Em países industrializados, a maior prevalência dos casos de intoxicação por medicamentos corresponde à faixa etária infantil. Entretanto, os registros na maioria dos países não demostram a real magnitude de casos, devido à subnotificação e à tendência aos registros apenas de casos mais agudos, com sinais clínicos mais pronunciados (MATOS et al., 2002). O presente trabalho teve como objetivo analisar a presença de medicamentos nas intoxicações infantis, identificando os fatores relacionados e as repercussões nas faixas etárias atingidas, bem como pontuar medidas preventivas que contribuam para solucionar esse problema. Metodologia Realizou-se um estudo de revisão de literatura do tipo narrativa, obtida nas seguintes bases de dados eletrônicos: LILACS, SCIELO, BIREME, MEDLINE, com foco do descritor nuclear em intoxicação infantil e descritor complementar intoxicação medicamentosa. O recorte temporal abrangeu o período de agosto de 2002 a março de 2013. Também foram pesquisados dados do SINITOX que correspondem ao ano de 2013. Na busca realizada nas bases de dados referidas, foram encontrados 14 artigos,

relacionados

aos

descritores

intoxicação

infantil

e

intoxicação

medicamentosa.

Levantamento bibliográfico A partir dos artigos revisados foi possível observar que existe um uso abusivo de medicamentos no Brasil, proporcionado por uma cultura de automedicação e pelo fácil acesso a esses fármacos. Sendo assim, fica claro a interferência desse contexto na ocorrência de acidentes, principalmente com os grupos mais vulneráveis, como as crianças (CARVALHO, et al. 2008).

Revinter, v. 09, n. 03, p. 64-71, out. 2016.

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A maioria das crianças com história de intoxicação atendidas nas urgências hospitalares se encontravam na faixa etária de 1 a 5 anos, com maior prevalência para o sexo masculino. Os principais medicamentos envolvidos foram descongestionantes nasais, broncodilatadores, analgésicos, anticonvulsivantes e contraceptivos orais. A principal forma de intoxicação foi por ingestão oral (MATOS, et al. 2002). De acordo com Lourenço et al. (2008), as crianças entre dois e três anos de idade são as mais suscetíveis aos acidentes tóxicos, em todo o mundo, pois a curiosidade natural nesta faixa de idade, associada ao desenvolvimento motor, aumentam o risco de exposição. Dos quatro anos em diante, as crianças já compreendem melhor as orientações dos adultos e são mais seletivas quanto ao paladar. Nesta idade, os medicamentos envolvidos em eventos tóxicos são, geralmente, os de sabor agradável, adicionados de edulcorantes e com embalagens atraentes. Estudo realizado por Alcantara et al. (2003) revelou que os incidentes com crianças na faixa de 0 a 1 ano foram relacionados com descongestionantes nasais e broncodilatadores, devido a alta incidência de doenças respiratórias nesse período da infância. Dentro dessa mesma faixa, os analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios também têm importância. No grupo de 2 a 4 anos, além dos medicamentos anteriormente citados, o uso de psicofármacos também foi relevante, visto que pequenas doses podem gerar sintomas como sonolência, ataxia cerebelar e insuficiência respiratória. Já no grupo de 5 a 12 anos, as intoxicações acidentais são progressivamente substituídas pelas tentativas de suicídio, principalmente a partir dos 9 anos. O uso de antimicrobianos e antiparasitários também estão relacionados a eventos tóxicos, sendo a amoxicilina e o benzoato de benzila os principais fármacos envolvidos nos casos de intoxicação na faixa etária de 1 a 4 anos (MATOS et al., 2008). Os principais sintomas manifestados nas intoxicações medicamentosas são vômitos, diarreia, desidratação, hipertermia e acidose metabólica, podendo ser facilmente confundido com outras patologias. Isso dificulta o diagnóstico e tratamento precoce, o que acaba por favorecer a ocorrência de casos graves (ALCANTARA et al., 2003). Já em um estudo realizado por Matos (2008), a sonolência foi o sintoma mais relatado, seguido por taquicardia e agitação. Além dessas manifestações, dor abdominal, palidez, hipotensão e cefaleia também foram citados. Ainda a respeito desse estudo, cabe ressaltar que em 48,6% dos casos notificados não houve relato de sintomas. Revinter, v. 09, n. 03, p. 64-71, out. 2016.

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Segundo Lourenço (2008), a maioria dos casos de intoxicação infantil evoluiu para cura ou cura não confirmada, o que corresponde a descontinuidade de acompanhamento do caso, chegando a cerca de 90%. Os óbitos são raros, mas quando ocorrem estão relacionados às altas doses e composição fármaco. Em estudo realizado por Mota et al. (2012), de 1996 a 2005, dos 9.588.501 óbitos registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), foram identificados 4.403 (0,04%) casos relacionados à intoxicação por medicamentos. As regiões sul e sudeste contam com o maior número de casos registrados, não só pela maior concentração populacional, mas também pelo maior número de centros bem estruturados contribuindo para o acesso tanto aos medicamentos quanto ao atendimento pós-intoxicação. Os dados do SINITOX regionalizados apresentam lacunas, principalmente no norte e nordeste, tais como: o número insuficiente de Centros Estaduais de Informação e Assistência Toxicológica (CIATs) que enviam dados ao Sistema Nacional; a notificação é realizada de maneira espontânea, muitas vezes com o objetivo apenas de obter informações; falta de padronização de dados e grande parte das intoxicações serem atendidas nas redes de serviço de saúde sem conhecimento dos centros de intoxicação, o que leva às subnotificações (MOTA et al., 2009). As principais causas de intoxicação no Brasil, se dão pelo erro de administração, causado principalmente por dificuldade de compreensão das instruções médicas e interpretação da bula (LESSA; BOCHNER, 2008). Um dos casos recorrentes e observados é o uso inadequado de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais pelos pais para combater a febre, quando na verdade este é um mecanismo de defesa do organismo e o uso desses medicamentos pode comprometer a resposta imunológica (BRICKS, 2003). Além disso, a automedicação pode levar a dependência de medicamentos, iatrogenia, dificultar o diagnóstico de outras doenças e causar danos ao indivíduo (GOULART, et al. 2012). Em relação às intoxicações acidentais, segundo pesquisa realizada por Ramos et al. (2005), abrangendo o público infantil do Rio Grande do Sul, destaca-se que em 90,5% dos casos o acidente foi o primeiro na residência e em 76,2% percebeu-se que os responsáveis realizaram alteração de conduta e houve mudança do local de acesso do agente tóxico. De acordo com Beckhauser (2012), o cômodo preferencial de estocagem desses medicamentos a cozinha, sendo os mesmos colocados no armário Revinter, v. 09, n. 03, p. 64-71, out. 2016.

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e sobre eletrodomésticos como a geladeira e o forno microondas, facilitando o acesso das crianças. A adoção da Embalagem Especial de Proteção à Criança (EEPC) em medicamentos e produtos químicos de uso doméstico é extremamente importante devido ao seu grande impacto na queda das intoxicações medicamentosas. Nos Estados Unidos e Canadá, essa medida conseguiu reduzir em 35% os índices de intoxicação no período de 1969 a 1972 (MAIOR; OLIVEIRA, 2012). A lei que exige a divulgação da advertência “mantenha fora do alcance de crianças” na bula e na embalagem de medicamentos surgiu devido ao grande número de intoxicação medicamentosa nesse público. Porém, há inúmeros projetos de lei que ainda não foram aprovados e poderiam impactar de forma positiva para diminuir esses acidentes (RAMOS, et al. 2010). Conclusões Verificou-se que o público infantil continua sendo um grupo muito suscetível às intoxicações medicamentosas devido à curiosidade presente nessa fase, assim como o descuido dos responsáveis em relação ao armazenamento dos medicamentos e a desinformação em relação a administração dos mesmos. Faz-se necessária uma revisão nas práticas de prescrição médica na faixa etária infantil, bem como de políticas de saúde relacionadas ao uso de medicamentos, combatendo a cultura da automedicação. REFERÊNCIAS

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resenha Hugo Takeda Caetano Graduado em Ciências Biológicas UNICAMP, com mestrado em Biologia Funcional e Molecular – área Bioquímica ambos pela UNICAMP, e especialista em Biotecnologia pela Faculdade Oswaldo Cruz. E-mail: h.caetano@intertox.com.br

Glutathione S-Transferase Gene Polymorphisms: Modulator of Genetic Damage in Gasoline Pump Workers Kanupriya; Anita Yadav; Neeraj Kumar; Sachin Gulati; Neeraj Aggarwal; Ranjan Gupta

Recebido em 11/08/2016 Aceito em 02/09/2016

Exposição aos vapores de gasolina é classificada pela IARC como possivelmente carcinogênica para humanos principalmente devido à presença de alguns componentes como benzeno, cuja natureza carcinogênica é bem estabelecida. Componentes orgânicos voláteis presentes no petróleo: benzeno, tolueno, xileno e hidrocarbonetos aromáticos polinucleares. Observa-se que os níveis de benzeno na respiração humana e no sangue apresentam-se elevados após reabastecimento em postos de gasolina. Glutationa-S-transferases (GST’s) são enzimas que participam de vários processos bioquímicos nas células, dentre eles vias de detoxificação. Ela detoxifica vários substratos eletrofílicos por conjunção com a glutationa reduzida. Genes que codificam essas enzimas, GSTM1, GSTT1 e GSTP1 exibem formas polimórficas que variam de indivíduo para indivíduo, resultando em enzimas alteradas (alteração de afinidade pelo substrato, etc.). Muitas pesquisas têm estudado essas variantes genéticas desses 3 genes, com relação a vários fatores, especialmente suscetibilidade ao câncer e eficácias sobre o tratamento de câncer.

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O referido artigo é sobre um estudo para examinar se os polimorfismos genéticos observados nos genes GSTM1, GSTT1 e GSTP1 estão associados ao risco de aumento do dano genético em trabalhadores de postos de gasolina. Material para análise: análise de fenol na urina para avaliar exposição ao benzeno. E análise dos micronúcleos em amostras de sangue coletadas. Técnica base utilizada: ensaio de micronúcleo com bloqueio da citocinese (CBMN). Nele, é bloqueada a citocinese (divisão celular) das células. O resultado é um acúmulo de células binucleadas a partir de células que passaram por apenas um ciclo de divisão nuclear. A análise em células binucleadas permite não somente a comparação da frequência de danos cromossômicos entre populações celulares que podem diferir em sua cinética de divisão, mas também uma medida mais precisa da frequência de células micronucleadas, considerando que seria necessário avaliar o dobro de células mononucleadas para observar o mesmo nível de danos observados em células binucleadas. O teste de micronúcleo pode ser utilizado para monitoramento de populações expostas a substâncias mutagênicas e para avaliação do potencial mutagênico/cancerígeno de agentes químicos e físicos. Estes micronúcleos podem servir então como biomarcadores para estas condições. Foi detectado um aumento significativo na frequência de CBMNs em trabalhadores de postos de gasolina (após exposição ao benzeno) em comparação à população não exposta. Um dos autores viu que fatores como idade são um dos fatores de risco para o aumento na frequência de MNs. Eles observaram frequências maiores de MNs em indivíduos que possuíam o genótipo null (deleção) para os genes GSTM1 e GSTT1 tanto no grupo exposto quanto no grupo de população saudável: técnicas de PCR e análise estatística.

REFERÊNCIAS PRIYA, K. et al. Glutathione S-Transferase Gene Polymorphisms: Modulator of Genetic Damage in Gasoline Pump Workers. International Journal Of Toxicology, [s.l.], v. 34, n. 6, p.500-504, 14 out. 2015. SAGE Publications. http://dx.doi.org/10.1177/1091581815603935. Revinter, v. 09, n. 03, p. 72-73, out. 2016.

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