Revinter - Volume 10 • Número 1 • Fevereiro de 2017 - São Paulo

Page 1


ISSN 1984-3577

São Paulo, v. 10, n. 1, Fev. 2017

 2017 Intertox


Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado. Meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte. As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda. Seções CIÊNCIAS BIOLÓGICAS II; FARMÁCIA (ANÁLISE TOXICOLÓGICA); CIÊNCIAS AGRÁRIAS I (AGRONOMIA); MEDICINA; SAÚDE COLETIVA; BIODIVERSIDADE; INTERDISCIPLINAR Idiomas de Publicação Português e Inglês Contribuições devem ser enviadas para <a.camera@intertox.com.br>. Disponível em: <http://www.revistarevinter.com.br>. Normalização e Produção Web site Henry Douglas Capa Henry Douglas Projeto Gráfico Henry Douglas

R61i Revinter: Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade – Intertox – v. 10, n. 1 (fev. 2017) - . São Paulo: Intertox, 2017. Quadrimestral ISSN 1984-3577

1.Toxicologia. 2. Risco Químico. 3. Meio Ambiente I. Intertox II. Título Rua Turiassú, 390 – cj. 95 – Perdizes – 05005-000 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3868-6970 http://www.intertox.com.br / intertox@intertox.com.br


Expediente Editor Coordenador

Eduardo Athayde

Fausto Antônio de Azevedo

Coordenador no Brasil do WWI - World Watch Institute

Mestre em Toxicologia pela USP, Diretor Executivo de Expansão Internacional. Bibliotecária Responsável

Eustáquio Memoriam)

Linhares

Borges

(In

Bacharel em Biblioteconomia e Ciência da informação pela FESPSP.

Mestre em Toxicologia (USP), exPresidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, ex-Professor Adjunto de Toxicologia da UFBA.

Comitê Científico (2011-2013)

Isarita Martins

Irene Videira Lima Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML-SP por 22 anos.

Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas (USP), Pósdoutorado em Química Analítica (UNICAMP), Farmacêutica- Bioquímica Universidade Federal de Alfenas MG.

Marcus E. M. da Matta

João S. Furtado (In Memoriam)

Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP). Engenheiro Ambiental e Turismólogo.

Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado (Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, NC, EUA).

Andrezza Catharina Camera

Moysés Chasin Farmacêutico-bioquímico pela UNESP-SP especializado em Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública. Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe especial e Diretor no Serviço Técnico de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal da SSP/São Paulo. Diretor executivo da InterTox desde 1999. Ricardo Baroud Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor Científico da PLURAIS Revista Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA Revista Baiana de Tecnologia. Comitê Editorial (2011-2013)

José Armando-Jr Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP), Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF). Sylvio de Memoriam)

Queiroz

Doutor em Engenharia Presidente do CEPED-BA.

Mattoso

(In

(USP),

ex-

Gilberto Santos Cerqueira Laboratório de Anatomia Universidade Federal do Piauí, CSHNB e Professor Adjunto do curso de Nutrição do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Piauí.

Alice A. da Matta Chasin Doutora em Toxicologia pela USP. Revinter, v. 10, n. 01, fev. 2017.

Página 3


Sumário ARTIGOS ORIGINAIS E REVISÕES DE LITERATURA Aspectos toxicológicos relacionados ao uso de cosméticos na conservação, alisamento e tingimento capilar: Uma revisão de literatura 5 Teste de micronúcleos como ferramenta para avaliação da exposição ocupacional a pesticidas: Revisão 19 Compostagem como ferramenta de educação no campo

29

Avaliação das condições higiênico-sanitárias de uma lanchonete no município de Limoeiro do Norte – CE 45 Relato de acidente botrópico que resultou em amputação

57

RESENHAS Thanatotranscriptome: genes actively expressed after organismal death

Revinter, v. 10, n. 01, Fev. 2017.

70

Página 4


Editorial Década ou decênio designam, segundo todos os melhores dicionários, um período temporal correspondente a dez anos. É muito ou é pouco? Nossa relação pessoal com o tempo é diversa e mutável. Às vezes parece muito, às vezes é um átimo... É nossa percepção que “faz” o tempo. Pois a REVINTER – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, completa, neste 2017, seus dez anos. Foi pouco tempo ainda para nos consolidarmos, tal qual é a meta, como uma das mais importantes revistas brasileiras na temática, e já foi muito tempo quando lançamos uma mirada retrospectiva sobre o avanço da revista desde que ela surgiu. Totalizamos um conjunto de dez volumes, 2017 sendo o décimo, e 25 números lançados. Para ficarmos na base dez, são muitas dezenas de bons artigos de profissionais e pesquisadores atuando no Brasil e várias dezenas de autores e instituições. E são milhares de downloads feitos dos artigos pelo endereço da revista na Internet! As estatísticas da revista, sempre divulgadas e públicas, evidenciam o dado. Mas embora o passado nos deixe comedidamente orgulhosos, nossa postura é de olhar para o futuro e fazer crescer a revista. Assim, conforme nos informa a Bibliotecária chefe da Revinter, em seu artigo Classificação CAPES 2015 [disponível em: http://www.intertox.com.br/index.php/noticias-intertox/943-qualis-2015] estamos fazendo progressos sólidos e temos uma expectativa muito positiva quanto à classificação a ser obtida para 2018. Por isso, exortamos todos os pesquisadores e autores, da iniciativa acadêmica e privada, a colaborarem conosco na consecução desse ideal que, seguramente, é de todos e se destina ao avanço de saberes no país. Adiante Revinter!

Fausto Azevedo

São Paulo, 03 de fevereiro de 2017. Revinter, v. 10, n. 01, fev. 2017.

Página 4


Aspectos toxicológicos relacionados ao uso de cosméticos na conservação, alisamento e tingimento capilar: Uma revisão de literatura

Enéias Silva Machado Graduando em Medicina – FACIME/UESPI Gleison Vitor Ferreira de Castro Silva Graduando em Medicina – FACIME/UESPI Lizandra Murielle Carvalho Moraes Graduanda em Medicina – FACIME/UESPI Marcela Bezerra Marques Graduanda em Medicina – FACIME/UESPI Rosemeire Brandim Marques Docente da Faculdade de Ciências Médicas – FACIME/UESPI. E-mail: rosebmarques@hotmail.com

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol10ed1.270

Resumo Produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são substâncias são usadas externamente em diversas partes do corpo, objetivando limpá-las, perfumá-las, alterar sua aparência ou corrigir odores corporais e ou protegê-las ou mantê-las em bom estado. O objetivo deste trabalho foi descrever os aspectos toxicológicos relacionados ao uso de cosméticos no alisamento, conservação e tingimento capilar, buscando descrever o mecanismo de ação e os efeitos adversos dos principais componentes de formulações cosméticas. Tratou-se de pesquisa descritiva, através de levantamento bibliográfico, sendo os critérios de inclusão artigos científicos acessados nas bases de dados SciELO, LILACS e MEDLINE, publicados nos últimos quatro anos. Foram pesquisados 01 dissertação de doutorado, 01 monografia, 02 dissertações de mestrado, 01 resolução da ANVISA (2014) e 19 artigos de revisão de literatura. O levantamento bibliográfico demonstrou que dentre os alisantes capilares, o formaldeído é usado nas concentrações de 0,4 a 29,7% e pode provocar desde uma irritação até câncer nas vias aéreas superiores e morte. Os parabenos são os preservantes mais utilizados em cosméticos, podendo interferir na atividade Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 5|


estrogênica e no trato reprodutivo masculino, também associados ao aumento da incidência de câncer de mama e aumento de adenocarcinomas. Dentre os corantes, as tinturas permanentes, tais como aminofenóis e p-fenilamina, têm levantado preocupações para a saúde humana devido a riscos associados a alergias, dermatites e nefrotoxidade. Com base nos dados levantados, conclui-se que os cosméticos relacionados ao alisamento, tingimento capilar e os conservantes podem provocar sérios danos à saúde dos indivíduos expostos, quando utilizados inadequadamente. Palavras-chave: Cosméticos. Conservante. Toxicidade.

Toxicological aspects related to the use of cosmetics in conservation, straightening and hair dyeing: A literature review Abstract Toiletries, cosmetics and perfumes are substances used externally in various parts of the body, aiming to cleaning them, perfuming them, changing their appearance or correct body odors and or protecting them or keeping them in good condition. The aim of this study was to describe the toxicological aspects related to the use of cosmetics in smoothing, conservation and hair dyeing, trying to describe the mechanism of action and adverse effects of the major components of cosmetic formulations. This was a descriptive study, through literature, and the scientific criteria for inclusion articles accessed in SciELO databases, LILACS and MEDLINE, published in the last four years. They surveyed 01 doctoral dissertation, 01 monograph, 02 dissertations, 01 ANVISA resolution (2014) and 19 articles of literature review. The literature has shown that among the hair straighteners, formaldehyde is used in concentrations from 0.4 to 29.7% and can result from irritation to cancer of the upper airways and death. Parabens are preservatives used in most cosmetics, may interfere with estrogenic activity and the male reproductive tract, also associated with increased incidence of breast cancer and increase in adenocarcinomas. Among the dyes, permanent dyes such as aminophenols and p-phenylamine, have raised concerns for human health due to risks associated with allergies, dermatitis and nephrotoxicity. Based on the data collected, it is concluded that cosmetic related to straightening, hair dyeing and preservatives can cause serious damage to the health of exposed individuals when used improperly. Keywords: Cosmetics. Preservatives. Toxicity.

Recebido em 07/09/2016 Aceito em 19/09/2016

1 Introdução

Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 6|


A preocupação com a beleza, no Brasil, perpassa por uma tentativa de parecer moderno e civilizado à moda europeia, sendo refletida nas novas tecnologias, na civilização dos corpos e dominação das forças da natureza através de produtos da emergente indústria de cosméticos e de cirurgias plásticas (SANT’ANNA, 2016). No entanto, esse embelezamento traz riscos e no caso dos produtos cosméticos podem surgir reações adversas aos usuários (irritação, sensibilização, efeitos sistêmicos), dependendo de fatores individuais ou uso inadequado do produto (CHIARI et al., 2012). O Brasil é um dos países que mais consomem produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, sendo que no ano de 2014 ficou em segundo lugar no consumo de produtos para cabelos, por exemplo. O setor tem grande impacto na economia nacional, apresentando entre 1997 e 2014 um crescimento médio maior que o da indústria geral (ABIHPEC, 2015), apesar da queda no consumo de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos em 2015 (ABIHPEC, 2016). Atualmente, os cosméticos vêm ganhando atenção no que compreende seus possíveis efeitos tóxicos e isto cria a necessidade de regulamentação e avaliação toxicológica dos produtos, incluindo os produtos para cabelos, cuja regulamentação no Brasil é feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (OLIVEIRA et al., 2014). Segundo a ANVISA, os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são substâncias são usadas externamente em diversas partes do corpo, objetivando limpá-las, perfumá-las, alterar sua aparência ou corrigir odores corporais e ou protegêlas ou mantê-las em bom estado (ANVISA, RDC nº 4 de 2014). Sendo o cabelo um instrumento importante na composição da imagem individual, com forte e fundamental efeito psicológico, sua mudança representaria para muitas pessoas

uma

garantia

de

melhoria

da

aparência

(CARDONA,

2015)

e

consequentemente de não exclusão do mercado de trabalho e, também, das relações amorosas (SANT’ANNA, 2016). Os produtos para cabelo são divididos, segundo classificação da ANVISA que considera ou não a necessidade de especificações quanto ao uso e restrições, em 2 tipos: os de grau 1, que não requerem informações detalhadas por suas características intrínsecas, a exemplo de condicionadores e xampus sem efeito anticaspa/antiqueda; e os de grau 2, que são aqueles para os quais são exigidas comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações e cuidados, modo Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 7|


e restrições de uso - exemplos: produtos anticaspa/antiqueda, alisantes e tinturas para cabelos (ANVISA, RDC nº 4 de 2014). O objetivo deste trabalho foi descrever os aspectos toxicológicos relacionados ao uso de cosméticos no alisamento, conservação e tingimento capilar, buscando descrever o mecanismo de ação e os efeitos adversos dos principais componentes de formulações cosméticas.

2 Metodologia Tratou-se de um estudo do tipo revisão narrativa de literatura, o qual consiste na apresentação de novas informações ao proporcionar conhecimentos atuais sobre o tema explorado ou enfatizar lacunas no corpo de pesquisas, e assim instigar pesquisadores a melhorar a base de dados científicos (OLIVEIRA et al, 2013). Além disso, os artigos de revisão narrativa são publicações amplas apropriadas para descrever e discutir o desenvolvimento de um determinado assunto, sob ponto de vista teórico ou conceitual. São textos que constituem a análise da literatura científica na interpretação e análise crítica do autor. As revisões narrativas podem contribuir no debate de determinadas temáticas, levantando questões e colaborando na aquisição e atualização do conhecimento em curto espaço de tempo (COSTA et al, 2015). O trabalho elaborado consistiu em uma pesquisa descritiva, através de levantamento bibliográfico. Os critérios de inclusão foram artigos científicos acessados nas bases de dados Scielo, LILACS e MEDLINE, publicados nos últimos quatro anos. Foram utilizados os seguintes descritores: cosméticos, conservantes, toxicidade. Foram identificados 22 artigos, durante os dias 24 de junho e dia 25 de julho de 2016. Após adquirir todas as cópias e leitura dos artigos, foi utilizado como critério de exclusão os estudos publicados antes de 2012 e estudos que não abordassem o tema. No total, foram utilizados: 1 dissertação de doutorado, 1 monografia, 2 dissertações de mestrado, 1 resolução da ANVISA de 2014, e 19 artigos de revisão de literatura.

3 Resultados e discussão 3.1 Alisantes capilares

O alisamento químico consiste em fazer as mesmas alterações nas estruturas proteicas do córtex, porém, quebrando as interações intermoleculares por oxirredução Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 8|


e reorganizando-as. Inicialmente reduz-se a queratina em meio básico (hidróxido de sódio, hidróxido de lítio, amônia, tioglicolato de amônio ou guanidina) com um agente redutor (grupo mercaptano ou sulfeto), rompendo as ligações dissulfídicas. Após isso, realiza-se a neutralização para cessar a redução da queratina, empregando-se uma solução ácida (ácido tioglicólico) e um agente oxidante (peróxido de hidrogênio), restabelecendo novas interações dissulfídicas organizadas em folha-β. Então, faz-se a impermeabilização do cabelo (formol, glutaraldeído) para evitar que ocorra a conversão da estrutura β em α. Este processo é mais efetivo e portanto tem maior durabilidade (OLIVEIRA et al, 2013). Os alisantes a base de tióis são os mais utilizados no Brasil e contêm em sua formulação o tioglicolato de amônio (associação do ácido tioglicólico com o hidróxido de amônio) ou o tioglicolato de etanolamina. São bem menos potentes que o hidróxido de sódio por causar menor degradação nas ligações dissulfídicas, e também mais suave que o hidróxido de guanidina (FERREIRA, 2015). O tioglicolato de amônio tem mecanismo de ação que acontece em duas etapas. Na primeira, as pontes de enxofre (S-S), quebram-se através do contato com a cistina do tioglicolato, sofrendo uma óxido-redução (-S-), neste momento o cabelo está mole, sem estrutura e deve ser tracionado para adquirir a conformação lisa. Na segunda etapa, é aplicado um neutralizante (agente oxidante) à base de peróxido de hidrogênio ou brometo de potássio. Este alisante proporciona um alisamento mais suave, menos agressivo do que os alisantesà base de álcalis, pois quando as pontes se reorganizam o cabelo não perde cistina. Os ativos citados acima são permitidos pela legislação brasileira (ROGRIGUES; STEFANELLO; FRANÇA, 2014). Os alisantes à base de hidróxidos contêm em sua formulação um ativo ou uma combinação destes, como o hidróxido de sódio, hidróxido de cálcio, hidróxido de potássio, hidróxido de lítio, hidróxido de magnésio, carbonato de guanidina, entre outros. O cabelo alisado com hidróxido de sódio sofre uma grande perda de proteínas, e, quando usado em cabelos já submetidos a processos de tingimento essa perda e significativamente maior, pois tende a danificar mais ainda a parte interna do fio de cabelo (FERREIRA, 2015). O formaldeído é produzido comercialmente desde meados da década de 90 e atualmente é muito utilizado como germicida desinfetante e antisséptico. É um composto líquido incolor, com odor forte e irritante, solúvel em água e altamente Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 9|


reativo. É bem absorvido pelos trato respiratório e gastrointestinal, porém, pouco absorvido pela via dérmica (MACAGNAN; SARTORI; CASTRO, 2014). A carbocisteína por si só não alisa os cabelos e, por isso, esse tipo de ativo também não possui registro na ANVISA como alisante. Para que ela tenha esse tipo de ação, é necessário um processo de oxidação das ligações de cistina num pH baixo, no qual é utilizado o ácido glioxílico, que quando submetido a altas temperaturas libera formol. É um aminoácido dibásico que reduz o volume dos cabelos por até 90%, hidrata e também dá brilho aos cabelos, sela a cutícula dos fios, ajuda na reconstrução da fibra capilar, reduz o volume, se utilizada de forma gradual, dá o efeito de alisamento (FERREIRA, 2015). Os hidróxidos e os tióis são permitidos pela ANVISA como ativos alisantes. Entretanto, os que oferecem menor risco de reações adversas são o hidróxido de guanidina e o tioglicolato de amônio. Segundo a ANVISA, produtos para procedimentos de alisamento capilar tais como “realinhamento capilar, defrizante, botox capilar, reestruturação capilar, blindagem capilar, escova progressiva” e outros cujo modo de uso esteja associado ao uso de chapinha estão todos irregulares no mercado (FERREIRA; BRAGA, 2015). Conforme Resolução nº 335 de 22 de julho de 1999 da ANVISA, os produtos de higiene pessoal e perfumes, bem como cosméticos, são divididos em duas categorias de acordo com o grau de risco que representam à saúde humana: GRAU DE RISCO 1 (produtos com risco mínimo para a segurança humana) e GRAU DE RISCO 2 (produtos com risco potencial para a segurança humana). Para avaliar os produtos de grau de risco 2, a Resolução 215/05 da ANVISA apresenta uma lista restritiva de substâncias que, quando utilizadas, devem seguir um protocolo específico para não acarretarem danos prejudiciais à saúde humana (MACAGNAN; SARTORI; CASTRO, 2014). Embora a procura por alisantes capilares seja ascendente, estes quando utilizados de forma inadequada, podem acarretar sérios danos à saúde do consumidor, queimaduras graves na córnea e no couro cabeludo, principalmente quando se usam produtos com concentrações de agentes químicos acima do limite máximo permitido, com percentual de formaldeído indevido e contaminação microbiana elevada. Dentre as substâncias encontradas, tem-se como exemplo: o tioglicolato de amônio, hidróxido de sódio e o formaldeído (SOUZA et al, 2012). Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 10 |


O tiogliconato de amônio é considerado seguro, mas já possuem relatos de dermatite alérgica de contato e irritações na pele em alguns estudos; o hidróxido de sódio que pode danificar os cabelos, produzir queimaduras no couro cabeludo e até mesmo cegueira caso atinja os olhos. É um produto restrito ao uso por profissional, produzindo um alisamento químico permanente e de eficiência máxima; e o formaldeído, que vem sendo utilizado em alisantes capilares em concentrações de 0,4 a 29,7%. Os danos mais comuns são: irritação, coceira, queimadura, inchaço, descamação e vermelhidão do couro cabeludo, queda do cabelo, ardência e lacrimejamento dos olhos, falta de ar, tosse, dor de cabeça, ardência e coceira no nariz, devido ao contato direto com a pele ou com vapor. Várias exposições podem causar também boca amarga, dores de barriga, enjoos, vômitos, desmaios, feridas na boca, narina e olhos, e câncer nas vias aéreas superiores (nariz, faringe, laringe, traqueia e brônquios), podendo até levar a morte (SOUZA, 2012). Portanto, todos os produtos alisantes, inclusive os importados, devem ser obrigatoriamente registrados pela ANVISA, pois podem conter substâncias proibidas por causarem reações adversas muito graves tanto ao usuário como para o profissional que irá aplicar o produto (MACAGNAN; SARTORI; CASTRO, 2014).

3.2 Preservantes/conservantes em cosméticos Conservantes são substâncias químicas também conhecidas como preservantes (tradução adaptada do inglês), cuja função é inibir o crescimento de microrganismos no produto, conservando-o livre de deteriorações causadas por bactérias, fungos e leveduras. Podem oferecer riscos à saúde do consumidor; estão presentes nos produtos de uso tópico, como medicamentos, produtos para higiene e cosméticos. O uso de preservantes de caráter tópico, principalmente os cosméticos, vem recebendo grande atenção, visto que são agentes potencialmente alergênicos e irritantes e, à medida que seu uso cresce, a chance de sensibilização do indivíduo aumenta (LANNA; VIANA, 2013). 3.2.1 Parabenos Um dos preservantes mais utilizados em cosméticos e produtos para higiene pessoal são os parabenos, presentes em mais de 87% dos cremes cosméticos e possuem alta toxicidade. São ésteres do ácido p-hidroxibenzoico que apresentam características como amplo espectro de atividade, boa solubilidade em água e são incolores, inodoros Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 11 |


e insípidos. Propõe-se que os parabenos apresentam ação sobre a síntese de DNA e RNA, sobre enzimas-chave como ATPases e fosfotransferases ou, ainda, sobre os mecanismos de transporte pelas membranas (FERNANDES et al, 2013). Os parabenos incluem o metilparabeno, etilparabeno, propilparabeno, butilparabeno, isopropilparabeno,

isobutilparabeno

e

benzilparabeno.

São

parcialmente

metabolizados a ácido parahidroxibenzóico, cuja estrutura química é similar à do ácido acetilsalicílico. Embora as reações anafiláticas aos parabenos sejam incomuns, eles podem desencadear urticária e angioedema em indivíduos com intolerância aos salicilatos (PUPO, 2012). Existem conflitos quanto ao uso dos parabenos apresentados em dois estudos científicos: um deles, de 1998 que demonstra a atividade estrogênica dos parabenos e outro de 2004 que descreve a presença de parabenos em tecido canceroso do seio humano (TAHAN, G. P., 2015). Outros estudos corroboram mostrando que os parabenos interferem na atividade estrogênica e no trato reprodutivo masculino; estão associados ao aumento da incidência de câncer de mama e aumento de adenocarcinomas (LANNA; VIANA, 2013). Apesar dos estudos serem controversos em relação à toxicidade dos parabenos e de sua concentração nas formulações ser baixa, é de suma importância considerar o risco dessa exposição, uma vez que a população consome vários produtos, entre eles o batom. Este é um cosmético amplamente utilizados pelas mulheres e seus componentes podem ser absorvidos pela mucosa oral e pelo trato gastrointestinal. Segundo experimento feito, concluiu-se que há absorção de parabenos por meio dos batons demonstrados por concentrações maiores de parabenos no soro de mulheres que utilizaram em relação ao não uso do cosmético labial (TAHAN, G. P., 2015).

3.2.2 Isotiazolinonas São uma associação de cloro-metil isotiazolinona e metil isotiazolinona. É eficaz contra bactérias, fungos e leveduras, miscível em água, propilenoglicol e álcool. A sua concentração máxima é de 15 ppm (MORSELLI, L. N. S. 2014).

3.2.3 Formaldeído O formaldeído é normalmente utilizado em solução aquosa a cerca de 37% em massa contendo metanol como preservativo contra a polimerização, sendo também Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 12 |


conhecido como formalina. Em concentrações acima do limite é classificado como carcinogênico humano e têm sido relacionado com câncer dos pulmões e nasal e com possível câncer no cérebro e leucemia. O formaldeído exógeno é absorvido no trato respiratório e gastrointestinal, no entanto, é pouco absorvido pela via dérmica. A enzima formaldeído-desidrogenase metaboliza o formaldeído a formiato, que pode ser excretado pela urina como ácido fórmico ou oxidado a dióxido de carbono exalado que culmina na não acumulação (FERREIRA; BRAGA, 2015). Estudos realizados em humanos, a irritação aguda da mucosa do trato respiratório tem sido registrado, assim como a sensibilidade alérgica na pele. A carcinogênese, entretanto, só foi confirmada em animais (FERREIRA; BRAGA, 2015).

3.3 Corantes para cabelos Existem diversas evidências históricas sobre a arte do tingimento de cabelo com corantes naturais, vegetais e minerais, desde os primórdios da civilização. Evidências bibliográficas indicam ainda o uso de extratos de plantas, principalmente nogueira (cor marrom), camomila (amarelo), hena com índigo (preto escuro) como cosmético (OLIVEIRA, 2014). O uso de tinturas de cabelo é muito comum em todo o mundo, tanto para mulheres como para homens. Existem muitas técnicas de uso e produtos diferentes para as tinturas de cabelo, entre elas as temporárias; as semipermanentes; e as permanentes (CARDONA, 2015). As tinturas temporárias são corantes têxteis que utiliza um sistema com corantes de moléculas grandes em sua composição. Como consequência não consegue chegar até o córtex, significa uma mudança temporária nos cabelos, apresentando duas possibilidades na questão de durabilidade da cor. A primeira onde uma simples aplicação de xampu poderá removê-la e a segunda onde fazem necessárias duas ou mais lavagens. Estes produtos são geralmente seguros e poucas vezes causam irritação ou dermatite. (MACAGNAN; SARTORI; CASTRO, 2014). A tintura de cabelo temporária contém corantes básicos ou ácidos de alta massa molecular. Os corantes ácidos são corantes aniônicos solúveis em água e usados preferencialmente na tintura de seda, lã, nylon e couro. No entanto, alguns deles são usados na tintura de cabelo, principalmente por serem considerados não nocivos ao uso humano. Os corantes básicos são corantes que usualmente contêm grupos cromóforos carregados positivamente e são preferencialmente aplicados na tintura de Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 13 |


lã, seda, algodão e papel. Embora esses corantes sejam prioritariamente sintetizados para uso na indústria têxtil e alimentícia, algumas das suas propriedades químicas e baixa toxicidade para seres humanos os fazem potenciais candidatos ao uso em cosméticos, incluindo tintura de cabelo (OLIVEIRA, 2014). Nas tinturas semipermanentes são de origem vegetal, por exemplo, a hena, as moléculas possuem tamanho intermediário. Uma particularidade deste sistema é que para cada cor há dois corantes a serem utilizado com peso molecular diferente (alto e baixo). Estes corantes chegam até a periferia do corte, mas não são removidos com uma simples lavagem. São removidos gradualmente através de cinco a seis lavagens. (MACAGNAN; SARTORI; CASTRO, 2014). As tinturas semipermanentes na grande maioria são corantes derivados de nitro compostos,

principalmente

de

nitrobenzeno,

contendo

diferentes

grupos

auxocrômicos que acentuam a cor do grupo nitro presente como cromóforo. Estes produtos são caracterizados principalmente por nitroanilinas, nitrofenilenodiaminas e nitroaminofenóis (OLIVEIRA, 2014). No sistema permanente ou oxidativo, se encontram as tinturas que podem clarear ou escurecer os cabelos, dando diferentes tonalidades e se mantendo até que os cabelos cresçam. A oxidação se baseia, principalmente, em intermediários primários, os quais formam a cor na oxidação, e que, geralmente, são: agentes orto, para-aminofenois e fenilendiaminas; acopladores, que reagem com os produtos da oxidação primária para formar tinturas. Estes podem ser fenóis, metaaminofenóis e diaminobenzenos; e os oxidantes que, geralmente é o peróxido de hidrogênio, o qual permite tanto a formação da cor como a destruição da mesma. Essas tinturas representam, aproximadamente, 70% dos produtos de colaração capilar utilizado, apesar de serem os mais prejudiciais para os fios, quando comparados com os demais tipos de tintura (MACAGNAN; SARTORI; CASTRO, 2014). As tinturas contendo corantes permanentes são as mais utilizadas mundialmente devido à sua versatilidade, facilidade de aplicação e durabilidade da cor. Estes corantes possuem alto valor econômico agregado, pois são responsáveis por 80% do mercado mundial. Requer basicamente 3 componentes: o agente precursor, que consiste de aminas aromáticas orto e para-substituídas com grupos amino e/ou hidróxidos, tais como p-fenilenodiamina e p-aminofenol e seus derivados denominados intermediários primários; o agente acoplador que é formado por compostos aromáticos m-substituídos com grupos doadores de elétrons, tais como mRevinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 14 |


fenilenodiaminas, resorcinol, naftol e outros derivados; e o terceiro componente é o oxidante em meio alcalino, preponderantemente peróxido de hidrogênio na presença de amônia (OLIVEIRA, 2014). O uso das tinturas de cabelo promove a exposição tanto aos profissionais que aplicam os produtos, como aos clientes que recebem essas aplicações. Muitos estudos que avaliam os efeitos tóxicos destes compostos químicos em populações expostas relatam efeitos genotóxicos e mutagênicos para diversas substâncias, passíveis de serem mensuradas em testes realizados com amostras de tecidos, sangue periférico e urina (CARDONA, 2015). Estudos indicam que precursores usados em tinturas permanentes, tais como aminofenóis e p-fenilamina, têm levantado preocupações para a saúde humana devido a riscos associados a alergias, dermatites e nefrotoxidade. A exposição aguda à p-fenilenodiamina (PFD) pode causar graves tipos de dermatites, irritação nos olhos e asmas principalmente em profissionais que aplicam as tinturas e, em casos de ingestão acidental, pode levar a quadros graves de intoxicação, induzindo a gastrite, a insuficiência renal, a vertigem, os tremores, as convulsões e o coma em seres humanos. É importante salientar que a incidência de alergias induzidas pela utilização de tinturas, principalmente devido à presença de PPD, tem sido gradativamente reduzida devido à utilização de luvas durante o processo de tingimento e às advertências nos rótulos dos produtos sobre a necessidade de realização do teste de sensibilidade antes da aplicação. Alguns autores associaram o uso da PPD à incidência de câncer devido à presença dos componentes ou seus derivados na urina de usuários, indicando que os compostos cancerígenos, de fato, alcançam o órgão alvo quando relacionado ao uso regular de corantes de cabelo (OLIVEIRA, 2014). A maioria dos estudos com foco nos riscos ao ambiente e à saúde humana por estes corantes, precursores e outros aditivos são baseados nos corantes permanentes e estudos com p-fenilanina e aminofenóis. Esta preocupação é justificada, pois sabe-se que algumas aminas aromáticas usadas na preparação, ou formadas por degradação parcial dos corantes usados, são substâncias biologicamente ativas e podem ser absorvidas percutaneamente, o que poderia produzir efeitos mutagênicos ou carcinogênicos. No entanto, a toxidade de corantes de cabelo e alguns ingredientes usados na composição é pouco investigada e os dados ainda são conflitantes, principalmente em relação ao real risco aos consumidores. Não há evidências que a Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 15 |


exposição ocupacional ou ocasional à tinturas de cabelo cause algum efeito tóxico na reprodução humana (OLIVEIRA, 2014).

4 Conclusão

Com base nos dados levantados, conclui-se que os cosméticos relacionados ao alisamento, tingimento capilar e os cosméticos com conservantes podem provocar sérios danos à saúde dos indivíduos expostos, quando utilizados inadequadamente. As principais manifestações toxicológicas dos produtos para alisamento são as queimaduras, as irritações e as coceiras, principalmente em concentrações acima do limite máximo permitido. Já os cosméticos com conservantes são agentes potencialmente alergênicos e irritantes e, à medida que seu uso cresce, a chance de sensibilização do indivíduo aumenta. Os corantes para cabelo, por sua vez, estão relacionados a efeitos genotóxicos e mutagênicos, além de riscos associados a alergias, dermatites e nefrotoxidade para os usuários e para os profissionais que aplicam as tinturas.

REFERÊNCIAS

ABIHPEC 2015. Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Setor brasileiro de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos sofre queda real de 8% em 2015. Disponível em: https://www.abihpec.org.br/2016/04/setor-brasileiro-de-higiene-pessoal-perfumaria-ecosmeticos-sofre-queda-real-de-8-em-2015/ Acesso em 25 de julho de 2016. ABIHPEC 2015. Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Panorama do setor de HPPC. Disponível em: https://www.abihpec.org.br/novo/wp-content/uploads/2015-PANORAMA-DO-SETORPORTUGU%C3%8AS-31mar20151.pdf Acesso em 25 de julho de 2016. ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BR). Resolução RDC 4 de janeiro de 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2014/rdc0004_30_01_2014.pdf. Acesso em 25 de julho de 2016. ARAUJO, A. C. F.; BORIN, M.F.; Influência de excipientes farmacêuticos em reações adversas a medicamentos. Brasília Médica. Brasília, v.49, n.4, p . 267278, 2012. Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 16 |


CHIARI, B. G.; MAGNAMI, C.; SALGADO, H. R. N.; CORRÊA, M. A.; ISAAC, V. L. B. Estudo da segurança de cosméticos: presente e futuro. Rev Ciênc Farm Básica Apl., 2012;33(3):323-330 ISSN 1808-4532. CORDONA Y. T. ATIVIDADE TOXICOGENÉTICA DE CORANTES USADOS NA FORMULAÇÃO DA TINTURA CAPILAR PRETA, INDIVIDUAIS E EM ASSOCIAÇÃO, POR MEIO DE DIFERENTES ENSAIOS BIOLÓGICOS. 2015. 125 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro, 2015. COSTA, P. H. A., et al. Desatando a trama das redes assistenciais sobre drogas: uma revisão narrativa da literatura. Revista Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro,vol. 20,n. 2, p395-406, fev de 2015. FERNANDES, J. P. S et al. Estudo das relações entre estrutura e atividade de parabenos: uma aula prática. Quim. Nova, v. 36, n. 6, p. 890-893, 2013. FERREIRA T. V. AVALIAÇÃO SEMI-QUANTITATIVA DA CONCENTRAÇÃO DE FORMALDEÍDO EM FORMULAÇÕES COSMÉTICAS DE ALISAMENTO PROGRESSIVO E SELANTES CAPILARES. 2015. 40 f. Monografia de conclusão de curso (Farmácia) - Universidade de Brasília, Faculdade de Ceilândia, 2015. FERREIRA, L. A.; BRAGA, D. C. Substâncias ativas do alisamento capilar e seus mecanismos de ação acumulação. Eletronic Journal of Pharmacy, vol. XIII, n. 2, p. 56-63, 2016. LANNA, P. P., VIANA, E. S. M. Toxicidade dos preservantes. Anais V SIMPAC Volume 5 - n. 1 - Viçosa-MG, p. 581-584, jan. - dez. 2013. MACAGNAN K. K.; SARTORI M. R. K.; CASTRO F. G. SIGNS AND SYMPTOMS OF FORMALDEHYDE TOXICITY IN USERS OF HAIR STRAIGHTENERS PRODUCTS. Cadernos da Escola de Saúde. Curitiba, v. 1, n.4, pág. 46-63, 2014. MORSELLI, L. N. S. Estudos de pré-formulação e desenvolvimento de cosméticos - Dimora Del Sole. 2014. 86 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Farmácia-Bioquímica) – Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista, Araraquara-SP, 2014. OLIVEIRA, A. R. S., et al. VALIDAÇÃO CLÍNICA DOS DIAGNÓSTICOS,INTERVENÇÕES E RESULTADOS DE ENFERMAGEM: REVISÃO NARRATIVA DA LITERATURA. Revista enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, vol. 21, n. 2, p. 113-120, jan-mar de 2013. OLIVEIRA, R. A. G.; ZANONI, T. B.; BESSEGATO, G. G.; OLIVEIRA, D. P.; UMBUZEIRO, G. A.; ZANONI, M. V. A química e toxicidade dos corantes de cabelo. Quim. Nova, Vol. 37, No. 6, 1037-1046, 2014. PUPO, M.G. Toxicologia dos parabenos. Revista de Cosmetologia e Ingredientes, São Paulo, ed. 45, 2012. Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 17 |


RODRIGUES G. B.; STEFANELLO M. S. B.; FRANÇA A. J. D. B. D. V. Análises das diferenças de composição e modo de aplicação de produtos capilares henê e hena. 2014. Disponível em: http://siaibib01.univali.br/pdf/Giuvane%20Bezerra%20Rodrigues%20e%20Maria%20 Sania%20Barbara%20Stefanello.pdf. Acesso em: 24 de julho de 2016. SANT’ANNA, D. B. « O imperativo da beleza no Brasil », Confins [En ligne] URL : http://confins.revues.org/10741 ; Acesso em: 25 de julho de 2016; DOI : 10.4000/confins.10741. SENA, L. C. S.; SANTOS, J. L. A.; ANDRADE, P. H. S.; BRITO, G. C.; LIRA, A. A. M.; LOBO, I. M. F. Excipientes farmacêuticos e seus riscos à saúde: uma revisão da literatura. Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde. São Paulo, v.5, n.4, p. 25-34. Out-dez, 2014. SOUZA A. M. F. AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DE ALISANTES CAPILARES E MONITORAMENTO DA LIMPEZA COMO ESTRATÉGIA DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA COSMÉTICA. 2012. 93 f. Dissertação de mestrado (Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2012. SOUZA A. M. F. et al. Avaliação da qualidade de alisantes capilares: determinação da segurança quanto à análise de ingredientes ativos e contaminantes microbiológicos. Rev. Bras. Farm. v. 93, n. 3, p. 331-336, 2012. TAHAN, G. P. Correlação entre o uso de batom e a concentração de parabenos em mulheres expostas ao cosmético. 2015. 65 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) - Universidade Federal de Alfenas, Alfenas - MG, 2015.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 05-18, fev. 2017.

P á g i n a 18 |


Teste de micronúcleos como ferramenta para avaliação da exposição ocupacional a pesticidas: revisão

Erica Ballestreri Graduada em Biomedicina pela Universidade Feevale (2012) com habilitação em Patologia Clínica, Mestre (bolsista CAPES) em Biologia Celular e Molecular (2015) e atualmente é Doutoranda na mesma área. E-mail: ericaballestreri@yahoo.com.br

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol10ed1.260

Resumo Apesar dos efeitos benéficos relacionados ao uso de pesticidas como no controle de pragas e vetores importantes na saúde pública, muitos desses produtos podem apresentar perigos potenciais para o meio ambiente e a saúde humana. Os pesticidas são considerados compostos genotóxicos ca¬pazes de induzir dano direto e indireto no DNA. Para avaliar o dano genético, estudos de biomonitoramento têm sido cada vez mais aplicados, pois além de identificar o risco potencial de surgimento de doenças em populações expostas, também auxilia na identificação de fatores de risco e medidas adequadas para serem implementadas no controle dessas agressões a saúde humana. O teste do micronúcleo oferece vantagens em relação aos demais testes de biomonitoramento incluindo baixo custo, procedimento técnico mais fácil, rapidez de análise para triagem de grande número de substâncias, além de diversos tipos celulares como linfócitos de sangue periférico, células epiteliais da mucosa oral, mucosa vaginal, entre outros poderem ser utilizados para a realização do teste. É considerado padrão ouro para avaliação citogenética de lesões que ocorrem no DNA, pois serve como indicador de mutagenicidade e como instrumento de monitoração, considerando que a frequência de MN retorna aos níveis basais quando o organismo permanece durante certo período sem contato com esses agentes indutores. Sendo assim, o objetivo dessa revisão é demonstrar a importância do teste de micronúcleos como ferramenta para avaliação da exposição ocupacional aos pesticidas. Palavras-chave: Biomonitorização. Genotoxicidade. Pesticidas. Micronúcleos.

Micronucleus assay as a tool for evaluation of occupational exposure to pesticides: a review Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 19 |


Abstract Despite the beneficial effects related to the use of pesticides as in the control of important pests and vectors in public health, many of these products may present potential hazards to the environment and human health. Pesticides are considered genotoxic compounds capable of inducing direct and indirect DNA damage. To evaluate the genetic damage, biomonitoring studies have been increasingly applied because beyond to identify the potential risk of emergence of disease in exposed populations, also helps to identify risk factors and appropriate measures to be implemented in the control of these aggression on human health. The micronucleus (MN) assay offers advantages in relation to other biomonitoring tests including low cost, easier technical procedure, analysis speed for screening large number of substances, and various cell types such as peripheral blood lymphocytes, epithelial cells of the oral mucosa, vaginal mucosa, among others may be used for this assay. It is considered the gold standard for cytogenetic evaluation of lesions occurring in DNA, it serves as mutagenicity index and as a monitoring tool, whereas the MN frequency returns to baseline levels when the organism remains for some time without contact with these inducing agents. Thus, the objective of this review is to demonstrate the importance of the MN assay as a tool for evaluation of occupational exposure to pesticides. Keywords: Biomonitoring. Genotoxicity. Pesticides. Micronucleus.

Recebido em 30/05/2016 Aceito em 22/11/2016

1 Introdução Com o aumento da industrialização, os trabalhadores estão frequentemente expostos a agentes químicos, físicos e biológicos, que podem ter um efeito mutagênico e carcinogênico dependendo do grau, tempo e substância o qual estão expostos (CORREA et al., 2009). Há uma forte relação entre a exposição a agentes genotóxicos e o desenvolvimento de diversos efeitos nocivos à saúde, principalmente com a incidência de cânceres e Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 20 |


problemas reprodutivos (FLORES; YAMAGUCHI, 2008). Atualmente, um grande número desses agentes, responsáveis por alterações no material genético, têm sido identificados e descritos na literatura. Entre eles estão ondas eletromagnéticas, fármacos, substâncias que afetam o sistema nervoso central, antibióticos, conservantes alimentares, alguns vírus e protozoários e em grande escala os pesticidas. Essa exposição pode aumentar a ocorrência de mutações no material genético, nesse sentido, as exposições ocupacionais podem atuar como agentes silenciosos na indução de danos no DNA (KOHATSU et al., 2007; DUSMAN et al., 2012). Apesar dos efeitos benéficos relacionados ao uso de pesticidas como no controle de pragas e vetores importantes na saúde pública, muitos desses produtos podem apresentar perigos potenciais para o meio ambiente e a saúde humana, porém nem sempre as consequências são imediatas, podendo demorar anos para se manifestar. Diante disso, estudos de monitoramento se tornam importantes para avaliar as enfermidades agudas e crônicas ocasionadas pela exposição aos pesticidas (LOBO; BOLAÑOS, 2014). A monitorização biológica apresenta vantagens quando comparada à monitorização ambiental, já que considera todas as vias de entrada possíveis no organismo, permite ainda identificar e até certo ponto quantificar, o risco de exposição a fatores ambientais e tem sido por isto, uma ferra¬menta de grande interesse na avaliação da exposição à carcinogêneos (COSTA; TEIXEIRA, 2012). O estudo de biomarcadores de exposição inclui a detecção direta, ao microscópio, de danos no DNA. Diversos testes citogenéticos podem ser aplicados para esse fim, como trocas entre cromátides irmãs, teste do cometa, teste do micronúcleo (MN) e o teste de aberrações cromossômicas (KOHATSU et al., 2007). O teste do MN oferece vantagens em relação aos demais testes de biomonitoramento incluindo baixo custo, procedimento técnico mais fácil, rapidez de análise para triagem de grande número de substâncias e, além disso, é possível avaliar as diferentes fases da farmacocinética das drogas e avaliar danos cromossômicos possuindo reprodutibilidade satisfatória, já que foi adaptado por vários autores ao estudo de diferentes espécies (FLORES; YAMAGUCHI, 2008). Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 21 |


Sendo assim, o objetivo dessa revisão é demonstrar a importância do teste de micronúcleos como ferramenta para avaliação da exposição ocupacional aos pesticidas.

2 Pesticidas Os pesticidas são classificados como um grupo heterogêneo de produtos químicos amplamente utilizados pelo homem, tanto para proteger a produção agrícola de organismos nocivos e garantir a qualidade das colheitas como para controlar vetores e pragas importantes na saúde pública (LOBO; BOLAÑOS, 2014). Em todo o mundo eles têm sido utilizados extensivamente desde 1940 na proteção de plantações e em ações sanitárias que visam eliminar vetores que transmitem malária, febre tifoide, ectoparasitas humanos, etc. Seu uso aumenta a cada ano e o Brasil é um dos maiores consumidores destes produtos (RAMOS, 2009; SILVA, 2013). A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) define os pesticidas como substâncias ou misturas destinadas a prevenir, destruir, ou controlar qualquer praga, incluindo insetos, roedores e ervas daninhas. Eles abrangem os inseticidas, herbicidas, fungicidas, desinfectantes e reguladores de crescimento (SILVA, 2013; LOBO; BOLAÑOS, 2014). A sua absorção depende das propriedades físico-químicas, da dose, duração e via de exposição 9. Entre os principais fatores causadores da elevação da absorção dos pesticidas estão inadequada proteção individual, uso repetido da mesma roupa contaminada durante dias, técnicas inadequadas de aplicação, lavagem de equipamentos em tanque doméstico (RAMOS, 2009). A pele, o trato respiratório e trato gastrointestinal constituem as principais vias de exposição e absorção. A inexistência de processos enzimáticos capazes de transformar os anéis aromáticos e remover os átomos de cloro desses agentes faz com que sua metabolização seja extremamente lenta. Além disto, eles apresentam propriedades lipofílicas, acumulando-se no tecido adiposo permanecendo estáveis até que pequenas quantidades sejam excretadas e as concentrações no sangue sejam compensadas (COSTA; TEIXEIRA, 2012). Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 22 |


Apesar da importância dos pesticidas na agricultura, eles são considerados compostos genotóxicos capazes de induzir dano direto (danificando diretamente as bases) e indireto no DNA (através da produção de radicais livres), danos esses que podem ser reparados, ou não, causando, assim, uma mutação no organismo. Um dos grupos mais afetados de pessoas são os que trabalham diretamente com a aplicação do pesticida, mas, também os consumidores constituem um grupo de risco (COSTA; TEIXEIRA, 2012; SILVA, 2013). As intoxicações agudas são um dos efeitos mais conhecidos dos pesticidas, porém nem sempre as consequências dessa exposição estão relacionadas com lesões imediatas e aparentes, outros efeitos na saúde humana também estão relacionados a essa exposição, tais como doenças dermatológicas, neurológicas, reprodutivas, dano genético e uma elevada incidência no aumento do câncer, incluindo o câncer de pele, próstata, mama, ovário, estômago, dentre outros (LOBO; BOLAÑOS, 2014). No estudo de Olaya-Contreras et al., (2002) com 153 casos incidentes de câncer de mama, foi verificada uma associação entre o risco de desenvolvimento desse câncer e os níveis séricos do pesticida dicloro-difenil-tricloroetano (DDT). O dano genético, em estudos de biomonitoramento, tem sido detectado com maior frequência quando os níveis de exposição a esses pesticidas são altos, uso intenso, mau uso ou falta de medidas de proteção e controle. Esses estudos têm sido cada vez mais aplicados, pois além de identificar o risco potencial de surgimento de doenças em populações expostas, também auxilia na identificação de fatores de risco e medidas adequadas para serem implementadas no controle dessas agressões a saúde humana (RAMOS, 2009).

3 Teste de Micronúcleos Uma maneira de se estudar os efeitos de xenobióticos em uma população exposta é conduzir estudos de monitoramento, a fim de determinar se essa exposição pode ou não causar um dano à saúde, para isso utiliza-se parâmetros biológicos pertinentes, com manifestação a curto prazo, tais como ensaios de micronúcleos, que podem identificar danos no DNA e/ou nos cromossomos, resultantes da exposição ocupacional (CORREA et al., 2009). Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 23 |


Muitas podem ser as alterações observadas no organismo dos indivíduos quem têm contato com estes agentes sabidamente carcinogênicos. Tais alterações podem ser visualizadas nos linfócitos de sangue periférico, identificados como MN ao redor do núcleo principal da célula (dos SANTOS; NARDIN, 2014). Os linfócitos são células da família dos leucócitos, constituem 25-35% do total das células brancas e são divididos em dois subtipos principais, B e T. A principal função destas células é defender o organismo contra invasores, principalmente virais e células neoplásicas. Por possuírem um tempo de vida relativamente longo, em comparação as outras células do organismo, tal célula é ideal para estudos de genotoxicidade. Porém, além de linfócitos de sangue periférico outros tipos celulares podem ser utilizados para o teste do MN tais como células epiteliais da mucosa oral, mucosa vaginal, entre outros (KOHATSU et al., 2007; dos SANTOS; NARDIN, 2014). A análise de células epiteliais está cada vez mais sendo utilizada por se tratar de um método não invasivo que permite coletas sucessivas, além do estudo direto das células da camada basal que sofreram mutação, em média, até 20 dias após a exposição (KOHATSU et al., 2007). O teste do MN foi descrito pela primeira vez por Schimidt em 1975 e a única exigência era a escolha de tipos de células com elevada atividade mitótica. Em 1985, o teste foi aprimorado e foi desenvolvida a técnica de bloqueio de citocinese1, utilizando um agente químico chamado citocalasina B, que leva a inibição da citocinese, mas não impede a divisão nuclear, levando a um acúmulo de células binucleadas a partir de células que passaram por apenas um ciclo de divisão nuclear. A análise em células binucleadas permite uma medida mais precisa da frequência de células com MN, pois seria necessário avaliar o dobro de células mononucleadas para observar o mesmo nível de danos nas binucleadas. Essa técnica foi validada em todo o mundo em 1999 (FLORES; YAMAGUCHI, 2008; CHEQUER, 2008). A formação do MN é resultado da perda de cromossomos inteiros ou apenas fragmentos de cromossomos que não migraram para o núcleo principal após a divisão mitótica, estes fragmentos não são incluídos nos núcleos das células filhas originando assim a formação de um micronúcleo, sendo este morfologicamente igual ao núcleo

1

Processo de divisão do citoplasma no final da divisão celular. Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 24 |


principal (Figura 1), porém de tamanho inferior, assim esse teste detecta mutagênese cromossômica, como clastogênese e aneugênese (da ROSA. 2009; ANCINES, 2011; COSTA; TEIXEIRA, 2012).

Figura 1: Expressão do micronúcleo em uma célula em divisão (CHEQUER, 2008).

O protocolo básico do teste é o isolamento de linfócitos, a contagem de células, o bloqueio da divisão celular, fixação das células com uma solução de metanol: ácido acético glacial e coloração com Giemsa para a observação em microscópio. Especificamente, os MN observados em células de tecidos epiteliais esfoliadas são formados nas células da camada basal; a amostra é colhida por muco raspagem e transferidas para lâminas onde serão fixadas em 80% de etanol, coradas com corantes específicos e analisadas entre 500 a 4000 células (LOBO; BOLAÑOS, 2014). O uso de técnicas de hibridização fluorescente in situ tem permitido encontrar a origem dos micronúcleos, promovendo a determinação, com mais eficácia, do efeito clastogênico e aneugênico desses agentes genotóxicos (FARIA; BRAGA, 2015). Esse teste é considerado padrão ouro para avaliação citogenética de lesões que ocorrem no DNA (FARIA; BRAGA, 2015). O Estudo de Bortoli et al., (2009) demostrou aumento significativo de células com micronúcleos em trabalhadores expostos a pesticidas nos campos de soja. Bolognesi et al., (2002) observaram diferenças significativas na frequência de MN ao nível de dano genético entre populações expostas a pesticidas e populações controle; e o estudo realizado por Garaj-Vrhovac e Zeljezic (2002) mostrou que, após um período de oito meses sem a exposição aos Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 25 |


produtos, a frequência de MN e aberrações cromossômicas sofreu um decréscimo em relação aos grupos recentemente expostos. Assim, esses estudos comprovam a eficácia do teste, demonstrando a possibilidade de danos genômicos nos trabalhadores expostos e sua aplicabilidade no monitoramento desses indivíduos, sendo um indicativo para a mudança de hábi¬tos para aqueles que ainda não apresen¬taram sinais evidentes de danos ou de alterações ce¬lulares e também permitindo auxiliar na elucidação dos mecanismos carcinogênicos envolvidos (FLORES; YAMAGUCHI, 2008; CORREA et al., 2009; FARIA; BRAGA, 2015).

4 Considerações Finais A ampla utilização dos pesticidas, o conhecimento mínimo dos riscos associados à sua utilização crônica, o desrespeito as normas de segurança e controle, os problemas sociais encontrados no meio rural constituem as principais causas que levam ao agravamento dos quadros de doenças e definem o uso desses produtos como um dos maiores e mais graves problemas de saúde pública no meio rural. Diante disso, o estudo da ação genotóxica dos pesticidas representa uma contribuição para uma adequada avaliação clínica e epidemiológica do potencial risco para a saúde associados à sua exposição e o teste de MN, se destaca dos demais ensaios de genotoxicidade por permitir de forma rápida e confiável a detecção de alterações no material genético em populações expostas a esses produtos, podendo ser utilizado como indicador de mutagenicidade e como instrumento de monitoração, considerando que a frequência de MN retorna aos níveis basais quando o organismo permanece durante certo período sem contato com esses agentes indutores.

REFERÊNCIAS

ANCINES, C. Biomonitoramento em trabalhadores do setor coureiro-calçadista do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2011. Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 26 |


BOLOGNESI, C.; PERRONE, E.; LANDINI, E. Micronucleus monitoring of a floriculturist population from western Liguria, Italy. Mutagenesis, n. 17, p. 391-397, 2002. BORTOLI, G.M.; AZEVEDO, A.B.; SILVA, L.B. Cytogenetic biomonitoring of Brazilian workers exposed to pesticides: micronucleus analysys in buccal epitelial cells of soybean growers. Mutation Research, p. 1-4, 2009. CHEQUER, F.M.D. Utilização do teste de micronúcleo na avaliação da toxicidade dos corantes Disperse Red 1, Disperse Orange 1 e Disperse Orange 13. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, 2008. CORREA, N.S.; BASSAN, J.S.; CUNHA, C.J.D.; FERNANDEZ, R.R.; BACHETTINI, P.S.; GARCIAS, G.D.L.; ROTH, M.G.M. Monitoramento da ação genotóxica em trabalhadores de sapatarias através do teste de micronúcleos, Pelotas, Rio Grande do Sul. Ciência e Saúde Coletiva, n. 14, p. 2252-60, 2009. COSTA, C.; TEIXEIRA, J.P. Efeitos genotóxicos dos pesticidas. Revista de Ciências Agrárias, n. 2, p. 19-31, 2012. Da ROSA, L.A.Z.C. Avaliação de fator de risco ocupacional no setor de fabricação de tintas em uma fábrica localizada na região Sul de Santa Catarina. Criciúma: Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2009. Dos SANTOS, T.M.; NARDIN, J.M. Estudo piloto da ocorrência de micronúcleos em linfócitos de profissionais de saúde atuantes em oncologia. Cadernos da Escola de Saúde, p. 128-42, 2014. DUSMAN, E.; BERTI, A. P.; SOARES, L.C.; VICENTINI, V.E.P. Principais agentes mutagênicos e carcinogênicos de exposição humana. Revista Saúde e Biologia, n. 2, p. 66-81, 2012. FARIA, L.E.M.; BRAGA, J.R.M. Aplicação do teste de micronúcleo para avaliação de potencial genotóxico em epitélio oral de estudantes universitários. Revista Eletrônica Atualiza Saúde, n. 1., p. 36-41, 2015. FLORES, M.; YAMAGUCHI, M.U. Teste do micronúcleo: uma triagem para avaliação genotóxica. Revista Saúde e Pesquisa, n. 3, p. 337-40, 2008. GARAJ-VRHOVAC, V.; ZELJEZIC, D. Assessment of genome damage in a population of Croatian workers employed in pesticide production by chromossomal aberration analysis, micronucleus assay and comet assay. Journal of Applied Toxicology, p. 255. 2002. KOHATSU, A.G.D.S.; SHIMABUKURO, F, GATTÁS, G,J,F. Utilização dos testes de mutagenicidade para a avaliação da exposição ocupacional. Saúde, Ética e Justiça, n. 12, p. 15-21, 2007.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 27 |


LOBO, T.M.; BOLAÑOS, A. Micronúcleos: biomarcador de genotoxicidad em expuestos a plaguicidas. Revista de la Facultad de Ciencias de la Salud, n. 2, p. 18-26, 2014. OLAYA-CONTRERAS, P.; RODRIGUEZVILLAMIL, J.; POSSO-VALENCIS, H.J.; CORTEZ, J.E. Organochlorine exposure and breast cancer risk in Colombian women. Cadernos de Saúde Pública, n. 3, p. 125-132, 1998. RAMOS, E.M.S.P. Biomonitoramento genético de indivíduos expostos ocupacionalmente a pesticidas no povoado Vila Bessa, município de Conceição do Jacuípe, Bahia. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2009. SILVA, U.G.A. Avaliação genotóxica dos pesticidas metomil e cipermetrina: efeitos agudos in vivo. Vitória de Santo Antão: Universidade Federal de Pernambuco, 2013.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 19-28, fev. 2017.

Página 28 |


Compostagem como ferramenta de educação no campo

Aline Isabel de Sousa Licenciada em Ciências Biológicas – Universidade Federal do Piauí. Paulo Henrique da Silva Licenciado em Ciências Biológicas. Aluno de Especialização em Ecologia – Universidade Federal do Piauí. Ykaro Richard Oliveira Licenciado em Ciências Biológicas. Aluno de Especialização em Ecologia – Universidade Federal do Piauí. Paula Dentzien Dias Francischini Doutora em Geociências, Professora Adjunto II – Universidade do Rio Grande Ana Carolina Landim Pacheco Doutora em Biotecnologia, Professora Adjunto II, Curso de Ciências Biológicas – Universidade Federal do Piauí. Maria Carolina de Abreu Doutora em Botânica, Professora Adjunto II, Curso de Ciências Biológicas – Universidade Federal do Piauí. E-mail: mariacarolinabreu@hotmail.com

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol10ed1.269

Resumo A compostagem é um processo de bioxidação aeróbica mediado por grupos de microrganismos e realizado através de duas etapas, sendo na primeira percebida as oxidações químicas e na segunda o processo de humificação. Esse procedimento é eficiente na redução de resíduos e na produção de adubo, assim a realização de tal prática deve melhorar a qualidade de vida da população de forma ecologicamente correta. O objetivo deste trabalho foi promover uma intervenção educativa em agricultores de Francisco Santos-PI e em seguida perceber o conhecimento dos Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 29 |


agricultores acerca do tema trabalhado. O estudo foi procedido em duas etapas, na primeira houve a construção de uma leira para produção de composto e em seguida produziu-se uma cartilha contendo toda a técnica para produção da mesma,já na segunda etapa foi apresentada uma palestra para os agricultores, e em seguida a aplicação de um questionário para que se pudesse observar os conhecimentos adquiridos pelos participantes após a palestra. Decorridos três meses, o composto ficou pronto e de ótima qualidade para a utilização, servindo de adubo para plantas frutíferas. A cartilha produzida mostrou todas as etapas da confecção da composteira e foi direcionada aos agricultores de produção agrícola de pequeno e médio porte. Após as atividades, 53% dos participantes relataram que “mudariam muito a forma de pensar e de como agir com a terra”. Por fim, conclui-se que a cartilha e a palestra se mostraram relevantes para a conscientização dos agricultores bem como à disseminação do conhecimento, com foco na proteção ambiental e melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Adubo. Educação Rural. Manejo do solo.

Composting as an education tool in the field Abstract Composting is an aerobic process of bio-oxidation mediated by groups of microorganisms and is performed through two steps, at the first occurs chemical oxidation and in the second the humidification process. This procedure is effective in reducing waste and in production of fertilizer, so the realization of that practice should improve the quality of life of the population in an environmentally sound manner. The objective of this work was to promote an educational intervention on farmers of Francisco Santos-PI and then realize the farmers' knowledge about the studied theme. The study was undertaken in two stages, the first was the construction of a windrow for producing compound, and thus was produced an educational booklet containing the entire technique for producing compound. In the second stage, it was presented a lecture to the farmers, and then applied a questionnaire so that they could observe the knowledge acquired by the participants after the lecture. After three months, the compound was ready and great quality for use, serving as fertilizer for fruit trees. The booklet produced showed all stages of the production of compost and was directed to the agricultural production of farmers from small scale. After the activities, 53% of participants reported that "changed the way we think and how to act with the soil". Finally, it is concluded that the booklet and the lecture are relevant to the awareness Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 30 |


of farmers and the dissemination of knowledge, with focus on environmental protection and better quality of life. Keywords: Organic fertilizers. Rural education. Soil management.

Recebido em 03/08//2016 Aceito em 11/10/2016

1 Introdução A sociedade pós-revolução industrial transformou-se, tornando-se altamente consumidora e produtora de resíduos, com uma economia mais estável e, infelizmente, com um ambiente natural altamente degradado (FILIPETTO et al., 2003). Segundo Reigota (1998), a transformação da natureza é necessária e inevitável, pois dependemos dela para sobrevivência, no entanto, os avanços tecnológicos e a urbanização trouxeram benefícios, mas também grandes problemas ao meio ambiente. Conforme Benvenuto (1995), a Educação Ambiental deve ser priorizada na administração pública, pois é através da informação que se pode mudar a postura da sociedade em relação à geração e gestão dos resíduos, entre outros benefícios. Essa conscientização deve ser ensinada também a todas as faixas etárias do colegiado, para que possamos ter crianças e jovens conscientes e não adultos sem nenhuma educação ambiental (SEABRA, 2009). Incentivar a nossa sociedade a comprar produtos recicláveis, reaproveitar ao máximo o que seria jogado fora, passar mais tempo com móveis, eletrodomésticos e carros, seria uma maneira simples, tanto de economia, quanto de redução do lixo jogado nas encostas e terrenos baldios localizados próximos aos centros das cidades. Estas atitudes podem levar a sociedade a mudar a mente consumidora, para que possamos ter uma vida confortável sem agredir o meio natural (SEABRA, 2009). A correta destinação dos resíduos é de extrema importância para ocorrência de bons índices de desenvolvimento sustentável. Coleta seletiva, reciclagem e a compostagem do lixo orgânico (restos de alimentos) reduzem o volume de resíduos a serem dispostos, contribuindo de forma significativa para o equacionamento da questão da destinação final do lixo no Brasil, devendo ser fortemente incentivadas (IBGE, 2012). Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 31 |


A compostagem é um processo de bioxidação aeróbica exotérmica de um substrato orgânico heterogênico, no estado sólido, caracterizado pela produção de água, liberação de substâncias minerais e formação de matéria orgânica estável (ANDREOLI, 2001). Pereira Neto (1989) define compostagem como um processo aeróbico controlado e desenvolvido por uma população mista de microrganismos, efetuado em duas fases distintas: a primeira ou fase de ativa ocorre as oxidações bioquímicas mais intensas e, predominantemente, por meio das bactérias termofílicas; na segunda ou fase de maturação ocorre o processo de humificação, formando um composto de qualidade para preservação e fertilização do solo. Esse processo é um bom exemplo para redução de resíduos, em que além de produzir um fertilizante natural excelente para os agricultores, seria mais uma fonte de renda com a produção de adubo (OLIVEIRA; FILHO; CAJAZEIRA, 2004). Existem muitas maneiras de utilizar a prática da compostagem, como as práticas residuais da suinocultura como fonte de nitrogênio (MATOS et al., 1998), os resíduos da indústria madeireira e o tratamento da rede de esgoto, que é a transformação do lodo de esgoto em lodo biológico que são chamados de biossólidos (BUDZIAK; MAIA; MANGRICH, 2004), e a prática mais utilizada pelos agricultores, que é a do lixo urbano das residências, restaurantes e CEASA (comida crua e cozida, verduras e frutas)e as podas de jardins e praças. Todas essas práticas de compostagem têm uma finalidade: melhorar a qualidade de vida da população de uma maneira ecologicamente correta (MENEZES; SANTOS; LEME, 2002). No intento de proporcionar conhecimentos e/ou esclarecimentos acerca da prática de compostagem, evidenciando conceitos, formas de produção, além do uso do composto e/ou dos conhecimentos adquiridos, o presente estudo traz como objetivo apresentar os principais resultados oriundos da ação dialogada (palestra) e da distribuição de cartilhas informativas aos agricultores do município de Francisco Santos, Piauí, sobre o temário em foco, além de uma sondagem após tais atividades sobre os saberes adquiridos, para que desta forma tais atividades se configurassem como importantes ferramentas à educação no campo acerca da compostagem.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 32 |


2 Metodologia O local escolhido para a realização do estudo foi o município de Francisco Santos, localizado na região Sudeste Piauiense, microrregião do Pio IX, distando335 Km da capital Teresina, com 270m de altitude e de clima semiárido quente. A emancipação política do município deu-se em 24/12/1960esegundo IBGE (2010) sua população está estimada em 8.592 habitantes, apresentando economia baseada principalmente na agricultura. O estudo foi realizado com agricultores do referido município, abrangendo indivíduos de ambos os sexos e de faixa etária compreendida entre 23 a 65 anos, o qual foi procedido em duas etapas. Na primeira houve a construção de uma leira para produção de composto e assim produziu-se uma cartilha contendo o passo-a-passo da técnica para a criação do composto. Já na segunda etapa houve a apresentação de uma palestra para os agricultores, seguida de uma sondagem com a aplicação de um formulário onde constavam questionamentos para avaliação dos conhecimentos adquiridos pelos participantesapós a palestra. Para construção da leira e produção do composto, o agricultor José Marinho de Sousa permitiu que a composteira fosse construída em sua propriedade, a qual se localiza na zona rural do município distante 10 km da sede. No processo de construção da composteira, inicialmente, utilizou-se uma escavadeira manual para obtenção de uma cova na terra com medidas de 1 m de comprimento, 60 cm de largura e 70 cm de profundidade. Com a utilização de uma pá manual foi retirada todo o conteúdo de solo da composteira, seguindo o proposto por Ribeiro (2003). Os materiais necessários para preenchimento da composteira foram restos de comida cozida, cascas de frutas, verduras, folhas secas e folhas verdes seguindo o proposto por Viana e Nunes (2011), onde tais materiais foram recolhidos nas residências do município e em áreas próximas à composteira. De posse do material necessário, prosseguiu-se a montagem da composteira em que camadas de aproximadamente 20 cm de folhas foram alternadas com camadas de 20 cm de lixo orgânico, as quais após compactação foram repetidas até que a finalização da composteira fosse feita com Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 33 |


uma camada de areia,que foi regada com água e posteriormente coberta com uma lona. O monitoramento da composteira foi procedido semanalmente, de uma a duas vezes, durante três meses, através dos parâmetros temperatura, umidade e aeração. Para a temperatura, por meio de uma barra de ferro, durante um período de 10 minutos de análise, a temperatura era sentida pelas mãos, em que a sensação de altas temperaturas (cerca de 60 a 70º) indicava a necessidade de revolver o material da composteria. A umidade era percebida pela quantidade de água presente no composto, em que com o uso das mãos era percebido e, com o passar do tempo, reduzindo a umidade, água era acrescida e caso muito úmido, adicionava-se folhas secas. O produto formado pelo processo foi usado na própria propriedade que serviu de ambiente para o experimento. Descrevendo todo este processo, assim como da importância e conceitos envolvidos, foi produzida uma cartilha sob o patrocínio da prefeitura local contendo o passo-apasso de todo o processo da compostagem e explicações adicionais para melhor assimilação do conteúdo a ser exposto na palestra. Na produção da cartilha foram usadas fotos e informações de forma clara e sucinta para a melhor compreensão dos agricultores. A segunda etapa foi a elaboração e realização de uma palestra com a utilização de imagens e figuras, sendo retratado o modo de construção da composteira, como fazer o composto, o ponto certo do composto e a forma de utilização do mesmo, assim como dos benefícios ambientais e os financeiros. A palestra foi realizada no Sindicado dos Trabalhadores Rurais do município de Francisco Santos-PI, local de fácil acesso aos agricultores, contando com a participação de 25 indivíduos. Foram utilizados recursos audiovisuais, apresentação de slides ilustrativos através de projetor multimídia para que ficasse bem visível o passo-a-passo para obtenção do composto, assim como sua utilidade e importância. Primeiramente foi exposto conteúdo teórico acerca do tema, em seguida a importância do composto para o solo e para o meio ambiente, além de também explicado como e onde deve ser aplicado o composto. Ademais, no decorrer da palestra foi exposto qual material pode ser usado e o que não pode ser, explicando-se detalhadamente como se produz a leira e como são adicionadas as camadas da matéria-prima, Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 34 |


seguidamente de como ocorre o monitoramento, sua importância na maturação do composto e também o tempo que leva para ficar pronto. Após a palestra foram feitas entrevistas por meio do uso de formulários contendo questões abertas e fechadas aos agricultores participantes com o intuito de averiguar o grau de entendimento e compreensão dos mesmos acerca do assunto.

3 Resultados e Discussão A construção da composteira escolhida foi em forma de buraco na terra, priorizando o uso de ferramentas manuais e a aplicação do método de pilhas, queneste caso, se distingue do trabalho de Teixeira et al. (2004), já que as pilhas do material foram dispostas em um buraco. A escolha do local da composteira em alguns pontos se parece com o descrito por Dias e Vaz (1996): um local plano, de fácil acesso, contendo água e que não é atingido diretamente pelo sol e pela chuva. Já, por sua vez, a matéria prima utilizada no composto diverge em alguns pontos do descrito por Farias, Ribeiro e Vieira (2004), pois estes utilizaram esterco bovino, porém, quando se refere ao restante da matéria prima, existe certa semelhança, pois também fizeram uso de poda de plantas, do lixo orgânico de cozinhas e folhas secas. Decorridos 3 meses o composto ficou pronto e de ótima qualidade para a utilização, corroborando Dias e Vaz (1996). O composto foi utilizado na propriedade em que foi produzido, servindo de adubo para plantas frutíferas. O processo de monitoramento do composto, diverge alguns pontos e coincide com o estudo descrito por Cortez et al. (2009). Na aeração, a divergência ocorre, pois, esta é feita através de túneis de vento localizado embaixo das leiras, enquanto que neste a aeração ocorreu por revolvimento da leira pelo menos duas vezes por semana, para que assim ocorresse a oxigenação e os microrganismos pudessem fazer a decomposição sem causar mau cheiro no produto. Ainda considerando Cortez et al. (2009), a verificação da umidade ocorreu da mesma forma, contudo, caso o composto estivesse seco a forma de umedecer difere quanto a maneira de aplicar a água, pois por ser alto e em grande quantidade regava-se muita água com mangueira, enquanto que no presente, por ser uma produção caseira, consumiu uma quantidade de água menor e com uso de um pequeno regador. No que Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 35 |


concerne a verificação da temperatura, foi igual nos dois trabalhos. Na parte de cobrir o composto, o presente trabalho também diverge do proposto por Cortez et al. (2009), haja vista neste as pilhas terem ficado expostas. Na segunda etapa deu-se a elaboração de uma cartilha dividida em tópicos. Inicialmente uma abordagem geral sobre o que é compostagem, seguido de todo o material que pode ser usado para a produção do composto, escolha do local de construção, passo a passo para construção da composteira, finalizando com o monitoramento do composto e dicas de utilização do mesmo. Esta cartilha seguiu os passos propostos por Ribeiro (2011) e teve como objetivo principal que os agricultores pudessem ter um material sobre compostagem sempre em mãos. A cartilha produzida foi diferente do manual descrito por Fernandes e Silva (1999), pois eles descreveram todo processo de compostagem de forma detalhada, escrito e sem gravuras, posto ter sido um manual descritivo para produção em grande escala e para comercialização do produto, diferindo da daqui produzida, direcionada para agricultores de pequeno a médio porte, em que a produção do composto é realizada no próprio território ou comunidade para uso próprio, sem fins comerciais. A palestra realizada no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Francisco Santos contou com a participação de um total de 25 agricultores. Tanto no decorrer da palestra quanto no final, os agricultores interagiram expondo suas dúvidas e dicas. Dentre as dúvidas expostas, merecem destaque, a saber: “Como calcificar o solo de forma orgânica sem agredir o meio ambiente?”. Pois, segundo o agricultor da pergunta, o mesmo realizava esse processo adicionado produto químico como a cal. Então, indicou-se que usasse casca de ovo dentro do composto, mas deixando claro que esse processo não poderia ser usado em plantações de grande porte, pois prejudicaria os invertebrados (minhocas) presentes no solo. Outro contou que já tinha tentado fazer o composto mais não conseguiu, pois queimou toda a plantação, e então lhe foi explicado que o composto não pode ser aplicado puro no solo. Já outros deram dicas de como adubar uma pequena área de terra, fazendo somente o uso de esterco de animas e folhas secas misturadas com terra, ou seja, houve uma troca de experiência entre palestrante e participantes como o também evidenciado por Viana e Nunes (2011).

Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 36 |


Foi também explicitado como aplicar o composto em plantações de grande porte como as de feijão e milho e de pequeno porte como nas frutíferas e em verduras. Para muitos dos participantes estas eram as principais atividades econômicas e, já adubavam seus canteiros e árvores de forma correta. Já nas plantações de grande porte fazia-se o uso da prática das queimadas, onde foram explicadas as consequências que o uso dessa prática podia trazer futuramente (VIANA; NUNES, 2011). No final da palestra foi entregue a cartilha feita especialmente para os agricultores. A palestra teve muitos pontos que coincidiram com o trabalho dos pesquisadores Viana e Nunes (2011). Ambos apresentaram o que é compostagem, qual a importância, o que pode e não pode ser usado, como faz o composto, a manutenção, onde devem ser aplicados nesses pontos. As diferenças incluem no caso da palestra, onde foram apresentados diversos tipos de composteira e problemas causados por todo tipo de lixo (entulhos, lixão, poluição tanto terrestre como marinha e dos rios, etc.). No caso da palestra deste estudo, abordou-se principalmente o tópico de adubação da terra e como manter o solo com o uso do composto. Na palestra realizada mostrou-se como um composto pode ser produzido em casa sem maquinaria, sem nenhuma dificuldade, enquanto que o trabalho de Fernandes e Silva (1999) mostrou uma produção gigantesca com maquinaria pesada em uma escala de produção muito grande onde a diferença era basicamente na matéria-prima utilizada e no monitoramento que não é simples, mas se assemelham em alguns pontos como na verificação da temperatura, umidade e aeração. Realizado a primeira etapa do estudo e, entrevistados os agricultores após a palestra, procedeu-se a análise das respostas dos participantes obtendo-se os resultados abaixo citados. A primeira pergunta do questionário sondou o significado do termo compostagem, onde 73% responderam de forma correta, indicando a transformação do lixo orgânico em adubo como indicado no trabalho de Ribeiro (2011). Ainda sobre o que significa o termo compostagem, 27% responderam que era adubação do solo, em que apesar de conhecer o que significa o termo, percebe-se a confusão gerada por muitos, entorno da transformação do lixo orgânico em adubo com a adubação do solo. Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 37 |


Além disto, analisou-se o posicionamento dos agricultores acerca do entendimento do temário sobre compostagem e, 67% afirmaram como ótimo, indicando que aproveitaram o máximo o conteúdo exposto na palestra, enquanto 33% responderam que foi bom, pois algumas das informações passadas já utilizava e apenas 7% responderam regular, pois até no momento não tinha precisado de nenhuma informação exposta na palestra. Segundo Ribeiro (2011), caso os agricultores fizessem uso dos restos alimentares bem como da poda das árvores e aplicassem no solo, estes serviriam de alimento para muitos microrganismos e minhocas que ocorrem no ambiente, colaborando assim para a nutrição destes bem como para a produção de um adubo de qualidade. Também foi perguntado aos participantes a possibilidade de realizar a compostagem em casa e, 87% afirmaram positivamente, conforme também mencionado por Ribeiro (2011), uma vez que o procedimento trouxe admiração e estimulou a curiosidade pelo processo experimental entorno do mesmo. Os 13% restantes reportaram a não possibilidade de realizar a compostagem em casa. Na palestra de Viana e Nunes (2011), a qual também foi ministrada de maneira clara, eles ensinaram a fazer a compostagem, a matéria prima que pode ser usada e o que não pode usar a manutenção do composto, onde e como se aplica tal composto. A pesquisa realizada por Guadagnin (2011) divergiu na maneira como a palestra foi ministrada, pois o conteúdo exposto na apresentação do trabalho foi muito complexo,sendo mostrado um estudo detalhado sobre a compostagem que ficaria de difícil compreensão para os agricultores, pois apresentava a exposição de análise laboratorial, para definir os microrganismos presentes, as reações químicas e as substâncias liberadas por esses microrganismos, tudo de forma muito abrangente e de difícil compreensão para agricultores tomados neste trabalho. Relacionando os resultados apresentados sobre o conhecimento da importância da compostagem para o solo, foi questionado se utilizariam as dicas expostas na palestra: 80% dos agricultores usariam algumas, 13% usavam todas, semelhante ao encontrado por Ribeiro (2003), que a partir da experiência que teve com compostagem viu que usando um guia sobre o assunto ajudaria a produzir adubo em vez de lixo. E, somente 7% dos entrevistados não usariam as dicas e informações expostas durante Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 38 |


a palestra, o que torna um ponto negativo, pois tais eram destinadas à melhoria da qualidade de vida destes. Foi também investigado aos agricultores se utilizariam as práticas das queimadas depois de ter adquirido o conhecimento sobre a adubação da terra de forma orgânica: 87% afirmou que não realizariam mais práticas de queimadas, pois compreenderam os bons resultados que uma boa adubação traz. Estudos mostraram os impactos para o produtor e para quem vive aos arredores da área queimada. O benefício imediato da queimada traz uma ilusão ao agricultor que pensa sempre produzir com um bom adubo, resultando que só entre um ou dois anos a terra mantém-se fértil, depois disso a terra perde a grande maioria dos nutrientes e para recuperar esses nutrientes a terra precisa descansar em torno de 5 a 7 anos e, caso o descanso não ocorra de forma adequada, a terra fica erosiva (VIANA; NUNES, 2011). Mesmo as consequências sobre as queimadas sendo expostas, 13% dos entrevistados afirmaram que continuariam tal prática. Visando avaliar o uso do composto químico na adubação do solo, perguntou-se aos entrevistados se eles continuariam fazendo o uso de fertilizantes sintéticos depois que aprenderam a fazer um adubo orgânico, eis os resultados: 60% responderam que não usariam fertilizantes químicos nas plantações, em contraponto aos 40% que disseram que fariam sim o uso de fertilizantes sintéticos nas plantações. Apesar dos agricultores terem conhecimento de o fertilizante sintético proporcionar em curto prazo uma maior produtividade de alimento, estes produtos são em geral mais pobres em vitaminas e sais e vêm impregnados de resíduos venenosos. Isto, além de trazer sérios prejuízos ao meio ambiente, também acarreta danos à saúde dos consumidores. Devido aos danos causados pelos fertilizantes químicos, vem sendo novamente empregados os produtos orgânicos que há muito tempo eram utilizados na agricultura e que, com o avanço da tecnologia foram colocados em segundo plano. Com o movimento da sustentabilidade, métodos como a compostagem, esterco de animais e a rotação de culturas entraram em vigor novamente (ANDRADE, 2011). Interrogou-se aos agricultores se pensariam no meio ambiente na hora de remanejar o solo e, 93% responderam de forma positiva, pensando nas consequências que um Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 39 |


ato errado pode trazer, mas 7% assumiram não pensar no meio ambiente no que tange ao processo de adubação do solo. Ressalte-se que a falta de interação entre o homem e meio ambiente pode provocar prejuízos econômicos e ambientais, que variam desde perdas de fertilizantes e corretivos provocadas pelas enxurradas, até frustrações de safra, motivadas por déficit hídrico, quando da ocorrência de pequenos períodos sem chuva (DENARDIN; FAGANELLO; SANTI, 2008). Dando continuidade aos questionamentos, fez-se a seguinte pergunta: Qual sua principal atitude em relação ao lixo orgânico caseiro? E, para esta indagação 93% dos entrevistados relataram que separam o lixo orgânico para alimentar animais e somente 7% misturam com o lixo seco. Convém enfatizar conforme Grimberg e Blauth (1998) que a coleta e a destinação de resíduos sólidos nas cidades brasileiras estão entre os principais problemas enfrentados pelo poder público municipal. A magnitude do problema atinge diretamente a saúde pública e compromete o meio ambiente. Por fim, buscou-se saber como a palestra havia mudado a concepção e a forma de adubar a terra e, consoante os agricultores participantes do estudo da cidade de Francisco Santos-PI, 53% relataram que mudou muito a forma de pensar e de como agir com a terra, já 40% afirmou mudar pouco as ideias e concepções e somente 7% relatou nenhuma mudança quanto ao agir em relação ao melhoramento do solo. Segundo Denardin, Faganello e Santi (2008), se não mudarmos a maneira como adubamos a terra, serão observados problemas de frequência comprometedora da estabilidade da produção agrícola: degradação do solo com aumento da densidade e da resistência à penetração, redução da porosidade e da taxa de infiltração de água no solo, deformação morfológica de raízes e concentração de raízes na camada superficial do solo, ocorrência de erosão, com arraste de nutrientes, fertilizantes e corretivos pela enxurrada e prematura expressão de déficit hídrico, por ocasião de pequenas estiagens.

4 Considerações Finais

Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 40 |


Em virtude do estudo desenvolvido, percebe-se que tal ajudou a aprimorar o conhecimento já existente na literatura, posto a realização de uma prática econômica onde a matéria-prima usada foi recolhida facilmente nas residências da localidade, de fácil produção e com consequências positivas para o meio ambiente. Além do que, a produção e fornecimento da cartilha tem papel fundamental à conscientização dos agricultores, assim como à disseminação do conhecimento, com vistas a proteção ambiental e melhor qualidade de vida. No que tange a realização da palestra, esta mostrou-se de grande relevância, visto o enriquecimento e a troca de experiências acerca do temário abordado, se consolidando como uma importante ferramenta para a propagação das questões ambientais e do aproveitamento dos resíduos domésticos, voltando-se para a proteção do planeta, a fertilidade solo, bem como o aumento na produção de alimentos.

5 Agradecimentos Para que ocorresse a realização da palestra e da produção da cartilha, contou-se com o apoio de alguns órgãos públicos como, a Prefeitura Municipal de Francisco SantosPI, que patrocinou a produção da cartilha, o CRAS (Centro de Referência da Assistência social), que nos forneceu o projetor multimídia à apresentação da palestra e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Francisco Santos-PI, que nos ajudou na divulgação da palestra, fornecendo o espaço da apresentação da palestra.

REFERÊNCIAS

ANDREOLI, C. U. Resíduos sólidos do saneamento: processamento, reciclagem e disposição final. Rio de Janeiro: RiMa,ABES, 2001.282 p.

ANDRADE, L. P. et al. Diagnóstico sobre a utilização de fertilizantes químicos, por comerciantes da feira livre no município de Sanharó-PE.Caderno de Agroecologia, v. 6, nº 2, 2011.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 41 |


BENVENUTO, C. X. Prática em agricultura orgânica. São Paulo, Cone, 1995.

BUDZIAK, C. R.; MAIA, C. M. B. F.; MANGRICH, A. S.Transformações químicas da matéria orgânica durante a compostagem de resíduos da indústria madeireira.Química Nova, v. 27, nº 3, p. 399-403, 2004.

CORTEZ, C. L. et al. Alternativa sustentável para utilização de resíduos de poda provenientes da manutenção das redes de distribuição de energia elétrica. In: 7º Congresso Internacional sobre Geração Distribuída e Energia no Meio Rural, Resumo, Fortaleza, 2009.

DENARDIN, J. E.; FAGANELLO, A.; SANTI, A. Falhas na implementação do sistema plantio direto levam à degradação do solo. Zoonews, 2008, p. 1 - 2.

DIAS, S. M. F.; VAZ, L. M. S. Métodos de Monitoramento no Processo Aeróbico de Compostagem - EEA/UEFS. Sitientibus, nº 15, p. 223-240, 1996.

FILIPETTO, J. E. S.; SILVEIRA, D. D.; MARTINS, F. L. M. A importância da educação ambiental na preservação dos recursos hídricos no Campus da Universidade Federal de Santa Maria. In: FRANKEBERG, C. L. C.; RODRIGUES M. T. R.; CANTELLI, M. (Org.). Gestão ambiental urbana e industrial. 1ªed.Porto Alegre: Edipucrs, 2003, p. 141-152.

FERNANDES, F.; SILVA, S. M. C. P. Manual Prático para reciclagem de biossólidos. Rio de Janeiro: ABES, 1999. 84p.

FARIAS, C. A.; RIBEIRO, A. C.; VIEIRA, E. M. Resíduos orgânicos alternativos nos processos de compostagem e de vermicompostagem. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 2004.

GRIMBERG, E.; BLAUTH, P. (Org.).Coleta seletiva: reciclando materiais, reciclando valores. São Paulo: Polis, 1998.

GUADAGNIN, M. R.Tratamento de resíduos sólidos orgânico.2011.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, Rio de Janeiro, 2010. Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 42 |


IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável. Estudos e Pesquisas: Informação Geográfica, Brasil, 2012.

MATOS, A. T. et al. Compostagem de alguns resíduos orgânicos, utilizando-se água residuárias da suinocultura como fonte de nitrogênio.Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 2, n. 2, p. 199-203, 1998.

MENEZES, R. L.; SANTOS, F. C. A.; LEME, P. C. S. Projeto de minimização de resíduos sólidos no restaurante central do campus São Carlos da Universidade de São Paulo. In: XXII Encontro Nacional de Engenharia de Produção - ENEGEP, 2002, Resumos...Curitiba – PR, Associação Brasileira de Engenharia de Produção ABEPRO, 2002.

OLIVEIRA, F. N. S.; FILHO, H. J. M.; CAJAZEIRA, J. P. Uso da compostagem em sistemas agrícolas orgânico.Fortaleza,Embrapa, 2004. 20 p.

PEREIRA NETO, J.T. Conceitos modernos de compostagem. Revista de Engenharia Sanitária, v. 28, p.104-109,1989.

REIGOTA, M. Educação ambiental: Fragmentos de sua história no Brasil. In. NOAL, F. O. (org.). Tendências da educação ambiental brasileira. 2º ed. Santa Cruz do Sul, EDUNISC, 1998.263 p.

RIBEIRO, C. C.Compostagem: produção de adubo a partir de resíduos orgânicos. Belém, SECTAM, 2003. 16 p.

RIBEIRO, R. Guia de compostagem caseira. 2011. Disponível em:<http://moradadafloresta.org.br/PDFs_para_download/guia_compostagem_2011 _web.pdf> Acesso em: 06/06/2015.

SEABRA, G. F. Educação Ambiental.João Pessoa, Editora Universitária - UFPB, 2009. 226p.

TEIXEIRA, L. B. et al. Avaliação da maturação de composto orgânico urbano nos municípios de Barcarena e Moju, PA.Belém- PA, Comunicado técnico Embrapa,2004. Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 43 |


VIANA, I. R.; NUNES, G.Compostagem. Palestra do projeto RONDOM lição de vida e cidadania. Apresentada no dia 29/10/2011.

VIANA, I. R.; NUNES, G.Queimadas: um problema que afeta a natureza e os seres humanos. Palestra do projeto RONDOM lição de vida e cidadania. Apresentada no dia 10/01/2011.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 29-44, fev. 2017.

Página 44 |


Avaliação das condições higiênico-sanitárias de uma lanchonete no município de Limoeiro do Norte - CE

Monica de Oliveira Maia Graduada em Nutrição, cursando o Mestrado Acadêmico em Nutrição e Saúde da Universidade Estadual do Ceará. E-mail: monicamaia_@hotmail.com Monique de Oliveira Maia Graduada em Tecnologia de Alimentos, Mestre em Tecnologia de Alimentos, cursando o Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará.

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol10ed1.259

Resumo O consumo de alimentos fora do domicílio tem aumentado nos últimos anos, levando, assim, à necessidade de adequação dos estabelecimentos produtores de refeições às legislações sanitárias vigentes. O presente trabalho objetivou avaliar as condições higiênico-sanitárias de uma lanchonete situada no município de Limoeiro do NorteCE. Foi utilizado um check-list embasado na Resolução RDC N° 216/04, o qual constou de 88 itens de observação, distribuídos em avaliação de vários aspectos do estabelecimento, como edificação e instalações (estrutura e higienização); abastecimento de água; manejo de resíduos; controle integrado de vetores e pragas urbanas; manipuladores; matérias-primas, ingredientes e embalagens; preparação do alimento; exposição ao consumo; documentação e registro e responsabilidade, contendo as opções de resposta: “Conforme” (C), “Não Conforme” (NC) e Não Aplicável (NA). Verificou-se, no presente estudo, um baixo percentual de conformidade para todos os itens avaliados. Concluiu-se, portanto, que as refeições produzidas neste estabelecimento representam um risco à saúde de seus clientes, uma vez que o mesmo encontra-se inadequado para a realização de atividades relacionadas ao preparo e consumo de alimentos. Palavras-chave: Boas práticas. Controle de qualidade. Segurança alimentar.

Evaluation of the sanitary hygienic conditions of a snack bar in the city of Limoeiro do Norte-CE Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 45 |


Abstract Food consumption outside the home has increased in recent years, thus leading to the need for adequacy of dining establishments producing the current health legislation. This study aimed to evaluate the sanitary hygienic conditions of a snack bar located in city of Limoeiro do Norte-CE. We used a checklist based in the RDC Resolution N° 216/04, which consisted of 88 items of observation distributed in evaluating various aspects of establishment, such as building and facilities (structure and cleaning); water supply; waste management; integrated vector management and urban pests; handlers; raw materials, ingredients and packaging; food preparation; exposure to consumption; documentation and registration and liability, containing the response options: "Compliance" (C), "Non Compliance" (NC) and Not Applicable (NA). It was found in this study, a low percentage of compliance for all items. It was concluded, therefore, that the meals produced at this establishment pose a risk to the health of their customers, since it is inappropriate for carrying out activities related to the preparation and consumption of food. Keywords: Good Practice. Quality control. Food Security.

Recebido em 17/05//2016 Aceito em 22/11/2016

1 Introdução Tem-se observado nos últimos anos, a expansão do consumo de alimentos fora das residências, devido, principalmente, às mudanças no estilo de vida, à maior participação da mulher no mercado de trabalho e à concentração populacional nos grandes centros urbanos, causando um significativo aumento nos serviços de alimentação (VEIGA et al., 2006). O segmento de serviços de alimentação envolve todos os estabelecimentos relacionados à alimentação fora do lar como restaurantes comerciais, restaurantes de hotéis, serviços de motéis, coffee shops, buffets, lanchonetes, cozinhas industriais, fast food, catering e cozinhas de hospitais (PAYNE-PALÁCIO Apud AKUTSU et al., 2005). Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 46 |


Observa-se, simultaneamente ao crescimento dos serviços de alimentação, o aumento da ocorrência de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs), que podem ser definidas como uma síndrome ou doença originada pela ingestão de água e/ou de alimentos contaminados por microrganismos, toxinas e/ou outros agentes químicos ou físicos (BRASIL, 2001). A ocorrência das DTAs vem aumentando de modo expressivo em todo o mundo e vários são os fatores que contribuem para sua emergência, destacando-se o crescente aumento da população, a existência de grupos populacionais vulneráveis, o processo de urbanização desordenado, a necessidade de produção de alimentos em grande escala e a deficiência dos órgãos públicos e privados no que se refere à qualidade dos alimentos ofertados às populações, tornando, desta forma, a segurança do alimento a principal preocupação com relação ao segmento dos serviços de alimentação (BRASIL, 2001; PERETTI et al., 2004). A qualidade higiênico-sanitária como fator de segurança alimentar tem sido extensamente estudada e discutida, uma vez que as DTAs podem ter várias causas. Além disso, estudos mostraram que a maioria dos surtos tem relação direta com processos

inadequados

e/ou

manipulação

imprópria

nas

residências

dos

consumidores e, muito acentuadamente, em serviços de alimentação de diferentes modalidades e que atendem coletividades diversas (WEINGOLD et al., 1994; MARTINÉZ-TOMÉ et al., 2000; ROSA et al., 2008). Neste sentido, vale destacar que a manipulação inadequada dos alimentos constitui um importante fator de risco para contaminação alimentar, dependendo do tempo de exposição e da matéria-prima manipulada. Ademais, vários outros fatores podem levar à contaminação como ar; pó; higienização inadequada de utensílios, assim como temperatura e conservação impróprias; e o próprio manipulador, podendo este ser responsável direta ou indiretamente (BRASIL, 1993; TEIXEIRA et al., 1997). A Legislação Sanitária Brasileira exige dos estabelecimentos produtores e/ou manipuladores de alimentos a implantação das Boas Práticas de Fabricação, ou simplesmente Boas Práticas (BP), e dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), considerados procedimentos ou etapas universais, que controlam as condições operacionais dentro da indústria alimentícia (BRASIL, 2004). As BP são um conjunto de normas utilizadas para controlar processos operacionais visando à obtenção de alimentos inócuos, abrangendo procedimentos relacionados Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 47 |


às condições das instalações, recepção e armazenamento de alimentos, manutenção de equipamentos, treinamento e higiene dos manipuladores, limpeza e desinfecção, controle de pragas e potabilidade da água (BRASIL, 2004). Os POP podem ser definidos como procedimentos escritos de forma objetiva, que estabelecem instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e específicas na produção, armazenamento e transporte de alimentos, devendo estar sempre disponíveis aos funcionários para consulta, com o objetivo de executar suas instruções adequadamente (BRASIL, 2004). Diversos estudos identificaram problemas na implantação das BP e POP como a ausência de documentação e registros, falta de condições estruturais e instalações adequadas, falta de capacitação, número reduzido de manipuladores de alimentos e limitações de tempo de preparo das refeições nas unidades (CARDOSO et al., 2005; VEIROS et al., 2009). Uma das ferramentas utilizadas para se atingir as BP é a ficha de inspeção ou checklist, que possibilita fazer uma avaliação prévia das condições higiênico-sanitárias de um estabelecimento produtor de alimentos. Esta avaliação inicial permite levantar itens não conformes e, a partir dos dados coletados, planejar ações corretivas para adequação dos requisitos, buscando eliminar e reduzir riscos que possam comprometer os alimentos e a saúde do consumidor (SENAC, 2001; GENTA et al., 2005). A Resolução RDC N° 216, de 15 de setembro de 2004, é a mais recente, em vigor desde março de 2005, e tem como propósito “Estabelecer procedimentos de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, a fim de garantir as condições higiênicosanitárias dos alimentos preparados”. Esta Resolução deve ser seguida por Serviços de Alimentação que realizem as seguintes atividades: manipulação, preparação, transporte, exposição à venda e entrega de alimentos prontos para consumo (BRASIL, 2004; QUINTILIANO et al., 2008). Neste contexto, a implantação das BP representa uma das mais importantes ferramentas para o alcance de níveis adequados de segurança alimentar e, com isso, a garantia da qualidade do produto final (RAMOS, 2001; GERMANO et al., 2000). O presente trabalho teve como objetivo avaliar as condições higiênico-sanitárias de uma lanchonete situada no município de Limoeiro do Norte-CE.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 48 |


2 Materiais e Metódos Para a avaliação das BP foi utilizado um check-list embasado na Resolução RDC N° 216/04, o qual constou de 88 itens de observação, distribuídos em avaliação de vários aspectos do estabelecimento, como edificação e instalações (estrutura e higienização); abastecimento de água; manejo de resíduos; controle integrado de vetores e pragas urbanas; manipuladores; matérias-primas, ingredientes e embalagens; preparação do alimento; exposição ao consumo; documentação e registro e responsabilidade. As opções de resposta para o preenchimento do check-list foram: “Conforme” (C) – quando a lanchonete atendeu o item especificado, “Não Conforme” (NC) – quando o estabelecimento apresentou não conformidade para o item observado e Não Aplicável (NA) – quando o item foi considerado não pertinente ao local pesquisado. Os resultados foram analisados de acordo com o percentual de conformidade com a legislação vigente utilizando-se o programa Excel® 2010. Durante a visita à lanchonete, o check-list foi preenchido através de observações no próprio local, como também por informações fornecidas pelo proprietário do estabelecimento.

3 Resultados e Discussão O percentual de conformidade dos itens avaliados com as exigências constantes na RDC N° 216/04 está apresentado na Tabela 1. Tabela 1- Percentual de conformidade dos itens avaliados de acordo com o estabelecido pela RDC N° 216/04.

Itens avaliados

% de conformidade

Edificação e instalações

15

Higienização da edificação e instalações

8

Controle integrado de vetores e pragas urbanas

40

Abastecimento de água

22

Manejo de resíduos

17

Manipuladores

14

Matérias-primas, ingredientes e embalagens

18

Preparação do alimento

29

Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 49 |


Exposição ao consumo

14

Documentação e registro

0

Responsabilidade

50

Fonte: do autor (2016).

De acordo com a Tabela 1, verificou-se, no presente estudo, um baixo percentual de conformidade para todos os itens avaliados, sobretudo para o item documentação e registro, para o qual observou-se ausência de conformidade, uma vez que a lanchonete visitada não possuía Manual de Boas Práticas de Fabricação (MBP) e Procedimentos Operacionais Padronizados (POP). Resultados semelhantes foram encontrados por Messias et al. (2007), ao avaliarem as condições higiênico-sanitárias de lanchonetes do Rio de Janeiro, constatando que em 25% das lanchonetes pesquisadas não foi observada a implantação do Manual de Boas Práticas de Fabricação. Os mesmos autores observaram, ainda, que entre os principais motivos da não implantação, estava a falta de equipe profissionalizada, bem como a existência de sistema próprio. Rodrigues et al. (2012) em estudo sobre controle de qualidade em Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN’s) de Caxias do Sul-RS, observaram que das 20 UAN’s pesquisadas, 15 utilizavam Boas Práticas (BP) e 10 utilizavam POP como instrumento de controle de qualidade. A maior utilização destas ferramentas de controle de qualidade pode ter ocorrido devido ao aumento nas exigências legais, principalmente após ter entrado em vigor a RDC 216 que é voltada especificamente para serviços de alimentação (BRASIL, 2004). Conforme a Tabela 1, para o item higienização da edificação e instalações também foi observado um baixo percentual de conformidade (15%), o que representa um aspecto negativo, uma vez que uma higienização deficiente favorece o surgimento de DTAs. Jones et al. (2004) ao analisarem serviços de alimentação, verificaram que os equipamentos e utensílios encontravam-se em condições inadequadas de higiene. Evidenciou-se, no atual estudo, um baixo percentual de conformidade para o item manipuladores (Tabela 1). Destaca-se que os manipuladores avaliados apresentaram diversas inadequações em relação às exigências da RDC 216, como o não uso da Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 50 |


touca, utilização de adornos durante a manipulação dos alimentos e falta de capacitação em Boas Práticas de Fabricação. Segundo estudo realizado em UAN’s universitárias da Bahia, Cardoso et al. (2005) observaram que 15% dos manipuladores faziam uso de luvas, 90% usavam adornos, 45% não utilizavam uniformes, quanto ao controle de saúde, 20% não realizavam qualquer tipo de controle de saúde dos manipuladores e que, de modo geral, foram constatadas falhas no cuidado de higiene pessoal, evidenciando a necessidade de reformulação de boas práticas. As condições físicas da edificação e das instalações da lanchonete estudada apresentaram-se em desacordo com a legislação vigente, uma vez que o teto, paredes, portas e piso estavam desgastados, além de apresentar iluminação insuficiente e ausência de lavatório exclusivo para a lavagem das mãos dos manipuladores de alimentos. Castro et al. (2006) ao analisarem as condições higiênico-sanitárias de restaurantes self services no Rio de Janeiro, observaram que os pisos, na grande maioria dos estabelecimentos pesquisados, apresentaram cores inadequadas, avarias, como rachaduras e buracos, e alguns não tinham pisos antiderrapantes. Os autores verificaram, ainda, que os tetos e portas apresentaram problemas quanto ao estado de conservação e adequação em 77,8% dos estabelecimentos. Bramorski et al. (2004) e Deschamps et al. (2003), constataram ausência de lavatórios em panificadoras e confeitarias do município de Joinville – SC e em UAN’s do município de Blumenau-SC, respectivamente, de uso exclusivo para o manipulador e a incorreta apresentação destes dentro da área de produção, assim como, ausência de sabonete líquido e toalha descartável para o adequado procedimento de higienização das mãos. Em relação ao controle integrado de vetores e pragas urbanas foi obtido um percentual de conformidade de 40% (Tabela 1), entretanto, observou-se no atual estudo, a inexistência de ações fundamentais de controle que impedem a atração, o abrigo, o acesso e a proliferação de pragas, tais como, vedar frestas, manter o lixo bem fechado e não guardar objetos em desuso. Yamamoto et al. (2004), ao analisarem restaurantes do município de São Paulo, constataram que o controle de vetores e pragas urbanas revelou-se adequado, porém,

Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 51 |


os estabelecimentos mostraram-se ineficazes em relação às proteções físicas contra insetos e roedores. Quanto ao abastecimento de água da lanchonete pesquisada, observou-se um percentual de conformidade de 22% (Tabela 1), ressaltando-se que a mesma utilizava água potável para a higienização e preparo dos alimentos, mostrando-se, assim, de acordo com a RDC N° 216/04, na qual consta que deve ser utilizada apenas água potável para manipulação de alimentos. Verificou-se, ainda que as inadequações mais frequentes englobaram a higienização do reservatório de água, bem como, a sua integridade física. Mariano e Moura (2008), ao avaliarem BP em uma Unidade Produtora de Refeições do interior de São Paulo, verificaram que, em relação ao item abastecimento de água, a taxa de conformidade foi de 83,3%. Conforme a Tabela 1, o manejo de resíduos da lanchonete avaliada encontrou-se, em grande parte, inadequado (17% de conformidade), apresentando coletores de lixo impróprios para uso em serviços de alimentação. Em estudo citado anteriormente, Mariano e Moura (2008) observaram que o manejo de resíduos apresentou-se deficiente tanto na retirada frequente dos resíduos da área de processamento, quanto da existência de área externa adequada para estoque desses resíduos. Quanto às matérias-primas, ingredientes e embalagens, verificou-se um percentual de

conformidade

de

18%

(Tabela

1),

indicando,

assim,

deficiências

no

estabelecimento quanto a esse aspecto. Esse é um dado que merece atenção, tendo em vista a importância do cuidado com as matérias-primas, ingredientes e embalagens para a garantia da segurança alimentar. Souza et al. (2009) ao pesquisarem uma UAN na cidade de Timóteo-MG, constataram um percentual de adequação deste item de 85%, onde as não conformidades de 15% foram: falta de controle da temperatura das matérias-primas no recebimento e armazenamento e falta de identificação nos itens a serem congelados. Ressalta-se que as não conformidades deste estudo coincidiram com os achados da presente pesquisa. Quanto ao item preparação do alimento, obteve-se 29% de conformidade (Tabela 1). Foi verificado em relação a esse aspecto o descongelamento inadequado e a falta de

Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 52 |


monitoramento da temperatura de armazenamento dos alimentos, bem como, a falta de etiquetas para os alimentos preparados. Em estudo já citado na presente pesquisa, Souza et al. (2009) observaram em relação ao item preparação do alimento, que as inconformidades encontradas englobaram principalmente o não monitoramento do tempo e temperatura em várias etapas da preparação, como cozimento, óleo para frituras, descongelamento e armazenamento. No que diz respeito ao item exposição ao consumo, observou-se um percentual de conformidade de 14% (Tabela 1). A maioria das não conformidades residiu na falta de equipamentos adequados, assim como, na ausência de capacitação dos manipuladores no cuidado com os alimentos preparados. Silva (2010), ao avaliar BP em Unidades Produtoras de Refeição do município de Caruaru-PE, relatou como erros mais comuns relacionados à exposição do alimento para consumo, a inexistência de barreiras de proteção dos equipamentos de exposição do alimento preparado e o não monitoramento da temperatura. Concernente ao item responsabilidade verificou-se um percentual de conformidade de 50% (Tabela 1). Destacou-se quanto a este item a inexistência de responsável técnico devidamente capacitado, conforme exigido pela legislação vigente, sendo esta função, então, desempenhada pelo próprio proprietário da lanchonete. Em oposição a esses resultados, Mariano e Moura (2008) em estudo anteriormente citado, constataram que quanto ao item responsabilidade o resultado de adequação foi de 100%. Foi possível observar que os resultados obtidos no presente estudo não diferiram consideravelmente dos encontrados em pesquisas anteriores, evidenciando-se, dessa forma, uma tendência na ocorrência de não conformidades entre a presente investigação e os outros estudos analisados.

4 Conclusão O estabelecimento avaliado apresentou baixos percentuais de conformidade para todos os itens analisados, demonstrando a necessidade de adequação do mesmo à legislação vigente. Verificou-se que, sob o ponto de vista da segurança alimentar, as refeições produzidas neste estabelecimento representam um risco à saúde de seus clientes, uma vez que

Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 53 |


o mesmo encontra-se inadequado para a realização de atividades relacionadas ao preparo e consumo de alimentos.

REFERÊNCIAS

AKUTSU, R. C.; BOTELHO, R. A.; CAMARGO, E. B.; SÁVIO, K. E. O.; ARAÚJO, W. C. Adequação das boas práticas de fabricação em serviços de alimentação. Revista de Nutrição, Campinas, v. 13, n. 18, p. 419-427, maio/jun. 2005. BRAMORSKI, A.; FERREIRA, A.; KLEIS, G.; DOMINONI, M.; CRESCENCIO, T. M. Perfil higiênico-sanitário de panificadoras e confeitarias do município de Joinville, SC. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 18, n. 123, p. 37-41, ago. 2004. BRASIL. Resolução n. 216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de setembro de 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Integrado de Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde, 2001. 136 p. BRASIL. Portaria n. 1428, de 26 de novembro de 1993. Dispõe sobre o controle de qualidade na área de alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, 2 de dezembro de 1993. CARDOSO, R. C. V.; SOUZA, E. V. A.; SANTOS, P. Q. S. Unidades de alimentação e nutrição nos campi da Universidade Federal da Bahia: um estudo sob a perspectiva do alimento seguro. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 5, p. 669 680, set./out. 2005. CASTRO, F. T.; TABAI, K. C.; BARBOSA, C. G.; DORNA, N. S. Restaurantes self services: situação higiênico-sanitária dos shoppings do município do Rio de Janeiro. Revista Universidade Rural, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 87-101, jul./dez. 2006. DESCHAMPS, C.; FREYGANG, J.; BRAMORSKI, A.; TOMMASI, D.; GARCIA, G. F. Avaliação higiênico-sanitária de cozinhas instaladas no município de Blumenau, SC. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 17, n. 112, p. 12-15. 2003. GENTA, T. M. S.; MAURÍCIO, A. A.; MATIOLI, G. Avaliação das Boas Práticas através de check list aplicado em restaurantes self service da região central de Maringá, PR. Acta Scientiarum Health Sciences, Maringá, v. 27, n. 2, p.151-156. 2005. GERMANO, M. I. S.; GERMANO, P. M. L.; KAMEI, C. A. K.; ABREU, E. S.; RIBEIRO, E. R.; SILVA, K. C.; LAMARDO, L. C. A.; ROCHA, M. F. G.; VIEIRA, V. K. Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 54 |


I.; KAWASAKI, V. M. Manipuladores de alimentos: Capacitar? É preciso. Regulamentar? Será preciso??? Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 14, n. 78, p. 18-22, nov./dez. 2000.

JONES, T. F.; PAVLIN, B. I.; LAFLEUR, B. J.; INGRAM, L. A.; SCHAFFNER, W. Restaurants inspections scores and foodborn disease. Emerging Infectious Diseases, United States, v. 10, n. 4, apr. 2004. MARIANO, C. G.; MOURA, P. N. Avaliação das Boas Práticas de Fabricação em Unidade Produtora de Refeições (UPR) auto-gestão do interior do estado de São Paulo. Revista Salus, Guarapuava, v. 2, n. 2, p. 73-81, jul./dez. 2008. MARTINÉZ-TOMÉ, M.; VERA, A. M.; MURCIA, M. A. Improving the control of food production in catering establishments with particular reference to the safety of salads. Food Control, Netherlands, v. 11, n. 6, p. 437-445, dec. 2000. MESSIAS, G. M.; TABAI, K. C.; BARBOSA, C. G. Condições higiênico-sanitárias: situação das lanchonetes do tipo fast food do Rio de Janeiro, RJ. Revista Universidade Rural, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 48-58, jan./jun. 2007. PERETTI, A. P. R.; SPEZIA, D. S.; ARAÚJO, W. M. C. Certificação de qualidade no segmento de food service. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 18, n. 121, p.14-18, jun. 2004. QUINTILIANO, C. R.; SANTOS, T. A.; PAULINO, T. S. T.; SCHATTAN, R. B.; GOLLUCKE, A. P. B. Avaliação das condições higiênico-sanitárias em restaurantes, com aplicação de ficha de inspeção baseada na legislação federal RDC 216/2004, Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 22, n. 160, p. 25-30, abr. 2008. RAMOS, A. M. F. Manual para funcionários na área de alimentação e treinamento para copeiras hospitalares. São Paulo: Varela, 2001. 107 p. RODRIGUES, K. L.; ALEIXO, J. A. G.; SILVA, J. A. Controle de qualidade em Unidades de Alimentação e Nutrição de Caxias do Sul-RS. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 26, n. 206, p. 31-36, mar./abr. 2012. ROSA, M. S.; NEGREIROS, S. R. F.; SEABRA, L. M. J.; STAMFORD, T. N. L. Monitoramento de tempo e temperatura de distribuição de preparações à base de carne em escolas municipais de Natal (RN), Brasil. Revista de Nutrição, Campinas, v. 21, n. 1, p. 21-28, jan./fev. 2008. SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. Manual de elementos de apoio para o sistema APPCC. Rio de Janeiro: SENAC/Departamento Nacional, 2001. SILVA, G. P. Avaliação das Boas Práticas em Unidades Produtoras de Refeição dos hotéis do município de Caruaru-PE. 2010. 45 f. Monografia (Graduação em Nutrição) – Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru, 2010. Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 55 |


SOUZA, C. H.; SATHLER, J.; JORGE, M. N.; HORST, R. F. M. L. Avaliação das condições higiênico sanitárias em uma Unidade de Alimentação e Nutrição hoteleira, na cidade de Timóteo-MG. Revista Nutrir Gerais, Ipatinga, v. 3, n. 4, p. 312-329, fev./jul. 2009. TEIXEIRA, S. F. M. G.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGGO, J. C.; BISCONTINI, T. M. B. Administração Aplicada as Unidades de Alimentação e Nutrição. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 1997. 230 p. VEIGA, C. F.; DORO, D. L.; OLIVEIRA, K. M. P.; BOMBO, D. L. Estudo das condições sanitárias de estabelecimentos comerciais de manipulação de alimentos do município de Maringá, PR. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 20, n. 138, p. 28-35, jan./fev. 2006. VEIROS, M. B.; PROENÇA, R. P. C.; SANTOS, M. C. T.; KENT-SMITH, L.; ROCHA, A. Food safety practices in a Portuguese canteen. Food Control, Netherlands, v. 20, n. 10, p. 936-941, oct. 2009. WEINGOLD, S. E.; GUZEWICH, J.; FUDALA, J. K. Use of foodborne disease data for HACCP risk assessment. Journal of Food Protection, United States, v. 57, n. 9, p. 820-830, sep. 1994. YAMAMOTO, D. C.; MARLET, E. F.; SILVA, F. R.; SANTOS, L. C. C. A. Caracterização das condições higiênico-sanitárias dos restaurantes “fast foof” de dois “shopping-centers”, em diferentes regiões do município de São Paulo. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 18, n. 122, p. 14-20, jul. 2004.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 45-56, fev. 2017.

Página 56 |


Relato de acidente botrópico que resultou em amputação

Nomário Pedroso Lacerda Acadêmico de Medicina – Universidade Federal da Paraíba. E-mail: nomariopedrosa@hotmail.com Monique de Oliveira Maia Graduada em Tecnologia de Alimentos, Mestre em Tecnologia de Alimentos, cursando o Doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará.

Registro DOI: http://dx.doi.org/10.22280/revintervol10ed1.271

Resumo O consumo de alimentos fora do domicílio tem aumentado nos últimos anos, levando, assim, à necessidade de adequação dos estabelecimentos produtores de refeições às legislações sanitárias vigentes. O presente trabalho objetivou avaliar as condições higiênico-sanitárias de uma lanchonete situada no município de Limoeiro do NorteCE. Foi utilizado um check-list embasado na Resolução RDC N° 216/04, o qual constou de 88 itens de observação, distribuídos em avaliação de vários aspectos do estabelecimento, como edificação e instalações (estrutura e higienização); abastecimento de água; manejo de resíduos; controle integrado de vetores e pragas urbanas; manipuladores; matérias-primas, ingredientes e embalagens; preparação do alimento; exposição ao consumo; documentação e registro e responsabilidade, contendo as opções de resposta: “Conforme” (C), “Não Conforme” (NC) e Não Aplicável (NA). Verificou-se, no presente estudo, um baixo percentual de conformidade para todos os itens avaliados. Concluiu-se, portanto, que as refeições produzidas neste estabelecimento representam um risco à saúde de seus clientes, uma vez que o mesmo encontra-se inadequado para a realização de atividades relacionadas ao preparo e consumo de alimentos. Palavras-chave: Boas práticas. Controle de qualidade. Segurança alimentar.

Evaluation of the sanitary hygienic conditions of a snack bar in the city of Limoeiro do Norte-CE

Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 57 |


Abstract Food consumption outside the home has increased in recent years, thus leading to the need for adequacy of dining establishments producing the current health legislation. This study aimed to evaluate the sanitary hygienic conditions of a snack bar located in city of Limoeiro do Norte-CE. We used a checklist based in the RDC Resolution N° 216/04, which consisted of 88 items of observation distributed in evaluating various aspects of establishment, such as building and facilities (structure and cleaning); water supply; waste management; integrated vector management and urban pests; handlers; raw materials, ingredients and packaging; food preparation; exposure to consumption; documentation and registration and liability, containing the response options: "Compliance" (C), "Non Compliance" (NC) and Not Applicable (NA). It was found in this study, a low percentage of compliance for all items. It was concluded, therefore, that the meals produced at this establishment pose a risk to the health of their customers, since it is inappropriate for carrying out activities related to the preparation and consumption of food. Keywords: Good Practice. Quality control. Food Security.

Recebido em 17/05//2016 Aceito em 22/11/2016

1 Introdução Tem-se observado nos últimos anos, a expansão do consumo de alimentos fora das residências, devido, principalmente, às mudanças no estilo de vida, à maior participação da mulher no mercado de trabalho e à concentração populacional nos grandes centros urbanos, causando um significativo aumento nos serviços de alimentação (VEIGA et al., 2006). O segmento de serviços de alimentação envolve todos os estabelecimentos relacionados à alimentação fora do lar como restaurantes comerciais, restaurantes de hotéis, serviços de motéis, coffee shops, buffets, lanchonetes, cozinhas industriais, fast food, catering e cozinhas de hospitais (PAYNE-PALÁCIO Apud AKUTSU et al., 2005). Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 58 |


Observa-se, simultaneamente ao crescimento dos serviços de alimentação, o aumento da ocorrência de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs), que podem ser definidas como uma síndrome ou doença originada pela ingestão de água e/ou de alimentos contaminados por microrganismos, toxinas e/ou outros agentes químicos ou físicos (BRASIL, 2001). A ocorrência das DTAs vem aumentando de modo expressivo em todo o mundo e vários são os fatores que contribuem para sua emergência, destacando-se o crescente aumento da população, a existência de grupos populacionais vulneráveis, o processo de urbanização desordenado, a necessidade de produção de alimentos em grande escala e a deficiência dos órgãos públicos e privados no que se refere à qualidade dos alimentos ofertados às populações, tornando, desta forma, a segurança do alimento a principal preocupação com relação ao segmento dos serviços de alimentação (BRASIL, 2001; PERETTI et al., 2004). A qualidade higiênico-sanitária como fator de segurança alimentar tem sido extensamente estudada e discutida, uma vez que as DTAs podem ter várias causas. Além disso, estudos mostraram que a maioria dos surtos tem relação direta com processos

inadequados

e/ou

manipulação

imprópria

nas

residências

dos

consumidores e, muito acentuadamente, em serviços de alimentação de diferentes modalidades e que atendem coletividades diversas (WEINGOLD et al., 1994; MARTINÉZ-TOMÉ et al., 2000; ROSA et al., 2008). Neste sentido, vale destacar que a manipulação inadequada dos alimentos constitui um importante fator de risco para contaminação alimentar, dependendo do tempo de exposição e da matéria-prima manipulada. Ademais, vários outros fatores podem levar à contaminação como ar; pó; higienização inadequada de utensílios, assim como temperatura e conservação impróprias; e o próprio manipulador, podendo este ser responsável direta ou indiretamente (BRASIL, 1993; TEIXEIRA et al., 1997). A Legislação Sanitária Brasileira exige dos estabelecimentos produtores e/ou manipuladores de alimentos a implantação das Boas Práticas de Fabricação, ou simplesmente Boas Práticas (BP), e dos Procedimentos Operacionais Padronizados (POP), considerados procedimentos ou etapas universais, que controlam as condições operacionais dentro da indústria alimentícia (BRASIL, 2004). As BP são um conjunto de normas utilizadas para controlar processos operacionais visando à obtenção de alimentos inócuos, abrangendo procedimentos relacionados Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 59 |


às condições das instalações, recepção e armazenamento de alimentos, manutenção de equipamentos, treinamento e higiene dos manipuladores, limpeza e desinfecção, controle de pragas e potabilidade da água (BRASIL, 2004). Os POP podem ser definidos como procedimentos escritos de forma objetiva, que estabelecem instruções sequenciais para a realização de operações rotineiras e específicas na produção, armazenamento e transporte de alimentos, devendo estar sempre disponíveis aos funcionários para consulta, com o objetivo de executar suas instruções adequadamente (BRASIL, 2004). Diversos estudos identificaram problemas na implantação das BP e POP como a ausência de documentação e registros, falta de condições estruturais e instalações adequadas, falta de capacitação, número reduzido de manipuladores de alimentos e limitações de tempo de preparo das refeições nas unidades (CARDOSO et al., 2005; VEIROS et al., 2009). Uma das ferramentas utilizadas para se atingir as BP é a ficha de inspeção ou checklist, que possibilita fazer uma avaliação prévia das condições higiênico-sanitárias de um estabelecimento produtor de alimentos. Esta avaliação inicial permite levantar itens não conformes e, a partir dos dados coletados, planejar ações corretivas para adequação dos requisitos, buscando eliminar e reduzir riscos que possam comprometer os alimentos e a saúde do consumidor (SENAC, 2001; GENTA et al., 2005). A Resolução RDC N° 216, de 15 de setembro de 2004, é a mais recente, em vigor desde março de 2005, e tem como propósito “Estabelecer procedimentos de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, a fim de garantir as condições higiênicosanitárias dos alimentos preparados”. Esta Resolução deve ser seguida por Serviços de Alimentação que realizem as seguintes atividades: manipulação, preparação, transporte, exposição à venda e entrega de alimentos prontos para consumo (BRASIL, 2004; QUINTILIANO et al., 2008). Neste contexto, a implantação das BP representa uma das mais importantes ferramentas para o alcance de níveis adequados de segurança alimentar e, com isso, a garantia da qualidade do produto final (RAMOS, 2001; GERMANO et al., 2000). O presente trabalho teve como objetivo avaliar as condições higiênico-sanitárias de uma lanchonete situada no município de Limoeiro do Norte-CE.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 60 |


2 Materiais e Metódos Para a avaliação das BP foi utilizado um check-list embasado na Resolução RDC N° 216/04, o qual constou de 88 itens de observação, distribuídos em avaliação de vários aspectos do estabelecimento, como edificação e instalações (estrutura e higienização); abastecimento de água; manejo de resíduos; controle integrado de vetores e pragas urbanas; manipuladores; matérias-primas, ingredientes e embalagens; preparação do alimento; exposição ao consumo; documentação e registro e responsabilidade. As opções de resposta para o preenchimento do check-list foram: “Conforme” (C) – quando a lanchonete atendeu o item especificado, “Não Conforme” (NC) – quando o estabelecimento apresentou não conformidade para o item observado e Não Aplicável (NA) – quando o item foi considerado não pertinente ao local pesquisado. Os resultados foram analisados de acordo com o percentual de conformidade com a legislação vigente utilizando-se o programa Excel® 2010. Durante a visita à lanchonete, o check-list foi preenchido através de observações no próprio local, como também por informações fornecidas pelo proprietário do estabelecimento.

3 Resultados e Discussão O percentual de conformidade dos itens avaliados com as exigências constantes na RDC N° 216/04 está apresentado na Tabela 1. Tabela 1- Percentual de conformidade dos itens avaliados de acordo com o estabelecido pela RDC N° 216/04.

Itens avaliados

% de conformidade

Edificação e instalações

15

Higienização da edificação e instalações

8

Controle integrado de vetores e pragas urbanas

40

Abastecimento de água

22

Manejo de resíduos

17

Manipuladores

14

Matérias-primas, ingredientes e embalagens

18

Preparação do alimento

29

Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 61 |


Exposição ao consumo

14

Documentação e registro

0

Responsabilidade

50

Fonte: do autor (2016).

De acordo com a Tabela 1, verificou-se, no presente estudo, um baixo percentual de conformidade para todos os itens avaliados, sobretudo para o item documentação e registro, para o qual observou-se ausência de conformidade, uma vez que a lanchonete visitada não possuía Manual de Boas Práticas de Fabricação (MBP) e Procedimentos Operacionais Padronizados (POP). Resultados semelhantes foram encontrados por Messias et al. (2007), ao avaliarem as condições higiênico-sanitárias de lanchonetes do Rio de Janeiro, constatando que em 25% das lanchonetes pesquisadas não foi observada a implantação do Manual de Boas Práticas de Fabricação. Os mesmos autores observaram, ainda, que entre os principais motivos da não implantação, estava a falta de equipe profissionalizada, bem como a existência de sistema próprio. Rodrigues et al. (2012) em estudo sobre controle de qualidade em Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN’s) de Caxias do Sul-RS, observaram que das 20 UAN’s pesquisadas, 15 utilizavam Boas Práticas (BP) e 10 utilizavam POP como instrumento de controle de qualidade. A maior utilização destas ferramentas de controle de qualidade pode ter ocorrido devido ao aumento nas exigências legais, principalmente após ter entrado em vigor a RDC 216 que é voltada especificamente para serviços de alimentação (BRASIL, 2004). Conforme a Tabela 1, para o item higienização da edificação e instalações também foi observado um baixo percentual de conformidade (15%), o que representa um aspecto negativo, uma vez que uma higienização deficiente favorece o surgimento de DTAs. Jones et al. (2004) ao analisarem serviços de alimentação, verificaram que os equipamentos e utensílios encontravam-se em condições inadequadas de higiene. Evidenciou-se, no atual estudo, um baixo percentual de conformidade para o item manipuladores (Tabela 1). Destaca-se que os manipuladores avaliados apresentaram diversas inadequações em relação às exigências da RDC 216, como o não uso da Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 62 |


touca, utilização de adornos durante a manipulação dos alimentos e falta de capacitação em Boas Práticas de Fabricação. Segundo estudo realizado em UAN’s universitárias da Bahia, Cardoso et al. (2005) observaram que 15% dos manipuladores faziam uso de luvas, 90% usavam adornos, 45% não utilizavam uniformes, quanto ao controle de saúde, 20% não realizavam qualquer tipo de controle de saúde dos manipuladores e que, de modo geral, foram constatadas falhas no cuidado de higiene pessoal, evidenciando a necessidade de reformulação de boas práticas. As condições físicas da edificação e das instalações da lanchonete estudada apresentaram-se em desacordo com a legislação vigente, uma vez que o teto, paredes, portas e piso estavam desgastados, além de apresentar iluminação insuficiente e ausência de lavatório exclusivo para a lavagem das mãos dos manipuladores de alimentos. Castro et al. (2006) ao analisarem as condições higiênico-sanitárias de restaurantes self services no Rio de Janeiro, observaram que os pisos, na grande maioria dos estabelecimentos pesquisados, apresentaram cores inadequadas, avarias, como rachaduras e buracos, e alguns não tinham pisos antiderrapantes. Os autores verificaram, ainda, que os tetos e portas apresentaram problemas quanto ao estado de conservação e adequação em 77,8% dos estabelecimentos. Bramorski et al. (2004) e Deschamps et al. (2003), constataram ausência de lavatórios em panificadoras e confeitarias do município de Joinville – SC e em UAN’s do município de Blumenau-SC, respectivamente, de uso exclusivo para o manipulador e a incorreta apresentação destes dentro da área de produção, assim como, ausência de sabonete líquido e toalha descartável para o adequado procedimento de higienização das mãos. Em relação ao controle integrado de vetores e pragas urbanas foi obtido um percentual de conformidade de 40% (Tabela 1), entretanto, observou-se no atual estudo, a inexistência de ações fundamentais de controle que impedem a atração, o abrigo, o acesso e a proliferação de pragas, tais como, vedar frestas, manter o lixo bem fechado e não guardar objetos em desuso. Yamamoto et al. (2004), ao analisarem restaurantes do município de São Paulo, constataram que o controle de vetores e pragas urbanas revelou-se adequado, porém,

Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 63 |


os estabelecimentos mostraram-se ineficazes em relação às proteções físicas contra insetos e roedores. Quanto ao abastecimento de água da lanchonete pesquisada, observou-se um percentual de conformidade de 22% (Tabela 1), ressaltando-se que a mesma utilizava água potável para a higienização e preparo dos alimentos, mostrando-se, assim, de acordo com a RDC N° 216/04, na qual consta que deve ser utilizada apenas água potável para manipulação de alimentos. Verificou-se, ainda que as inadequações mais frequentes englobaram a higienização do reservatório de água, bem como, a sua integridade física. Mariano e Moura (2008), ao avaliarem BP em uma Unidade Produtora de Refeições do interior de São Paulo, verificaram que, em relação ao item abastecimento de água, a taxa de conformidade foi de 83,3%. Conforme a Tabela 1, o manejo de resíduos da lanchonete avaliada encontrou-se, em grande parte, inadequado (17% de conformidade), apresentando coletores de lixo impróprios para uso em serviços de alimentação. Em estudo citado anteriormente, Mariano e Moura (2008) observaram que o manejo de resíduos apresentou-se deficiente tanto na retirada frequente dos resíduos da área de processamento, quanto da existência de área externa adequada para estoque desses resíduos. Quanto às matérias-primas, ingredientes e embalagens, verificou-se um percentual de

conformidade

de

18%

(Tabela

1),

indicando,

assim,

deficiências

no

estabelecimento quanto a esse aspecto. Esse é um dado que merece atenção, tendo em vista a importância do cuidado com as matérias-primas, ingredientes e embalagens para a garantia da segurança alimentar. Souza et al. (2009) ao pesquisarem uma UAN na cidade de Timóteo-MG, constataram um percentual de adequação deste item de 85%, onde as não conformidades de 15% foram: falta de controle da temperatura das matérias-primas no recebimento e armazenamento e falta de identificação nos itens a serem congelados. Ressalta-se que as não conformidades deste estudo coincidiram com os achados da presente pesquisa. Quanto ao item preparação do alimento, obteve-se 29% de conformidade (Tabela 1). Foi verificado em relação a esse aspecto o descongelamento inadequado e a falta de

Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 64 |


monitoramento da temperatura de armazenamento dos alimentos, bem como, a falta de etiquetas para os alimentos preparados. Em estudo já citado na presente pesquisa, Souza et al. (2009) observaram em relação ao item preparação do alimento, que as inconformidades encontradas englobaram principalmente o não monitoramento do tempo e temperatura em várias etapas da preparação, como cozimento, óleo para frituras, descongelamento e armazenamento. No que diz respeito ao item exposição ao consumo, observou-se um percentual de conformidade de 14% (Tabela 1). A maioria das não conformidades residiu na falta de equipamentos adequados, assim como, na ausência de capacitação dos manipuladores no cuidado com os alimentos preparados. Silva (2010), ao avaliar BP em Unidades Produtoras de Refeição do município de Caruaru-PE, relatou como erros mais comuns relacionados à exposição do alimento para consumo, a inexistência de barreiras de proteção dos equipamentos de exposição do alimento preparado e o não monitoramento da temperatura. Concernente ao item responsabilidade verificou-se um percentual de conformidade de 50% (Tabela 1). Destacou-se quanto a este item a inexistência de responsável técnico devidamente capacitado, conforme exigido pela legislação vigente, sendo esta função, então, desempenhada pelo próprio proprietário da lanchonete. Em oposição a esses resultados, Mariano e Moura (2008) em estudo anteriormente citado, constataram que quanto ao item responsabilidade o resultado de adequação foi de 100%. Foi possível observar que os resultados obtidos no presente estudo não diferiram consideravelmente dos encontrados em pesquisas anteriores, evidenciando-se, dessa forma, uma tendência na ocorrência de não conformidades entre a presente investigação e os outros estudos analisados.

4 Conclusão O estabelecimento avaliado apresentou baixos percentuais de conformidade para todos os itens analisados, demonstrando a necessidade de adequação do mesmo à legislação vigente. Verificou-se que, sob o ponto de vista da segurança alimentar, as refeições produzidas neste estabelecimento representam um risco à saúde de seus clientes, uma vez que

Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 65 |


o mesmo encontra-se inadequado para a realização de atividades relacionadas ao preparo e consumo de alimentos.

REFERÊNCIAS

AKUTSU, R. C.; BOTELHO, R. A.; CAMARGO, E. B.; SÁVIO, K. E. O.; ARAÚJO, W. C. Adequação das boas práticas de fabricação em serviços de alimentação. Revista de Nutrição, Campinas, v. 13, n. 18, p. 419-427, maio/jun. 2005. BRAMORSKI, A.; FERREIRA, A.; KLEIS, G.; DOMINONI, M.; CRESCENCIO, T. M. Perfil higiênico-sanitário de panificadoras e confeitarias do município de Joinville, SC. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 18, n. 123, p. 37-41, ago. 2004. BRASIL. Resolução n. 216, de 15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de setembro de 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual Integrado de Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde, 2001. 136 p. BRASIL. Portaria n. 1428, de 26 de novembro de 1993. Dispõe sobre o controle de qualidade na área de alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, 2 de dezembro de 1993. CARDOSO, R. C. V.; SOUZA, E. V. A.; SANTOS, P. Q. S. Unidades de alimentação e nutrição nos campi da Universidade Federal da Bahia: um estudo sob a perspectiva do alimento seguro. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 5, p. 669 680, set./out. 2005. CASTRO, F. T.; TABAI, K. C.; BARBOSA, C. G.; DORNA, N. S. Restaurantes self services: situação higiênico-sanitária dos shoppings do município do Rio de Janeiro. Revista Universidade Rural, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 87-101, jul./dez. 2006. DESCHAMPS, C.; FREYGANG, J.; BRAMORSKI, A.; TOMMASI, D.; GARCIA, G. F. Avaliação higiênico-sanitária de cozinhas instaladas no município de Blumenau, SC. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 17, n. 112, p. 12-15. 2003. GENTA, T. M. S.; MAURÍCIO, A. A.; MATIOLI, G. Avaliação das Boas Práticas através de check list aplicado em restaurantes self service da região central de Maringá, PR. Acta Scientiarum Health Sciences, Maringá, v. 27, n. 2, p.151-156. 2005. GERMANO, M. I. S.; GERMANO, P. M. L.; KAMEI, C. A. K.; ABREU, E. S.; RIBEIRO, E. R.; SILVA, K. C.; LAMARDO, L. C. A.; ROCHA, M. F. G.; VIEIRA, V. K. Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 66 |


I.; KAWASAKI, V. M. Manipuladores de alimentos: Capacitar? É preciso. Regulamentar? Será preciso??? Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 14, n. 78, p. 18-22, nov./dez. 2000.

JONES, T. F.; PAVLIN, B. I.; LAFLEUR, B. J.; INGRAM, L. A.; SCHAFFNER, W. Restaurants inspections scores and foodborn disease. Emerging Infectious Diseases, United States, v. 10, n. 4, apr. 2004. MARIANO, C. G.; MOURA, P. N. Avaliação das Boas Práticas de Fabricação em Unidade Produtora de Refeições (UPR) auto-gestão do interior do estado de São Paulo. Revista Salus, Guarapuava, v. 2, n. 2, p. 73-81, jul./dez. 2008. MARTINÉZ-TOMÉ, M.; VERA, A. M.; MURCIA, M. A. Improving the control of food production in catering establishments with particular reference to the safety of salads. Food Control, Netherlands, v. 11, n. 6, p. 437-445, dec. 2000. MESSIAS, G. M.; TABAI, K. C.; BARBOSA, C. G. Condições higiênico-sanitárias: situação das lanchonetes do tipo fast food do Rio de Janeiro, RJ. Revista Universidade Rural, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 48-58, jan./jun. 2007. PERETTI, A. P. R.; SPEZIA, D. S.; ARAÚJO, W. M. C. Certificação de qualidade no segmento de food service. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 18, n. 121, p.14-18, jun. 2004. QUINTILIANO, C. R.; SANTOS, T. A.; PAULINO, T. S. T.; SCHATTAN, R. B.; GOLLUCKE, A. P. B. Avaliação das condições higiênico-sanitárias em restaurantes, com aplicação de ficha de inspeção baseada na legislação federal RDC 216/2004, Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 22, n. 160, p. 25-30, abr. 2008. RAMOS, A. M. F. Manual para funcionários na área de alimentação e treinamento para copeiras hospitalares. São Paulo: Varela, 2001. 107 p. RODRIGUES, K. L.; ALEIXO, J. A. G.; SILVA, J. A. Controle de qualidade em Unidades de Alimentação e Nutrição de Caxias do Sul-RS. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 26, n. 206, p. 31-36, mar./abr. 2012. ROSA, M. S.; NEGREIROS, S. R. F.; SEABRA, L. M. J.; STAMFORD, T. N. L. Monitoramento de tempo e temperatura de distribuição de preparações à base de carne em escolas municipais de Natal (RN), Brasil. Revista de Nutrição, Campinas, v. 21, n. 1, p. 21-28, jan./fev. 2008. SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. Manual de elementos de apoio para o sistema APPCC. Rio de Janeiro: SENAC/Departamento Nacional, 2001. SILVA, G. P. Avaliação das Boas Práticas em Unidades Produtoras de Refeição dos hotéis do município de Caruaru-PE. 2010. 45 f. Monografia (Graduação em Nutrição) – Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru, 2010. Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 67 |


SOUZA, C. H.; SATHLER, J.; JORGE, M. N.; HORST, R. F. M. L. Avaliação das condições higiênico sanitárias em uma Unidade de Alimentação e Nutrição hoteleira, na cidade de Timóteo-MG. Revista Nutrir Gerais, Ipatinga, v. 3, n. 4, p. 312-329, fev./jul. 2009. TEIXEIRA, S. F. M. G.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGGO, J. C.; BISCONTINI, T. M. B. Administração Aplicada as Unidades de Alimentação e Nutrição. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 1997. 230 p. VEIGA, C. F.; DORO, D. L.; OLIVEIRA, K. M. P.; BOMBO, D. L. Estudo das condições sanitárias de estabelecimentos comerciais de manipulação de alimentos do município de Maringá, PR. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 20, n. 138, p. 28-35, jan./fev. 2006. VEIROS, M. B.; PROENÇA, R. P. C.; SANTOS, M. C. T.; KENT-SMITH, L.; ROCHA, A. Food safety practices in a Portuguese canteen. Food Control, Netherlands, v. 20, n. 10, p. 936-941, oct. 2009. WEINGOLD, S. E.; GUZEWICH, J.; FUDALA, J. K. Use of foodborne disease data for HACCP risk assessment. Journal of Food Protection, United States, v. 57, n. 9, p. 820-830, sep. 1994. YAMAMOTO, D. C.; MARLET, E. F.; SILVA, F. R.; SANTOS, L. C. C. A. Caracterização das condições higiênico-sanitárias dos restaurantes “fast foof” de dois “shopping-centers”, em diferentes regiões do município de São Paulo. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v. 18, n. 122, p. 14-20, jul. 2004.

Revinter, v. 10, n. 01, p. 57-68, Fev. 2017.

Página 68 |


resenha Karina Gonzalez Graduada em Biomedicina pela Universidade Nove de Julho. Natalia C. M. de Sousa Graduada em Química pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. E-mail: n.sousa@intertox.com.br

Thanatotranscriptome: genes actively expressed after organismal death Alexander E Pozhitkov; Rafik Neme; Tomislav Domazet-Loso; Brian Leroux; Shivani Soni; Diethard Tautz; Peter Anthony Noble.

Recebido em 02/09/2016 Aceito em 30/09/2016

Estudo mostra que pelo menos um dos aspectos da vida continua: Genes permanecem ativos alguns dias após a morte de animais. Os investigadores podem ser capazes de apostar em melhores maneiras de preservar órgãos doados para transplantes e métodos mais precisos de determinar quando vítimas de assassinato foram mortas. O interesse principal do estudo, realizado pela equipe do microbiologista Peter Noble da Universidade de Washington, era testar um novo método que haviam desenvolvido para calibrar medições da atividade genética. "O título deste estudo é que, provavelmente, podemos obter uma série de informações sobre a vida estudando a morte” - Peter Noble A equipe mediu qual desses genes estavam funcionando em tecidos de camundongos recém-falecidos e peixe-zebra, com mudanças de rastreamento durante um período de quatro dias no peixe e dois dias nos roedores. A maioria desses genes “zumbis” não eram aleatórios em termos de função, cada um deles exercia um papel importante quando o animal passava por algum tipo de trauma ou doença. Por exemplo, alguns Revinter, v. 10, n. 1, p. 69-70, fev. 2017.

P á g i n a 69


genes eram responsáveis por estimular inflamações e o sistema imunológico, enquanto outros combatiam o estresse. Outros genes apresentaram resultados surpreendentes, como os genes do desenvolvimento, que geralmente ajudam na formação do embrião, mas não são necessários após o nascimento. Noble suspeita que esse gene se torna ativo porque o ambiente celular nos cadáveres, de alguma forma, lembra aquele encontrado em embriões. Uma coisa importante a destacar é que muitos dos genes que promovem câncer também estavam ativos. Esse resultado poderia explicar porque as pessoas que recebem transplantes do recentemente falecido têm um maior risco de câncer, diz Noble. O segundo estudo, também com Noble como um dos coautores, mostrou que avaliações semelhantes da atividade genética após a morte podem ser usadas em investigações criminais e civis. Equipes forenses podem obter amostras genéticas da cena do crime, por exemplo, para chegar a uma estimativa melhor da hora da morte. As avaliações genéticas não foram realizadas em cadáveres humanos, porém, se o mesmo se aplicar a nós, isso pode mudar a maneira como percebemos os recémmortos e também como definimos a morte. No entanto, pesquisas mais aprofundadas serão necessárias antes de concluirmos alguma coisa sobre esses estudos fascinantes.

POZHITKOV, Alexander e et al. Thanatotranscriptome: genes actively expressed after organismal death. Open Biology, [s.l.], p.1-55, 10 jun. 2016. Cold Spring Harbor Laboratory Press. http://dx.doi.org/10.1101/058305. Disponível em: <http://biorxiv.org/content/early/2016/06/11/058305>. Acesso em: 07 fev. 2017.

Revinter, v. 10, n. 1, p. 69-70, fev. 2017.

P á g i n a 70


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.