Revinter Revista da Toxicologia -Volume 7 Número 3 Out de 2014 - São Paulo

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ISSN 1984-3577

S達o Paulo, v. 7, n. 3, out. 2014


 2014 Intertox Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte. As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda. Seções Artigo Original; Artigo de Atualização; Comunicação Breve; Ensaio; Nota de Atualização e Revisão; Notas Idiomas de Publicação Português e Inglês Contribuições devem ser enviadas para <m.flynn@intertox.com.br>. Disponível em: <http://revinter.intertox.com.br>. Normalização e Produção Web site Henry Douglas Capa Henry Douglas Projeto Gráfico Henry Douglas RevInter – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade. / InterTox uma empresa do conhecimento. – v. 7, n. 3, (out. 2014).- São Paulo: Intertox. 2014. Quadrimestral ISSN: 1984-3577 1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento. Biblioteca InterTox II. Título.

1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento. Biblioteca InterTox II. Título. Rua Turiassú, 390 - cj. 95 - Perdizes - 05005-000 - São Paulo - SP – Brasil Tel.: 55 11 3872-8970

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Expediente Editor(a) Maurea Nicoletti Flynn Doutora em Oceanografia (USP) Com Especialização Ecologia Comitê Científico (2011-2013) Irene Videira Lima Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML-SP por 22 anos. Marcus E. M. da Matta Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP). Engenheiro Ambiental e Turismólogo. Moysés Chasin Farmacêutico-bioquímico pela UNESP-SP especializado em Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública. Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe especial e Diretor no Serviço Técnico de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal da SSP/São Paulo. Diretor executivo da InterTox desde 1999. Ricardo Baroud Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor Científico da PLURAIS Revista Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA Revista Baiana de Tecnologia.

Conselho Editorial Científico (2011-2013) Alice A. da Matta Chasin Doutora em Toxicologia (USP) Eduardo Athayde Coordenador no Brasil do WWI - World Watch Institute Eustáquio Linhares Borges Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, exProfessor Adjunto de Toxicologia da UFBA. Fausto Antonio de Azevedo Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA, ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia. Isarita Martins Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas (USP), Pós-doutorado em Química Analítica (UNICAMP), FarmacêuticaBioquímica Universidade Federal de Alfenas MG. João S. Furtado Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado (Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, NC, EUA). José Armando-Jr Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP), Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF). Sylvio de Queiroz Mattoso Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do CEPED-BA.

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Sumário TOXICOLOGIA Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região

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Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos

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Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae)

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SUSTENTABILIDADE A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil

69 101

SOCIEDADE Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA

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Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde

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Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI

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Editorial Revinter inscrita no Sistema Qualis da CAPES A Revinter – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade – é um periódico científico de acesso aberto, quadrimestral (meses de fevereiro, junho e outubro), arbitrado, publicado pela parceria IntertoxEcoadvisor, São Paulo, SP, Brasil e classificado na Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq em Ciências Biológicas - 2.10.07.00-4 – Toxicologia. Sua missão é divulgar a produção científica da Toxicologia, Meio Ambiente e Sociedade, estimulando as contribuições criativas e inéditas do trabalho acadêmico, de pesquisa e do meio empresarial, tanto de autores nacionais como estrangeiros, contribuindo para a discussão e o desenvolvimento do conhecimento nestas áreas. A Revinter tem como objetivos: (a) contribuir para o aumento da produção de conhecimento das comunidades acadêmica e profissional de Toxicologia; (b) servir como canal adequado para veicular avanços conceituais, tecnológicos e de experiências empresarial e profissional; (c) estimular a difusão de conhecimentos que promovem atitudes voltadas ao aumento de competitividade das organizações. Seu foco está na publicação de contribuições científicas no campo das Ciências Toxicológicas, com ênfase em todos os aspectos do gerenciamento dos riscos químico e toxicológico que tenham repercussão sobre o meio ambiente e a sociedade. Além dos números regulares, a Revinter pode editar edições especiais monotemáticas, que abordem temas relevantes que possuam interface com a toxicologia e a sustentabilidade socioambiental. A Revinter aceita a submissão de contribuições de profissionais e pesquisadores de todas as áreas envolvidas com as Ciências Toxicológicas, como as seguintes especialidades, entre outras: Biossegurança; Contabilidade Social e Ambiental; Direito Ambiental; Economia Ambiental; Farmacoepidemiologia; Fármaco-toxicologia; Planejamento Ambiental; Química Ambiental; Resíduos Sólidos, domésticos e industriais; Segurança Alimentar; Sociologia da Saúde; Toxicidade de resíduos de praguicidas; Toxicologia Ambiental; Ecotoxicologia; Toxicologia da Reprodução e do Desenvolvimento; Toxicologia de Alimentos; Toxicologia Forense; Toxicologia Ocupacional; Toxicologia pré-clínica e clínica; Toxicologia Social. As diferentes seções da Revinter são: Toxicologia; Ecotoxicologia; Sustentabilidade e Sociedade. As contribuições são publicadas na forma de: Artigos originais; Comunicações; Ensaios; Informes; Opinião; Revisões. Os originais submetidos para publicação na Revinter, em Português, Espanhol ou Inglês, serão aceitos para análise pressupondo-se que: (a) sejam exclusivamente inéditos; (b) todas as pessoas listadas como autores tenham RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-149, out. 2014.


Editorial aprovado o encaminhamento; (c) qualquer pessoa citada como fonte de comunicação pessoal aprovou a citação; (d) as opiniões emitidas pelos autores sejam de sua exclusiva responsabilidade. O Comitê Editorial faz uma análise preliminar quanto à pertinência e/ou adequação da submissão ao escopo da Revinter. As contribuições recebidas são submetidas à apreciação de dois membros do Conselho Editorial, dentro de suas especialidades. Em caso de empate, um terceiro membro será convidado. A análise é assessorada, quando necessário, por Avaliadores ad hoc. O resultado do parecer do Conselho Editorial é comunicado aos autores, sob anonimato, obedecendo-se o procedimento conhecido por sistema duplo-cego. A Comissão Editorial procederá as alterações de ordem puramente formal, ortográfica e gramatical, visando a manutenção do padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores. Quando se fizerem necessárias modificações substanciais, os autores serão notificados e encarregados de fazê-las. A Revinter adota a filosofia de "acesso aberto", permitindo o acesso gratuito e irrestrito ao seu conteúdo, proporcionando maior democratização mundial do conhecimento. O esforço permanente do grupo que lidera a Revinter resultou em seis anos de publicações ininterruptas até aqui, tendo-se atingido o total de 19 números, com 157 artigos publicados e 195 autores. Desde o lançamento de seu primeiro número, em outubro de 2009, a Revinter já registrou, no total, 257.934 downloads, com média mensal de 3582 downloads. Isso tudo somado possibilitou que a Revinter fosse incluída pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Ministério da Educação (MEC), na classificação do Sistema WebQualis. O Qualis é um sistema de avaliação de periódicos mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no Brasil que relaciona e classifica os veículos utilizados para a divulgação da produção intelectual quanto ao âmbito da circulação (local, nacional ou internacional) e à qualidade (A, B, C). A classificação possui atualização anual e segue uma série de critérios definidos pela CAPES, que inclui o número de exemplares circulantes, número de bases de dados em que está indexado, número de instituições que publicam na revista. Conforme se pode consultar no endereço da internet http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam, a Revinter encontra-se incluída como transcrito abaixo:

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Editorial

Tal fato gera novo alento e força propulsora para que a IntertoxEcoadvisor e todo o corpo de profissionais envolvidos com a Revinter renovem suas forças e a determinação de prosseguir levando adiante essa cruzada pela divulgação do conhecimento e geração de oportunidade para a publicação dos autores brasileiros. Maurea Nicoletti Flynn e Fausto Antonio de Azevedo Conselho Editorial Científico

RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-149, out. 2014.


Artigo original Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região Victor Alves de Oliveira Núcleo de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Saúde e Meio Ambiente - NUPBSAM Aluno do Curso de Nutrição do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Thayse Wilma Nogueira de Oliveira Núcleo de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Saúde e Meio Ambiente - NUPBSAM Aluna do Curso de Nutrição do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Marcus Vinicius Oliveira Barros de Alencar Laboratório de Pesquisa em Genética Toxicológica Aluno da Pós Graduação em Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Ciências

Farmacêuticas

Gilberto Santos Cerqueira Laboratório de Anatomia Universidade Federal do Piauí, CSHNB Doutor do Curso de Nutrição do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

Ana Paula Peron Núcleo de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Saúde e Meio Ambiente - NUPBSAM Professora Doutora do Curso de Ciências Biológicas do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB.

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original João Marcelo de Castro e Sousa* Núcleo de Pesquisa em Biotecnologia Aplicada a Saúde e Meio Ambiente - NUPBSAM Professor Mestre do Curso de Ciências Biológicas do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros – Universidade Federal do Piauí. CSHNB. *Autor para correspondência: João Marcelo de Castro e Sousa, e-mail: j.marcelo@ufpi.edu.br , fone (86) 81006336.

RESUMO No mundo, o câncer de estômago figura como a segunda maior causa de morte por câncer. A relação entre câncer gástrico e nutrição é apontada em vários estudos, sendo a dieta um fator exógeno bastante relevante. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo cruzar dados do perfil alimentar da população do nordeste brasileiro com estudos que investigaram a relação entre as neoplasias gástricas e os principais alimentos consumidos, para explicar a alta incidência desta neoplasia na região. Para isso, foi realizada uma revisão de literatura, por meio de buscas bibliográficas nos bancos de dados informatizados Medline/Pubmed, Scielo e Lilacs, no período de maio a julho de 2013, considerando artigos que investigaram a relação entre neoplasias gástricas e a alimentação. Foram encontrados 43 artigos, dos quais 21 atenderam aos critérios de inclusão do estudo, e estes foram divididos em dois grupos. O primeiro com as características alimentares do nordeste, e o segundo, a influência dos alimentos tradicionais nas neoplasias gástricas. Analisando os artigos: arroz, café, feijão, carne e refrigerantes estão entre os principais alimentos consumidos pela população nordestina e alguns desses alimentos possuem, na sua composição ou na sua conservação, substâncias carcinogênicas. Observou-se também que alguns alimentos, ditos preventivos para tal patologia, são os menos consumidos pela população dessa região. Portanto, pode-se notar que a alimentação da população nordestina parece possui uma estreita relação com o desenvolvimento e a alta incidência do câncer gástrico, sendo um fator de risco a ser considerado e estudado para a redução dessa patologia na região. Palavras-chaves: Câncer gástrico. Alimentação. Nordeste. Brasil.

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original ABSTRACT Worldwide, stomach cancer appears as the second leading cause of cancer death. The relationship between gastric cancer and nutrition is suggested in several studies, the diet being a very important exogenous factor. Thus, this paper aims to cross data between dietary profile of the northeastern Brazilian population with studies that investigated the relationship between gastric cancer and the main food items consumed, to explain the high incidence of this tumor in the region. For this, a literature review, through literature searches in computerized databases Medline / Pubmed, Lilacs and SciELO, from the period May to July 2013, considering articles that investigated the relationship between gastric cancer and diet. Overall 43 papers were found, of which 21 met the inclusion criteria. The included papers were divided into two groups. The first with northeast region dietary characteristics, and the second, with the influence of traditional food on gastric neoplasms. The items: rice, coffee, beans, meat and soft drinks are among the main food item consumed by the population and some of these foods have in their composition or their storage process, carcinogenic substances. It was also observed that the population of that region consumes less preventive food items for such pathology. Therefore, it can be noted that the diet of the Northeastern population has a close relationship with the development and high incidence of gastric cancer. Such a risk factor must be considered and studied to reduce this pathology in this region Keywords: Gastric Cancer. Food. Northeast. Brazil.

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original INTRODUÇÃO No mundo, um dos tipos mais comuns de câncer é o de estômago e este figura como a segunda maior causa de morte por câncer. A mais recente estimativa mundial apontou a ocorrência de cerca de um milhão de casos novos de câncer de estômago para o ano de 2014, configurando-se como a quarta causa mais comum de câncer. Mais de 70% dos casos ocorreram em países em desenvolvimento, como o Brasil. E, além disso, a incidência é cerca de duas vezes mais alta no sexo masculino do que no feminino. Para o ano de 2014, estima-se, para o Brasil, 20.390 novos casos, sendo 12.870 homens e 7.520 mulheres. Para a região Nordeste, foco do estudo, sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de estomago é o segundo em homens (9/100 mil) e o sexto mais frequente entre as mulheres (6/100 mil) (INCA 2014). O câncer gástrico é uma patologia de etiologia multifatorial, em que os tumores se desenvolvem a partir de lesões na mucosa gástrica, ocasionadas pela ação e/ou interação de fatores de risco, ou seja, é um processo que inclui várias etapas sendo resultado da exposição a fatores endógenos (genéticos) e exógenos (ambientais), por um longo período de tempo (CARVALHO et al. 2010). Para os fatores endógenos, as alterações no material genético se destacam no desenvolvimento e progressão do câncer gástrico, tendo alterações em oncogenes e genes supressores de tumores (genes que controlam o ciclo celular) assim como em outros mecanismos de controle da estabilidade genômica, respondendo pelo aparecimento dessa patologia. As alterações descritas até agora incluem amplificações e mutações nos seguintes genes: c-ERBB2, KRAS, MET, TP53 e c-MYC (RIBEIRO et al. 2010). A relação entre câncer gástrico e nutrição é apontada em vários estudos, sendo a dieta um fator exógeno bastante relevante. Entre os fatores OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original dietéticos associados à carcinogênese gástrica, vale ressaltar que dietas com altas concentrações de cloreto de sódio, nitrito e nitrato, presentes em alimentos defumados e frituras, são o ponto inicial para provocar transformações na mucosa gástrica, podendo dar início a esta neoplasia (MELO et al. 2012). Acredita-se que cerca de 35% dos diversos tipos de câncer ocorrem em razão de dietas inadequadas. É possível identificar, por meio de estudos epidemiológicos, associações relevantes entre alguns padrões alimentares observados em diferentes regiões do globo e a prevalência de tal patologia (GARÓFOLO et al. 2004). Características

regionais

apontadas

no

consumo

individual

confirmam os perfis diferenciados de disponibilidade de alimentos que caracterizam as cinco grandes regiões do Brasil. O rendimento familiar é importante para caracterizar a disponibilidade domiciliar de alimentos e o consumo individual. O aumento da presença de frutas, verduras, legumes e do refrigerante esta ligado a um maior rendimento familiar, e a tendência inversa também foi observada para o consumo de feijão e farinha de mandioca (JAROSZ et al. 2012). Diversos autores apontam estudos que mostram a dieta habitual como importante fator no aparecimento do câncer de estômago. Entre os fatores de risco para essa neoplasia, está uma dieta rica em gorduras animais e com baixa ingestão de frutas, vegetais e cereais. Além da dieta inadequada, estão entre os fatores de risco o alcoolismo, sedentarismo e a infecção alimentar pela Helicobacter pylori. Diante do exposto, o objetivo do estudo foi cruzar dados de perfil alimentar da população do nordeste do Brasil com estudos que investigaram a relação entre as neoplasias gástricas e os principais alimentos consumidos por esta população, sejam eles carcinogênicos ou anticarcinogênicos, explicando assim a alta incidência desta neoplasia na região.

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original METODOLOGIA Foi realizada uma revisão de literatura, por meio de buscas bibliográficas nos bancos de dados informatizados Medline/Pubmed, Scielo e Lilacs, no período de maio a julho de 2013. Considerou-se os artigos que investigaram a relação entre neoplasias gástricas e a alimentação, incluindo uma pesquisa das características alimentares do nordeste do Brasil. Incluíram-se artigos de estudos epidemiológicos transversais, ecológicos, revisão, caso-controle e coorte publicados no período de 2008 a 2013. Não foram inseridos no estudo, artigos nos quais o câncer foi investigado em relação a suas consequências para o estado nutricional. Excluíram-se também, aqueles que não estavam disponíveis na íntegra, visto que esse fato dificultava e/ou impossibilitava a extração de informações relevantes para a investigação dos fatores e desfecho analisados. As buscas foram conduzidas por meio do formulário avançado utilizando no campo “descritores de assunto” as seguintes palavras-chave em português e seus correspondentes em inglês: neoplasias gástricas, fatores de risco, consumo alimentar, alimentos, câncer de estômago e características alimentares do nordeste do Brasil. Todas as palavras-chave constam nos descritores em ciências da saúde. Do

conjunto

de

artigos

identificados,

foram

selecionados

os

relacionados com os hábitos alimentares, e estudos que comprovem a interação

dos

principais

alimentos

consumidos

na

região

com

o

aparecimento destas neoplasias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontrados 43 artigos, dos quais 21 atenderam aos critérios de inclusão do estudo, compreendendo artigos de revisão, caso controle, epidemiológicos e transversais. OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original Os artigos foram divididos em dois grupos. O primeiro continha aqueles que tratavam das características alimentares do nordeste, e o segundo, os que citavam a influência de cada um dos alimentos mais consumidos na região com o aparecimento de neoplasias gástricas. A partir dos artigos base do grupo um, foi feito um cruzamento de dados para traçar o perfil alimentar da população do nordeste do Brasil. Com a pesquisa foi possível traçar o perfil alimentar do nordestino, que mostrou que os alimentos mais consumidos pela população da região de um modo geral são: arroz (84%), café (79%), feijão (72,8%), pão de sal (63%) e carne bovina (48,7%). A banana foi a fruta mais citada (16,0%) e a salada crua (16%) a preparação incluindo verduras mais frequentes entre os brasileiros. A prevalência do consumo de sucos e refrescos foi de 39,8% e de refrigerantes 23%, assim estes ocuparam, respectivamente, a sexta e nona posições entre os alimentos mais consumidos. A prevalência de consumo do leite integral foi de 12,4% e a de queijos, 13,5%. Biscoito salgado (15,9%), bolos (13,4%), e doces (11,7%) também estiveram entre os 20 alimentos com maior prevalência de consumo no País. Entre os trabalhos analisados, o de Souza e colaboradores (2013) mereceu destaque pois construíram em sua pesquisa o ranking dos 20 alimentos mais consumidos no Brasil, a partir do Inquérito Nacional de Alimentação,

onde

são

levados

em

consideração

fatores

regionais,

econômicos e sociais para o consumo alimentar. O café foi o item de maior prevalência no Nordeste (83,6%). Sucos e refrescos também figuraram entre os itens de maior consumo ficando em sexta posição no ranking. A prevalência do consumo de refrigerantes foi de 16,1%, o que corresponde à 14ª posição. Hortaliças foram mais frequentemente citadas sob a forma de salada crua no Nordeste (20ª posição, 10,6%). Alguns itens, que aparecem entre os mais prevalentes somente em algumas regiões, marcam características locais no consumo de alimentos, por exemplo, a farinha de mandioca na região Nordeste (13ª posição, 18,2%). Os OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original doces também aparecem entre os itens mais consumidos na região, com prevalência em torno de 13%. Já os salgados fritos e assados não figuraram entre estes itens. Os biscoitos salgados e os ovos estão entre os mais prevalentes em todas as regiões do país, e os peixes também foram citados com importância no Nordeste. A partir do estudo de Souza e colaboradores (2013) foi analisado alimentos com alta incidência para região Nordeste e que ao mesmo tempo possuem na sua constituição compostos que são fatores de risco para o desenvolvimento e progressão do processo de carcinogênese gástrica. Como também foram avaliados e analisados alimentos de baixa incidência na mesma região do País e que possuem propriedades antineoplásicas. Alimentação como fator de risco para o câncer gástrico na Região Nordeste Café Dentre todos os alimentos citados no consumo diário dos nordestinos o café obteve o maior destaque ocupando o topo do ranking de consumo. O café é

uma

das

matérias-primas

com

maior

importância

no

comércio

internacional. É igualmente uma das bebidas mais apreciadas em todo mundo, não só pelas suas características organolépticas, mas também pelo seu efeito estimulante (ALVES et al. 2009). Esta é uma bebida muito consumida pela população, que possui uma mistura complexa de diferentes moléculas com atividade genotóxica, como o metilglioxal, o peróxido de oxigênio e os dicarbonos alifáticos, formados durante o processo de torrefação. Düsman et al. (2012) mostram que o café induz mutações em várias cepas de Salmonella typhimurium, em células de hamster Chinês e em linfócitos humanos. O café instantâneo também possui atividade genotóxica, tanto por seus constituintes como pela formação dos compostos fenólicos decorrentes da auto-oxidação do mesmo. OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original Estudos realizados demonstraram que a cafeína, presente em chás e cafés, afeta a ação reparadora do DNA durante a divisão celular, modifica a resposta apoptótica e altera o funcionamento do gene p53, que codifica uma proteína reguladora do ciclo celular. Além disso, o café e a cafeína são capazes de interagir com muitos outros mutagênicos e os seus efeitos são sinergísticos junto com raios-X, luz ultravioleta e alguns agentes químicos (DÜSMAN et al. 2012). Carne A carne bovina também é um alimento muito consumido na região nordeste, figurando entre os cinco itens mais consumidos (JAROSZ et al. 2012). O Departamento de Saúde dos Estados Unidos considera que existe uma associação de risco moderado consistente entre o consumo de carnes processadas e o câncer do trato gastrointestinal (MAGALHÃES et al. 2008). Está bem documentado na literatura que os compostos N-nitrosos e o nitrato induzem à formação tumoral por meio da sua transformação em nitrito, um óxido desestabilizado, que pode acarretar danos ao material genético, causando assim uma lesão celular. O nitrito, que pode ser formado endogenamente, também provém das carnes curadas (conservadas com nitrito de sódio), embutidos e alguns vegetais (espinafre, batata, beterraba, alface, tomate, cenoura, nabo, couve-flor, repolho, rabanete, etc.) que contêm nitrato, o qual é transformado em nitrito pela ação da saliva. Os mecanismos postulados para o aumento do risco do câncer de estômago com o consumo de compostos nitrosos estão associados ao aumento de radicais livres, que promovem lesão celular com redução na produção de muco, um fator de proteção à mucosa gástrica (MAGALHÃES et al. 2008). Métodos de preservação e preparo de carnes, que acarretam a formação de amina heterocíclicas, além dos nitritos, também foram associados ao maior risco de cânceres do trato gastrintestinal. Por exemplo, preparar as carnes com temperaturas elevadas, produzindo um suco OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original queimado, ou expor a carne diretamente ao fogo, como durante o preparo do churrasco, tem sido desaconselhado pela World Cancer Research Fund, por produzir componentes carcinogênicos na superfície do alimento e aumentar o risco de câncer, principalmente de estômago. A presença de elevada quantidade de benzo [a] pirenos – hidrocarboneto cíclico aromático nos alimentos, considerado um potente carcinogênico - também é correlacionada com essas formas de preparações e parece associar-se com o risco aumentado de câncer do trato gastrintestinal (GARÓFOLO et al. 2004). Refrigerantes Estudos

toxicológicos

na

literatura

com

corantes

alimentares

presentes em refrigerantes mostram que alguns desses corantes possuem atividades citotóxicas e mutagênicas. Alves e colaboradores (2009) comprovaram que o corante caramelo, presente nos refrigerantes sabor Cola, apresentou atividade mutagênica em Salmonella typhimurium cepa TA 100. O corante também causou convulsões quando administrado em ratos, camundongos e pintos, afetou adversamente os níveis de glóbulos brancos e linfócitos em animais de laboratório, e inibiu a absorção de vitamina B6 em coelhos, devido à presença de uma impureza chamada de 4-Metilimidazol no corante caramelo, produzida por processos que utilizam amônia. O 4Metilimidazol apresentou potencial carcinogênico em camundongos tratados por 2 anos com concentrações bem elevadas dessa substância. Outros corantes como o amaranto, corante presente em alimentos como, refrigerante sabor Uva, também apresentou potencial mutagênico e carcinogênico quando administrados em camundongos (ALVES et al. 2009). Gomes e colaboradores (2013) demostraram que os corantes alimentares amarelo crepúsculo, vermelho bordeaux e amarelo tartrazina tem capacidade citotóxica sobre o ciclo celular de Allium cepa L. Cada corante foi avaliado nas doses de 0,4 e 4,0 mL, nos tempos de exposição de 24 e 48 horas, em células de pontas de raízes de Allium cepa L, e os OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original resultados obtidos mostraram que os três corantes, nas doses e tempos de exposição avaliados, foram citotóxicos às células do sistema-teste utilizado. Salgados, biscoitos e industrializados O consumo de alimentos processados e industrializados se mostra prevalente na população de todo o Brasil. No Nordeste, a prevalência de salgados fritos ou assados não foi tão expressivo, porém os biscoitos e industrializados foram citados entre a maior parte da população de todo o país, estando mais presente entre os adolescentes de renda alta e média (JAROSZ et al. 2012). Nestes alimentos o potencial carcinogênico esta presente na interação dos aditivos alimentares com o organismo. É pertinente a constante preocupação com as substâncias químicas sintéticas, pois estas podem desencadear o câncer, estando presentes nos alimentos como aditivos ou contaminantes ambientais de uso na agricultura como, por exemplo, os agrotóxicos. Algumas substâncias adicionadas aos alimentos, como os corantes e os conservantes, acumulam-se no organismo e deve-se tomar um cuidado maior quanto as suas doses de ingestão diária. Mesmo considerando-se uma parcial eliminação dessas substâncias e uma degradação metabólica da mesma, deve-se destacar que não existem informações bem definidas para cada substância quanto à dose diária de ingestão e o risco da carcinogênese. Dependendo da substância, uma pequena dose ingerida diariamente e por tempo prolongado, pode resultar no câncer (CESAR e TOLEDO 2011). As nitrosaminas e os antioxidantes BHA (antioxidante butil hidroxianisol) podem provocar danos e mutações no DNA, provavelmente desencadeando, desta forma, a neoplasia. Também alguns corantes artificiais, nomeadamente a eritrosina e a tartrazina, apresentam este potencial. Essas substâncias alteram o “turn-over” das células durante o seu

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original crescimento normal ou no processo de hiperplasia regenerativa e, deste modo, contribuem para a incidência de câncer (ALVES et al., 2009). A identificação de agentes antimutagênicos e/ou anticarcinogênicos em alimentos é de grande relevância na busca de estratégias para a prevenção do câncer. Atualmente, os corantes mais investigados são os do grupo Azo (amarelo tartrazina, amarelo crepúsculo e vermelho 40), devido aos seus possíveis efeitos mutagênicos e carcinogênicos. Farinha No nordeste, uma característica marcante da alimentação desta região é o alto consumo de farinha de mandioca. A relação entre o consumo de farinha e o câncer, é a alta ingestão de anilina, presente em vários tipos de farinha de mandioca e fonte de radicais aminas e dióxido de nitrogênio. Estes compostos podem atuar como substrato para a formação endógena de nitrosaminas, importantes carcinógenos associados à patogênese do câncer gástrico, particularmente na situação de carência relativa de antioxidantes, em função de um consumo reduzido de legumes e vegetais, embora maior de frutas. Os compostos nitrosos e o nitrato induzem à formação tumoral por meio da sua transformação em nitrito, levando ao aumento na produção de radicais livres (CESAR e TOLEDO 2011). Alimentação como fator preventivo de câncer gástrico na região Nordeste Uma nutrição adequada e apropriada é indispensável para a manutenção da saúde. Contribui tanto para a diminuição de riscos de doenças como também para a restauração da homeostasia em casos de enfermidades. Por meio da alimentação é possível promover a recuperação, reabilitação, desintoxicação e reparo de células, proporcionando maior vitalidade a órgãos e tecidos. OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original A

alimentação

pode

modificar

o

processo

de

carcinogênese,

principalmente nos estágios iniciais, proporcionando melhores resultados no tratamento e diagnóstico clínico. Dessa forma, através de um padrão nutricional normal ou equilibrado pode-se reduzir o risco de câncer (ANTUNES et al. 2010). Foram identificadas várias etapas na patogênese do câncer nas quais os fatores dietéticos podem, supostamente, atuar no aumento ou na diminuição da probabilidade de desenvolvimento de um câncer clínico. Sendo assim é de fundamental importância conhecer as substâncias mutagênicas em cada alimento que pode causar câncer, além de conhecer também alimentos que promovam o processo inverso, identificando sua ação e como este previne tal patologia (FIGUEREDO e SILVA 2003; GARÓFOLO et al. 2004; EPPLEIN et al. 2010). Frutas e sucos O consumo de frutas pela população nordestina não é tão frequente. A fruta mais consumida é a banana, que esteve prevalente não só nesta região mais em todo o Brasil. Outra fruta também citada no consumo, principalmente

da

população

idosa,

foi

a

laranja,

que tem

boas

concentrações de vitamina C. Os sucos também tiveram lugar de destaque no consumo da população nordestina e ocuparam a sexta posição no ranking dos alimentos mais consumidos. Os sucos e frutas estão ligados com a prevenção

do

câncer,

quimiopreventivas

que

pois

as

funcionam

vitaminas como

possuem

antioxidantes

propriedades em

sistemas

biológicos (JAROSZ et al. 2012; CESAR e TOLEDO 2011; SHILLS et al. 2009). As vitaminas mais investigadas com propriedades quimiopreventivas são os carotenóides e as vitaminas C e E, que funcionam como antioxidantes. O processo carcinogênico é caracterizado por um estado oxidativo crônico, especialmente na etapa de promoção. Além disso, a fase de OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original iniciação está associada com dano irreversível no material genético da célula, devido ao ataque de radicais livres. Desse modo, os nutrientes antioxidantes poderiam reduzir o risco de câncer inibindo os danos ao DNA (CESAR e TOLEDO 2011). Estudos sobre o mecanismo de ação dos carotenóides, na inibição da carcinogênese, revelaram a existência de ações múltiplas: proteção ao DNA contra a mutagênese e genotoxicidade; inibição da proliferação celular; facilitação da comunicação intercelular e estímulo ao sistema imunológico. As vitaminas C e E são importantes antioxidantes, que reduzem a velocidade de iniciação ou previnem a propagação de radicais livres. A vitamina E é especialmente importante na prevenção da peroxidação de lipídios, enquanto que a vitamina C reage efetivamente com superóxido e radicais hidroxilas. Esta vitamina desempenha ainda papel importante na redução de radicais cromanoxil e na regeneração da vitamina E. Um mecanismo importante na prevenção do câncer pelo ácido ascórbico é a sua capacidade de inibir a formação de compostos N-nitrosos (N-nitrosaminas). Essa propriedade é de grande significado na redução do risco de câncer em humanos. Sob certas condições, suplementação com ácido ascórbico pode reverter células transformadas em células morfologicamente normais, podendo ser este mais um mecanismo de sua atuação na prevenção de tumores (CESAR e TOLEDO 2011). Quanto à vitamina E (α-tocoferol), esta é reconhecida, como a melhor bloqueadora de radicais livres em membranas. Tem sido demonstrado que a vitamina E inibe reações de nitrosação na célula, sugerindo que possa exercer um efeito anticarcinogênico. A suplementação com vitamina E não altera a progressão de tumores já instalados. Sugere-se que sua ação antitumoral esteja ligada à sua capacidade de inibir a formação de radicais livres, que poderiam danificar o DNA. Da mesma forma que a vitamina C, a vitamina E pode atuar sobre o sistema imunológico aumentando a resposta imune (PACHECO e SGARBIERI 2010). OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original Os estudos de Epplein e colaboradores (2010) notaram que os homens com

o

mais

alto

consumo

de

frutas

tinham

uma

redução

de

aproximadamente 50% no risco de câncer gástrico distal em comparação com os homens com o mais baixo consumo de frutas. Esta associação foi especialmente forte entre os fumantes sempre masculinos, para quem aqueles com mais alto nível de ingestão de frutas tiveram quase 60% menos risco de câncer gástrico distal. Cavalcante e colaboradores (2011) observaram em seu estudo com camundongos que o caju (Anacardium occidentale) mais precisamente em forma de suco e cajuína (suco processado), as formas mais comumente consumidas no nordeste do Brasil, tem elevado potencial antigenotóxico e anticlastrogênico in vivo, o que pode estar relacionado com os compostos antioxidantes encontrados em ambas as bebidas. Mostrando assim, a capacidade dessa fruta em reduzir os radicais livres que são elementos que reagem com a estrutura do DNA causando modificações nessa estrutura. Leite e fibras alimentares A alimentação da população nordestina apresentou características peculiares quanto ao consumo de leite e fibras alimentares presentes nas saladas cruas. O leite é a forma mais acessível da suplementação alimentar de cálcio e, as fibras solúveis e insolúveis nos legumes e vegetais são responsáveis por uma grande proteção em outros tipos de câncer do trato gastrointestinal. Cabral e Gruezo (2010) citam alguns estudos de coorte e caso-controle que comprovam que há uma associação entre a ingestão de cálcio e a diminuição dos riscos de câncer colorretal, citam também estudos que mostram que uma ingestão >250g/dia de leite esta relacionada com um menor risco de câncer colorretal quando comparado com uma ingestão <70g/dia, e que o consumo de 500g/dia (aproximadamente 2 copos de leite) estava associado com a redução em 12% do risco de câncer colorretal. OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original As fibras alimentares também denominadas dietéticas constituem um grupo de componentes funcionais dos mais importantes. É fornecida principalmente pelos alimentos de origem vegetal e tem ações protetoras contra o câncer colorretal (ANTUNES et al. 2010). Várias hipóteses procuram explicar a ação preventiva da fibra alimentar no câncer de cólon: 1) redução da exposição a agentes carcinogênicos pelo aumento do bolo fecal e/ou diminuição do tempo de trânsito do bolo intestinal; 2) redução da produção de ácidos biliares secundários (desoxicólico e litocólico) pela

diminuição de bactérias

produtoras de enzimas (7-α-desidroxilases) responsáveis pela conversão dos ácidos biliares primários (cólico e quenodesoxicólico) nos ácidos secundários que são pro-carcinogênicos; 3) efeito ligante da fibra a hormônios (estrógenos) promotores de câncer de cólon e mama; 4) produção de ácidos graxos de cadeias curtas que contribuem para a redução do pH do bolo intestinal e desempenham papel fisiológico importante em nível de tecido epitelial (ANTUNES et al., 2010). CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista todos os dados avaliados, pode-se notar que a alimentação na região Nordeste possui uma estreita relação com o desenvolvimento de vários tipos de câncer, principalmente o de estômago por este órgão ser o primeiro do trato gastrointestinal a ter contato com substâncias carcinogênicas e por ser onde as primeiras interações de grande importância estão acontecendo, aumentando assim sua exposição a substâncias precursoras de dano e que pode induzir ao câncer. Outro fator importante observado na alimentação dessa região foi a taxa do consumo de alimentos que tem potencial carcinogênico, como carnes, refrigerantes, café, farinha e industrializados, que se apresentou bem mais elevada que o consumo de alimentos como sucos e frutas que previnem o aparecimento de neoplasias gástricas. OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original Além disso, deve se levar em consideração o fator econômico que está ligado ao consumo alimentar da população e a disponibilidade de alimentos na região. Assim, o declínio da incidência do câncer gástrico na região Nordeste, pode se dar com a implementação de uma alimentação rica em frutas e vegetais, visto que o consumo destes alimentos pela população da região é deficiente. É necessário também que aconteça uma reeducação alimentar quanto ao consumo de alimentos com potencial carcinogênico, para que aja um equilíbrio favorável à prevenção desta neoplasia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES RC, CASAL S, OLIVEIRA B. Benefícios do café na saúde: mito ou realidade? Quim. Nova, Vol. 32, No. 8, 2169-2180, 2009. ANTUNES DC, SILVA IML, CRUZ WMS. Quimioprevenção do Câncer Gástrico. Revista Brasileira de Cancerologia 2010; 56(3):367-374. CABRAL CM, GRUEZO ND. Ingestão de Cálcio e Vitamina D e Risco de Câncer Colorretal: uma Revisão Bibliográfica. Revista Brasileira de Cancerologia 2010; 56(2): 259-266. CARVALHO JB, SALGADO NA, SILVA ACM, RAMOS EMLS, DEMACHKI S, ARAÚJO MS. Fatores de risco socioambientais e nutricionais envolvidos na carcinogênese gástrica. Rev. para. Med.; 2011, 25(2/3) abr.-set. CAVALCANTE AACM, DANTAS SMMM, LEITE AS, MATOS LA, SOUSA JMC, PICADA JN, SILVA J. In vivo Antigenotoxic and Anticlastogenic Effects of Fresh and Processed Cashew (Anacardium occidentale) Apple Juices. J Med Food 14. 2011, 792–798 CESAR ACG, TOLEDO MCB. Comparação do desenvolvimento sócioeconômico com a morbidade hospitalar nos casos de câncer de pulmão, estômago e colorretal entre as regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. RevBio - Revista de Biociêcias da Universidade de Taubaté. Vol.17 - nº 2 – 2011.

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original RIBEIRO HF, ALCÂNTARA DFA, MATOS LA, SOUSA JMC, LEAL MF, SMITH MAC, BURBANO RR, BAHIA MO. Cytogenetic characterization and evaluation of c-MYC gene amplification in PG100, a new Brazilian gastric cancer cell line. Braz. Journal Med Biol Res, August 2010, Volume 43(8) 717-721 SHENG GE, FENG X, SHEN L, WEI Z, ZHU Q, SUN J. Association between Habitual Dietary Salt Intake and Risk of Gastric Cancer: A Systematic Review of Observational Studies. Gastroenterology Research and Practice. Gastroenterology Research and Practice: 2012, Vol. 2012, 11 p. SHILLS ME, et al. Nutrição moderna na saúde e na doença, 2ª ed. Barueri, SP: Manole; 2009. 781-97. SOUZA AM, PEREIRA RA, YOKOO EM, LEVY RB, SICHIERI R. Alimentos mais consumidos no Brasil: Inquérito Nacional de Alimentação 2008-2009. Rev Saúde Pública 2013; 47(1 Supl):190S-9S.

OLIVEIRA, Victor Alves de; OLIVEIRA, Thayse Wilma Nogueira de; ALENCAR, Marcus Vinicius Oliveira Barros de; PERON, Ana Paula; SOUSA, João Marcelo de Castro e. Relação entre consumo alimentar da população nordestina e o alto índice de câncer gástrico nesta região. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 06-24, out. 2014.

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Artigo original Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos Julia de Abreu Gadelha Farmacêutica graduada pela Universidade Federal do Ceará Endereço para Toxicologia.

correspondência:

Laboratório

de

Pesquisa

em

*Autor para correspondência: Laboratório de Pesquisa em Toxicologia. Rua Alexandre Baraúna, 949 - Rodolfo Teófilo - Fortaleza - CE / CEP 60430-160. 3º andar.

Auriana Serra Vasconcelos Farmacêutica mestranda em farmacologia da Universidade Federal do Ceará

Vívian Romero Santiago Farmacêutica Perita legista da Perícia Forense do Ceará e especialista em farmacologia legal.

Wanderley Pinheiro de Holanda Junior Farmacêutico Perito legista da Perícia Forense do Ceará.

Breno Alves Auad Moreira Farmacêutico mestrando em ciências farmacêuticas da Universidade Federal do Ceará.

Janete Eliza de Sá Soares Professora doutora da disciplina de toxicologia de alimentos do Departamento de Farmácia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Teresa Maria de Jesus Ponte Carvalho Professora doutora da disciplina de Análises Toxicológicas do Departamento de Farmácia da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará.

RESUMO Os benzodiazepínicos são os agentes sedativo-hipnóticos mais prescritos no mundo devido à eficácia terapêutica e ao rápido início de ação. Porém, desde 1970, são descritos casos de dependência devido ao consumo abusivo desses fármacos. Além disso, são utilizados com objetivo criminoso em roubos e estupros através de adulterações em bebidas ou alimentos, sendo os principais, flunitrazepam, clonazepam, diazepam e midazolam. A Toxicologia Forense utiliza métodos analíticos de triagem e de confirmação para a identificação de substâncias, entre eles, os mais utilizados são os métodos cromatográficos. O objetivo desse estudo foi desenvolver métodos cromatográficos qualitativos por Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) para a identificação dos benzodiazepínicos (bromazepam, clonazepam, clordiazepóxido, diazepam, flunitrazepam, flurazepam e midazolam). Foram testadas diferentes condições cromatográficas para o aperfeiçoamento dos métodos. Para CCD, selecionou-se a fase móvel acetato de etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5) e revelação através da solução de cloreto férrico, de aquecimento e da solução de Dragendorff para melhor identificação e separação. Foram observadas colorações diversas de manchas (branco, cinza, amarelo, laranja e marrom) e fatores de retenção entre 0,30 e 0,58. O método foi testado para a análise de duas amostras de comprimidos, que mostraram a presença de flunitrazepam e bromazepam. Para CLAE, utilizando-se coluna C18, comprimento de onda 230nm, fluxo 1mL/min e volume de injeção de 25µL, foram testadas diferentes proporções da fase móvel acetonitrila:metanol:água na tentativa de identificar e separar os sete padrões de benzodiazepínicos, não sendo possível esta separação. Porém, a fase móvel acetonitrila:metanol:água (40:20:40) ajustada em pH 4 com ácido fosfórico (1/2) foi capaz de separar os padrões de flunitrazepam (5,6 min), clonazepam (4,4 min) e diazepam (11,4 min). Além disso, a fase móvel acetonitrila:metanol:água (20:45:35) identificou o midazolam (10,5 min), que não foi detectado nas outras proporções da fase móvel testadas. Diante dos resultados expostos, a metodologia desenvolvida nesse estudo pode ser aplicada nas análises toxicológicas qualitativas com finalidade forense, GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original porém, ainda necessita de mais estudos para o aperfeiçoamento do método e para a sua validação analítica. Palavras-chave: Cromatografia em Camada Delgada. Cromatografia Líquida de Ultra Eficiência. Toxicologia Forense. Benzodiazepínicos. ABSTRACT Benzodiazepines are sedative-hypnotic agents and the most prescribed in the world due to its therapeutic efficacy and rapid onset of action. However, since 1970, cases of dependence due to the abuse of these drugs have been described. Moreover, those agents are used to rob and rape victims through adulteration of food or drinks. The most used are flunitrazepam, clonazepam, diazepam and midazolam. The Forensic Toxicology uses analytical methods of screening and confirmation for the identification of substances. The most common are chromatographic methods. The aim of this study is to develop chromatographic methods for qualitative Thin Layer Chromatography (TLC) and Ultra Performance Liquid Chromatography (UPLC) for the identification of benzodiazepines (bromazepam, clonazepam, chlordiazepoxide, diazepam, flunitrazepam, flurazepam and midazolam). Different chromatographic conditions for the improvement of the methods were tested. For TLC, the mobile phase selected was ethyl acetate: methanol: ammonium hydroxide (89,5:10:0,5) and the visualization agents were ferric chloride solution, heating and Dragendorff solution for better separation. Colorations were observed forming several spots (white, gray, yellow, orange and brown) and the retention factors observed, between 0.30and 0.58. The method was tested for the analysis of two samples of tablets, which showed the presence of flunitrazepam and bromazepam. For UPLC, using a C18 column, wavelength 230nm, flow1ml/min and injection volume of 25μL were tested different ratios of mobile phase acetonitrile:methanol:water in an attempt to identify and separate the seven patterns of benzodiazepines. The separation was not possible. However, the mobile phase acetonitrile:methanol:water(40:20:40) adjusted to pH 4 with phosphoric acid (1/2) was capable of separating patterns of flunitrazepam (5.6 min), clonazepam (4.4 min) and diazepam (11.4 min). In addition, mobile phase acetonitrile:methanol:water(20:45:35) identified midazolam (10.5 min), which was not detected in other mobile phase ratios tested. The methodology developed in this study can be applied in qualitative toxicological analyzes with forensic purpose; however, it still needs more studies to analytical validation. Keywords: Thin Layer Chromatograph.Ultra Performance Chromatography.Forensic Toxicology.Benzodiazepines.

Liquid

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original INTRODUÇÃO A Toxicologia Forense engloba qualquer aplicação da ciência dos toxicantes, com o objetivo de esclarecer uma investigação criminal e está intimamente relacionada à Toxicologia Analítica, a qual consiste na identificação e/ou quantificação de agentes tóxicos e/ou seus metabólitos, como também na detecção de parâmetros relacionados com a exposição à toxicantes que resultam em alterações fisiológicas no organismo (MOREAU; SIQUEIRA, 2008). As análises toxicológicas com fins médico-legais são empregadas para detectar, identificar e quantificar agentes tóxicos, com aplicação nas análises post-mortem, controle de dopagem, toxicodependência, crimes ambientais (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008). Dentre as metodologias utilizadas nas análises toxicológicas, temos como bastante utilizada a cromatografia. A cromatografia é um método físico-químico de separação, que se baseia na migração diferencial dos componentes de uma mistura, distribuídos em duas fases imiscíveis, a fase móvel e a estacionária. A fase estacionária permanece fixa e a fase móvel passa através dela, arrastando determinados componentes da mistura, enquanto outros ficam retidos na fase estacionária, o que irá resultar na migração diferencial de cada componente (PERES, 2002). Os métodos cromatográficos possuem boa sensibilidade e são capazes de separar diversos tipos de espécies, desde não voláteis até termicamente instáveis, sendo utilizados para fins qualitativos e quantitativos (TONHI, 2002). Considerando os diversos tipos de cromatografia, podemos destacar a Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e a Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). A Cromatografia em Camada Delgada (CCD) tem sido empregada como método de triagem para a detecção de compostos carbâmicos, como o GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original aldicarb (XAVIER et al., 2007) e a CLAE como método de confirmação (MELITO, 2004) com finalidade forense. A CLAE é bastante utilizada como método de triagem ou confirmação e, juntamente com a espectrometria de massa, é a técnica de eleição para confirmação por fornecer máxima especificidade possível (MOREAU; SIQUEIRA, 2008). Dentre as drogas de importância para as situações periciais, destacamse os benzodiazepínicos, drogas estas que originalmente teriam ação sedativa

e

hipnótica,

podendo

ser

usados

também

como

agentes

antiepilépticos, ansiolíticos, relaxantes musculares e como anestésicos, quando administrados em altas doses e associados a outros fármacos. (GOODMAN, 2006). Entretanto, além da dependência e tolerância, infelizmente, os benzodiazepínicos passaram a ser “conhecidos nas ruas” como drogas facilitadoras de estupros e roubos, possibilitando a venda por traficantes. Os mais conhecidos são o flunitrazepam, designado por “rape drug”, principalmente porque é um indutor do sono, cuja ação se dá de forma rápida e intensa, além de atuar como ansiolítico, relaxante muscular e levar a produção de amnésia (BERTHELON et al., 2003); o clonazepam (POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE RONDÔNIA, 2013); e, o diazepam (AMIR; WAISMAN, 2006), provavelmente, por serem fármacos da classe de benzodiazepínicos com ação mais longa. Estes fármacos vêm sendo utilizados com o objetivo criminoso de sedar vítimas potenciais de estupro e assalto (CHEN; HU, 1999; BICHOP, LERCH, MCCORD, 2004). Vários casos destes são registrados nas delegacias brasileiras por vítimas induzidas a ingerir bebidas adulteradas com essas substâncias, conhecidas, popularmente, como “Boa Noite Cinderela” (LEIROZ; RIEHL, 2008). Dessa forma, apesar de serem muito prescritos, os benzodiazepínicos são alvos de uso indiscriminado (LAVIE et al, 2009; FORSAN, 2010), o que torna necessário o desenvolvimento de métodos confiáveis para a análise qualitativa e quantitativa desses fármacos no estudo médico-legal. Além GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original disso, o desenvolvimento de métodos capazes de identificar substâncias de interesse forense permite estabelecer nexo causal entre um determinado evento e um efeito, ou mesmo a tentativa deste, possibilitando a elucidação de uma investigação (MENEZES et al., 2012). O presente trabalho tem como objetivo principal desenvolver métodos cromatográficos qualitativos (triagem e confirmação) para identificação dos benzodiazepínicos com finalidade forense, principalmente aqueles fármacos envolvidos em eventos criminosos que necessitam ser identificados para que o procedimento legal seja instaurado. MÉTODOS Trata-se de um estudo analítico, qualitativo, utilizando-se o método da Cromatografia em Camada Delgada (CCD) e Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (CLAE). As análises foram realizadas em um Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (CLAE) com sistema de bombeamento, detector com arranjo de diodos (PDA) (AccelaThermoScientific®) e sistema de aquisição de dados ChromQuest 5.0 (ThermoScientific®) e coluna analítica ODS HYPERSIL C18 (250x4,6mm) da ThermoScientific®. Os reagentes sólidos foram pesados em balança analítica de precisão RK®-200. A água utilizada no preparo das soluções foi purificada em Sistema MilliQ – ELGA®. As soluções foram filtradas em sistema de filtração com bomba a vácuo GAST®, membrana Pall Corporation® tipo PTFE (0,45- 47mm) e homogeneizadas em banho ultrason QUIMIS® modelo Q335D. Foram utilizados micropipetadores automáticos PIPETMANNeo ® GILSON e as medidas de pH foram feitas no Phmetro JENWAY® modelo 3510. Foram utilizados os seguintes solventes e materiais: Água purificada em sistema MilliQ® (resistividade 18,2 MΩ.cm); Acetato de etila (ISOFAR®); Metanol e Hidróxido de amônio para análise - P.A. (VETEC®); Metanol e GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Acetonitrila grau HPLC (TEDIA®); Cromato placas (Sílica gel 60 F254 MERCK®). Os padrões de benzodiazepínicos analisados, bem como duas amostras de comprimidos foram cedidos pela Perícia Forense do Ceará (PEFOCE). Cromatografia em Camada Delgada (CCD) Foram preparadas soluções de benzodiazepínicos 5% em metanol grau CLAE. Os padrões utilizados no trabalho foram: bromazepam, clonazepam, clordiazepóxido, diazepam, flunitrazepam, flurazepam e midazolam. As amostras de comprimidos foram maceradas utilizando grau e pistilo e, em seguida, extraídas com metanol. Foram utilizados os seguintes reveladores: cloreto férrico 10% (FeCl3), aquecimento (∆) e solução de dragendorff. A fase móvel utilizada foi acetato de etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5). Primeiramente, foi feita a padronização com os benzodiazepínicos bromazepam,

clonazepam,

clordiazepóxido,

diazepam,

flunitrazepam,

flurazepam e midazolam. A aplicação dos padrões na placa cromatográfica foi feita utilizando-se capilares de vidro (volume de ¼). Após a aplicação dos padrões, a cromatoplaca foi levada para a cuba cromatográfica contendo o sistema solvente acetato de etila: metanol: hidróxido de amônio (89,5:10:0,5) e foi deixada eluir até 10 cm. Com a eluição completa, a cromatoplaca foi deixada à

temperatura

ambiente

para

secagem

e,

em

seguida

revelada,

primeiramente, com o cloreto férrico a 10%, depois foi aquecida por 5 minutos em estufa a 100º C, e, por último, revelada com a solução de Dragendorff. Para a análise das amostras de comprimidos, aplicou-se pequenas quantidades das soluções das amostras na cromatoplaca, juntamente com as soluções

padrões

de

benzodiazepínicos,

e

seguiram-se

os

mesmos

procedimentos descritos acima após a aplicação. GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Cromatografia Liquida de Alta Eficiência (CLAE) As

soluções

dos

fármacos

de

bromazepam,

clonazepam,

clordiazepóxido, diazepam, flunitrazepam, flurazepam e midazolamforam preparadas a 5% em metanol grau HPLC (solução estoque) e, em seguida, diluídas para uma concentração de 250µg/mL (solução trabalho). Essas soluções foram mantidas sob refrigeração até o momento de uso. Diferentes comprimentos de onda foram analisados com a finalidade de selecionar o que permitia melhor visualização dos padrões de benzodiazepínicos. Os comprimentos testados foram: 210; 230e 315nm. Para a escolha da composição da fase móvel para a separação cromatográfica testaram-se os seguintes solventes em diferentes proporções: acetonitrila (ACN), metanol (MetOH) e água purificada (H2O). As composições testadas foram: ACN:MetOH:H2O (40:20:40), ACN:MetOH:H2O (40:20:40) acidificada com H3PO4 (1:2) até pH 4, ACN:MetOH:H2O (30:20:42),

ACN:MetOH:H2O

ACN:MetOH:H2O ACN:MetOH:H2O

(35:20:45),

(30:25:45), (20:45:35).

ACN:MetOH:H2O

ACN:MetOH:H2O Todas

elas,

antes

(35:25:40),

(45:35:20) do

uso,

e foram

desgaseificadas em aparelho para banho ultrassônico e a água foi filtrada através de papel de filtro, com auxílio de bomba de vácuo. Foi utilizada a coluna cromatográfica de fase reversa ODS HYPERSIL C18 (250 x 4,6 mm x 5µm), tomando-se como base dados da literatura (LIMA, 2009; KASSAB; LANGUE, 2009; SESHAGIRI RAO; USHA RANI, 2009; SRUTHI et al, 2012). As determinações cromatográficas foram feitas em CLAE e os sete benzodiazepínicos estudados foram determinados pela cromatografia líquida em fase reversa (CL-FR), fluxo 1mL/min e eluição isocrática composta de fase móvel contendo os solventes acetonitrila, metanol e água. Para evitar grandes oscilações de absorvância na linha de base, a coluna cromatográfica era condicionada com a fase móvel a ser utilizada nos experimentos por aproximadamente 20 minutos. Após esse tempo, eram GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original injetados 25µL dos padrões, observando-se a detecção através do tempo de retenção. Diversas proporções da fase móvel composta pelos três solventes (acetonitrila, metanol e água) foram testadas, descritas no item 3.4.2.3. Porém, nem todos os benzodiazepínicos puderam ser testados em cada fase devido a problemas técnicos do equipamento. RESULTADOS E DISCUSSÃO Determinações por Cromatografia em Camada Delgada (CCD) No procedimento de revelação da cromatoplaca foi utilizado, inicialmente, a solução de cloreto férrico (FeCl3), sendo possível a visualização de três dos sete benzodiazepínicos (bromazepam, clordiazepóxido e flunitrazepam). No entanto, as manchas eram muito claras e fugazes. Então, a cromatoplaca foi aquecida para a melhor fixação das manchas e, em seguida, foi revelada com a solução de Dragendorff. Após esse revelador, foi possível a visualização dos sete padrões de benzodiazepínicos, mostrando-se manchas bem mais visíveis (Tabela 1). Segundo Clarke (1986), o cloreto férrico (FeCl3) é capaz de revelar grupamentos fenólicos, já a solução de Dragendorff é capaz de revelar compostos alcaloides, devido as reações químicas que ocorrem entre essas substâncias. No entanto, apesar dos benzodiazepínicos não possuírem grupamentos fenólicos e nem pertencerem à classe dos alcaloides, esses reveladores são

descritos como

eficientes na

literatura (MORAES;

SZNELWAR; FERNICOLA, 1991).

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Um aspecto importante observado na revelação da cromatoplaca foi que as manchas correspondentes aos padrões de clonazepam e midazolam eram muito fugazes, e a mancha correspondente ao padrão de bromazepam persistia ao passar do tempo, ficando com uma coloração roxa. A fase móvel utilizada em CCD não deve ser pouco polar, incapaz de remover os compostos do ponto de aplicação, e nem muito polar, capaz de arrastar os compostos até o topo da placa cromatográfica. Sendo assim, melhores resultados são obtidos com misturas de solventes (DEGANI; CASS; VIEIRA, 1998). No caso da separação dos benzodiazepínicos estudados, a fase móvel constituída pelos solventes acetato de etila (89,5 mL), metanol (10 mL) e hidróxido de amônio (0,5mL) foi capaz de permitir o deslocamento na fase estacionária de todos os padrões de benzodiazepínicos, obtendo valores do fator de retenção (Rf) na faixa de 0,3 a 0,6. Apesar da proximidade de alguns valores, foi possível a identificação de cada benzodiazepínico, já que durante a análise dos resultados em CCD também se leva em consideração as cores das manchas obtidas durante a revelação (Tabela 2).

As amostras de comprimidos foram identificadas frente às condições previamente

estabelecidas,

sendo

elas:

fase

móvel

-acetato

de

etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5) e reveladores –solução de cloreto férrico, aquecimento e solução de Dragendorff. As soluções das amostras foram aplicadas na cromatoplaca juntamente com os padrões de GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original benzodiazepínicos, a fim de identificar o(s) princípio(s) ativo(s) presente(s) nos comprimidos. A Tabela 3 apresenta os resultados das amostras de comprimidos e dos padrões de benzodiazepínicos estudados frente às condições cromatográficas já estabelecidas, descrevendo as cores e os valores do Rf produzidos pelos reveladores solução de cloreto férrico (FeCl3) a 10%, aquecimento (∆) e solução de Dragendorff.

As Figuras 1 e 2 mostram as placas cromatográficas reveladas com a solução de cloreto férrico a 10% e com a solução de Dragendorff, respectivamente.

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Figura 1 – Cromatoplaca por CCD após revelação com solução de cloreto férrico. Fase móvel: acetato de etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5).

Figura 2 – Cromatoplaca por CCD após revelação com solução de Dragendorff. Fase móvel: acetato de etila:metanol:hidróxido de amônio (89,5:10:0,5).

Analisando o comportamento das amostras através da comparação com os padrões, é possível identificá-las qualitativamente, porém, ainda será necessária a confirmação dos resultados, já que a CCD é utilizada como técnica de triagem. Na amostra 1 há a suspeita de flunitrazepam, já na amostra 2 suspeita-se do bromazepam, pois os valores de Rf estão bem próximos dos padrões desses fármacos, bem como revelaram de forma semelhante aos padrões citados. GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Determinações por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência em Fase Reversa (CLAE-FR) O comprimento de onda ideal é aquele em que o composto apresenta absorção máxima e livre de interferências (COLLINS; BRAGA; BONATO, 2007). Dessa forma, entre os comprimentos de onda analisados, o escolhido foi o de 230nm. A escolha do solvente para a eluição depende da sua polaridade e da sua capacidade de remover os analitos adsorvidos na fase estacionária. Para as colunas menos polares, como a C18, utilizada na CLAE-FR, o solvente de eluição precisa ter características bem polares, como a água, o metanol e a acetonitrila (HAGE; CARR, 2011). Portanto, neste estudo os solventes escolhidos para composição da fase móvel foram a acetonitrila, o metanol e a água, testados em diferentes proporções. Não foi possível encontrar uma fase móvel que separasse bem todos os sete padrões de benzodiazepínicos. No entanto, foi possível visualizar comportamentos diferentes de cada padrão com a utilização das diferentes proporções da fase móvel. De acordo com a teoria de Brönsted-Lowry, os ácidos são todas as espécies químicas capazes de doar um próton (íon H+) a outra substância, já as bases são as espécies químicas capazes de aceitar um próton de um ácido (ATKINS; JONES, 2006). Observando a estrutura dos benzodiazepínicos estudados nesse trabalho (Figura 3), é possível perceber que todos eles podem funcionar como bases, pois são capazes de receber íons H + através do grupamento carbonila, porém, somente o bromazepam, o clonazepam e o clordiazepóxido podem funcionar como ácidos, ou seja, são capazes de doar íons H+ através do grupamento amina.

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original

O tempo de retenção engloba todo o tempo em que o analito permaneceu no sistema cromatográfico, desde a injeção até a saída do ponto máximo do pico. Esse tempo leva em consideração a interação do analito com a fase móvel e com a fase estacionária, bem como a força do solvente de eluição, ou seja, a capacidade do eluente de deslocar os solutos mais retidos na fase fixa para permitir sua detecção. Quanto mais forte o solvente de GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original eluição, menor o tempo de retenção, ou seja, o analito será detectado mais rapidamente. Em fase normal, o solvente forte é mais polar e vai reduzir a retenção, já o mais fraco é menos polar e vai aumentar a retenção. Porém, em fase reversa, o solvente fraco é o mais polar e o solvente forte é o menos polar (COLLINS; BRAGA; BONATO, 2007). Portanto, na cromatografia em fase reversa, o solvente fraco possui alta afinidade pelo analito mais polar, podendo arrastá-lo mais rapidamente durante a corrida; já o solvente forte possui baixa afinidade pelo analito mais polar, demorando mais tempo para arrastá-lo.

A Tabela 5 contém as forças de eluição dos solventes por cromatografia em fase normal, mostrando que a água é o solvente mais forte, o metanol médio e a acetonitrila o mais fraco. Porém, por fase reversa, na detecção de analitos mais polares, ocorre o inverso, a acetonitrila passa a ser o solvente mais forte, seguido do metanol e a água o mais fraco. Foram testadas diferentes proporções da fase móvel ACM:MetOH:H2O na tentativa de identificar e separar cada um dos sete padrões de benzodiazepínicos analisados. A seguir, os comportamentos desses padrões serão descritos separadamente frente à fase móvel. Bromazepam Entre todas as fases móveis analisadas, só foi possível a detecção do padrão de bromazepam na fase ACN:MetOH:H2O (40:20:40) acidificada com ácido fosfórico a pH 4, com formação de pico no tempo de retenção de 4,45 minutos. Clonazepam Após análise por CLAE nas fases móveis constituídas por ACN:MetOH:H2O nas diversas proporções, foram obtidos diferentes tempos de retenção do clonazepam (Figura 4). GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Figura 4 - Comportamento do clonazepam frente às fases móveis compostas por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C 18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

Comparando esses tempos de retenção frente às fases móveis nas variadas proporções, é possível fazer algumas observações com relação aos solventes de eluição utilizados. Ao comparar a fase móvel na proporção ACN:MetOH:H2O40:20:40,

acidificada

com

H3PO4

(4,4min)

e

sem

acidificação (5,6min), percebeu-se que a fase acidificada foi capaz de reduzir o tempo de retenção, ou seja, aumentou a interação da fase móvel com o clonazepam, levando, entre as proporções testadas, ao menor tempo de retenção obtido desse padrão. Comparando as proporções ACN:MetOH:H2O30:25:45 (7,8min) e 35:25:40 (5,9min), notou-se que o aumento de acetonitrila e a diminuição da água resultou na redução do tempo de retenção, mostrando que a acetonitrila aumenta a interação do clonazepam com a fase móvel, mas a água

reduz

a

interação.

Além

disso,

comparando

as

proporções

ACN:MetOH:H2O38:20:42 (6,2min) e 35:25:40 (5,9min), percebeu-se que o aumento de metanol é capaz de reduzir o tempo de retenção, ou seja, também aumenta a interação do clonazepam com a fase móvel. Clordiazepóxido

Os

diferentes

tempos

de

retenção

do

padrão

de

clordiazepóxido frente à fase móvel ACN:MetOH:H2O nas diversas proporções encontram-se na Figura 5.

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Figura 5 - Comportamento do padrão de clordiazepóxido frente às fases móveis compostas por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

Com relação à acidificação da fase móvel, não ocorreu alteração significativa no tempo de retenção do clordiazepóxido. E, diferente do clonazepam, a fase móvel que permitiu uma eluição mais rápida desse padrão foi ACN:MetOH:H2O na proporção 38:20:42 (4,8min), sendo assim, ao comparar esse resultado com o obtido na proporção 40:20:40 (4,95min) nota-se que o aumento da acetonitrila e redução da água levou a um pequeno aumento do tempo de retenção, diferente do observado para o clonazepam. Comparando as eluições quando se utilizou ACN:MetOH:H2O nas proporções 35:20:45 (6,2min) e 35:25:40 (5,27min), notou-se que o aumento de metanol, com redução da água, é capaz de reduzir o tempo de retenção. Porém, ao comparar os resultados obtidos com a fase ACN:MetOH:H2O nas proporções 30:25:45 (6,8min) e 35:20:45 (6,2min), observou-se que o aumento de acetonitrila e o a redução de metanol levou à redução do tempo de retenção. Diazepam Os tempos de retenção obtidos do padrão diazepam nas diferentes fases móveis testadas encontram-se na Figura 6. Figura 6 - Comportamento do padrão de diazepam frente às fases móveis compostas por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original

Entre todos os benzodiazepínicos estudados, o diazepam foi o que obteve os maiores tempos de retenção. Observando a tabela 4 é verificado que ele não é capaz de doar íons H+ e recebe apenas dois, sendo, entre os sete padrões estudados, o que menos interage com a fase móvel. A fase móvel ACN:MetOH:H2O (40:20:40) em pH 4 ajustado com H3PO4 foi a que obteve o menor tempo de retenção, demonstrando que a acidificação da fase diminui a retenção. Isso ocorre porque o diazepam não é doador de prótons e, portanto, em meio ácido, recebe prótons e fica dissociado (mais polar), reduzindo a interação com a fase estacionária e, consequentemente, o tempo de retenção. Ao comparar as proporções de ACN:MetOH:H2O 30:25:45 (17,7min) e 35:20:45 (15,3min), percebe-se que ambas possuem o mesmo somatório de acetonitrila e metanol (55%), porém, com tempos de retenção diferentes e menor ao utilizar maior quantidade de acetonitrila, solvente de eluição mais forte que o metanol. Para esse padrão, a acetonitrila e o metanol também se mostraram inversamente proporcionais ao tempo de retenção. Com relação à água, percebe-se que as duas proporções de fase móvel em que ela estava em maior quantidade (30:25:45 e 35:20:45) tiveram os maiores tempos de retenção, demonstrando que a água é diretamente proporcional à retenção.

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Flunitrazepam Após a análise por CLAE, observou-se que o flunitrazepam possui comportamento semelhante ao clonazepam (figura 7). É possível justificar isso ao verificar na tabela 4 que ambos são aceptores de quatro íons H+, o que leva a interações semelhantes com a fase móvel e, assim, a tempos de retenção semelhantes. A fase móvel ACN:MetOH:H2O (40:20:40) em pH 4 foi a que permitiu o menor tempo de retenção, porém, essa acidificação não levou à alteração significante na retenção, pois não reduziu tanto o tempo de retenção como aconteceu para o clonazepam e diazepam. Figura 7 - Comportamento do padrão de flunitrazepam frente às fases móveis compostas por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

Flurazepam Os resultados dos tempos de retenção obtidos após eluição nas diversas fases (figura 8) mostraram muita semelhança de comportamento com o clordiazepóxido, com tempos de retenção iguais ou bem próximos, o que se justifica ao verificar na tabela 4 que ambos são aceptores de três íons H+. A acidificação da fase móvel não alterou significativamente o tempo de retenção. A fase móvel que permitiu menor retenção também foi ACN:MetOH:H2O na proporção 38:20:42 (4,5min), que, ao comparar com a proporção 40:20:40 (5min), notou-se que o aumento de acetonitrila e de água resultou no aumento do tempo de retenção. Porém, ao comparar as proporções 30:25:45 (6,8min) e 35:20:45 (6,2min), observa-se que o aumento GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original da acetonitrila e a redução do metanol, reduziram o tempo de retenção. E, comparando as proporções 35:20:45 (6,2min) e 35:25:40 (5,33min), percebeuse que o aumento do metanol e redução da água levaram à redução do tempo de retenção. Figura 8 - Comportamento do padrão de flurazepam frente às fases móveis compostas por ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

Midazolam Entre todas fases testadas, o midazolam foi detectado apenas na fase móvel ACN:MetOH:H2O (20:35:45), obtendo tempo de retenção de 10,5 minutos. Essa fase foi escolhida para esse fármaco de acordo com pesquisas na literatura (KASSAB; LANGUE, 2003). Separação dos padrões de benzodiazepínicos Na tentativa de separar os padrões de benzodiazepínicos, foram escolhidas quatro fases móveis em diferentes proporções que foram testadas para todos os sete benzodiazepínicos estudados. Os resultados encontram-se na Figura 9.

GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original Figura 9 - Tempos de retenção dos benzodiazepínicos na fase móvel ACN:MetOH:H2O em diferentes proporções. Condições cromatográficas: coluna C18, fluxo 1mL/min; comprimento onda 230nm, volume de injeção de 25µL.

O diazepam mostrou uma boa separação em relação aos outros padrões em todas as proporções da fase móvel ACN:MetOH:H2O, pois apresentou tempos de retenção bem superiores em relação a todos os outros. O flunitrazepam e o clonazepam apresentaram tempos de retenção bem próximos, porém na fase ACN:MetOH:H2O pH 4 (40:20:40) foi possível a separação dos dois. O bromazepam fase ACN:MetOH:H2O pH 4 (40:20:40) mostrou tempo de retenção muito próximo ao clonazepam, não podendo ser separado. Para o clordiazepóxido e flurazepam não foi possível realizar a separação, pois se comportam muito semelhantes frente às diferentes proporções da fase móvel. E o midazolam não foi detectado nas proporções da fase móvel presentes nos gráficos da figura 11, mas foi possível sua detecção na fase GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original móvel ACN:MetOH:H2O (20:35:45), sendo essa fase escolhida para a sua separação. CONCLUSÃO As condições cromatográficas (fase móvel e reveladores) utilizadas na Cromatografia em Camada Delgada (CCD) para a separação dos benzodiazepínicos estudados (bromazepam, clonazepam, clordiazepóxido, diazepam, flunitrazepam, flurazepam e midazolam) foram estabelecidas. São elas: fase móvel acetato de etila:metanol:hidróxido de amônia (89,5:10:0,5) e reveladores solução de cloreto férrico, aquecimento e solução de Dragendorff. Na Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), as condições cromatográficas também foram estabelecidas para a identificação dos sete padrões de benzodiazepínicos. São elas: fluxo de 1mL/min, comprimento de onda de 230nm, coluna C18 e fase móvel acetonitrila:metanol:água em eluição isocrática. Porém, não foi possível encontrar uma proporção da fase móvel capaz de separar todos os padrões, necessitando de mais estudos para o aperfeiçoamento do método, sendo sugerida a utilização de eluição por gradiente para esse objetivo. Dos sete padrões de benzodiazepínicos, a fase móvel acetonitrila:metanol:água (40:20:40) ajustada em pH 4 com ácido fosfórico (1:2) foi capaz de permitir a separação de apenas três (flunitrazepam, clonazepam e diazepam). Além disso, a fase móvel acetonitrila:metanol:água (20:45:35) foi capaz de identificar o midazolam, não detectado nas outras proporções, o que permitiu sua separação dos outros padrões. Apesar de ainda necessitar de mais estudos para o aperfeiçoamento do método na separação dos sete padrões de benzodiazepínicos, os métodos propostos são importantes para as análises toxicológicas qualitativas, com finalidade forense, na identificação dos benzodiazepínicos flunitrazepam, GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo original clonazepam, diazepam e midazolam, fármacos que estão sendo utilizados para a prática de crimes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMIR, L.; WAISMAN, Y. Medical andtoxicologicalaspectsofdrugfacilitated sexual assault. Israeli Journal of Emergency Medicine.Israel, v. 6, n. 3, p. 62-66, 2006. ATKINS, P. W.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BERTHELON, C. et al. Do zopiclone, zolpidem and flunitrazepam have residual effects onsimulated task of collision anticipation.JournalofPsychopharmacology. London, v. 17, n. 3, p. 324331, 2003. BISHOP, S.C.; LERCH, M.; MCCORD, B.R. Micellarelectrokinetic chromatographic screening method for common sexual assault drugs administered in beverages.Forensic Science International.EstadosUnidos, v. 141, p. 7-15, abr., 2004. CHEN, Y.; HU, A. Simultaneous determination of trace benzodiazepines from drinks by using direct electrospray probe/mass spectrometry.Forensic Science International. Hualien, v. 10, p. 79-88, jul., 1999. CLARKE, E.G.C. Clarke’s Isolation and Identification of Drugs. 2. ed. The Pharmaceutical Press: London, 1986. COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Fundamentos de cromatografia.Campinas: Unicamp, 2007. 451 p. DEGANI, A. L. G.; CASS, Q. B.; VIEIRA, P.C. Cromatografia, um breve ensaio. Química Nova na Escola Cromatografia, n. 7, 1998. DODERMAN, A. M; LIDBERG, L. El abuso de flunitrazepam (Rohypnol) em combinación com alcohol provoca violência premeditada grave em varonesjóvenesdelincuentes.Revista de Toxicomanías. Barcelona, v. 28, p. 28-42, 2001. DRUG BANK. OPEN DATA DRUG & DRUG TARGET DATABASE. Disponível em: <http://www.drugbank.ca> Acesso em: 15 julho 2013. GADELHA, Julia de Abreu; VASCONCELOS, Auriana Serra; SANTIAGO, Vívian Romero; JUNIOR, Wanderley Pinheiro de Holanda; MOREIRA, Breno Alves Auad; SOARES, Janete Eliza de Sá; CARVALHO, Teresa Maria de Jesus Ponte. Desenvolvimento de métodos cromatográficos qualitativos para identificação de benzodiazepínicos. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 25-49, out. 2014.

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Artigo revisão Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae) Geiz Malaquias Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas. Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. E-mail: geizmalaquias@hotmail.com.

Gilberto Santos Cerqueira Docente Adjunto. Departamento de Nutrição. Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. E-mail: giufarmacia@hotmail.com.

Paulo Michel Pinheiro Ferreira Docente Adjunto. Departamento de Biofísica e Fisiologia / Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), Universidade Federal do Piauí. *Autor para correspondência: Universidade Federal do Piauí, Avenida Universitária, lado ímpar, Bairro Ininga. Teresina, Piauí. CEP 64.049550. E-mail: pmifepe@yahoo.com.br.

Ana Carolina Landim Pacheco Docente Adjunto. Departamento de Ciências Biológicas. Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. Rua Cícero Duarte, n◦ 940. Bairro Junco. Picos, Piauí, Brasil. CEP 64607-670. Email: carolandim@hotmail.com.

João Marcelo de Castro e Souza Docente Assistente. Departamento de Ciências Biológicas. Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. Email: j.marcelobiologo@hotmail.com. MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão Maria do Socorro Meireles de Deus Docente Assistente. Departamento de Ciências Biológicas. Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. Email: socorro_meireles@yahoo.com.br.

Ana Paula Peron* Departamento de Ciências Biológicas / Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento (PPGM). Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Universidade Federal do Piauí. Rua Cícero Duarte, n◦ 940. Bairro Junco. Picos, Piauí, Brasil. CEP 64607-670. E-mail: anpapegenpes@hotmail.com *Autor para correspondência.

RESUMO Este trabalho teve por objetivo realizar uma revisão bibliográfica extensa, porém objetiva, sobre a utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinales, Salvia officinales e Mentha piperita, pertencentes a família Lamiaceae, visto que, estas plantas são amplamente cultivadas e utilizadas na medicina popular, e estudadas por pesquisadores do mundo todo quanto aos seus potenciais terapêuticos e toxicológicos. Para realização desta pesquisa consultou-se as bases de dados Scielo, PubMed e Google Acadêmico. Após a análise dos artigos verificou-se que estas plantas, principalmente pela ação dos óleos essenciais, terpenos e flavonóides presentes em suas constituições fitoquímicas, são eficientes, na medicina popular e com ação comprovada cientificamente no tratamento de doenças dos aparelhos digestório, circulatório e respiratório, e do sistema nervoso. Quanto a toxicidade em nível celular destas plantas, as três possuem efeito antiproliferativo, citotóxico, genotóxico e mutagênico a linhagens de células normais e tumorais. A partir desta revisão, reforça-se a importância destas plantas na MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão cura e amenização de doenças e o potencial para serem usadas, futuramente, como quimiopreventivas. Palavras-chave: potencial medicinal, ação tóxica as células, alecrim, salvia, hortelã-pimenta.

ABSTRACT This study aimed to perform an extensive, but objective, literature review on the use in folk medicine, therapeutic potential and toxicity at the cellular level, of Rosmarinus officinales, Salvia officinales and Mentha piperita belonging to the family Lamiaceae. These plants are widely cultivated and used in folk medicine, and studied by researchers worldwide for its therapeutic and toxicological potential. For this research, the bases of SciELO, PubMed and Google Scholar were consulted. After analyzing the articles it was found that these plants, mainly by the action of its essential oils, terpenes and flavonoids phytochemical in their constitutions are efficient in the treatment of diseases of the digestive apparatus, circulatory and respiratory, and nervous system. As for toxicity at cellular level, the three plants have antiproliferative, cytotoxic, genotoxic and mutagenic effects to strains of normal and tumor cells. From this review, it is reinforced the importance of these plants in healing and alleviation diseases and the potential for being used in the future as a chemopreventive. Keywords: medicinal potential, action toxic cells, rosemary, salvia e peppermint.

MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão INTRODUÇÃO O uso de plantas medicinais tem sido significativo nos últimos tempos. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que 80% da população mundial faz uso da medicina popular para a amenização ou cura de doenças (LOPES et al. 2010). Assim, tem-se verificado um grande avanço científico no entendimento do mecanismo de ação de compostos químicos presentes nas plantas com ações medicinais, bem como seus potenciais tóxicos, como por exemplo, os flavonóides, alcaloides, terpenos, taninos e esteróis, sendo isto claramente observado pelo número de trabalhos científicos publicados nesta área em congressos e em periódicos nacionais e internacionais (CAPELLO et al. 2007). A família Lamiaceae possui aproximadamente 300 gêneros e 7.500 espécies distribuídas nos diferentes continentes (ALARCON-AGUIAR et al. 2002, AFONSO 2010). Muitas das suas plantas são cultivadas em hortas e jardins, e todas possuem um odor intenso, decorrente da presença de óleos essenciais em suas folhas e flores (SILVA et al. 2010). São também conhecidas por suas propriedades antioxidantes, com destaque as espécies dos gêneros Rosmarinus, Salvia e Mentha, que, em geral, são plantas subarbustivas, de pequeno porte e muito ramificadas (CUVELIER et al. 1994). Em função da composição fitoquímica, estas plantas possuem importante

valor

econômico,

sendo

utilizadas

na

culinária,

como

condimento, e como ornamentais, na decoração e arejamento de ambientes (VEIGA-JÚNIOR e MELLO 2008). Outra característica importante é o potencial terapêutico de seus representantes, onde, diferentemente de outras famílias de plantas, a Lamiaceae possui espécies, que além da utilização na medicina popular, possuem grupos químicos com ação terapêutica e tóxica já comprovados por estudos laboratoriais (SILVA et al. 2010). Dentre os gêneros mais importantes das lamiáceas estão o Rosmarinus, Salvia e Mentha, que MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão possuem

as

espécies

R.

officinalis,

S.

officinales

e

M.

piperita,

respectivamente, como as mais bem definidas em relação a estes aspectos (BAKIKEL et al. 2008). Nesse contexto, este estudo teve por objetivo abordar, de forma extensa, porém objetiva, a utilização na medicina popular, o potencial terapêutico e a toxicidade em nível celular das plantas R. officinalis, S. officinales e M. piperita. METODOLOGIA Tratou-se de uma pesquisa bibliográfica de base descritiva extensa e objetiva, realizada no período de junho de 2000 a agosto de 2014, por meio de levantamento de dados pesquisados na literatura, utilizando as bases de dados Scielo, PubMed e Google Acadêmico, afim de selecionar estudos, em português e inglês, relevantes para a discussão do tema abordado. Para esta seleção utilizou-se a combinação dos seguintes termos: Lamiaceae, aspectos botânicos, potencial medicinal, toxicidade em nível celular, gênero Rosmarinus, espécie Rosmarinus officinales, alecrim, gênero Salvia, espécie Salvia officinales, Salvia, gênero Mentha, espécie Mentha piperita e hortelãpimenta. Desenvolvimento A utilização de plantas para tratamento, cura e prevenção de enfermidades é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade, onde se tem registrados diferentes procedimentos utilizando estes organismos. Apesar da grande evolução da medicina alopática a partir do século XX, ainda existem obstáculos básicos para a utilização dos medicamentos sintéticos por parte da população, em função, muitas vezes, do difícil acesso aos centros de atendimento hospitalares e do valor cobrado por estes medicamentos (COSTA 2008). Estes motivos, associados a fácil MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão obtenção e a grande tradição no uso de plantas medicinais, contribuem para a utilização destas plantas na medicina popular, principalmente pelas populações dos países em desenvolvimento (CALIXTO 2005, VEIGAJÚNIOR e MELLO 2008). Dentre as plantas amplamente utilizadas como medicamento no mundo todo estão as da família Lamiaceae, pertencentes à subclasse Asteridae e a ordem Lamiales, com 300 gêneros e 7.500 espécies encontradas

nos

mais

variados

habitats

(MAYER

2009).

Seus

representantes são típicos de savana, mas podem ser encontrados em áreas quentes de todo o mundo.

No Brasil, esta família, até o momento, é

representada por 34 gêneros, dos quais quatro são endêmicos, e por 498 espécies, das quais 334 são endêmicas (HARLEY et al. 2013). Seus representantes possuem caule curto e lenhoso, e flores pequenas de coloração azul a violeta dispostas em inflorescências. Usualmente, são cultivados em hortas e jardins residenciais, com destaque as espécies dos gêneros Ocimum, Lavandula, Mentha, Majorana, Rosmarinus e Salvia. Possuem odor intenso, e por isso classificadas como aromáticas, decorrentes de suas folhas e flores serem ricamente constituídas por óleos essenciais (BARREIRO 2006). Em função da constituição fitoquímica, muitas destas espécies são utilizadas como condimentos, na decoração de ambientes, na fabricação de cosméticos e, principalmente, para fins medicinais (HARLEY et al. 2013). Ações medicinais e toxicidade em nível celular da espécie R. officinalis Dentre os representantes da família Lamiaceae encontra-se a R. officinalis L., conhecida popularmente como alecrim. Esta espécie possui origem na região mediterrânea da Europa, mas é cultivada em quase todos os países de clima tropical, como por exemplo, o Brasil, e encontrada em MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão quintais residenciais; ervanários, na forma in natura e seca moída; e hortas. Além de alecrim, esta herbácea também é conhecida por alecrim-de-cheiro, alecrim-das-hortas, alecrim-da-casa, alecrim-comum, alecrim verdadeiro e rosmaninho (SILVA et al. 2010). Em relação a

constituição botânica, o alecrim possui

porte

subarbustivo lenhoso, ereto de até 1,5m de altura, pouco ramificado com folhas pequenas, lineares, coriáceas, de aroma forte, de 1,5 a 4cm de comprimento por 1 a 3mm de espessura, flores pequenas de cor azul-claro e de aroma intenso (ANGIONI et al. 2004). Na constituição fitoquímica de suas folhas e flores ocorrem a presença de diterpenos, como o ácido carnósico (presente

de

forma

marjoritária),

carnosol,

rosmadiol,

rosmanol,

epirosmanol, rosmaquinonas e metil carnosato. Também são encontrados os flavonóides, como a genkvanina, cirsmaritina, diosmetina, diosmina, gencuanina, luteolina, hispidulina e apigenina; os ácidos caféico, clorogênico e rosmarínico; e esteróis (SILVA et al. 2010). Na medicina popular dos países da América do Sul e da Europa as folhas e flores do alecrim são utilizadas em infusão para a amenização de flatulência epigástricas, como aceladoras da digestão, como diurética e digestiva, como coleréticas, colagogas, na desobstrução nasal, na eliminação de catarros, como cicatrizantes, antimicrobianas, na amenização de problemas circulatórios e reumáticos (LORENZI e MATOS 2002, AFONSO et al. 2010), na amenização de dores de cabeça, enxaquecas, tonturas, falta de memória, depressão, na cura de eczemas, como analgésicos para dores de garganta (SILVA et al. 2010), na amenização de mialgias, neuralgias intercostal e dor ciática, na amenização de cansaço físico e mental (HEINRICH et al. 2006), e como antidiabético (BAKIKEL et al. 2008). No entanto, nas últimas décadas, ocorreram mudanças importantes no conceito de medicamentos de origem vegetal, onde as indústrias farmacêuticas e outros laboratórios de pesquisas passaram a considerar MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão plantas medicinais, como a R. officinales e outros representantes da família Lamiaceae, importantes protótipos para o desenvolvimento de novos medicamentos. Atualmente, laboratórios em todo mundo estudam a ação medicinal dos compostos químicos presentes nesta espécie. A seguir, serão citados

estudos

realizados

com

compostos

químicos

presentes

na

constituição fitoquímica nas folhas e flores do alecrim. Heinrich e colaboradores (2006) e Hussain e colaboradores (2010) verificaram atividade antioxidante e antitumoral, respectivamente, em roedores tratados com os terpenos rosmadiol e rosmanol extraídos das folhas do alecrim. Ainda, estudos laboratoriais demonstraram que o ácido carnósico isolado desta planta protege os cloroplastos da oxidação, retirando radicais livres, durante situações de estresse na planta, como baixa umidade e altas temperaturas. Pesquisas realizadas com roedores mostraram que o efeito antioxidante dos seus terpenos carnosol foi superior aos do antioxidante sintético butil-hidróxi-anisol (BHA) e semelhante a do antioxidante sintético butil-hidróxi-tolueno (BHT). Também se verificou que o seu diterpeno carnosol possui a habilidade de reduzir danos oxidativos causados ao DNA, a proteínas e as membranas fosfolipídicas de mamíferos. Hussain e colaboradores (2010) relataram, a partir de estudos realizados com animais e culturas de células, que os terpenos encontrados no alecrim desempenham importante papel na regulação da atividade e/ou expressão de sistemas enzimáticos implicados em processos fisiológicos vitais ao organismo, como apoptose, destruição de células tumorais, transdução do sinal intracelular e regulação de enzimas que metabolizam xenobióticos no fígado, como a superóxido dismutase, catalase e glutationa transferase. Estes autores também relatam que a natureza lipofílica dos terpenos extraído do alecrim tem nas membranas biológicas um dos principais alvos para a sua atividade, visto que, o ácido carnósico e seus

MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão derivados foram encontrados associados a membranas de cloroplastos, protegendo estas estruturas. Trabalhos mostraram a eficácia do óleo essencial de R. officinales em aumentar o desenvolvimento cognitivo em seres humanos saudáveis submetidos a uma bateria de testes computadorizados, onde foi observado que o impacto olfatório causado por este óleo realça significativamente a qualidade total da memória secundária. Dentre as ações farmacológicas desta espécie comprovadas cientificamente tem-se observado também a ação hipoglicemiante, a atividade inibidora da enzima acetilcolinesterase e da αamilase, e efeito hepatoprotetor contra agentes hepatotóxicos, como aos compostos tetracloreto de carbono (CCl4), tetra-butilhidroperóxido (t-BHP), ciclofosfamida e azatioprina (YESIL-CELIKTAS et al. 2010) Ainda,

Visanji

e

colaboradores

(2006)

relataram

a

ação

antimicrobiana do extrato etanólico de alecrim frente a bactérias sensíveis e resistentes a antibióticos sintéticos, onde foi possível verificar sinergismo entre antibióticos e os extratos desta planta, possibilitando que antibióticos ineficazes apresentassem ação sobre bactérias resistentes. Estes autores ainda demonstraram demostraram atividade bacteriostática e fungiostática do extrato aquoso de alecrim por meio da técnica do orifício em ágar. Em relação a toxicidade em nível celular desta planta, pode-se citar sua atividade celular antiproliferativa. Esta atividade é atribuída à ação dos compostos químicos rosmarinidifenol, rosmariquinona e rosmanol (YESIL-CELIKTAS et al. 2010). Segundo Visanji e colaboradores (2006), altas concentrações destes terpenos estacionam o ciclo celular na fase G2 da interfase por interromper a duplicação do citoplasma e o início da condensação cromossômica. Estes autores ainda observaram que superdosagens do diterpeno carnosol tem a ação de estacionar células em divisão, no estágio de prometáfase, por atuar sobre as ciclinas B1 durante a divisão celular, não permitindo a formação adequada do fuso mitótico. Este dado MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão corrobora aos resultados obtidos neste trabalho, onde em todos os TR, nos três TE, ocorreu um grande número de células em prófase (Tabela 1). Muitas pesquisas sobre o efeito antiproliferativo do alecrim foram realizadas nos últimos anos, como a de Yesil-Celiktas e colaboradores (2010) que avaliaram a ação de extratos aquosos e alcóolicos das folhas de R. officinalis, em concentrações consideradas elevadas, que variaram de 12,50 a 47,55 microg/mL, sobre as linhagens de células humanas NCI-H82 (células de carcinoma de pulmão), DU-145 (células de carcinoma de próstata), Hep3B (células de carcinoma de fígado), K-562 (leucemia mielóide crônica) e MCF-7 (adenocarcinoma da mama) e verificaram que o alecrim inibiu significativamente a divisão celular em todas elas. De modo semelhante, Tai e colaboradores (2012) e Cheng e colaboradores (2011) observaram redução significativa do índice mitótico em células da linhagem A2780 (células cancerosas de ovário humano), e de várias linhagens celulares de carcinomas de cólon de roedores tratadas com concentrações elevadas de carnosol, respectivamente. Dessa forma, a planta alecrim tem sido considerada por muitos pesquisadores como um potente anticancerígeno, antitumoral e quimiopreventivo. Ações medicinais e toxicidade em nível celular da espécie S. officinalis Outra espécie da família Lamiaceae, porém do gênero Salvia, muito utilizada na medicina popular de todo o mundo e que, recentemente, tem sido amplamente estudada quanto ao seu potencial medicinal por pesquisadores

de

muitos

países,

é a

S.

officinales

L.,

conhecida

popularmente como salva, salva-das-boticas e salva-dos-jardins. É uma planta originária do Mediterrâneo, e, da mesma forma que o alecrim, é encontrada no mundo todo (PIEROZAN et al. 2009). Suas plantas apresentam hábito de crescimento herbáceo ou arbustivo muito ramificado, MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão de pequeno porte, medindo entre 50 a 80cm, com florescimento entre os meses de agosto e dezembro (LORENZI e MATOS 2002). Possuem folhas verde-acinzentadas, oval-lanceoladas e largas, e flores agrupadas em espiga (CORRÊA et al. 2003). Na composição fitoquímica das flores e folhas desta espécie estão presentes os terpenos ácido carnosólico, ácido oleanólico, ácido ursólico e carnosol; os flavonóides diosmina, luteolina, apigenina e quercetina; o fenol ácido cafeico; os óleos essenciais cineol, cânfora, borneol, tuiona; e taninos (LORENZI e MATOS 2002). Na medicina popular a Salvia em infusão é utilizada para amenização da ansiedade, irritabilidade, para dispepsia, na cura de problemas hepáticos e digestivos (PIEROZAN et al. 2009), como redutora da lactação, antiglicemiante, antimicrobiana, na higiene bucal, no combate a leucorréias, na cicatrização de feridas (ALONSO 2004, LIMA et al. 2005), na cura de aftas, no combate a dores de dente, na cura de úlceras e como emenagoga (LORENZI e MATOS 2002). Estudos laboratoriais demonstraram que os terpenos presentes na composição fitoquímica das folhas e flores da S. officinales possui grande potencial antiinflamatório, antiproliferativo e neuroprotetor as células de roedores e humanos (POECKEL et al., 2008). Em 2007, Bozin e colaboradores avaliaram a capacidade antimicrobiana do cineol e cânfora presentes nesta planta e verificaram que estes compostos químicos agiram contra cepas de Escherichia coli L., Salmonella typhi L., Salmonella enteritidis L. e Shigella sonei L. Poeckel e colaboradores (2008) demonstraram a capacidade dos terpenos ácido carnósico e carnosol extraídos da Salvia agirem em células de roedores diretamente em agentes pró-inflamatórios, inibindo células polimorfonucleares (PLM) e a formação de leucotrienos.

Maryam e

colaboradores (2005) demonstraram o efeito hipoglicemiante do extrato metanólico de folhas de S. officinalis em ratos diabéticos induzidos por MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão estreptozotocina. Ainda, Rodrigues e colaboradores (2003) observaram potencial cicatrizante do ácido oleanólico em ratos com úlceras induzidas por ácido acético. Em relação a toxicidade em nível celular utilizando extratos de Salvia, estudos como os de Nicollela e colaboradores (2014) mostraram que o extrato aquoso das folhas desta planta promoveu o aparecimento de micronúcleos em cultura de células de fibroblastos de pulmão de hamster chinês (V79) e em cultura de células de hepatoma humano. Também reduziu de forma significativa o índice de divisão celular destas células, mostrandose citotóxico e mutagênico as linhagens de células em questão. Sertel e colaboradores (2011) observaram que altas concentrações do óleo essencial de S. officinalis foram citotóxicas e mutagênicas a linhagem HNSCC, linhagem de carcinoma da cavidade oral de humanos, reduzindo a viabilidade celular ao mínimo. Loizzo e colaboradores (2007) verificaram que o óleo essencial extraído das folhas e flores de desta planta tem grande potencial em inibir a divisão celular em células de tumor humano, como nos casos de câncer renal, de próstata, de mama e de pele. Da mesma forma que o alecrim, a Salvia tem sido considerada um importante quimiopreventivo. No entanto mais pesquisas devem ser realizadas em diferentes sistemas testes para se afirmar com propriedade esta ação. Ações medicinais e toxicidade em nível celular da espécie M. piperita Também pertencentes à família Lameaceae as espécies do gênero Mentha, conhecidas popularmente como hortelãs ou mentas, são muito utilizadas na medicina popular de vários países (DORMAN et al. 2003). Supõe-se que as hortelãs tenham sido introduzidas na Europa, via norte da África (RUSSOMANNO et al. 2005). Atualmente as espécies do gênero

MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão Mentha encontram-se em toda a Europa, África e Américas (PATON et al. 2000;). A mais conhecida popularmente das hortelãs é a espécie M. piperita, conhecida popularmente como menta, hortelã e hortelã-pimenta. Trata-se de uma espécie herbácea, perene, de caule subarbustivo com 60 a 90cm de altura, muito ramificados. Possuem folhas pilosas, pecioladas, opostas, lanceoladas e agudas, com bordas serreadas de cor verde escura na face superior e verde clara na face inferior, e com flores, de cor lilás, em espigas terminais (RUSSOMANNO et al. 2005). Esta espécie, da mesma forma que outras plantas da família Lamiaceae, é rica em óleo essencial que produz um aroma mentolado, balsâmico e fresco, característico do hortelã-pimenta e com diversas aplicações na indústria de alimentos, cosmética e farmacêutica (SILVA 2001). A composição fitoquímica destas plantas são o mentol, mentona, mentofurano, acetato de mentila e pulegona (AFLATUNI 2005; CAPELLO et al. 2005). De acordo com Cassol (2007) a M. piperita é utilizada na medicina popular para a amenização da atonia digestiva, gastralgia, cólicas, afecções hepáticas, bronquite crônica, como calmante, revitalizante, antidepressivo, antialérgico, carminativo, hipotensor, tônico em geral, antiespasmódico, espasmolítica,

antiemética,

estomáquica

e

como

broncodilatadora

(LORENZI e MATOS 2006) e estimulante do sistema nervoso (MIMICA et al. 2003). Ainda na medicina popular, segundo Lorenzi e Matos (2006), o hortelã-pimenta pode ser utilizado como digestivo, no combate a náuseas e a flatulência, como antivomitivo, na amenização de inflamações de gengiva e cólicas intestinais. O hortelã-pimenta há vários anos é avaliado em estudos laboratoriais quanto ao seu potencial medicinal. Mimica et al. (2003), verificaram que o óleo extraído das folhas desta planta possui propriedade, MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão antifúgica; antibactericida, frente a cepas E. coli; e grande potencial antioxidante em células de ratos Wistar, diminuindo drasticamente a concentração de radicais hidroxila –(OH). Em outro trabalho, Lorenzi e Matos (2006) usaram o óleo de hortelãpimenta no tratamento de transtornos digestivos, melhorando os sintomas abdominais em pacientes com síndrome do cólon irritável. Ainda, testaram o óleo essencial de M. piperita em inalação e observaram sua eficiência no tratamento de distúrbios respiratórios. Ainda, verificaram que o óleo desta planta é um potente estimulante do Sistema Nervoso Central em mamíferos, por potencializar o estado de alerta quando inalado. Mimica et al. (2003) relataram que o óleo deste tipo de hortelã possui potente atividade analgésica em humanos, reduzindo de forma significativa a sensibilidade na dor de cabeça e enxaqueca quando administrados em seres humanos. Também verificaram que este óleo é eficiente no combate a acnes e dermatites. Estes autores também citam que o óleo extraído das folhas do hortelã-pimenta é estimulante da circulação especialmente nos casos de lipodistrofia ginóide e varizes. Smartha e colaboradores (2006) verificaram que extratos aquosos administrado a camundongos Swiss tiveram ação antigenotóxica e quimiopreventivas as células destes animais. Romero-Jimenez (2005) avaliaram o potencial genotóxico de extratos aquosos de M. piperita em teste de SMART e verificaram sua capacidade em retirar radicais livres. Assim estes autores afirmam que o as folhas do hortelã-pimenta possuem potente atividade antioxidante. Ainda, em estudos realizados por Jain e colaboradores (2011) e Ferreira e colaboradores (2014) foi verificado que os óleos essenciais presentes nas folhas desta planta promovem fragmentação das mitocôndria e condensação da cromatina sem perda da integridade da membrana plasmática, acelerando o processo de apoptoses em células de roedores. No entanto, MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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Artigo revisão diferentemente do alecrim e da salvia, o hortelã-pimenta ainda foi pouco estudado quanto seu potencial quimiopreventivo. Assim, pesquisadores como Smartha e colaboradores (2006) e Jain e colaboradores (2011) afirmam que mais pesquisas são necessárias para se pra a verificação deste potencial. CONCLUSÃO A partir desta revisão pode se verificar e reforçar a importância medicinal destas três espécies, onde estas plantas, apesar de serem de gêneros diferentes possuem propriedades terapêutica parecidas, com ênfase a atividade citotóxica, genotóxica, mutagênicas e quimiopreventivas a linhagens de células tumorais, principalmente, pela ação de seus óleos essenciais. Assim, é importante que outras plantas da Família Lamiaceae sejam estudas para a verificação de suas ações medicinais bem como os seus potenciais tóxicos em nível celular e assim gerar benefícios a população de um modo geral. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFLATUNI, A. The yield and essential oil content of mint (Mentha ssp.) in northern ostrobothnia. Dissertação de mestrado da Universidade de Oulu, Oulu, 2005. AFONSO, M. S.; SANT´ANA, L. S.; MANCINI-FILHO, J. Interação entre antioxidantes naturais e espécies reativas de oxigênio nas doenças cardiovasculares: perspectivas para a contribuição do alecrim (Rosmarinus officinalisL.). Nutrire, v.35, n. 1, p.129-148. 2010. ALARCON-AGUILAR F. J.; ROMAN-RAMOS R.; FLORES-SAENZ J. L.; AGUIRRE-GARCIA F. Investigation on the hypoglycemic effects of extracts of four Mexican medicinal plants in normal and alloxan-diabetic mice. Phytotheraphy Research, v. 16, n. 4, p. 383-386. 2002. ALONSO, J. Tratado de Fltofarmacos y Nutracéuticos. Rosário, Corpus Libras, 2004. 200p. ANGIONI, A.; BARRA, A.; CERETI, E.; BARILE, D.; COÏSSON J. D.; ARLORIO M.; DESSI S.; CORONEO, V.; CABRAS, P. Chemical MALAQUIAS, Geiz; CERQUEIRA, Gilberto Santos; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; PACHECO, Ana Carolina Landim; SOUZA, João Marcelo de Castro e; DEUS, Maria do Socorro Meireles de; PERON, Ana Paula. Utilização na medicina popular, potencial terapêutico e toxicidade em nível celular das plantas Rosmarinus officinalis L., Salvia officinalis L. e Mentha piperita L. (Família Lamiaceae). RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 50-68, out. 2014.

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of

Salvia

officinalis

L.

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Artigo revisão SAMARTH, R. M.; PANWAR, M.; KUMAR, A. Modulatory effectsmof Mentha piperita on lung tumor incidence, genotoxicity and oxidative strees in benzo[a]pyrene-treated Swiss albino mice. Environmental Molecular Mutegenese, v. 47, n.3, p. 192-198. 2006. SERTEL, S. Anticancer activity of Salvia officinalis essential oil against HNSCC cell line (UMSCC1)]." Hno. v. 59, n.12, p. 1203-1208. 2011. SILVA, A. B., SILVA, T.; FRANCO, E. S.; RABELO, S. A.; LIMA, E. R.; MOTA, R. A.; CAMARA, C. A. G. da; PONTES-FILHO, N. T. Atividade antibacteriana, composição química, e citotoxicidade do óleo essencial de folhas de árvore de pimenta brasileira (Schinus terebinthifolius Raddi). Brazilian Journal Microbiologic, v. 41, p. 158-163. 2010. ROMERO-JIMÉNEZ, M.; CAMPUS-SANCHEZ, J.; ANALLA, M.; MUÑOZSERRANO, A.; ALONSO-MORAGA, A. Genotoxicity and anti-genoetoxicity of some tradicional medicinal herbs. Mutation Research, v. 585, n. 1-2, p. 147-155. 2005. TAI, J.; CHEUNG, S.; WU, M.; HASMAN, D. Antiproliferation effect of Rosemary Rosmarinus officinalis on human ovarian cancer cells in vitro. Phytomedicine,v. 19, n. 05, p. 436-443. 2012. VISANJI, J.M.; THOMPSON, D.G.; PADFIELD, P.J., 2006. Induction of G2 /M phase cell cycle arrest by carnosol and carnosic acid is associated with alteration of cyclin A and cyclin B1 levels. Cancer letters, v. 237, n. 1, p. 130-136. 2006. YESIL-CELIKTAS, O.; SEVIMLI, C.; BEDIR, E.; VARDAR-SUKAN, F. Inhibitory effects of rosemary extracts, carnosic acid and rosmarinic acid on the growth of various human cancer cell lines. Plant Foods for Human Nutrition, v. 65, n. 02, p. 158-163. 2010.

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Ensaio A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações Ana Paula Teixeira Santos Administradora de empresas graduada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Administradora, Organização Dinâmica da Intertox.

RESUMO Entre os principais problemas que ameaçam a sobrevivência das próximas gerações podemos destacar o crescimento demográfico, a limitação dos recursos indispensáveis à vida e o aumento contínuo dos níveis de produção. Baseado nesses fatores veremos a perspectiva de futuro das populações elaborada por Malthus e Hardin (perspectiva pessimista) e a perspectiva elaborada por Adam Smith e Julian Simon (perspectiva otimista). Será abordado também como a Sustentabilidade pode melhorar as empresas protegendo-as,

gerenciando-as

e

promovendo

seu

crescimento.

Apresentaremos uma comparação das principais características que diferenciam uma empresa com Visão Tradicional (reativa) de uma empresa com Visão Sustentável (proativa), e também abordaremos como os termos Ética e Moral estão ligados às ações das empresas, principalmente suas ações sustentáveis. Palavras-chave: Sustentabilidade; Gestão Ambiental; Empresas; Recursos Ambientais; Responsabilidade Social.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio ABSTRACT Among the main issues that threaten the survival of future generations it is possible to highlight the demographic growth, limitation of resources required for living, and the continuous increase in production levels. Based on these factors it will be presented the prospect of future populations developed by Malthus and Hardin (pessimistic outlook) and the prospect elaborated by Adam Smith and Julian Simon (optimistic outlook). Furthermore, it will be discussed how the Sustainability can improve companies, protecting, managing and promoting their growth. It will be presented a comparison of the main features that differentiate a company with a Traditional View (reactive) from a company with a Sustainable Vision (proactive), and also it will be discussed how the terms Ethics and Moral are linked to the procedures of companies, especially their sustainable actions. Keywords:

Sustainability;

Environmental

Management;

Companies;

Resources; Social Responsibility.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizaçþes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio INTRODUÇÃO Sustentabilidade é um modo de suprir as necessidades humanas sem comprometer as futuras gerações. A responsabilidade de uma empresa pelo carbono emitido, começa na extração ou na manufatura de matérias-primas e estende-se por toda a cadeia produtiva e além dela, para as emissões associadas ao consumo e ao descarte do produto consumido (seus cartuchos e suas embalagens). A empresa sustentável do século XXI é aquela que avalia todo o ciclo de vida do produto, calcula suas emissões de carbono e desenvolve uma estratégia de minimização e, no longo prazo, de eliminação desse conteúdo de carbono. A “descarbonização” é a única meta aceitável em uma estratégia de sustentabilidade no longo prazo. Para a maioria dos produtos e serviços ofertados no mercado global, é possível obter reduções significativas das emissões de carbono ou do grau de carbonização recorrendo a tecnologias já disponíveis. O que forçará mudanças no perfil de carbono da demanda e da produção de bens e serviços? Com certeza, os fatores mais determinantes serão o aumento e redefinição da ação regulatória do Estado e a presença crescente de um novo agente regulador: a agência multilateral ou global. Leilões de cotas e créditos de emissões de carbono, impostos sobre carbono, regras restritivas e proibições diretas de determinadas práticas e usos se tornarão frequentes e comuns nos próximos anos. Quem não se adaptar a esse novo cenário perderá competitividade, mercado e, no limite, não conseguirá sobreviver nele. O Brasil é o único país do mundo de grande extensão territorial que concentra o transporte de cargas no modelo rodoviário. O país tem desprezado as ferrovias e hidrovias como meio de transporte de cargas de

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio longa distância. Essas distorções no sistema de transportes fazem com que ele seja um grande emissor potencial de gases de efeito estufa. As

políticas

energéticas

em

diferentes

países

estão

sendo

progressivamente reorientadas, a fim de atingir, no longo prazo, padrões de produção e uso de energia que levem em consideração

três fatores

(segurança do abastecimento e disponibilidade de recursos energéticos; busca de flexibilidade da demanda;

preocupação e responsabilidades

ambientais). Exemplos dessa tendência: Setor de transportes: os carros flex

bi ou tricombustível e os carros

híbridos, especialmente associados à tecnologia plug-in1 (ver foto abaixo), e o papel crescente do uso de biocombustíveis de primeira geração a partir de matérias-primas agrícolas, como o etanol (proveniente da cana-de-açúcar, no Brasil, e proveniente do milho, nos Estados Unidos) e o biodiesel, produzido a partir de diferentes oleaginosas. Geração de eletricidade: o papel crescente das centrais eólicas em diferentes países e as novas tecnologias visando reduzir o nível de emissões das centrais a carvão. Programas

de

eficiência

energética:

diferentes

tecnologias

e

equipamentos reduzindo o consumo de energia, além de programas de gestão da demanda e novas regulamentações fixando padrões de consumo eficiente para diferentes equipamentos. O futuro do setor de petróleo e gás natural está fortemente vinculado às transformações advindas do setor de transportes, no qual predomina o uso de derivados do petróleo, porém, a grande e longa transição aponta para uma corrida tecnológica cujo objetivo é abastecer o automóvel do futuro. É provável o surgimento de uma grande variedade de iniciativas em

1

Um automóvel híbrido plug-in possui dois motores, sendo: um motor elétrico e um de apoio (o tradicional, motor a explosão) a bateria usada para alimentar o motor elétrico pode ser carregada através de uma tomada, isso faz com que o carro opere com uma quantidade significativamente reduzida de combustível fóssil.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio biocombustíveis, que devem concorrer com iniciativas em outras tecnologias que seriam mutuamente exclusivas: células a combustível, carros elétricos, veículos híbridos. (ZYLBERSZTAJN e LINS, 2010). As 5 dimensões da Sustentabilidade A Gestão Ambiental resume-se em um sistema de atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, processos e recursos para desenvolver, atingir, analisar e manter a política ambiental. O objetivo é fazer a empresa minimizar os impactos e efeitos negativos provocados no ambiente por suas atividades de produção, seja produtos ou serviços. Empresas que aderiram a gestão ambiental com responsabilidade, vivenciam os benefícios da sustentabilidade em suas diferentes esferas organizacionais (benefícios econômicos, benefícios estratégicos e incremento da receita corporativa). Pensar em Sustentabilidade é pensar grande, pensar amplo. E é por isso que alguns autores afirmam que a Sustentabilidade pode ser dividida em cinco dimensões2 : Sustentabilidade Social – a criação de um processo de desenvolvimento sustentado por uma civilização com igualdade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir as diferenças entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres. Alguns autores incluem aqui, na Sustentabilidade Social, os programas e ações de conscientização da sociedade que visam posicioná-la contra o consumismo exagerado e supérfluo, fortemente visível no presente século.

2 A abordagem da Sustentabilidade dividida em 5 dimensões foi formulada primeiramente por Ignacy Sachs e

pode ser verificada em SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável e sustentado. Rio de Janeiro: Ed. Garamond, 2004 , p. 15-16 e TINOCO, João Eduardo. KRAEMER, Maria Elisabeth. Contabilidade e Gestão Ambiental. São Paulo: Editora Atlas, 2004, p. 137.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio Sustentabilidade Econômica – alcançada através do gerenciamento eficiente dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos e privados. Sustentabilidade Ecológica – alcançada através da limitação do consumo de combustíveis fósseis e demais recursos facilmente esgotáveis, redução dos resíduos e da poluição através da conservação de energia, de recursos naturais

e da reciclagem. Inclui-se aqui, a busca pela substituição de

recursos não-renováveis por alternativas renováveis e de menor impacto ambiental e social. Sustentabilidade Espacial – dirigida para a obtenção de um cenário rural-urbano mais equilibrado e com melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas. Sustentabilidade Cultural – inclui a procura por raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, que facilitam a geração de soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a área. Para planejar um modelo de desenvolvimento que pretenda ser sustentável, deve-se considerar todas as dimensões envolvidas direta e indiretamente

no

negócio,

e

também

conhecer

os

objetivos

do

desenvolvimento sustentável:

Retomar o crescimento.

Alterar a qualidade do desenvolvimento.

Atender às necessidades essenciais de emprego, alimentação, energia, água e saneamento.

Manter um nível populacional sustentável.

Conservar e melhorar a base de recursos.

Reorientar a tecnologia e administrar o risco .

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio 

Incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisões.

Sob a atual pressão mercadológica e da sociedade, a empresa que não incorporar o conceito de sustentabilidade, verdadeiramente, em sua gestão de negócios e não apenas no discurso ou nas ações de marketing, provavelmente terá dificuldades em sobreviver às próximas décadas. Uma montadora de automóveis não pode, por exemplo, usar recursos de comunicação para se vangloriar de “ser ambientalmente correta” apenas por adotar tapetes feitos a partir da reciclagem de garrafas pet, ignorando os impactos causados ao meio ambiente ao longo do ciclo de vida desse meio de transporte. Um carro é fabricado a partir de mais de uma tonelada de aço, além de utilizar borracha, vidro e plástico, e é movido a combustível fóssil. A indústria de transporte é uma das mais poluidoras do mundo. Sendo assim, associar a gestão sustentável à utilização de tapetes reciclados não pode ser considerado um exemplo de sustentabilidade, pois corresponde apenas a uma ação de marketing. (ZYLBERSZTAJN e LINS, 2010). Políticas Públicas Ambientais Segundo Barbieri (2007), entende-se por Política Pública Ambiental o conjunto de objetivos, diretrizes e instrumentos de ação que o poder público dispõe para produzir efeitos desejáveis sobre o meio ambiente. À medida que os problemas surgiam a gestão ambiental começou a ser desenvolvida e implantada pelos governos dos Estados nacionais, de modo que as primeiras manifestações de gestão ambiental procuravam solucionar problemas de escassez de recursos vitais à subsistência humana e animal, só após a Revolução Industrial os problemas ligados à poluição começaram a ser tratados de modo sistemático. Durante muito tempo as iniciativas dos governos eram quase exclusivamente de caráter corretivo, os governos só SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio enfrentavam os problemas ambientais depois que eles já tinham sido criados, isso ainda ocorre explicitamente em muitas situações, inclusive em países considerados de primeiro mundo. Foi a partir dos anos 1970 que vários países começaram a desenvolver políticas governamentais que tratassem as questões ambientais de modo integrado e, inclusive, introduzindo uma abordagem preventiva. Os debates sobre a relação entre meio ambiente e desenvolvimento urbano e os acordos ambientais multilaterais contribuíram, e muito, para essa mudança de comportamento e de políticas públicas integradas. Como

reflexo

das

políticas

públicas

ambientais

diversos

instrumentos de comando e controle operando, fiscalizando, monitorando e auditando empresas de diversos setores e segmentos de atuação. Esses instrumentos também são chamados de instrumentos de regulação direta e objetivam alcançar as ações que degradam o meio ambiente, limitando ou condicionando o uso de bens, a realização de atividades e o exercício de liberdades individuais em benefício da sociedade como um todo. Trata-se do exercício do poder de polícia dos entes estatais, que manifesta-se por meio de proibições, restrições e obrigações impostas às organizações e aos indivíduos através de normas legais. A seguir veremos a classificação e os tipos mais comuns de Instrumentos de Política Pública Ambiental3:

Referente a Comando e Controle:

 Padrão de emissão  Padrão de qualidade  Padrão de desempenho 3

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p.73.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio  Padrões tecnológicos  Proibições e restrições sobre produção, comercialização e uso de produtos e processos.

 Licenciamento ambiental  Zoneamento ambiental  Estudo prévio de impacto ambiental.

Referente ao Econômico:

 Tributação sobre poluição  Tributação sobre uso de recursos naturais  Incentivos fiscais para reduzir emissões e conservar recursos  Remuneração pela conservação de serviços ambientais  Financiamentos com condições especiais.  Criação de mercados de produtos ambientalmente saudáveis  Permissões negociáveis  Sistema de depósito-retorno  Poder de compra do Estado (licitações sustentáveis ou fornecedores ecologicamente corretos)

Outros:

 Apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico  Educação ambiental.  Unidades de conservação  Informações ao público.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio Dentre todos esses tipos de instrumentos de política pública ambiental os três tipos de maior importância são: padrões de qualidade ambiental, padrões de emissão e padrões tecnológicos. Os padrões de qualidade ambiental se referem aos níveis máximos admitidos para os poluentes de um dado segmento do meio ambiente, são segmentados em ar, água e solo. Esses níveis são estabelecidos como médias aritméticas ou geométricas de concentração diária ou anual, permitindo com isso, incorporar as variações climáticas que afetam a dispersão e a concentração dos poluentes. Os padrões de emissão se referem aos lançamentos de poluentes individualizados por fonte aos lançamentos de poluentes individualizados por fontes fixas ou estacionárias, como os armazéns, as fábricas e as lojas, ou fontes móveis, como os automóveis, caminhões, embarcações e outros veículos. Os padrões de emissão estabelecem uma quantidade máxima aceitável de cada tipo de poluente por fonte poluidora (ex. 0,5 mg/l de chumbo) ou uma quantidade máxima por unidade de tempo (ex. “X” toneladas de dióxido de carbono por dia, mês ou ano). Há um tipo especial de padrão de emissão que estabelece exigências no desempenho das máquinas, equipamentos e operações fabris, com o objetivo de reduzir a emissão de poluentes específicos a um nível aceitável, como normas legais que estabelecem valores máximos permitidos para as emissões de gases e fumaça em veículos automotores (ex. limite máximo de emissão de monóxido de carbono de veículos automotores: 24g/km). O controle da poluição pode ser estabelecido através dos meios e recursos tecnológicos que as fontes poluidoras adotarem. É importante compreendermos que o termo “tecnologia” abrange não somente softwares e programas com linguagem computacional, mas inclui também máquinas, instalações, ferramentas, materiais e outros elementos físicos de um estabelecimento ou uma unidade produtiva, práticas administrativas e operacionais ex: avaliação de fornecedores, especificar e selecionar SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio materiais, métodos de inspeção, roteiro da produção, planejamento da manutenção e treinamento. Segundo Barbieri (2007), definir o padrão tecnológico é uma tarefa árdua e complexa para a alta administração da empresa, pois além das tecnologias estarem em constante evolução elas representam ativos de posse privativa daqueles que as desenvolvem, de forma que a melhor tecnologia para certa finalidade nem sempre está disponível para todos os agentes produtivos, devido a isto, o padrão tecnológico a ser adotado precisa sempre considerar a disponibilidade da tecnologia. Em geral, o padrão tecnológico é estabelecido após consultas com especialistas, fornecedores de tecnologia e os responsáveis pelas unidades produtivas. O objetivo de todas essas consultas é alcançar consenso entre as partes quanto ao melhor padrão tecnológico disponível a ser adotado. De acordo com os estudos de Barbieri, as empresas se utilizam de dois importantes critérios para auxiliá-las na escolha da tecnologia que irão adotar em seus processos produtivos. Um desses critérios se baseia no conceito de Melhor Tecnologia Disponível e o outro se baseia na Melhor Tecnologia Disponível que Não Acarreta Custo Excessivo4. Este segundo critério procura evitar que a empresa adote um padrão de tecnologia que irá apresentar um resultado final muito pequeno em relação às outras tecnologias disponíveis, porém, com um custo consideravelmente mais elevado. Também tenta evitar que o custo da implementação da melhor tecnologia disponível não inviabilize os empreendimentos do ponto de vista econômico. Este segundo critério (Melhor Tecnologia Disponível que Não Acarreta Custo Excessivo) é muito utilizado nos Estados Unidos, no Reino Unido e em outros países da Europa para fixar limites máximos de emissões de poluentes. No Brasil, a prática mais usual é a definição de padrões de

4

BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2ª edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2007, p. 75.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio qualidade e de emissão, o critério de Melhor Tecnologia Disponível é usado apenas na ausência de padrões de emissão fixados em normas legais. Entre os instrumentos de Comando e Controle podemos citar as proibições ou banimentos da produção, banimentos em comercialização e uso de certos produtos, o estabelecimento de cotas de produção, cotas para comercialização ou utilização de materiais ou recursos; o licenciamento ambiental para atividades ou obras potencialmente poluidoras e o zoneamento ambiental também são considerados instrumentos de comando e controle das poluições fabris, industriais, entre outras. Regulamentações

ambientais

adequadas

podem

estimular

o

surgimento de inovações que reduzem os custos ambientais e permitem o uso mais eficiente de recursos. O problema não é a regulamentação em si, mas o modo como ela é formulada. Uma regulamentação ambiental pública rigorosa pode se tornar uma vantagem competitiva para a empresa e o país, em outras palavras, a proteção ambiental, via instrumento de comando e controle, pode ser um importante fator de competitividade das empresas e dos países. (BARBIERI, 2007, p. 84-85). Alguns motivos por que a regulamentação é necessária:

 Cria pressões que motivam a realização de inovações pelas empresas;  Melhora a qualidade ambiental quando a inovação não compensa o custo total da conformidade;

 Educa e alerta a empresa a respeito de ineficiências prováveis e de áreas potenciais para melhorias;

 Aumenta a probabilidade de que as inovações de produtos e processos sejam mais amigáveis ao meio ambiente;

 Cria demanda pelo aprimoramento ambiental, até que as empresas e os clientes sejam capazes de perceber e mensurar a ineficiência dos recursos como fonte de poluição; SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

80


Ensaio  Ajuda a equilibrar o período de transição, assegurando que nenhuma empresa será capaz de ganhar posição por não efetuar os investimentos ambientais.

Ainda dentro do tema Políticas Públicas Ambientais, Barbieri afirma que uma política pública ambiental deve contemplar a educação ambiental e que esta deve ser usada como um de seus instrumentos.

A meta da

educação ambiental é desenvolver uma população consciente e preocupada com o meio ambiente, para atuar individual e coletivamente na busca de soluções para os problemas atuais e para a prevenção de novos problemas, para serem portadoras de soluções e não apenas de denúncias. Uma educação ambiental eficaz deve produzir mudanças nas próprias condutas diárias das pessoas, modificando por exemplo, seus hábitos de consumo e descarte dos resíduos (orgânicos e não orgânicos). A eficácia de uma política pública ambiental bem elaborada depende diretamente de outras políticas públicas. É muito comum a convivência conflituosa entre diversas políticas públicas. Exemplos: uma política agrícola voltada para a produtividade pode induzir o uso abusivo de água, fertilizantes e agrotóxicos. Políticas de transportes e de energia baseadas em combustível fóssil não ajudam em nada as políticas ambientais. A falta de uma política de transporte coletivo na cidade de São Paulo estimula os indivíduos locais a utilizarem cada vez mais seus veículos particulares (carros, motos). Subsidiar combustíveis fósseis para ampliar a oferta de energia elétrica pode inviabilizar a utilização de fontes renováveis de energia. Uma política monetária baseada em altas taxas de juros, ao penalizar o setor produtivo reduzindo suas margens e, portanto, os fundos de investimentos, contribui negativamente para a atualização tecnológica das empresas, obrigando-as a operarem com equipamentos e instalações obsoletos.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio Logo, é possível concluir que a falta de coerência e de interação entre as diversas ações de políticas públicas acaba e tornando um incentivo às práticas ambientais insustentáveis por parte de muitos agentes privados. Se as demais políticas públicas forem elaboradas em harmonia com a política pública ambiental esta última terá maior chance de se mostrar realmente efetiva e eficaz. A Mesa Redonda Consumidores, financiadores, acionistas e potenciais investidores exigem cada vez mais, compromissos éticos das corporações. Não basta apenas olhar para o resultado econômico-financeiro para avaliar o desempenho de uma organização, pois na atualidade seu desempenho também é avaliado e medido levando-se em conta os resultados de todas as partes e divisões da cadeia produtiva, bem como o impacto nos recursos naturais. Alguns acontecimentos na natureza ajudam a entender o quanto o momento é crítico e depende de mudanças efetivas nos meios de produção e nos modos de consumir. No início dos anos 1990 surgiram novas iniciativas internacionais de rastreamento e certificação socioambiental. Indústrias de roupas, setor naval e de pesca, indústria química, mineração, construção civil, transportes e diferentes segmentos da agricultura respondem, ao menos formalmente, a protocolos que envolvem a certificação de seus produtos e o rastreamento de suas atividades. Em muitos casos o rastreamento permitiu avanços, apesar da existência, até hoje, de procedimentos inaceitáveis. Segundo

Abramovay

(2012),

apesar

dos

benefícios

sociais

e

ambientais da certificação ela possui efeitos desiguais evidentes, como por

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

82


Ensaio exemplo: a certificação envolve custos que podem limitar severamente o acesso aos mercados dos produtores com menor poder econômico. A partir dos anos 2000 se intensificaram e com maior sucesso as campanhas voltadas de forma explícita contra comportamentos julgados destrutivos praticados pelo setor privado. Empresas e marcas globais foram alvo de campanhas em que são apontadas abertamente. Isso as obrigou a responder a críticas, criar departamentos de relacionamento com a sociedade civil e alterar seus próprios métodos de avaliação de seus negócios. Hoje há empresas de consultoria especializadas em orientar as empresas privadas em suas relações com stakeholders. Tem aumentado de maneira acelerada a diversidade dos setores em que a relação com os stakeholders se intensifica. A qualificação dos produtos é cada vez mais generalizada e profunda o que leva as empresas a adotarem atributos que vão além do que a legislação de cada país exige. Dentro desses processos de mudanças as empresas e as associações empresariais passam a procurar parâmetros de julgamento de suas atividades que vão muito além do balanço contábil ou da remuneração dos acionistas. O que implica a formulação de vários indicadores, como o uso de materiais e energia, balanço de emissões de gases de efeito estufa e a mensuração dos impactos que fazem as firmas tanto na biodiversidade como nas populações e comunidades encontradas ao longo de suas cadeias de valor. Até as próprias organizações não governamentais alteram seus procedimentos, realizam negociações diretas com o setor privado, o que exige preparação técnica. Os riscos reputacionais então ampliam-se. Para as empresas se torna necessário saber escolher os stakeholders com os quais irão dialogar, selecionar os temas relevantes, demonstrar compromisso, abertura e visibilidade naquilo que a empresa faz, em cada um desses tópicos há riscos e conflitos imensos.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio Para Abramovay (2012), os mercados não podem ser encarados como o domínio da vida privada, em oposição ao Estado e à sociedade civil. As empresas estão se organizando de forma cada vez mais profissionalizada para lidar com as pressões sociais decorrentes daquilo que produzem e das cadeias de valor que gerem, e é fundamental que as organizações da sociedade civil ampliem sua participação nesse campo, pois essa interação terá um papel decisivo na emergência de uma nova economia. Abramovay

ainda

defende

a

ideia

de

que

o

conceito

de

responsabilidade social elaborado até os dias atuais é insuficiente para enfrentar o tema, e que a criação de valor para a empresa deve visar, direta e claramente, a criação de valor para a sociedade. Não é algo que ocorre à margem dos negócios, mas está em seu cerne. Criar valor não deve ser encarado em apenas ter lucro. “Se não agirmos agora, os danos causados pelas agressões ao meio ambiente serão devastadores para a economia do planeta. As grandes empresas dos Estados Unidos já estão se conscientizando disso e já adotaram medidas para diminuir a emissão de carbono. Há um ditado que diz: se quiser ir mais rápido, vá sozinho; se quiser ir mais longe, vá junto. Temos de ir rápido e juntos. Para as gerações futuras, temos de ser a geração que teve coragem de fazer o que muitos achavam que era impossível para salvar a Terra” Al Gore , 20075

5 ZYLBERSZTAJN, David. LINS, Clarissa. Sustentabilidade e geração de valor: a transição para o século

XXI. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2010, p. xvii (Introdução).

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio “Os

próximos

anos

representam

uma

grande

oportunidade para estabelecermos novas bases de crescimento capazes de transformarem a economia e a sociedade. Vamos atravessar o período de recessão por meio da redução de riscos e de investimentos que vão criar um planeta mais seguro, limpo e com uma economia mais forte” Nicholas Stern – professor da London School of Economics6. Fig. 1 - Evolução das expectativas sociais Fonte: BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009, p. 72.

A figura acima representa a evolução das expectativas das pessoas, em relação às empresas, ao comprarem um produto ou contratarem o serviço

6 ZYLBERSZTAJN, David. LINS, Clarissa. Sustentabilidade e geração de valor: a transição para o século

XXI. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2010, p. xvii (Introdução).

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio de determinada empresa e pode ser usada para ilustrar as partes interessadas que compõem a Mesa Redonda.

Crescimento populacional, recursos limitados e nível de produção O crescimento demográfico, a limitação dos recursos indispensáveis à vida (humana e animal)

e o aumento contínuo dos níveis de produção

(ligado à automação , demanda e superconsumo) problemáticas que

são as três principais

ameaçam a sobrevivência das gerações das próximas

décadas. Considerando essas três grandes problemáticas, Barbieri (2007) apresenta dois extremos ligados à perspectiva de futuro das populações de todo o globo terrestre. A primeira perspectiva de futuro é defendida por Malthus e Hardin (perspectiva com inclinação pessimista) , a segunda é defendida por Adam Smith e Julian Simon (perspectiva com inclinação otimista), cada qual com seus argumentos e apontamentos advindos da análise social. Na perspectiva pessimista, temos Malthus7 defendendo a ideia de que a paixão entre os sexos é necessária e não irá se alterar e assim ele conclui que a população, quando não controlada, tende a aumentar numa progressão geométrica, enquanto os recursos e os meios de subsistência crescem em proporção aritmética, o que acabaria resultando em escassez de alimentos. Ainda segundo Malthus, o equilíbrio entre oferta e demanda de alimentos seria restabelecido pelas guerras, doenças, pestes e outras catástrofes que ele denomina como “freios positivos”, uma vez que ele não acreditava na capacidade dos seres humanos, principalmente dos mais pobres, de refrear preventivamente seus impulsos em razão de restrições morais e controle da natalidade. Por isso mesmo Malthus condenava as políticas públicas em defesa dos pobres, como as Leis dos Pobres (Poor

7

Malthus em sua obra “Ensaio sobre a população”, publicada em 1798.

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Ensaio Laws), introduzidas na Inglaterra no início do século XVII, e que incentivariam os pobres a aumentar ainda mais sua prole, ampliando o descompasso entre a população e os meios de subsistência. Ainda nessa linha de pensamento Malthus também condenava os sindicatos, pois em seu entender, conceder melhores salários aos trabalhadores estimularia o crescimento populacional.

Malthus fez escola, embora suas previsões

pessimistas não se tenham verificado, e o adjetivo malthusiano é utilizado para indicar pessoas pessimistas quanto ao futuro devido ao descompasso entre recursos e necessidades e devido à dificuldade de conter o crescimento populacional, principalmente das populações pobres. Ainda hoje, o neomalthusianismo continua pessimista quanto ao futuro da humanidade e prega a necessidade de controle da população. Segundo seus argumentos, as altas taxas de natalidade geram populações muito jovens e como estas consomem mais do que produzem, o resultado final é o aumento da pobreza. Hardin8, um autor neomalthusiano9, aponta que há certos problemas para os quais não há solução técnica, como por exemplo, as questões relativas à população mundial, pois uma Terra finita pode suportar apenas uma população finita e não é isso o que se observa diante da liberdade de ter filhos. Hardin considera essa liberdade intolerável e se opõe ao direito das famílias decidirem sobre essa questão. Para ele como não há solução técnica capaz de salvar a humanidade da miséria resultante da superpopulação, a liberdade de procriar arruinará a todos. No outro extremo temos a perspectiva otimista de futuro em relação aos recursos necessários à vida humana. Essa perspectiva otimista se baseia

8

Hardin em seu artigo “The tragedy of the commons”, publicado em 1968 na prestigiada revista Science.

9

Neomalthusiano – adjetivo dado às pessoas que atualmente acreditam na Teoria Populacional Malthusiana, criada pelo demógrafo Thomas Malthus. Segundo essa teoria a superpopulação dos países é a principal a causa da pobreza dos mesmos. Para os neomalthusianos, uma população numerosa seria um obstáculo ao desenvolvimento e levaria ao esgotamento dos recursos naturais, ao desemprego e à pobreza.

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Ensaio na crença de que qualquer problema de escassez no presente ou no futuro próximo será solucionado mais adiante, defende a ideia de que sempre haverá a possibilidade de substituição de insumos e processos produtivos. Funciona como um “efeito dominó10” onde à medida que o mercado visualiza a possibilidade de esgotamento de um certo recurso natural, o seu preço de mercado aumentaria e isso estimulará as atividades de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico para melhor aproveitar esse recurso escasso e também para encontrar alternativas de substitui-lo. Essa visão otimista considera, na prática, todos os recursos infindáveis, pois diante da iminência de escassez de um certo recurso sempre será encontrado algum substituto. Adam Smith11 em sua obra “A riqueza das nações” faz análises e apontamentos a favor da perspectiva otimista.

Adam afirma que,

independentemente do solo, clima ou extensão territorial de uma nação, a abundância ou escassez de bens de que ela irá dispor dependerá de duas circunstâncias, sendo a primeira mais importante que a segunda : 1. Da habilidade, destreza e bom senso com que o trabalho é executado. 2. E da proporção entre os que executam e os que não executam o trabalho útil. Segundo Adam Smith, sempre haverá demanda por alimentos e da mesma

forma

que

os

animais,

os

humanos

proporcionalmente aos meios de subsistência.

10

se

multiplicam

Assim, ele conclui que os

Efeito Dominó – expressão usada para representar uma ação que gera uma sequência de acontecimentos que

ocorrem um após o outro inevitavelmente, lembrando, no sentido figurado, ao que acontece quando se organiza as peças de um dominó todas em pé e uma atrás a outra com um pequeno espaço entre elas, e então, se empurra a primeira peça fazendo-a cair sobre a segunda peça, repentinamente esta cairá sobre a próxima e rapidamente todas estarão derrubadas.

11

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigações sobre sua natureza e suas causas. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

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Ensaio alimentos sempre irão demandar trabalho e sempre haverá alguém disposto a produzi-los, de modo que a terra irá sempre produzir uma quantidade de alimentos mais que suficiente para remunerar o trabalho e repor o capital. Julian Simon, economista da Universidade de Maryland e outro defensor da perspectiva otimista de futuro em relação aos recursos indispensáveis à vida, afirmava que os seres humanos sempre souberam resolver seus problemas. Prova disso é a melhor qualidade de vida de que a humanidade dispõe hoje comparada ao passado. E quanto mais pessoas, maior a capacidade para resolver problemas. Para Simon, o resultado final é surpreendente, pois as condições finais seriam melhores do que se a escassez nunca tivesse ocorrido. Os meios alternativos encontrados seriam até melhores do que a antiga forma aplicada (ou os recursos antes utilizados). Barbieri (2007), explica que essas duas posturas (perspectiva pessimista

e

otimista)

estão

equivocadas,

embora

ambas

trazem

contribuições importantes para o debate sobre recursos naturais e vitais à vida. A obra de Malthus contribuiu para o desenvolvimento da dinâmica populacional e serve, até hoje, como base para se desenvolver modelos que buscam relacionar o crescimento das populações de qualquer espécie com os seus fatores limitantes, entre eles a oferta de recursos. O grande problema é quando esses modelos explicativos baseados nos conceitos de Malthus são transformados em modelos normativos aplicados aos seres humanos, como programas de esterilização em massa de populações pobres. Barbieri ainda aponta que é comum as pessoas que afirmam que há gente em excesso no Planeta não se incluírem entre os que estão sobrando, e assim suas propostas e argumentos sempre se voltam contra os outros, os que não podem se defender. Três maneiras como a Sustentabilidade melhora as empresas Ao encontrar, ou mesmo ao buscar, o equilíbrio entre o social, o econômico e o ambiental, os princípios da sustentabilidade podem melhorar SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio a gestão da empresa de três maneiras básicas – ajudando a protegê-la , a gerenciá-la e a promover seu crescimento12. Proteção da empresa A proteção da empresa inclui a redução dos riscos de prejudicar os clientes, os empregados e as comunidades; a identificação o mais cedo possível de riscos iminentes e de falhas gerenciais pendentes; a limitação de intervenções regulatórias; e a preservação da licença de operação implícita ou explícita, concedida pelo governo ou pela comunidade em geral. Gestão da empresa A gestão da empresa abrange redução de custos, melhoria da produtividade, eliminação de desperdícios desnecessários e garantia de acesso a fontes de capital a custos mais baixos. Promoção do crescimento da empresa A promoção do crescimento da empresa inclui a abertura de novos mercados, o lançamento de novos produtos e serviços, a aceleração do ritmo de inovação, a melhoria da satisfação e da lealdade dos clientes, a ampliação da fatia de mercado mediante a conquista de novos clientes para os quais a sustentabilidade

seja

valor

pessoal

ou

empresarial

importante,

o

desenvolvimento de novas alianças com parceiros de negócios e com outros stakeholders, além da melhoria da reputação e do valor da marca. Importância da Sustentabilidade na Estratégia Empresarial A Sustentabilidade aplicada na estratégia empresarial implica reforçar o planejamento de longo prazo e ampliar o leque de fatores considerados. A estratégia do negócio passará a ter o foco muito além na

12

SAVITZ, Andrew. WEBER, Karl. A empresa sustentável – Verdadeiro Sucesso e Lucro com Responsabilidade. Rio de Janeiro: Ed. Campus. 2007, p. 40.

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Ensaio empresa em si mesma e na primeira camada da esfera de relacionamento, que cobre as cadeias de suprimento e a distribuição e venda.

“Hoje, há consenso no sentido de que toda empresa deve estar engajada no esforço maior para manter a civilização humana e aumentar a qualidade de vida, de forma compatível com a capacidade de suporte do planeta. Isso se aplica em especial à indústria e ao agronegócio e significa compatibilizar as demandas por água, energia e recursos naturais com os estoques disponíveis e renováveis do planeta e também com a capacidade para absorção da geração de resíduos sólidos, efluentes e emissões atmosféricas. Ou seja, cada indivíduo isoladamente e cada organização, tenha caráter produtivo e lucrativo ou não, são chamados a assumir

novos

deveres,

mudar

hábitos

e

ajustar

comportamentos. Isso significa abandonar uma atitude reativa e adotar posições proativas.” (ZYLBERSTAJN e LINS, 2010, p.158 ) “Já é possível afirmar que a Responsabilidade Social no Brasil superou uma primeira fase de assimilação e agora começa a ser, de fato, incorporada ao dia a dia das organizações. Do ponto de vista quantitativo, há um maior engajamento de empresas em projetos sociais. Sob a ótica qualitativa,

a

implementação

de

ações

socialmente

responsáveis integradas ao planejamento estratégico das empresas vem tendo um avanço importante... Hoje mais empresários tem clareza do valor que a gestão sustentada pela Responsabilidade Social agrega aos negócios13.” 13

Responsabilidade Social. <www.ethos.org.br/site/conferencia/rsocial.htm> visitado em 10 de agosto de 2000.

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Ensaio A tabela 1 abaixo, informa que para as empresas administradas a partir de uma visão tradicional e reativa pensar nos problemas ambientais e adotar práticas que minimizem seus impactos representa um aumento de despesas e investimentos sem retorno. Para elas os problemas ambientais são solucionados a partir do cumprimento da legislação vigente. As empresas com visão tradicional e reativa acreditam que configura um cenário de concorrência desleal quando seus competidores não cumprem a atual legislação ambiental e social. As empresas com visão sustentável e proativa, por usa vez, acreditam que solucionar problemas ambientais é uma maneira de se reduzir custos, desperdícios e perdas além de representar uma forma de prevenir riscos para o negócio. Também acreditam que as empresas devem adaptar seus processos antes das exigências legais e de forma ainda mais rigorosa que as legislações. As empresas sustentáveis e proativas veem a questão ambiental como meio de encontrar oportunidades de negócios e assim conquistarem um forte diferencial frente aos seus competidores. Elas acreditam também que se suas ações, seus processos, sua logística e sua cadeia de suprimentos seguirem orientações rumo à excelência ambiental ela, a empresa, consequentemente irá se valer dos benefícios de um legítimo marketing ecológico, como ter uma imagem positivamente forte e ser reconhecida publicamente como empresa responsável ambiental e socialmente. Tabela 1 – Dois tipos de visão empresarial: Visão Tradicional (REATIVA) e Visão Sustentável (PROATIVA)

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Ensaio VISÃO TRADICIONAL E REATIVA

VISÃO SUSTENTÁVEL E PROATIVA

Problemas ambientais são absorvedores de despesas e investimentos sem retorno.

A solução dos problemas ambientais deve ser encarada como forma de reduzir custos, desperdícios e perdas, e prevenir riscos para o negócio, conciliando ecologia com economia.

A solução dos problemas ambientais resume-se ao cumprimento da legislação vigente.

As empresas devem se antecipar às novas legislações em gestação, sempre mais rigorosas, tendo em vista a globalização da economia e a consolidação nas leis dos avanços das novas tecnologias disponíveis e economicamente viáveis.

O não cumprimento da legislação ambiental e social por competidores é uma ameaçadora forma de concorrência desleal.

As oportunidades de negócios no campo ambiental podem representar forte diferencial frente aos competidores, ao lograr melhor acolhida entre clientes e investidores ambientalmente responsáveis; o respeito a normas ambientais mais rigorosas pode eliminar concorrentes.

A poluição e os acidentes ambientais são algo danoso para a imagem da empresa.

A excelência ambiental é a base para promover o marketing ecológico legítimo, que não deve ser confundido com mera propaganda.

Fonte: ZYLBERSZTAJN e LINS, 2010, p.159.

Os três domínios da Responsabilidade Social das Empresas Estudiosos e pesquisadores do tema Sustentabilidade sabem que este tema também aborda a questão da Responsabilidade Social. Muitas pessoas e até grandes organizações não compreendem ao certo o que é Responsabilidade Social Empresarial, o que representa este tema e o que está incluso nessa abordagem. Para o Instituto Ethos, responsabilidade social é definida da seguinte forma:

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Ensaio [...] é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais sustentável

compatíveis da

com

sociedade,

o

desenvolvimento

preservando

recursos

ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.14 Barbieri e Cajazeira (2009), apresentam o modelo dos três campos ou os três domínios da Responsabilidade Social Empresarial15. Este modelo foi criado por Schwartz e Carroll em 2003 com o intuito de representar adequadamente os elementos relacionados à Responsabilidade Social Empresarial. Em seu modelo, Schwartz e Carroll apontam que a Responsabilidade Social Empresarial possui três domínios (ou três campos de forte atuação): o domínio econômico, o legal e o ético. O campo econômico se refere às atividades voltadas para produzir resultados e retornos financeiros positivos (diretos e indiretos), como a maximização de lucro ou do valor das ações. São exemplos claros de ações econômicas diretas as atividades para incrementar as vendas da empresa ou para evitar litígios. São exemplos de ações econômicas indiretas aquelas que visam melhorar a imagem da empresa frente aos consumidores e acionistas ou elevar a motivação de seus funcionários. O campo da responsabilidade legal se refere às ações da empresa para cumprir as normas e princípios legais, podendo se dividir em três

14

INSTITUTO ETHOS DE EMPRESAS E RESPONSABILIDADE Responsabilidade Social Empresarial, junho de 2005, p.25.

SOCIAL.

Processos

gerenciais:

15

BARBIERI, José Carlos. CAJAZEIRA, Jorge Emanuel Reis. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009, p. 56.

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Ensaio categorias: ações de conformidade legal, medidas para evitar litígios16 e medidas antecipatórias às leis regulamentadoras. O campo ético se refere às responsabilidades da empresa diante das expectativas da população, das comunidades e de seus stakeholders, envolvem medidas e condutas éticas domésticas e globais. O domínio ético pode ser dividido em três padrões éticos gerais: o padrão convencional, o consequencialista e o padrão deontológico. O padrão convencional são as normas sociais e os padrões considerados como necessários para o funcionamento das indústrias no segmento e localidade onde elas atuam, pelas associações profissionais e pela sociedade, incluindo os acionistas, clientes, empregados competidores e demais stakeholders. Como essas normas sociais variam entre diferentes grupos sociais, uma forma das empresas contornarem essa limitação é elaborando e divulgando Códigos de Ética formais, muitas vezes apresentados pela área de RH no processo de integração de novos colaboradores. O padrão ético consequencialista é aquele onde as ações são julgadas ou decididas pensando-se em suas consequências. Nele, uma ação é considerada consequencialista se promover o bem social ou se produzir a maior quantidade de benefícios líquidos, ou o menor custo líquido, comparativamente às outras alternativas. O padrão ético deontológico está ligado diretamente às noções de obrigação e dever como motivos das ações da empresa. É aqui, que a empresa tem bem claro os direitos de todas as partes envolvidas, direta e indiretamente, em seu negócio. Por exemplo: ao planejar a instalação de uma indústria química, a empresa deverá considerar que é direito dos moradores locais que a empresa se preocupe e preze por adotar todas as medidas necessárias para garantir a segurança e a saúde de toda 16

Litígio – contestação de que pode resultar um processo judicial ou arbitramento. Pendência, atitude negligente, disputa, demanda. Fonte: FERREIRA, Aurélio Baird Buarque. Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1993, p. 337.

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Ensaio comunidade local, ao mesmo tempo em que, por outro lado, há uma vasta legislação que regulamenta todos os requisitos e exigências necessários para que esta indústria seja construída, equipada e monitorada de maneira a não causar dano ou prejuízo local, quer aos moradores das regiões vizinhas quer às outras empresas, aos animais e às fontes de água local que ali já estavam. Da mesma forma, é natural da empresa que segue o padrão ético deontológico se preocupar em seguir corretamente todas as obrigações legais apontadas pelas leis trabalhistas vigentes (direito dos funcionários e dever da empresa que age com ética e moral). O padrão ético deontológico está inevitavelmente ligado aos termos Ética e Moral17 e esses dois termos estão relacionados a costumes, hábitos, condutas e modo de vida. O substantivo Moral se refere ao conjunto de normas e valores aceitos pela sociedade e que orientam a conduta humana. O adjetivo Moral é a característica de uma conduta orientada por normas e valores morais, qualificando-a como boa, certa, correta ou desejada. O substantivo Ética indica o estudo a respeito da moral, por isso também é conhecido como filosofia moral ou ciência moral. As palavras amoral e imoral precisam ser esclarecidas. O sentido literal do adjetivo Amoral é ausência de considerações de ordem moral. Trata-se de ação, decisão ou julgamento que não envolve questões morais. Torcer por um time de futebol e ouvir pagode são exemplos de fatos amorais ou não-morais. Já o adjetivo Imoral indica uma oposição às normas morais, como é o caso da ação de votar em um candidato a deputado sabidamente corrupto. Carroll, um dos autores mais conhecidos no campo da ética e da Responsabilidade Social Empresarial afirma que uma empresa com uma administração imoral é aquela cujas decisões, ações e comportamentos se opõem abertamente às normas morais vigentes e os administradores tem 17

BARBIERI, José Carlos. CAJAZEIRA, Jorge Emanuel Reis. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009, p. 85, 87 e 88.

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Ensaio plena consciência desse fato. Decidem e agem movidos apenas para obter benefícios para a empresa ou para si próprios sem considerar os danos que causam aos demais envolvidos e os direitos dos mesmos. A administração de uma empresa é amoral quando nem é a favor e nem contra aos preceitos morais, pelo fato de que os administradores não se dão conta das implicações das suas decisões e ações sobre outras pessoas, organizações e grupos. Há, neste caso, uma forte necessidade de percepção ou de consciência por parte da empresa no caso dos amorais involuntários ou não intencionais. Retomando à abordagem de Responsabilidade Social Empresarial apresentada por Schwartz e Carroll, onde são apresentados o domínio econômico, o legal e o ético, é muito comum que as empresas em suas ações e programas acabem dando maior ênfase em UM dos três campos (como mostra a figura abaixo). Embora o ideal é que a empresa sempre busque o equilíbrio entre os três campos da responsabilidade social (figura D).

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Ensaio

Fig. 2 - Responsabilidade Social Empresarial : perfis das empresas Fonte: BARBIERI e CAJAZEIRA, 2009, p. 60.

Considerações Finais Numa abordagem geral sobre Sustentabilidade, pode-se dizer que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, o tema Sustentabilidade não é, apenas, sinônimo de meio-ambiente. Pensar em Sustentabilidade não é sinônimo de “pensar verde”, pois esse tema possui uma verdadeira amplitude de assuntos e questões interligadas e bem conectadas entre si. Ser uma empresa sustentável não é apenas ter uma Política Ambiental

muito

bem

elaborada

e

constantemente

monitorada

e

mensurada, mas representa também, práticas honestas e legais de trabalho; remunerações justas e ambiente de trabalho seguro e adequado aos funcionários; inclui pensar em toda a cadeia de suprimentos; pensar nas comunidades e populações envolvidas em cada etapa dos processos do negócio; geração de emprego e renda a jovens e comunidades carentes; nãoexploração de mão de obra infantil; promoção de ações e programas sociais que visem minimizar os impactos da concentração de renda; inclui expandir SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio ou fomentar a educação básica do país; favorecer e impulsionar o ingresso dos jovens na educação superior, especialmente os jovens oriundos de comunidades ou populações carentes; se preocupar a fundo com toda a cadeia de valor da empresa buscando parceiros e estabelecendo alianças sustentáveis com outras empresas, fornecedores e prestadores de serviços que sejam claramente responsáveis social, econômica e ambientalmente. A união do Social, Econômico e Ambiental é inviolável quando falamos em Sustentabilidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, Ricardo. Muito além da economia verde. São Paulo: Ed. Abril, 2012. BARBIERI, José Carlos. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2ª edição. São Paulo: Ed. Saraiva, 2007. BARBIERI,

José

Carlos.

CAJAZEIRA,

Jorge

Emanuel

Reis.

Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009. FERREIRA, Aurélio Baird Buarque. Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 3ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1993. MARQUES, José Roberto. Sustentabilidade e Temas Fundamentais de Direito Ambiental. Minas Gerais: Editora Millennium, 2009. SAVITZ, Andrew. WEBER, Karl. A empresa sustentável – Verdadeiro Sucesso e Lucro com Responsabilidade. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 2007. SACHS, Ignacy. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. 2ª edição. Rio de Janeiro: Ed. Garamond, 2002. SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentável e sustentado. Rio de Janeiro: Ed. Garamond, 2004. SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Ensaio TINOCO,

João

Eduardo.

KRAEMER,

Maria

Elisabeth

Pereira.

Contabilidade e Gestão Ambiental. São Paulo: Editora Atlas, 2004. ZYLBERSZTAJN, David. LINS, Clarissa. Sustentabilidade e geração de valor: a transição para o século XXI. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2010.

SANTOS, Ana Paula Teixeira. A Sustentabilidade Ambiental dentro das organizações. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 69-100, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil Maria de Fátima Pereira da Silva Licenciada em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí. Campus CSHNB.

Paulo Henrique da Silva Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí. Campus CSHNB.

Ykaro Richard Oliveira Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí. Campus CSHNB.

Tássio Marcílio Francisco Gomes Especialista em Educação Ambiental, Professor Auxiliar I, Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí. Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.

Paulo Michel Pinheiro Ferreira Doutor em Farmacologia, Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Departamento de Biofísica e Fisiologia, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Piauí.

Gilberto Santos Cerqueira Pós-doutor em Morfologia, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Piauí. Laboratório de Anatomia Campus CSHNB.

SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Maria Carolina de Abreu Doutora em Botânica, Professora Adjunto II, Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí- Campus Senador Helvídio Nunes de Barros. E-mail: mariacarolinabreu@hotmail.com.

RESUMO O uso das plantas medicinais cultivadas em quintais, é uma prática recorrente entre populações de todo planeta, por questões socioeconômicas ou culturais, tanto em zonas rurais como urbanas. É evidente a importância dos quintais facilitando as ações antropogênicas e condicionando a manutenção desses recursos vegetais no período de estiagem. Esse estudo objetiva levantar dados no que concerne o cultivo e uso de plantas medicinais nos quintais. Ele foi realizado na cidade de São Julião, no semiárido Piauiense. Estudo de caráter quali-quantitativo descritivo, realizado entre fevereiro e maio de 2013, sendo considerado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, além de aplicar 100 entrevistas semiestruturadas, onde as residências foram escolhidas aleatoriamente. Registrou-se o uso e o cultivo de oito espécies, distribuídas em 06 famílias, sendo a Lamiaceae (03) de maior ocorrência. Constatou-se o cultivo em quintais em 24% das citações, e o uso destas em 91,67%. Das partes utilizadas predominou a folha com 83,33%, e como forma de preparo foi a infusão com 79,17%. Com base no exposto, o pequeno número de plantas medicinais cultivadas em quintais, leva a indagações e contradições de cunho cultural e ético, carecendo de mais estudos na região para compreender os motivos do abandono destas práticas. Palavras – chave: Conhecimento popular, Caatinga, Cultivo e uso de plantas.

SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL ABSTRACT The use of medicinal plants cultivated in backyards is an applicant practice among peoples across the planet by socioeconomic or cultural issues in rural and urban areas. The importance of backyards is evident, facilitating the anthropogenic actions and conditioning the maintenance of these plant resources in drought. The study aim was to get information about cultivation and use of medicinal plants in backyards, at São Julião city in semi-arid of Piauí state, Brazil. The study has a quali-quantitative approach with descriptive character and was conducted between February and May 2013, was been considered the informed consent for research, with 100 semistructured interviews applied and households randomly selected. Was recorded the use and cultivation of eight species, distributed in 06 families, being the Lamiaceae (03) family of higher occurrence. Cultivation in backyards occurred in 24% of the citations, and the use of these in 91.67%. The most used part of the plants was the leaf 83.33%, and the infusion was the method of preparation most common 79.17%. Based on the exposed, the small number of medicinal plants cultivated in backyards leads to questions and contradictions with cultural and ethical character, needing more studies to understand the abandonment of these practices. Keywords: Popular knowledge, Caatinga, Cultivation and use of plants.

SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL INTRODUÇÃO Considerando as palavras de Salvi e Heuser (2008), planta medicinal é todo e qualquer vegetal que uma vez aplicado sob determinada maneira e por alguma via ao ser humano é capaz de promover um efeito farmacológico. A utilização de plantas medicinais é uma prática comum entre as populações. Cerca de 80% da população mundial depende da medicina tradicional para suas necessidades básicas de saúde e, quase 85% da medicina tradicional envolve o uso de plantas medicinais, seus extratos vegetais e seus princípios ativos (OMS 2002). Em consonância com Lima e colaboradores (2010), acrescenta-se que a utilização de plantas medicinais tem incentivos inclusive da Organização Mundial da Saúde. Estes vegetais têm um papel muito importante na questão socioeconômica, tanto para as populações que vivem em meio rural quanto para as que vivem no meio urbano. A utilização de espécies medicinais, na maioria das vezes nativa da sua região, ou cultivadas em quintal, pode reduzir os gastos com medicamentos alopáticos (CALIXTO 2000). Por outro lado, Di Stasi (2007) reporta que o avanço da ciência e da tecnologia no que tange à elaboração sintética de fármacos vem desestimulando, ao longo do tempo, a utilização das plantas medicinais no cuidado à saúde. Os quintais são considerados sistemas agroflorestais importantes para o cultivo, seleção e conservação de espécies de plantas, fornecendo recursos para o consumo familiar e para preservação da cultura local (KUMAR e NAIR 2004), sendo também apontados como responsáveis em conservar parte da história da cultural local, podendo ser considerados reservas atuais e potenciais de recursos vegetais (BRASIL et al. 2007).

SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Desta forma, este espaço é de grande relevância para o contato com variadas espécies vegetais, bem como à manutenção de conhecimentos populares (NASCIMENTO et al. 2006; SIVIERO et al. 2011). Na visão de Rocha e colaboradores (2010), os quintais facilitam as ações antropogênicas, principalmente no que se refere a procriar condições de sobrevivência nos períodos de seca do sertão nordestino, onde algumas plantas perdem suas folhas e outras chegam a morrer. Para Amorozo (2002) o hábito de cultivar plantas em quintais nas zonas urbanas permite formar através da união de vários espaços plantados, como praças e parques, ilhas de vegetação que contribuem para a melhoria da qualidade de vida nos centros urbanos. É importante ressaltar que os quintais são compreendidos como um sistema de produção complementar a outras formas de uso da terra, podendo se destaca pelo valor econômico que desempenham na residência, constituindo uma fonte disponível de recursos alimentícios e medicinais (PASA, SOARES e GUARIM-NETO 2005). Este trabalho teve como objetivo realizar um levantamento de dados sobre o cultivo e uso de plantas medicinais nos quintais da população do município de São Julião/PI. METODOLOGIA O levantamento foi realizado na cidade de São Julião, município piauiense de aproximadamente 5.761 habitantes (IBGE 2010), o qual foi fundado em 18 de dezembro de 1960 e dista 382 km da capital Teresina 382 km. O município dispõe de abastecimento de água, energia elétrica distribuída pela Companhia Energética do Piauí S/A - CEPISA, terminais SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL telefônicos atendidos pela TELEMAR Norte Leste S/A, agência de Correios e Telégrafos, hospital e escolas de ensino fundamental e médio. A agricultura praticada no município é baseada na produção sazonal de feijão, algodão, mandioca e milho. No tocante às condições climáticas do município, ocorre o clima semiárido quente e seco, com temperaturas mínimas de 24ºC e máximas de 36ºC. Localizado na altitude de 377 m, apresenta solos, em grande parte provenientes da alteração de gnaisses, quartzito, mármore, xisto, arenito, siltito e conglomerado, rasos ou pouco espessos, jovens, às vezes pedregosos, ainda com influência do material subjacente (JACOMINE et al. 1986). A coleta de dados foi realizada entre os habitantes do município de São Julião – PI, onde foram aplicados 100 formulários em residências escolhidas de forma aleatória nas zonas rural e urbana, no período de fevereiro a maio de 2013. O formulário semiestruturado foi composto por 14 questões abordando dados sobre o perfil dos participantes e questões sobre o hábito destes em utilizar e cultivar plantas medicinais em seus quintais. No processo de coleta de dados foram levadas em consideração as exigências contidas na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa com seres humanos (BRASIL 2012). Para tanto, os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assegurando aos participantes o anonimato, a privacidade e o direito de desistir em qualquer etapa da pesquisa. Ressalta-se que esse estudo não possui nenhum conflito de interesse, se constituindo numa pesquisa de caráter quali-quantitativa de natureza descritiva. Todos os formulários foram analisados à luz da literatura pertinente, e os dados compilados e os gráficos construídos por meio do programa Microsoft Excel 2010.

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Artigo ORIGINAL RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados obtidos através das 100 entrevistas, norteadas pelo formulário de 14 questões aplicados à população do município de São JuliãoPI, permitiram estabelecer o perfil da população deste município quanto ao cultivo de plantas medicinais em quintais além da diversidade e uso destas plantas. Quanto ao gênero dos participantes, 26% foram do sexo masculino e 74% do sexo feminino. Em um estudo semelhante de Nascimento e Gonçalves (2013) para avaliar o uso de plantas cultivadas em quintais urbanos no município de Campina do Monte Alegre em São Paulo, também prevaleceu o maior conhecimento entre as mulheres que parece estar mais voltado ao cultivo e a utilização de plantas medicinais. O grau de escolaridade dos entrevistados variou entre Ensino Fundamental incompleto (39%), Ensino Fundamental completo (22%), Ensino Médio incompleto (8%), Ensino Médio completo (17%), Graduação incompleta (4%), Graduação completa (8%) e Pós-graduação (2%). Percebe-se uma maioria de sujeitos com ensino fundamental incompleto, o que denota uma baixa escolaridade dos envolvidos no estudo. Todavia, ter baixa escolaridade não significa que o indivíduo não conhece sobre o cultivo e a utilização de determinadas plantas, pois tal saber pode ter sido a ele repassado de forma oral pelos familiares e na comunidade. Em uma pesquisa semelhante sobre plantas venenosas de Silva e colaboradores (2014) na cidade de Francisco Santos, que fica à 60 km de São Julião, também prevaleceu a escolaridade de Ensino Fundamental incompleto. Porém, um estudo sobre a ocorrência do uso de plantas medicinais por moradores de um bairro do município de Marília-SP, mostra que 31% dos participantes possuía nível superior completo, levando-nos a SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL acreditar que o cultivo e o consumo de plantas medicinais não se dá apenas em classes de condições socioeconômicas menos favorecidas. No que se refere à faixa etária dos entrevistados, há uma maior frequência na classe de idade compreendida entre 31 a 55 anos (38%). Em seguida, com um número muito próximo de entrevistados (36%) aparece a faixa etária de 18 a 30 anos. A menor frequência foi a da faixa etária entre 76-90 anos com 3%. Silva e colaboradores (2014) aponta a faixa etária de 7690 como sendo dotada de maior conhecimento sobre os recursos naturais, por terem sentido ao longo da vida a necessidade de recorrer às plantas como fonte de medicamento. Sobre a renda mensal familiar dos entrevistados, prevaleceu a renda média de um salário mínimo (55%), sendo relevante também informar a percentagem de pessoas com renda abaixo de um salário mínimo (43%). Desta forma, através dos dados obtidos na pesquisa, constatou-se que o perfil da amostra questionada é de mulheres de baixa escolaridade com a faixa etária entre 31 a 55 anos, com renda familiar de um salário mínimo. Do universo de entrevistados, apenas 24% cultivam plantas medicinais em seus quintais e os demais 76% não cultivam.

Assim, é

interessante ressaltar a pequena quantidade de pessoas que cultivam plantas medicinais. Considerando os indivíduos que ocorrem na porcentagem dos que cultivam (24%), apenas oito espécies foram mencionadas por estes, as quais são cultivadas e usadas para finalidades medicinais, conforme evidencia-se na Tabela 1. Tabela 1. Nomes vulgares, nomes científicos e famílias das plantas medicinais cultivadas nos quintais pela população do município de São Julião – PI.

SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL

Em relação ao uso das plantas cultivadas, indagou-se aos envolvidos na pesquisa se quando utilizam as plantas medicinais, fazem uso daquelas que cultivam ou buscam em outros lugares. Para tal questão, 22% das pessoas questionadas faz uso daquelas que cultivam e, 78% busca em outros lugares. Da parcela de indivíduos que cultiva plantas medicinais em seus quintais (24), 91,67% (22) faz uso daquelas que cultivam. Com relação ao local em que têm acesso às plantas medicinais, a grande maioria (58%) mencionou o mercado, 39% citou o acesso com vizinhos e apenas 3% fez referência à mata. Esses dados mostram que, apesar de a maioria ter acesso no mercado, ainda existe um grande compartilhamento de plantas entre vizinhos. E mesmo não cultivando plantas medicinais, as pessoas as utilizam muito para fins terapêuticos. Somavilla e Canto-Dorow (1996) verificaram que 76% das plantas utilizadas como medicinais na cidade de Santa Maria (RS) são obtidas através de amigos e também pelo hábito de cultivo caseiro. Aos que afirmaram cultivar plantas em seus quintais, foi questionado se fazem uso de algum tipo de adubo e também se utilizam agrotóxico. As 24 SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL pessoas que cultivam plantas utilizam o adubo orgânico e 95,83 % (23) não usam nenhum tipo de agrotóxico, apenas 4,17% (1) faz uso de veneno para matar pragas. Com relação a utilização das plantas medicinais cultivadas, 83,33% (20) dos entrevistados que cultivam plantas medicinais em seus quintais (24) faz corte na planta utilizando apenas as folhas. Pereira-Martins (2001) na comunidade negra de Abacatal-PA, também teve as folhas (57%) como a parte da planta mais indicada. Os demais 16,67% (4) não faz nenhum corte e utiliza toda a planta. Já a forma de preparo predominante na comunidade é a infusão, mencionada por 79,17% (19) dos sujeitos que cultivam plantas medicinais no município de São Julião.

A infusão é um tipo de chá que

é ingerido de forma oral. Na população de São Julião esses chás são as preparações terapêuticas mais populares, sendo usados para quase todas as indicações de cura e prevenção das doenças, como por exemplo, tosse, gripes, diarreias, problemas de fígado, intestinos, calmante, diurético, cólicas, insônia e dores em geral. Outro tipo de preparo utilizado é o lambedor, citado por 20,83% (5) da população que cultiva plantas medicinais e é utilizado para dores de garganta e no tratamento de gripes. Outro dado que investigou-se refere-se a época do ano que os entrevistados mais utilizam remédios caseiros preparados a partir das plantas cultivadas. A maioria deles 71% não fazem diferença do uso, 17% utilizam mais no período chuvoso (janeiro a maio) e 12% no período seco (junho a dezembro). Resultados semelhantes foram obtidos por Pereira (2010) em uma pesquisa sobre levantamento de dados sobre o uso e os costumes da utilização de plantas medicinais pela população picoense, no qual a grande maioria dos entrevistados (69,5 %) também não faziam diferença entre os períodos seco e chuvoso no uso das plantas medicinais. SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL CONSIDERAÇÕES FINAIS Em decorrência dos resultados analisados, é perceptível a pequena quantidade de plantas medicinais que são cultivadas nos quintais da região estudada. Seria a explicação para tal fato o grande desenvolvimento da ciência e da farmacologia no que se refere o desenvolvimento de medicamentos alopáticos e homeopáticos e a facilidade de adquiri-los? Ou a descrença da população investigada quanto às propriedades bioativas que os vegetais apresentam e que podem proporcionar benefícios na terapia de inúmeras doenças? Ou seria a questão da mudança de padrões e de hábitos quanto o cultivo de plantas medicinais na região de São Julião-PI, que já sofre as pressões decorrentes da modernidade? São respostas estas, necessárias para compreender o panorama seja cultural seja ético em que tal localidade está inserida, haja vista que o uso e cultivo de plantas está inserido na cultura popular, vinculados à disseminação do conhecimento referente a tais ao longo das gerações. Assim, carecem estudos para melhor compreender os motivos que estão levando a população em foco a abandonar às práticas de cultivo das plantas medicinais em quintais locais.

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SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL CALIXTO, J. B. Efficacy, safety, quality control, marketing and regulatory guidelines for herbal medicines (phytotherapeutic agents). Braz. J. Med. Biol. Res.,v. 33, n. 2, p. 79-89, 2000. DI STASI, L. C. Plantas Medicinais: verdades e mentiras: o que os usuários e os profissionais de saúde precisam saber. São Paulo: UNESP; 2007. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Resultados do censo 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/censo2010>. JACOMINE, P.K.T. et al. Levantamento exploratório – reconhecimento de solos do Estado do Piauí. Rio de Janeiro. EMBRAPA-SNLCS/SUDENE-DRN. 1986. 782 p. KUMAR, B.M.; NAIR, P.K.R. the enigma of tropical home gardens. Agroforestry systens, vol. 19, p. 195-207, 2004. LIMA, J.F; SILVA, M.P.L.; TELES, S.; SILVA, F.; MARTINS, G. N. Avaliação de diferentes substratos na qualidade fisiológica de sementes de melão de caroá [Sicana odorifera (Vell.) Naudim]. Revista Brasileira de Plantas Medicinai, v. 12, n.2, p.163-167, 2010. MACEDO, A.F; OSHIIWA, M.; GUARIDO, C.F.Ocorrência do uso de plantas medicinais por moradores de um bairro do município de Marília-SP. Rev. Ciênc. Farm. Básica Apl. v. 28, n.1, p.123-128, 2006. NASCIMENTO, A. P. L.F; GONÇALVES, K. (2013).Uso de plantas cultivadas em quintais urbanos no município de campina do Monte Alegre, SP. XI Congresso de Ecologia do Brasil, Setembro 2013, Porto Seguro – BA. NASCIMENTO, A.P.B.; SILVA, M.R.; GARAVELLO, M.E.P.E.; MOLINA, S.M.G. Quintais domésticos: conhecimento, tradição e utilidades no município de Piracicaba (SP). In: EHWC’2006 Environmental and Health World Congress, Santos. ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD (OMS). Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2002-2005. Genebra, Switzerland, 2002. PASA, M.C. SOARES, J.N e GUARIM-NETO,G. Estudo etnobotanico na comunidade de Conceição- Açu (alto da bacia do rio Aricá Açu, MT, Brasil). Acta Botânica Brasílica, v. 19, p. 195-207, 2005. PEREIRA, J. B.A. Levantamento de dados sobre o uso e os costumes da utilização de plantas medicinais pela população picoense 44p. (Monografia Graduaçãoem Licenciatura Ciências Biológicas)–Departamento de Biologia, Universidade Federal d Piauí, Picos –PI, 2010. PEREIRA-MARTINS, N. C. Abordagem etnobotânica de plantas medicinais e alimentícias na comunidade negra de Abacatal, Ananindeua – PA. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Departamento de Biologia Vegetal, Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, Belém, 138 f. 2001. SILVA, Maria de Fátima Pereira da; SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; GOMES, Tássio Marcílio Francisco; FERREIRA, Paulo Michel Pinheiro; CERQUEIRA, Gilberto Santos; ABREU, Maria Carolina de. Plantas medicinais: cultivo em quintais pela população de um município do semiárido Piauiense, nordeste do Brasil. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 101113, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL ROCHA, V.M.S; GOMES, T.M.F; LEAL, C.B; ABREU, M.C; SANTOS, L.L. A cultura de Preparo e Partes Usadas das Plantas da Caatinga, na Medicina Popular: dados preliminares. III Encontro de Ciências Biológicas, II Jornada de Iniciação Cientifica. UFPI, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros. 2010 SALVI, R. M. e HEUSER, E. D. Interações medicamentos x fitoterápicos: em busca de uma prescrição racional. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. 116p. SILVA, L.R. R; ABREU, M.C.; FERREIRA, P. M. P; PACHECO, A. C. L.; CALOU, I. B. F.; CERQUEIRA, G. S. Plantas Tóxicas: conhecimento de populares para prevenção de acidentes. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 2, p. 17-36, 2014. SIVIERO, A., DELUNARDO, T.A., HAVERROTH, M., OLIVEIRA, L.C., MENDONÇA, A.M.S. Cultivo de Espécies Alimentares em Quintais Urbanos de Rio Branco, Acre, Brasil. Acta Botanica Brasilica. v.25, n.3, p.549-556, 2011. SOMAVILLA N, CANTO-DOROW TS. Levantamento das plantas medicinais utilizadas em bairros de Santa Maria, RS, Brasil. Cienc Natura v. 18, p. 31-148,1996.

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Artigo ORIGINAL Avaliação das condições higiênicosanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA Saimon Guthierre Neco Nonato Graduando em Engenharia de Alimentos, Centro de Ciências Sociais, Saúde e Tecnologia, Universidade Federal do maranhão, ImperatrizMA / Brasil.

Stella Regina Arcanjo Medeiros Engenheira de Alimentos, Doutora, Professora da Universidade Federal do Piauí, Campus de Picos. Rua Cícero Duarte, no 905. Cep:64.600-000. Picos-PI / Brasil. Tel.: (89) 34221018. E-mail: stellaarcanjo@yahoo.com.br.

Amanda Mazza Cruz de Oliveira Nutricionista. Doutora, Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus de Ubajara.

Paula Adrianne Braga de Sousa Nutricionista. Especialista em vigilância sanitária pela Escola de Saúde Pública do Ceará. Vigilância Sanitária e Ambiental de Fortaleza – CE.

Ana Cibele Pereira Sousa Nutricionista. Universidade Federal do Piauí. Universidade Federal do Piauí, Campus de Picos.

Ellaine Santana de Oliveira Nutricionista. Universidade Federal do Piauí. Universidade Federal do Piauí, Campus de Picos.

NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL RESUMO O objetivo desse trabalho foi avaliar as condições higiênico-sanitário de indústrias processadoras de açaí do município de Imperatriz - MA, por meio da aplicação de uma lista de verificação das boas práticas de fabricação obtida a partir dos dispositivos da RDC nº 218/05, e posteriormente efetuouse o percentual de atendimento dos itens classificando-os conforme a Resolução RDC nº 275/02 – ANVISA. As industrias estudadas foram classificadas no Grupo III, com o atendimento de ≤ 50 de adequações. Sendo que a empresa C obteve o menor percentual de adequação com apenas 29,8%. Os fatores que mais contribuíram para esta avaliação insatisfatória foram a ausência de procedimentos que assegurassem a integridade e a qualidade sanitária do açaí, despreparo dos manipuladores durante o manuseio dos alimentos, hábitos pessoais e de higiene inadequados, e as precárias instalações físicas/estruturais e tecnológicas das empresas investigadas. Palavras-chaves: açaí, qualidade, lista de verificação, indústrias. ABSTRACT The aim of this study was to evaluate the hygienic and sanitary conditions of acai processing industries in the municipality of Imperatriz MA, through the application of a checklist of good manufacturing practices obtained from the RDC 218/05 devices, and subsequent assessment of attendance percentage of classification items in accordance to RDC Resolution Nº. 275/02 - ANVISA. Studied industries were classified in Group III, with the requirement attendance of ≤ 50. Company C had the lowest percentage of adequacy with only 29.8%. The factors that contributed to this unsatisfactory assessment included the absence of procedures to ensure açai integrity and quality, handlers’ lack of professional qualification, inadequate personal hygiene habits, and poor physical, structural and technological installations of the facilities investigated. Key words: açaí, quality, checklist, industries.

NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL INTRODUÇÃO O Brasil é o principal produtor, consumidor e exportador do açaí, fruto típico e popular da região amazônica, que nos últimos anos ganhou importância devido aos seus efeitos benéficos à saúde, associados a sua composição fitoquímica e a capacidade antioxidante (MENEZES, TORRES e SRUR 2008; HOMMA e FRAZÃO 2002). A qualidade das popas de frutas está relacionada com a qualidade da matéria-prima, as condições de transporte e processamento e o tipo de embalagem. No caso do açaí, são inúmeros os problemas enfrentados para se estabelecer no mercado, quando a empresa deve colocar como fator principal de seu produto, a qualidade (COHEN et al. 2011). A produção de alimentos industrializados requer uma logística adequada, para que dessa forma consiga uma produção industrial padronizada e a disponibilização do alimento o ano inteiro (ALMEIDA 2013). Além das pragas no campo, as polpas de açaí também estão sujeitas às

contaminações

por

matérias

estranhas

durante

as

etapas

de

processamento do fruto, como a presença de insetos e fragmentos, ácaros, ovos e larvas, além de areia, terra entre outros no produto final, indicadores de falha na adoção ou manutenção das boas práticas de fabricação (BRASIL 1997). Outro aspecto importante a ser considerado e que merece grande atenção das autoridades sanitárias e órgãos fiscalizadores é o fato do açaí ser uma das possíveis causas da contaminação por via oral da Doença de Chagas Aguda (DCA) (BRASIL 2008). A contaminação de alimentos pelo Trypanosoma cruzi pode ocorrer quando insetos triatomíneos depositam suas fezes infectadas na superfície de alimentos ou de ingredientes alimentícios ou, eventualmente, quando os insetos são triturados durante o processamento das frutas. Esta última é a principal hipótese explicativa para os diversos surtos ocorridos nos últimos anos (VALENTE et al. 2002) NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Dada a importância das boas práticas de fabricação a fim de garantir a qualidade higiênico sanitária e a conformidade dos produtos alimentícios com os regulamentos técnicos, esse estudo objetivou avaliar as condições higiênico sanitárias de indústrias processadoras de açaí do município de Imperatriz-MA. METODOLOGIA Para avaliação da qualidade sanitária dos quatros estabelecimentos processadores de açaí, elaborou-se uma lista de verificação a partir dos procedimentos

higiênico-sanitários

para

preparo,

acondicionamento,

armazenamento, transporte, distribuição e comercialização de alimentos e bebidas preparados com vegetais, dispostos no anexo da RDC nº 218/05. A lista constou de 3 (três) blocos, divididos em 29 (vinte e nove) itens, assim caracterizados:  Bloco 01: aquisição, recebimento e armazenamento das matériasprimas, ingredientes, embalagens e insumos;  Bloco 02: manipuladores de alimentos;  Bloco 03: processamento do açaí. A coleta de dados procedeu-se com aplicação da lista de verificação, utilizando o método de observação direta e indagações aos funcionários. Para avaliação do panorama sanitário dos estabelecimentos estudados, efetuou-se o percentual de atendimento dos itens, classificando-os conforme a Resolução RDC nº 275/02 – ANVISA, que considera como Baixo Risco (Grupo I) - de 76 a 100% de atendimentos aos itens; Médio Risco (Grupo II) 51 a 75% de atendimento aos itens e Alto Risco (Grupo III) - até 50% de atendimento aos itens. Após a avaliação geral dos estabelecimentos, elaborou-se um documento

constando

as

medidas

corretivas

das

principais

não

NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL conformidades detectadas, contribuindo assim para a adoção e priorização das estratégias de adequação à legislação vigente. RESULTADOS E DISCUSSÃO Quanto à investigação das condições sanitárias de processamento das polpas de açaí, 100% das empresas avaliadas foram classificadas no Grupo III (≤ 50 de adequações), no somatório dos itens dos 3 blocos, sendo a indústria A a que atingiu o maior índice de atendimento (47%), e a empresa C o menor percentual de adequação (29,8%) (Figura 1).

Figura 1. Percentual geral de adequação sanitária dos estabelecimentos processadores de polpas de açaí em Imperatriz-MA.

Dentre os fatores que contribuíram para esta avaliação insatisfatória, os itens que mais se destacaram foram: ausência de procedimentos que assegurassem a integridade e qualidade sanitária do açaí durante as etapas de aquisição, armazenamento, preparo e exposição, despreparo dos manipuladores durante o manuseio dos alimentos, hábitos pessoais e de higiene inadequado; precárias instalações físicas/estruturais e tecnológicas. Na avaliação particular dos procedimentos de aquisição, recebimento e armazenamento das matérias-primas, ingredientes, embalagens e insumos (Bloco 1), verificou-se baixo percentual de adequação (< 50%) em todos os NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL estabelecimentos visitados, sendo o estabelecimento B, o que apresentou maior índice de não-conformidades (33%) (Figura 2).

Figura 2. Percentuais de adequação sanitária, por bloco, das empresas processadoras de polpas de açaí em Imperatriz-MA.

No que diz respeito aos manipuladores de alimentos, a empresa A apresentou o maior percentual de atendimento (75%), enquanto as empresas B, C e D apresentaram os menores índices de conformidade, 12,5%, 12,5% e 25%, respectivamente. Quanto ao processamento do açaí, avaliado no Bloco 3, verificou-se as empresas A e C apresentaram os menores índices de atendimento, enquanto as outras empresas (B e D) apresentaram valores superiores a 50% de atendimento. Na investigação das condições sanitárias de processamento das polpas de açaí, todas as indústrias foram classificadas como estabelecimentos de alto risco sanitário. A ausência de procedimentos que assegurem a integridade e qualidade sanitária do açaí durante as etapas de aquisição, armazenamento, preparo e exposição tornam-no impróprio ao consumo, pois, de acordo com a FAO/OMS (1996), as deficiências de qualidade da matéria prima não podem ser supridas, pois as condições finais dos produtos alimentícios são o NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL resultado da soma do estado da matéria prima com os processos de elaboração. Os frutos devem ser avaliados no ato de sua aquisição e na recepção para verificação das condições higiênico-sanitárias, a presença de vetores e pragas e ou de seus vestígios, bem como de outros materiais contaminantes. Frutos em condições insatisfatórias devem ser rejeitados. A falta de preparo dos manipuladores durante o manuseio dos alimentos, hábitos pessoais e de higiene inadequados são fatores de risco, pois o manipulador de alimentos é a principal fonte de contaminação dos alimentos, por isso se faz indispensável que ele conheça e adote cuidados de higiene pessoal, para que possa produzir alimentos seguros (FAO/OMS 1996; BRAGANÇA 2001; SILVA JR 2001). Manipuladores podem ser portadores de formas vegetativas de bactérias patogênicas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, até 26% dos surtos de doenças de origem alimentar são vinculados aos manipuladores e, portanto, o seu treinamento em segurança alimentar é uma das intervenções mais críticas na prevenção de doenças de origem alimentar (FERREIRA e JUNQUEIRA 2009). Precariedade de instalações estruturais e tecnológicas também é um aspecto importante a ser considerado nas boas práticas e tem como objetivo prevenir contaminação do produto durante o processo de manipulação ou comercialização (SILVA JR 2001). O processamento das frutas para obtenção de polpas deve apresentar-se dentro dos padrões de higiene e qualidade, sendo indispensável à adoção de Boas Práticas de Fabricação (ABREU, NUNES e OLIVEIRA 2003). Segundo Clemente (1999) a segurança alimentar é desafio atual, devendo ser analisada ao longo de toda cadeia alimentar. Assim a fiscalização da qualidade dos alimentos deve ser feita não só no produto final, mas em todas as etapas da produção, desde a colheita, passando pelo NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL transporte, armazenamento e processamento, até a distribuição final ao consumidor. CONSIDERAÇÕES FINAIS Todos

os

estabelecimentos

apresentaram

apenas

50%

de

atendimentos aos itens avaliados, sendo considerados de alto risco sanitário. Os dados sugerem que o panorama sanitário dos processadores de açaí sejam utilizados como critério para definição e priorização das estratégias institucionais de intervenção no sentido realizar educação sanitária e tecnologia para produção do açaí com vista ao atendimento dos quesitos necessários para garantir a sanidade e qualidade do açaí.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, M.C.; NUNES, I.F.S.; OLIVEIRA, M.M.A. Perfil microbiológico de polpas de frutas comercializadas em Teresina, PI. Hig. Alim. v.17, n. 112, p. 78-81, 2003. ALMEIDA, P. G. Alimentos industrializados versus saúde do consumidor. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 6, n. 3, p. 73-77, 2013. BRAGANÇA,

M.

G.

L.

Boas

Práticas

de

fabricação

para

o

processamento artesanal de alimentos. Belo Horizonte: EMATER-MG, 2001. 20p. BRASIL. Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) do Ministério da Saúde. Portaria nº326, de 30 de julho de 1997. Regulamento técnico sobre condições NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Higiênico-Sanitárias Estabelecimentos

e

de

Boas

Práticas

Produtores/Industrializadores

de de

Fabricação Alimentos.

para Diário

Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 01 de ago. 1997, Seção 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Informe Técnico nº35, de 19 de jun. 1008: Gerenciamento do Risco Sanitário na transmissão de Doenças de Chagas Aguda por Alimentos. Acesso 10 de jan. de 2014. < Disponível em: www.anvisa.gov.br/alimentos/informe/35_190608.htm>. CLEMENTE, E.S. Controle higiênico-sanitário em supermercados. In: V CONGRESSO NACIONAL DE HIGIENISTAS DE ALIMENTOS. 1999. Resumos... Foz do Iguaçu, 1999. FAO/OMS. Organizacion de las naciones unidas para la agricultura y la alimentación. Organizacion Mundial de la salud. Programa conjunto sobre normas alimentarias. Comision Del Codex Alimentarius. Codex Alimentarius Volumen 1B. Requisitos generales. Roma, 1996. HOMMA, A.E.O.; FRAZÃO D.A.C.O. Despertar da fruticultura amazônica. Fruticultura em Revista, p. 27-31, 2002. SILVA JR, E. A. Manual de Controle Higiênico-Sanitário em Alimentos. 4ª Ed. São Paulo: Varela, 2001. 307p. FERREIRA, L.C.; JUNQUEIRA, R.G. Condições higiênico-sanitárias de uma indústria de processamento de conservas de polpa de pequi na região norte do estado de Minas Gerais. Ciênc. agrotec. Lavras, v. 33, Edição Especial, p. 1825 -1831, 2009. NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL MENEZES, E.M.S.; TORRES, A.T.; SRUR, A.U.S.

Valor nutricional da

polpa de açaí (Euterpe oleracea Mart.) liofilizada. Acta Amazônica, v .38, n.2, p. 311-316, 2008. VALENTE, S.A.S.; VALENTE, V.C.; PINTO, A.Y.N. Por que ocorrem episódios familiares de doença de Chagas associado à transmissão oral na Amazônia brasileira? Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.35, p.165, 2002.

NONATO, Saimon Guthierre Neco; MEDEIROS, Stella Regina Arcanjo; OLIVEIRA, Amanda Mazza Cruz de; SOUSA, Paula Adrianne Braga de; SOUSA, Ana Cibele Pereira; OLIVEIRA, Ellaine Santana de. Avaliação das condições higiênico-sanitárias de indústrias processadoras de açaí de Imperatriz-MA. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 114-123, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde Danila Barros Bezerra Leal Bacharel Em Enfermagema Pela Universidade Federal Do Piauí,PicosPi, Brasil.

Iolanda Gonçalves De Alencar Figueiredo Enfermeira, Mestre em UTI, Professora do Curso de Bacharelado Em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí, CSHNB, Picos-Pi, Brasil.

Jalles Dantas De Lucena Enfermeiro, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Neurociências Cognitiva e Comportamento da Univerisidade Federal da Paraíba.

Ana Paula Fragoso De Freitas Enfermeira, Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Univerisidade Federal do Piauí Email: paulinhaff2@hotmail.com.

LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL RESUMO Por muito tempo os adolescentes foram regidos apenas pelo Código de Menores de 1979. Mas em 1990, com a regulamentação do estatuto, que abrange direitos e deveres, o jovem passou à condição de cidadão recebendo também punições em caso de transgressão à lei. O presente estudo teve como objetivo analisar a percepção dos adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. Trata-se de uma pesquisa descritiva-exploratória, com abordagem qualitativa. Participaram desse estudo 8 (oito) adolescentes, que estavam na casa do albergado, em cumprimento de medida socioeducativa de internação provisória. Os dados foram coletados através da aplicação de um roteiro de entrevista semiestruturada. A pesquisa permitiu caracterizar os adolescentes infratores como sendo, na sua maioria, jovens do sexo masculino, com idade média de 17 anos, ensino fundamental incompleto, e que moravam com suas mães. De maneira geral, constatou-se a ausência do desenvolvimento de ações de saúde na unidade e, dessa forma, um desacordo com as legislações atuais que garantem assistência à saúde dos adolescentes em cumprimento de tal medida, comprovado pelo discurso dos adolescentes, os quais caracterizam a assistência à saúde na instituição como ruim. Considera-se assim a necessidade de um trabalho multidisciplinar eficaz, a fim de fortalecer as articulações propostas para o desenvolvimento saudável do adolescente, além de um acompanhamento psicopedagógico para tentar estabilizar as mudanças advindas com a adolescência. Palavras-chaves: Adolescente. Assistência à saúde. Saúde Coletiva. ABSTRACT For a long time the teenagers were only ruled by the Minor Code of 1979. In 1990, with the regulations of the statute, which covers rights and duties, the young men went to the status of citizen also getting punishments in case of transgression of the law. The present study aimed to analyze the perception of adolescents in conflict with the law on health care. This is a descriptiveexploratory study with a qualitative approach. Participants were 8 (eight) teenagers, who were housed in the home, under socio measure of provisional admission. Data were collected through the application of a semi-structured interview. The research allowed the characterization of young offenders as, mostly young males, mean age 17 years, completed elementary school, and living with their mothers. In general, we found the absence of health activities development in the unit, in disagreement with current laws that guarantee health care for adolescents, in compliance with such action, evidenced by the discourse of adolescents, which characterize health care in the institution as bad. It is therefore considered the need for an effective LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL multidisciplinary work in order to strengthen joints proposals for healthy adolescent development, educational psychology, plus a follow up to try to stabilize the changes after adolescence. Keywords: Adolescents. Health care. Public Health.

INTRODUÇÃO A

adolescência

caracteriza-se

como

uma

fase

de

intensas

transformações físicas e psíquicas, sendo muitas vezes marcada por dúvidas e inseguranças oriundas do acúmulo de responsabilidades. A adolescência estabelece um período de transição entre a infância e a vida adulta, marcado pelo abandono da dependência da infância e a aquisição de uma maior autonomia e independência em campos da vida, como de atividade ocupacional, relações afetivas estáveis e identidade sexual, entre outras. De acordo com o artigo 2° do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o adolescente pertence à faixa etária dos 12 anos completos aos 18 anos, porém ocorre um desacordo da fixação etária com a Organização Mundial de Saúde (OMS), que circunscreve essa fase como sendo dos 10 aos 19 anos. É importante lembrar que o adolescente ficou até pouco tempo, alheio aos direitos civis, pois vigorava apenas o Código de Menores de 1979, que se fundamentava na doutrina da Situação Irregular, com forte tendência à criminalização da pobreza e à internação do público infanto-juvenil, direcionando-se apenas aos menores em situação irregular, ou seja, aos abandonados, carentes e infratores (ZAPPE e RAMOS 2010). Somente com a regulamentação do ECA, pela lei 8.069/90, surgiu um novo olhar sobre esse segmento populacional, servindo como referencial legal obrigatório nas ações que beneficiam crianças e adolescentes, além de garantir direitos e afirmar a cidadania, considerando-os como sujeitos de direitos, pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e prioridade absoluta (BOAS, CUNHA e CARVALHO 2010). LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Além do ECA também existem outras legislações que garantem direitos ao adolescentes, inclusive aos adolescentes em conflito com a lei, como a portaria nº 1.082, de 23 de maio de 2014, que redefine as diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória (PNAISARI). Apesar de tantas determinações legais há um distanciamento entre a realidade vivenciada pelos adolescentes e o ideal jurídico da garantia de direitos dos adolescentes infratores (BRASIL 2014). Essa concepção estigmatizada em relação aos adolescentes autores de atos infracionais recebe influência histórica, devido à inexistência de direitos de qualquer natureza a esse segmento da população (BOAS, CUNHA e CARVALHO 2010). O distanciamento do ideal jurídico também se deve ao despreparo dos profissionais em atender as necessidades desse público, além da dificuldade de sensibilizar gestores para o interesse pela questão da saúde do adolescente privado de liberdade. Diante dessa realidade justifica-se a importância deste estudo, a fim de conhecer a realidade institucional local, reafirmando os direitos dos adolescentes em conflito com a lei, à saúde de forma integral, além de contribuir para o aprimoramento científico, visto que existem poucas publicações sobre o tema proposto. Objetivou-se assim, analisar a assistência à saúde oferecida aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação provisória, buscando identificar ações de saúde desenvolvidas no estabelecimento socioeducativo para posteriormente comparar com o ideal jurídico da garantia dos direitos dos adolescentes.

LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL METODOLOGIA Foi realizado um estudo exploratória descritivo com abordagem qualitativa. O cenário da pesquisa foi uma casa do albergado, localizada numa cidade no interior do Piauí. Participaram dessa pesquisa adolescentes com idade entre 14 e 17 anos, de ambos os sexos, em conflito com a lei e em cumprimento de medida socioeducativa de internação provisória. As entrevistas semiestruturadas tiveram o número de sujeitos determinados pelas repetições das respostas, isto é, quando estas, de forma mais consistente produziram informações redundantes, totalizando oito sujeitos. Os dados foram coletados entre os meses de abril e junho de 2014 e, partindo do ponto de saturação, estes, foram agrupados em categorias de temáticas, apresentando os seguintes passos para sua operacionalização: transcrição, ordenação, classificação e interpretação e análise final, momento em que se estabelecem articulações entre os dados e as referências teóricas da pesquisa, buscando responder as indagações da pesquisa com base em seus objetivos (MINAYO 2008). Ao realizar a categorização dos dados, destacaram-se os seguintes temas: reincidência de infração e custódia no estabelecimento de internação provisória; ações de saúde durante permanência na instituição; definição da assistência à saúde na instituição. Todas as etapas deste projeto estiveram em concordância com a Resolução 466/12, o que exigiu encaminhamento ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, portando número de CAAE 26913814.8.0000.5214. Essa pesquisa não possui nenhum conflito de interesse e segue os preceitos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, norma que regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos e Declaração de Helsinque (BRASIL 2012). Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa permitiu caracterizar os sujeitos do estudo de acordo com o gênero, idade, nível de escolaridade e formação familiar. E confirmou a predominância de adolescentes do sexo masculino e com idade máxima igual a 17 anos e, mínima de 14 anos, demonstrando a caracterização da violência masculina juvenil e a permanência dessa particularidade ao longo dos anos, visto que no estudo de Zappe e Ramos (2010) que traçou o perfil de adolescentes privados de liberdade, na cidade de Santa Maria/RS, também obteve-se a idade média entre 16 e 17 anos dos internos que ingressaram no Centro de atendimento Socioeducativo Regional de Santa Maria (CASESM). Quanto ao nível de escolaridade, a maioria dos adolescentes havia estagnado entre a 7ª e 8ª série do ensino fundamental, extremando-se entre a 4ª série do ensino fundamental e o 1º ano do ensino médio, como evidenciado nos relatos anteriores. Assim, mais uma vez, concorda-se com os estudos de Zappe e Ramos (2010), nos quais os autores constataram a predominância de adolescentes que não possuíam o ensino fundamental completo. Houve compatibilidade de resultados também com a pesquisa de Souza, Abrão e Almeida (2011) e de Menicucci e Carneiro (2011), os quais analisaram as formas de implementação do ECA e do SINASE em dois centros socioeducativos de Minas Gerais, e observaram que a participação dos jovens em cursos profissionalizantes era muito falha devido a baixa escolaridade dos menores, que restringiam-se ao ensino fundamental incompleto. Esse abandono escolar, contemplado também no estudo de Maruschi, Estevão e Bazon (2012), no interior do Estado de São Paulo, mostra a ineficiência da família, da comunidade e do Estado em efetivar a educação aos jovens, que já foi previsto no ECA. No que se refere à família, a maioria dos pesquisados, nesse estudo, moravam com a mãe quando praticaram o ato infracional. Como citado nas narrações, 6 (seis) adolescentes em conflito com a lei residiam com suas LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL mães, um vivia somente com o pai e o outro sujeito da pesquisa morava com sua esposa. Esses dados assemelham-se ao estudo de Souza, Abrão e Almeida (2011), como também com o estudo realizado na cidade de Recife, sobre

a

percepção

de

adolescentes

infratoras

submetidas

à

ação

socioeducativa sobre assistência à saúde, de Monteiro e colaboradores (2011), no qual a maioria dos participantes possuía uma constelação familiar matriarcal, sendo a figura materna, muitas vezes, citada como a única representante do núcleo familiar. Destoando do exposto acima, Davoglio e Gauer (2011), encontraram no seu estudo que a maioria dos adolescentes pesquisados residia com ambos ou pelo menos com um dos pais quando praticou o ato infracional. Os resultados da presente pesquisa chamam atenção para o fato de que o conflito com a lei não está associado à situação de rua ou à ausência familiar no plano físico. Porém a presença da mãe/parente não exclui a negligência, que se dá pela carência ou ausência de cuidados responsáveis, podendo submeter o adolescente a uma inconstância psicológica, pois como dito por Monteiro e colaboradores (2011), a fragilidade dos vínculos afetivos com a família faz o adolescente ter uma maior probabilidade de se envolver em infrações, apesar de não ser esta a regra. Reincidência de Infração e Custódia no Estabelecimento de Internação Provisória A presente pesquisa revelou uma maior incidência de adolescentes que estavam cumprindo a medida socioeducativa de internação provisória pela primeira vez. Dos pesquisados, 5 (cinco), num total de 8 (oito), possuíam essa característica de primeira internação provisória; 2 (dois) estavam em cumprimento de medida socioeducativa pela segunda vez; e 1 (um) já estava pela terceira vez na instituição. Esses resultados conciliam-se com a pesquisa de Davoglio e Gauer (2011)

que

investigaram

as

características

sócio-demográficas

de

LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL adolescentes em medida socioeducativa com privação de liberdade, em Porto Alegre (RS), e encontrou uma frequência maior que 70% de adolescente em cumprimento da primeira medida socioeducativa. Assim também como em um estudo realizado por Maruschi, Estevão e Bozon (2012), no interior de São Paulo, a fim de investigar a persistência da conduta infracional, em amostra composta de quarenta adolescentes em conflito com a lei, revelou reincidência de apenas 32,5% da amostra, distinguindo-os de mais da metade que estavam pela primeira vez. Ainda que os estudos enunciem a primazia da primeira internação em oposição à reincidência, não é possível louvar esse resultado, pois não existem dados que relacionem os egressos de instituições para cumprimento de medida socioeducativa e os criminosos do sistema penitenciário, não sabendo ao certo se o adolescente transgressor da lei não volta a cumprir medida

socioeducativa

pelo

fato

de

ter

conseguido

sua

completa

ressocialização no meio, sendo a prática pedagógica eficiente, ou se pelo fato do adolescente já ser maior de idade e não se caracterizar como adolescente, passando a ser penalizado não mais sob regência do ECA, mas sim da Lei de Execução Penal. É válido colocar que outro segmento importante do atual estudo é a magnitude do ato infracional, o qual foi elevando-se com a reincidência, ou seja, a gravidade da transgressão sucessiva à lei foi sempre maior do que na primeira violação. Como relatado pelos adolescentes, quando foi perguntado se o mesmo já teria cumprido medida socioeducativa na instituição, como mostrado nas falas que se seguem: Adolescente D: Já, é a segunda vez que venho, da primeira vez foi assalto de 6 mil, e dessa foi 12. Adolescente F: Terceira vez que venho. Da primeira vez foi tráfico de droga, da segunda foi roubo de celular. E agora foi homicídio, 15. Adolescente G: Já, essa já é a segunda vez. Da primeira vez foi ameaça e tráfico de droga, e dessa vez foi tentativa de homicídio, porque a infeliz, que era minha colega, tava na cama com meu namorado.

LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Dessa forma, observa-se inconsonância com a parte do estudo de Davoglio e Gauer (2011), os quais mencionam que nem sempre o ato infracional pelo qual o adolescente cumpre a atual medida socioeducativa foi o mais grave que já cometeu. Essa divergência de resultados pode ser característica local, devido à fragilidade das ações socioeducativas, que não conseguiram despertar no adolescente a moral, nem tão pouco sensibilizá-lo quanto processo de construção de um novo ser. Outro fator que contribui pra esse aumento da proporção do ato infracional é o uso de drogas, confirmado também no estudo de Maruschi, Estevão e Bazon (2012), que julgaram como sendo o terceiro fator que melhor discriminou o grupo de adolescentes reincidentes dos não reincidentes. Ações de Saúde Desenvolvidas na Instituição De acordo com o ECA, o adolescente acusado da prática de um ato infracional pode ficar internado provisoriamente até que seja proferida a sentença referente ao seu processo num período máximo de 45 dias, devendo esse processo ser analisado durante esse prazo. Apesar de ser um período relativamente curto, a atividade pedagógica logo deve ser iniciada, a fim de conseguir bons resultados, ou seja, ressocializar eficazmente o adolescente. Ações no âmbito da saúde também devem ser principiadas em tempo oportuno, pois na maioria das vezes esses adolescentes chegam às instituições com a saúde fragilizada, devido ao estilo de vida precário e inconstante. A saúde do adolescente em conflito com a lei, em cumprimento de medida socioeducativa de internação/ internação provisória, é regida pela portaria nº 1.082 de 23 de maio de 2014, que redefine as diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória (PNAISARI), a LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL qual compreende as ações de saúde que devem ser prestadas aos adolescentes na situação descrita, devendo ser contempladas, de acordo com o artigo 8º, ações de promoção da saúde e prevenção de agravos, ações de assistência e reabilitação da saúde e atividades de educação permanente. Essa assistência deve ser oferecida pelas equipes de referência, seguindo as atribuições indicadas na política nacional de atenção básica, por meio da portaria GM/MS nº 2.488, de 21/10/2011. Porém o encontrado na atual pesquisa não condiz com exatidão com as legislações citadas. Nesse estrato perguntou-se sobre a necessidade de atendimento de urgência ou consulta com algum profissional da saúde. As respostas também mostraram violação das normas, já que deve ser garantido a integralidade e a universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência. Ainda assim, através da fala de alguns adolescentes percebe-se uma mínima assistência à saúde: Adolescente A: Não, senti dor de cabeça um dia e me deram um remédio, mas num me consultaram não. Adolescente B: Não, mas sábado fizeram aquele negócio que fura o dedo e viram minha pressão. Adolescente C: Não, só senti dor de dente, aí fui no hospital, que era pra arrancar, mas num tive coragem. Adolescente D: Nunca senti nada, Graças à Deus, sou saudável. Adolescente E: Tava com umas manchas no olho e a enfermeira veio olhar daí mesmo onde a senhora tá, e disse que ia passar pra eu lavar, mas não trouxe ainda. Adolescente G: Precisei tia, mas ninguém veio. Aqui eles não levam pro hospital com medo de eu fugir, mas isso num é problema não, se eu quisesse fugir daqui, já tinha fugido.

A adolescente G relatou necessidade de atendimento no momento de outra pergunta da pesquisa e afirmou não ter recebido atendimento. Ainda foi possível perceber que as ações de promoção à saúde e prevenção de agravos também não foram executadas com rigor, pois quando LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL se perguntou acerca de orientações sobre abster-se do uso de drogas, ou sobre os tipos de violências, DST’s, gravidez na adolescência, paternidade responsável, alimentação saudável, entre outros, obteve-se discursos de vivências externas, ou seja, as informações recebidas foram dadas fora da instituição, por pessoas alheias à assistência à saúde, ou de forma inconsistente. Adolescente A: A enfermeira entregou uns panfletos, mas só entregou, quem falou comigo sobre essas coisa foi os cara que trabalha aqui. Adolescente B: Disseram que quando eu sair daqui é pra eu trabalhar e ajudar minha mãe, pra não fazer coisa errada. Adolescente D: Só disseram pra usar camisinha, mas foi lá fora, minha mãe, minhas tias. Adolescente E: É pra um respeitar o outro, se não... esse negócio de paternidade eu já sei isso, porque já tenho um filho. Adolescente F: Disseram que não é pra comer muita gordura. Pra eu respeitar os outros. Disseram que é pra eu deixar de ser mal, deixar essas coisa pra lá. Eu sou caba homem, num tenho coragem de abandonar ela não, se eu fiz, eu tenho que criar. Mas que era pra usar camisinha. Ela falou nesse lugar bem aí que a senhora tá, a enfermeira. Adolescente G: Falaram alguma besteirinha aí, mas num lembro mais não. Adolescente H: Só sei de violência porque li o ECA.

Diferente deste resultado, no estudo de Monteiro e colaboradores (2011), concluiu-se que a instituição pernambucana atende a maioria dos requisitos da Portaria nº 1.082[3], através da promoção e prevenção da saúde, ofertando palestras educativas, apoio psicopedagógico, áreas de lazer, além de manter contato com instituições de referência e contra referência relacionada à assistência a saúde, incentivo na inserção educacional e profissionalizante. Analisando a atenção à saúde do adolescente de ato infracional privado de liberdade no Brasil, sob a ótica da inspeção nacional às unidades de internação de adolescentes em conflito com a lei, em todo o Brasil, em 2006, Vila Boas, Cunha e Carvalho (2010) revelaram em seu estudo que raramente havia equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) para o LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL acompanhamento dos internos; também aproximou-se dos resultados desta pesquisa no que se referia ao não oferecimento de assistência de urgência aos usuários do serviço. A prevenção e orientação sobre a transmissão do vírus da imunodeficiência humana, assim como outras atividades de educação em saúde eram esporádicas. Vale ressaltar que essa pesquisa menciona a problemática de maneira geral, não excluindo as exceções. Em um estudo realizado por Cavalcanti, Dantas e Carvalho (2011), no qual se objetivou discutir a situação dos adolescentes em privação de liberdade no que se refere ao atendimento público em saúde, também se concluiu que há descumprimento dos direitos sociais que os adolescentes possuem constitucionalmente, dentre estes o direito à saúde. Essa realidade local/nacional perpassa por uma série de fatores, sendo necessária a reordenação de conceitos, crenças e atitudes, tanto dos profissionais de saúde, que não recebem capacitação específica para lidar com o adolescente em conflito com a lei que é um usuário do serviço em condição peculiar, como principalmente dos gestores, para que volte a sua atenção ao adolescente com transtorno de conduta, que pode ser modificado e adaptado à sociedade. Definição da Assistência à Saúde na Instituição pelos Adolescentes No que concerna à assistência prestada percebe-se que o julgamento dos jovens envolvidos com a prática de atos infracionais categorizou a assistência

à

saúde

na

instituição

para

cumprimento

de

medida

socioeducativa como de má qualidade, na sua maioria, sendo que da totalidade apenas um a considerou como boa enquanto três afirmaram ser regular e quatro ruim. Adolescente A: Porque o menino tava com a barriga doendo e chorando e só deram chá e disseram que na cadeia era assim mesmo (Ruim). Adolescente B: Tava sentido dor de barriga e tontura e nem ligaram pra mim, mas o outro menino tava ruim, foi bem ligerim pro hospital. Pra mim só fizeram um chá de casca de laranja (Regular). LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Adolescente C: Tem que levar pro hospital, num vai deixar morrer (Regular). Adolescente D: Rapaz, é difícil. Boto fé que a gente chama o cara e pode é morrer e o cara não vem. Tem condição não (Ruim). Adolescente E: Ela veio ver meu olho na sexta. Acho que aqui é boa (Boa). Adolescente F: Se eu precisar eles dão assistência (Regular). Adolescente G: Tia, eu já precisei, quase morro bem aqui, e ninguém fez nada (Ruim). Adolescente H: Rum, se eu precisar eles tem que vim, se não eu faço é um escândalo (Ruim).

O artigo de Areco e colaboradores (2011) envolveu um enfoque qualitativo dos serviços de saúde mental e drogadição de um município do estado de São Paulo, que oferece assistência aos adolescentes em situação de vulnerabilidade social. E os resultados dessa pesquisa também mostraram ausência da atenção integral de forma articulada, assim como está proposto no ECA, evidenciando inconstância dos atendimentos, quase ausência de planejamento das ações, sendo estas fragmentadas, sobreposição de determinados serviços e ausência de outros, autenticando a desatenção à saúde de adolescentes vulneráveis também em outras regiões do país. Da mesma forma, o estudo de Coutinho e colaboradores (2009), que objetivou identificar as representações sociais da prática socioeducativa de privação de liberdade através das falas dos adolescentes, concluiu que a prática de exclusão social emergiu de forma mais significativa nas falas dos atores sociais retratando uma prática estigmatizante, no qual a ociosidade e a violência são partes da rotina, e acaba por comprometer o processo de ressocialização do adolescente privado de liberdade, pontuando mais uma vez a falta do seguimento de normativas referentes à execução das medidas socioeducativas e principalmente à saúde dos adolescentes que cumprem tais medidas. Destarte equipara-se a realidade local à realidade nacional, admitindo-se que o entendimento da problemática do adolescente em conflito com a lei deve ser multifatorial, pois nenhum fator isolado pode LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL bastar para a compreensão de casos tão complexos como esses, devendo envolver diferentes setores de políticas públicas. Assim também como apenas um profissional da saúde não pode ser responsável pela totalidade das (in)resoluções dos objetos de discussão. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa possibilitou caracterizar o adolescente transgressor da lei como sendo na sua maioria do sexo masculino, com 17 anos e ensino fundamental incompleto, além de identificar a sua constituição familiar matriarcal. A noção dessa realidade exprime as lacunas existentes no desenvolvimento desses jovens causadas pela carência de apoio familiar, escolar e governamental. A fim de solidificar a importância dessas três esferas na construção da identidade do adolescente, faz-se necessário aplicar políticas públicas para permanência na escola, através do preenchimento completo do horário letivo com atividades interativas, como a prática de esportes, grupos de teatro ou dança, ações ecológicas e de cunho social, ou seja, atividades que estimulem os bons sentidos e desenvolva discernimento moral no adolescente. Essa informação aponta para a necessidade de um acompanhamento psicopedagógico ainda na escola, antes da influencia das transformações da adolescência. A existência de casos de reincidentes demonstra falhas nas atividades sociopedagógicas da instituição. Uma alternativa para evitar a reincidência dos jovens na unidade socioeducativa e até no sistema prisional para adultos é a articulação, por parte dos gestores, com empresas a fim de absorverem aprendizes para o seu quadro de funcionários, dando-lhes a oportunidade de aprender uma profissão e remodelar a sua trajetória de vida. Com o mesmo propósito, podem ser desenvolvidos ofícios emergenciais, que capacitem os adolescentes a conseguirem renda com atividades que não exijam conhecimento científico, mas que possa ser desenvolvida com habilidade e prática, como ofício de carpinteiro, cozinheiro, encanador, pedreiro, entre LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL outras. Outra forma para evitar a reincidência do ato infracional seria organizar centros de reabilitação para dependentes químicos acessíveis à comunidade local e que estes tenham articulação com a instituição socioeducativa, para facilitar a referência, pois muitas vezes os jovens já estão dependentes de substâncias que alteram seus os impulsos e suas percepções, levando facilmente a transgressão. Assim, faz-se necessária uma equipe multiprofissional engajada em construir uma conexão eficiente entre as redes de atenção à saúde, que garanta uma assistência completa ao jovem, desde a atenção primária até a mais especializada, e primordialmente faz-se necessário desalinhar a persistência da lógica prisional que embasa o tratamento desses jovens para assim, garantir uma ressocialização digna.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ZAPPE, J. G; RAMOS, N. V. Perfil de adolescentes privados de liberdade em Santa 122Maria/RS. Psicologia & Sociedade. v. 22, n. 2, p. 365-373, 2010. BOAS, C. C. V; CUNHA, C. F; CARVALHO, R. Por uma política efetiva de atenção integral à saúde do adolescente em conflito com a lei privado de liberdade. Rev Med, v.20, n.2, p.225-233, jun-2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.082, de 23 de maio de 2014. Brasília: Senado Federal, 2014 BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Normas para pesquisa envolvendo seres humanos: (Res. CSN 466/12) Brasília, DF, 2012. SOUZA, E. M; ABRÃO, F. P. S; ALMEIDA, J. O. Desigualdade social, delinquência e depressão: um estudo com adolescentes em conflito com a lei. Rev. salud pública. v. 13, n. 1, p. 13-26. 2011. MENICICCI, C. G; CARNEIRO, C. B. L. Entre monstros e vítimas: a coerção e a socialização no sistema socioeducativo de Minas Gerais. Serv. Soc. Soc. n. 107, p. 535-556. jul-set. 2011.

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Artigo ORIGINAL MARUSCHI, M. C; ESTEVÃO, R; BAZON, M. R. Risco de persistência na conduta infracional em adolescentes: estudo exploratório. Estudos de Psicologia. n. 29, p. 679-687. out-dez. 2012. MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 11ª ed. São Paulo: Hucitec, 2008. MONTEIRO, E. M. L. M, et al. Percepção de adolescentes infratoras submetidas à ação socioeducativa sobre assistência à saúde. Esc Anna Nery, v.15, n.2, p.323-330, abr-jun/2011. DAVOGLIO, T. R; GAUER, G. J. Adolescentes em conflito com a lei: aspectos sociodemográficos de uma amostra em medida socioeducativa com privação de liberdade. Contextos Clínicos, v. 4, n. 1, p. 42-52, jan-jun. 2011 CAVALCANTI, P. B; DANTAS, A. C. S; CARVALHO, R. N. Contornos e sinergias entre a política de Saúde e o adolescente privado de liberdade: intersetorialidade como desafio. Textos & Contextos. v. 10, n. 2, p. 399 410, ago-dez. 2011. ARECO, N. M, et al. Caracterização dos serviços que atendem adolescentes: interfaces entre saúde mental e drogadição. Psicologia & Sociedade. v. 23 n. 1, p. 103-113. 2011. COUTINHO, M. P. L, et al. Prática de privação de liberdade em adolescentes: um enfoque psicossociológico. Psicologia em Estudo. v. 16, n. 1, p. 101-109, jan./mar. 2011.

LEAL, Danila Barros Bezerra; FIGUEIREDO, Iolanda Gonçalves De Alencar; LUCENA, Jalles Dantas De; FREITAS, Ana Paula Fragoso De. Percepção de adolescentes em conflito com a lei sobre as ações de saúde. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 124-139, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI Antonio Alexandre Henrique Sousa Graduando em Farmácia, Faculdade Santo Agostinho, Teresina-PI. Ana Cibele Pereira Sousa Bacharel em Nutrição, Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Ludmila Araújo Rodrigues Lima Graduanda em nutrição, Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Ruy Roberto Porto Ascenso Rosa Farmacêutico, Faculdade Santo Agostinho, Teresina-PI. Iana Bantim Felício Calou Farmacêutica, Doutora em Farmacologia UFC, Professora Adjunto I, Curso de Nutrição, Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos-PI.

Tonny Kerley de Alencar Rodrigues Bacharel em Economia (UFPI) e em Administração (FSA), Doutorando em Administração Coppead/UFRJ, Professor da Faculdade Santo Agostinho. Teresina-PI. * Endereço para correspondência, Rua porto, 389, Bairro: São Pedro, CEP: 64019-500, Teresina-PI. E-mail: alexandre_hsousa@hotmail.com.

SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL RESUMO A automedicação é uma das forma de autocuidado à saúde mais praticadas pela população. Não obstante é necessária a devida orientação tendo em vista que a falta de informação pode levar a danos à saúde uma vez que, sendo ferramenta comum de tratamento médico, o fácil acesso aos fármacos os fazem os principais responsáveis pelo crescente número de intoxicações registradas no país. Este trabalho teve como objetivo avaliar a prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores dos bairros São Pedro e Irmã Dulce de Teresina-PI. Consiste em um estudo epidemiológico de base populacional onde foram entrevistados 180 moradores dos bairros citados por meio de um questionário semiestruturado. O resultado mostrou uma alta prevalência de automedicação, e dentre as classes de medicamentos mais utilizados estão os analgésicos seguido dos antitérmicos. As doenças referidas com maior prevalência tratada com esses medicamentos foram a cefaleia, resfriado/gripe e febre. Palavras chave: Intoxicação, fármacos, autocuidado. ABSTRACT Self-medication is the most practiced form of self-care health by the population. No proper guidance and lack of information can lead to health hazards, since being common tool for medical treatment; easy access to drugs is mainly responsible for the increasing number of poisonings registered in the country. This study aimed to assess the prevalence and factors related to self-medication for residents of São Pedro and Irmã Dulce neighborhoods, Teresina-PI. It consists of an epidemiological populationbased study where 180 residents received a semi-structured questionnaire to answer and were all interviewed. Results showed high prevalence of selfmedication, and among the most widely used classes of drugs are analgesics followed by antipyretics. The most prevalent diseases treated with these drugs, were headache, cold / flu and fever. Keywords: Intoxication, drugs, self-care.

SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL INTRODUÇÃO O medicamento é tido como um símbolo de saúde, de cura e de retardo da progressão de doenças, porém o uso indiscriminado ou indevido pode suscitar o agravamento do estado de saúde do paciente, intoxicação, ou até mesmo a morte (LIMA, NUNES e BARROS 2010). Segundo Azevedo (2010), a toxicologia atual é entendida como a ciência que estuda os efeitos adversos das substâncias químicas sobre os organismos vivos e avalia a probabilidade da sua ocorrência. E dentre os agentes tóxicos mais frequentemente envolvidos nos casos de intoxicação tem-se

o

paracetamol,

metemoglobina

e

a

os

salicilatos,

carboxihemoglobina,

os

anticolinesterásicos, os

barbitúricos

e

a os

benzodiazepínicos, antidepressivostricíclicos, alem das drogas de abuso, etanol e cocaína (VIERA 2012). De acordo com Schvartsman e Schvartsman, (1999) as consequências clínicas e/ou bioquímicas da exposição aguda a substâncias químicas encontradas no ambiente ou isoladas são as intoxicações exógenas agudas, dentre as substancias isoladas causadora de tal enfermidade destacam-se os medicamentos. A automedicação é definida como a utilização de fármacos sem prescrição médica, onde o próprio paciente decide qual fármaco a ser utilizado, com o objetivo de tratar ou aliviar sintomas ou mesmo de promover a saúde (WERTHEIMER e SERRADELL 2008). O problema do uso indiscriminado de medicamentos na atualidade é a capacidade de colocar em risco a saúde de boa parte da população, por ser uma prática potencialmente danosa à saúde se não praticada de forma correta (LOPES et al. 2014). No Brasil, cerca de 80 milhões de pessoas praticam a automedicação. Fatores como a má qualidade de oferta de fármacos, o não cumprimento da obrigatoriedade da receita médica e a carência de informações e instrução da SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL população em geral, justificam a preocupação em implementar as estratégias do uso racional de fármacos (SILVA et al. 2011). Consequências sérias podem advir do uso de medicamentos desprovido de informação médica ou farmacêutica, como o aumento da resistência bacteriana aos antibióticos e a hemorragia cerebral devido à combinação de um anticoagulante com um simples analgésico (LIMA e RODRIGUES 2008). Dentre os fatores associados ao uso indiscriminado de fármacos tem-se, a propaganda massiva e a facilidade de acesso a medicamentos em farmácias e supermercados, dando assim a impressão de que são produtos livres de riscos à saúde. Expondo os consumidores a reações indesejadas (NASCIMENTO 2003). Diante da importância do cenário descrito esta pesquisa consiste em um estudo epidemiológico de base populacional, que tem como objetivo determinar a prevalência e os fatores associados à prática da automedicação da população de dois bairros da zona sul de Teresina-PI. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo (GIL 2002), desenvolvido nos bairros São Pedro e Irmã Dulce, Teresina-PI, no período de outubro de 2013 a janeiro de 2014. A pesquisa utilizou um n amostral de 180 pessoas (nível de confiança de 95% e erro amostral de 5%). Os critérios de inclusão para participação da pesquisa foram: idade maior que 18 anos; pertencerem a esses bairros e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para Participação em Pesquisa. Os aspectos éticos de confiabilidade e privacidade foram assegurados de acordo com a resolução nº 196/96. Quanto à abordagem, a pesquisa é quantitativa, aplicada, consistindo num estudo transversal onde foi realizado um levantamento por meio de um questionário semiestruturado adaptado de Barros, Griep e Rotenberg (2009) com uma escala tipo Liker, para coleta dos dados, constituído de perguntas SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL estruturadas contendo dados de identificação e referentes à automedicação. Os dados foram analisados por meio do software SPSS 20.0. A coleta de dados foi realizada após aprovação pelo comitê de ética da Faculdade

Santo

Agostinho

-

FSA,

sob

o

número

de

protocolo:16813613.2.0000.5602. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na figura 1 tem-se exposto o percentual de entrevistados que relataram já terem usado ou comprado medicamentos sem receita médica. Figura 1. Percentual de utilização e compra de medicamentos sem receita médica.

Fonte: Pesquisa: Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI.

Os resultados obtidos corroboram os resultados de Fernandes, Palma e Monteiro (2010), onde 80% da população investigada no estudo afirmara que se automedicava. Assim como no estudo de Oliveira e Pelógia (2011), em estudo de automedicação entre profissionais de saúde onde 53,1%, a maior prevalência encontrada, foi de automedicação. Estudos epidemiológicos sobre o uso de medicamentos impõem reconhecer que tal prática não se limita a fatores farmacoterapêuticos. Na verdade, pode-se constatar que, além da contribuição do modelo biomédico, exercem grande influência, as estratégias promocionais dos produtores com SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL a lógica de mercado subjacente, mais recentemente, engendrando novas artimanhas para convencer prescritores e consumidores sobre as vantagens dos fármacos como fonte de bem-estar e de saúde (BARROS 2008). Na figura 2, tem-se os tipos de medicamentos utilizados pelos entrevistados, onde o consumo de analgésicos corresponde a classe medicamentosa mais utilizada da população de estudo, corroborando assim com estudos de Galato, Madalena e Pereira (2012) onde a maioria da população estudada, 52,3% dos universitários, fazia uso de analgésico para alívio de dores. Os analgésicos foram a maior classe consumida em outros estudos como o de Freitas, Martins (2008) e Arrais et al. (1997). Apontando que situação semelhante já era observada há cerca de onze anos, e, assim como no estudo de Lalama (1999), as categorias de medicamentos mais utilizadas na automedicação eram analgésicos, antibióticos e antiinflamatórios, dos quais 49% eram sugeridos pela propaganda. No entanto ressalta-se

que

nesta

pesquisa

os

antibióticos

não

tiveram

tanta

expressividade em virtude de um maior rigor na apresentação da receita no ato de sua venda ao longo dos anos, e os anti-inflamatórios apresentaram um valor considerável. Entretanto em pesquisa realizada em Goiânia apontou um perfil diferente da população idosa onde uso de analgésico atingiu somente 9,1% de consumo, e o uso de medicamentos para doenças cardiovasculares foi predominante neste estudo (Santos et al. 2013). Salienta-se que dos tipos de medicamentos relatados, os vermífugos apresentaram menor valor percentual.

SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Figura 2. Classe de medicamentos utilizados.

Fonte: Pesquisa: Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI.

A figura 3 retrata as doenças apontadas pelos entrevistados como causa da automedicação. Figura 3. Motivos/doenças relacionados com a automedicação

Fonte: Pesquisa: Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI.

SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL Segundo Freitas e Martins (2008), as principais afecções relatadas pelos usuários de medicamentos por automedicação em seu estudo foram: cefaleia (32%), dores osteomusculares (31%), e infecção respiratória (25%), corroborando desta forma com os resultados aqui obtidos. Lessa e Bochner (2008) ressaltam que o amplo uso de medicamentos sem orientação médica, quase sempre acompanhado do desconhecimento dos malefícios que podem causar, é apontado como uma das causas destes constituírem o principal agente tóxico responsável pelas intoxicações humanas registradas no país. Para que esse quadro seja mudado, é necessário o cumprimento da regulamentação sobre o uso de medicamentos, obedecendo às limitações em relação à dispensação farmacêutica destes produtos (BORTOLON et al. 2008). CONSIDERAÇÕES FINAIS Observou-se um alto percentual de automedicação, o que já era esperado tendo em vista se tratar de um legítimo processo de autocuidado. A classe de analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios, pertencentes ao anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), foram os mais citados por conseguirem um manejo rápido dos sintomas mais comuns apresentados por qualquer população, a exemplo da cefaleia. A despeito de ser uma prática permitida, a mesma deve ser devidamente orientada, tendo o profissional farmacêutico

papel

imprescindível

no

fornecimento

de

informações

necessárias ao cliente da farmácia. A compra de medicamentos dissociada de uma boa dispensação é fator de risco para intoxicações por medicamentos, que a despeito de ser um problema antigo, tem alta prevalência no nosso país.

SOUSA, Antonio Alexandre Henrique; SOUSA, Ana Cibele Pereira; LIMA, Ludmila Araújo Rodrigues; ROSA, Ruy Roberto Porto Ascenso; CALOU, Iana Bantim Felício; RODRIGUES, Tonny Kerley de Alencar. Prevalência e fatores relacionados com a automedicação em moradores de bairros da zona sul de Teresina – PI. RevInter Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 7, n. 3, p. 140-149, out. 2014.

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Artigo ORIGINAL http://www.unir.br/html/pesquisa/Pibic_XIV/pibic2006 15.jan.2014]

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em:

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