Revinter Revista da Toxicologia - Volume 8 Número 1 Fev de 2015 - São Paulo

Page 1


Editorial A Revinter – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade – tem missão de divulgar a produção científica da Toxicologia, Meio Ambiente e Sociedade, estimulando as contribuições criativas e inéditas do trabalho acadêmico, de pesquisa e do meio empresarial, tanto de autores nacionais como estrangeiros,

contribuindo

para

a

discussão

e

o

desenvolvimento

do

conhecimento nestas áreas. Trata-se de um periódico científico de acesso aberto, quadrimestral (meses de fevereiro, junho e outubro), arbitrado, publicado em São Paulo, SP, Brasil, pela parceria Intertox-Ecoadvisor, e classificado na Tabela de Áreas do Conhecimento do CNPq em Ciências Biológicas - 2.10.07.004 – Toxicologia. Seu foco está na publicação de contribuições científicas no campo das Ciências Toxicológicas, com ênfase em todos os aspectos do gerenciamento dos riscos químico e toxicológico que tenham repercussão sobre o meio ambiente e a sociedade. Para o ano de 2015, em que agora lançamos o primeiro número da revista, nosso planejamento estratégico aprovado determina que continuemos a nos empenhar cada vez mais para aumentar a penetração da Revinter e para assegurar sua ascensão no Sistema Qualis da CAPES. A verdadeira guerra travada entre a humanidade e os riscos químicos e toxicológicos das substâncias químicas e dos processos produtivos que as envolvem está mais cruenta do que nunca. A constatação de tal fato é, infelizmente, muito fácil. Basta que sejam abertos os mais importantes jornais e semanários do planeta. Dia-a-dia o noticiário destaca casos de acidentes e derramamentos químicos, intoxicações as mais diversas, uso inadequado de produtos

químicos

na

agricultura,

poluição

da

atmosfera,

drogadição,

intoxicações por medicamentos, aquecimento global e gases tóxicos, etc. O inventário não tem fim, para nossa consternação. Mas se isso nos sensibiliza e aborrece por uma lado, por outro nos magnifica a energia e a determinação de prosseguirmos nessa batalha em busca do bem comum, contribuindo com a captação e disseminação do conhecimento químico e toxicológico e sua interface. _______________________________________________________________________________________________________ Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 8-130, fev. 2015


Editorial É assim que surge então o número 1 do volume 7 da Revinter. Artigos de fôlego e de largo interesse vêm a público, para conversar com o leitor e o pesquisador, na consolidação de um diálogo que desde seu nascimento se pretende desigual. Explicamos: de um lado da conversa apostamos numa Toxicologia como interlocutor forte e seguro, e do outro lado, uma intoxicação cada vez mais rara e ausente. É nosso sonho. É o ideal de todos nós! Desejamos a todos uma boa leitura e convidamos a publicar e debater conosco encaminhando contribuições para m.flynn@intertox.com.br Fausto Antonio de Azevedo Conselho Editorial Científico

_______________________________________________________________________________________________________ Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 8-130, fev. 2015


ISSN 1984-3577

S達o Paulo, v. 8, n. 1, fev. 2015


 2015 Intertox Periódico científico de acesso aberto, quadrimestral e arbitrado meses: (2) fevereiro, (6) junho e (10) outubro. Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte. As opiniões e informações veiculadas nos artigos são de inteira e exclusiva responsabilidade dos respectivos autores, não representando posturas oficiais da empresa Intertox Ltda. Seções Artigo Original; Artigo de Atualização; Comunicação Breve; Ensaio; Nota de Atualização e Revisão; Notas Idiomas de Publicação Português e Inglês Contribuições devem ser enviadas para <m.flynn@intertox.com.br>. Disponível em: <http://revinter.intertox.com.br>. Normalização e Produção Web site Henry Douglas Capa Henry Douglas Dieffenbachia picta Caladium bicolor Datura suaveolens

Nerium oleander Allamanda cathartica Zantedeschia aethiopica

Projeto Gráfico Henry Douglas RevInter – Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade. / InterTox uma empresa do conhecimento. – v. 8, n. 1, (fev. 2015).- São Paulo: Intertox. 2015. Quadrimestral ISSN: 1984-3577 1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento. Biblioteca InterTox II. Título. Rua Turiassú, 390 - cj. 95 - Perdizes - 05005-000 - São Paulo - SP – Brasil Tel.: 55 11 3872-8970

http://www.intertox.com.br / intertox@intertox.com.br 1. Ciências Toxicológicas. 2. Risco Químico. 3. Sustentabilidade Socioambiental. I. InterTox uma empresa do conhecimento. _______________________________________________________________________________________________________ Biblioteca InterTox II. Título.

Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-130, fev. 2015


Expediente Editor(a) Maurea Nicoletti Flynn Doutora em Oceanografia (USP) Com Especialização Ecologia Comitê Científico (2011-2013) Irene Videira Lima Doutora em Toxicologia (USP), Perita Criminal Toxicologista do IML-SP por 22 anos. Marcus E. M. da Matta Doutor em Ciência pela Faculdade de Medicina USP. Especialista em Gestão Ambiental (USP). Engenheiro Ambiental e Turismólogo. Moysés Chasin Farmacêutico-bioquímico pela UNESP-SP especializado em Laboratório de Análises Clínicas e Toxicológicas e de Saúde Pública. Ex-Perito Criminal Toxicologista de classe especial e Diretor no Serviço Técnico de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal da SSP/São Paulo. Diretor executivo da InterTox desde 1999. Ricardo Baroud Farmacêutico-Bioquímico Toxicólogo, Editor Científico da PLURAIS Revista Multidisciplinar da UNEB e da TECBAHIA Revista Baiana de Tecnologia.

Conselho Editorial Científico (2011-2013) Alice A. da Matta Chasin Doutora em Toxicologia (USP) Eduardo Athayde Coordenador no Brasil do WWI - World Watch Institute Eustáquio Linhares Borges Mestre em Toxicologia (USP), ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Toxicologia, exProfessor Adjunto de Toxicologia da UFBA. Fausto Antonio de Azevedo Mestre em Toxicologia USP, ex-Diretor Geral do Centro de Recursos Ambientais do CRA-BA, ex-Presidente do CEPED-BA, ex-Subsecretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia. Isarita Martins Doutora e Mestre em Toxicologia e Análises Toxicológicas (USP), Pós-doutorado em Química Analítica (UNICAMP), FarmacêuticaBioquímica Universidade Federal de Alfenas MG. João S. Furtado Doutor em Ciências (USP), Pós-doutorado (Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, NC, EUA). José Armando-Jr Doutor em Ciências (Biologia Vegetal) (USP), Mestre (UNICAMP), Biólogo (USF). Sylvio de Queiroz Mattoso Doutor em Engenharia (USP), ex-Presidente do CEPED-BA.

_______________________________________________________________________________________________________ Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-130, fev. 2015


Sumário TOXICOLOGIA Humor Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense

8

Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais

19

Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson

45

27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon

58

ECOTOXICOLOGIA Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estona

82

SOCIEDADE Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - BA 100 Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil 113

_______________________________________________________________________________________________________ Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-130, fev. 2015


Revisão Humor Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense Vívian Romero Santiago Perita legista da Perícia Farmacologia Legal.

Forense

do

Ceará,

Especialista

em

Email: vivisantiago_@hotmail.com

Auriana Serra Vasconcelos Mestranda em Farmacologia da Universidade Federal do Ceará.

Natália Ferreira de Oliveira Farmacêutica graduada pela Universidade Federal do Ceará.

Manuela Chaves Loureiro Cândido Perita criminal da Perícia Forense do Ceará, Mestre em Química.

Bruna Estefânia Carvalho dos Santos Perita legista da Perícia Forense do Ceará, Mestre em Patologia.

José Nilson Ferreira Gomes Neto Professor

da

Universidade

de

Fortaleza,

Mestre

em

Ciências

Farmacêuticas.

SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

8


Revisão RESUMO A toxicologia forense se define como uma das disciplinas técnico-científica que constituem as denominadas ciências forenses. Essa envolve de maneira ampla a pesquisa de drogas em diversas matrizes biológicas. Não é possível falar de Toxicologia Forense sem falar da toxicologia analítica. A detecção de drogas de abuso nos casos postmortem pode apresentar dificuldade quando comparado com espécimes coletadas “in vivo”. A partir dessas dificuldades que são encontradas nas amostras biológicas esse trabalho pretende apresentar uma alternativa para ser utilizada em screening toxicológico, tendo como objetivo principal avaliar a possibilidade da utilização do humor vítreo como espécime biológico para detecção de toxicantes no post-mortem. Para isso será realizada uma revisão da literatura que não somente trará conceitos iniciais da amostra como também apresentará vantagens e desvantagens dessa amostra quando comparada a outras atualmente utilizadas. Trata-se de uma revisão da literatura a partir de artigos científicos encontrados de 2003 a 2013. A pesquisa utilizou as bases de dados Sciencedirect, Scielo e Lilacs. Pode-se definir humor vítreo como um gel situado por trás da lente do olho. É um espécime que pode ser coletada em investigações médico-legais na rotina durante as necropsias. O uso desse espécime com a finalidade de dosar

dois eletrólitos, glicose e

compostos de azoto, é bem elucidado. Em alguns casos a atividade microbiana intensa e a fermentação da glicose que acontecem posmortem podem ser responsáveis por uma produção de álcool. Por essa razão, outras amostras são insuficientes para concluir um laudo medico legal. Portanto, a utilização do humor vítreo para dosagem de algumas substâncias tem grande valor. Dentre as principais funções consideradas essenciais da medicina legal, incluem-se as investigações forenses, que envolvem em sua maioria, a causa de morte. A partir desta revisão, foi possível determinar o humor vítreo como espécime biológico que, apesar de ainda não ter sua SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

9


Revisão utilização consolidada, apresenta inúmeras vantagens, podendo ser utilizado mesmo com a degradação do organismo vivo. Palavras-chave: Humor Vítreo, Espécimes Biológicos, Detecção de Toxicantes. ABSTRACT Forensic toxicology is defined as one of the technical and scientific discipline that constitute the so-called forensic sciences. This involves broadly drug research in various biological matrices. Is not possible to speak about forensic toxicology without mentioning analytical toxicology. The detection of drugs of abuse in postmortem cases can present difficulties when compared with specimens collected "in vivo". From these difficulties, found in biological samples, this work aims to provide an alternative to toxicological screening, having as main objective to evaluate the possibility of using the vitreous humor as a biological specimen for the detection of toxicants in post-mortem. This literature review will not only introduce the initial concepts of sample but also present advantages and disadvantages of this particular sample when compared to others currently in used. A review of scientific articles from 2003 to 2013 at the bases science direct, lilacs and scielo, were done. Humor vitreous can be defined as a gel located behind the lens of the eye. It is a specimen that can be collected in legal investigations in routine during autopsies. The use of this specimen in place of the electrolytes, glucose and nitrogen compounds, is elucidated. In some cases, intense microbial activity and fermentation of glucose occurring posmortem may be responsible for the production of alcohol. For this reason, other samples are insufficient in order to complete a medico legal report. Therefore, the use of vitreous humor has great value. Among the main functions considered essential, forensic includes forensic investigations, SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

10


Revisão involving mostly the cause of death. From this review, we can determine the vitreous body as a biological specimen; although it has not yet had it use consolidated, it presents a larger number of advantages, including the possibility of use even with the deterioration of the living organism. Keywords: Vitreous Humor, Biological Specimens, Detection of Toxicants. INTRODUÇÃO A toxicologia forense é definida como uma das disciplinas técnicocientífica que constituem as denominadas ciências forenses. Essa envolve de maneira ampla a pesquisa de drogas em diversas matrizes biológicas (Society of Forensic Toxicologists 2013). Não é possível falar de toxicologia forense sem falar da toxicologia analítica. Isso faz com que uso das ferramentas apresentadas para análises qualitativas, como a

química analítica, possam aumentar a

análise de

quantidade de substâncias de interesse toxicológico que podem se apresentar em diferentes matrizes biológicas (GARCÍA-RODRÍGUEZ e GÍMENEZ 2005). A detecção de drogas de abuso nos casos post-mortem pode apresentar uma maior dificuldade quando comparado com espécimes coletadas “in vivo”. Quando se vai determinar a concentração de drogas em matrizes biológicas é importante se ter conhecimento da estabilidade da substância em tais tecidos. Esta situação é mais relevante em toxicologia forense, onde os tecidos são susceptíveis a exposição por períodos prolongados. A extensão da alteração química no intervalo post-mortem, ou mesmo no metabolismo que ocorre após a morte, pode afetar a interpretação dos resultados. Como algumas drogas são conhecidas pela sua natureza instável é mais indicado utilizar as amostras biológicas que não sofrem essa alteração (ROBERTSON e DRUMMER 1995; MORIYA e HASHIMOTO 1996). SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

11


Revisão Uma vantagem de amostras coletadas do post-mortem quando comparadas as situações clínicas habituais é a diversidade de amostras que podem ser coletadas. A escolha da amostra é muitas vezes determinadas pelo caso que está sendo investigado, no entanto, as espécimes mais comuns utilizadas para a análise de drogas de abuso em caso de necropsia são o sangue, no fígado e na urina, ou ainda, músculo, tecido adiposo, pulmão, cérebro, ossos, e até mesmo, em casos de corpos em estado de putrefação, pode-se coletar

insetos que estejam alojados ao hospedeiro. No entanto,

espécimes como humor vítreo e cabelo tem usos importantes em casos de rotina, enquanto cérebro, músculo, gordura, osso e derrames pleurais tem aplicações mais especializadas (DRUMMER 2004). A qualidade das perícias depende dos avanços científicos, aspecto fundamental

da

toxicologia

forense.

É

necessário

que

ocorra

a

implementação correta de metodologias validadas para quantificação de tóxicos. Aliado a isso, é indispensável realizar posteriormente uma interpretação adequada baseada na quantificação dessas substancias tóxicas (GARCÍA-RODRÍGUEZ e GÍMENEZ 2005). A partir das dificuldades encontradas nas amostras biológicas, esse trabalho pretende apresentar uma alternativa para ser utilizada em screening toxicológico, tendo como objetivo principal avaliar a possibilidade da utilização do humor vítreo como espécime biológico para detecção de toxicantes no post-mortem. Para isso será realizada uma revisão da literatura que não somente trará conceitos iniciais da amostra como também apresentará vantagens e desvantagens dessa amostra quando comparada a outras atualmente utilizadas. MÉTODOS Trata-se de uma revisão da literatura a partir de artigos científicos encontrados de 2003 a 2013. A pesquisa utilizou as bases de dados Sciencedirect, Scielo e Lilacs, incluindo estudos publicados em português, SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

12


Revisão inglês ou espanhol. Após a leitura dos artigos encontrados nas bases de dados, foram selecionados todos os relacionados com o tema, correspondendo a um total de 20 artigos. REVISÃO DA LITERATURA Definição do humor vítreo Pode-se definir humor vítreo como um gel situado por trás da lente do olho (BOST 1997). Embora seja tecnicamente classificado como gel pode ser considerado um fluido, que pode ser viscoso dependendo de sua constituição. Pode ser constituido por colágeno e outras proteinas, responsáveis por sua viscosidade. É um espécime que pode ser coletado em investigações médicolegais na rotina durante as necropsias. O uso desse espécime com a finalidade de dosar dois eletrólitos, glicose e compostos de azoto, é bem elucidado (SUNSHINE 1990). Além disso, alguns autores utilizam essa amostra na rotina

a testes de etanol (LEVINE 2002).

O humor vítreo

recebeu recentemente interesse como matriz para a detecção de drogas de abuso e relatos foram publicados descrevendo estudos da detecção de opiáceos, anfetaminas e cocaína e metabolitos (ZHU et al. 2002; ZHU et al. 2002; ZHU et al. 2005; ZHU et al. 2005; Li et al. 2006).

Vantagens apresentadas pelo humor vítreo em relação a outras amostras biológicas Para escolha da amostra biológica mais adequada para utilização nas análises deve ser examinado tanto o estado do corpo, como também o tempo entre a morte e a autópsia. Deve-se ressaltar que as condições ambientais (temperatura e umidade), e a natureza do espécime coletado para análise, são fatores importantes a considerar. Em alguns casos a atividade microbiana intensa e a fermentação da glicose que acontecem post-mortem podem ser responsáveis por uma produção de álcool (KUGELBERG e JONES 2007). Além disso, pode ocorrer SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

13


Revisão uma difusão do álcool contido no estômago para os locais aonde serão realizadas coletas. Outro fator importante é o tempo entre a ingestão do álcool e a morte (COOK et al. 2000 apud KUGELBERG e JONES 2007). Por essa razão, algumas amostras biológicas como o sangue são insuficientes para concluir um laudo medico legal.

Portanto, a utilização do humor vítreo para dosagem de algumas substâncias tem grande valor (DRUMMER 2004). Importância das amostras biológicas para medicina legal Dentre as principais funções consideradas essenciais da medicina legal se incluem as investigações forenses, que envolvem em sua maioria a causa de morte. Para determinar a causa da morte é necessário que seja feita uma interpretacão dos exames laboratorias usando um amplo espectro de marcadores

que

envolvem

a

morfologia,

toxicologia,

microbiologia,

bioquímica e biologia molecular. Alem disso, a bioquímica realizada no postSANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

14


Revisão mortem tornou-se um procedimento auxiliar importante na determinação da causa e hora da morte (COE 1993; ZHU et al. 2002; ZHU et al. 2002, ZHU et al. 2005, ZHU et al. 2005; LI et al. 2006, ZHU et al. 2006; ZHU et al. 2006; ZHU et al. 2007; ZHU et al. 2007). A possível utilidade da investigação de biologia molecular tem sido também descrita (ISHIDA et al. 2002; ZHAO et al. 2006; ZHAO et al. 2006; ZHU et al. 2008). CONCLUSÃO Existe um desafio grande para os toxicologistas relacionado as amostras post-mortem. Dentre as principais variáveis está a seleção de amostras que sejam apropriadas para englobar análises de variadas drogas. Para isso é imprescindível que se saiba qual substância será pesquisada e a partir disso adequar a espécime que será utilizada. A partir desta revisão, foi possível determinar o humor vítreo como espécime biológica que, apesar de ainda não ter sua utilização consolidada, é uma das amostras que apresenta um maior número de vantagens, podendo ser utilizada mesmo com a degradação do organismo vivo. Sugere-se, portanto, que estudos posteriores venham a padronizar e/ou validar metodologias com este espécime. REFERÊNCIAS BOST, R.O. Analytical toxicology of vitreous humor. In: Wong SHY, Sunshine I, editors. Handbook of analytical therapeutic drug monitoring and toxicology. Boca Raton, FL: CRC Press, 1997. COE, J.I. Postmortem chemistry update, emphasis on forensic application. Am J Forensic Med. Pathol., v. 14, p. 91–117, 1993. COOK, D.S.; BRAITHWAITE, R.A.; HALE, K.A. Estimating antemortem drug concentrations from postmortem blood samples: the influence of postmortem Redistribution, J. Clin. Pathol, v. 53, p. 282–285, 2000. SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

15


Revisão DRUMMER, O.H. Postmortem toxicology of drugs of abuse, Forensic. Sci. Int., vol. 142, p.101-113, 2004. GARCÍA-RODRÍGUEZ, S.; GÍMENEZ, M.P. Recursos humanos en un laboratorio de toxicología forense. Rev. Toxicol., v. 22, p. 1-11, 2005. ISHIDA K, ZHU B-L, MAEDA H. A quantitative RT-PCR assay of surfactant-associated protein A1 and A2 mRNA transcripts as a diagnostic tool for acute asphyxia death. Leg. Med., v. 4, p. 7–12, 2002. KUGELBERG, F.C.; JONES, A.W. Interpreting results of ethanol analysis in postmortem specimens: A review of the literature. Forensic. Sci. Int., v. 165, p. 10-29, 2007. LEVINE, B. Alcohol. In: Principles of forensic toxicology. Washington, DC: AACC Press, 2002. LI, D-R.; ZHU B-L.; ISHIKAWA, T.; ZHAO, D.; MICHIUE, T.; MAEDA, H. Postmortem serum protein S100B levels with regard to the cause of death involving brain damage in medico legal autopsy cases. Leg. Med., v. 8, p. 71–77, 2006. MORIYA, F.; HASHIMOTO, Y. Postmortem stability of cocaine and coca ethylene in blood and tissues of humans and rabbits, J. Forensic. Sci., v. 41, p. 612–616, 1996. ROBERTSON, M.D.; DRUMMER, O.H. Postmortem drug metabolism by bacteria, J. Forensic. Sci., v. 40 p. 382–386, 1995. Society of forensic toxicologists. What is Forensic Toxicology? Available at: http://www.softtox.org/images/stories/otherfiles/what is forensic toxicology. Pdf. Acesso em 01/11/2013. SUNSHINE, I. Forensic postmortem toxicology. In: Froede RC, editor. Handbook of forensic pathology. Northfield, IL: College of American Pathologists, 1990. ZHAO, D.; ZHU, B-L.; ISHIKAWA, T.; QUAN, L.; LI, D-R.; MAEDA, H. Real-time RT-PCR quantitative assays and postmortem degradation profiles of erythropoietin, vascular endothelial growth factor and hypoxia-inducible factor 1 alpha mRNA transcripts in forensic autopsy materials. Leg. Med., v. 8, p. 132–136, 2006. SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

16


Revisão ZHAO, D.; ZHU, B-L.; ISHIKAWA, T.; LI, D-R.; MICHIUE, T.; MAEDA, H. Quantitative RT-PCR assays of hypoxia-inducible factor 1a, erythropoietin and vascular endothelial growth factor mRNA transcripts in the kidneys with regard to the cause of death in medico legal autopsy. Leg. Med., v. 8, p. 258–263, 2006. ZHU, B-L.; ISHIDA, K.; QUAN, L.; LI, D.R.; TANIGUCHI, M.; FUJITA, M.Q.; et al. Pulmonary immunohistochemistry and serum levels of a surfactant-associated protein A in fatal drowning. Leg. Med., v. 4, p. 1–6, 2002. ZHU B-L, ISHIDA K, QUAN L, TANIGUCHI M, ORITANI S, LI D-R, et al. Postmortem serum uric acid and creatinine levels in relation to the causes of death. Forensic Sci. Int., v. 125, p. 59–66, 2002. ZHU, B-L.; ISHIKAWA.; T, MICHIUE, T.; QUAN, L.; MAEDA, H. Postmortem serum endotoxin level in relation to the causes of death. Leg Med., v. 7, p. 103–109, 2005. ZHU, B-L., ISHIKAWA T.; MICHIUE, T.; LI, D-R.; ZHAO, D.; QUAN, L.; et al. Evaluation of postmortem urea nitrogen, creatinine and uric acid levels in pericardial fluid in forensic autopsy. Leg. Med., v. 7, p. 287– 292, 2005. ZHU, B-L.; ISHIKAWA, T.; MICHIUE, T.; LI, D-R.; ZHAO, D.; ORITANI, S.; et al. Postmortem cardiac troponin T levels in the blood and pericardial fluid. Part 1: Analysis with special regard to traumatic causes of death. Leg. Med., v. 8, p. 86–93, 2006. ZHU, B-L.; ISHIKAWA, T.; MICHIUE, T., LI, D-R.; ZHAO, D.; KAMIKODAI, Y. et al. Postmortem cardiac troponin T levels in the blood and pericardial fluid. Part 2: Analysis for application in the diagnosis of sudden cardiac death with regard to pathology. Leg. Med., v. 8, p. 94–101, 2006. ZHU, B-L.; ISHIKAWA, T.; MICHIUE, T.; LI, D.R.; ZHAO, D.; QUAN, L.; et al. Postmortem serum catecholamine levels in relation to the cause of death. Forensic Sci. Int., v. 173, p. 122–129, 2007. ZHU, B-L.; ISHIKAWA, T.; MICHIUE, T.; LI, D.R.; ZHAO, D.; TANAKA, S.; et al. Postmortem pericardial natriuretic peptides as markers of cardiac function in medico-legal autopsies. Int. J. Legal Med., v. 121, p. 28–35, 2007 SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

17


Revisão ZHU, B-L.; TANAKA, S.; ISHIKAWA, T.; ZHAO, D.; LI, D.R.; MICHIUE, T.; et al. Forensic pathological investigation of myocardial hypoxia-inducible factor-1 alpha, erythropoietin and vascular endothelial growth factor in cardiac death. Leg. Med., v. 10, p. 11–19, 2008.

SANTIAGO, Vívian Romero; VASCONCELOS, Auriana Serra; OLIVEIRA, Natália Ferreira de; CÂNDIDO, Manuela Chaves Loureiro; SANTOS, Bruna Estefânia Carvalho dos; NETO, José Nilson Ferreira Gomes. Humo Vítreo: Uma amostra biológica de interesse forense. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 08-18, fev. 2015.

18


Revisão Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais Paulo Henrique da Silva Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.

Ykaro Richard Oliveira Licenciado em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.

Ana Patrícia de Jesus Silva Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí - Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.

Victor de Jesus Silva Meireles Doutorando em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais – UEM/UFPI. Professor Assistente I, Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí- Campus Senador Helvídio Nunes de Barros.

Maria Carolina de Abreu Doutora em Botânica, Professora Adjunto II, Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí- Campus Senador Helvídio Nunes de Barros. E-mail: mariacarolinabreu@hotmail.com

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

19


Revisão RESUMO O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica acerca das plantas tóxicas ornamentais, uma vez que, muitos vegetais, alguns de beleza singular, representam grandes riscos a nossa integridade vital, seja pelo simples contato com a pele, ingestão, seja pela inalação, em virtude da presença de princípios tóxicos. Comumente, tais plantas são cultivadas dentro dos nossos domicílios, sem o devido conhecimento acerca da sua toxicidade, o que acaba favorecendo a ocorrência de intoxicações. Embora o interesse e o conhecimento acerca da toxicidade de plantas datem de tempos remotos, ainda nos dias de hoje, inúmeros acidentes toxicológicos acontecem em decorrência da falta de conhecimento da população em geral quanto aos vegetais tóxicos, onde, na maioria dos casos ocorre com crianças menores de nove anos de idade, na maior parte, acidentalmente. Assim, torna-se imprescindível conhecer os vegetais perigosos da região, da residência e do quintal, conhecendo-os pelo aspecto e pelo nome, bem como acerca dos seus princípios ativos. O estudo teve por objetivo o levantamento de dados e informações sobre o tema abordado, desde conceitos até aspectos tóxicos e preventivos acerca das plantas tóxicas, com a caracterização de algumas plantas ornamentais de interesse toxicológico. Os materiais foram coletados por meio de ferramentas virtuais de pesquisa, além de livros-textos e outros documentos de referência na área, abrangendo um recorte temporal de 1977 a 2013. Assim, medidas e trabalhos educativos junto à população acerca das plantas tóxicas, sobretudo crianças, torna-se de grande necessidade, posto que, esta ainda é a melhor maneira de prevenir acontecimentos indesejáveis.

Palavras chaves: Intoxicação por vegetais, princípios tóxicos, medidas preventivas.

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

20


Revisão ABSTRACT This study deals with a literature review about the ornamental toxic plants, since many vegetables, some of singular beauty, pose great risks to our vital integrity, either by skin contact, ingestion or by inhalation, in due to the presence of toxic principles. These plants are grown within our homes, without proper knowledge about their toxicity, which ends up favoring the occurrence of poisoning. Although interest and knowledge on the toxicity of plants date from ancient times, even today, many toxicological accidents happens due to the lack of public knowledge in general about toxic plants, where, in most cases occurs with children less than nine years old, mostly accidentally. Thus, it is essential to know the dangerous plants in the region, in the house and the yard, getting to know them by aspects, by name and about their active principles. The study aimed to data collection and information about the topic, from concepts until toxic and preventive aspects about toxic plants, with the characterization of some ornamental plants of toxicological interest. The materials were collected through virtual research tools in addition to textbooks and others reference documents in the area, covering a time frame among 1977 to 2013. Thus, measures and educational works with the population about toxic plants, especially children, are of great need, since this is still the best way to prevent undesirable events. Keywords: Preventive measures, poisoning with plants, toxic principles.

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

21


Revisão INTRODUÇÃO A cada ano, são registrados vários casos de intoxicações por plantas tóxicas ornamentais, que envolvem principalmente crianças e pequenos animais de estimação. Os Centros de Informações Toxicológicas no Brasil anunciam um expressivo número de intoxicações e de óbito de crianças que ingeriram de forma acidental plantas ornamentais tóxicas (DIP et al., 2004). Muitas plantas, algumas de incrível beleza, são potencialmente perigosas a nossa saúde, tanto caso sejam ingeridas quanto pelo simples contato com a pele, mucosas ou os olhos, em decorrência da presença de toxinas. E não é raro tais plantas serem cultivadas dentro das residências, como plantas ornamentais (SOARES et al., 2007) Vasconcelos et al. (2009) expõem que as plantas tóxicas podem ser encontradas em todos os lugares, seja como ornamentais dentro das residências ou nos jardins e praças. Além disso, é bastante comum a ocorrência de plantas tóxicas nas áreas rurais, as quais não são conhecidas pelas populações locais, o que acaba favorecendo o acontecimento de intoxicações. Oliveira e Akisue (1997) destacam que toda planta é potencialmente tóxica e, conforme Rodrigues e Copatti (2009), as plantas tóxicas apresentam substâncias que, por suas propriedades naturais, físicas ou químicas, modificam o conjunto funcional-orgânico em vista de sua incompatibilidade vital, levando o organismo vivo a diversas reações biológicas. A carência de conhecimentos a respeito da toxicidade de espécies utilizadas habitualmente pode conduzir a sérias consequências, já que as plantas tóxicas possuem algum tipo de efeito lesivo ou substâncias prejudiciais (SILVA et al., 2010). E, para um reconhecimento preciso dos problemas com plantas tóxicas é imprescindível ter familiaridade com as SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

22


Revisão plantas da região, compreendendo as de jardins e ornamentais presentes no interior dos lares, e do conhecimento das variações sazonais na concentração de substâncias tóxicas (OSWEILER, 1998). Deste

modo,

em

decorrência

do

perigo

que

muitas

plantas

ornamentais representam diante dos seus princípios tóxicos, bem como pela proximidade em que as pessoas e/ou animais tem com estas plantas, haja vista o amplo uso e/ou cultivo destas para finalidades estéticas dos ambientes, este estudo tem por objetivo a realização de uma abordagem de caráter bibliográfico acerca das plantas tóxicas ornamentais, abrangendo desde a esfera conceitual, tóxica até meios profiláticos acerca destas plantas, com a caracterização tóxica de alguns vegetais que são amplamente utilizados pelo seu caráter ornamental, para assim alertar à população em geral sobre o perigo que se abriga por trás da beleza de muitas plantas.

MÉTODOLOGIA O referido estudo foi conduzido através de uma pesquisa bibliográfica, considerando a relevância do tema abordado. E, para que a mesmo fosse desenvolvido de forma completa, elucidativa e confiável, os dados e informações pesquisados foram obtidos por meio do SciELO (Scientific Eletronic Library Online), PubMed, BDTD (Banco Digital Brasileiro de Teses e Dissertações) e Google Acadêmico, selecionando-se estudos em português e em inglês, além de livros-textos e outros documentos de referência na área, abrangendo um recorte temporal de 1977 a 2013. Os termos chaves empregados para a busca foram: plantas tóxicas, plantas venenosas, plantas ornamentais, plantas ornamentais tóxicas, toxicidade de plantas, intoxicação por plantas, princípios ativos de vegetais, princípios tóxicos das plantas, plantas ornamentais de importância toxicológica, plantas tóxicas do Brasil, Allamanda cathartica, Dieffenbachia picta, Dieffenbachia ssp., Zantedeschia aethiopica, Datura suaveolens, SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

23


Revisão Euphorbia milii, Euphorbia tirucalli, Caladium bicolor, Nerium oleander, Thevetia peruviana, prevenção contra intoxicação com plantas, medidas preventivas.

DESENVOLVIMENTO Considerações gerais acerca das plantas tóxicas e ornamentais Consoante Schvartsman (1992), o interesse e o conhecimento sobre a toxicidade das plantas datam de tempos remotos e, sua relevância é compreendida

ora

como

instrumento

de

caça,

através

de

flechas

envenenadas, ora como um meio adverso intencional de envenenamento para finalidades políticas, militares e pessoais como os sucedidos na Idade Média. Deste modo, o interesse mais eminente sobre as plantas tóxicas está atrelado com o potencial de causar intoxicações em seres humanos ou em animais (SCHENKEL et al., 2002). Andrade Filho et al. (2013) enfatizam que as plantas consideradas tóxicas são aquelas cujas pela inalação, ingestão e/ou contato tem a capacidade de causarem efeitos lesivos ou distúrbios em organismos humanos e de animais. Diante da sua complexidade, os vegetais apresentam um metabolismo extraordinário, que leva a síntese de um grande número de substâncias químicas, dentre elas, substâncias que podem ser tóxicas e irritantes para determinados

organismos.

Entretanto,

a

simples

presença

dessas

substâncias em uma determinada planta não é suficiente para qualificá-la como tóxica (OLIVEIRA et al., 2003). De acordo com Souza et al. (2010), é essencial o conhecimento acerca dos componentes químicos das plantas para a elucidação dos inúmeros aspectos relacionados aos casos de intoxicação, bem como para a identificação de potenciais substâncias químicas de ação tóxica. SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

24


Revisão Saliente-se que vários conceitos equivocados vêm sendo propagados sobre as plantas tóxicas. Um deles faz referência à alegada existência de instinto nos animais, o que os protegeria da ingestão de plantas tóxicas. Porém, o consumo de vegetais pelos animais é condicionado pela satisfação que o animal tem ao ingerir o alimento. Também está bem difundido o conceito de que a toxicidade dos vegetais estaria relacionada à presença de lactescência, o que não é verdadeiro, uma vez que a maioria das plantas tóxicas não possuem esta característica, além do que, nem toda as plantas lactescentes são tóxicas. Além disto, muitos consideram que certas plantas sejam capazes de causar intoxicação com poucas folhas e que os efeitos surjam imediatamente. Todavia, nenhuma das plantas conhecidas é tão tóxica a ponto de a morte sobrevir poucos minutos após a ingestão de poucas folhas (TOKARNIA et al., 2000). Plantas ornamentais são aquelas cultivadas por seu caráter de beleza – se bem que o conceito sobre tais plantas é bastante relativo e particular ao observador, uma vez que se relaciona a sentimentos estéticos particulares – sendo bastante utilizadas na arquitetura de interiores e no paisagismo de ambientes externos (BARROSO et al., 2007). Assim, muitas destas plantas apresentam potenciais tóxicos e quando seu princípio ativo entra em contato com o organismo humano ou animal, ocasionam agravos que se refletem na saúde e na vitalidade destes seres (HARAGUCHI, 2003). Nos dias de hoje, as plantas ornamentais estão cada vez mais ocupando espaços livres em jardins, praças, interiores de residências e de ambientes de trabalho, haja vista que muitas delas se adaptam a condições ambientais diferentes. Deste modo, são facilmente acessíveis a crianças e adultos, podendo constituir meios de intoxicações. A grande parte das espécies vegetais tóxicas são comuns e cultivadas em jardins como ornamentais, porém, existem poucas informações disponíveis e agrupadas de maneira que atinja a toda a população (LOPES et al., 2009). SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

25


Revisão Convém colocar em relevo que muitos populares e, sobretudo, profissionais que manejam plantas ornamentais, na grande parte das vezes, não possuem informações a respeito da composição química de tais plantas e acabam utilizando-as como adorno, apenas por sua bela capacidade ornamental e facilidade de manejo, não levando em conta os aspectos prejudiciais que alguns vegetais podem ocasionar quando são manipulados incorretamente. (OLIVEIRA et al., 2003) Intoxicação por plantas Conceituando intoxicação, Lomba (2007) caracteriza como sendo a introdução voluntária ou involuntária de substância danosa ao organismo, capaz de produzir consequências de alterações significativas das funções vitais e que pode advir por inalação, ingestão e por contato direto com o tegumento. Segundo Lima et al., (1995), o processo de intoxicação vegetal pode ser: fulminante, quando leva a morte do indivíduo; aguda, quando o organismo apresenta defesa orgânica e crônica quando o indivíduo apresenta equilíbrio funcional orgânico que bloqueia a atividade tóxica. Destaque-se que quanto à diversidade de ação tóxica em espécies diferentes, há certa relação entre o desenvolvimento cerebral dos animais e a sua susceptibilidade para as substâncias tóxicas distintas. Aquelas que agem sobre os centros nervosos são bem mais lesivas para o homem do que para outros animais, ainda que diferenças digestivas também desempenhem efeitos relacionados com a ação de uma mesma substância tóxica sobre diversas espécies (LIMA et al, 1995). Para que ocorra a intoxicação, seja por ingestão de uma dose tóxica, seja pelo contato por meio da pele, os mecanismos próprios de defesa da cada organismo devem ser vencidos. Assim sendo, uma espécie vegetal pode ser

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

26


Revisão potencialmente tóxica e, apesar disso, não causar a intoxicação, gerando neste caso, a ideia equivocada de falta de toxicidade (SIMÕES et al., 1999). Ademais, o nível de toxicidade de uma planta vai depender de alguns fatores, tais como, a saber: parte da planta ingerida, posto que diferentes regiões de uma planta possuem diferentes substâncias químicas e/ou distintas concentrações da mesma; a idade da planta e a situação de amadurecimento do fruto; a taxa de sensibilização do indivíduo aos compostos da espécie vegetal ingerida, bem como a quantidade ingerida e a forma da ingestão (OLIVEIRA; AKISUE, 1997). Lima et al. (1995) defendem que a relação entre a parte tóxica e ação de toxidez pode estar ligada aos processos endógenos na planta como a síntese de hormônios, a influência do ambiente onde a temperatura e a umidade produzem o aumento ou a diminuição na quantidade dos princípios tóxicos na planta ou produtos do metabolismo secundário como fator de proteção contra herbivoria, predação ou patógenos. Nos dias atuais, os saberes sobre plantas tóxicas não alcançam a população nem mesmo os especialistas do campo de saúde o suficiente de maneira a evitar acidentes causados pelas intoxicações por plantas ornamentais, o que proporciona um risco ainda maior na ingestão de certos tipos de plantas, caso não tenha um atendimento rápido e eficiente. (OLIVEIRA et al., 2003). Pinillos et al. (2003) também comentam que a desinformação dos indivíduos junto a sua cultura e a quantidade ingerida pelo paciente, são alguns dos fatores que dificultam num diagnóstico, assim como o seu tratamento. Ainda segundo este autor, as intoxicações por plantas são comuns tanto pelo consumo de espécies tóxicas por erro de identificação, como pela quantidade ingerida em excesso, sem contar no consumo negligente das crianças quando ingerem, durante as brincadeiras, partes de plantas coloridas e atrativas. SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

27


Revisão Silva e Takemura (2006) discorrem que também é muito comum atendimentos de urgência sem a associação dos sinais e sintomas com o produto ingerido, o que dificulta o diagnóstico etiológico. Várias plantas ornamentais são tóxicas e podem oferecer risco à população e, comumente, as principais vítimas destas plantas são animais e crianças, haja vista não reconhecerem o perigo que estes vegetais proporcionam. Aqui no Brasil, a cada dez casos de intoxicação por plantas, seis acontecem em crianças menores de nove anos de idade, devido à presença de plantas tóxicas em espaços públicos, inclusive nas escolas. Também são frequentes as intoxicações entre os adultos, sendo sobretudo causadas, pelo uso

impróprio

de

plantas

medicinais,

alucinógenas

e

abortivas

(VASCONCELOS et al. 2009). Semelhantemente, dados do Fiocruz através do sítio eletrônico do Sistema

Nacional

de

Informação

Tóxico-Farmacológicas

(SINITOX) mostram que 60% dos casos de intoxicação por plantas tóxicas no Brasil ocorrem com crianças menores de nove anos, dos quais 80% deles são acidentais. O envenenamento causado por plantas tóxicas ornamentais também é um

problema

encontrado

na

Medicina

Veterinária,

comprometendo

pequenos e grandes animais, incidindo em todas as épocas do ano e em todo o território nacional (MELO, 2000). A intoxicação por plantas ornamentais, no caso de pequenos animais, ocorre geralmente por curiosidade, tédio, idade do animal e alteração e/ou mudança de ambiente (ANDRADE et al., 2001). Convém também citar que, na pecuária, a ingestão de plantas tóxicas representa uma expressiva causa de prejuízos econômicos posto que influenciam diretamente na produção animal (BARBOSA et al., 2007).

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

28


Revisão Portanto, as intoxicações estão presentes no dia-a-dia de cada indivíduo, e por causa disso, numerosos acidentes domésticos toxicológicos acontecem em virtude da deficiência de conhecimento da população, especialmente ao se analisar os hábitos e os costumes dos moradores. A intoxicação pode ser marcada como uma manifestação por meio de sinais e sintomas, que acontecem no organismo vivo, posteriormente a exposição a um certo tipo de produto ou substância, induzindo ao surgimento de modificações bioquímicas, funcionais e/ou sinais clínicos que são compatíveis com o quadro de intoxicação (PINILLOS et al., 2003). Princípios ativos As plantas são organismos complexos e, para tanto, seus processos levam à síntese de uma variabilidade de substâncias químicas, substâncias estas como por exemplo, proteínas, lipídios, carboidratos e ácidos nucléicos, originárias do metabolismo primário, as quais são comuns a todos os seres vivos, sendo utilizadas no crescimento, na reprodução e na manutenção do vegetal (SILVA, 2009). Contudo, um conjunto de compostos químicos produzidos pelas plantas se direcionam a outros propósitos: os pigmentos (flavonóides, antocianinas

e

betalaínas)

e

os

óleos

essenciais

(monoterpenos,

sesquiterpenos e fenilpropanóides) atraem polinizadores, enquanto algumas outras substâncias como os taninos, as lactonas sesquiterpênicas, os alcalóides e os iridóides, além de possuírem sabores desagradáveis, podem ser tóxicas e irritantes para outros organismos. Tais substâncias, oriundas de rotas biosintética diversas, são produtos do metabolismo secundário (VICKERY; VICKERY, 1981). Ocorrem, em todas as partes do planeta, plantas que contêm venenos ou princípios tóxicos, os quais apresentam a capacidade de perturbar ou destruir as funções vitais essenciais de organismos animais e do próprio homem. A ação desses venenos ou princípios tóxicos pode variar muito. Pode SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

29


Revisão ser através da ingestão de suas partes, pelo mero contato ou ingestão das substâncias que de certa maneira comprometeram a água, por exemplo (BARSA, 1994). Em consonância com Franco (1996) e Korbes (1995), a concentração de princípios ativos alcança os maiores valores no período de floração, em decorrência, possivelmente, ao elevado acúmulo de massa seca na planta. Conforme

destaca

Cheeke

(1998),

as

classes

químicas

mais

importantes de compostos tóxicos presentes nos vegetais são os alcaloides, glicosídeos, lecitinas e ácidos orgânicos. Existe também os minerais absorvidos do solo e acumulados na planta, como o selênio, bário, nitratos e oxalatos. Deste modo, a ação de toxicidade de um vegetal se deve a presença de componentes químicos, ou princípios ativos tóxicos. Dentre os principais metabólitos que causam intoxicações estão: as toxalbuminas (ricina e curcina), provenientes do metabolismo primário das plantas; alcaloides, terpenos e compostos fenólicos diversos, do metabolismo secundário. Deve-se ainda mais uma vez frisar, que a intoxicação vai depender da quantidade de substância tóxica absorvida, da natureza dessa substância e do meio de introdução (HARAGUCHI, 2003). Andrade Filho et al. (2001) também afirmam que variadas espécies de vegetais sintetizam substâncias que têm a capacidade de desempenhar ação extremamente tóxica em um organismo vivo. Exemplos dessas substâncias são

os

alcalóides

beladonados,

alcalóides

cumarínicos,

alcalóides

pirrolizidínicos, glicosídeos cianogênicos (HCN), glicosídeos cardiotóxicos, oxalato de cálcio, proteínas tóxicas (toxicoalbuminas), resinas (alcoóis, ácidos e fenóis), saponinas, dentre outros.

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

30


Revisão Algumas plantas ornamentais de importância toxicológica Allamanda cathartica L. (Apocynaceae) Allamanda cathartica conhecida como alamanda, alamanda-amarela, carolina ou dedal-de-dama (LORENZI; SOUZA, 1999), é uma planta arbustiva ornamental, latescente e avaliada tóxica. Sua ingestão ocasiona distúrbios gastrointestinais em humanos (OLIVEIRA et. al., 2003). Espécies de Allamanda são conhecidas pela síntese de princípios ativos, dentre os quais se destacam os iridóides (ANDERSON et al., 1988). Lorenzi e Matos (2002) acrescem que espécies do gênero Allamanda apresentam

metabólitos

secundários

com

expressiva

atividade

farmacológica, como: os irinóides, flavonóides, cumarinas e terpenoides. As flores de Allamanda cathartica possuem flavonóides como metabólitos secundários principais. Toda a planta é considerada tóxica, sobretudo o látex, o qual pode acarretar distúrbios gastrointestinais severos, tais como náuseas, vômitos, cólicas e diarréia (LORENZI; MATOS, 2002; SCHENKEL et al., 2003a). Além disso, alterações hidroeletrolíticas são complicações frequentes (SCHVARTSMAN, 1992). Em bovinos, a planta causa cólica, edema do rúmen e congestão da mucosa do trato digestivo (LORENZI; MATOS, 2002). Em casos de intoxicação com esta planta, pode ser feita lavagem gástrica, todavia deve-se ter cautela ao realizar esse processo, em decorrência

das

propriedades

cáusticas

desse

vegetal.

É

também

recomendado o tratamento sintomático das alterações gastrointestinais e dos possíveis distúrbios eletrolíticos (SCHVARTSMAN, 1992).

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

31


Revisão Dieffenbachia picta Schott (Araceae) Conhecida como comigo-ninguém-pode, também é popular no Brasil como aningá-do-pará (FERREIRA et al., 2006), bananeira-d’água (Ceará), cana-de-imbé dentre outras denominações regionais (BARG, 2004). Sua ação tóxica é conhecida há muito tempo. Documentos do julgamento do Tribunal de Nurenberg indicam que os nazistas usavam o extrato aquoso da planta em indivíduos presos nos campos de concentração, com a finalidade de esterilizá-los, e, que os escravos jamaicanos eram castigados pelos "senhores", tendo partes da planta esfregadas em suas bocas (GARDNER, 1994). A Dieffenbachia spp. tem sido caracterizada como uma das plantas que mais ocasionam intoxicações, consoante dados dos Centros de Informações e Controle de Intoxicações (SILVA; USHIROBIRA, 2010). A Dieffenbachia ssp. apresenta numerosas ráfides de oxalato de cálcio em formato de agulhas nas suas folhas e haste, as quais são as principais responsáveis pelos ferimentos causados por essa planta. A ingestão por via oral de alguma parte da Dieffenbachia ssp. pode acarretar dor imediata, edema da língua, salivação, úlcera, vômitos, diarréia, e disfagia. Além disto, a toxicidade ocular causa severa dor, inchaço, fotofobia, blefarospasmo, lacrimejamento, lesão da córnea e conjuntivites (CUMPSTON et al., 2003). Existem controvérsias a respeito da intoxicação trazida por D. picta. Certos autores avaliam que ocorre apenas irritação mecânica pela ação das ráfides, e outros que acontece irritação mecânica seguida da penetração de componentes químicos contidos nas fendas e farpas das ráfides, os quais são capazes de provocar inflamações (SAKAI et al., 1972).

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

32


Revisão Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng. (Araceae) Conhecida como arum, calla lily, lírio-do-nilo ou copo-de-leite, tal espécie é uma monocotiledônea ornamental que pertence à família Araceae e nativa do continente africano. (KRITZINGER et al., 1998). Esta espécie, assim como outras da família Araceae, tem como característica anatômica marcante a presença de um amplo número de idioblastos contendo cristais de oxalato de cálcio, em formato de agulhas, nomeadas de ráfides. Esses idioblastos encontram-se me todas as partes do vegetal e são ejetores. Ademais, nos tecidos vegetais encontram-se também quantidades apreciáveis de ácido oxálico e seus sais solúveis, onde de acordo com alguns autores, podem gerar um quadro de intoxicação por oxalato (SCHENKEL et al., 2003a). No que tange aos aspectos sintomatológicos, Barg (2004) explicita que a seiva ocasiona inflamações na garganta e boca; a planta provoca irritação das mucosas, edema de lábio, língua e palato; cólicas abdominais, náuseas e vômitos; além disso, o contato com os olhos origina edema, fotofobia e lacrimejamento. Datura suaveolens Humb. & Bonpl. ex Willd. (Solanaceae) Nativa da América do Sul e hoje em dia conhecida apenas como planta cultivada, a D. suaveolens vem acompanhando o ser humano durante os vários estágios da civilização. Dentre os indígenas americanos é, possivelmente, a espécie que há mais tempo tem sido usada por causa de suas propriedades psicotrópicas (SCHENKEL et al., 2003b). Matos (2012) relata alguns nomes populares os quais tal espécie pode ser reconhecida, dependendo da regionalidade, como: trombeta, trombeta-deanjo, trombeteira, cartucheira, zabumba, saia-branca, além disto, aponta que todas as partes da planta são tóxicas apresentando como princípios ativos, os alcaloides beladonados (atropina, escopolamina e hioscina). SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

33


Revisão Concernente à sintomatologia, de acordo com o sítio eletrônico do SINITOX, a ingestão pode provocar boca seca, pele seca, taquicardia, dilatação das pupilas, rubor da face, estado de agitação, alucinação, hipertermia e, nos casos mais graves pode levar a óbito. Euphorbia milii Des Moul. (Euphorbiaceae) Originária da Ilha de Madagascar, a coroa-de-cristo é uma arbusto perene, muito ramificado, com látex, com ramos angulosos, armados de numerosos espinhos de até 2,5 cm de comprimento. Das partes aéreas do vegetal foram isolados princípios tóxicos, os diterpenos denominados miliaminas, responsáveis pela ação irritante (UEMURA; HIRATA, 2001). Conforme o site do SINITOX, o látex provoca lesão na pele e mucosas, edema de lábios, boca e língua, dor em queimação e coceira; o contato com os olhos gera irritação, lacrimejamento, edema das pálpebras e dificuldade de visão e, caso ingerido pode provocar náuseas, vômitos e diarreia. Euphorbia tirucalli L. (Euphorbiaceae) Oriunda da África e trazida para o Brasil com fins ornamentais, ficou aqui popularmente conhecida como graveto-do-cão, árvore lápis ou mais comumente como aveloz (FURSTENBERGER; HECKER, 1985), sendo também muito cultivada para a formação de cercas vivas de maneira a separar as lavouras agrícolas ou propriedades, principalmente na região Nordeste do Brasil (LORENZI; MATOS, 2002). O látex desta planta é considerado tóxico, principalmente se em contato com a pele e mucosas, desempenhando sobre estas uma ação irritante e cáustica (MATOS, 2000). Caso aconteça contato com os olhos pode determinar o desenvolvimento de conjuntivites, queratites e uveítes ou até mesmo levar à cegueira. Exposto a pele ou mucosa, dependendo da intensidade da exposição, gera inflamação sobre a pele, gerando reações SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

34


Revisão como vermelhidão, inchaço, dor e necrose dos tecidos (BESSA, 2010). Também já foram documentados acidentes toxicológicos marcados por distúrbios gastrintestinais como, náuseas, vômito e diarreia (MATOS, 2000). No entanto, é importante ressaltar que todas as partes desta planta são consideradas tóxicas (MATOS, 2000) e, Silva e Santos (2002) realçam que os constituintes fitoquímicos majoritários desta espécie são os compostos terpênicos. Caladium bicolor (Aiton) Vent. (Araceae) Conhecida como tinhorão ou tajá, taiá, caládio (MATOS, 2012), as espécies do gênero Caladium são nativas da América do Sul e encontradas nas regiões neotropicais do sul da América Central, norte da Argentina e Brasil (HORSFALL et al., 2006). Para Albuquerque (1980), a toxicidade desta espécie é procedente da grande quantidade de oxalato de cálcio presente em toda a planta, que em contato com a pele leva a sintomas como dermatite, provocado pela ação dos cristais de oxalato de cálcio encontrado nas células vegetais. Por outro lado, conforme HORSFALL et al., (2006), a literatura descreve sua utilização como bioadsorvente de metais pesados como chumbo e cádmio de águas residuais. No que concerne aos sintomas, Barg (2004) elucida que a seiva provoca inflamação da garganta e da boca; a planta causa irritação das mucosas, edema de lábios, língua e palato; sialorréia, cólicas abdominais, náuseas e vômitos; caso haja o contato com a região ocular, gera edema, fotofobia e lacrimejamento. Nerium oleander L. (Apocynaceae)

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

35


Revisão De acordo com Oliveira et al. (2003), tal espécie, conhecida popularmente como espirradeira, é muito apreciada como ornamento, contudo, em alguns países da África são usualmente utilizadas em suicídio. Simões et al. (2002) consideram a espirradeira de grande relevância toxicológica em virtude da presença de metabólitos secundários (glicosídeos cardioativos), sendo que, por esta razão, todas as suas partes são consideradas tóxicas e, quando ingeridas provocam náuseas, vômitos, diarreia, sintomas neurológicos como desorientação e dor de cabeça e ainda arritmia cardíaca. Thevetia peruviana K. Schum. (Apocynaceae) A Thevetia peruviana K. Schum é popularmente conhecida como chapéu-de-napoleão, sendo originária da América Central, porém é bem distribuída em todas as regiões tropicais haja vista o seu aspecto ornamental (SCHVARTSMAN, 1979). Ainda conforme autor supracitado, a similaridade entre as sementes da T. peruviana e castanhas comestíveis e o fácil acesso à planta, atraem e levam a ingestão destas sementes pela população, principalmente as crianças, tornando-a uma determinante potencial de surtos de intoxicação. Ainda que as seivas, frutos, folhas e sementes sejam considerados tóxicos, a grande parcela dos casos de toxicidade ocorridos e relatados estão relacionados com a frequência de ingestão dos frutos. É válido destacar que o látex possui intensa ação emética e purgativa, além de ser altamente cáustico. Simões et al. (2002) reportam que o látex era popularmente, usado como veneno em flechas. Barg (2004) ratifica que os princípios ativos responsáveis pela toxicidade desta planta são os glicosídeos cardioativos ou cardiotônicos, denominados de glicosídeos esteroidais. Entretanto, é uma planta que também é usada como fitoterápico. SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

36


Revisão Quanto à sintomatologia, o látex produz queimação na boca, náuseas, vômitos, cólicas e diarreia; na pele, produz irritações; nos olhos, lacrimejamento, fotofobia e a ingestão de elevadas quantidades da planta, pode ocasionar distúrbios cardíacos (BARG, 2004). Prevenir ainda é o melhor remédio Schavartsman (1992) enfoca os principais meios preventivos para diminuir o risco de intoxicação com plantas, a saber: propagar o máximo que possível e através de todos os meios de comunicação, as espécies de plantas tóxicas mais comuns; recomendar a necessidade de orientação médica ao fazer uso de determinado preparado vegetal para finalidades medicinais, e por fim promover meios de educar a população acerca da inconveniência de ingerir

ou

manusear

qualquer

espécie

de

planta

não

conhecida.

Consequentemente, é indispensável conhecer os vegetais perigosos da região, da residência e do quintal, conhecê-las pelo aspecto e pelo nome. Conforme Martins et al. (2005), um aspecto relevante a ser avaliado no controle das intoxicações por vegetais, é o desenvolvimento de apropriados sistemas de informações acerca da ocorrência das enfermidades, incluindo as intoxicações por plantas nos animais domésticos. Cheeke (1998) também salienta que os nomes populares ajudam na identificação dessas plantas e, o conhecimento acerca do princípio ativo de um vegetal permite o desenvolvimento apropriado de procedimentos terapêuticos subsidiando no desenvolvimento de técnicas profiláticas. O conhecimento da concentração do princípio ativo no vegetal proporciona prever se este possui potencial de intoxicar distintas espécies animais. Algumas medidas preventivas também estão disponíveis na página eletrônica do Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) da Fiocruz, em que se destacam: manter as plantas venenosas fora do alcance das crianças; conhecer as plantas venenosas que existem em SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

37


Revisão seu domicílio e adjacências pelo nome e características; ensinar as crianças a não colocar plantas na boca e não usá-las como brinquedos; não preparar remédios ou chás caseiros com vegetais sem ser sob orientação médica; não ingerir folhas e raízes desconhecidas; tomar cuidado ao podar as plantas que liberam látex causando irritação na pele, sobretudo nos olhos e evitar deixar os galhos em qualquer parte onde possam vir a ser manuseados pelas crianças; aos lidar com plantas venenosas utilizar luvas e lavar bem as mãos após tal atividade e, em caso de acidentes, procurar logo após orientação médica, guardando a planta para identificação. Por fim, ainda de acordo com informações da página do SINITOX, ressalte-se que não ocorrem leis que regulamentem o tratamento de indivíduos vítimas de intoxicações por vegetais. Por outro lado, no ano de 2005, pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 19 da ANVISA, fora criada a Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (RENACIAT), sob coordenação da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA),

cuja

congrega

centros

de

informação

e

de

assistência

toxicológicas em vários estados do Brasil. Essa rede apresente como função prover informações e orientação a respeito do diagnóstico, prognóstico, tratamento e prevenção das intoxicações e envenenamentos, bem como acerca da toxicidade das substâncias químicas e biológicas e os riscos que elas acarretam à saúde, atendendo tanto o público em geral quanto os profissionais de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pelo exposto, há de se considerar a importância de conhecer e selecionar as plantas ornamentais as quais são utilizadas e/ou cultivadas dentro das residências e adjacências dos lares, pois, a beleza e o encanto de muitos vegetais que trazem ornato aos ambientes podem também representar perigos e riscos à integridade vital quer de indivíduos humanos quer de animais. SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

38


Revisão O conhecimento acerca das plantas e das suas propriedades tóxicas, principalmente daquelas que ladeiam o cotidiano das pessoas, é o principal caminho contra acidentes indesejáveis, acidentes estes que muitas vezes podem levar a situações delicadas, quiçá a morte. Assim, pela relevância do tema que ora abordou-se, estudos como estes representam enormes contribuição à população em geral, especialmente no que se refere à divulgação de informações sobre plantas tóxicas que, ainda nos dias de hoje, são

deficitárias.

Ademais,

torna-se

imperioso

medidas

e

trabalhos

educativos junto à população, principalmente as crianças, acerca do perigo de certos vegetais de grande beleza e popularidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALBUQUERQUE, J. M. Plantas tóxicas do jardim e do campo. Belém: FCAP, 1980. AKISUE, M. K.; AKISUE, G.; OLIVEIRA, F.; WASICKY, R.; SAITO, M. L. Contribuição ao estudo farmacognóstico de Datura suaveolens Humboldt et Bonpland ex Willdenow. An. Farm. Química de São Paulo, v. 17, n. 2, p. 75-99, 1977. ANDERSON, J.E.; CHANG, C.J.; MCLAUGHLIN. Bioactive components of Allamanda cathartica. Journal of Natural Products, v. 51, n.2, p.307308, 1988. ANDRADE FILHO, A.; CAMPOLINA, D.; DIAS, M. B. Toxicologia na prática clínica. Belo Horizonte: Editora Folium, 2013. ANDRADE, S. F.; NOGUEIRA, R. B.; SAKATE, M. Plantas ornamentais potencialmente causadoras de intoxicação na clínica de pequenos animais. Cães e Gatos, n. 91, 2001. BARBOSA, R. R.; RIBEIRO FILHO, M. R., SILVA, I. P.; SOTO-BLANCO, B. Plantas tóxicas de interesse pecuário: importância e formas de estudo. Acta Veterinaria Brasílica, v.1, n.1, p.1-7, 2007.

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

39


Revisão BARG, D. G. Plantas tóxicas. Instituo Brasileiro de Estudos Homeopáticos – Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.esalq. usp.br/siesalq/pm/plantas_toxicas.pd f>. Acesso em 19 Out. 2014. BARSA. Enciclopédia Britânica. São Paulo: Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda, v.12, 1994. BARROSO, C. M.; DELWING, A. B.; KLEIN, G. N.; BARROS, I. B. I.; FRANKE, L. B. Considerações sobre a propagação e o uso ornamental de plantas raras ou ameaçadas de extinção no rio grande do sul. Revista Brasileira de Agroecologia, v.2, n.1, p.426-429, 2007. BESSA, G.O. Avaliação da atividade angiogênica e do potencial de cicatrização do látex de Euphorbia tirucalli (Aveloz). 2010. 49f. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais e Saúde) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2010. CHEEKE, P.R. Natural toxicants in feeds, Forages, and Poisonous Plants. Danville: Interstate Publishers, 1998. CUMPSTON, K. L.; VOGEL, S. N.; LEIKIN, J. B.; ERICKSON, T.B. Acute airway compromise after brief exposure to a Dieffenbachia plant. Journal Emergency Medicine, New York, v.25, n.4, p.391-397, 2003. DIP, E.C.; PEREIRA, N.A.; FERNANDES, P.D. Ability of eugenol to reduce tongue edema induced by Dieffenbachia picta Schott in mice. Toxicon, Oxford, v.43, p.729-735, 2004. FERREIRA, L. S.; MARSOLA, F. J.; TEIXEIRA, S. P. Anatomia dos órgãos vegetativos de Dieffenbachia picta Schott (Araceae) com ênfase na distribuição de cristais, laticíferos e grãos de amido. Revista Brasileira de Farmacognosia, São Paulo, v.16, p. 664-670, 2006. FRANCO, L. B. As sensacionais 50 plantas medicinais. Curitiba: Santa Mônica, 1996. FURSTENBERGER, G.; HECKER, E. On the active principles of the spurge family (Euphorbiaceae). XI. [1]. The skin irritant and tumor promoting diterpene esters of Euphorbia tirucalli L. originating from South Africa. Journal of Biosciences, v. 40, p. 631-646, 1985. SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

40


Revisão GARDNER, D.G. Injury to the mucous membranes caused by the common houseplant, Dieffenbachia. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, St. Louis, v.78, p.631-633, 1994. HARAGUCHI, M. Plantas Tóxicas de Interesse na Agropecuária. Revista O Biológico, v.65, p.37-39, 2003. HORSFALL, M. J. N. R.; OGBAN, F. E.; AKPORHONOR, E. E.Recovery of lead and cadmium ions from metal-oadedbiomass of wild cocoyam (Caladium bicolor) using acidic, basic and neutral eluent solutions. Journal of Biotechnology, v. 9, n.2, 2006. KORBES, V. C. Plantas medicinais. Francisco Beltrão: ASSESSOAR, 1995. KRITZINGER, E. M.; JANSEN VAN VUUREN, R.; WOODWARD, B.; RONG, I. H.; SPREETH, M. H.; SLABBERT, M. M. Elimimation of external and internal contaminants in rhizomes of Zantedeschia aethiopica with commercial fungicides and antibiotics. Plant Cell, Tissue and Organ Culture, v. 52, p. 61-65, 1998. LIMA, R. M .S.; SANTOS, A. M. N.; JARDIM, M. A. G. Levantamento de plantas tóxicas em duas comunidades caboclas do estuário amazônico. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, série Botânica, v. 11, n. 2, p.255-263, 1995. LOMBA, M. Saúde Total: Medicina Toxicológica envenenamentos. Olinda: Edição dos Autores; 2010.

-

drogas

e

LOPES, R. K.; RITTER, M. R.; RATES, S. M. K. Revisão das atividades biológicas e toxicidade das plantas ornamentais mais utilizadas no Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 7, n. 3, p. 305-315, 2009. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas Medicinais no Brasil: Nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002.

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

41


Revisão LORENZI, H.; SOUZA, H. M. Plantas ornamentais do Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 1999. MARTINS, A.G,; ROSÁRIO, D. L; BARROS, M. N. B. ; JARDIM, M. A. G. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais, alimentares e tóxicas da Ilha do Combu, Município de Belém, Estado do Pará, Brasil. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 86, n. 1, p. 21-30, 2005. MATOS, E. H. S. F. Plantas tóxicas mais comuns no Brasil. Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico - CDT/UnB, 2012. MATOS, F. J. A. Plantas medicinais: guia de seleção e emprego de plantas usadas em fitoterapia no nordeste do Brasil. Fortaleza: UFC, 2000. MELO, M. M. Plantas ornamentais tóxicas. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG, n. 32, p.77- 88, 2000. OLIVEIRA, F.; AKISSUE, G. Fundamentos de Farmacobotânica. São Paulo: Atheneu, 1997. OLIVEIRA, R. B.; GODOY, S. A. P.; COSTA, F. B. Plantas tóxicas: conhecimento e prevenção de acidentes. Ribeirão Preto: Holos, 2003. OSWEILER, G. D. Toxicologia veterinária. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. PINILLOS, M. A; GÓMEZ, J.; ELIZALDE, J. .Intoxicacion por alimentos, plantas y setas. Anales Sin San Navarra. v. 26, n.1, p.243-263, 2003. RODRIGUES, L. S.; COPATTI, C. E. Diversidade arbórea das escolas da área urbana de São Vicente do Sul, RS. Biodiversidade Pampeana, Uruguaiana, v.7, p.7-12, 2009. SAKAI, W.S.; HANSON, M.; JONES, C. R. Raphides with barbs and grooves in Xanthosoma sagittifolium (Araceae). Science, v. 178, p.314-315, 1972. SCHENKEL, E.P.; RÜCHER, G.; MANNS, D.; FALKENBERG, M.B.; MATZENBACHER, N. I.; SOBRAL, M.; MENTZ, L.A.; BORDIGNON, S.A.L.; HEINZMANN, B.M. . Screening of Brazilian plants for the presence of peroxides. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, v.38, n.2, p.191-6, 2002.

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

42


Revisão SCHENKEL, E.P; ZANNIM, M.; BORDIGNON, S. A. L.; IRGANG, B. Plantas tóxicas. In: SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E.P; GOSMANN, G.; MELLO, J.C.P.; MENTZ, L. A.; PETROVICK, P. R. (org.) Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2003a. SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; PETROVICK, P. R. Produtos de origem vegetal e o desenvolvimento de medicamentos. In: SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; MELLO, J. C. P.; MENTZ, L. A.; PETROVICK, P.R. (org.) Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2003b. SCHVARTSMAN, S. Plantas venenosas. São Paulo: Sarvier, 1979. SCHVARTSMAN, S. Plantas venenosas e animais peçonhentos. São Paulo: Sarvier, 1992. SILVA, A. L. V. R.; USHIROBIRA, T. M. A. Aspectos toxicológicos da planta “comigo-ninguém-pode” (Dieffenbachia sp.). Revista UNINGÁ Review, Paraná, v. 2, p. 64-69, 2010. SILVA, I. G. R.; TAKEMURA, O. S. Aspectos de intoxicações por Dieffenbachia ssp. (Comigo-ninguém-pode) – Araceae. Revista Biológicas, Salvador, v. 5, n. 2, p. 151-159, 2006.

Ciências

Médicas

SILVA, J. N.; DANTAS, I. C.; CHAVES, T. P. Plantas utilizadas como abortivas no município de Bom Jardim – PE. Revista de Biologia e Farmácia, v. 4, n.1, 2010. SILVA, L. C. Plantas ornamentais tóxicas presentes no shopping Riverside Walk em Teresina – PI. Revista Brasileira de Arborização Urbana, Piracicaba, v.4, n.3, p.69-85, 2009. SILVA, R. B. L.; SANTOS, J. U. M. A etnobotânica de plantas medicinais da comunidade Quilombola de Curiaú, Macapá – AP, Brasil. 2002. 172p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Universidade Federal Rural da Amazônia, Amazonas, 2002. SIMÕES, C.M.O.; SCHENKEL, E.P.; GOSMAN, G.; MELLO, J.C.P.; MENTZ, L.A.; PETROVICK, P.R.(org.) Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2003.

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

43


Revisão SINITOX. Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas, Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. Plantas tóxicas no Brasil. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=313>. Acesso em: 08 nov. 2014. SOARES, M.P.S.; CORRÊA, C.L.; ZAMBRONE, F. A. D. Periódicos sobre toxicologia: uma visão geral e de disponibilidade. Revista Brasileira de Toxicologia Campinas, v. 20, p. 29-37, 2007. SOUZA, S. A. M.; MEIRA, M. R.; FIGUEIREDO, L. S.; MARTINS, E. R. Óleos essenciais: aspectos econômicos e sustentáveis. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v.6, n.10, 2010. TOKARNIA, C. H.; DÖBEREINER, J.; PEIXOTO P. V. 2000. Plantas Tóxicas do Brasil. Rio de Janeiro: Helianthus, 2000. VASCONCELOS, J.; VIEIRA, J. G. P.; VIEIRA, E. P. P. Plantas Tóxicas: Conhecer para Prevenir. Revista Científica da UFPA, v. 7, n 01, 2009. VICKERY, M. L.; VICKERY, B. Secondary Plant Metabolism. Hong Kong: The Macmillan Press Ltd, 1981. UEMURA, D.; HIRATA, Y. Farmacognosia: da planta ao medicamento 3.ed. Porto Alegre:UFRGS, 2001.

SILVA, Paulo Henrique da; OLIVEIRA, Ykaro Richard; SILVA, Ana Patrícia de Jesus; MEIRELES, Victor de Jesus Silva; ABREU, Maria Carolina de. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

44


Artigo Original Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson Iana Bantim Felício Calou Doutora em farmacologia; Professora adjunto I da Universidade Federal do Piauí. Rua Cícero Eduardo, S/N - Bairro Junco - Picos/PI. Email: ianacalou@gmail.com

Gilberto dos Santos Cerqueira Pós-doutorando em ciências morfológicas: professor adjunto A da Universidade Federal do Piauí, Laboratório de Anatomia. Picos- Pi.

Rafaelly Maria Pinheiro Siqueira Doutoranda em Fortaleza-Ce.

Farmacologia;

Universidade

Federal

do

Ceará,

CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

45


Artigo Original RESUMO O ferro consiste em um metal de extrema importância para homeostasia cerebral. Não obstante, alterações em seu equilíbrio estão sendo apontadas como cruciais para o processo neurodegenerativo envolvido na doença de Parkinson. A substancia negra, alvo da degeneração no Parkinson, é a região cerebral com maior concentração de ferro e este, aliado aos produtos do metabolismo oxidativo da dopamina, desencadeia uma séries de reações que culminam com a morte celular como: o aumento do estresse oxidativo local, a neuroinflamação, a agregação de proteínas formando corpúsculos citoplasmáticos tóxicos além da perda da capacidade de quelação que a neuromelanina apresenta em condições fisiológicas diminuindo o dano oxidativo causado pelo ferro. Modelos experimentais confirmam o envolvimento do metal no processo neurodegenerativo e estratégias terapêuticas inovadoras estão sendo experimentalmente testadas, tendo como alvo principal a quelação do ferro para refinar a terapia farmacológica da doença e impedir ou diminuir a progressão, até então inexorável, da doença. Palavras-chave: Doença de Parkinson, Ferro, Neurodegeneração.

ABSTRACT Iron is an important metal in brain homeostasis. However, changes in equilibrium identified as being crucial for the neurodegenerative process involved in Parkinson's disease. The Substancia Nigra, target of degeneration in Parkinson's, is the brain region with the highest concentration of iron and this, combined with the products of oxidative metabolism of dopamine, triggers a series of reactions that culminate in cell death as: increased local oxidative stress, neuroinflammation, protein aggregation forming toxic cytoplasmic corpuscles and the loss of chelation capacity that neuromelanin shows under physiological conditions by reducing oxidative damage caused by iron. Experimental models confirm the involvement of the metal in the neurodegenerative process and innovative therapeutic strategies are being tested experimentally, with the main target iron chelation to refine the pharmacological therapy of the disease and prevent or slow down the disease progression, hitherto inexorable. Key words: Parkinson’s disease, Iron, Neurodegeneration

CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

46


Artigo Original INTRODUÇÃO Os estados de transição de valência, mais comumente entre +2 e +3, que ocorrem com mais frequência no Ferro que em outros metais, fazem desse um dos metais mais úteis na biologia oxidativa. No ambiente celular, mais da metade das enzimas são metaloproteínas, e uma parte delas estabelece complexos com Fe2+ ou Fe3+ (WALDRON et al. 2009). No contexto do metabolismo aeróbico, o ferro continuamente está alterando o seu estado de valência para produzir espécies reativas de oxigênio (EROs). Enquanto este metal estiver ligado à proteínas, tudo estará seguro, não obstante, quando desprotegido, o ferro produz muitas espécies reativas e danosas de radicais do O2, além de H2O2 através da reação de Fenton (WONG e DUCE 2014). As espécies reativas do metabolismo oxidativo lesionam o DNA, os lipídios e as proteínas e estão envolvidos na fisiopatologia da doença de Parkinson (CRICHTON e WAR 2014). A despeito

da

origem

da

doença

de Parkinson permanecer

desconhecida, pesquisas têm voltado o interesse para o papel do Ferro na morte dos neurônios dopaminérgicos da substância negra (SN), ainda que o mecanismo pelo qual este processo neurodegenerativo se inicie ainda não esteja definido (MOCHIZUKI e YASUDA 2012). O cérebro apresenta várias demandas para o ferro, pois o mesmo está envolvido

na

respiração

mitocondrial,

na

síntese

de

DNA

e

de

neurotransmissores e mielina (CRICHTON 2009). O comprometimento da homeostasia celular de metais pode iniciar o processo de neurodegeneração por vários mecanismos, onde o estresse oxidativo figura como o mais compreendido até o momento (DUSEK et al. 2014). Não obstante, outros mecanismos estão relacionados como a diminuição da produção de metaloproteínas (MORELLO et al. 2007), a ativação microglial, levando a neuroinflamação (ZANG et al. 2011) além da agregação e formação de emaranhados neurofibrilares de alpha-sinucleína (UVERSKY et al. 2001). CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

47


Artigo Original Estresse oxidativo (EO) Os neurônios e as células da glia contêm uma rede de mitocôndrias espalhadas ao longo dos axônios neurais com uma densidade máxima na área perinuclear. A função das células eucariontes é inteiramente dependente de um suprimento de ATP abundante proveniente de mitocôndrias profícuas. Os neurônios são particularmente dependentes da fosforilação oxidativa devido ao seu processo dinâmico de remodelação sináptica. Defeitos mitocondriais provenientes de alterações no DNA mitocondrial, mutações de suas proteínas ou mesmo de insultos de agentes externos podem alterar o potencial de sua membrana e, se não controlados, levar à neurodegeneração (GORMAN e DOYLE 2008; MULLIN e SCHAPIRA 2013). O ferro pode facilitar a formação de radicais hidroxila citotóxicos, ânions superóxidos e de peróxido de hidrogênio e o acúmulo deste metal na substancia negra de pacientes com Parkinson pode estar envolvido na morte neuronal observada. Tendo o estresse oxidativo como um dos mecanismos de ação, a toxicidade do ferro não se restringe aos neurônios dopaminérgicos, mas estes são seus alvos preferencias devido exatamente ao conteúdo dopaminérgico. Quando oxidada pela monoamino oxidase (MAO), a dopamina libera peróxido de hidrogênio que, pela reação de Fenton (Figura 1), mediada pelo ferro, pode produzir mais radicais hidroxila tóxicos (HALLIWELL 1989).

Figura 1. Reação de Fenton. Formação de radicais hidroxila

Outro importante fator contribuinte para o EO consiste na disfunção do Complexo I da cadeia transportadora de elétrons da mitocôndria em cérebros de humanos com Doença de Parkinson - DP (observação postCALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

48


Artigo Original mortem) (SCHAPIRA et al. 1989). Modelos experimentais in vitro e in vivo da doença foram desenvolvidos com a utilização de inibidores do complexo I como o MPTP, a rotenona e a 6-OHDA, que provocam uma diminuição de até 40% da atividade do complexo mitocondrial I (BETARBET et al. 2002). O complexo I consiste em 8 grupamentos Ferro-Enxofre necessários para o transporte de elétrons. Na DP as anormalidades nas ações enzimáticas são encontradas apenas na parte compacta da substância negra (REICHMANN & JANETZKY; 2000). O estudo da atividade de enzimas que contém ferro é importante na DP devido à sobrecarga de ferro encontrada na substancia negra dos pacientes (post mortem), particularmente de Fe3+ enquanto que o cérebro e a cadeia respiratória enzimática apresentam grandes quantidades da isoforma reduzida, Fe2+ (GRIFFITHS et al. 1999; SIAN-HÜLSMANN et al. 2011). Neuromelanina A neuromelanina (NM), responsável pela coloração característica da substância negra, consiste no maior reservatório de ferro dos neurônios dopaminérgicos (ZECCA et al. 2004 a, b) atuando como neuroprotetor por quelar o ferro e impossibilitar a formação de radicais livres a partir da reação de Fenton. Com o aumento do acúmulo de ferro na SN observada na DP, a capacidade quelante da neuromelanina é saturada e o processo de formação de grandes quantidades de radias livres é iniciado (GERLACH et al. 2003). Com a morte dos neurônios nigrais dopaminérgicos, a neuromelanina é lançada para o ambiente extra celular ativando uma cascata de neuroinflamação, via ativação de microglia, que culminará em aumento da degeneração neuronal (ZHANG et al. 2011). A neuromelanina insolúvel contém quantidades elevadas de ferro reativo, que será liberado para o espaço extracelular onde iniciará o seu CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

49


Artigo Original processo oxidativo neurotóxico. Um estudo mostrou que a adição de NM em cultura de micróglia humana ativa a quimiotaxia e estimula a liberação de TNF-α, IL-5 e óxido Nítrico (NO). Esta reação envolve a ativação do fator de transcrição NF-κB pela neuromelanina através da fosforilação/degradação do iκB e ativação da via de transcrição do mitógeno p38 (WILMS et al. 2003). Também foi demonstrado que a injeção de NM humana em ratos induz a ativação microglial e degeneração de neurônios dopaminérgicos (ZECCA et al. 2008). α-sinucleína A homeostase do ferro depende de proteínas envolvidas no seu controle, fluxo e armazenamento. Atualmente já está bem delimitado o papel das proteínas nas doenças neurodegenerativas (WONG e DUCE 2014). O marcador patognomônico da doença de Parkinson consiste nos corpúsculos de Lewy, que são inclusões citoplasmáticas neuronais cujo componente principal é a proteína α-sinucleina (α-sin). Já foi demonstrado que geradores de radicais livres, como a dopamina e o próprio ferro, estimulam a formação de agregados intracelulares que contem α-sinucleína e ubiquitina facilitando a formação dos corpúsculos de Lewy e a morte de células (OSTREROVA-GOLTS et al. 2000). Os primeiros estudos sobre o papel fisiológico da α-sin mostraram que ela interage com os terminais pré-sinápticos controlando a fusão das vesículas às membranas pré-sinápticas e, por conseguinte, a reciclagem de neurotransmissores. De forma mais direta, ela inibe a exocitose das vesículas além de evitar a reutilização das mesmas, diminuindo o conteúdo de neurotransmissores disponível para liberação na fenda sináptica (LARSEN et al. 2006) e responsabilizando-se por diminuir a transmissão em períodos em que a atividade neuronal está muito elevada (SULZER 2010).

CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

50


Artigo Original Não

está

completamente

compreendido

como

uma

proteína,

inicialmente envolvida na homeostasia cerebral, após a sua agregação apresenta toxicidade mais direcionada à substancia negra. Uma das teorias para esta maior vulnerabilidade é a maior concentração de ferro nesta região, o que aumenta a agregação de proteínas. O ferro se liga a região Cterminal da α-sinucleína e, sob condições de oxidação, desnatura a proteína que posteriormente sofrerá agregação (BHARATHI et al. 2007). Estudos in vitro mostraram que as moléculas “Mutantes” de αsinucleína interagem como moléculas de ferro aumentando sua toxicidade. Os corpos de Lewy apresentam pois uma união da forma reativa do ferro com proteínas e material lipídicos oxidados agregados (CASTELLANI et al. 2000). Neuroinflamação A neuroinflamação apresenta ações antagônicas podendo ser benéfica, uma vez que efetivamente permite a remoção de detritos patogênicos e facilita a liberação de moléculas imunomoduladoras como citocinas e quimiocinas que podem fornecer suporte para as células vizinhas após um insulto tóxico, ou apresentando potencial nocivo por meio de uma resposta descontrolada que pode ser elicitada após a ativação microglial (ZHANG et al. 2005 e 2007; KIM et al. 2007). Várias evidências apontam para o envolvimento do processo neuroinflamatório

no

Parkinson.

fatores

Os

desenvolvimento imunogênicos

e

progressão liberados

da pelos

Doença

de

neurônios

dopaminérgicos lesionados tem potencial para desencadear respostas imunológicas nocivas, tanto inatas quanto adaptativas, além de conseguirem amplificar o processo patológico. Estes mecanismos não apenas sugerem uma complexa comunicação entre o sistema nervoso e o sistema imunológico periférico, mas a interação entre as células imune residentes do cérebro (isto CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

51


Artigo Original é, as micróglias) e outras células do parênquima cerebral como as células endoteliais, os astrócitos e os próprios neurônios (HIRSCH et al. 2013). A perda de neurônios dopaminérgicos está associada a altos níveis de citocinas, espécies reativas de oxigênio e óxido nítrico. As citocinas proinflamatórias expressas nos cérebros de pacientes com Parkinson altera de forma sensível a homeostase dos astrócitos e microglia, como o aumento da retenção do metal provocado pelo TNF-α (RATHORE et al. 2012). O ferro apresenta um papel importante no processo inflamatório. O ferro ativa o NK-κB e aumenta a expressão de citocinas nos macrófagos hepáticos de

ratos

e

causa

inflamação.

Estudos

mostraram

que

a

injeção

cerebroventricular de amônio ferroso induz a fosfolipase A2. A geração de eicosanoides e do Fator de Ativação Plaquetária (PAF) intensifica o processo inflamatório na progressão da doença de Parkinson (ONG et al. 2005). Modelos Animais Estudos experimentais envolvendo modelos animais são úteis na compreensão dos mecanismos fisiopatológicos das doenças. Algumas evidências experimentais autenticam a hipótese da neurotoxicidade do ferro. A infusão intranigral de ferro em ratos saudáveis provoca uma perda seletiva de neurônios dopaminérgicos (WESEMANN et al. 1994). A administração intraperitoneal de 10 mg de ferro dextrano três vezes por semana, durante três semanas em ratos Wistar jovens, produz o mesmo efeito (JIANG et al. 2007). O modelo do 1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina (MPTP) mostra que o tratamento unilateral com a neurotoxina pode induzir um aumento de até 100% do conteúdo de ferro da substância negra de ratos e primatas dentro de três a seis meses (MOCHIZUKI et al. 1994; TEMLETT et al. 1994).

CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

52


Artigo Original Tais dados autenticam a estreita relação do ferro com a Doença de Parkinson e abrem uma janela a ser explorada para a pesquisa de novos fármacos para a doença que visem este metal como alvo afim de diminuir a progressão da doença através da quebra da cascata de eventos que levam à morte neuronal. Perspectivas de tratamento A importância do ferro no processo neurodegenerativo, não só na doença de Parkison, abre perspectivas para estratégias terapêuticas que visem a quelação como coadjuvante na lentificação do processo neurodegeneratico. Esse alvo já foi testado na Doença de Alzheimer (DA) através do fármaco desferrioxamina. A administração intramuscular diária deste quelante durante vinte e quatro meses levaram a uma redução significativa (aproximadamente metade) da taxa

de declínio de habilidades da vida

diária em pacientes com DA (MCLACHLAN et al. 1991). Não obstante, a Desferrioxamina não atravessa a barreira hemato encefálica facilmente, e pode

exercer

o

seu

efeito

através

da

redução

geral

dos níveis de ferro. A propriedade de atravessar a barreira hemato encefálica é importantes em quelantes candidatos ao tratamento de desordens do sistema nervoso central, neste ínterim, vários quelantes lipossolúveis tem sido desenvolvidos e testados em modelos animais de neurodegeneração. Pode-se citar o VK-28 que protege contra a lesão estriatal dopaminérgica provocada pela 6hidroxidopamina

quando

administrado

diariamente

aos

animais

(SHACHAR et al. 2004). Considerando que a neuroinflamação facilita o transporte de ferro para o cérebro, uma abordagem de diminuir a disponibilidade cerebral de ferro é diminuir o processo inflamatório seja pelo consumo de antiinflamatórios não esteroidais ou mesmo pelo controle da hipercolesterolemia e por uma dieta com restrição calórica, afim de diminuir a síntese de mediadores CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

53


Artigo Original inflamatórios. Estratégias naturais tem sido consideradas como a curcumina e as catequinas (HALLIWELL et al. 2005). Uma sugestão é que estes flavonoides possam exercer parte de seu efeito benéfico quelando metais no intestino e impedindo sua absorção ou uma vez absorvidos exerçam seu papel antiinflamatório (MANDEL et al. 2005). CONCLUSÃO Várias descobertas indicam o potencial envolvimento do acúmulo de ferro na morte neuronal observada na Substância negra – pars compacta que ocorre na Doença de Parkinson. No entanto, permanece controverso se este acúmulo consiste no evento primário ou se representa apenas mudanças secundárias à degeneração neuronal. Independente da origem, a pesquisa por fármacos que visem a diminuição da disponibilidade de ferro livre no cérebro é promissora uma vez que o mesmo está envolvido na maioria dos mecanismos fisiopatológicos da doença.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Bharathi ISS, Rao KS. Copper- and iron-induced differential fibril formation in alpha-synuclein: TEM study. Neurosci. Lett. 2007; 424, 78–82. Betarbet R, Sherer TB, Greenamyre JT. Animal models of Parkinson's disease. Bioessays. 2002; 24(4):308-18. Castellani RJ, Siedlak SL, Perry G, Smith MA. Sequestration of iron by Lewybodies in Parkinson’s disease. Acta Neuropathol. 2000;100(2):111–4. Crichton RR. Inorganic Biochemistry or Iron Metabolism from Molecular Mechanisms to Clinical Consequences. Chichester: John Wiley & Sons, Ltd. 2009. Crichton RR, Ward RJ. Metal-based Neurodegeneration: From Molecular Mechanisms to Therapeutic Strategies. Chichester: John Wiley & Sons. 2014. Dusek P, Roosc PM, Litwine T, Schneiderf SA, Flateng TP.The neurotoxicity of iron, copper and manganese in Parkinson’s andWilson’s CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

54


Artigo Original diseases. Jan Aaseth.Journal of Trace Elements in Medicine and Biology; 2014. Gerlach M, Double KL, Ben-Shachar D, Zecca L, Youdim MB, Riederer P. Neuromelanin and its interaction with iron as a potential risk factor for dopaminergic Neurodegeneration underlying Parkinson’s disease. Neurotox Res.2003; 5:35–44. Gorman AM, Doyle KM. Considerations and recent advances in neuroscience. Biochem Soc Trans. 2009; 37(Pt 1):299-302. Halliwell B. Oxidants and the central nervous system: some fundamental questions. Is oxidant damage relevant to Parkinson’s disease, Alzheimer’s disease, traumatic injury or stroke? Acta Neurol Scand Suppl. 1989; 126:23– 33. Halliwell B, Rafter J, Jenner A, Health promotion by flavonoids, tocopherols, tocotrienols, and other phenols: direct or indirect effects? Antioxidant or not? Am J Clin Nutr. 2005; 81: .268S–276S. Hirsch EC, Jenner P, Przedborski S. Pathogenesis of Parkinson's disease. Mov Disord. 2013 Jan;28(1):24-30. Jiang H, Song N, Wang J, Ren LY, Xie JX. Peripheral iron dextran induceddegeneration of dopaminergic neurons in rat substantia nigra. NeurochemInt 2007;51(1):32–6. Kim YS, Joo WS, Jin BK, Cho YH, Baik HH, Park CW. Melatonin protects 6-OHDA-induced neuronal death of nigrostriatal dopaminergic system. Neuroreport. 1998; 13;9(10):2387-90. Larsen KE, Schmitz Y, Troyer M.; et al. Alpha-synuclein overexpression in PC12 and chromaffin cells impairs catecholamine release by interfering with a late step in exocytosis. J Neurosci. 2006; 26:11915–11922. Mandel SA, Avramovich-Tirosh Y, Reznichenko L, Zheng H, Weinreb O, Amit T, Youdim MB. Multifunctional activities of green tea catechins in neuroprotection: Modulation of cell survival genes, iron-dependent oxidative stress and PKC signaling pathway.Neurosignals. 2005; 14: 46–60. McLachlan DR, Dalton AJ, Kruck TP, Bell MY, Smith WL, Kalow W, Andrews DF Intramuscular desferrioxamine in patients with Alzheimer’s disease, Lancet. 1991; 337: 1304–1308. Mochizuki H, Imai H, Endo K, Yokomizo K, Murata Y, Hattori N, Mizuno Y. Iron accumulation in the substantia nigra of 1-methyl-4-phenyl-1,2,3,6CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

55


Artigo Original tetrahydropyridine (MPTP) - induced hemiparkinsonian monkeys. Neurosci Lett.1994; 168:251–253. Mochizuki H, Yasuda T. Iron accumulation in Parkinson’s disease. J Neural Transm .2012; 119:1511–1514. Morello M, Zatta P, Zambenedetti P, Martorana A, D‘Angelo V, MelchiorriG, et al. Manganese intoxication decreases the expression of manganopro-teins in the rat basal ganglia: an immunohistochemical study. Brain Res Bull. 2007;74(6):406–15. Mullin S, Schapira A. α-Synuclein and Mitochondrial Dysfunction in Parkinson’s Disease. Mol Neurobiol.2013; 47:587–597. Ong WY, Ling SF, Yeo JF,. Chiueh CC, Farooqui AA. Injury and recovery of neurons in the rat hippocampus after a single episode of oxidative stress induced by intracerebroventricular injection of ferrous ammonium citrate. Rep Nutr Dev. 2005; 45: 647–662. Rathore KI, Redensek A, David S. Iron homeostasis in astrocytes and microglia is differentially regulated by TNF-a and TGF-b1. Glia. 2012; 60:738–750. Reichmann H, Janetzky B. Mitochondrial dysfunction--a pathogenetic factor in Parkinson's disease. J Neurol. 2000; 247(2):II63-8. Schapira, AH, Cooper JM, Dexter D, Jenner P, Clark JB, Marsden CD. Mitochondrial complex I deficiency in Parkinson's disease. Lancet. 1989; 3;1(8649):1269. Shachar DB, Kahana N, Kampel V, Warshawsky A, Youdim MB, Neuroprotection by a novel brain permeable iron chelator, VK-28, against 6hydroxydopamine lession inrats. Neuropharmacology. 2004; 46: 254–263. Sian-Hülsmann J.; et al. The relevance of iron in the pathogenesis of Parkinson's disease. J Neurochem. 2011; 118(6):939-57. Sulzer D. Clues to How Alpha-Synuclein Damages Neurons in Parkinson’s Disease. Movement Disorders. 2010; 25(1): S27–S31. Temlett JA, Landsberg JP, Watt F, Grime GW (1994) Increased iron in the substantia nigra compacta of the MPTP-lesioned hemiparkinsonian African green monkey: evidence from proton microprobe elemental microanalysis. J Neurochem. 1994; 62:134–146.

CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

56


Artigo Original Uversky VN, Li J, Fink AL. Metal-triggered structural transformations, aggre-gation, and fibrillation of human alpha-synuclein. A possible molecularNK between Parkinson’s disease and heavy metal exposure. J Biol Chem. 2001;276(47):44284–96. Waldron KJ, Rutherford JC, Ford D, Robinson NJ. Metalloproteins and metal sensing. Nature. 2009; 460: 823–830. Wesemann W, Blaschke S, Solbach M, Grote C, Clement HW, Riederer P.Intranigral injected iron progressively reduces striatal dopamine metabolism.J Neural Transm Park Dis Dement Sect 1994;8(3):209–14. Wilms H, Rosenstiel P, Sievers J, Deuschl G, Zecca L, Lucius R. Activation of microglia by human neuromelanin is NF-kappaB dependent and involves p38 mitogen-activated protein kinase: implications for Parkinson’s disease. FASEB J. 2003; 17:500–502 Wong BX, Duce JA. The iron regulatory capability of the major protein participants in prevalent neurodegenerative disorders. Front. Pharmacol. 2014. Zhang W, Phillips K, Wielgus AR, Liu J, Albertini A, Zucca FA, Faust R, Qian SY, Miller DS, Chignell CF, Wilson B, Jackson- Lewis V, Przedborski S, Joset D, Loike J, Hong JS, Sulzer D, Zecca L. Neuromelanin activates microglia and induces degeneration of dopaminergic neurons: implications for progression of Parkinson’s disease. Neurotox Res.2011; 19:63–72. Zecca L, Youdim MBH, Riederer P, Connor JR, Crichton RR. Iron, brain ageing and neurodegenerative disorders. Nat Rev Neurosci. 2004; 5:863–873 Zecca L, Wilms H, Geick S, Claasen JH, Brandenburg LO, Holzknecht C, Panizza ML, Zucca FA, Deuschl G, Sievers J, Lucius R. Human neuromelanin induces neuroinflammation and neurodegeneration in the rat substantia nigra: implications for Parkinson’s disease. Acta Neuropathol. 2008; 116:47–55. Zecca L, Stroppolo A, Gatti A, Tampellini D, Toscani M, Gallorini M, Giaveri G, Arosio P, Santambrogio P, Fariello RG, Karatekin E, Kleinman MH, Turro N, Hornykiewicz O, Zucca FA. The role of iron and copper molecules in the neuronal vulnerability of locus coeruleus and substantia nigra during aging. Proc Natl Acad Sci USA. 2014; 101:9843–9848.

CALOU, Iana Bantim Felício; CERQUEIRA, Gilberto dos Santos; SIQUEIRA, Rafaelly Maria Pinheiro. Neurotoxicidade do ferro na fisiopatologia da doença de Parkinson. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 45-57, fev. 2015.

57


Revisão 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon Fausto Antonio de Azevedo Analista de risco químico da Intertox.

Camilla Colasso Analista de risco químico da Intertox.

Carlos E. Matos dos Santos Analista de risco químico da Intertox.

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

58


Revisão RESUMO Este artigo relata aspectos da história do uso de cianeto no Holocausto, assim como descreve a toxicidade deste agente. O emprego de compostos químicos por conta de suas propriedades tóxicas tem acontecido em guerras desde tempos remotos. Corrobora-se aqui, como o conhecimento físicoquímico e toxicológico do cianeto foi utilizado com a bárbara finalidade de provocar sofrimento e morte a milhares de civis, e até mesmo militares, nas câmaras de gás em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Palavras-chave: Holocausto. Auschwitz. Toxicologia. Cianeto. Zyklon B. ABSTRACT This article reports on aspects of cyanide historical use in the Holocaust, as well as describes the toxicity of this agent. The use of toxic chemicals in wars is frequent since ancient times. In this article, it is discussed how physical-chemical knowledge and cyanide toxicology were used with the barbaric purpose of causing suffering and bring death to thousands of civilians, and even military, in gas chambers of concentration camps during World War II. Keywords: Holocaust. Auschwitz. Toxicology. Cyanide. Zyklon B.

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

59


Revisão HISTÓRIA Dia 27 de janeiro foi instituído, em 2005, pela Assembléia Geral da ONU, como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto1. Neste 2015, em especial, lembra-se o setuagésimo aniversário de libertação do campo de concentração nazista Auschwitz Birkenau2. Foi em 27 de janeiro de 1945, um sábado, pela tarde, que as tropas soviéticas chegaram ao complexo, libertando-o, muito embora ainda na noite anterior os fornos crematórios tivessem trabalhado incessantemente! Os soldados alemães resistiram muito, o que provocou a morte de 231 soviéticos. Oito mil prisioneiros foram libertados, quase todos em situação deplorável devido ao martírio que sofreram3. O Dia Internacional objetiva incentivar a sociedade civil a promover a memória do Holocausto a fim de que as gerações futuras não repitam os erros do passado. E os graves erros ocorridos puderam ser perpetrados porque, ao lado de questões de cunho político, econômico, sociológico e psicológico determinantes, as propriedades físico-químico-toxicológicas de algumas substâncias ocasionaram o uso criminoso e altamente condenável de suas toxicidades. Assim é que as palavras cianeto (cianídrico), cloro e nitrogênio podem ter muito mais em comum do que serem apenas nomes de elemento e substâncias químicas. Qual misterioso e, no caso, triste elo poderia reunilas? Para auxiliar o leitor interessado vamos já dar a melhor pista, outra palavra: zyklon. Ajudaremos mais: diremos que zyklon é um vocábulo da língua germânica e que se consultarmos dicionários de alemão-português AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

60


Revisão encontraremos, em vários deles4, como equivalente em nosso idioma, o verbete ciclone. Será isso o suficiente? Para os leitores que não se cansaram e que possuem espírito investigativo, acrescentaremos um momento e um fato histórico: 1942, Segunda Guerra mundial. Mais? Pois bem: fazendo jus ao título, listemos: cianeto, cloro, nitrogênio; zyklon; 1942, Segunda Guerra; Toxicologia, toxicidade. Quem arrisca? Parabéns, acertou quem percebeu que zyklon era a designação de um artefato químico que continha cianetos, cloro, nitrogênio e que foi intencionalmente empregado,

por conta

das características de sua

toxicidade, para produzir extermínio humano. Assim, vejamos um pouco de sua toxicologia e de sua história. Zyklon foi o nome de um produto praguicida, composto de cianetos, cloro e nitrogênio, cujos substantivos em língua alemã são, respectivamente: zyanid, chlor e nitrogen, e de cujas iniciais pode ter sido formado. Já Zyklon B, marca registrada, indica o produto em uma de suas diferentes concentrações.

Em 1924, a Deutsche Gesellschaft für Schädlingsbekämpfung mbH (Degesch), corporação alemã para o controle de pragas, hoje Detia-Degesch GmbH5, criou o Zyklon B como um inseticida6. O produto, baseado na ação tóxica do ácido (“gás”) cianídrico, trazia o cianeto aplicado a um veículo poroso (terra diatomácea) e era hermeticamente acondicionado em recipientes metálicos (houve também, dentre outros, um Zyklon A, em que o ácido cianídrico era veiculado em um líquido e numa dada concentração. Havia um leque de concentrações do produto7). Por ser inodoro, para fins de segurança de comercialização adicionava-se um alerta de odorização, um AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

61


Revisão éster do ácido bromo acético. O uso da palavra zyklon (na acepção de ciclone) continua a provocar reações negativas de grupos judeus. Assim, a Bosch Siemens Hausgeräte e a Umbro viram-se obrigadas, em 2002, a desistir das tentativas para usar ou registrar a marca para produtos seus.

Figura 1. Detalhe das embalagens de Zyklon B e uma máscara de gás encontradas no campo de concentração nazista Majdanek (Polônia) Fonte: http://www.historyplace.com/worldwar2/holocaust/hzyklon.htm

Mas a história começa antes de 1924. A Degesch, por ação, dentre outras, da BASF e da Degussa, foi fundada após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, para desenvolver o uso de cianeto de hidrogênio para fins civis. A Degesch conseguiu a patente de um derivado químico não-volátil, especialmente odorizado, para uso na agricultura. Em 1922, a Degussa AG assumiu a Degesch. O capital da Degesch foi aumentado em 1930 e a Degussa AG e a IG Farben Industrie AG passaram a deter, cada uma, 42,5 por cento das ações da empresa, enquanto a Theo Goldschmidt AG Essen ficou com os restantes 15 por cento. A I.G. Farben indicou três dos sete membros do Conselho de Administração. As vendas de Zyklon B aumentaram expressivamente na Segunda Guerra Mundial, constituindo um negócio muito lucrativo. Em território francês, a antiga usina química Ugine

Kuhlmann (fundada em 1880) também produziu o Zyklon B, na

fábrica de Villers-Saint-Sépulcre (Oise), em 1942. AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

62


Revisão O principal cliente comprador do produto foi a Wehrmacht8, embora a polícia, as administrações de hospitais, e a SS tenham também utilizado Zyklon B para fins diversos, como, desinfestação de quartéis, navios, vagões de carga, galpões de armazenamento, fábricas e para fumigar roupas em câmaras especialmente desenvolvidas (instalações de “despiolhar”). O Zyklon B inicialmente chegou aos campos de concentração nazistas para fins de desinfestação de piolhos e combate ao tifo. Todavia, o salto para um uso triste, criminoso e condenável da toxicidade do produto foi vertiginoso e intenso: já emsetembro de 1941, a SS9 experimentou-o em Auschwitz I (campo principal) para o extermínio em massa de seres humanos. As primeiras vítimas foram 600 prisioneiros de guerra soviéticos e 250 prisioneiros doentes. A primeira câmara de gás foi implantada numa sala que era parte do crematório. Antes do uso do Zyklon B outros agentes tóxicos foram pensados ou ensaiados para fins de extermínio humano em massa, como o monóxido de carbono. Porém, a operacionalidade do uso desse gás era bem mais complicada. Um oficial nazista, todavia, Otto Adolf Eichmann, tenente coronel da SS Obersturmbannführer, percebeu a compatibilidade do Zyklon B com os propósitos de extermínio que então era buscado pelas forças nazistas e foi um implementador importante de seu uso. Eichmann foi o homem da logística (identificando as pessoas e organizando seu transporte) do extermínio dos milhões de pessoas que tiveram esse fim durante a Segunda Grande Guerra, a chamada “solução final” (Endlösung em alemão). A ligação entre Eichmann e a adoção do Zyklon B como o gás de extermínio ficou mais uma vez bem documentada durante as audiências do julgamento de Nuremberg. Na página Crime Library da internet pode-se ler:

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

63


Revisão Later, when he actually visited the camps, Eichmann saw the results of his planning for the first time. "I did visit Auschwitz repeatedly. It had an unpleasant smell," he wrote of his experiences there. Eichmann took notice of the inefficiency of the methods used to kill the prisoners. It required too much effort and the production of the carbon monoxide gas needed for the job was not cost effective. During the Nuremberg trial years later, the former commandant of Auschwitz said, "We did not come to a decision on the matter. Eichmann was going to inquire about a gas that would be easy to use and would not require any special installations and then report back to me." Eichmann eventually implemented the use of a poison gas called Zyklon B. This action later became the basis for the first of 15 criminal charges against him at his trial. The Hunt for Adolf Eichmann Mark Gado. The Problems of Mass Murder http://www.crimelibrary.com/gangsters_outlaws/cops_others/eichmann/6.html

O julgamento de Adolf Eichmann foi em Israel, iniciado 11 de abril de 1961, baseado em quinze ofensas criminosas, incluindo a decrimes contra a Humanidade, crimes contra o povo judeu, e de pertencer a uma organização criminosa. Ele foi considerado culpado de todas as acusações, condenado à morte em 15 de dezembro de 1961 e enforcado nos primeiros minutos do dia 1º.de junho de 1962. Fato de destaque é que enquanto acompanhava o julgamento, a filósofa Hannah Arendtescreveu uma série de cinco artigos para a revista The New Yorker, os quais originaram posteriormente o clássico Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal. O caso mereceu também uma versão cinematográfica: A solução final (título no Brasil), 2007, Reino Unido e Hungria, dirigido por Robert Young, com Thomas Kretschmann no papel de Eichmann10. Em Auschwitz-Birkenau, em janeiro e junho de 1942, dois barracões agrícolas foram convertidos (denominados Bunkers 1 e 2) e utilizados primeiramente para “gaseamento” dos prisioneiros.

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

64


Revisão Em março e junho de 1943, com a participação da empresa Erfurt Topf & Söhne11, quatro grandes crematórios tornaram-se operacionais em Birkenau. Eles foram equipados, ao menos parcialmente, com salas subterrâneas para as pessoas se despirem e câmaras de gás disfarçadas em salas de banho, para as quais a SS chegava a forçar perto de 2 mil prisioneiros por vez. Na página da Topf & Söhne (http://www.topfundsoehne.de/cmswww/index.php?id=94&l=1) pode-se ler:

1939

Ludwig and Ernst Wolfgang Topf, owners and managing directors of the family business in the third generation, begin supplying the SS and its concentration camps with corpse incineration ovens specially developed by furnace construction engineer Kurt Prüfer to meet the needs of these camps.

1942

With full knowledge of the practises of mass murder being carried out with gas at Auschwitz, the company – on the initiative of engineer Fritz Sander – applies for a patent for a “continuous-operation corpse incineration oven for mass use”.

1943

The large-scale crematoria in the Auschwitz-Birkenau extermination camp are equipped as “death factories” with ovens and gas chamber ventilation systems from Erfurt.

A fim de manter as vítimas sob engano e poder realizar o morticínio com “máxima eficiência”, a SS instruiu os fornecedores do Zyklon B a removerem o agente odorizante de alerta. Mas toda essa lamentável história está assentada numa propriedade tóxica do íon cianeto, que do ponto de vista bioquímico e toxicológico é em si, como toxicodinâmica, ironicamente muito elegante. AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

65


Revisão O agente químico é considerado clássico, primeiro, pelo fato de que é considerado um dos precursores dos ácidos nucleicos na teoria da origem da vida; segundo, pela sua ampla ocorrência no uso industrial, em incidentes, ou para fins bélicos, incluindo o uso em ações terroristas, pois há quem prefira segmentá-lo do uso bélico; e terceiro, pela sua natureza tóxica amplamente estudada em Toxicologia. O primeiro isolamento relatado de ácido cianídrico (Azul da Prússia) foi realizado pelo químico sueco Scheele, em 1782. Em 1786, Sheele acidentalmente quebrou um frasco contendo o ácido cianídrico no laboratório e morreu devido à inalação do vapor (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Desde os tempos da Roma antiga, o cianeto e seus derivados foram utilizados em armas. Nero empregou o loureiro-cereja, que continha cianeto como principal componente tóxico. Napoleão III propôs o uso de baionetas impregnadas com cianeto durante a guerra Franco-Prussiana. Na Primeira Guerra Mundial o uso do ácido cianídrico não foi bem sucedido, porque o composto não era persistente. Contudo, o exército francês empregou projéteis de artilharia com o nome de Vicennite (50% HCN, 30% tricloreto de arsênio, 15% de cloreto de estanho e 5% de clorofórmio), mas devido à alta volatilidade do HCN, essas armas não foram eficazes. Além do que, os soldados alemães, estavam com máscaras respiratórias para se protegerem dos vapores de HCN (BASKIN et al., 2008; BHATTACHARYA e FLORA, 2009).

Em 1916, o exército francês tentou empregar o cloreto de cianogênio, uma vez que este era mais pesado e menos volátil do que o HCN. O efeito do cloreto de cianogênio foi semelhante ao do HCN, entretanto, o composto provocou também acentuado lacrimejamento, rinorréia e secreção brônquica AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

66


Revisão semelhante à provocada pelo fosgênio. Tais efeitos foram considerados de pouca importância militar (BASKIN et al., 2008; BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Após a Segunda Guerra há relatos do uso de cianeto contra os habitantes da cidade síria de Hama; contra a população curda de Halabja, no Iraque; e no Shahabad, no Irã, durante a Guerra Irã-Iraque no final de 1980. Em 1995, em Tóquio, quando ocorreu o atentado com sarin no metrô, foram encontrados compostos precursores de cianeto nos banheiros da estação. Cianeto também foi adicionado nos explosivos utilizados no primeiro ataque no World Trade Center em Nova Iorque, em 2001 (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). No cenário atual, o cianeto é considerado um importante agente de guerra química para fins suicidas ou homicidas. A possível ameaça de seu emprego em atos terroristas não deve ser negligenciada.

TOXICIDADE DO ÍON CIANETO CNO ânion cianeto (CN-), também chamado grupo ciano [do grego κυανός (kyanós) com o significado de cor azul-esverdeada], é uma espécie química de elevada toxicidade, composta por um átomo de carbono e um átomo de nitrogênio em ligação tripla e estável, constituindo uma molécula ionizada com carga negativa. O cianeto pode formar vários compostos: orgânicos (que serão normalmente chamados de nitrilas, em que o cianeto se liga covalentemente a um carbono de outro grupo molecular) e inorgânicos, sobretudo sais (todos estes sempre de elevado potencial tóxico). Dentre os compostos de cianeto, o ácido cianídrico (HCN, também ácido hidrociânico, cianeto de hidrogênio), um líquido altamente volátil, AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

67


Revisão incolor e com o famoso odor característico de amêndoas amargas, é considerado muito perigoso, sobretudo do ponto de vista ocupacional (ZACARIAS, 2009), por poder estar presente no ar implicando, assim, no risco de inalação. O ácido cianídrico, por ser um ácido fraco, forma-se quando uma solução contendo um cianeto lábil é acidificada. Soluções alcalinas são mais seguras de se usar, porque elas não permitem a evolução do “gás” cianídrico. A toxicidade do íon cianeto pode se mostrar tanto a curto quanto a longo prazo, em função do tipo de exposição dos seres vivos. O ânion cianeto é um potente inibidor de uma enzima essencial ao metabolismo animal. Trata-se da citocromo c oxidase, do quarto complexo da cadeia de transporte ou transferência de elétrons (ou cadeia respiratória celular), na membrana das mitocôndrias de células eucarióticas (Figura 2).

Figura 2. Estrutura tridimensional da citocromo c oxidase. O átomo de ferro (destacado em laranja) ligado ao grupo heme (em azul) (obtido de ALBERTS et al., 1994).

O CN- se liga ao átomo de ferro (Fe3+) presente no grupo heme da proteína citocromo c oxidase (ou citocromo a-a3). A consequência de tal ligação é o impedimento do transporte de elétrons do citocromo a3 para a molécula de oxigênio aceptora final da via bioquímica. Como resultado, a cadeia de AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

68


Revisão transporte eletrônico é interrompida, o que significa que a célula já não poderá produzir aerobicamenteo ATP (adenosina trifosfato), composto que guarda energia em suas ligações químicas e a libera para a realização de trabalho celular. A produção de energia sob a forma de ATP é o propósito da cadeia respiratória. Os tecidos que dependem em muito da respiração aeróbica, mais vascularizados, tais como o sistema nervoso central e o coração, serão particular e rapidamente afetados por essa ação tóxica, caracterizando-se logo um quadro de hipóxia e/ou anóxia histotóxica que pode ser prontamente fatal. Assim, apesar do oxigênio disponível no sangue, não pode ser gerado ATP por meio da cadeia respiratória, acontecendo interrupção do metabolismo aeróbico nas células. Inicialmente, ocorre um mecanismo de compensação com a formação de ATP pela via glicolítica, entretanto, tal mecanismo compensatório é insuficiente para a demanda biológica, principalmente para o metabolismo cardíaco e o do sistema nervoso central, que dependem da via aeróbica e possuem metabolismo anaeróbico limitado. O cianeto se liga também à anidrase carbônica, o que provoca acidose metabólica clinicamente relevante nas intoxicações (uma complicação secundária), ao passo que o metabolismo anaeróbico também promove a formação de ácido lático. A morte se segue ao dano dos neurônios do SNC que controlam a respiração, uma vez que são muito sensíveis à hipóxia, acarretando incapacidade de respirar. O esquema para essa vital via bioquímica do organismo é apresentado na Figura 3.

Ciclo de Krebs: Piruvato→NADH→FMN→Coenz.Q→cit.b→citc1→cit.a→cit.a3→ 1/2O2→H2O AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

69


Revisão

Figura 3. Ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Destaque para o alvo molecular do cianeto (Fe3+), que provoca o impedimento do transporte de elétrons do citocromo aa3 para a molécula de oxigênio aceptora final da via bioquímica

A enzima citocromo c oxidase, ou complexo IV, é um complexo proteico transmembranar

presente

nas

mitocôndrias

das

células

e

atua

cataliticamente como último elo na cadeia de transferência de elétrons, recebendo um elétron de cada uma das moléculas de citocromo c, oxidandoos. Transporta, então, os elétrons para uma molécula de oxigênio (O2), vinda da respiração pulmonar, transformando este oxigênio molecular em duas moléculas de água, processo que ao mesmo tempo produz a translocação, através da membrana, de quatro prótons que auxiliam na produção de um potencial

quimiosmótico

(gradiente

protônico,

bomba

de

prótons,

YOSHIKAWA et al., 2006) que, por usa vez, é aproveitado pela presença de outra enzima, a ATP sintase, para a formação de moléculas de ATP.

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

70


Revisão A ligação do cianeto à citocromo c oxidase é complexa e depende do estado redox da enzima. O centro binuclear pode existir nos estados reduzido, oxidado e parcialmente oxidado, e, embora o oxigênio só possa se ligar ao centro binuclear totalmente reduzido, o cianeto pode interagir com o centro em todos três estados (maior afinidade com o centro no estado parcialmente reduzido, alta afinidade para o estado totalmente oxidado e menor afinidade para o estado totalmente reduzido) (LEAVESLEY, et al., 2007). O fato do oxigênio competir com o cianeto pelo centro nuclear totalmente reduzido explica a indicação clínica de oxigênio hiperbárico na intoxicação por cianetos, porque este agente altera a cinética de inibição do cianeto. TOXICOCINÉTICA DO ÍON CIANETO Absorção O cianeto (ácido cianídrico – HCN) é rapidamente absorvido, independentemente

da

via,

devido

o

seu

baixo

peso

molecular

(BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Trata-se de uma molécula pequena, com boa solubilidade em água e lipídeos, o que favorece sua absorção. A absorção oral do cianeto é rápida e os efeitos tóxicos podem ocorrer dentro de minutos. Quando sais de cianeto são ingeridos, o ácido clorídrico presente no estômago provoca a liberação de HCN, que é prontamente absorvido como íons cianeto (CN). O cianeto é absorvido principalmente pela mucosa respiratória, gastrointestinal, pele, e através dos olhos se o contato for prolongado (BALLANTYNE, 1974; ELLENHORN et al., 1997; RYAN, 1998).

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

71


Revisão Em estudos conduzidos com coelhos, o cianeto é rapidamente absorvido pelos sacos conjuntivais em quantidades significativas para produzir uma toxicidade sistêmica. A exposição cutânea é rara, porém, se for exposta uma área grande para o contato, a absorção pode ser facilitada e a toxicidade se manifestará (BHATTACHARYA e FLORA, 2009).

Distribuição Após absorção, o cianeto é distribuído para o volume correspondente a cerca de 40% do peso corporal total. A distribuição, após uma única dose intravenosa, é rápida e completa dentro de 5 minutos. O cianeto é rapidamente transportado no corpo através da corrente sanguínea e cerca de 60% estarão ligados às proteínas plasmáticas, uma pequena quantidade ficará presente nos glóbulos vermelhos (RBC), e o restante estará como cianeto livre. A concentração de cianeto de RBC é estimada em uma proporção de RBC/plasma de 100:1. Após a exposição aguda, a meia-vida de eliminação plasmática de cianeto é em torno de 14,1 minutos. Depois da intoxicação oral, uma quantidade significativa de cianeto pode ser detectada no cérebro, no sangue, rins, parede do estômago, fígado e urina. Isso indica que depois da absorção o agente é amplamente distribuído em todos os tecidos (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Eliminação Ao contrário de outros agentes químicos de guerra, o cianeto aparece no sangue, urina e ar expirado (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Ele é eliminado do corpo por vários mecanismos. Após 3 horas, cerca de 90% do cianeto injetado são eliminados (modelo de estudo mamífero – cão). Uma pequena quantidade de cianeto é eliminada pela urina e através dos pulmões após ser incorporada a cianocobalamina (vitamina B12), oxidado a formiato e dióxido de carbono, e conjugado à cistina (BHATTACHARYA e AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

72


Revisão FLORA, 2009). Vias adicionais de eliminação incluem as enzimas sulfotransferases, mercaptopiruvato, riossulfato redutase entre outras (BHATTACHARYA e FLORA, 2009).

RELAÇÃO DOSE/CONCENTRAÇÃO-RESPOSTA DO CIANETO Não é simples determinar as doses letais para cianeto no ser humano. A morbidade ou a mortalidade dependem da magnitude da intoxicação, que varia de acordo com a dose, a forma do cianeto e a via de exposição. A concentração máxima admissível para o HCN em humanos é 11mg/m³ por via inalatória; a dose letal de HCN para adultos é estimada entre 50 a 100mg, e para KCN em torno de 150 a 250mg (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Os números estimados em termos de peso corporal para HCN variam entre 0,7 a 3,5mg/kg. No entanto, existem relatos de pessoas que ingeriram 3,0g de KCN e sobreviveram após rápida intervenção terapêutica (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). A Tabela 1 mostra os níveis de toxicidade do cianeto por inalação em humanos. A ingestão oral de cianeto pode produzir sintomas rapidamente. Estudos experimentais em animais demonstram que a absorção de cianeto é diminuída caso o estômago esteja alcalino (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Tabela 1. Toxicidade do cianeto de hidrogênio por inalação em humanos

Concentração mg/m³

ppm

20 – 40

18 – 36

Efeitos Leves sintomas após várias horas

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

73


Revisão 50 – 60

45 – 54

Suportável por 20 – 60 minutos sem efeitos

120 – 150

110 – 135

Muito perigoso (fatal) após 30 – 60 minutos de exposição

150

135

Letal após 30 minutos de exposição

200

181

Letal após 10 minutos de exposição

300

270

Imediatamente letal

Fonte: BHATTACHARYA e FLORA, 2009.

A toxicidade letal do HCN e de seus sais alcalinos variam a depender das diferentes vias de exposição, diferentes espécies avaliadas e a depender do sexo (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Estudo realizado em coelhos evidenciou a seguinte ordem decrescente de toxicidade de cianeto de potássio (KCN) administrado por diferentes vias: Intravenosa > intramuscular > intraperitonial > via oral > instilação no saco conjuntival > percutânea. O comparativo para os valores de DL50 oral de KCN em diferentes espécies de animais está apontado na Tabela 2. Dentre os animais estudados, o coelho se mostrou mais suscetível do que os ratos e camundongos (BHATTACHARYA e FLORA, 2009). Tabela 2. Toxicidade aguda letal para KCN em diferentes espécies

Espécie

Camundongo

Rato

Sexo

DL50 (mg/kg)

Referência

Macho

8,50

Macho

12,5

BHATTACHARYA et al., 2002

Macho

10,0

HAYES, 1967

Fêmea

7,49

BALLANTYNE, 1984

Fêmea

14,1

BHATTACHARYA e

SHEEHY e WAY, 1968

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

74


Revisão VIJAYARAGHAVAN, 2002 Coelho

Fêmea

5,82

BALLANTYNE, 1984

Fontes: BHATTACHARYA e FLORA, 2009.

Por se tratar de um mecanismo de ação que envolve tolerância de sistemas fisiológicos e mecanismos de compensação, alguns modelos de doseresposta para o cianeto são caracterizados de maneira tempo-dependente. A CLt50 (concentração*tempo letal para 50% da população exposta) do cianeto é da faixa de 2500-5000 mg*min/m3 (Tabela 3). Tabela 3. Estimativas da toxicidade aguda do cianeto em função do tempo

Tempo de exposição (min.)

CLt (mg min m-3)

CL50 aproximada (mg/m3)

CLt1

CLt50

CLt90

0,5

1117

2032

3480

4064

1

1930

3404

5705

3404

3

2546

4440

7526

1466

10

3888

6072

11491

607

30

11992

20632

35443

688

Fonte: SALEM e KATZ, 2006. Nota: Os autores consideram que para cálculo da CLt, há fatores como depuração e mecanismos de compensação que demandam maiores concentrações para a resposta tóxica.

MECANISMOS DE DETOXIFICAÇÃO E ANTÍDOTOS Existem vários processos naturais de detoxificação do cianeto no organismo,

pelos

quais

são

responsáveis

as

enzimas

rodanase,

mercaptupiruvado sulfotransferase, tiossulfato redutase e cistationase. Em geral, as enzimas atuam fornecendo enxofre de distintas formas (direta ou indiretamente) para a complexação com o cianeto e formação de tiocianato. Os modelos modernos sugerem que a ligação do cianeto à albumina é também um dos mecanismos naturais de detoxificação. AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

75


Revisão Quando os mecanismos de compensação e de detoxificação são insuficientes, ou seja, com a intoxicação estabelecida, existem antídotos disponíveis,

os

quais

podem

ser

divididos

em

três

grupos:

(i)

metemoglobinizantes, (ii) doadores de enxofre e (iii) agentes complexantes. Considera-se o fornecimento oxigênio hiperbárico um tratamento de suporte importante. Os agentes metemoglobinizantes (como nitrito de sódio e nitrito de amila) oxidam o Fe++ da hemoglobina a Fe+++, possibilitando a complexação

do

cianeto

à

metemoglobina,

formando-se

a

cianometemoglobina. A enzima rodanase cataliza a reação de complexação entre o cianeto e tiossufalto formando o tiocianato que é eliminado pela urina. Os doadores de enxofre (exemplo, tiossulfato de sódio) atuam fornecendo o substrato para a rodanase e outras sulfotransferases, resultando na formação do tiocianato. A baixa capacidade destes doadores de penetrar na célula e na membrana mitocôndria é um fator limitante para esta rota de detoxificação.

Devido

às

limitações

de

outros

antídotos

(metemoglobinemia

excessiva e outros efeitos adversos vs. grau de eficácia), o uso da hidroxocobalamina tem sido uma das opções mais consideradas nas intervenções clínicas atuais. A hidroxocobalamina se complexa com o cianeto formando cianocobalamina, atóxica, a qual é eliminada na urina. O uso de outros complexantes, como sais de cobalto, é também estudado e sua aplicação tem sido considerado em alguns países.

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

76


Revisão Outros estudos têm sido realizados para avaliar os benefícios de nitritos e de outros agentes capazes de aumentar as concentrações intracelulares de óxido nítrico (NO), já que há evidências que a citocromo oxidase inibida foi parcialmente restaurada na presença de NO micromolar (LEAVESLEY et al., 2007).

CONCLUSÃO O toxicólogo é alguém que se dedica por inteiro a tentar entender como substâncias químicas podem atuar – e atuam – sobre organismos vivos produzindo-lhes um mal. Qual é a natureza dessa interação: suas especificidades moleculares, suas características físico-químicas e biológicas, suas dinâmicas bioquímicas, suas repercussões fisiológicas, os níveis de tolerância, as zonas de perigo e risco, etc. E ele não faz isso, por certo, apenas pelo próprio interesse científico, epistêmico, senão que também está preocupado em poder auxiliar a toda a população humana e outras formas de vida no como se defender, se curar, se proteger de exposições indevidas. Tem uma finalidade seu saber. Tem uma finalidade humana seu saber. Tem uma finalidade nobre e ética seu saber. Assim que é para ele, talvez mais do que para qualquer outro, um sofrimento indizível e uma tristeza paralisante constatar que a toxicidade de determinados agentes químicos possa ser tantas vezes intencionalmente utilizada para produzir o dano, o castigo, a morte, o crime. A Toxicologia é um apostolado de vida, é a crença no conhecimento para realçar e valorizar a vida. Desvendar o conhecimento toxicológico é um procedimento de fé e de afirmação do bem que nos qualifique como verdadeiramente superiores e sapientes. Se o Homo sapiens sapiens for sábio, ele jamais empregará, ou permitirá que se o faça, a toxicidade como ferramenta da morte e da dor.

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

77


Revisão REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALBERTS, B., BRAY, D., LEWIS. J, et al. The Respiratory Chain and ATP Synthase. in: Molecular Biology of the Cell. 3rd. edition. New York: Garland Science; 1994. BALLANTYNE, B. (1974). The forensic diagnosis of acute cyanide poisoning. In: Forensic Toxicology (B. Ballantyne, ed.). Bristol, England: Wright Publishers, 1974. p. 99–113. BALLANTYNE, B. Comparative acute toxicity of hydrogen cyanide and its salts. In Proceedings of the Fourth Annual Chemical Defense Bioscience Review (R.E. Lindstrom, ed.), US Army Medical Research Institute of Chemical Defense, Maryland. 1984. BASKIN, S.; KELLY, J.B.; MALINER, B.I.; ROCKWOOD, G.A.; ZOLTANI, C.K. Cyanide Poisoning. In: Tuorinsky, Shirley D. senior ed. Medical aspects of Chemical Warfare (Textbooks of military medicine). Washington D.C: U. S. Government Printing, 2008. [ISBN: 9780160815324] BHATTACHARYA, R., LAKSHMANA RAO, P.V., VIJAYARAGHAVAN, R. In vitro and in vivo attenuation of experimental cyanide poisoning by aketoglutarate. Toxicol. Lett., 128: 185–95, 2002. BHATTACHARYA, R; FLORA, S.J.S. Cyanide Toxicity and its Treatment. In: GUPTA, R.C. ed. Handbook Toxicology of Chemical Warfare Agents. 1st. ed. San Diego: Elsevier, 2009.

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

78


Revisão BHATTACHARYA, R., VIJAYARAGHAVAN, R. Promising role of aketoglutarate in protecting against the lethal effects of cyanide. Hum. Exp. Toxicol., 21: 297–303, 2002. ELLENHORN, M.J., SCHONWALD, S., ORDOG, G., WASSERBERGER, J. (1997). Cyanide poisoning. In: Ellenhorn’s Medical Toxicology: Diagnosis and Treatment of Human Poisoning. 2nd. ed. (M.J. Ellenhorn, S. Schonwald, G. Ordog, J. Wasserberger, eds.). Baltimore, Maryland: Williams & Wilkins, 1997.p. 1476–84. HAYES, W. The 90-dose LD50 and a chronicity factor as measures of toxicity. Toxicol. Appl. Pharmacol., 11: 327–35, 1967. LEAVESLEY, H.,B. et al. Interaction of Cyanide and Nitric Oxide with Cytochrome

c

Oxidase:

Implications

for

Acute

Cyanide

Toxicity.

Toxicological Sciences, v. 1, n. 101: 101-111, 2008. RYAN, J.G. Cyanide. In Emergency Toxicology (P. Viccellio, ed.), 2nd. ed., Philadelphia: Lippincott-Raven, 1998. p. 969–78. SALEM, H.; KATZ, S.A. Inhalation Toxicology. 2nd. ed. Boca Raton: Taylon & Francis Group, 2006. 1039 p. SHEEHY, M., WAY, J.L. Effect of oxygen on cyanide intoxication. III. Mithridate. J. Pharmacol. Exp. Ther., 161: 163–8, 1969. YOSHIKAWA, S., MURAMOTO, K., SHINZAWA-ITOH, K. et al. Proton pumping mechanism of bovine heart cytochrome c oxidase. Biochem. Biophys. Acta, 1757(9–10): 1110–6, 2006.

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

79


Revisão ZACARIAS, C.H. Exposição ocupacional a cianetos – uma breve revisão. Revista Intertox de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v.2, n.3: 42-50, 2009. Disponível em: http://revinter.intertox.com.br/phocadownload/Revinter/v2n3/rev-v02-n0304.pdf. Acessado em 15/1/2015.

Ver http://nacoesunidas.org/?post_type=post&s=holocausto. Acessado em 25/01/2015. 1

Ver http://en.wikipedia.org/wiki/Auschwitz_concentration_camp. Acessado em 25/01/2015. 2

Ver http://www.dw.de/1945-liberta%C3%A7%C3%A3o-de-auschwitzbirkenau/a-1465691. Acessado em 12/1/2105. 3

Pons: http://pt.pons.com/tradu%C3%A7%C3%A3o?q=zyklon&l=dept&in=&lf=de. Acessado em 12/1/2105. Linguee: http://www.linguee.com.br/portuguesalemao/search?source=alemao&query=zyklon. Acessado em 12/1/2105. Infopedia dicionários: http://www.infopedia.pt/dicionarios/alemaoportugues/zyklon.Acessado em 12/1/2105. 4

5

Ver http://www.detia-degesch.de/. Acessado em 12/1/2105.

Zyklon B: Na InsecticideBecomes a Means for Mass Murder. Wollheim Memorial: http://www.wollheim-memorial.de/en/zyklon_b_en_2. Acessado em 13/1/2105. 6

Ver: Green, Richard J. The chemistry of Auschwitz. http://www.holocaust-history.org/auschwitz/chemistry/. 13/1/2105. 7

Acessado

em

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

80


Revisão Wehrmacht (palavra alemã equivalendo a Força de Defesa) era a designação, no período do Terceiro Reich, 1935-1945, para o conjunto das forças armadas alemãs. Veio no lugar do Reichswehr, criado em 1921. Em 1955, as novas forças armadas alemãs foram reorganizadas sob o nome de Bundeswehr. 8

Schutzstaffel (algo próximo a Tropa de Proteção), abreviada como SS ( em alfabeto rúnico), foi uma organização paramilitar ligada ao partido nazista e a Hitler. "Meine Ehre heißt Treue" era sua divisa, ou seja, "Minha honra chama-se lealdade". Surgindo como pequena unidade paramilitar, chegou a quase um milhão de homens e teve influência política notável no Terceiro Reich. De ideologia nazista, foi responsável, sob o comando de Himmler, por muitos dos crimes contra a humanidade praticados pelos nazistas na Segunda Grande Guerra. 9

10

Ver: http://www.imdb.com/title/tt0901481/. Acessado em 13/1/2105.

Empresa fundada em 1878, por J. A. Topf, para a produção de equipamentos e sistemas de combustão. Ver: http://www.topfundsoehne.de/cms-www/index.php?id=94&l=1. Acessado em 13/1/2105. 11

AZEVEDO, Fausto Antonio de; COLASSO, Camilla; SANTOS, Carlos E. Matos dos. 27 de janeiro: Toxicologia e História, um triste uso da toxicidade – o zyklon. Revista IntertoxEcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 58-81, fev. 2015.

81


Artigo Original Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona Bárbara Harzer Graduanda concluinte do curso de Biomedicina - Universidade Positivo, Curitiba, Paraná – Brasil. E-mail: barbaraharzer@gmail.com.

Maria Carolina Stipp Graduanda concluinte do curso de Biomedicina - Universidade Positivo, Curitiba, Paraná – Brasil. E-mail: mariacarolinastipp@hotmail.com.

Tatiana Herrerias Farmácia – Universidade Federal do Paraná. Doutora em Bioquímica. Professora universitária do curso de Biomedicina, Universidade Positivo, Curitiba, Paraná - Brasil. E-mail: tatianaherrerias@hotmail.com.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

82


Artigo Original RESUMO Os desreguladores endócrinos (DE) são substâncias exógenas capazes de alterar uma ou mais funções do sistema endócrino, podendo provocar efeitos adversos sobre a integridade do organismo intacto, sua descendência e/ou populações (COM, 1999). Os lançamentos de efluentes industriais e esgoto doméstico em corpos d’água são as principais formas de contaminação pelos DEs, já que estes são excretados pela urina e fezes (MOREIRA, 2008). Uma das maiores preocupações com esses micropoluentes, é que os processos convencionais de tratamento de água não os removem totalmente, podendo provocar efeitos adversos no sistema reprodutivo e causar falhas no desenvolvimento de variadas espécies animais (GUIMARÃES, 2008; MACHADO 2010; MOREIRA, 2008). Neste trabalho, os DEs pesquisados são os hormônios sexuais femininos, dentre eles os estrógenos naturais Estriol e Estrona, que por serem muito utilizados para uso médico em terapias de reposição hormonal e métodos contraceptivos, podem ser encontrados em abundância no ambiente, pois são excretados continuamente (MOREIRA, 2008). O objetivo deste projeto é avaliar os efeitos desses hormônios, sobre a função hepática dos peixes Rhamdia quelen após um tratamento sub-crônico de 30 dias. Para isso, foram avaliadas as atividades das enzimas que avaliam o dano hepático, como a alanina-aminotransferase (ALT), aspartato-aminotransferase (AST) e a fosfatase alcalina. Cada um dos testes analisou de forma completa o sistema hepático onde, por meio da fosfatase alcalina (ALP), foi avaliada a agressão ao trato biliar, e através das enzimas AST e ALT foram indicados os níveis de lesão celular. Os resultados obtidos demonstraram alterações importantes na função dos peixes tratados quando comparados com o controle, indicando que a exposição desses animais aos hormônios estriol e estrona é capaz de promover danos hepáticos. Palavras – chave: Desreguladores endócrinos. Enzimas hepáticas. Estriol. Estrona. ABSTRACT Endocrine disrupters (DE) are exogenous substances able to change one or more functions of the endocrine system, causing adverse effects on the integrity of the whole body, its descent and/or populations (COM, 1999). The releases of industrial effluents and domestic sewage in water bodies are the main forms of contamination by DEs, since these are excreted through urine and feces (MAY, 2008). One of the biggest concerns with these organic micropollutants, is that conventional water treatment processes do not remove DE completely, causing adverse effects on the reproductive system HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

83


Artigo Original and failures in the regular development of various animal species (GUIMARÃES, 2008; MACHADO, 2010; MOREIRA, 2008). The DEs surveyed here are female sex hormones, including estrogens Estrona and Estriol natural, which are widely used for medical purpose in hormone replacement therapies and birth control, and can be found in abundance in the environment because they are excreted continually (MAY, 2008). The goal of this project is to evaluate the effects of these hormones on liver function of Rhamdia quelen fish after a sub-crônico treatment of 30 days. For this, we evaluated the activities of the enzymes that evaluate the liver damage, as the alanine-aminotransferase (ALT), aspartateaminotransferase (AST) and alkaline phosphatase. Each of the tests analyzed the hepatic system where, by means of alkaline phosphatase (ALP), the aggression to biliary tract was evaluated. Through the enzymes AST and ALT levels of cellular injury were indicated. The results obtained showed important changes in the function of the treated fish when compared with the control, indicating that exposure of these animals to the hormones estriol and estrona is able to promote liver damage. Key-words: Endocrine disrupters. Hepatic enzymes. Estriol. Estrona. INTRODUÇÃO O sistema endócrino é um conjunto de órgãos que têm como principal característica a produção e secreção direta na corrente sanguínea de hormônios, os quais por sua vez vão atuar em outros órgãos, promovendo ou auxiliando no controle da função deste órgão. Apesar de serem capazes de controlar a maioria das funções metabólicas e endócrinas, as concentrações de hormônios necessárias para promover sua ação de regulação e controle são incrivelmente pequenas, podendo variar no sangue de não mais que um picograma. Portanto, a secreção desses hormônios é extremamente pequena e estritamente controlada pelo organismo (HALL et al., 2011). Por este motivo, a exposição, voluntária ou acidental, a substâncias naturais e/ou sintéticas que simulam a ação fisiológica desses hormônios, pode promover alterações importantes na saúde de seres humanos e animais. Essas substâncias são chamadas de desreguladores endócrinos (BILA, 2007). Os desreguladores endócrinos são por definição do Programa Internacional de Segurança Química (IPCS) juntamente com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), “substâncias ou compostos exógenos que alteram uma ou várias funções do sistema endócrino e geram, consequentemente, efeitos adversos sobre a saúde no HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

84


Artigo Original organismo intacto, sua descendência, ou (sub) populações” (COM, 1999). Consequentemente, essas substâncias químicas são de grande interesse científico. Segundo Damstra et al. 2002, um receptor hormonal apresenta alta sensibilidade e afinidade por determinado hormônio sintetizado pelo organismo. Contudo, os receptores hormonais podem se ligar a outras substâncias químicas, o que justifica o fato dos desreguladores endócrinos, mesmo em baixas concentrações, serem capazes de promover uma resposta similar à natural daquele determinado receptor, ou então bloquear o efeito que normalmente seria produzido pelo receptor (GHISELLI, 2006). Assim sendo, os desreguladores endócrinos são capazes de originar alterações no sistema endócrino, que pode ocorrer de três mecanismos diferentes: 1) atuando como antagonistas, de forma que reduza a atividade hormonal; 2) atuação como agonistas nos receptores endócrinos, levando a um aumento da atividade hormonal dos hormônios endógenos como o estrógeno e a testosterona; 3) por fim, quando afetam a síntese, o transporte, o metabolismo e a excreção dos hormônios naturais, alterando dessa forma as concentrações dos hormônios naturais no corpo (GHISELLI et al., 2007). A chegada dos DEs no meio ambiente ocorre por diferentes rotas, sendo que uma importante fonte de contaminação é o lançamento de efluentes industriais e esgoto doméstico, tratado ou in natura, em corpos d’água (MOREIRA, 2008). Dentre os DEs encontrados em sistemas aquáticos destacam-se os hormônios sexuais femininos, que são encontrados nas águas de superfícies, as quais são na maior parte das vezes utilizadas como suprimento de água potável. Esses compostos são o objeto de estudo desse trabalho. Dentre os hormônios sexuais, os estrógenos se destacam por serem compostos extremamente ativos biologicamente e estarem relacionados à etiologia de vários tipos de cânceres (FILHO et al., 2006). Os estrógenos naturais 17 -Estradiol (E2), Estriol, Estrona e o sintético 17 α –Etinilestradiol (EE2), desenvolvido para uso médico em terapias de reposição hormonal e métodos contraceptivos, são os que HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

85


Artigo Original despertam maior preocupação, tanto pela potência como pela quantidade contínua introduzida no ambiente (FILHO et al., 2006). Em geral, esses hormônios, tanto naturais quanto sintéticos, são rapidamente absorvidos pelo organismo, e então metabolizados pelo fígado. A sua excreção ocorre principalmente pela urina, como conjugados solúveis em água, e em menor proporção pelas fezes, demonstrando variações relacionadas com a solubilidade em água, taxa de excreção e catabolismo biológico. Quando em condições ambientais, os conjugados passam rapidamente por um processo de hidrólise, fazendo com que sejam liberados os hormônios livres e seus metabólitos (GHISELLI et al., 2007). Consequentemente,

os

estrógenos

atingem

o

meio

ambiente

diretamente, ou então após passarem por uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), onde os processos utilizados não são eficientes para retirá-los da água. Dessa forma, estão presentes nos ecossistemas, podendo chegar ao manancial de águas superficiais, a seus sedimentos, à matéria em suspensão e aos organismos aquáticos. A partir dessas afirmações é possível concluir que esses estrógenos, naturais ou sintéticos, em especial aqueles que fazem parte do grupo dos contraceptivos orais, podem ser considerados poluentes ambientais (GUIMARÃES, 2008). Diversas pesquisas já demonstraram que esses hormônios possuem efeitos danosos quando em contato com diferentes espécies animais, sendo capazes de provocar lesões cancerígenas, assim como alterações importantes no sistema reprodutivo das espécies (BROWN et al., 2008; DELCLOS et al., 2009; NASH et al., 2004). As alterações no metabolismo hepático e em processos celulares no organismo devido aos efeitos de diversos poluentes podem gerar mudanças nos testes do perfil bioquímico, possibilitando o estudo dos mecanismos destas substâncias (BEGUM, 2004; BORGES, 2005; GALEB, 2010). O fígado é um órgão de fundamental importância nos processos de metabolização de xenobióticos, promovendo a biotransformação dessas HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

86


Artigo Original substâncias, tendo como consequência a eliminação das mesmas do organismo (RODRIGUES, 2003; SOUZA, 2006 apud MONTANHA et al., 2012). Dentre as diversas funções hepáticas estão incluídas, o metabolismo de carboidratos, de lipídeos e de proteínas, sendo responsável pela desintoxicação e excreção de catabólitos e de outras substâncias, atuando também na síntese de vários fatores de coagulação (GALEB, 2010). As determinações da atividade de enzimas hepáticas são utilizadas como marcadores de lesão hepática e o aumento da sua atividade sérica pode ser decorrente da ruptura dos hepatócitos, que ocorre como resultado de processos como necrose celular (alanina-aminotransferase - ALT, ASTaspartato aminotransferase e LDH - lactato desidrogenase) ou do processo de agressão por agentes tóxicos (fosfatase alcalina - ALP e gama glutamiltransferase - GGT) (KANEKO,1989). A enzima ALT é responsável por catalisar de forma específica a transferência do grupo amina da alanina para o cetoglutarato, com formação de glutamato e piruvato, sendo que este último é reduzindo à lactato por ação da lactato desidrogenase (LDH), enquanto que a coenzima NADH é oxidada a NAD (ALT/GPT, 2013; GALANTE, 2012). Já a enzima AST catalisa especificamente a transferência do grupo amina do acido aspártico para o cetoglutarato com formação de glutamato e oxalacetato, o qual seria reduzido a malato por ação da malato desidrogenase (MDH), enquanto a coenzima NADH era oxidada à NAD (AST/ GOT, 2013; GALANTE, 2012). A Fosfatase alcalina promove a hidrolise da timolftaleína monofosfato liberando timolftaleína, que em meio alcalino apresenta a coloração azul (FOSFATASE ALCALINA, 2013). Os peixes são modelos animais excelentes para estudos de impacto toxicológico e tem sido muito utilizados para este fim. O peixe selecionado para esse estudo foi o Rhamdia quelen (Jundiá) que é um peixe teleósteo nativo da América do Sul.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

87


Artigo Original Desta forma, o objetivo desse trabalho foi avaliar o papel da exposição crônica dos desreguladores endócrinos estriol e estrona sobre a função hepática de peixes Rhamdia quelen. MÉTODOS Animais Os organismos utilizados foram peixes da espécie Rhamdia quelen (Jundiá), obtidos através de pisciculturas que não possuíam histórico de contaminação ou fontes próximas que pudessem fazê-lo. Os animais foram aclimatados durante aproximadamente 15 dias em tanques de 100 litros, e então separados para os bioensaios em aquários contendo no máximo 1 exemplar para cada 5 litros de água. A temperatura da água foi mantida em torno de 28-29ºC, e a aeração controlada. Tratamento Foram utilizados 15 peixes Rhamdia quelen (Jundiá), os quais permaneceram em água contaminada com 50 µg.L-1 dos hormônios estriol e estrona e foram alimentados com ração especifica a cada 48 horas, por um período de 30 dias para avaliação da toxicidade crônica desses compostos. Após esse período os animais foram anestesiados até a morte com benzocaína diluída em etanol a 20%. O procedimento de coleta ocorreu após a morte dos animais, onde foi realizada uma punção caudal com auxílio de seringa sem a utilização de anticoagulante, sendo obtidas, portanto, amostras de soro dos animais. Determinação das atividades enzimáticas Para determinação da atividade das enzimas hepáticas foram utilizadas amostras sanguíneas dos peixes, as quais foram centrifugadas à HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

88


Artigo Original 2.500 rpm, para obtenção do soro, necessário para as determinações espectrofotométricas. Em todos os testes foram utilizados kits da marca LabTest®. Determinação da atividade aminotransferase (ALT)

A

atividade

enzimática

foi

enzimática

avaliada

através

da

Alanina-

de

metodologia

colorimétrica, como indicado na bula do kit LabTest. A redução da absorbância em 340 nm, consequente à oxidação da coenzima NADH, é monitorada espectrofotometricamente, sendo diretamente proporcional à atividade enzimática. Determinação da atividade aminotransferase (AST)

enzimática

da

Aspartato-

O sistema para a determinação da Aspartato-aminotransferase (AST) utiliza metodologia colorimétrica, como indicado na bula do kit LabTest. A redução da absorbância em 340 nm, consequente à oxidação da coenzima NADH, foi monitorada espectrofotometricamente, sendo diretamente proporcional à atividade enzimática. Determinação da atividade enzimática da Fosfatase Alcalina (ALP) Para determinar a atividade enzimática da Fosfatase alcalina (ALP) foram utilizados reagentes colorimétricos por método cinético de tempo fixo e medição de ponto final. O produto final da reação foi formado pela coloração azul (produzida pela timolftaleína) misturado com a cor própria do substrato que foi medida em 590 nm.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

89


Artigo Original DISCUSSÃO E DISCUSSÕES Os resultados obtidos a partir das determinações das atividades enzimáticas da ALT, AST e ALP para o grupo de peixes tratados com o hormônio estriol (tabela 1) e com o hormônio estrona (tabela 2), podem ser observados abaixo: Tabela 1 – Valores obtidos através das dosagens enzimáticas dos peixes Ramdhia quelen expostos ao hormônio estriol.

Tabela 2 – Valores obtidos através das dosagens enzimáticas dos peixes Ramdhia quelen expostos ao hormônio estrona.

As transaminases hepáticas alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST) são enzimas que possuem um papel chave nas reações de transaminação hepáticas, e podem ser utilizadas como biomarcadores de hepatotoxicidade, possuindo como principal objetivo monitorar danos hepáticos, que por sua vez, podem ocorrer por meio da exposição a agentes potencialmente tóxicos únicos ou em misturas complexas (SILINS et al., 2011). Enquanto

os

danos histopatológicos

necessitam

geralmente

de

exposições de longo prazo para serem detectados, as análises bioquímicas das atividades enzimáticas das enzimas AST e ALT são mais rapidamente detectadas e indicam tanto um efeito agudo, quanto crônico da exposição aos agentes tóxicos (VUTUKURU et al., 2007), pois suas atividades plasmáticas podem se elevar em doença hepatocelular grave em algumas espécies de peixe (GALEB, 2010; MARTINS, 2004). Estudos recentes com peixes HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

90


Artigo Original demonstraram

que

as

mudanças

nas

atividades

enzimáticas

são

provenientes de alterações bioquímicas induzidas por poluentes (HEATH, 1995). No

presente

trabalho

avaliou-se

a

atividade

enzimática

das

transaminases hepáticas e da fosfatase alcalina, buscando monitorar os prováveis danos hepáticos nos peixes Rhamdia quelen, provocados pelos desreguladores endócrinos. A alanina aminotransferase (ALT) é uma enzima de extravasamento que está livre em grande concentração no citoplasma de hepatócitos. Quando os hepatócitos passam por um processo de alteração importante, como ocorre nos casos de lesão, ou até mesmo necrose da célula, pode ocorrer um aumento da atividade sérica de ALT (MONTANHA et al., 2012). Em caso de lesões agudas, é provável que a atividade sérica de ALT seja proporcional à quantidade de células lesadas. Contudo, a magnitude da atividade de ALT não indica a causa ou o tipo da lesão que acomete os hepatócitos (THRALL et al., 2007). A atividade de ALT nos peixes tratados com hormônio estriol apresentou uma atividade três vezes superior aos valores encontrados nos organismos utilizados como controle, que eram os peixes que não foram submetidos a contaminação com hormônios (Tabela 1 e Gráfico 1). Nos animais tratados com estrona, foi verificado um aumento de cerca de 20% da atividade sérica de ALT, quando comparado com o controle negativo (Tabela 2 e Gráfico 1). Em peixes a atividade plasmática de ALT se eleva aproximadamente 12 horas após a lesão hepática, podendo se elevar também durante a fase de recuperação da lesão hepática, quando os hepatócitos estão promovendo regeneração ativa (THRALL et al., 2007). Vutukuru 2007 observou um significativo aumento das transaminases hepáticas em peixes Labeo rohita, expostos ao metal arsénio e chegou a conclusão que essas elevações ocorrem devido a um possível vazamento de HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

91


Artigo Original enzimas através das membranas plasmáticas danificadas, refletindo uma situação de dano tecidual. Outro estudo realizado por Yang 2003, em peixes Cyprinus carpio, também demonstrou um aumento da atividade de AST, ALT e ALP após a exposição de gálio, que segundo o autor, é decorrente de uma situação de danos teciduais e estresse. A enzima aspartato aminotransferase (AST) encontra-se presente em maior concentração na mitocôndria de hepatócitos, células musculares esqueléticas e cardíacas de todas as espécies (MONTANHA et al., 2012). A determinação da atividade enzimática da AST nos peixes tratados com estrona indicou uma redução em 50% na sua atividade quando comparado com o controle (Tabela 2, Gráfico 1). Contudo, não é normal o aparecimento destas enzimas no soro de seres humanos e/ou animais, portanto, níveis reduzidos das mesmas não podem ser tratados como alterações

fisiológicas,

e

sim,

como

uma

determinação

dentro

da

normalidade. Por meio desta observação, as reduções encontradas para o grupo estrona, não representam significado clínico. É importante observar que não foi possível realizar a determinação da AST nos peixes submetidos à exposição com o estriol, devido à interferência dos níveis de hemoglobina na amostra, pois a técnica utilizada recomendava que o valor máximo de hemoglobina permitido deveria ser de até 45 mg/dL, e a amostra de soro utilizada encontrou-se em 61 mg/dL de hemoglobina. Isso ocorreu como resultado de coletas extremamente difíceis, nas quais os eritrócitos apresentaram um elevado índice de hemólise, dando origem a liberação de uma concentração de hemoglobina no soro superior à permitida. Salienta-se que esse interferente não afetou a dosagem de ALT (máximo 180 mg/dL de hemoglobina). A fosfatase alcalina é uma enzima de indução sintetizada no fígado, nos osteoblastos, nos epitélios intestinal e renal, sendo que grande parte da atividade plasmática encontrada para esta enzima corresponde às formas

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

92


Artigo Original hepáticas e ósseas. Entretanto os hepatócitos respondem pela maior parte da atividade sérica normal de ALP (MONTANHA et al. 2012). Após o tratamento sub-crônico de 30 dias com os hormônios estriol e estrona houve um aumento na atividade enzimática da ALP em cerca de 2 e 3 vezes respectivamente (Tabela 1 e 2; Gráfico 1). O aumento das concentrações séricas de ALP pode estar diretamente relacionado aos casos de maior atividade osteoblástica, colestase, indução por drogas e várias doenças crônicas (THRALL et al., 2007). Neste caso, o aumento observado da atividade enzimática sérica da ALP pode ser relacionado à indução pelos desreguladores endócrinos pesquisados. No entanto, em alguns casos, pode-se observar uma redução na concentração sérica de ALP, como por exemplo, no estudo realizado por Montanha et al., 2014, em peixes jundiá (Rhamdia quelen) expostos a concentrações de cipermetrina 1,5 e 2,5 mg / L, onde o autor observou uma diminuição da atividade enzimática desta, quando comparado com o grupo controle. Este é um caso similar ao da enzima AST no presente trabalho, e por se tratar de uma redução da atividade enzimática, esses resultados não representam significado clínico. Gráfico 1 – Porcentagem da atividade enzimática em relação ao controle negativo.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

93


Artigo Original Os hormônios pesquisados são capazes de provocar um desequilíbrio entre a geração de espécies reativas de oxigênio e os mecanismos de defesa antioxidante (JÚNIOR, CRISTÓVÃO & HERRERIAS, 2014) que é conhecido como estresse oxidativo, que por sua vez pode gerar lesões cancerígenas, além de outras doenças (ZHOU et al., 1991). O metabolismo dos peixes é amplamente oxidativo (BASER et al., 2003; OSTI et al., 2007; POLAT et al., 2002; VIRAN et al., 2003; VELISEK et al., 2007), possibilitando, portanto, a geração de espécies reativas de oxigênio, e tendo como resultado o estresse oxidativo. Desse modo, é possível sugerir que as alterações observadas nas enzimas hepáticas pesquisadas podem ser o resultado de um aumento no estresse oxidativo no hepatócito, que é um dos mecanismos comprovados para promover danos celulares (BERTOLAMI, 2005). Entretanto, novos estudos são necessários, utilizando-se outros desreguladores e em outras doses para melhor compreensão do papel desses compostos na alteração da função hepática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Através dos resultados obtidos foi possível verificar que a exposição crônica aos hormônios estriol e estrona deu origem a alterações nas dosagens das enzimas hepáticas dos peixes Rhamdia quelen, indicando um quadro de lesão no hepatócito. Estes resultados motivam novos experimentos utilizando outros desreguladores endócrinos e em dosagens diferentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALT/GPT Liquiform. Ref.: 108. LabTest® Diagnóstica S.A., 2013. Lagoa Santa – Minas Gerais. AST/GOT Liquiform. Ref.: 109. LabTest® Diagnóstica S.A., 2013. Lagoa Santa – Minas Gerais. BASER, S.; ERKOÇ. F.; SELVI, M.; KOÇAK, O. Investigation of acute toxicity of permethrin on guppies Poecilia reticulate. Chemosphere, v. 51, p. 469-474, 2003. HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

94


Artigo Original BEGUM, G. Carbofuran insecticide induced biochemical alterations in liver and muscle tissues of the fish Clarias batrachus (linn) and recovery response. Aquatic Toxicology, n. 66, p. 83-92, 2004. BERTOLAMI, M. C. Mecanismos de hepatotoxicidade. Scielo. Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo. Arq. Bras. Cardiol. Vol. 85. Suppl.5 São Paulo Oct 2005. BILA, D. M.; DEZOTTI, M. Desreguladores endócrinos no meio ambiente: efeitos e consequências. Quim. Nova, Rio de Janeiro, v. 30, n. 3, p. 651-667, fev. 2007. BORGES, A. Valores hematológicos e bioquímicos séricos, efeitos de doses subletais da cipermetrina e características físico-químicas do sêmem do Jundiá Rhamdia quelen. Porto Alegre, 2005. 175 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005. BROWN, KIM H; IRVIN R SCHULTZ; JAMES J NAGLER. Reduced embryonic survival in rainbow trout resulting from paternal exposure to the environmental estrogen 17α-ethynylestradiol during late sexual maturation. Reproduction. 2007 November; 134(5): 659–666. COM.1999 “Community strategy for endocrine disrupters: a range of substances suspected of interfering with the hormone systems of humans and wildlife. Communication from the commission to the council and the European parliament.” Commission of the European Communities, Bruxelas, Belgica, 706., Disponível em < http://ec.europa.eu/environment/docum/99706sm.htm> Acesso em: 25 de abril de 2012. DAMSTRA et al. “Global Assessment of the State – of – the Science of Endocrine Disrupters.” World Health Organization – International Programme on Chemical Safety, 180. 2002. DELCLOS, K. B.; WEIS CONSTANCE C., THOMAS J. BUCCI, GREG OLSON, PAUL MELLICK, NATALYA SADOVOVA, JOHN R. LATENDRESSE, BRETT THORN, AND RETHA R. NEWBOLD. Overlapping but distinct effects of genistein and ethinyl estradiol (EE2) in female Sprague-Dawley rats in multigenerational reproductive and chronic toxicity studies. Reprod Toxicol. April; 27(2): 117–132, 2009.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

95


Artigo Original FILHO, R. W. R.; ARAÚJO, J. C.; VIEIRA, E. M. Hormônios sexuais estrógenos: contaminantes bioativos. Quim. Nova, São Carlos, v. 29, n. 4, p. 817-822, abr. 2006. FOSFATASE ALCALINA Liquiform. Ref.: 79. LabTest® Diagnóstica S.A., 2013. Lagoa Santa – Minas Gerais. Bula de instruções técnicas. GALANTE, Fernanda; Marcus Vinicius Ferreira de Araújo. Fundamentos de bioquímica: para universitários, técnicos e demais profissionais da área de saúde / São Paulo : Rideel, 2012. GALEB, L. A. G. Avaliação dos efeitos toxicológicos da deltametrina em uma espécie de peixe fluvial nativo jundiá (Rhamdia quelen). Curitiba, 2010. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) - Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2010. GHISELLI, G. Avaliação da qualidade das águas destinas ao abastecimento público na região de Campinas: Ocorrência da determinação dos Interferentes Endócrinos (IE) e Produtos Farmacêuticos e de Higiene Pessoal (PFHP), 2006, 190 páginas, Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas – SP, 2006. GHISELLI, G.; JARDIM, W. F. Interferentes endócrinos no ambiente. Quim. Nova, Campinas, v. 30, n. 3. p. 695-706, fev. 2007. GUIMARÃES, T. S. Detecção e quantificação dos hormônios sexuais 17 β-estradiol (E2), estriol (E3), estrona (E1) e 17 α-etinilestradiol (EE2) em água de abastecimento: estudo de caso da cidade de São Carlos, com vistas ao saneamento ambiental. 2008. 81f. Dissertação (Mestrado em Hidráulica e Saneamento) – Faculdade de Engenharia, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2008. HALL, John E. Tratado de Fisiologia Médica, 12º Edição, Ed. Elsevier, Rio de Janeiro – RJ, 2011, capitulo 74 – Introdução à Endocrinologia. HEATH, A.G. Water Pollution and Fish Physiology. 2 Ed. Lewis publishers, Boca Raton New York London Tokyo, 1995. HERRERIAS, T.; OLIVEIRA, B.H.; GOMES, M.A.B.; OLIVEIRA, M.B.M.;CARNIERI, E.G.S.; CADENA, S.M.S.C.; MARTINEZ, G.R.; ROCHA M.E.M. Eupafolin: Effect on mitochondrial energetic metabolism. Bioorganic & Medicinal Chemistry, Oxford, v.16, p.854-861, 2008.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

96


Artigo Original JÚNIOR, E.N.; CRISTÓVÃO, R.; HERRERIAS, T. Avaliação da toxicidade subcrônica dos desreguladores endócrinos. Relatório final do Programa de Iniciação Científica da Universidade Positivo, 2014. KANEKO, J.J. Clinical biochemistry of domestic animals. 4.ed. San Diego: Academic, 1989. 932p. MARTINS, L. H. B. Avaliação do impacto ambiental causado pelo efluente da indústria de polpa de celulose e papel, in situ, utilizando o bioindicador Oreochromis niloticus (Tilápia). 2004. Dissertação (Programa de Pós – Graduação em Engenharia Ambiental) Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. MACHADO, K. S. Determinação de hormônios sexuais femininos na bacia do Alto Iguaçú, região metropolitana de Curitiba-PR. 2010. 116f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental) – Faculdade de Engenharia Ambiental, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010. MONTANHA, F. P.; PIMPÃO, C.T. Efeitos toxicológicos de piretróides (Cipermetrina e Deltametrina) em peixes – Revisão. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária , n. 18, 2012. MONTANHA, F.P.; FREDIANELLI, A.C.; WAGNER R.; SACCO S.R.; ROCHA D.C.C.; PIMPÃO, C.T. Efeitos clínicos, bioquímicos e hematológicos em Rhamdia quelen expostos à cipermetrina. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. Vol. 66 no. 3 Belo Horizonte, 2014. MOREIRA, D. S. Desenvolvimento de metodologia analítica por cromatografia/espectrometria de massas para avaliação da ocorrência de perturbadores endócrinos em mananciais de abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte. 2008. 123f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) – Faculdade de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2008. NASH, JON P.; DAVID E. KIME, LEO T. M. VAN DER VEN, PIET W. WESTER, FRANÇOIS BRION, GERD MAACK, PETRA STAHLSCHMIDTALLNER, CHARLES R. TYLER Long-Term Exposure to Environmental Concentrations of the Pharmaceutical Ethynylestradiol Causes Reproductive Failure in Fish. Environmental Health Perspectives • v 112 | n 17 | December 2004.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

97


Artigo Original OSTI, S. C.; VAROLI, F. M. F.; MATUSHIMA, E. R.; BERNARDI, M. M. Comparative studies of delthametrin acute toxicity in exotic and brasilian fish. Journal of the Brazilian Society Ecotoxicology, v. 2, n. 2, p.101-106, 2007. POLAT, H.; ERKOÇ, F. U.; VIRAN, R.; KOÇAK, O. Investigation of acute toxicity of beta-cypermethrin on guppies Poecilia reticulata. Chemosphere, v. 49, p. 39-44, 2002. RODRIGUES, L. C. Bioquímica sistema de biotransformação de xenobióticos. Rio de Janeiro, 2003. Adaptado da tese "Estudo das glutation S-transferases hepáticas solúveis do peixe piaractus mesopotamicus Holmberg, 1887 (pacu)” apresentada por Luciana Camacho Rodrigues à Pós-graduacao em Biologia do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes/UERJ em fevereiro de 2003 para obtenção do grau de doutor em Ciência. SILINS, I; HÖGBERG, J. Combined Toxic Exposures and Human Health: Biomarkers of Exposure and Effect. Int. J. Environ. Res. Public Health, Switzerland v. 8, 629-647, 2011. THRALL, M. A; BAKER, D. C; CAMPBELL, T. W; DENICOLA, D; FETTMAN, M. J; LASSEN, E. D; REBAR, A; WEISER, G. Hematologia e bioquímica clínica veterinária. São Paulo: Editora Roca, 2007b. Cap.19: Hematologia de Peixes. VELISEK, J.; JURCIKOV, J.; DOBSIKOVÁ, R.; SVOBODOVÁ, Z.; PIACKOVÁ, V.; MÁCHOVÁ, J.; NOVOTNY, L. Effects of deltamethrin on rainbow trout (Oncorhynchus mykiss). ScienciDirect. Environmental Toxicology and Pharmacology, v. 23, p. 297-301, 2007. VIRAN, R.; ERKOÇ, F. R.; POLAT, H.; KOÇAK, O. Investigation of acute toxicity of deltamethrin on guppies (Poecilia reticulata). Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 55, p. 82-85, 2003. VUTUKURU, S.S.; PRABHATH, N.A; RAGHAVENDER, M.; YERRAMILLI, A. Effect of Arsenic and Chromium on the Serum Amino-Transferases Activity in Indian Major Carp, Labeo rohita. Int. J. Environ. Res. Public Health 2007, 4(3), 224-227. YANG, Jen-Lee; Chen, Hon-Cheng: Serum Metabolic Enzyme Activities and Hepatocyte Ultrastructure of Common Carp after Gallium Exposure, Zoological Studies, 2003, Vol. 42 (3), pp. 455-461.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

98


Artigo Original ZHOU, Y. C.; ZHENG, R. L. Phenolic compounds and an analog as superoxide anion scavengers and antioxidants. Biochemical Pharmacology, v. 42, n. 6, pp. 1177-1179, 1991.

HARZER, Bárbara; STIPP, Maria Carolina; HERRERIAS, Tatiana. Avaliação da função hepática de peixes Rhamdia quelen expostos aos desreguladores endócrinos estriol e estrona. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 82-99, fev. 2015.

99


Artigo Original Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde Bahia Michele Santana Pacheco de Almeida Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde. Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

Vânia de Santana Silva Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde. Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde. Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

Deivid Silva de Araújo Esquivel Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde. Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

100


Artigo Original Ana Paula do Carmo Santos Estudante de Pós-Graduação em Especialização em Gestão de Saúde. Programa Nacional de Administração Pública, Universidade Aberta do Brasil. Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira. Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil.

Helson Freitas da Silveira Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfofuncionais. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.

Ana Paula Fragoso de Freitas Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, Brasil.

Howard Lopes Ribeiro Júnior Professor-Pesquisador II da Especialização em Gestão de Saúde. Programa

Nacional

Universidade

Aberta

de

Formação

do

Brasil.

em

Administração

Universidade

da

Pública, Integração

Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Campus de São Francisco do Conde, Bahia, Brasil. E-mail: howard@unilab.edu.br

ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

101


Artigo Original RESUMO O presente trabalho buscou avaliar o conhecimento que as estudantes da Educação de Jovens e Adultos no Ensino Médio, de uma escola pública do município de São Francisco do Conde, na Bahia, apresentam sobre conceitos e importância do exame das mamas como fator preventivo ao câncer de mama precoce. A pesquisa se desenvolveu mediante um estudo exploratório do tipo descritivo, quantitativo com base em um questionário avaliativo, aplicado a uma população constituída por mulheres com a faixa etária entre 18 e 70 anos. A coleta de dados foi realizada com 124 estudantes que se disponibilizaram em responder um questionário com perguntas abertas e fechadas sobre a realização do exame das mamas e o seu impacto na prevenção do câncer de mama. Os principais resultados indicaram que: houve uma predominância de estudantes na faixa de idade de 20 a 49 anos, autodenominadas negras, com estado civil solteiro e sem filhos. Adicionalmente, avaliamos que predominou mulheres que conhecem o exame das mamas, mas não o realiza, e que frequentam o médico ginecologista ou clinico geral de 2 a 3 vezes ao ano, porém o profissional de saúde não realiza o exame das mamas na maioria dos casos. A partir do presente estudo foi possível ser constatado que as informações e orientações quanto às ações de prevenção ao câncer de mama na saúde pública do referido munícipio tem sido pouco efetivas, necessitando, portanto, de uma intensificação das atividades desenvolvidas pelos profissionais de saúde que atuam nas atividades relacionadas à saúde da mulher, promovendo um aumento na conscientização da importância da realização do exame das mamas periodicamente. Palavras – chave: Câncer de mama; Conhecimento sobre câncer de mama; Saúde da Mulher. ABSTRACT This study aimed to evaluate the knowledge that the students of the Youth and Adult Education in High School, a public school in São Francisco do Conde, Bahia, present on concepts and importance of breast examination as a preventive factor for cancer early breast. The research was developed through an exploratory study of descriptive, quantitative type based on an evaluation questionnaire administered to a population made up of women aged between 18 and 70 years. Data collection was performed with 124 students who agreed to answer a questionnaire with open and closed questions on the examination of the breasts and their impact on the ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

102


Artigo Original prevention of breast cancer. The main results showed that: there was a predominance of students in the age group 20-49 years old, self-styled black, with unmarried and childless. Additionally, we evaluated that prevailed women who know the breast exam, but do not realize it, and attending the gynecologist or general practitioner doctor 2-3 times a year, but the provider does not perform breast examination in most cases. From the present study it was possible to be seen that the information and guidance on the actions to prevent breast cancer in public health of this municipality has been ineffective, requiring therefore an intensification of the activities developed by health professionals working in activities related to women's health, promoting an increase in awareness of the importance of the examination of the breasts regularly. Keywords: Breast cancer; Knowledge about breast cancer; Women's Health

INTRODUÇÃO O Câncer de Mama consiste em uma neoplasia maligna, hereditária ou não, desenvolvida no tecido mamária e correspondendo a principal neoplasia no mundo que leva ao óbito mulheres com idade superior a 50 anos (MARTINS 2009; BORGES, 2010; BIZERRA, 2013). O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que o quantitativo de novos casos de câncer de mama no Brasil, em 2014, será de 57.120 (SILVA; FRANCO; MARQUESINCA, 2005; INCA, 2014) com um risco estimado de 56,09 casos a cada 100 mil mulheres. Já no estado da Bahia, de acordo com o INCA, foram previstos 2.560 casos novos de câncer de mama no estado da Bahia até o final de 2014, sendo 980 destes em Salvador (SILVA; FRANCO; MARQUESINCA, 2005; CUNHA, 2009, p. 3; INCA, 2014). Em relação aos fatores de risco que podem favorecer a minimização dos casos de câncer de mama, podem ser destacados os relacionados à idade, especialmente em mulheres acima dos 40 anos, a terapia de reposição hormonal e o histórico de câncer na família. Fatores comportamentais ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

103


Artigo Original também no acometimento do câncer de mama, tais como a obesidade, o tabagismo e o uso do álcool (INCA, 2014). Segundo Silva et al (2009), o exame da mama consiste em um exame físico simples, podendo ser realizado pela própria mulher (autoexame) ou por profissional da saúde especializado, sem causas de dor, gratuito e essencial

para a detecção precoce do câncer de mama, prolongando a

sobrevida da paciente (SILVA et al, 2009; INCA, 2014). É fundamental, também para o conhecimento mais aprofundado pela mulher das próprias mamas de forma a familiarizar-se com a forma, tamanho, aspecto da pele e do mamilo, o que vai facilitar precocemente, a detecção de anormalidades possibilitando um bom prognóstico, podendo evitar a mutilação da mama. Baseado neste contexto, o presente trabalho é resultado de uma pesquisa pioneira desenvolvida no município de São Francisco do Conde – BA, buscando avaliar o conhecimento de mulheres estudantes do Ensino Médio de um colégio da rede pública de ensino sobre o câncer de mama e a realização do autoexame, seja pela própria mulher ou pelo médico assistencialista da rede pública de saúde, frente à conscientização e minimização da ocorrência desta neoplasia no referido município. MÉTODOS A presente pesquisa trata-se de um estudo exploratório do tipo descritivo, quantitativo, utilizando-se de dados primários obtidos a partir de questionários avaliativos aplicados a estudantes matriculadas no curso de Educação de Jovens e Adultos do Ensino Médio em um colégio público estadual localizado no município de São Francisco do Conde – Bahia, buscando a obtenção de informações sobre o conhecimento e a realização do autoexame como fator de proteção ao câncer de mama precoce.

ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

104


Artigo Original Os dados foram coletados a partir das respostas de 124 mulheres estudantes, de um total de 368 alunos matriculados na referida unidade de ensino. A análise dos dados possibilitou obter descrições sobre aspectos sócio demográficos das estudantes, com as variáveis: faixa etária, naturalidade, etnia, estado civil e número de filhos, seguida da descrição das variáveis associadas a realização do autoexame como fator de prevenção ao acometimento do câncer de mama tais como frequência de ida ao clínico geral e ao ginecologista e sobre o conhecimento e a realização do autoexame das mama tanto pela estudante quanto pelo médico. O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira sob número de protocolo: 566.468. Os dados obtidos a partir das análises das variáveis contidas nos questionários foram tabulados e analisados através da estatística analítico-descritiva, com auxílio do software Microsoft Office Excel 2010. RESULTADOS

Do

total

de

124

estudantes

avaliadas,

observamos

uma

predominância de estudantes na faixa etária entre 20 a 49 anos de idade (68,0%), seguida de estudantes na faixa etária de 18 a 19 anos (29,4%); 54,5%

e

37,4%

das

mulheres

considerando-se

negras

e

pardas,

respectivamente; 78,0% das mulheres apresentando estado civil de solteiras e 65,3% das entrevistadas declarando-se não possuírem filhos (Tabela 1). Com relação as variáveis associadas ao autoexame da mama como fator preventivo ao câncer de mama, avaliamos que 57,8% (70/121) das estudantes afirmam que conhecem o autoexame das mamas, mas não o realiza em 67,2% (80/119) dos casos (Tabela 2). Adicionalmente, observamos ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

105


Artigo Original que

47,9%

(57/119)

e

47,0%

(55/117)

das

mulheres

frequentam,

respectivamente, o clínico geral e o ginecologista entre 2 a 3 vezes ao ano (Tabela 2). Ainda referente à ida da estudante ao ginecologista, observamos que 58,3% (70/120) das mulheres informaram que o ginecologista não examina

suas

mamas

no

momento

da

consulta.

Tabela 1: Descrição dos aspectos sócio demográficos. Variáveis Faixa Etária*, ** 18 a 19 anos 20 a 49 anos 50 anos ou mais Naturalidade São Francisco do Conde Outras localidades Etnia* Branca Parda Negra Amarela Indígena Estado Civil* Solteira Casada Separada/Divorciada/Desquitada Viúva Possui Filhos* Sim Não

Nº de Pacientes (N=124)

%

35 81 3

29,4 68,0 2,5

38 86

30,6 69,4

4 46 67 2 4

3,3 37,4 54,5 1,6 3,3

96 21 3 3

78,0 17,1 2,4 2,4

43 81

34,7 65,3

* 1 (um) ou mais participantes não responderam ao questionamento. ** Média de 18,2 (26,0 – 13,0) anos de idade.

ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

106


Artigo Original Tabela 2: Descrição das variáveis associadas ao autoexame da mama como fator preventivo ao câncer de mama. Variáveis Frequência de ida ao clínico geral* 0-1 vez por ano 2-3 vezes por ano 4 ou mais vezes por ano Frequência de ida ao ginecologista* 0-1 vez por ano 2-3 vezes por ano 4 ou mais vezes por ano Conhece o autoexame das mamas* Sim Não Realiza o autoexame das mamas* Diariamente Ocasionalmente Raramente Não realiza Realização do exame da mama pelo ginecologista* Sim Não

Nº de Pacientes (N=124)

%

33 57 29

27,7 47,9 24,4

47 55 15

40,2 47,0 12,8

70 51

57,8 42,2

13 14 12 80

10,9 11,8 10,1 67,2

50 70

41,7 58,3

* 1 (um) ou mais participantes não responderam ao questionamento.

Quanto à caracterização das variáveis relacionadas às campanhas municipais de saúde da cidade de São Francisco do Conde frente à promoção da prevenção ao câncer de mama, identificamos que as estudantes reconhecem (84,4%, 103/122) e veem como importante (98,4%, 122/124) a realização das campanhas de saúde promovidas pelo município em questão (Tabela 3). No entanto, 59,1% (55/93) das estudantes informam que raramente participam das campanhas. Adicionalmente, 59,1% (100/124) das mulheres avaliadas informam que falta orientação nos postos de saúde frente à prevenção ao câncer de mama (Tabela 3). Tabela 3: Descrição das variáveis relacionadas às campanhas municipais de prevenção ao Câncer de Mama.

ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

107


Artigo Original

DISCUSSÃO Nesse estudo, em relação às variáveis sociodemográficas (faixa etária, etnia, estado civil), constatamos que a maioria das estudantes é de cor negra e solteira. Em relação à variável faixa etária, 40,3% das estudantes apresentou predominância de 20 a 29 anos, faixa de idade em que não é frequente a ocorrência do câncer de mama em mulheres, pois estudos comprovam que mulheres com menos de 30 anos não apresentam altas incidências da doença (TESSARO, 1999). No entanto, é sempre relevante considerar a importância da realização de exames clínicos na mama como prática de prevenção e detecção precoce ao câncer de mama. Em relação à cor da pele, 54,5% das alunas classificaram-se negras. Em relação a essa variável, a prevalência de surgimento de neoplasias de mama são maiores nas mulheres de pele branca, porém o diagnóstico tardio é realizado mais frequentemente na população feminina afrodescendente (BAIRROS; MENEGHEL; OLINTO, 2008). Segundo estudos, mulheres ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

108


Artigo Original negras fazem menos os exames essenciais para detecção precoce do câncer de mama (BERGMAN, 2000).

Com efeito, tal fato nos alerta para a

necessidade de implantar políticas para melhorar o acesso aos serviços de saúde focados na população mais vulnerável no referido município. Quanto

ao

estado

civil

das

entrevistadas,

observamos

uma

predominância de mulheres com estado civil solteiro (78,0%). Estudos confirmam que o diagnóstico de câncer em mulheres solteiras traz grandes desafios, pois essas se encontram em fase reprodutiva, constituindo família e iniciando carreira profissional (GRIPPA et al., 2003). Sobretudo, observa-se que as mulheres casadas apresentam maior incidência da doença quando comparadas com as solteiras (BERGMANN, 2000). Das entrevistadas, cerca de 65,3% responderam que não possuem filhos, e, sobre esse ponto, pesquisas indicam que o maior número de filhos e a maternidade podem ser fatores protetores ao câncer de mama (TESSARO, 1999). Com relação aos fatores preventivos ao câncer de mama, 40,2% das mulheres pesquisadas apresentaram uma baixa frequência na consulta ao ginecologista, apenas 0 -1 vez ao ano. A consulta ao médico é de fundamental importância na prevenção e detecção precoce do câncer mamário, conforme o INCA (2014). Sobre o uso de pílula anticoncepcional 23,7% afirmaram usá-la, isso se constitui como fator de risco ao câncer de mama, segundo o INCA (2014). Sobre o exame das mamas realizado pelo médico ginecologista, 58,3% responderam que o médico em questão não realiza tal procedimento. Contudo, 57,8% das entrevistadas afirmaram conhecerem o autoexame das mamas, enquanto que 67,2% desse total não realizam o autoexame das mamas com periodicidade. Segundo o INCA (2014), o exame das mamas realizado por profissionais de saúde (médicos e enfermeiros, por exemplo) é ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

109


Artigo Original de extrema importância para detecção precoce do câncer de mama. Martins (2009, p. 22) considera que o exame clínico das mamas e a mamografia são de extrema relevância para a detecção precoce da doença, pois a redução da mortalidade está associada tanto pelo rastreamento quanto pelo tratamento adequado. Quando há um retardamento no diagnóstico as chances de sobrevida são reduzidas (INCA, 2014). Em relação às campanhas municipais de prevenção ao câncer de mama, 98,4% responderam que consideram importante a realização das campanhas, 84,4% afirmaram que a Secretaria de Saúde realiza campanhas de prevenção, entretanto, 59,1% raramente participam de tais campanhas de prevenção ao câncer de mama. Sobre a orientação para prevenção ao câncer de mama nos postos de saúde, 80,6% consideraram que falta orientação nos postos de saúde. Tais aspectos indicam que os postos de saúde do município precisam intensificar as atividades de prevenção ao câncer de mama para que as mulheres possam conhecer o próprio corpo, buscando cuidar da saúde, se atentando para a prevenção ao câncer de mama através de hábitos de vida saudáveis, a necessidade de frequentar o ginecologista com regularidade e da realização periódica do autoexame das mamas, como também o exame clínico nos hospitais pelo profissional médico. CONCLUSÕES A partir do presente estudo, estima-se que as estudantes do município de São Francisco do Conde necessitam de mais informações sobre prevenção ao câncer de mama, especialmente nos postos de atenção básica em saúde. A partir dessas informações, as mulheres sanfranciscanas poderão obter o conhecimento necessário para se prevenirem contra o câncer de mama que é uma das doenças que mais matam as mulheres no Brasil e no mundo, ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

110


Artigo Original segundo as pesquisas da OMS e do INCA. Estudos posteriores poderão ampliar a amostra de mulheres entrevistadas, buscando abranger um maior número de informações sobre o conhecimento das mulheres sanfranciscanas sobre o câncer de mama, possibilitando mais dados que visem melhorar as políticas públicas de saúde do município em questão. Agradecimentos Agradecemos o apoio da Sra. Valdinéia Ferreira Lima, diretora responsável pelo Colégio Estadual Matinho Salles Brasil, por permitir e disponibilizar o acesso da equipe executora da presente pesquisa para aplicar os questionários às estudantes foco desta pesquisa. Este estudo foi apoiado e suportado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, juntamente com a Universidade Aberta do Brasil – UAB. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BARROS, F. S.; MENEGHEL, S. N.; OLINTO, M. T. A. Citopatologia e exame de mama: desigualdade de acesso para mulheres negras no sul do Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, v.17, n.2, p.138-141, 2008. BERGMANN, A. Prevalência de linfedema subsequente a tratamento cirúrgico para o câncer de mama. 2000. 132f. (Dissertação) (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2000. BIZERRA, R.F.C; SANTOS, A. A. P.; SILVA, R. C.; MONTEIRO, E. K. R.; DOURADO, K. M. O. P.; SANTOS, J. A.; CERQUEIRA, G. S. Câncer de mama: prevenção e detecção precoce na atenção básica. Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 17, nº 176, jan. 2013. BORGES, R. Qualidade de vida de mulheres com câncer de mama e ginecológico mo município de Rio do Oeste segundo o olhar do WHOQOL – BREF da OMS. Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 15, nº 149, out. 2010.

ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

111


Artigo Original CUNHA, N. F. Políticas Públicas no Brasil com ênfase na prevenção do câncer de mama. 2009. 14f. (Monografia/Artigo) (Especialização em Vigilância Sanitária) - IFAR – Universidade Católica de Goiânia, Goiânia, 2009. GRIPPA, C. G.; HALLAL, A. L. C.; DELLAGIUSTINA, A. R.; TRAEBERT, E. E.; GONDIN, G.; PEREIRA, C. Perfil clínico e epidemiológico do câncer de mama em mulheres jovens. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 32, n. 3, p. 50-58, 2003. INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER. Estimativa 2014. Incidência do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2014. MARTINS, C. H. F. Ambiente de informações para apoio à decisão dos gestores do controle do câncer de mama. 2009. 120f. (Dissertação) (Mestrado Modalidade Profissional em Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Rio de Janeiro, 2009. SILVA, N. C. B.; FRANCO, M. A. P.; MARQUES, S. L. Conhecimento de mulheres sobre câncer de mama e de colo do útero. Paidéia, v. 15, n. 32, p. 409-416, 2005. SILVA, R. M. et al. Realização do autoexame das mamas por profissionais de enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 43, n. 4, Dec. 2009. TESSARO, S. Epidemiologia do câncer de mama. In: Câncer de Mama (D. L. Basegio, org.), p. 1-11, Rio de Janeiro: Editora Revinter. 1999.

ALMEIDA, Michele Santana Pacheco de; SILVA, Vânia de Santana; SILVA, Itaciara de Oliveira do Carmo da Silva; ESQUIVEL, Deivid Silva de Araújo; SANTOS, Ana Paula do Carmo; SILVEIRA, Helson Freitas da; FREITAS, Ana Paula Fragoso de; JÚNIOR; Howard Lopes Ribeiro. Auto-exame das mamas como fator de prevenção ao câncer: uma abordagem com estudantes de uma escola pública da cidade de São Francisco do Conde - Bahia. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 100-112, fev. 2015.

112


Artigo Original Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí – Brasil Sabrina Almondes Teixeira Nutricionista, Especialista em Nutrição e Controle de Qualidade de Alimentos. Docente vinculada ao curso de Nutrição da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos PI. Email: sabrina.almondes@hotmail.com

Natália Santos Luz Nutricionista, Especialista em Saúde Pública. Docente vinculada ao curso de Nutrição da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos - PI.

Ellaine Santana de Oliveira Nutricionista, Especialista em Saúde Pública. Chefe do Setor de Nutrição e Dietética da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos - PI.

Rinna Santos de Almondes Graduanda em Nutrição. Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos - PI.

Jalles Dantas de Lucena Enfermeiro, Mestrando em Neurociências Cognitivas e Comportamento pela Universidade Federal da Paraíba.

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

113


Artigo Original Helierton Barbosa de Barros Licenciado em Ciências Biológicas. Especialista em Gestão ambiental pela Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro-RJ.

RESUMO O processo de trabalho dentro de uma Unidade Produtora de Refeições (UPR) exige que as atividades de preparo de alimentos, na maioria dos casos, sejam desenvolvidas sob diferentes riscos decorrentes de condições precárias do próprio ambiente ou do processo operacional utilizado. Tais riscos são capazes de afetar a saúde, a segurança e o bem-estar do trabalhador, podendo causar doenças profissionais ou do trabalho e/ou ocupacionais. Dessa forma o objetivo da pesquisa foi avaliar os riscos à saúde dos funcionários, relacionados às condições de trabalho, em UPRs privadas de um município do Piauí. Trata-se de um estudo transversal, descritivo, de caráter observacional, no qual se trabalhou com variáveis qualitativas e quantitativas. Analisou-se 6 (seis) estabelecimentos privados, localizados no perímetro urbano do município, em 2 (duas) etapas consecutivas. A primeira referiu-se às informações do perfil pessoal e funcional dos trabalhadores, informações estas disponibilizadas pela gerencia de cada estabelecimento. A segunda etapa consistiu na observação, pelos pesquisadores, quantos às atividades realizadas no setor. De forma geral, observou-se uma incidência considerável para todos os riscos avaliados, com destaque para duas UPRs, onde em uma houve uma maior frequência para os riscos biológicos (71,4%) e em outra para os ergonômicos (66,6%). Fato este que caracteriza essas unidades como um ambiente de risco para a saúde dos funcionários, caso os pontos observados não sejam corrigidos e controlados.

Palavras-chave: Alimentos. Meio ambiente. Saúde do Trabalhador.

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

114


Artigo Original ABSTRACT The work process within a Meal Producer Unit requires that the activities of food preparation, in most cases, must be developed under different risks conditions related to a precarious environment or to the operational process used. These risks can affect the health, safety and welfare of workers may cause work and/or occupational diseases. Thus, the aim of the research was to evaluate the health risks of employees, related to the working conditions in private UPRs in Piauí. It is a cross-sectional, descriptive study, of an observational kind, which deals with qualitative and quantitative variables. We analyzed six (6) private establishments, located in the urban perimeter, in two (2) consecutive steps. The first step refers to information relates to the workers personal and functional profile, this information was provided by the management of each establishment. The second step consists in the observation, by researchers, of the sector activities. Overall, there was a considerable incidence of all assessed risks, highlighting two UPRs, where, in one there was a higher frequency of biological risks (71.4%) and in the other, of ergonomic one (66, 6%). This fact characterizes these units as a place of risk to the health of employees, if the observed points are not corrected and controlled.

Keywords: Food. Environmental. Occupational Health.

INTRODUÇÃO Nas sociedades modernas, as dificuldades impostas pelos longos deslocamentos e a extensa jornada de trabalho impedem que um grande número de pessoas realize suas refeições regulares em família. Nesse contexto, as Unidades de Alimentação e Nutrição (UANs) e Unidades Produtoras de Refeições (UPRs) apresentaram-se como alternativas, favorecendo o elevado crescimento do setor de refeições coletivas (CARDOSO, SOUZA e SANTOS 2005).

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

115


Artigo Original No Brasil, atualmente, observa-se o crescimento do número de refeições realizadas fora do lar, alcançando em 2013, uma produção de 11,7 milhões de refeições ao dia, com estimativa de 12,5 milhões, para 2014. Este setor emprega atualmente mais de 200 mil funcionários, assim, tal realidade exige que restaurantes estejam estruturalmente preparados para garantir a qualidade do alimento e a saúde do trabalhador (ABERC 2014; ABREU, SPINELLI e PINTO 2007; VILLAROUCO e ANDRETO 2008). O processo de trabalho dentro de uma UPR exige que as atividades de preparo de alimentos, na maioria dos casos, sejam desenvolvidas em intenso ritmo e esforço por meio de movimentos repetitivos e monótonos, sob condições ambientais de ruído excessivo, temperatura elevada, iluminação precária, ventilação insatisfatória, além de serem utilizados equipamentos quebrados ou em condições arriscadas de funcionamento. Ainda é exigidas a polivalência dos operadores, alocados a um número elevado de tarefas diferentes, de acordo com as necessidades do momento e a pressão gerada pelos horários em que as refeições devem ser servidas (MATOS e PROENÇA 2003; NOVELETTO e PROENÇA 2004; ABREU, SPINELLI e ARAÚJO 2002). Dentro deste contexto, o trabalhador destas unidades é exposto a diferentes riscos operacionais, decorrentes de condições precárias do próprio ambiente ou do processo operacional utilizado. Tais riscos são capazes de afetar a saúde, a segurança e o bem-estar do trabalhador, podendo causar doenças profissionais ou do trabalho, ou ocupacionais (RODRIGUES e SANTANA 2010). A partir da criação da portaria do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)

3214,

de

junho

de

1978,

foram

criadas

as

normas

regulamentadoras (NRs) relativas à segurança e medicina do trabalho. Estas NRs obrigam as empresas a observar os aspectos relacionados à TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

116


Artigo Original segurança e saúde dos seus colaboradores (BRASIL 2014). Portanto, as empresas devem observar minuciosamente essas regras, a fim de desenvolver um programa de segurança e saúde dos seus trabalhadores. Segundo Silva (2012), a implantação de um programa de segurança e saúde deve ser de grande interesse tanto para as instituições privadas como públicas, por ser menos oneroso o investimento educativo e preventivo do que arcar com os afastamentos e aposentadorias precoces. Estando a qualidade das refeições diretamente relacionada ao desempenho da mão de obra é perceptível que são essenciais condições de trabalho satisfatórias, haja vista que um trabalho bem desenvolvido gera um produto final bem aceito. Logo, o objetivo da pesquisa foi avaliar os riscos à saúde dos funcionários relacionados às condições de trabalho em UPRs privadas de um município do Piauí.

MÉTODOS Trata-se

de

um

estudo

transversal

descritivo,

de

caráter

observacional, o qual trabalhou com variáveis qualitativas e quantitativas. São objetos da pesquisa, a investigação de aspectos relacionados às atividades de trabalho em 6 (seis) restaurantes privados, localizados no perímetro urbano de um município do Piauí. No entanto, como caráter de inclusão, avaliou-se apenas os manipuladores de alimentos ligados à linha de produção de refeições (chefe de cozinha, cozinheiros, auxiliares de cozinha). O estudo foi realizado em duas etapas consecutivas. A primeira referiu-se às informações do perfil pessoal e funcional dos trabalhadores (gênero, idade, setor de trabalho, tempo de serviço na UPR e jornada de trabalho), informações estas disponibilizadas pela gerencia de cada estabelecimento. TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

117


Artigo Original A segunda etapa consistiu na observação das atividades realizadas no setor, por pesquisadores previamente treinados. Estas observações foram conduzidas por meio de um roteiro elaborado com baseado nas Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego (NR 9 e NR17), ocorrendo durante todo o período de produção das refeições, a fim de que pudessem ser verificados os condicionantes ambientais e pessoais. Após a coleta, os dados foram tabulados e analisados com auxílio do software Microsoft Excel® 2007, obtendo-se o percentual dos riscos que acometiam cada estabelecimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO A caracterização do grupo observado neste estudo, demonstrada na Tabela 1, compreendeu as variáveis sexo, idade e escolaridade. No geral, o estudo foi composto por 84,5% de mulheres e por 15,5% de homens, demonstrando uma representação bem expressiva de funcionários do sexo feminino. Este perfil concorda com os achados de Casarotto e Mendes (2003), que ao realizarem estudo semelhante em quatro restaurantes universitários e um hospital pediátrico, verificaram que 74% da amostra era composta por mulheres. Em contrapartida, cenário bastante distinto foi observado no estudo de Cavalli e Salay (2007), os quais observaram, em restaurantes comerciais dos municípios de Campinas e Porto Alegre, que 51,5% e 48,5% eram homens e mulheres, respectivamente. Essa presença maciça de mulheres no setor de alimentação coletiva, observada nesse estudo, pode ser esclarecida pela cultura nordestina que ainda distingue algumas profissões como inerentes ao homem ou à mulher.

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

118


Artigo Original Tabela 1. Caracterização da população estudada, por estabelecimento. VARIÁVEIS

A

B

C

D

E

F

% GERAL

Masculino

1

0

4

1

0

1

18,4%

Feminino

3

7

10

3

2

6

81,6%

TOTAL

4

7

14

4

2

7

100%

Máximo

56

36

59

49

31

43

Mínimo

35

20

22

28

26

23

IDADE MÉDIA

44

29,7

36,4

38,3

28,5

34,4

Fund. Comp.

1

0

4

0

1

0

15,8%

Fund. Incomp.

2

0

4

1

0

0

18,4%

Médio Comp.

1

3

5

1

0

5

39,4%

Médio Incomp.

0

3

0

1

0

2

15,8%

Sup. Comp.

0

0

1

0

1

0

5,3%

Sup. Incomp.

0

1

0

1

0

0

5,3%

SEXO

FAIXA ETÁRIA (anos)

ESCOLARIDADE

A faixa etária do grupo estudado esteve entre a idade mínima de 20 e máxima de 59 anos, apresentando uma média de 35 anos. Dados que concordam com resultados do estudo de Scarparo, Amaro e Oliveira (2010), que avaliaram trabalhadores dos Restaurantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, encontrando idade média de 37 anos, o que aponta uma busca por profissionais de idade mediana, possivelmente, pelo grande esforço requerido neste tipo de atividade.

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

119


Artigo Original Quanto à escolaridade, 39,4% da amostra cursou ensino médio completo e quando somado aos empregados que cursaram o ensino médio e não o concluíram (18,4%) esse valor atingiu 57,8%. Logo, esses resultados evidenciam que a população avaliada tem buscado uma maior qualificação. Esses resultados diferem dos observados por Campos e colaboradores (2009)

que avaliaram 39 funcionários, de ambos os sexos de um

Restaurante da Universidade Federal do Piauí – UFPI onde a maior parte da população estudada (61,6%) cursou apenas o ensino fundamental, enquanto apenas 28,2% concluiu o ensino médio. Resultado comparável ao encontrado por Aguiar, Valente e Fonseca (2010) que verificaram que 25,1% dos trabalhadores do setor de serviços de alimentação dos restaurantes populares do estado do Rio de Janeiro concluíram o ensino médio. Na Tabela 2 estão dispostos dados trabalhistas da população estudada, dessa forma observa-se que, no geral, o tempo médio de serviço dos funcionários foi de 37,7 meses ou 3,1 anos, onde em apenas um dos restaurantes pôde-se observar média superior, 83,5 meses. Resultado similar incidiu no estudo de Neves (2007) o qual encontrou tempo médio de serviço de 3 anos em funcionários de restaurantes de Fortaleza - CE. Tabela 2. Características trabalhistas da população estudada, por estabelecimento. VARIÁVEIS

TEMPO MÉDIO DE SERVIÇO (meses)

JORNADA DE TRABALHO (horas)

Nº MÉDIO DE FUNCIONÁRIO

ATIVIDADES

/

A

B

C

D

E

F

MÉDIA GERAL

83,5

34,3

10,0

31,5

32,0

34,7

37,7

44

44

36

44

44

44

42,7

2,0

1,7

1,3

1,8

2,0

6,4

2,5

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

120


Artigo Original

Estudos como os de Cavalli e Salay (2007) e de Collares e Freitas (2007) revelam que o setor de alimentação coletiva é um setor percebido como "de passagem", em que os indivíduos permanecem pouco tempo, apresenta alta rotatividade, elevado absenteísmo e baixa atratividade, ocasionados pelas limitações quanto à motivação e ao reconhecimento profissional. Quando analisamos a variável jornada de trabalho quase a totalidade dos funcionários envolvidos no estudo estava submetida à carga horária semanal de 44 horas. Resultados que concordam com os descritos por Cavalli e Salay (2007), onde a jornada de trabalho média dos funcionários dos restaurantes analisados foi de 41,5 horas semanais. Estudos apontam que é comum a carga horária de trabalho ser superior às 40 horas semanais, o que pode se tornar prejudicial à produção/hora, como ainda trazer um aumento do absenteísmo, acompanhado de doenças e acidentes, conforme mostrado por Torres (2003). O número de atividades exercidas por funcionário foi outra variável analisada, com isso observou-se que a maioria absoluta exerce mais de uma atividade, sendo que em um dos restaurantes os funcionários são submetidos a uma média maior do que 6 atividades. Isso faz com que este grupo tenha maior possibilidade de sofrer acidentes de trabalho e de apresentarem problemas de saúde como, por exemplo, a fadiga (ocasionada pelo trabalho excessivo), conforme apresentado por Metzner e Fischer (2001). Dentro do grupo de riscos ambientais, incluem-se os agentes físicos, biológicos e químicos, existentes nos ambientes de trabalho, capazes de TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

121


Artigo Original causar danos à saúde do trabalhador em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição (IWAMOTO et al. 2008). No presente estudo, verificou-se a presença de riscos físicos (Figura 1) em todos os estabelecimentos visitados, com percentual de prevalência variando de 35% a 55%, e destacando-se os fatores relacionados ao ruído e à temperatura do ambiente, os quais apresentaram maior ocorrência.

RF: Riscos Físicos. RB: Riscos Biológicos. RQ: Riscos Químicos. RErg: Riscos ergonômicos *Riscos intrínsecos aos Riscos Ambientais Figura 1. Incidência dos riscos ambientais e ergonômicos que acometem manipuladores de alimentos em UPRs do Piauí, Brasil.

Albuquerque e colaboradores (2012), verificaram em análise de uma UAN níveis de ruído elevados em todos os ambientes, com exceção da área de distribuição e recebimento de contêineres. Ruídos entre 70 e 80 db já são suficientes para prejudicar a saúde e, passando dos 80 db, prejudicam o aparelho auditivo (SILVA JUNIOR 2005), desta forma, torna-se de fundamental importância a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI), tais como os protetores auriculares, fato que não foi verificado em nenhum dos estabelecimentos participantes deste estudo. A temperatura ideal para operações em serviços de alimentação situase entre 22ºC a 26ºC com unidade relativa do ar entre de 50 a 60% (MONTEIRO e BRUNA 2004; SILVA JÚNIOR 2008). Segundo Lida (2002), níveis elevados de temperatura influem diretamente no desempenho do TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

122


Artigo Original trabalho humano, tanto sobre a produtividade como sobre os riscos de acidentes. Um trabalho físico muito pesado, associado a condições extremamente desfavoráveis pode provocar um desequilíbrio térmico, com o consequente aumento da temperatura corporal. Desta forma, torna-se essencial a utilização de roupas e calçados adequados, que possibilitem maior conforto durante o desenvolvimento das atividades, ações estas não observadas em cinco das seis UPRs estudadas. Adicionalmente, outro fator que poderia contribuir para a minimização deste risco seria a presença e funcionamento adequado de sistema de exaustão, característica esta verificada apenas em dois estabelecimentos avaliados. No tocante aos riscos biológicos, demonstrado na Figura 1, a prevalência foi muito variável, de 14,3% a 71,4%, sendo importante destacar que a UPR que apresentou maior percentual também é a de menor infraestrutura. Silva Júnior (2001) cita que, além do perigo de contaminação do alimento devido à sua manipulação por colaboradores contaminados, existe também a situação inversa. Esse risco de contaminação é bastante significativo na manipulação de alimentos in natura que possuem altas cargas microbianas como carnes cruas e matérias primas contaminadas, além do contato com utensílios e superfícies contaminados e resíduos orgânicos. De acordo com Silva e colaboradores (2007), como os microrganismos não podem ser vistos a olho nu, gestores e manipuladores sem o devido treinamento não compreendem a gravidade da exposição a esses riscos, assim resistindo ao uso de EPIs, o que corrobora com os achados deste estudo, onde pôde ser observado ausência de EPIs apropriados para as atividades, especialmente àquelas relacionadas ao manuseio de lixo orgânico. Adicionalmente, destacaram-se três estabelecimentos os quais

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

123


Artigo Original não continham pessoal específico para as atividades de manipulação de alimentos e de lixo orgânico, o que intensifica ainda mais o risco biológico. Os riscos químicos observados nesse estudo (Figura 1) evidenciaram uma prevalência de 25% a 45%, referentes principalmente à ausência de capacitação para a utilização de produtos de limpeza, bem como a ausência de EPIs adequados para estas atividades. Resultado semelhante foi encontrado por Melo e Carvalho (2012), que observaram o uso de detergentes, desengordurantes e hipoclorito de sódio em diluições inadequadas,

aumentando

assim

o

risco

de

contaminação

dos

colaboradores ao manipulá-los. Neste mesmo estudo muitos apresentaram lesões descamantes na pele das mãos, reforçando a hipótese de agressão pelo produto químico utilizado sem a utilização de EPIs. Segundo Sousa e colaboradores (2005), diversas substâncias químicas quando absorvidas pelo organismo em doses elevadas e ultrapassando os valores limite de exposição podem provocar uma série de lesões no organismo do manipulador, dentre elas queimaduras, encefalopatias, ulcerações cutâneas, dentre outras. Tendo em vista que estes agentes químicos podem penetrar no organismo pelas vias respiratória, digestiva, dérmica e ocular, as principais medidas de prevenção a tomar incluem a utilização de EPISs e um controle no processo produtivo o qual permita a redução das emissões dos poluentes. Diante do impacto provocado pelos riscos ambientais, torna-se de suma importância a implantação do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais visto este objetivar a preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho (SILVA, AGUIAR e SILVA 2010).

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

124


Artigo Original Diversos estudos que incluem a análise do processo e das relações de trabalho em UAN concluíram que as ocorrências de doenças e de acidentes neste local apresentam uma estreita relação com as condições ergonômicas existentes (ANTUNES, SPINELLI e KOGA 2005; KABKE et al. 2009; MONTEIRO 2009; PAIVA e DA CRUZ 2009; LOURENÇO e MENEZES 2008; MONTEIRO e SANTANA 1997). Segundo Kabke e colaboradores (2009), essas condições influenciam diretamente o desempenho das atividades dos funcionários, podendo levá-los a um melhor ou pior desenvolvimento na produção. Através do gráfico apresentado na Figura 1 observa-se que os percentuais para os riscos ergonômicos variaram de 22,2% à 66,5%, caracterizados principalmente pelo trabalho com carga de peso excessivo, além da ausência de descanso no decorrer das atividades, fato justificado pelo número de funcionários insuficientes para a demanda. Em situações em que há risco ergonômico devido ao esforço físico, autores

recomendam

treinamento

periódico

sobre

maneiras

e

procedimentos corretos de levantamento e transporte manual de carga, além da utilização, caso possível, de dispositivos de ajuda para o transporte de materiais (LOURENÇO e MENEZES 2008). Essas ações contribuíram de forma direta para a prevenção de inúmeros problemas de saúde, como hiperflexão ou hiperextensão da coluna dorso-lombar, pressão sobre os nervos, plexos nervosos e cartilagem intra-articular dos joelhos, dentre outros acometimentos (SOUSA et al. 2005). CONCLUSÃO Constatou-se

que

em

detrimento

de

terem

sido

observados

significativos riscos ambientais e ergonômicos em todas as UPRs estudadas, estas se apresentam como um ambiente de risco para a saúde dos TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

125


Artigo Original funcionários. Dessa forma verifica-se a necessidade de uma conscientização por parte dos donos dos estabelecimentos, junto a seus funcionários, a fim de reduzir ou mesmo extinguir os riscos aos quais estão expostos. Tal situação observada neste estudo justifica a necessidade de contínuas adaptações entre o estabelecimento, o trabalhador e o serviço a ser desenvolvido, de modo que seja possível oferecer um produto final de qualidade sem gerar danos à saúde dos envolvidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABERC. Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas. O mercado da Alimentação. 2014. <Disponível em http:www.aberc.com.br/mercadoreal.asp? IDMenu=21>. Acesso em: 14 de agosto de 2014. ABREU, E.S.; SPINELLI, M.G.N.; ARAÚJO, R.M.V. Fatores de risco ambiental para trabalhadores de unidade de alimentação e nutrição. Revista Nutrição em Pauta, São Paulo, ano x, n.57, p.46-49, 2002. ABREU, E.S.; SPINELLI, M.G.N.; PINTO, A.M.S. Gestão de unidade de alimentação e nutrição: Um modo de fazer. 2ª ed. São Paulo: Metha, 2007. AGUIAR, O.B.; VALENTE, J.G.; FONSECA, M.J.M. Descrição sóciodemográfica, laboral e de saúde dos trabalhadores do setor de serviços de alimentação dos restaurantes populares do estado do Rio de Janeiro. Revista de Nutrição, Campinas, v.23, n.6, p.969-982, 2010. ALBUQUERQUE, E.N.; SEABRA, L.M.J.; ROLIM, P.M.; GOMES, L.M. Riscos físicos em uma unidade de alimentação e nutrição: implicações na saúde do trabalhador. Revista da Associação Brasileira de Nutrição, São Paulo, v.4, n.5, 2012. ANTUNES, A. A; SPINELLI, M. G. N.; KOGA, R. A. Análise Ergonômica do Trabalho (AET) de uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN) de São José dos Campos. Revista Nutrição em Pauta. São Paulo, n.73, v. 13, p. 46-49, 2005. TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

126


Artigo Original BRASIL. Portaria GM nº 3214, de 08 de junho de 1978. Normas regulamentadores de segurança e saúde no trabalho. NR 15 – Atividades e operações insalubres. Disponível em: <http://mtb.gov.br/legi/nrs/nr15.htm>. Acesso em: 14 de agosto de 2014. CAMPOS, M. E. S. et al. Nutritional education and its contribution for change in health indicators of the employees of a nutrition and food unit. Nutrire, São Paulo, v. 34, n. 2, p. 27-42, 2009. CARDOSO, R.C.V.; SOUZA, E.; SANTOS, P.Q. Unidades de alimentação e nutrição nos campi da Universidade Federal da Bahia: um estudo sob a perspectiva do alimento seguro. Revista de Nutrição, Campinas, v.18, n.5, p.669-680, 2005. CASAROTTO, R.A.; MENDES, L.F. Queixas, doenças ocupacionais e acidentes de trabalho em trabalhadores de cozinhas industriais. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 28, n. 107/108, p. 109126, 2003. CAVALLI, S.B.; SALAY, E. Gestão de pessoas em unidades produtoras de refeições comerciais e a segurança alimentar. Revista de Nutrição, Campinas, v.20, n.6, p.657-667, 2007. COLLARES, L.G.T.; FREITAS, C.M. Processo de trabalho e saúde de trabalhadores de uma unidade de alimentação e nutrição: entre a prescrição e o real do trabalho. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, n.12, p.3011-3020, 2007. IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. 8ª ed. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 2002. IWAMOTO, H. H.; OLIVEIRA, K.F.; PEREIRA, G.A; PARREIRA, B.D.M.; GOULART, B.F. Saúde ocupacional: controle médico e riscos ambientais. Acta Scientiarum. Health Science, Maringá, v. 30, n. 1, p. 27-32, 2008. KABKE, G.B., MELLER, F. O., SCHÄFER, A. A., SILVA, C. C., MONTEIRO, A. R., SANTOS, L. P. BUCHWEITZ, M. R. D. Ergonomia e Uso de EPI´s em uma Unidade de Alimentação e Nutrição de Empresa na Cidade de Pelotas, RS. In...: XVIII Congresso De Iniciação Científica, XI Encontro de Pós-Graduação e a I Mostra Científica, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, Rio Grande Do Sul, 2009.

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

127


Artigo Original LOURENÇO, M.S.; MENEZES, L.F. Ergonomia e Alimentação Coletiva das Condições de Trabalho em uma Unidade de Alimentação e Nutrição. In: IV Congresso Nacional de Excelência em Gestão. Responsabilidade Socioambiental das Organizações Brasileiras. Niterói- RJ, 2008. MATOS, C.H.; PROENÇA, R.P.C. Condições de trabalho e estado nutricional de operadores do setor de alimentação coletiva: um estudo de caso. Revista de Nutrição, Campina, v.16, n.4, p. 493-502,2003. MELO, F.F.C.P.; CARVALHO, L.R. Análise qualitativa dos riscos ocupacionais em uma unidade produtora de refeições. In: VIII Congresso Nacional de Excelência em Gestão, 8 e 9 de junho de 2012. METZNER, R.J.; FISCHER, M.F. Fadiga e capacidade para o trabalho em turnos fixos de doze horas. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n.6, p. 548-553, 2001. MONTEIRO, J.C.; SANTANA, A.M.C.; DUARTE, M.F.S. Análise das posturas no trabalho para entender a performance física do trabalhador do setor de carnes do restaurante universitário da UFSC. In: Anais do 4º Congresso Latino Americano de Ergonomia e 80º Congresso Brasileiro de Ergonomia. Florianópolis, p. 400-406, 1997. MONTEIRO, M.A.M. Importância da Ergonomia na Saúde dos Funcionários de Unidades de Alimentação e Nutrição. Revista Baiana de Saúde Pública, Salvador, v. 33, n. 3, p. 416-427, 2009. MONTEIRO, R.Z., BRUNA, G. C. Projetos para atualização de espaços destinados a serviços profissionais de alimentação. Caderno de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 3146, 2004. NEVES, J.A D. A identidade e a focagem dos empregados de restaurantes de Fortaleza. Revista de Administração, São Paulo, v.42, n.4, p.443-453, 2007. NOVELETTO, D.L.L.; PROENÇA, R.P.C. O planejamento do cardápio pode interferir nas condições de trabalho em uma unidade de alimentação e nutrição? Nutrição em Pauta, n.65, p.36-40, 2004.

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

128


Artigo Original PAIVA, A.C., DA CRUZ, A.A F. Estado nutricional e aspectos ergonômicos de trabalhadores de Unidade de Alimentação e Nutrição. Revista Mineira de Ciências da Saúde, Patos de Minas: UNIPAM, a. 1, n. 1, p. 1-11, 2009. RODRIGUES, L.B.; SANTANA N.B. Identificação de Riscos Ocupacionais em uma indústria de sorvetes. Revista Unopar Científica Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v.12, n.3, p.31-38, 2010. SCARPARO, A.L.S.; AMARO, F.S.; OLIVEIRA, A.B.; Caracterização e avaliação antropométrica dos trabalhadores dos Restaurantes Universitários da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista HCPA, Porto Alegre, v.30, n. 3, p. 247-251, 2010. SILVA JUNIOR, E.A. Manual de Controle Higiênico-Sanitário em Alimentos. 4ª ed. São Paulo: Livraria Varella, 2001. 475p. SILVA JUNIOR, E.A. Manual de Controle Higiênico-Sanitário em Alimentos. São Paulo: Livraria Valera, 2005. SILVA, Celso Nunes da. Segurança e saúde no trabalho no contexto da UnB. 2012. 69 f. Monografia (Especialização em Gestão Universitária) Universidade de Brasília, Brasília, 2012. SILVA, D.V. G., AGUIAR, F., SILVA, M. I. Estudo da Metodologia para avaliação, caracterização, medição e controle da exposição ocupacional ao calor. (Trabalho de conclusão de curso). Curso de Extensão em Higiene Ocupacional. UNESP – Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2010. SILVA, V.E.S.; MAFRA, S.C.T.; MAFRA, C.; SOUZA, A.P.; GOMES, E.C.G. Riscos ambientais em uma lavanderia de uma indústria de abate e processamento de carnes. Revista GESPROS: Gestão de Produção, Operações e Sistemas, Bauru, a. 2, v. 3, p. 11-23, 2007. SILVA. JUNIOR, E. A. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. 6ª ed. São Paulo: Livraria Varela, 2008. 625p. SOUSA, J.; SILVA, C.; PACHECO, E.; MOURA, M.; FABELA, S. Acidentes de trabalho e doenças profissionais em Portugal: regime jurídico da reparação dos danos. 2005. Disponível em:

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

129


Artigo Original <http://www.crpg.pt/estudosProjectos/Projectos/Documents/factoresriscoerg onomico.pdf> Acesso em: 13 de agosto de 2014. TORRES, M.G.V. Segurança no trabalho em Unidades de Alimentação e Nutrição – Treinamento e Dinâmicas. Brasília: Universidade de Brasília, 2003. VILLAROUCO, V.; ANDRETO, L. Avaliando desempenho de espaços de trabalho sob o enfoque da ergonomia do ambiente construído. Produção, v. 18, n.3, p. 523-539, 2008.

TEIXEIRA, Sabrina Almondes; LUZ, Natália Santos; OLIVEIRA, Ellaine Santana de; ALMONDES, Rinna Santos de; MONTE, Cléria Arrais de Moraes; LUCENA, Jalles Dantas de; BARROS, Helierton Barbosa de. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí, Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.

130


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.