MEDIA+Igual - Boletim 8 - Abril 2014

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Boletim Informativo Escrita Igualitária nos Media

Abril de 2014

Boletim Informativo Integra uma selecção de notícias publicadas de 1 a 30 de Abril de 2014, a partir da monitorização de nove títulos de imprensa escrita portuguesa: - dois de âmbito regional:

As Beiras Diário de Coimbra - sete de âmbito nacional:

Correio da Manhã Diário de Notícias Público Caras Maria Happy Woman Men’s Health Nesta edição: 1. Editorial 2/3. Em análise: representações do 25 de Abril 4/5. Pela positiva 6/7. Assimetrias: política formal 8/9. Violência doméstica 10. Assimetrias várias 11. Em poucas palavras 12. A fechar/ Agenda/ Ler+

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MEDIA +igual Em recta final do projecto MEDIA+Igual, a monitorização de imprensa do mês de Abril é indissociável das comemorações da Revolução dos Cravos. Foi pela positiva que notámos que, entre os vários artigos jornalísticos sobre o tema, a questão da igualdade de género não foi esquecida— sendo abordada numa perspectiva de evolução nas últimas 40 décadas. No entanto, não podemos deixar de notar que, no percurso desta evolução, a igualdade de género surge como uma questão já alcançada e normalizada. É com preocupação que olhamos para essa perspectiva, que remete para a sombra mediática todas as assimetrias ainda existentes. Fora da esfera temática do 25 de Abril, os artigos ligados à violência doméstica continuam a marcar a agenda mediática no que diz respeito a questões de igualdade de género. Não obstante, foi possível analisar também a forma como os jornais monitorizados apresentaram vários aspectos de política formal no âmbito do projecto MEDIA+Igual. Foi disso exemplo a cobertura da proposta de legislação sobre maternidade de substituição; mas também da formação, por indicação do Governo, de uma equipa de especialistas destinada a trabalhar políticas de promoção da natalidade, como pode ser lido nas páginas seguintes.


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em análise: representações do 25 de Abril Por ocasião do 40.º aniversário da revolução de 25 de Abril de 1974, a presença do tema no espaço mediático foi contante. Das várias abordagens e perspectivas encontradas durante a monitorização do mês de Abril, ganhou destaque os artigos que enfatizaram, particularmente, os direitos das mulheres e a evolução dos mesmos nos 40 anos de democracia portuguesa. Nos exemplos encontrados, nota positiva para a relevância dada à igualdade de género no quadro da análise à democracia portuguesa. No entanto, não podemos deixar de notar — e dar um parecer negativo — à forma como esse enquadramento é feito. Nomeadamente, no

que concerne à disseminação de uma mensagem de que a igualdade plena na sociedade é uma realidade incontestável, mas também no que diz respeito a um discurso jornalístico que recai em estereótipos de género para analisar os impactos da democracia na vida das mulheres portuguesas. No caso do artigo abaixo apresentado, “Igualdade do género conquistada aos poucos” (Diário de Coimbra, edição de 25 de Abril), a análise aos 40 anos de democracia é feita, exclusivamente, sob o foco da igualdade de género. Neste âmbito, é pertinente e positivo que sejam elencadas discriminações de género existentes antes de Abril de 1974 e, também, o “demorado caminho para a igualdade de género” em Por-

tugal. O discurso mediático dá também destaque às várias conquistas alcançadas na esfera pública (quotas para mulheres nas listas eleitorais ou maior presença em empresas e no ensino superior). Não obstante, a mensagem que se pode concluir deste artigo é a de que a igualdade plena já foi alcançada e que há até certas áreas em que a desigualdade pende agora a benefício das mulheres. Tal é notório no destaque escolhido do artigo: “mulheres estão hoje em maioria na vida profissional e académica e são as que mais resistem ao abandono escolar”. Desta forma, o discurso mediático remete à invisibilidade as assimetrias ainda existentes, não contrapondo, a título de exemplo, que apesar da maior presença das


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em análise: representações do 25 de Abril mulheres na vida profissional, continuam a existir profundas desigualdades a nível salarial entre homens e mulheres. Também a revista Maria colocou o tema da igualdade de género no centro da cobertura do aniversário da Revolução de Abril. Sob o título “40 anos de vitórias”, este artigo de quatro páginas descreve as mudanças para as mulheres portuguesas trazidas pelas quatro décadas de democracia, abordando um leque de temas mais diversificados do que o artigo do Diário de Coimbra. O texto retoma, no entanto, os mesmos problemas já enunciados: a invisibilidade perante as assimetrias existentes leva à conclusão de que estes “40 anos de vitórias” levaram a uma igualdade plena. Além disso — e de forma também problemática —, as categorias de análise do artigo da revista Maria reduzem-se, na sua maioria, a estereótipos de género, através dos quais é reduzida a realidade das mulheres em Portugal. É disso exemplo a recorrente associação das mulheres à esfera privada (na sua relação de maternidade e gestão da casa), mas também a questões de imagem e consumo. Aliás, as imagens existentes ao longo do artigo (crianças, saltos altos e compras) reforçam essas conotações estereotipadas de género, que associam o universo feminino a áreas e ocupações específicas, ao invés de apostar numa abordagem mais plural e diversificada. Estes aspectos problemáticos são

reforçados ao longo do artigo, sobretudo no que diz respeito à legitimação de estereótipos entre o género feminino e a preocupação com o aspecto físico (“a busca da perfeição é o objectivo da maioria das mulheres, numa era em que a beleza ocupa um lugar de destaque” / “a imagem é uma das grandes preocupações da mulher do século XXI”). Trata-se da manutenção de visão limitadora e generalizadora da mulher, que a asso-

ciam a um conjunto de estereótipos inquestionáveis. Repare-se que, mesmo quando são elencados os avanços tecnológicos das últimas décadas, os mesmos acabam por vincar este discurso estereotipado (“[...] desde informações sobre como proceder em certas situações com os filhos, até formas, entre blogs e sites, de se manterem na moda”). Estamos, por isso, perante um retrato mediático redutor das mulheres portuguesas.


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pela positiva Na edição de Abril da Happy Woman, o artigo “The Rainbow families” destaca-se pela positiva, ao desconstruir um conjunto de estereótipos associados à parentalidade de casais homossexuais, contribuindo assim para diminuir preconceitos na opinião pública. É, no seu global, um artigo inclusivo, que transmite uma visão plural sobre o tema, procurando a opinião de diversos/as especialistas. Ao longo de várias perguntas, elaboradas em função de várias ideias discrimatórias e estereotipadas a que se associam os pais/as mães homossexuais, o discurso jornalístico vai procurando respostas. Seja com recurso a fontes documentais ou a especialistas nacionais e estrangeiros/as, o artigo desconstrói mitos através de factos, sem prejudicar a abordagem jornalística do tema. É também positiva a inclusão de uma referência específica à realidade portuguesa. Através de uma entrevista à ILGA Portugal, a Happy apresenta um testemunho de uma associação da sociedade civil que representa o universo LGBT e, desta forma, cria um discurso na primeira pessoa (ao invés de optar apenas por um artigo que trata do tema na terceira pessoa). Desta forma, reforça-se o carácter inclusivo do texto. Nota final para as imagens que, como já notado em anteriores artigos da revista Happy, não se adequam à informação veiculada.


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pela positiva Áo longo de duas páginas, o jornal Público apresentou, a 14 de Abril, uma entrevista à investigadora em estudos de género Maria do Mar Pereira. Pela visibilidade que traz ao tema da (des)igualdade de género, revela-se um artigo positivo, uma vez que elenca várias assimetrias existentes, desde questões relacionadas com educação até estereótipos e papéis de género transversais à sociedade. Apesar do propósito do projecto MEDIA+Igual incidir sobr e o discurso jornalístico—e não sobre opiniões veiculadas através da imprensa — considera-se que, independentemente das considerações em nome próprio de Maria do Mar Pereira, é particularmente relevante que este tema tenha chegado à agenda jornalística do jornal Público, que lhe confere importância. O mote da reportagem surge com

o Prémio Internacional para o Melhor Livro em Investigação Qualitativa, atribuído exactamente a Maria do Mar Pereira. Contudo, a entrevista acaba por não se focar apenas na investigação e no prémio recebido. Tal é notório, por exemplo, em perguntas como “Há diferenças entre Inglaterra e Portugal no que respeita às questões de género?” ou “Na adolescência nunca se sentiu contaminada pelas representações que existem na sociedade?”. Esta abrangência na escolha das perguntas — tanto sobre temas mais vastos, como sobre a própria experiência pessoal da investigadora na sua adolescência — permite, de certa forma, que a igualdade de género deixe de ser apresentada somente como tema de uma investigação académica e, em termos de representação mediática, passe a ser elencada como uma questão socio-cultural.

Não obstante, esta proximidade, na maneira como a entrevista é conduzida, entre o percurso pessoal de Maria do Mar Pereira e a investigação que tem feito, resulta também num ponto problemático. A forma como a questão relacionada com diferenças biológicas é elencada (“Há estudos científicos sobre a diferença entre o cérebro das mulheres e dos homens. [...] Estas conclusões acerca das diferenças biológicas entre homens e mulheres incomodam-na?”) demonstra uma atitude crítica da jornalista perante o tema, numa formulação que remete para uma ‘provocação’ à entrevistada, entrando no campo pessoal. Além disso, a jornalista assume estes estudos biológicos como categóricos, dando-lhes legitimidade mediática, muito embora as suas conclusões tenham sido controversas na comunidade científica.


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assimetrias: política formal A votação de uma proposta legislativa conjunta do PS e PSD na Assembleia da República, que permite a maternidade de substituição a casais heterossexuais, deu origem a vários artigos sobre o assunto, na imprensa diária. Exemplo disso são estes dois artigos do Diário de Notícias e do Público, que permitem leituras diversas do tema, do ponto de vista da igualdade de género. Em “‘Barriga de aluguer’ mais perto de ser legalizada em Portugal” (Diário de Notícias, edição de 29 de Abril) a imagem ilustrativa representa uma mulher dentro de um carrinho de compras. Trata-se de uma alegoria com leituras negativas para o tema da igualdade de género, uma vez que assemelha a mulher a um produto de supermercado, menorizando o seu papel (reforçando a objectificação do seu corpo) e retirando seriedade ao

tema. A própria expressão ‘barriga de aluguer’ - sendo notoriamente reconhecida ao nível do senso comum para abordar a temática da materidade de substituição — acaba por potencializar leituras negativas ao nível da objectificação da mulher. Seria importante problematizar, ao nível do discurso jornalístico, quais as implicações do uso desta expressão na formação da opinião pública em relação ao corpo da mulher — e ponderar o uso de novos referenciais mais inclusivos, como por exemplo a nomenclatura ‘maternidade de substituição’. De referir, ainda, que no artigo é dada visibilidade positiva à abrangência possível da maternidade de substituição a mulheres solteiras e casais do mesmo sexo. No entanto, esta questão só é mencionada no contexto de uma proposta alternativa feita pelo Bloco de Esquerda, dois anos antes, faltando uma problematização real da heteronormatividade vinculada pela proposta legislativa.

Por outro lado, o artigo “Legalização de ‘barrigas de aluguer deverá ser votada em Maio” (Público, edição de 21 de Abril) apresenta uma imagem menos problemática para ilustrar o artigo. Não obstante, registe-se que o artigo mantém o uso inquestionável da expressão ‘barrigas de aluguer’ e omite qualquer referência à exclusão de casais homossexuais e mulheres solteiras na proposta, remetendo este tema à invisibilidade mediática.


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assimetrias: política formal No artigo do Diário de Notícias “Mulheres dominam equipa de natalidade do PSD”, de 04 de Abril, verificamos que continua a existir a tendência, no discurso mediático, para a categorização das mulheres em cargos públicos em função do seu género. Desta forma, num tema que se foca na política formal –

nomeadamente a nomeação, por parte do Governo, de uma equipa encarregue de debater a promoção da natalidade – assiste-se à completa menorização do perfil profissional dos membros da equipa face ao género. Tal foco é notório tanto no título escolhido, como na entrada, que

reforça a composição da equipa por géneros: “seis mulheres e quatro homens”. Para além desta assimetria evidente na forma como o masculino e o feminino são retratados no discurso dos media, a opção por este título é particularmente problemática no tema em causa. Tratando-se de uma equipa que vai analisar tendências de natalidade, a importância atribuída ao género dos/as especialistas/as vai, claramente, reforçar estereótipos entre natalidade e maternidade, associado a mulher ao papel de mãe. No entanto, a leitura do artigo na íntegra acaba por contrariar o título escolhido, na medida em que o foco, ao longo do texto, acaba por residir no percurso profissional de cada um/a dos participantes da equipa. Nesse sentido, considerase que seria mais relevante terem sido escolhidos aspectos deste contexto profissional para figurar no título do artigo. Uma alternativa viável, por exemplo, seria referir no título a tendência, na escolha dos membros da equipa, para percursos ligados à defesa da família tradicional e conservadora. Uma vez que 0 posicionamento profissional dos/as especialistas tem impacto directo na orientação de políticas para a promoção da natalidade e a sua relação com a parentalidade, a introdução no título da notícia dos percursos e valores defendidos pelos/ as profissionais seria mais relevante do que a menção redutora ao género predominante na equipa.


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violência doméstica No dia 15 de Abril, o jornal Público dedicou uma página da sua edição diária ao artigo “Baixos níveis de glucose podem ser uma causa de violência doméstica”. A notícia reflecte os resultados de um estudo que conclui que a diminuição de glucose no sangue contribui para uma maior irritabilidade e propensão para a violência nos indivíduos da amostra, sublinhando que esta questão pode mesmo ser uma das razão para a violência doméstica. Trata-se de um artigo problemático, que, ao enfatizar um suposto papel da glucose como ‘gatilho’ da violência doméstica, remete à invisibilidade questões sócio-culturais de desigualdade de género. Tratase, por isso, de um reforço de es-

tigmas e pressupostos estereotipados ligados à problemática (à semelhança, por exemplo, do que acontece quando se refere, erroneamente, o alcoolismo como causa da violência doméstica, ignorandose as assimetrias sociais na forma como a relação entre géneros é assumida), que não desconstrói estes factores como potencializadores (e não causadores per si) da violência, agindo com base em assimetrias já existentes. Nesse sentido, a generalização presente no título pode contribuir para a invisibilidade da violência doméstica como problemática social. Além disso, o próprio subtítulo contribui para aligeirar o tema numa linguagem de pendor cómico, retirando-lhe seriedade (“se formos ter uma conversa difícil com a nossa cara-metade, talvez conve-

nha comer qualquer coisa primeiro”). O texto carece ainda de uma análise genderizada aos resultados do estudo descrito. Ou seja, se os comportamentos agressivos verificados na amostra científica foram atestados independentemente do género do individuo. Esta questão seria importante numa abordagem à violência doméstica tendo em conta a (des) igualdade de género. Mesmo que tal análise genderizada não conste do estudo descrito no artigo, seria relevante que o discurso mediático problematizasse esta eventual ausência – como forma de promover um maior espírito crítico nos/as leitores/as em relação ao tema da violência doméstica e das assimetrias de género.


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violência doméstica Numa perspectiva por norma invisível nas páginas do jornal, da violência doméstica, o Diário de Notícias dedicou um artigo à realidade do pósencarceramento dos agressores. Intitulada “Vítimas de maus-tratos fazem visitas íntimas aos agressores” (10 de Abril), a notícia expõe, sobretudo, a realidade complexa entre vítimas e a agressores, É de realçar, pela positiva, a visibilidade dada ao tema e o esforço, ao longo da construção discursiva, para não apresentar uma perspectiva única sobre o tema. Perante o “fenómeno de visitas recorrentes [das vítimas] aos seus agressores”, como o jornal descreve o tema, há uma tentativa de ouvir – e transmitir aos/às leitores/as – diversas perspectivas sobre o caso, não admitindo respostas e julgamentos únicos à situação. Desta forma, realça-se, como já adiantado, a complexidade destas relações, em que não é possível tecer soluções que sirvam todos os casos identificados. Denunciando que, em “alguns casos”, há uma continuidade de agressões nos estabelecimentos prisionais, ao abrigo da privacidade de que são dotadas as visitas conjugais, o DN problematiza qual será a solução a adoptar. O discurso apresenta primeiro a posição da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, que defende a possibilidade da proibição de contactos entre agressor e vítima. Não obstante, a jornalista não se contenta com a visão institucional e procura também a perspectiva da APAV – As-

sociação Portuguesa de Apoio à Vítima, pela ‘voz’ do técnico Daniel Cotrim. Nesta diversidade de fontes, destaque para a posição da associação que esta “não é uma relação normal entre criminoso e vítima”, já que está ligada “a contextos de intimidade”. É, portanto, um reforço da não-linearidade da problemática da violência doméstica, que ganha – de forma positiva – espaço no discurso mediático. É também importante valorizar a informação contextualizada que enriquece o conteúdo do artigo. A

encimar o artigo, uma caixa de texto pormenoriza a legislação em vigor para visitas íntimas nos estabelecimentos prisionais. Mas há também informação adicional sobre estatísticas pós-queixa de violência doméstica, com destaque para dados sobre o número de condenados em 2013, de presos preventivos, de agressores com pulseira electrónica e de tele-assistências a vítimas de maustratos. O conjunto destas informações permite, desta forma, um artigo mais aprofundado sobre o tema da violência doméstica.


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assimetrias várias O artigo “Anúncios oferecem casas para arrendar a troco de sexo” (Diários de Notícias, 19 de Abril) apresenta uma visibilidade positiva sobre a vulnerabilidade económica das mulheres em altura de crise— e de como tal dá origem a este tipo de situações assimétricas de género e de poder. No caso específico desta notícia, é retratada prática de anúncios de arrendamento de casa a troco de favores sexuais. Perante a problemática, o discurso jornalístico apresenta um conjunto

diverso de fontes e perspectivas. Nesse contexto, são citados juristas que reforçam a legalidade da prática, mas também associações da sociedade civil e especialistas em sociologia. É por isso positivo o balanço feito a esta construção jornalística, que tenta ser inclusiva e plural nos pontos de vista apresentados. Nesta pluralidade presente no discurso jornalístico, há que enfatizar o contributo de Ana Cristina Santos, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (e também da “Não te Prives”, uma das entidades integrantes do pro-

jecto MEDIA+Igual), que explica que o verdadeiro problema desta questão não é a prestação de serviços sexuais, mas a assimetria de poder e a vulnerabilidade económica. “Não se trata de um contrato laboral entre iguais, mas sim de uma actividade não regulada, muito permeável a riscos de exploração”, em que a carência económica “tem um impacto considerável sobre a capacidade individual de decidir sobre o seu próprio corpo e os usos que dele se entende fazer”, afirma Ana Cristina Santos, citada pelo Diário de Notícias, numa perspectiva importante que assim ganha visibilidade nos media.


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em poucas palavras Correio da Manhã, 03/04/2014

Men’s Health, Abril 2014

É irrelevante a menção específica a “prostituta” no título deste artigo. A vítima não foi burlada nesse contexto e, portanto, está a ser reduzida na sua identidade à categorização de “prostituta” um uso da linguagem que pode até contribuir para a sua menorização pública e da queixa que apresentou. Uma vez que estamos perante várias vítimas de um esquema criminoso de burla e que apenas esta actividade de prostituição foi nomeada, conclui-se que o título foi escolhido apenas por uma questão de sensacionalismo.

Mais uma vez, assistimos a uma generalização de comportamentos, expectativas e objectivos das mulheres (e, consequemente, dos homens) no discurso da Men’s Health. Neste caso específico, reforça-se o estereótipo abusivo de que ‘as mulheres se fazem difíceis’, mas que isso seria uma estratégia para “conhecer o grau de compromisso” dos homens e “aumentar a atracção sexual”. Acaba por ser um estereótipo sexista perigoso, já que promove o desrespeito pelo “não” das mulheres, visto como um subterfúgio, potencializando casos de assédio e abuso sexual.

Correio da Manhã , 11/04/2014 Este artigo é ilustrado com uma foto da agressora em bikini, numa objectificação do seu corpo (não relacionada com a notícia). Por outro lado, a redução da vítima ao seu estatuto económico origina uma série de conotações relacionadas com o motivo do crime, que não estão provadas. No texto, as diferenças económicas aliadas às diferenças de idades da agressora e vítima servem também para criar um retrato estereotipado dos factos.

Correio da Manhã, 13/04/2014

O título reforça, de forma redundante, o termo “gay”, quando a palavra “amante” bastaria para descrever uma relação passional. A opção usada é, sem dúvida, mais sensacionalista. Por outro lado, há uma construção discursiva negativa reforçada pelo uso repetido do verbo “engatar”, ao longo do texto, que não torna claro o tipo de relação em causa: se uma relação fortuita ocasional ou um caso de prostituição. Não que essa distinção seja relevante para o crime, mas é notória a diferença de tratamento noticioso, em termos de linguagem, perante relações homossexuais e heterossexuais.


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a fechar A violência doméstica ganhou destaque principal na imprensa diária nacional no mês de Abril, com contornos dramáticos. Tratou-se do caso de Manuel Pinto Baltazar, que disparou sobre a excompanheira, a filha e outras duas familiares destas, fugindo às forças policiais durante vários dias. O caso, pela cobertura mediática de que foi alvo e dimensão nacional que obteve, é sintomático da forma como a violência doméstica é retratada no discurso mediático. Rapidamente aquele que foi um caso de violência doméstica — em contexto de violência continuada— foi retratado pelos media na sua vertente de perseguição policial. Desta forma, a tendência por uma narrativa romanceada e pelo exacerbar do sensacionalismo acabou por predominar nas páginas dos

jornais, remetendo à invisibilidade as assimetrias socio-culturais, inerentes à violência doméstica, e o próprio contexto de violência. Nota final para a nomenclatura “monstro”, que, usada predominantemente nos jornais, contribui para uma visão distorcida dos agressores de violência doméstica como seres atípicos.

ler + “Homoparentalidades: Perspetivas Psicológicas” Da autoria de Jorge Gato, o livro “Homoparentalidades: Perspectivas Psicológicas” é pioneira em examinar as atitudes em Portugal face à homoparentalidade. A análise, resultante de uma tese de doutoramento, permitiu investigar as atitudes de futuros profissionais das áreas do direito, saúde e educação, bem como da população geral, no que concerne à homoparentalidade, desconstruindo mitos e estereótipos. Publicado pela editora Almedina e com uma abordagem científica no campo da psicologia, o livro foi apresentado a 30 de Junho, em Coimbra.

agenda Seminário Final MEDIA+Igual 30 de Junho Coimbra

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créditos Edição: IEB A—Centro de Iniciativas Empresariais e Sociais, Abril 2014 Revisão: ULAI—Unidade Local de Análise de Imprensa - APPACDM Coimbra, APAV, GRAAL, NÃO TE PRIVES, SOS RACISMO, UMAR Contactos: IEBA Parque Industrial Manuel Lourenço Ferreira, Lote 12—Apartado 38, 3450-232 Mortágua | ieba@ieba.org.pt



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