Revista F | Ano 6 | 2020 | n.10

Page 1



Editorial Chegamos à 10ª edição Nesse ano atípico, turbulento e de rompimento com diversos paradigmas sociais, a Revista F chega à sua 10ª edição. O veículo nasceu em 2015, por meio de esforços de uma equipe de estudantes e docentes e foi gestada do Ponto Zero, um projeto guarda-chuva que abrigou e possibilitou o nascimento do Estúdio F, destinado a práticas fotográficas de estudantes de Publicidade e Propaganda e Jornalismo, bem como estudos de análise e criação fotografia, além de prestar apoio aos Trabalhos de Conclusão de Curso. Ao longo dos anos, muito mudou; a equipe é outra, o projeto editorial e gráfico, também. Criamos o blog da Revista F e, com ele, vencemos o Expocom Sul em 2019 e 2020. Descobrimos e criamos novos modos de fazer os processos jornalísticos, seja pela inserção dos materiais produzidos pelo EaD, pelas atividades remotas, forçadas pela pandemia do novo coronavírus, ou pela criatividade e vontade de aprender dos alunos. A Revista F não existiria sem as pessoas que a construíram, não existiria sem cada que já passou pelo projeto. A partir disso, sinto-me honrada em fazer parte da equipe e ter tantas pessoas excelentes e talentosas trabalhando comigo. Valeu, galera! Em clima de celebração, propomos uma edição especial, mais enxuta em número de páginas e editorias, mas que não deixa a desejar na qualidade. Esta 10ª edição traz um especial sobre Mulheres na ciência e outro de histórias por trás da máscara, além do mosaico formado pelo Brasil de todos os cantos. Um muito obrigada a todas e todos que já fizeram parte da nossa equipe e boa leitura!




Projeto social contribui para o meio ambiente e proteção de animais O Rio Eco Pets arrecada tampinhas de plástico dando um destino ecologicamente correto ao material e destinando todo o lucro a ONGs protetoras de animais. Por Patrícia Gaudêncio (RJ)

6


7


Brasil

DE TODOS OS CANTOS

impregnados nessa questão. Há um tripé básico, onde além do fator ambiental em que se fundamenta essa prática, há os fatores econômico, sociopolítico e cultural. Começando na própria mobilização da comunidade, inserindo novos hábitos e motivando o consumo consciente”, afirma Nunes que complementa que “diminuir os resíduos sólidos no ambiente, favorece não só o aspecto urbano como impacta positivamente em toda a natureza. Uma vez que o descarte indevido compromete a saúde do solo, dos oceanos e interfere até na cadeia alimentar”. Com quase 500 voluntários atuando em diversas regiões do Estado carioca, o projeto Rio Eco Pets conta com uma equipe de coordenadoras que orientam todo o trabalho. O material recolhido nos pontos de arrecadação é separado por tipo e cor, o que aumenta o valor de venda. São aceitas tampinhas de plástico de qualquer tipo, como tampas de bebidas, produtos de limpeza, cosméticos, higiene, entre outras. Périssé lembra que a primeira tonelada de material arrecadado levou 8 meses para acontecer. Atualmente, o projeto arrecada em média 10 toneladas por mês Fernanda Périssé, uma das idealizadoras do projeto Rio Eco Pets, criado há três anos. - tendo tido o recorde no mês de janeiro Mas hoje, já atingimos números de 2020, quando venderam 12 toneladas expressivos no tocante à castração de tampinhas. No entanto, a diretora do de animais e à reciclagem”, comenta projeto ressalta que com a pandemia a Périssé. Boa parte dos produtos que arrecadação diminuiu. Devido às medidas a sociedade consome, tem o plástico de segurança, o trabalho dos voluntários como principal embalagem. Material que parou por alguns meses e, aos poucos,vem segundo dados do Ministério do Meio retomando as atividades. Ambiente, leva mais de 400 anos para se Todo o lucro do projeto Rio Eco decompor. Pets é destinado a ONGs e protetores Para Flávio Nunes, veterinário, independentes, previamente cadastrados. mestrando em Ciências Ambientais A cada mês há uma troca de protetores e docente do Centro Universitário de beneficiados que devem prestar contas Valença (RJ): “Pensar em reciclagem, de como aplicaram os recursos. Além do inclui pensar em diferentes aspectos recolhimento do material nas diversas

O projeto Rio Eco Pets, criado há três anos, nasceu da preocupação de quatro amigas com o número de animais abandonados na cidade do Rio de Janeiro. Inspiradas por outro projeto social intitulado de Engenharia Solidária, de Caxias do Sul (RS), elas viram na venda de tampinhas para a reciclagem uma oportunidade de ajudar o meio ambiente e ainda investir na proteção de animais. Fernanda Périssé, uma das diretoras do Rio Eco Pets, conta que apesar da dificuldade inicial, o projeto tem conseguido atingir seu objetivo. “No começo foi difícil mobilizar as pessoas.

8


9


regiões da cidade, eventualmente o projeto organiza mutirões para limpeza de praias e grandes eventos como shows, feiras, blocos de carnaval, entre outros. Ao todo mais de 700 animais já foram castrados, o que segundo Nunes - que também integra a equipe internacional EcoOne, é um número bastante expressivo. “Podemos considerar que uma cadela pode gerar em média 10 filhotes por ano, a depender do porte do animal e no caso dos gatos, em média estima-se 6 filhotes anualmente. Então, além da castração representar uma redução do número de animais abandonados, é também uma forma de privação desses animais de uma série de patologias. Como por exemplo, o Tumor Venéreo Transmissível (TVT), que atinge cães causando uma neoplasia na região genital. Uma série de infecções e outros tipos de tumores, que atingem em geral cães e gatos, podem ser evitados com a castração planejada”, esclarece.

10

Para conferir todo o trabalho que vem sendo realizado pelo Projeto Rio Eco Pets, acompanhe-os pelas redes sociais. Além de encontrar informações sobre como se tornar um voluntário, também há disponível as diferentes formas que a sociedade pode estar contribuindo com o projeto carioca.


Programador: uma profissão do século 21 Com o avanço tecnológico, o profissional de programação passou a se tornar altamente requisitado no mercado de trabalho. Por Kethlyn Tavares Saibert (PR)

Ao cogitar uma profissão para se seguir, em geral costumam ser lembradas as mais tradicionais como medicina, engenharia e direito. Mas esquecemos que o mundo está cada vez mais conectado e que as tecnologias digitais fazem parte do nosso cotidiano. Nesse fenômeno global, profissões ligadas à tecnologia têm ganhado destaque no mercado de trabalho e a área de programação tem papel central na nossa vida online. Imaginemos como seria o mundo no século 21 sem computadores e smartphones. Algo impossível de se imaginar, pois consumimos produtos desenvolvidos com linguagens de programação sem nem ao menos perceber. Ela está presente em tudo o que é digital: computadores, sites, redes sociais, aplicativos, serviços de streamings. Então, se você utiliza alguma tecnologia, certamente ela foi produzida por programadores. Programação é um conjunto de códigos e instruções lógicas escritas com alguma linguagem de programação que tem a função de executar comunicação com máquinas para que interpretem as funções que queremos. Há várias linguagens com diversas aplicações, como desde programar um dispositivo eletrônico até controlar um carro. O programador pode trabalhar em diversas áreas como sites, aplicativos, sistemas, bancos, criação de videogames, inteligência artificial, indústrias e setores da biomedicina.

As aplicações de um programador vão desde programar um dispositivo eletrônico até controlar um carro.

“É um mercado cheio de oportunidades. Com a crescente demanda por sites, sistemas e aplicativos, muitas empresas precisam de profissionais na área”, diz o webdesigner Lucas Stavinski, de 31 anos. Há 10 anos no ramo, o profissional acredita que os jovens devem apostar na tecnologia, sobretudo pela ascensão dos aplicativos de entrega e de transporte. “Sempre serão necessários desenvolvedores, designers, para criar a base de tudo isso”, afirma ele.

11


Segundo um levantamento feito pela empresa ManpowerGroup, no Brasil a carência de profissionais na área é de 63% contra 36% da média internacional. Ou seja, há demanda e pouca concorrência. O movimento digital “ocorre no mundo inteiro, então é relativamente fácil conseguir emprego também no exterior”, conta Stavinski. Mesmo com a escassez de profissionais, o setor emprega 845 mil pessoas e a expectativa é gerar mais 350 mil vagas até 2024, conforme dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação.

12 “Com a crescente demanda por sites, sistemas e aplicativos, muitas empresas precisam de profissionais na área”, diz o webdesigner Lucas Stavinski.


Prédio aguarda pertencer a cidade para poder ser restaurado Patrimônio histórico tombado está localizado em um tríplice encontro de limites municipais. Por Gian Cristiano Wagner Baum (RS)

Além dos costumes, os alemães também trouxeram sua religião e logo construíram pequenas igrejas. A Igreja Evangélica Luterana do Brasil do Redentor de Padre Eterno, é uma delas. Os primórdios do templo, na década de 1940, não foram registrados, mas há relatos de familiares dos fundadores. Os relatos apontam que uma comunidade começou a se desenvolver ali mas como os centros dos municípios estavam distantes, o local ficou abandonado pelos poderes públicos dos jovens municípios nascidos no final do século passado.

“É uma comunidade muito pequena. São três, quatro famílias, coisa de dez pessoas. Priano acredita que o município não quer assumir uma contrapartida de R$ 35 mil para dar início ao restauro.. Ela explica que há um tombamento provisório por parte de Nova Hartz, a quem o Estado disse pertencer o território, mas que a atual gestão do município não reconhece. Priano acredita que o município não quer assumir uma contrapartida de R$ 35 mil para dar início ao restauro. “Ele [o prefeito] acha que é bobagem gastar com isso”, lamenta a historiadora.

13




Remi Dias é o vizinho mais próximo do local. Ele e o irmão cuidam da jardinagem do velho templo, que ameaça ir ao chão e do cemitério onde têm ancestrais sepultados. Dias mora em frente a igreja, no outro lado da rua. “Aqui é Morro Router, ali do outro lado (aponta para a igreja) é Nova Hartz e seguindo 150 metros (aponta à esquerda, num caminho de estrada de terra) é Santa Maria do Herval”, explica o agricultor aposentado. Há um processo tramitando no Ministério Público a fim de resolver a situação. Mas enquanto se espera, a comunidade torce para parte de sua história não desabar. Além do valor histórico e sentimental, a historiadora Vânia Priamo avalia que o local poderia ajudar economicamente a comunidade “fomentando o turismo rural que cada dia cresce mais na região”, finaliza.

16

Interior da igreja está completamente destruído.


Brasil

DE TODOS OS CANTOS

Em Sorocaba, feira livre de arte evidencia artistas locais O evento que ocorre bimestralmente, já se consagrou e conquistou o público que movimenta a cidade. Por Líllian Lacerda (SP)

tudo para ser valorizado o artista de Uma feira de rua independente no Sorocaba, para ter visibilidade”, comenta município de Sorocaba, São Paulo, tem a produtora. como principal objetivo expor as Artes Visuais. Contando com mais de 160 artistas por edição, a feira livre de arte intitulada de “Beco do Inferno” conta com exposições, venda de objetos artísticos e artesanais, apresentações de bandas musicais, danças, performances artísticas e comidas orgânicas. Uma das expositoras da feira é Natalia Lins Gomes de Oliveira, 25 anos, autônoma e proprietária do brechó “Templo Urbano”. Oliveira que já participou de sete edições do evento destaca o grande retorno que teve. “Além das vendas que consegui realizar na feira e que ajudam muito principalmente para quem trabalha por conta e é microempreendedor, também ganhei mais visibilidade. Então, acabei fazendo novos clientes que às vezes não compravam comigo nos dias da feira, mas posteriormente, pois a partir da feira conheceram meu trabalho”, esclarece a expositora. Para Lívia Poloto de 26 anos, produtora Valorizar e dar espaço para os artistas da região são os cultural e uma das gestoras do evento, a objetivos da feira. feira é para dar espaço aos artistas locais. “A gente queria ressaltar que a feira aceita produtos artesanais, então é justamente de valorizar e dar espaço para os artistas da região. De todas as áreas do artesanato ou em artes visuais, artes plásticas e também a parte de música. Então, é

17


As mulheres (in)visíveis que fizeram história no campo cientifico No especial Mulheres na Ciência, trazemos a história de personagens que contribuíram para os campos da ciência e tecnologia e, como muitas outras, tiveram seus feitos apagados ou esquecidos. Como a história de Hipátia, nascida no século 4, é considerada a primeira mulher matemática. As mulheres do campo científico enfrentaram (e enfrentam) o machismo (e o racismo, se forem negras) na busca por uma ciência mais equânime e que reconheça seus esforços. Por Amanda Zanluca

18


19

Hipátia (representada nessa releitura) fez grandes descobertas e inovações na área das exatas.



centenas de dólares ela nunca conseguiu patenteá-los. Pois, quando as empresas demosntravam interesse em comprar as invenções de Davidson, desistiam ao descobrir que ela era negra. um aumento significativo de Outra grande mulher da história mulheres em áreas que até então da ciência mas que só teve seu eram consideradas masculinas reconhecimento milhares de anos depois como por exemplo o campo da foi Hipátia, considerada a primeira mulher ciência, devemos refletir que essa matemática. Nascida no século 4, Hipátia evolução não se deu apenas pelo era uma filósofa, física e astrônoma avanço da sociedade, mas muito por um resultado de ações e tendenciamento dos que deu aulas em Alexandria, no Egito. Produziu trabalhos impressionantes e movimentos feministas. Com atuações contribuiu muito na área da matemática, que questionaram em um primeiro momento a ausência das mulheres em mas morreu assassinada quando teve esferas como a educação, foram esses a ascensão da filosofia cristã que movimentos que fizeram a diferença na suplantou a filosofia grega no período. Mas foram anos até as mulheres Incompreendida pela sociedade da época conseguirem adentrar no campo da que a acusava de blasfêmia e sentimentos ciência, pois eram afastadas dos espaços anticristãos, suas contribuições só foram de produção científica por questões conhecidas pelo mundo muito tempo culturais ou até mesmo por leis que depois de sua existência. impediam o ingresso delas em Para a professora universitária, mestre instituições de ensino. Como o caso em sociologia e doutora em educação de Autherine Lucy em 1956, primeira Darli de Fátima Sampaio, o fato da ciência mulher negra a ingressar na Universidade nascer masculina é o que contribui para do Alabama nos Estados Unidos, onde a invisibilidade das mulheres na história sua entrada teve que ser garantida por do campo científico. “Se você começa policiais pois havia manifestações por a ler artigos ou produção nessa área de ela ser uma mulher negra. Não bastasse gênero, você percebe que foi nítido esse ser impedida de acessar a instituição, a apagamento. Não só não se permitiu universidade resolveu ainda expulsar Lucy sucessivamente e descaradamente a mesmo ela sendo a vítima da história. entrada das mulheres nessa área, como E mesmo depois da entrada das também se produziu ciência de forma mulheres nos campos da ciência e muito errada até justificando preconceitos tecnologia, ainda houve um apagamento com relação às mulheres”, comenta. histórico da contribuição das mesmas. Mas apesar de termos chegado em um Como a história de Mary Beatrice tempo em que nunca antes na história as Davidson, que por trinta anos teve mulheres estiveram mais qualificadas e seu reconhecimento impedido pela capacitadas do que os homens, ainda há discriminação racial. Davidson vinha de um longo caminho para se percorrer até uma família de inventores, e ficou mais chegarmos a equidade, principalmente conhecida por seu desenvolvimento na ciência. Segundo dados levantados do absorvente higiênico em 1957. Mas pelo Gênero e Número, no Brasil, nas mesmo que suas criações valessem principais etapas da carreira científica A luta das mulheres por equidade de gênero é algo que passa por todas as esferas da sociedade e vem desde os primórdios. Mas se hoje observamos


as mulheres partem como maioria, mas são uma notável minoria nos postos de maior prestígio. A diferença entre mulheres

22

e homens nas bolsas PQ aumenta à medida que se avança aos níveis mais altos dessa categoria onde os homens chegam a ser 75% dos agraciados com a bolsa nos níveis 1A (nível de maior prestígio) e Sênior. Sampaio aponta quais são as dificuldades enfrentadas pelas mulheres cientistas e pesquisadoras. “O fato das mulheres terem entrado nas ciências, elas encontraram um desafio muito grande. Primeiro para ter que provar que elas tinham a qualificação necessária, porque tem o essencialismo e a ciência não é neutra. Então, se a ciência ela é masculina, ela privilegia essa dimensão masculina e quando a mulher adentra esse campo, entra com um papel essencializado. E essa visão essencializada, ela busca uma naturalização de comportamentos que não condiz com a realidade. Então, as mulheres reclamam no campo da ciência que elas sempre tem que provar que o trabalho delas é melhor”, explica. Outro desafio apontado pela professora é em relação ao crescimento profissional, onde para muitas pesquisadoras o período de 5 anos corresponde ao impacto da maternidade na carreira científica das mulheres. “Uma outra dificuldade é com relação às mulheres que querem ter uma ascensão no campo das ciências, onde o casamento acaba prejudicando. Para os homens beneficiando, porque quando o homem é casado ele tem um suporte atrás de pessoas que vão cuidar dos seus filhos, que vão cuidar da sua casa, cuidar de outros trabalhos menos acadêmicos ou das tarefas dos campos científicos. Agora com relação às mulheres

não é sempre assim que acontece. Formalmente a mulher que está nesse campo, ela ainda tem que dar conta do seu trabalho na área da ciência e também da sua dimensão doméstica”, completa. Mas se em um contexto de gênero a proporção de mulheres já é pouca, quando se trata das minorias ela é menor ainda. Segundo o Conselho Nacional

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), apenas 15% das mulheres que integram as pesquisas científicas são negras. E quando partimos para analisar a proporção de bolsas de pesquisa de produtividade, a diferença é muito maior sendo 3% de

negras para 27% de pesquisadoras brancas. Já a proporção de indígenas,

foram apenas 610 durante os anos de 2013 a 2017. Os números levantados são preocupantes levando em consideração que a população negra corresponde a 54% e os indígenas totalizam mais de 800 mil no Brasil, de acordo com o censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E apesar de termos tido uma evolução nessa década com as tecnologias digitais fomentando novamente o debate sobre equidade, ainda há muitos desafios até conseguirmos reverter essa desigualdade de gênero. Com um longo caminho a se percorrer para chegarmos em uma ciência mais equânime, falar da história dessas mulheres que se tornaram invisíveis durante a história é um passo para a mudança como destaca Sampaio: “Esse

apagamento histórico aconteceu e cabe a nós desenterrar um pouco da nossa própria história, as contribuições que as mulheres já deram historicamente para que nós possamos ter acesso ao avanço que elas conseguiram”.


Marie Curie

A primeira mulher a ganhar um prêmio Nobel Marie Curie: A cientista polonesa que estava muito à frente de seu tempo e contribui para o campo da física. Por Victória Renée

No dia 7 de novembro de 1867, nascia em Varsóvia na Polônia, Maria Salomea Skłodowska, mais conhecida como Manya entre os familiares e amigos. A caçula dentre quatro filhas mulheres e um único homem, foram criados de forma nada tradicional para a época. Seus pais e também professores Bronisława Boguska e Władysław Skłodowski, priorizavam os estudos e queriam

que as filhas mulheres tivessem as mesmas oportunidades que o filho homem tinha. A família Skłodowski -

um grupo de patriotas poloneses em um momento em que a Polônia era da Rússia czarista, sofreu represálias e Władysław Skłodowski acabou sendo demitido por falar abertamente sobre a independência do país tão amado. Antes de completar 11 anos, Maria acabou perdendo sua irmã mais velha por tifo e em seguida sua mãe por tuberculose. Mas apesar das perdas e das dificuldades financeiras enfrentadas pela família, concluiu o ensino médio aos 15 anos. Um tempo depois começou a sofrer de uma doença nervosa - o que hoje poderia ser considerada uma depressão, e então seu pai a mandou para passar um tempo na casa dos primos no campo. Depois de um ano Maria retornou para tentar seguir o sonho de continuar seus estudos, mas as barreiras do patriarcado a forçaram a atrasar seus planos. Pois

na época as mulheres não tinham permissão para estudar na

Universidade de Varsóvia. Então,

Maria fez o pacto com sua irmã Bronya de que trabalharia como governanta para ajudar a pagar os estudos da irmã que faria medicina em Paris. E após a formação, quando Bronya já estivesse ganhando dinheiro, ajudaria na formação de Maria. No outono de 1891, Maria se mudou para Paris deixando para trás não só seu país e familiares, mas também seu nome que adotando a versão francesa passaria a se chamar Marie. Ela se formou em 1893, sendo a primeira mulher a se

graduar em Física pela Universidade de Sorbonne. Já em 1894, concluiu a

sua segunda graduação em Matemática e no mesmo ano conheceu Pierre Curie, chefe de laboratório da Escola Municipal de Física e Química Industrial de Paris. Em 1895, Pierre Curie se tornou seu marido e também companheiro de pesquisas, e desta forma passou a se chamar Marie Curie. Em setembro de 1897, após terminar sua pesquisa sobre as propriedades magnéticas dos aços, Curie apresentou os resultados pouco antes de dar a luz a sua primeira filha, Irène. Marie e o marido começaram a investigar a radioatividade (termo criado por ela), baseado nas descobertas de que minerais contendo urânio também emitem raios, feitas por Henri Becquerel. A principal descoberta feita pelo casal Curie foi de que a radiação era emitida pelos próprios átomos


24


iindividualmente e não por uma interação molecular. A principal descoberta feita pelo casal Curie foi de que a radiação era emitida pelos próprios átomos individualmente e não por uma interação molecular. Por esse trabalho, em 1903, Marie, Pierre e Henri dividiram as glórias do Prêmio Nobel de Física por suas descobertas no campo até então novo da radioatividade. Tendo Marie Curie se tornado a primeira mulher a ganhar esse prêmio. Em 19 de abril de 1906, Marie perde seu companheiro de vida e de pesquisas vítima de um atropelamento. Quase um mês após a tragédia, Curie foi indicada para substituir o cargo do marido como professora na Universidade de Sorbonne, se tornando a primeira mulher a ocupar tal cargo na instituição e também na França. Suas pesquisas descobriram um elemento 300 vezes mais ativo que o urânio, o qual Marie batizou de “Polônio” em homenagem a sua terra. Em seguida, descobriram que um material extraído do polônio era 900 vezes mais radioativo e então batizaram de “rádio”. A partir de suas pesquisas com o rádio, Curie fundou o Instituto de Rádio e também desenvolveu um equipamento denominado “radiógrafo”, criando unidades móveis de radiografia, que foram apelidadas de “petites Curies” (“pequenas Curies”, em francês) sendo muito utilizado na Primeira Guerra Mundial. Essas descobertas lhe garantiram em 1911 o segundo Prêmio Nobel em Química, sendo a primeira pessoa a ganhar duas vezes o prêmio. Marie Curie continuou com suas pesquisas mas seu foco principal agora era o Instituto de Rádio, como forma de passar o legado convidou sua filha Irène que na época ainda era adolescente, para trabalhar como sua assistente. Em

1934, Irène e seu marido Frédéric JoliotCurie fizeram grandes descobertas com radioatividade artificial. Pouco tempo depois, em 4 de julho de 1934, Curie morreu aos 66 anos de anemia aplástica, resultado da constante exposição a radioatividade sem nenhuma proteção. Um ano após

sua morte, a filha de Marie - Irène, conquistou o Prêmio Nobel em Química.

Referências: Pasachoff, Naomi; The Center for History of Physics. Marie Curie and the Science of Radioactivity. 1996. Disponível em: < https://history. aip.org/history/exhibits/curie/ > acesso em 15/11/2020 Nogueira, Salvador. Marie Curie, a polonesa mais brilhante da história. 2018. Disponível em: < https://super.abril.com.br/historia/marie-curie-a-polonesa-mais-brilhante-do-mundo/ > Acesso em 15/11/2020 Marie Curie. Canal Ciência. 2019. Disponível em: < https://canalciencia.ibict.br/nossas-informacoes/ciencioteca/personalidades/ item/325-marie-curie > Acesso em 15/11/2020


Anna Atkins

Fotógrafa da ciência Precursora da fotografia utilizou técnica que envolve a luz do sol para catalogar plantas em uma época em que a foto ainda estava desabrochando. Por Jorge Junior e Júlia Caldeira

26

Considerada uma das primeiras mulheres fotógrafas do mundo, a inglesa Anna Atkins formada em botânica, ficou conhecida por seu trabalho em “fotografar” algas e plantas. Mas o processo de “fotografar” de Atkins era bem diferente do que conhecemos por fotografia nos dias atuais. Utilizando uma técnica chamada de “cianotipia” - processo inventado em 1842, e que consistia em misturar elementos químicos em papel e sobrepor objetos (nesse caso, as folhas de plantas) colocando-as em contato com a luz do sol. Dessa forma, o papel sofria uma reação química que o deixava azul e o objeto sobreposto ficava contornado no papel, com sua silhueta em branco impressa no azul. Anna Atkins nasceu na cidade de Tonbridge no Reino Unido, em 1799. Sua mãe, Hester Anne Children, nunca se recuperou dos efeitos do parto falecendo no ano seguinte. Em 1825, Atkins casa-se com John Pelly Atkins, um comerciante na Índia. A casa da família Atkins era em Sevenoaks, no Reino Unido, e o casal optou por não terem filhos. Atkins adquiriu interesse pela botânica por conta de seu pai, o químico John George Children. Desde cedo Children fez com que a filha tivesse o empenho de estudar os elementos que compõem a natureza, e aprimorar a técnica de catalogar as plantas utilizando da cianotipia.

A botânica inglesa sempre esteve

cercada de ciência tanto dentro de casa como fora dela. Pois, além de seu

pai, outras pessoas ao seu redor foram importantes para sua trajetória como William Henry Fox Talbot e John Herschel. Talbot era cientista sendo considerado um dos pioneiros na criação da fotografia. Já Herschel, foi o criador do processo de cianotipia e coincidentemente, ambos eram amigos e vizinhos da família Atkins. Além de ser reconhecida como uma das primeiras mulheres fotógrafas, Anna Atkins também alcançou o reconhecimento de publicar o primeiro livro de fotos da história. Com o titulo de “Photographs of British Algae: Cyanotype Impressions” - na tradução literal para o português “Fotografias de algas britânicas: impressões de cianótipo”, é o primeiro trabalho de Atkins, sendo também considerado um trabalho muito raro por conta das poucas cópias em circulação. Anna Atkins faleceu em 1871, aos 72 anos na cidade de Halstead, Inglaterra, por problemas de reumatismo e paralisia. A contribuição que Atkins deixou para a área da ciência e da fotografia pode ter sido descoberta tardiamente, porém a recompensa dos anos em que a botânica e fotógrafa ficou no anonimato são a descoberta de um trabalho impressionante. Seja pela simplicidade ou por demonstrar como uma mulher


27


convicta e norteada pode revolucionar a arte, a ciência e todos os outros meios que assim tiver interesse.

Referências: D’ANGELO, Helô. Fotógrafa pioneira, Anna Atkins passou mais de um século na obscuridade. Cult, 2017. Disponível em: <https://revistacult. uol.com.br/home/anna-atkins-fotografa-pioneira/> . Acesso em: 06/11/2020. GIORGI, Fabio. Anna Atkins – O primeiro livro de fotografias. Alternativa fotográfica, 2009. Disponível em: <https://alternativafotografica. wordpress.com/2009/07/03/anna-atkins-o-primeiro-livro-de-fotografias/>. Acesso em: 06/11/2020. CYANOTYPES OF BRITISH ALGAE BY ANNA ATKINS (1843). The Public Domain Review, 2020. Disponível em: <https://publicdomainreview.org/collection/cyanotypes-of-british-algae-by-anna-atkins-1843/>. Acesso em: 06/11/2020.

Cianotipia feita pela artista Cris Rosa, no Lab Secreto, em Curitiba-PR (@lab_secreto)

28


Hedy Lamarr

Hedy Lamarr: a mãe do Wi-Fi A judia fugitiva da Segunda Guerra Mundial que se tornou uma estrela de Hollywood e posteriormente inventora do GPS e Wi-Fi. Por Jennifer Eduarda

Hedwing Eva Maria Kiesler, nasceu em 9 de novembro de 1914, na Áustria. Kiesler era uma atriz judia de pequeno sucesso em seu país natal, que abdicou de sua carreira ao se casar com um dos homens mais influentes do país. Friedrich Mandl era dono de uma fábrica de armamento militar e o casamento aconteceu para proteger a família Kiesler dos pensamentos antissemitas de Adolf Hitler que estavam em ascensão na Alemanha da época. Mas a principal função de Kiesler no casamento era organizar jantares de negócios de seu marido, tendo em um desses encontros conhecido Mussolini - principal negociador de Mandl. Não demorou muito para que seu Mandl começasse a fazer negócios com os alemães e foi então que em um desses jantares Kiesler realizou a sua fuga para os Estados Unidos. Existem várias versões sobre a fuga de Kiesler - ela mesma contava diferentes histórias para esse acontecimento, justamente para despistar as pessoas que ela deixou para trás. Mas a mais aceita é de que ela se vestiu de empregada e em um dos jantares fingiu um mal estar. Indo para o quarto junto com uma outra empregada, onde dopou-a e usou suas roupas para sair de casa, junto com um conjunto de jóias Cartier, além da mesada que recebia do marido. Kiesler foi dirigindo até a França e de lá atravessou o canal da Mancha, chegando em Londres de onde voou para os Estados Unidos.

Foi os contatos que tinha da sua época de atriz na Áustria, que ajudaram ela a entrar em contato com o maior nome de Hollywood, o chefe do estúdio da MGM, Louis B Mayer. Na reconstrução do diálogo feito pela autora Marie Benedict de “A única mulher”, Kiesler teria dito que não era judia. Pois, apenas assim ela conseguiria um acordo. De início foi lhe oferecido um contrato padrão de US$ 125 por semana por sete anos, mas após muita conversa Kiesler conseguiu convencer Mayer a ter um contrato de seu agrado com sete anos ganhando US$ 550 semanais. Foi então que Kiesler resolveu mudar seu nome para Hedy Lamarr, com sua carreira a deslanchar. Em 1940, junto com seu vizinho-amigo, compositor e também inventor George Antheil, criaram um sofisticado aparelho de interferência em rádio. A ideia surgiu quando eles fizeram um dueto no piano e passaram a se comunicar alternado os controles do instrumento. Ou seja, se o emissor e o

receptor mudarem constantemente de frequência, somente os dois poderiam se comunicar sem medo de serem interceptados pelo inimigo. A patente foi feita no mesmo

ano e Lamarr assinou com seu nome de nascença, Hedwing Eva Maria Kiesler. Já em 1942, a dupla submeteu o produto chamado de “Frequence Hopping” ao Departamento de Guerra dos Estados Unidos. A ideia foi rejeitada,

29


30


porque de acordo com o departamento era muito complicado trocar 88 frequências para despistar radares. O projeto foi arquivado até o ano de 1964, quando tropas militares passaram a

usar o projeto de Lamarr na Cuba - ano em que a patente já havia expirado.

A invenção da atriz permaneceu desconhecida até o ano de 1997, quando a empresa Electronic Frontier Foundation premiou Hedy Lamarr por sua contribuição. No ano seguinte, a Ottawwa Wireless Technology adquiriu 49% da patente de Lamarr e a ideia do aparelho de frequência criado por ela serviu de base para a criação da moderna tecnologia de comunicação, como as conexões Wi-Fi e CDMA (de telefones celulares). Sendo considerada a “mãe do telefone celular”, Hedy Lamarr não ganhou nenhum dinheiro com sua enorme contribuição para com a tecnologia. Contudo, em 1997 recebeu do Governo dos Estados Unidos uma menção honrosa “por abrir novos caminhos nas fronteiras da eletrônica”. Hedy Lamarr se aposentou dos cinemas no começo da década de 1960 e ficou reclusa na sua casa em Orlando, até a sua morte no ano 2000, aos 86 anos.

Referências:

Hedy Lamarr, a ‘mãe do wi-fi’ que fugiu do nazismo para virar inventora e estrela em Hollywood Disponível em > https://www.bbc.com/ portuguese/internacional-54017008 / Acesso em 16/11/2020 Série documental da BBC Hedy Lamarr: la estrella de Hollywood que revolucionó la manera de comunicarnos Disponivel em > https:// www.youtube.com/watch?v=McMLGpgDVEI&ab_channel=BBCNewsMundo / Acesso em 16/11/2020 Livro A única mulher na sala de Marie Benedict



Nise da Silveira

Desconstruindo e humanizando a terapia ocupacional A psiquiatra brasileira que esteve muito à frente do seu tempo lutando para humanizar o tratamento com pacientes. Por Eduarda Zeglin

A médica psiquiatra Nise Magalhães da Silveira, mais conhecida por Nise da Silveira, revolucionou a terapia ocupacional no Brasil. Silveira era

totalmente contra as formas agressivas com que eram realizados os tratamentos dentro dos manicômios, como o eletrochoque, camisas de força e o confinamento.

Uma pessoa de personalidade forte, Silveira humanizou o tratamento com os pacientes, defendeu e lutou por suas ideias dentro da psiquiatria institucional. A alagoana era filha da pianista Maria Lídia da Silveira com Faustino Magalhães, um jornalista e professor de matemática. Nise da Silveira sempre foi muito estudiosa e teve parte de sua formação em um colégio de freiras na cidade de Maceió, Alagoas. A psiquiatra que enfrentou o preconceito e a resistência contra o machismo, se tornou uma das

primeiras mulheres brasileiras a se formar em medicina e a única entre 157 homens dentro da sua turma.

Aos 22 anos, Silveira se mudou para o Rio de Janeiro com o marido Mário Magalhães da Silveira, um sanitarista no qual tinha sido seu colega de classe na universidade. No Rio obteve várias oportunidades de trabalho, e foi onde ganhou a vida exercendo sua profissão dentro do Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental, no Hospital da Praia Vermelha.

A psiquiatra além de dedicar a sua vida a medicina, também teve um grande engajamento dentro da literatura e no meio artístico. Escrevia em uma coluna para o jornal no qual seu pai era diretor. No período do Estado

Novo de Getúlio Vargas, a médica foi denunciada por participar de movimentos marxistas, e foi durante

seu período de reclusão que conheceu o romancista Graciliano Ramos, no qual foi citada como umas das personagens de uma das grandes obras de Ramos intitulada de “Memórias do Cárcere’’. O seu trabalho era grandioso e fascinante, e Silveira tinha muitos projetos. Em 1952, fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, legado que contribuiu no estudo e na pesquisa da saúde mental. No ano de 1956, fundou a

Casa das Palmeiras, uma clínica que proporcionou aos seus pacientes novas condições de tratamento fazendo jus ao que acreditava em relação a terapia. Os pacientes ficavam

em ambientes externos, realizando diversas atividades como a pintura e mantendo a socialização com outras pessoas. Dentro desse mesmo parâmetro, Silveira também reiterou a afetividade dos pacientes com os animais como cães e gatos, o que contribui de forma positiva para o recurso terapêutico. Em seu documentário - “Posfácio: Imagens do Inconsciente’’, dirigido por


Leon Hirszman em 2014, Silveira conta como era realizar o seu trabalho na Casa das Palmeiras. “Nesta casa eu me sentia livre para introduzir métodos inusuais, o tratamento fundamental fazia-se através de atividades expressivas, não havia médicos vestidos de jaleco, não havia enfermeiras. As portas e janelas sempre abertas, e assim a Casa das Palmeiras atravessou esses 30 anos”, conta no documentário. A médica também considerava a existência de certos problemas em relação aos regressos. Pois, no decorrer dos anos a tendência sobre os tratamentos vieram a regressar, assim consideravam a utilização de doses fortíssimas de psicotrópicos, os quais faziam com que os pacientes adormecesse noite e dia. Nise da Silveira faleceu no dia 30 de outubro de 1999, aos 94 anos. Deixando seu legado e seu propósito de fazer a diferença na vida das pessoas que necessitavam de ajuda e terapia ocupacional, a psiquiatra esteve muito à frente do seu tempo. “O que me fascinava era o que acontecia dentro da cuca do esquizofrênico, debaixo daquele aspecto miserável, de demenciado, de alienado. Quanto a mim, atraem-me todos os infelizes, os mais infelizes, os loucos e os animais”, frase retirada do documentário “Posfácio: Imagens do Inconsciente’’.

Referências: NISE da Silveira. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http:// enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa3754/ nise-da-silveira>. Acesso em: 27 de out. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7 POSFÁCIO: imagens do inconsciente, Leon Hirszman, 2014, https://www.youtube.com/ watch?v=EDg0zjMe4nA Câmara, Fernando, 2002, Psychiatry on line Brasil Biernath, André, 2017, Portal Veja


Enedina Marques

A primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil Mesmo sessenta e oito anos depois de sua existência, Enedina Alves continua a encorajar mulheres a conquistarem seus espaços. Por Sabrina Fernandes

Enedina Alves Marques nasceu em Curitiba, no décimo terceiro dia do ano de 1913. Filha de Paulo Marques e Virgília Alves Marques, que segundo fontes chegaram em Curitiba nos anos 10, e erradicaram no Ahú ou no Portão, bairro no qual dona Duca, como Virgília era chamada. Filha de lavadeira, Marques passou sua infância na casa do delegado e major Domingos Nascimento Sobrinho, dono da casa que sua mãe trabalhava. Criada junto com a filha do delegado - pois tinham a mesma idade, cresceram juntas e para que uma pudesse fazer companhia a outra, Sobrinho matriculou as meninas no mesmo colégio. Entre 1925 e 1926, ambas estudaram na escola particular da professora Luiza Dorfmund. Mas no ano seguinte ingressaram na Escola Normal, onde Enedina ficaria por mais quatro anos, se formando junto com Isabel, ou Bebeca (apelido), filha do major. Entre os anos de 1932 e 1935, Marques passou a trabalhar como professora no interior do estado, em cidades como Rio Negro, São Mateus do Sul, Cerro Azul e Campo Largo. E foi em 1935 que a futura engenheira voltou a Curitiba para fazer o curso intermediário, que era equivalente a um supletivo ginasial, na época, exigido para o magistério. O curso durou até 1937 e um ano depois a então professora teve seus primeiros passos dentro da sua futura

área em um curso pré-engenharia, dois anos antes de entrar na faculdade de Engenharia Civil. Enedina Alves de Marques formou-se em 1945, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ela se tornou a primeira mulher negra a se formar em Engenharia no Brasil e a primeira engenheira do Paraná. A formatura foi realizada no Palácio Avenida, tendo como paraninfo o professor João Moreira Garcez. A Usina Capivari-Cachoeira é considerado um dos maiores feitos de Marques como engenheira. Também trabalhou no Plano Hidrelétrico do Paraná, e atuou no aproveitamento das águas do rio Capivari, Cachoeira e Iguaçu. Em 1946, tornou-se auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas, um ano após concluir a graduação. No ano seguinte, o governador Moisés Lupions descobriu a engenheira e a transferiu para o Departamento Estadual de águas e Energia Elétrica, sendo esse um trabalho essencial para que Marques pudesse realizar seu maior feito. “Macacão e arma na cintura”, foi assim que Enedina – apesar de ser muito vaidosa, ficou conhecida durante as obras na Usina Capivari-Cachoeira. Além de ser mulher em um ambiente de maioria homens, a engenheira era negra. Então, sempre que precisava combater o machismo e racismo, Marques se impunha de forma rigorosa e enérgica.



Entre os anos 50 e 60, a engenheira já com sua carreira estruturada e consolidada, foi viajar o mundo e conhecer novas culturas. Mesmo período em que o major Sobrinho faleceu (1958), deixando Marques como uma de suas beneficiárias no testamento. A casa onde a mesma passou a infância foi desmontada e hoje abriga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 1962, dois anos depois de voltar da sua aventura pelo mundo, a engenheira recebeu reconhecimento do governador da época, Ney Braga, que por decreto admitiu seus feitos e lhe garantiu um salário equivalente a de um juiz. Marques faleceu em 1981 vítima de ataque cardíaco, tendo sido encontrada morta no Edifício Lido, localizado no centro de Curitiba. Sete anos depois do seu falecimento as homenagens começaram. Seu nome tornou-se endereço de rua na Vilas Oficinas e no bairro Cajuru. Em 2006, foi inaugurado a Fundação do Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá.

Referências:

Monografia de Jorge Luiz Santana. Disponível em > https://revistas.ufpr.br/vernaculo/article/ view/33232/21293 / Acesso em 17-11-20 Inaugurada placa em homenagem a Enedina Marques, primeira engenheira negra do País e formada na UFPR Disponível em > https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/ inaugurada-placa-em-homenagem-a-enedina-alves-marques-primeira-engenheira-negra-do-pais-e-formada-na-ufpr/ Acesso em 17-11-20 Conheça a história da engenheira Enedina Alves Marques Disponível em > https://www. gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/ conheca-a-historia-da-engenheira-enedina-alves-marques-8zvma39hdusiu2rc2hmv4cklq/ Acesso em 17-11-20


Personagens da vida real por trás das máscaras Por Patrícia Gaudêncio

As máscaras se tornaram um acessório indispensável em nosso cotidiano. Por trás de cada uma delas encontramos pessoas comuns, que, de uma hora para outra, tiveram que se reinventar em diferentes níveis e de diferentes formas. Trazemos aqui algumas narrativas de personagens da vida real; são moradores do Rio de Janeiro que nos contam o que a Covid-19 mudou em suas vidas.

38


39

Aprendizado inédito

“Leciono para o Ensino Fundamental há mais de 40 anos e nunca vivi uma situação como essa. Eu que mal usava as redes sociais, tive que conhecer de uma hora para outra ferramentas das quais nunca tinha ouvido falar. Com a ajuda da coordenação, dos colegas de profissão e das próprias crianças, consegui vencer essa barreira e dar continuidade ao meu trabalho. Sem dúvida foram muitos os aprendizados”, Angela Santos, 66, professora


Frame

40

Rotina estranha “Sinto falta da escola. Nós passamos a ter atividades online no mês de julho. Perdi a noção de tempo, tenho dormido muito pouco. Voltei a desenhar, a dançar e me distraio na cozinha preparando minhas receitas. É muito estranha essa nova rotina, sem sair de casa, mas tenho conseguido ser paciente. Nesse período, mudei o cabelo inúmeras vezes e tem sido uma fase importante para meu autoconhecimento”, Larissa Amaral, 13, estudante da rede pública.


Bom desempenho nas aulas online “Fiquei pouco mais de um mês sem aula, mas me adaptei rapidamente ao processo online que a escola adotou. Consegui prestar mais atenção ao conteúdo das disciplinas e tirar dúvidas com os professores. Nas aulas presenciais, me distraía facilmente. Então, essa experiência foi bastante proveitosa para mim, que concluo o Ensino Médio este ano”, Guilherme Gaudencio, 17, estudante da rede privada.


42

Tempo para desacelerar “Comecei 2020 com o objetivo de me tornar uma pessoa melhor. Já estava em um momento de introspecção, quando tivemos que ficar confinados em casa. No aspecto profissional, isso foi bem significativo, com a perda de muitos trabalhos e no adiamento de alguns projetos. Reduzi os custos de casa e desacelerei. Aprendi a meditar, e todo esse período foi importante para permitir que eu identificasse a minha real necessidade.” Fernando Cunha Jr, 36, publicitário, roteirista e fotógrafo.


Frame

43

Mobilização solidária “A adaptação para home office foi tranquila. Passei a ter tempo para cuidar da minha saúde e curtir mais o meu filho. Consciente do cenário de desigualdade, decidi ajudar famílias carentes, orientando-as na realização de cadastros para recorrerem ao auxílio emergencial. Levantei uma campanha na internet e com a arrecadação tenho montado cestas básicas para 40 famílias, com kits infantil e de higiene.” Thiago Dourado, 37, analista de sistemas.


44

Enfrentando os desafios “Durante a pandemia me cadastrei no e-Psi para atendimento psicológico online. Apesar de nem todos os pacientes conseguirem se adaptar a esse novo formato, foi uma alternativa para que alguns seguissem em tratamento. Tem sido um desafio para todos nós e vejo que muitos conseguiram se reinventar, mas, no geral, a tendência é a de que as pessoas retomarem velhos hábitos, conforme percam o medo do desconhecido.” Luciana Nascimento, 47, psicóloga.


45

Empreendimento próprio “Trabalhava há 20 anos para uma rede de lojas do setor da moda, mas a empresa demitiu um número grande de funcionários, inclusive eu, tão logo o comércio foi fechado no Rio de Janeiro. Encarei a situação de desemprego como a oportunidade para iniciar meu empreendimento. Passei a usar as horas livres para estudar, investi em cursos e equipamentos, registrei minha empresa e estou atuando no mercado de produção de audiovisual” Marcelo Santos, 47, designer.


46

Finanças fragilizadas “Comecei a vender lanches na região portuária do Rio em 2019 e quando as coisas estavam se estabilizando a pandemia chegou no Brasil. Em março, as ruas já estavam vazias. O começo foi de desespero, dependia de ajuda mesmo com a liberação do auxílio emergencial que só cobria o aluguel e contas básicas. Voltei às ruas em agosto. O movimento ainda é bem fraco, mas sou otimista e tenho esperança de que tudo isso vai passar.” Cátia Monteiro, trabalhadora informal – 49 anos.


47

Ensinando pelas telas “Com a ajuda do meu filho de 17 anos me adaptei para as aulas a distância. O tempo de convívio com meu filho e minha mãe foi o melhor que poderia ter acontecido nesse período. Não sabia o que era fazer uma refeição com eles ou assistir a um filme juntos durante a semana. Mas, não vejo a hora de reencontrar minhas crianças.” Joelma, 50, professora do Ensino Fundamental.


48

Perdas e ganhos “Estou vivendo um turbilhão de emoções. Apesar da necessidade de me manter isolada em casa com meus filhos, o momento é de guinada profissional; o trabalho aumentou expressivamente e pude desencadear alguns projetos. Ofereço soluções tecnológicas e a demanda está em alta. Após tantos meses, não vejo a hora de reencontrar meus pais, amigos e parceiros de trabalho para boas conversas com abraços liberados”, Cláudia Amaral, 51, empreendedora.


Expediente A Revista F é uma produção laboratorial do curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter. Chanceler Prof. Wilson Picler Reitor Dr. Benhur Gaio Coordenador do curso de Jornalismo Dr. Guilherme Carvalho Professora responsável Ma. Marcia Boroski (MTB: 10737/PR) Projeto gráfico Núcleo de Imagem Ponto Zero Diagramação e layout Jennifer Eduarda Capa Jennifer Eduarda Edição e tratamento de imagem Jennifer Eduarda Estudantes de Jornalismo Amanda Zanluca, Sabrina Fernandes, Júlia Caldeira, Jorge Junior, Eduarda Zeglin, Kethlyn Tavares Saibert, Victória Renée, Patrícia Gaudêncio, Jennifer Eduarda, Líllian Lacerda e Gian Cristiano Wagner Baum. Estudantes de Publicidade e Propaganda Eduarda Moreira e Stefany Bodziak Endereço Rua Saldanha Marinho, 113, Centro, Curitiba (PR) Contato nucleopontozero@gmail.com

Acesse o blog da Revista F

blogrevistaf.com

Produção:



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.