MOLUSCOS E SAÚDE PÚBLICA EM SANTA CATARINA

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CAPÍTULO 1 CAPÍTULO 1

Introdução Geral e Histórico

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presente trabalho busca preencher uma lacuna nos estudos específicos e sistemáticos sobre a ocorrência e incidência/ emergência geral de doenças transmissíveis por moluscos continentais hospedeiros vetores no território do Estado de Santa Catarina/SC, relacionadas diretamente ao saneamento ambiental inadequado e outros impactos antrópicos negativos ao meio ambiente1. Procura conhecer a distribuição geográfica dos moluscos vetores caracterizados, assim como as regiões do Estado onde existem registros confirmados das correspondentes doenças pesquisadas, enfocados todos numa tentativa preliminar de espacialização geral da sua presença, revisando integralmente, pela primeira vez, o conhecimento geral disponível sobre a incidência espacial confirmada e potencialidade de expansão territorial de doenças parasíticas transmissíveis por esses moluscos vetores continentais, terrícolas e de água doce. A pesquisa foi desenvolvida e organizada a partir das nuances gerais, ecológicas e geográficas, que envolvem as relações “hospedeiro-parasita” de três doenças especificamente confirmadas nesta oportunidade, quais sejam: a Esquistossomose, a Fasciolose hepática e a Angiostrongilíose abdominal, revisadas cada uma delas a seguir em capítulos por separado, apresentadas na mesma ordem antes exposta. As doenças parasíticas transmissíveis por moluscos continentais vetores vem sendo largamente negligenciadas no Estado, apesar de se tratar de reconhecidos problemas de saúde pública diretamente relacionados ao denominado “Saneamento Ambiental Inadequado”, dispondo-se apenas de informações incipientes, esparsas e pontuais (AGUDO, 2007 a, c; AGUDO-PADRÓN, 2006, 2007 a-b; SBMa, 2007). O levantamento da fauna de moluscos (malacofauna) de um Estado é importante sob vários aspectos (AGUDO & BLEICKER, 2006 a; AGUDO-PADRÓN, 2008 b, 2009, 2010, 2011), tais como zoológico, biogeográfico, arqueo-paleontológico, pragas agrícolas (AGUDO, 2007), recurso alimentar e ecológico (AGUDO, 2006 c, d), assim como médico-veterinário em criações de gado e médico-sanitário na sua condição de vetores ou transmissores de doenças ao homem (AGUDO, 2006 a, b)2, pelo que se todas as regiões pudessem fazer o mesmo teríamos, dentro de alguns anos, ampliado 1

PIGNATTI (2004) oferece uma abordagem integral da dimensão ambiental pela área de Saúde e a dinâmica de algumas doenças infecciosas chamadas “emergentes”, como produtos das relações humanas com o ambiente. 2

Campo de imediato interesse para ramos da Medicina com ampla abrangência, tais como a Biogeografia ou Geografia Médica (LACAZ et al., 1972; LEMOS & LIMA, 2002), a Ecologia Médica (ÁVILA-PIRES, 2000), a Parasitologia Médica (PASSOS, 1998: 19), a específica Malacologia Médica (BARBOSA, 1995) incluindo a denominada “Malacoterapia” (NETO, 2006), e a Climatologia Médica (COELHO et al., 2003), contando ainda com o inestimável auxilio disciplinar da Epidemiologia, cujo estudo se dá através da aplicação conceitual básica do Espaço Geográfico (COSTA & TEIXEIRA, 1999; CZERESNIA & RIBEIRO, 2000), estruturando no seu conjunto a denominada Medicina Tropical, especialidade esta última que de acordo a SANTOS (2002: 385) (sic): “... compreende particularmente as doenças infecciosas e parasitárias cuja incidência é maior nas áreas tropicais e sua transmissão é facilitada pelas baixas condições socioeconômicas. Desta forma, as enfermidades ditas tropicais incidem sobremaneira na área rural, onde ao lado do pauperismo e da precariedade de saneamento, proliferam os agentes, os vetores e os reservatórios dependentes dos respectivos ecossistemas, podendo ocorrer, ainda, em áreas urbanas, particularmente nos últimos anos, com o intenso fluxo populacional rural-urbano”.

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