Revista Cidade Verde 212

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HOUS PUBLIC


SE D1 CIDADE


Índice CAPA: Movimentos comprometidos 05. Editorial 08. Páginas Verdes Dr. Raimundo Feitosa Neto concede entrevista à jornalista Cláudia Brandão 20. SAÚDE Quando dormir vira um pesadelo 28. SAÚDE De olho no Peixe

08

Páginas Verdes

Dr. Raimundo Feitosa

14

O lado obscuro da grande rede

76

As águas que caem sobre o Piauí

60. SAÚDE O perigo da desinformação

26. Ponto de Vista Elivaldo Barbosa

64. SAÚDE Marcas de alívio

34. Economia e Negócios Jordana Cury

70. SAÚDE Celulite nos olhos

59. Tecnologia Marcos Sávio

80. CULTURA Um Torquato ainda desconhecido

68. Na Esportiva Fábio Lima

36. ECONOMIA De dona de casa a empreendedora

82. Passeio Cultural Eneas Barros 86. Perfil Péricles Mendel

Articulistas 13

Jeane Melo

COLUNAS

48

19

Zózimo Tavares

42

Cecília Mendes


Saúde em primeiro lugar Com o envelhecimento natural da população, algumas doenças, antes raras, começaram a ser diagnosticadas com mais frequência. Não que tenha ocorrido um aumento na sua incidência, simplesmente as pessoas estão vivendo mais e, com isso, está havendo mais tempo para que alguns males se manifestem, como o Parkinson, que afeta os neurônios e leva ao comprometimento dos movimentos do corpo. Quase sempre associada ao tremor, a Doença de Parkinson, na verdade, apresenta outros sintomas, como o enrijecimento dos músculos que, algumas vezes, chega a travar o corpo do paciente. É uma doença degenerativa que ainda não tem cura e cujo tratamento é feito no sentido de atenuar os sintomas para que o paciente possa alcançar alguma autonomia e qualidade de vida.

tido por dores de cabeça latejantes, acompanhadas de náuseas, sensibilidade à luz e ao som, vômitos e tontura. Devido à variação hormonal ao longo da vida, as mulheres são as mais afetadas pela doença, que já está relacionada entre as três primeiras causas de afastamento do trabalho. Portanto, é importante conhecer e identificar os sinais para procurar o tratamento adequado. Para jogar luz em um universo obscuro da internet, a rede mundial de computadores, a reportagem assinada pela jornalista Caroline Oliveira revela o que é e como funciona a Deep Web, um espaço criado dentro da internet, longe de qualquer fiscalização e regulamentação, que, infelizmente, vem sendo usado para disseminação de ódio, preconceitos e até mesmo para articular crimes bárbaros, como o que aconteceu em Suzano, no interior paulista. Um alerta importante para pais e professores.

Na reportagem de capa desta edição comemorativa ao Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril, a Revista Cidade Verde aborda os principais aspectos da doença e relata como é a vida dos pacientes com Parkinson. O neurologista Nonato Campos esclarece as dúvidas mais comuns e orienta sobre como identificar os primeiros sintomas, que costumam vir por volta dos 60 anos de idade.

E para quem já está pensando em programar o roteiro de viagens para o feriadão da Semana Santa, o talentoso fotógrafo Juscelino Reis nos brinda com um belo ensaio sobre as cachoeiras do Piauí, verdadeiros paraísos naturais que, nesta época do ano, formam um espetáculo de águas encantador. Sem dúvida, um tratamento natural e eficaz contra o estresse diário.

Na entrevista das Páginas Verdes, o assunto é enxaqueca, um problema que atormenta a vida de quem é acome-

Cláudia Brandão Editora-chefe

REVISTA CIDADE VERDE | 7 DE ABRIL, 2019 | 5


PARA PUBLIC


AIBA CIDADE


Entrevista POR CLÁUDIA BRANDÃO

Dr. Raimundo Feitosa Neto

claudiabrandao@cidadeverde.com

É de doer!

foto Letícia Santos

A enxaqueca é uma doença que atinge cerca de 15% da população, sendo que as mulheres são as mais afetadas, com crises que podem durar até 72 horas.

Atire a primeira pedra quem não já sofreu ou, pelo menos, conhece alguém que sofre com crises de enxaqueca, uma doença que já desponta 8 | 7 DE ABRIL, 2019 | REVISTA CIDADE VERDE

como uma das três maiores causas de afastamento do trabalho. Os estudos apontam que existem mais de 150 tipos de dor de cabeça, mas nem

todas podem ser consideradas enxaqueca, que só é reconhecida como tal quando vem associada a outros sintomas como náuseas, fotofobia,


sensibilidade ao barulho e, até mesmo, vômitos. Recentemente, a Anvisa aprovou o primeiro medicamento preventivo para enxaqueca. Nesta entrevista, o neurologista especializado em cefaleia, Dr. Raimundo Feitosa Neto, esclarece as principais dúvidas sobre a doença, e faz um alerta sobre o uso abusivo de analgésicos para aliviar os sintomas da dor. Se usados em excesso, eles podem cronificar a dor de cabeça, agravando, ao invés de ajudar a resolver o problema.

RCV – Quais são as causas da enxaqueca? RF – A enxaqueca é uma dor de

cabeça primária, ou seja, ela não é consequência de outra doença; ela é a própria doença. Em geral, ela tem um caráter genético, a pessoa tem alterações genéticas que provocam mau funcionamento cerebral, aumento de algumas substâncias e redução de outras, que acabam culminando com a enxaqueca, que, na verdade, não se resume apenas à dor. Esta é uma das características, a que mais chama atenção, mas tem uma série de outros fatores, como sensibilidade à luz, ao barulho, enjoos, náuseas, às vezes vômitos, tonturas. Na verdade, é uma doença bem mais complexa do que simplesmente a dor.

RCV – E como diferenciar a enxaqueca de uma dor de cabeça comum?

A primeira coisa a deixar claro é que ainda não existe cura para a enxaqueca, mas esse medicamento é o primeiro a ser aprovado para uso específico da doença. É uma droga nova, mas já mostra certa segurança.

RF – Primeiro, precisamos esclare-

cer que nenhuma dor de cabeça é normal, mas a enxaqueca tem algumas características bem peculiares: é uma dor com intensidade de média para cima, mais pulsátil, que começa a latejar; existe o que a gente chama de fotofobia, que é uma sensibilidade à luz durante a dor; a fonofobia, que é uma sensibilidade ao som; e pode vir também associada à náuseas – com ou sem vômitos; e tem uma duração, sem medicação, que vai de quatro a 72 horas, e costuma piorar com esforços físicos. Outra característica é que ela é mais comum em mulheres do que em homens. Para cada homem que tem enxaqueca, nós temos entre duas e três mulheres acometidas com a doença.

RCV – E qual a explicação para essa predominância no sexo feminino? RF – O que se acha hoje é que essa predominância é devido a alterações hormonais. Isso é uma coisa que a gente vê muito no dia a dia da mulher. Quando ela começa a menstruar, começa a ter sintomas de enxaqueca; nos períodos menstruais, as dores costumam ser piores, porque é quando elas têm alteração hormonal. A gravidez, que provoca alteração hormonal, também tem influência na enxaqueca. Em alguns momentos da gravidez piora, mas, em outros, pode melhorar. Na menopausa, por exemplo, quando ocorre outra variação hormonal, pode haver uma melhora da enxaqueca. Então, esse componente hormonal determina uma predominância da doença no sexo feminino.

RCV – O que vem a ser a enxaqueca acompanhada de aura? RF – A aura é um fenômeno que

ocorre, em geral, alguns minutos antes da enxaqueca ou começa junto com a dor e pode ser visual, com o aparecimento de uns flashes de luz, brilhos, e a semelhança de uma chuva de papel laminado, como relatam alguns pacientes. Também pode vir associada a uma perda de campo visual. E tem ainda a aura conhecida como somestésica, que é uma alteração da sensibilidade de um lado do corpo: da face ou do braço, geralmente, que pode vir REVISTA CIDADE VERDE | 7 DE ABRIL, 2019 | 9


acompanhada de dormência ou formigamento, além da chamada aura afásica, na qual a pessoa pode ter alterações na fala e no entendimento; ela começa a falar enrolado, trocar palavras, sentir dificuldade de expressar alguma palavra em especial. São as mais comuns, embora haja outras específicas e mais raras, com zumbido, tonturas intensas, redução da acuidade visual, perda visual dos dois olhos. Mas a principal, e mais comum, é a aura visual, que corresponde a alterações com o aparecimento de brilho, estrelinha, vagalumes.

RCV – A Anvisa aprovou, no dia 25 de março, a primeira droga de prevenção da enxaqueca. Qual a eficácia desse medicamento? RF – A primeira coisa a deixar claro

é que ainda não existe cura para a enxaqueca, mas esse medicamento é o primeiro a ser aprovado para uso específico da doença. O arsenal para a enxaqueca é bem amplo, mas não há nenhum medicamento próprio para ela. A gente usa muito alguns remédios de pressão, antidepressivos, anticonvulsivantes, estabilizadores de humor, mas, para enxaqueca mesmo, esse é o primeiro. Ele foi criado nos Estados Unidos, com o nome de AJOVY, e chega agora ao Brasil com o nome de Pasurta. Já existem estudos mostrando que tem uma boa eficácia. A vantagem com relação aos remédios convencionais existen-

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A automedicação acaba induzindo a uma outra dor, chamada cefaleia por abuso de analgésicos, e provocando também gastrite, úlcera no estômago, problemas no fígado, insuficiência renal.

tes hoje é que estes são medicamentos orais de uso diário, enquanto que o novo trata-se de um medicamento injetável, subcutâneo; é uma agulha mais fina que a de insulina e é de aplicação mensal, podendo, ou não, manter o tratamento convencional. Ainda tem poucos estudos porque é uma droga nova, mas já mostra certa segurança.

RCV – Os medicamentos devem ser administrados logo nos primeiros sintomas da crise? RF – Não existem critérios para tra-

tar enxaqueca. Nem toda enxaqueca vai precisar de remédio. Hoje, o que a Sociedade Brasileira de Cefaleia preconiza é que o tratamento deve ser administrado em casos de paciente com mais de duas dores por mês ou, mesmo que seja apenas um episódio mensal, mas que seja

incapacitante e que não tenha uma resposta boa aos analgésicos. Então, nem sempre o fato de a pessoa ter a dor significa que ela tenha de iniciar o tratamento logo, até porque, para fechar o diagnóstico de enxaqueca, você tem de ter, pelo menos, cinco episódios sem aura, ou dois episódios com aura. Havendo o diagnóstico, e dependendo da quantidade de crises, é que a gente vai instituir ou não o tratamento. O que geralmente agrava não é propriamente o fato de a pessoa demorar a procurar o neurologista, mas usar analgésico demais.

RCV – E qual o risco que esse exagero na automedicação pode trazer para a saúde do paciente? RF – A enxaqueca é uma dor de média para cima, então é uma dor que incomoda, que incapacita. E a pessoa, pra se ver livre, vai querer tomar o que estiver à mão. A primeira coisa é que isso pode piorar a enxaqueca, quanto mais crônico for o uso, a dor tende a aparecer com uma frequência maior. Aquela dor que vinha três, quatro vezes por mês, começa a vir duas, três, quatro vezes por semana. Ela acaba induzindo a uma outra dor, chamada cefaleia por abuso de analgésicos e, a médio e longo prazo, o prejuízo é até maior, provocando também outras consequências como gastrite, úlcera no estômago, problemas no fígado, insuficiência renal. Além de


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