Revista Agroindústria Tropical 145

Page 1

AGROINDÚSTRIA TROPIC

A

L

Revista editada pelo Centro Nacional de Pesquisa de Agroindústria Tropical Fortaleza, CE, Fevereiro-Março| 2013 | Nº 145

Agricultura de mão dupla Saiba como a Embrapa Agroindústria Tropical atua em conjunto com países da África e da América Latina

1


Apresentação O Brasil é visto como uma referência mundial no combate à fome, graças aos avanços obtidos na redução do número de subnutridos, especialmente entre crianças. A Embrapa, por sua vez, também tem sido cada vez mais demandada pelo governo brasileiro a colaborar com os países em desenvolvimento. A Embrapa Agroindústria Tropical, desde a sua criação, atua no sentido de transferir conhecimentos e tecnologias a esses países, atendendo, assim, à determinação do governo federal. Cursos, visitas técnicas e missões são exemplos

3

5

Sumário FRASES E NÚMEROS REPORTAGEM DE CAPA Aprendendo juntos

de como a cooperação internacional pode ser um instrumento fundamental no combate à insegurança alimentar e no apoio à superação de desigualdades sociais. Engana-se, contudo, quem acredita que essa troca de informações só ocorre em um sentido. Técnicos brasileiros também se beneficiam dos conhecimentos que países como a Tanzânia possuem sobre a área agrícola. Como bem diz o título da capa, as relações entre Brasil e os países africanos e latino-americanos é uma via de mão dupla que só tende a aumentar.

13 14

ACONTECE Representante da Texas A&M visita embrapa agroindústria tropical RADAR RASTREAMENTO: SAIBA O QUE É

Expediente Agroindústria Tropical É uma revista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Elaborada pela Embrapa Agroindústria Tropical, situada na Rua Dra. Sara Mesquita 2270 - Pici CEP 60511-110 Fortaleza, CE. Contato Telefone: (85) 3391.7100 E-mail: cnpat.sac@embrapa.br Site: www.cnpat.embrapa.br twitter: @embrapacnpat

Chefe-Geral Vitor Hugo de Oliveira

Projeto Gráfico Raissa Alves | Ricardo Moura

Chefe-Adjunta de P&D Andréia Hansen Oster

Ilustração Raissa Alves

Chefe-Adjunto de Administração Cláudio Rogério Bezerra Torres Chefe-Adjunto de Transferência de Tecnologia Lucas Antonio de Sousa Leite Supervisor do Núcleo de Comunicação Organizacional Nicodemos Moreira Jornalistas Responsáveis Ricardo Moura (DRTCE1681jp) Verônica Freire (MTB 01225jp)

2

Revisor Marcos Antonio Nakayama Estagiário Luana Sampaio Impressão | Tiragem Gráfica Cearense | 4.000 exemplares Foto Cláudio Norões | Leto Saraiva Imagem da capa NASA. Earth Observatory. Blue Marble: next generation. Disponível em < http://mapas.ibge.gov/Features/ BlueMarble/. Acesso em: 11 jan. 2013. IBGE. Unidades da Federação. Disponível em < http://mapas. ibge.gov.br/bases-e-referencias>. Acesso em: 11 jan. 2013. ESRI. World Countries 2004. Redlands, CA: ESRI, 2004. 1DVD. Processamento: Embrapa Monitoramento por Satélite - Campinas, 15 de Março de 2013.


Frases&Números O Brasil é um dos poucos países com condições de expandir muito sua produção agrícola. Nosso desafio não é somente produzir, mas sim termos um desenvolvimento sustentável. Ladislau Martin Neto, novo diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa.

Na regionalização – a ser implementada inicialmente nas regiões Sul e Nordeste, em razão de serem atingidas pela seca – a principal meta é identificar as dificuldades locais do setor para induzir o crescimento da produção agropecuária e florestal por meio de sistemas que gerem emprego e renda com sustentabilidade. Mendes Ribeiro, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sobre o projeto de Regionalização, a ser desenvolvido pela pasta em 2013.

Conseguimos, em menos de dois anos de Brasil sem Miséria, tirar 19,5 milhões de pessoas que estavam no Bolsa Família ainda em situação de extrema pobreza. O compromisso da presidenta Dilma [Rousseff ] é, até o final do seu mandato, construir um Brasil sem miséria. Estamos convencidos de que esse caminho é possível. Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

85%

Percentual do aumento do comércio bilateral entre Brasil e África, nos últimos seis anos. Em 2012, foram movimentados US$ 26 bilhões.

US$ 108 milhões Volume obtido pelas exportações cearenses de frutas em 2012. Pela primeira vez, as exportações de frutas superaram as de grãos.

1,2 mil toneladas

Expectativa da produção de frutas frescas no Ceará em 2013.

24,25% Percentual de participação da banana de sequeiro na produção total de frutas frescas do Ceará. Vêm, em seguida, banana irrigada (17,25%), maracujá (17,01%), melão (16,63%) e mamão (9,61%).

3


REPORTAGEM DE CAPA

4


REPORTAGEM DE CAPA

Aprendendo

j u n to s Por Ricardo Moura

M

esmo com o constante crescimento da produção mundial de alimentos e da significativa elevação de produtividade no campo, 870 milhões de pessoas ao redor do mundo ainda sofrem de subnutrição crônica, conforme o relatório “Estado da Insegurança Alimentar no Mundo-2012”, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). De acordo com o diretor-geral da instituição, José Graziano, “praticamente apenas a América Latina tem tido sucesso continuado na redução da fome”. Em janeiro deste ano, José Graziano visitou a diretoria da Embrapa para tratar desse problema e discutir a criação de uma parceria na organização de projetos para o fortalecimento da produção agrícola e de combate à fome no mundo. A proposta foi discutida com o presidente Maurício Lopes, com os diretores Waldyr Stumpf e Vânia Castiglioni, além do então chefe da Secretaria de Relações Internacionais (SRI), Márcio Porto. De acordo com a FAO, a subnutrição atinge mais fortemente nações pobres da Ásia e da África Subsaariana. Segundo o presidente da Embrapa, o problema é grave principalmente nas regiões que apresentam crescimento populacional e que não são capazes de alcançar sua própria segurança alimentar. Nesse sentido, o Brasil é visto como uma referência mundial no combate à fome, graças aos avanços obtidos na redução do número de subnutridos, especialmente entre crianças. A Embrapa, por sua

vez, também tem sido cada vez mais demandada pelo governo brasileiro a colaborar com os países em desenvolvimento. No caso da África, José Graziano ressalta a importância da transferência de tecnologia na revitalização dos institutos locais de pesquisa e experimentação. “A Embrapa é uma matriz conhecida mundialmente para fazer essa capacitação, de modo que eu vejo que hoje, mais do que ser um exportador de alimentos, o que também ajuda muito a acabar com a fome, o Brasil pode transferir tecnologia, principalmente às regiões tropicais da África, ajudando muito a combater a fome também nesses países.”

O Brasil é visto como uma referência mundial no combate à fome, graças aos avanços obtidos na redução do número de subnutridos, especialmente entre crianças. A Embrapa Agroindústria Tropical, desde a sua criação, atua transferindo conhecimentos e tecnologias aos países em desenvolvimento, atendendo, assim, a uma determinação do governo federal. O pesquisador Fábio Paiva, supervisor do Setor de Gestão da Implementação da Programação de Transferência de Tecnologia (Sipt), conhece de perto essa questão. Ele já viajou para diversos países da América Latina e da África com o intuito de 5 5


REPORTAGEM DE CAPA

Técnicos conhecem o funcionamento de uma unidade de processamento agroindustrial no Piauí

prestar serviços de consultoria, fornecer assistência técnica e elaborar projetos, além de ministrar cursos graças ao reconhecimento internacional de que a Embrapa desfruta. Conforme Fábio Paiva, as primeiras missões da Embrapa Agroindústria Tropical foram em Moçambique e Venezuela. De início, o caju era o principal fruto de interesse. Com a ampliação da missão da Unidade, novos produtos foram se incorporando, em especial as frutas tropicais. Os conhecimentos sobre processamento agroindustrial são os mais solicitados. “Esses países, embora disponham de muitos conhecimentos na área agrícola, ainda não dominam os conceitos de inovação e de agroindústria. A escala de desenvolvimento, nessas áreas, é menor que a do Brasil”, explica. O pesquisador Levi de Moura Barros atuou na implantação do escritório da Embrapa em Moçambique. Segundo ele, o Brasil não é mais visto como um país a ser ajudado pelos órgãos internacionais, mas sim como uma nação de quem se espera um papel de colaborador no processo de transferência de tecnologias. Para ele, a Embrapa desempenha uma função importante nesse processo, haja vista o prestígio e o reconhecimento que desfruta em nível mundial. “Em um dos projetos de que parti6

cipei, a presença da Embrapa era uma das exigências para que os recursos fossem liberados”, afirma. No que se refere a Moçambique, o pesquisador destaca dois projetos bastante promissores. O primeiro diz respeito à reestruturação do sistema de pesquisa, capacitação e melhoria de laboratórios e equipamentos naquele país. O segundo tem como meta levar as tecnologias que impulsionaram a atividade agrícola no Cerrado brasileiro para o corredor de Nacala, região que possui condições climáticas e de solo bastante semelhantes com as nossas.

Aprendizado mútuo Fábio Paiva destaca, também, que os técnicos brasileiros também aprendem bastante com os de outros países. O Centro de Caju Cashew Boarding of Tanzânia, por exemplo, possui cientistas de renome internacional. “É preciso deixar claro que nós também estamos aprendendo com eles. Temos projetos com a Tanzânia e Gana de intercâmbio de material genético para fins exclusivamente científicos. Vamos avaliar os materiais deles aqui e eles vão avaliar os nossos materiais por lá. Para tanto,


REPORTAGEM DE CAPA

estamos cumprindo todas as normas e obrigações de cada instituição. Quanto à tecnologia agrícola e ao melhoramento genético vegetal, países como Tanzânia, Gana e Moçambique possuem conhecimentos valiosos no combate a pragas e doenças, como o oídio do cajueiro”, acrescenta Fábio Paiva. Em janeiro, três pesquisadores da Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (Corpoica) – principal instituto de pesquisa agropecuária da Colômbia – estiveram na sede da Embrapa Agroindústria Tropical para aprender mais sobre a prática da substituição de copas de árvores improdutivas e sobre o plantio de mudas. Um convênio entre as duas instituições possibilitou a criação de um Laboratório Virtual da Corpoica em Brasília (DF), que conta com a atuação de um pesquisador que representa os interesses do governo colombiano no setor.

desenvolvimento Em setembro de 2012, a Embrapa Agroindústria Tropical participou da sétima Conferência Anual da Aliança Africana de Cajucultores (ACA, na sigla em inglês), que foi realizada na cidade de Cotonou, no Benin. O chefe-geral da Unidade, Vitor Hugo de Oliveira, e os pesquisadores Levi de Moura Barros e Fábio Paiva ministraram palestras sobre inovação tecnológica, processamento industrial e o panorama da cajucultura no Brasil. A conferência anual da ACA é considerada o maior evento da cajucultura no mundo. Representantes de 36 países participaram dessa edição. A entidade reúne 22 países africanos produtores de castanha, com produção estimada em cerca de 1 milhão de toneladas. O continente africano tem se transformado no centro das atenções do mundo do caju, e as oportunidades no negócio do caju nunca foram tão grandes. O processamento aumentou mais do que três vezes desde a criação da ACA, em 2005, tendo passado de 100 mil toneladas no ano passado. No mundo do caju, o Benin é conhecido pela qualidade de sua castanha. O país é o terceiro maior exportador de castanhas da África, com 100 mil toneladas em 2011. *Com informações de Marcos Esteves, jornalista da Embrapa Sede, e Verônica Freire, da Embrapa Agroindústria Tropical.

Embrapa está definindo agenda de atuação na África Em entrevista ao site da BBC, o diretor-presidente da Embrapa, Maurício Lopes, falou sobre as estratégias de ação da Embrapa no continente africano. Confira alguns trechos: “A Embrapa não vai para a África apenas com sua agenda de pesquisa e transferência tecnológica: vai em sintonia com uma agenda definida pelo governo brasileiro através da sua Agência Brasileira de Cooperação (ABC). Para ganharmos mais flexibilidade e agilidade, temos dialogado com a FAO, que já tem toda uma rede estruturada de operação na África.” “Não faz sentido a Embrapa dispersar sua ação num grande número de países, fragmentando os recursos que são sempre escassos. Estamos agora num processo de revisitar a estratégia e agenda de atuação da empresa na África para então definirmos mais claramente objetivos, países e projetos onde a empresa possa realmente dar sua contribuição.” “Estamos operando em vários países com resultados muito bons. Por exemplo, estamos no chamado ‘Cotton Four’, que são Benin, Chade, Mali e Burkina Faso, os principais produtores de algodão na África Ocidental. Temos outra iniciativa muito importante com o envolvimento do Brasil, Moçambique e Japão, no projeto do corredor de Nacala, em Moçambique, que é uma região de 14 milhões de hectares com características muito semelhantes às do cerrado brasileiro (...) O grande interesse é replicar uma capacidade de produção de commodities, como milho, soja e algodão.” A entrevista completa pode ser lida em http://www. bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/02/130122_ embrapa_entrevista_2_jf_cc.shtml 7


REPORTAGEM DE CAPA

Cursos Internacio D

esde 2011, Fortaleza já sediou dois cursos internacionais em Produção, Pós-Colheita e Processamento Industrial do Caju. Na edição mais recente, realizada em novembro do ano passado, 19 técnicos com formação superior na área agrícola da Colômbia e de Moçambique participaram da capacitação. O chefe-geral da Embrapa Agroindústria Tropical, Vitor Hugo de Oliveira, ressalta que os profissionais têm acesso ao que há de melhor em técnicas de produção e processamento em cajucultura. “Eles têm, ainda, a oportunidade de levar para seus países de origem ideias e ferramentas de transferência de tecnologia já testadas pela Embrapa”, conclui. 8

O agrônomo Paulino Sitoae, representante do Instituto de Fomento do Caju (Incaju), de Moçambique, revela ter aproveitado bastante o curso, sobretudo o conteúdo sobre gestão e empreendimento apresentados no primeiro dia de aula. Para Paulino, o conhecimento adquirido irá ajudar a melhorar o entendimento de muitos processos. “A intenção é juntar as abordagens que nós já aplicamos com as usadas pela Embrapa. A nossa aposta é na tecnologia do pedúnculo, para melhorar o seu aproveitamento e produzir sucos”, ressaltou. O pesquisador Joaquim Garcia Peña, da Corporação Colombiana de Pesquisa Agropecuária (Corpoica), disse que o curso é uma oportunidade para aprender mais e conhecer a experiência da Embrapa. Ele trabalha na região Norte da Colômbia, que


REPORTAGEM DE CAPA

1

2

4

3 (1) Pesquisadora da Corpoica conhece comércio local de frutas; (2) Alunos assistem à aula no auditório; (3) Chefe-geral entrega certificados; (4) Técnicos conversam com trabalhadoras de agroindústria no Piauí.

onais

Promovem troca de conhecimentos

tem o cajueiro como uma planta silvestre. Conforme Joaquim, a Corpoica tem poucos trabalhos de pesquisa com a cultura, e a expectativa é que a cajucultura se torne uma alternativa para os produtores da região. As culturas tradicionais do lugar são fruteiras tropicais, dendê, milho e algodão.

Os profissionais têm acesso ao que há de melhor em técnicas de produção e processamento O programa do curso inclui cadeia agroindustrial, planejamento e gestão econômica, melhoramen-

to genético, sistema de produção integrada, renovação de pomares, doenças e pragas, colheita e pós-colheita e processamento industrial. O treinamento é resultado da parceria entre a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC). Os recursos são oriundos do Programa de Treinamento de Terceiros Países (TCTP) no âmbito do programa de parceria Brasil-Japão. A parte introdutória do curso foi ministrada na Embrapa Estudos e Capacitações (Brasília). O restante do treinamento prosseguiu na sede da Embrapa Agroindústria Tropical e no Campo Experimental de Pacajus. Fazem parte do curso, ainda, dias de campo e visitas a propriedades. (Colaborou Ítalo Marciel) 5 9


REPORTAGEM DE CAPA

tados Unidos da América

Saara

Bahamas

México

Haiti Cuba Belisa

Guatemala

Cabo Verde Porto Rico

A

Jamaica

Honduras

Venezuela

Panamá Colômbia

Jamáica

Guiana Suriname Guiana Francesa

A

A

Moçam

Brasil

Peru

a

Bolívia

Panam

Benim

Nigéri

Paraguai

Colôm Chile

Jamáic Argentina

Uruguai

Malvinas

10 4


Romênia Bulgária Turquia

Tunísia

Marrocos Argélia

Ocidental

Mauritânia

Mali

Líbia

Arábia Saudita

Níger

Sudão

Chade

Iêmen

Congo

Rep. Cent. Africana Rep Dem. do Congo

Etiópia Quênia

Catar

Angola

Eritreia Somália Uganda

A

Tanzânia

Zâmbia

A

Namíbia Botsuana

mbia

ca

Índi ã

Gabão Benim

ia

Afeganistão

Irã Kuwait

Egito

Nigéria

Gana

m

Iraque

Om

Camarões A A

Síria

Jordânia Israel

Faso

Guiné

mbique

Grécia

ão

Itália

uis t

Espanha

quis tão Turcomenistão

Pa q

Portugal

UzbDE CAPA REPORTAGEM e

África do Sul

Moçambique

Legenda

Açõcoes de Cooperacação

a

Visita técnica Cursos

A

Missão 11 11


REPORTAGEM DE CAPA

Tecn olo gias de sucesso

T

rês tecnologias da Embrapa Agroindústria Tropical desfrutam de bastante aceitação nos países da África e da América Latina. São elas: a cajuína, a minifábrica e o clone de cajueiro-anão-precoce CCP 76. O suco clarificado de caju, conhecido popularmente como cajuína, passou por melhorias feitas por pesquisadores da Unidade. O produto caiu nas graças de produtores de pelo menos seis países que participaram de ações de cooperação técnica no Brasil: Benin, Guiné-Bissau, Honduras, Colômbia, Bolívia e Moçambique. Um fato que chama atenção é a permanência do nome “cajuína” nesses locais. Fábio Paiva revela que, em Guiné-Bissau, a bebida começou a ser comercializada com o nome local “Anura”. A nova denominação, contudo, não pegou, e o suco clari-

ficado de caju voltou a ser chamado por seu título original. A tecnologia simples e barata adaptou-se bem à realidade local. A minifábrica de processamento da castanha-de-caju é mais um caso de exportação de tecnologia bem-sucedida. Assim como no Brasil, o sistema modular baseado em pequenas unidades e uma central de comercialização também é utilizado lá fora. Os equipamentos são importados de metalúrgicas brasileiras e indianas, com quem os africanos possuem fortes laços comerciais. De acordo com o pesquisador, o uso do cajueiro-anão-precoce disseminou-se por diversos países. “Os consultores internacionais já haviam levado essa tecnologia para o exterior. Com o nosso trabalho, ela se consolidou de vez”, garante.

Novos desafios Para Fábio Paiva, há muito a ser feito quanto à transferência de tecnologias. O consumo depende fortemente da importação de alimentos. “Muitos países africanos ainda não têm o hábito de consumir o pedúnculo do caju. Algumas barreiras culturais prejudicam esse consumo. Quando os técnicos desses países chegam ao Brasil e veem quantas receitas são possíveis com o caju, e que vão muito além da castanha, eles ficam maravilhados. A África do Sul tem um dos maiores mercados mundiais de bebidas feitas a partir de frutas tropicais e temperadas. O suco poderia ser extraído em países vizinhos e exportado para lá”, descreve. A manga é mais um fruto que pode gerar dividendos aos países africanos. A produção é bastante elevada, mas ainda faltam espaços para armazenamento, e a infraestrutura das estradas não é adequada. “Por causa disso, o desperdício de alimento ainda é alto. O processamento agroindustrial da manga é uma frente de transferência de tecnologia que pode surgir no futuro”, avalia o pesquisador. 12


Acontece

Ricardo Elesbão e Luis Cisneros-Zevallos, atuantes na área de alimentos funcionais

Representante da Texas A&M visita a

Embrapa Agroindústria Tropical O desenvolvimento de pesquisas com compostos bioativos foi o tema tratado em uma série de reuniões realizadas entre pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical e o professor Luis Cisneros-Zevallos, da Texas A&M University, em fevereiro, na sede da Unidade, em Fortaleza, CE. Compostos bioativos são compostos químicos presentes em vegetais que exercem uma potente atividade biológica e que podem desempenhar diversos papéis em benefício da saúde humana. Os pesquisadores trataram da possibilidade de parceria entre o Laboratório Multiusuário de Química de Produtos Naturais (LMQPN), da Embrapa Agroindústria Tropical, e a Texas A&M University. Um dos participantes das reuniões foi Ricardo Elesbão Alves, pesquisador da Secretaria de Relações Internacionais da Embrapa (SRI) lotado no Laboratório Virtual da Embrapa (Labex), na Texas A&M University, Estados Unidos. Além de realizar pesquisas na área de compostos bioativos, novos produtos e biodiversidade, Ricardo Elesbão é responsável pela articulação internacional da Embrapa nessa temática. De acordo com o pesquisador, as análises químicas dos produtos da biodiversidade brasileira realizadas no LMQPN são complementares a estudos realizados no Labex Esta-

dos Unidos, onde se observam, em laboratório, como as substâncias químicas atuam nas células. Atualmente, Elesbão realiza estudos sobre o potencial antioxidante da acerola. De acordo com Elesbão, existem 13 mil plantas comestíveis conhecidas, mas apenas três produtos (milho, trigo e arroz) representam 50% do consumo desse tipo de alimento no mundo. A biodiversidade brasileira abriga hoje entre 15% e 20% das espécies vegetais, animais e microrganismos do mundo. O pesquisador afirmou que, apesar do crescente interesse internacional pela nossa megabiodiversidade, ela por si só não é garantia de crescimento econômico, tampouco de desenvolvimento sustentável. Para ele, o Brasil, além de importante exportador de matéria-prima, deve se converter em protagonista de uma nova economia mundial, baseada no uso sustentável da biodiversidade e dos seus recursos derivados, agregando valor para os diferentes setores produtivos. Ele salienta ainda o importante aumento da demanda por tecnologias voltadas para o aproveitamento sustentável da biodiversidade brasileira e para o desenvolvimento de bioprodutos, como fármacos, fitoterápicos, nutracêuticos, cosméticos, biomateriais, etc. 13


Radar

Rastreamento: Saiba o que é

Por Renato Manzini

a

tualmente, há um aumento crescente do interesse dos consumidores pela origem das frutas de mesa e pelo modo como elas foram produzidas. Esse interesse reflete um sensível aumento na abrangência daquilo que os consumidores consideram como qualidade e das variáveis que eles avaliam no momento da compra. Mesmo assim, o real valor de uma fruta muitas vezes só pode ser claramente traduzido percorrendo-se seu caminho do campo à mesa, ou seja, conhecendo sua história e possibilitando aos consumidores também conhecê-la. Atentas a essa realidade, muitas cadeias produtivas de frutas têm buscado reestruturar-se para se engajarem nesse contexto, aproveitando-se de tecnologias de apoio à gestão de processos, do compartilhamento de informações e do rastreamento de origem. É por meio de ferramentas incorporadas a sistemas de informação, como as de rastreamento, que determinadas cadeias têm modelado novas estruturas de abastecimento e avançado na implantação de programas de me14

lhoria. A proposta por trás do rastreamento é a de identificar a origem e a posição de um produto em cada uma das etapas dos processos de produção, transformação e distribuição, mapeando seu percurso e sua qualidade até o ponto de venda. Com o rastreamento, essas informações podem ser captadas e transmitidas aos consumidores finais, transformando-se numa estratégia de diferenciação. Pelas normas brasileiras, o rastreamento é definido como a habilidade de rastrear a história e a localização de um produto, a partir de informações armazenadas. Além da origem e da posição, seu uso possibilita também o monitoramento dos processos e a captação e a propagação de informações referentes às atividades (manejo e operações) às quais os produtos foram submetidos e que podem definir sua qualidade. O assunto vem ganhando força junto aos agentes envolvidos com a produção e a distribuição de frutas, especialmente por já ser um requisito em processos internacionais de normatização.


O rastreamento já é exigido por determinados compradores do Brasil e do exterior, e sua ausência pode se tonar uma barreira a determinados mercados. Internamente, é uma ferramenta cada vez mais presente nas iniciativas do setor privado para avaliar a conformidade dos produtos ao longo da cadeia, apoiando programas de certificação, indicações geográficas, implantação de protocolos produtivos e sistemas de gestão da cadeia de suprimentos. Na ponta, parte dessas informações pode ser disponibilizada para um público crescente de consumidores interessados na procedência daquilo que levam à mesa. Diversas ferramentas têm sido adotadas para facilitar a identificação das frutas e informar aos consumidores as principais características do produto, incluindo sua origem. Hoje, uma simples etiqueta pode conter múltiplas informações e permitir aos agentes envolvidos uma gestão integrada de toda a cadeia de abastecimento. A etiquetagem refere-se às informações de identificação do produto e do fornecedor. Abrange pallets, caixas e produtos, tanto granel, quanto embalados. São inseridas informações gerais como código e nome do produtor, descrição do produto, data em que foi embalado, tabela nutricional, código PLU (EAN), código de rastreamento, etc.

problemas de identificação por parte dos operadores de frente de caixa e por parte dos clientes, já que em alguns formatos o código vem acompanhado do nome do produto. Para os produtores, são esperados impactos operacionais e financeiros dentro dos packing houses ou galpões, em função da inclusão da tarefa de etiquetagem. Entretanto, como distribuidores de grande porte também já utilizam o código PLU, sua adoção por parte dos produtores de frutas favoreceu seu acesso a esses compradores. No caso das transações internacionais, como frutas para exportação, os códigos já são uma prática comum. O segundo elemento importante já presente nas etiquetas é o próprio código de rastreamento. Ele pode ser acrescido à etiqueta padrão de identificação do produto nas caixas (para produtos a granel) ou nas embalagens (para frutas e legumes embalados em porções e para as hortaliças). Incorporado ao código de barras, ele traz informações do lote ou talhão como forma de identificar a origem, as práticas agrícolas adotadas e o caminho percorrido. Caso haja algum intermediário no trajeto, o código também recebe informações para identificá-lo, bem como sobre processos envolvidos durante a permanência do produto junto a esse agente.

Códigos Algumas das informações presentes nas etiquetas merecem destaque por serem inovações nas transações comerciais de frutas, legumes e verduras entre varejistas – o principal canal hoje de distribuição desses produtos – e os produtores rurais que os abastecem. Primeiro, o uso do código PLU (Price Look Up), que é um código rápido, composto por quatro dígitos presentes em pequenas etiquetas coladas ao produto, principalmente frutas importadas, para identificação na frente de caixa. Sua adoção traz vantagens, como redução dos 15


Clique Tropical

A flor do cajueiro

A

inflorescência do cajueiro apresenta dois tipos de flores: hermafroditas, à esquerda na foto, e unissexuais masculinas (estaminadas), à direita. A flor hermafrodita tem adicionalmente um estigma (órgão receptor do pólen) longo, acima do estame grande, o que desfavorece a autopolinização. A flor masculina do cajueiro é caracterizada por um estame (órgão produtor de pólen) dotado de uma antera grossa e amarronzada e pequenos estames estéreis. No início da floração, o cajueiro apresenta uma alta taxa de flores masculinas (200:1), contribuindo para uma elevada concentração de pólen no ar. No decorrer da florada, essa proporção é reduzida para até cerca 2:1. Enquanto as flores masculinas permanecem abertas durante quase todo o dia, as hermafroditas se abrem apenas das 10h às 12h.

Foto e Texto: Emilson Cardoso Pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical

16

Rua Dra. Sara Mesquita, 2270, Pici, CEP 60511 - 110, Fortaleza, CE, Caixa Postal 3761, Fone (85) 3391- 7100, FAX (85) 3391 - 7109 Home Page: www.cnpat.embrapa.br | Twitter: www.twitter.com/embrapacnpat


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.