Número 5 - Ano I

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aviação militar Embraer KC-390: a caminho da industrialização

Como avança o programa do novo avião militar brasileiro de transporte tático Cosme Degenar Drumond

FAB

Avião Hércules da FAB em Recife: parte de uma frota em fim de vida útil

O DESAFIO NÃO É PEQUENO: substituir com vantagens o cargueiro Hercules C-130, da Lockheed, um dos aviões de maior sucesso na história da aviação militar. Graças ao acerto do desenho e das características, esse quadrimotor turbo-hélice recebeu 31 versões e, a partir da Guerra do Vietnã, formou uma grande “família”, incluindo o modelo reabastecedor, criado para o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. Mas o inevitável vai acontecer: embora sua frota global seja grande – até 2006 foram fabricados 2.262 –, sua vida útil está no fim. No Brasil, por exemplo, a FAB dispõe de 22 desses aviões, com idade média de 35 anos, a exigir substituição tanto para manter a capacidade operacional quanto para redu-

zir custos. Em termos globais, a frota com mais de 25 anos soma 1.613 aeronaves em 91 países. Sobre esse pano de fundo nasceu o KC-390, inicialmente imaginado como uma derivação do jato comercial Embraer 190, mas hoje um projeto totalmente novo. Ambicioso, ele responde aos estritos requisitos da Força 30

DEFESA LATINA

Aérea Brasileira (FAB), emitidos em 2008, que levaram ao contrato entre as partes em abril do ano seguinte. A propriedade intelectual do projeto é do governo brasileiro, que, via Ministério da Defesa, acompanha o cronograma aprovado e apoia a Embraer nos acordos com governos interessados, enquanto a empresa cuida da parceria industrial. Feito isso, terá início o desenvolvimento detalhado, que inclui os ensaios e a certificação, para depois estabelecer-se a industrialização da aeronave. Um dos critérios adotados na estruturação de parcerias é a quantidade de aviões que cada país poderá adquirir e a existência de indústria aeronáutica em nível adequado à participação no programa, cujo gerenciamento geral cabe à Embraer. Pesará ainda a disposição dos governos de dar apoio ao esforço das indústrias locais. Nesse item, houve discussões sobre cooperação com as empresas finalistas do programa F-X2, no quadro das chamadas compensações (offsets), o que, no entanto, não se confunde com as parcerias industriais no caso do KC-390. O novo avião certamente irá incorporar equipamentos das grandes fabricantes globais, pois, como diz uma fonte do setor industrial: “Quando se sai pelo mundo em busca de equipamentos, a maioria dos fabri-

cantes está nos Estados Unidos ou na Europa”. Aquisição, fomento e capacitação Como será o maior avião construído pela empresa brasileira, e o mais complexo sob todos os aspectos, o KC-390 colocará a Embraer em novo patamar tecnológico e dará maior capacitação industrial aos parceiros envolvidos – o que é um dos objetivos do programa desde seu anúncio. A engenharia brasileira também terá ganhos na parte de sistemas embarcados do avião. É o caso do manuseio e do lançamento de cargas, não praticado antes pela empresa nessa dimensão. Aspecto essencial é ainda o da integração de sistemas de navegação e controle de voo com os sistemas de missão (destaque para o software embarcado). Tudo isso poderá ser aplicado em programas futuros da empresa. Mas não é só. O reabastecimento em voo (Revo), por exemplo, trará novidade: além de receber combustível no ar, o KC-390 poderá atuar como reabastecedor de jatos de combate e até de helicópteros – a capacidade de voar lento e em baixa altitude é uma das características relevantes da aeronave, significando aquisição de novo domínio técnico pela Embraer. O trem de pouso também é detalhe importante, pois permitirá operação em pistas não pavi-


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