Saiba mais novembro de 2016

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Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas

Desde 2006

Jovens encaram a gravidade e escalam muros e estruturas urbanas. O Parkour ganha adeptos e já tem escola em Campinas. Pág. 12

Bendita sois vós entre os homens

Neusa de São João (PSB) entre os vereadores de Campinas: ela é a única mulher na atual legislatura e não foi reeleita Apenas 28 dos 299 cargos no Executivo e Legislativo nas 20 cidades da Região Metropolitana

de Campinas (RMC) serão ocupados por mulheres. Em Campinas, que só tem uma vereadora na

atual legislatura, Neusa do São João (PSB), somente uma mulher foi eleita para a Câmara:

Mariana Conti (PSOL), que recebeu 6.956 votos. Na cidade até o Partido da Mulher Brasileira

(PMB) só teve candidato do sexo masculino. Aurélio José Cláudio foi reeleito. Pág. 7

O futuro do Guarani O presidente do clube, Horley Senna, explica que, no ano que vem, o time vai tentar a Série A1 do Paulista e, em 2018, Série A do Brasileiro.

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Bugrinos foram em peso assistir a jogo em Varginha, mas voltaram sem o título


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Opinião

Novembro de 2016

Eleições, representatividade feminina e preconceito

Isadora Gimenes

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s resultados do 1o turno das eleições municipais que ocorreram no País no início de outubro, tanto na esfera Executiva quanto Legislativa, chocaram militantes feministas pela baixíssima representatividade das mulheres no poder público. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), que tem 20 cidades e 299 cadeiras nas Câmaras de Vereadores, apenas 28 mulheres foram eleitas – número que representa menos de 10% do espaço no Poder Legislativo da região. A ascensão do movimento

feminista, que questiona uma herança patriarcal em que papéis de gênero são historicamente definidos, faz questionar o porquê disso ainda acontecer em 2016. Mulheres conquistaram o direito ao voto há menos de um século no Brasil: foi apenas em 1932 que, com a aprovação de um novo Código Eleitoral, elas obtiveram esse espaço na política nacional. Ainda assim, a representatividade é tão baixa que, em 2006, foi necessário ser aprovada uma lei que determinou que pelo menos 20% das vagas de cada partido ou coligação deveriam ser preenchidas

por mulheres, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral. Segundo pesquisa divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil ainda perde até mesmo para países islâmicos no ranking que mede o índice de representatividade feminina nos parlamentos. Em Campinas, neste ano, apenas uma mulher conquistou espaço na Câmara de Vereadores: Mariana Conti, do PSOL. Na linha do que pensa a única representante, as mulheres precisam estar na política para combater projetos de lei conservadores, que reforçam o machismo e são

retrocessos frente à luta e organização feminista. É o caso do projeto que procurava proibir discussão de gênero nas escolas. Sem discutir gênero, é evidente, não é possível discutir machismo. E não apenas as pautas diretamente ligadas às mulheres dizem respeito a essa participação feminina nos cargos públicos. O direito às creches, por exemplo, apesar de não ter a ver com o feminismo, afeta todas pelo fato de, historicamente, comporem o gênero responsabilizado pela criação dos filhos. Assim, direitos sociais, como um todo, dizem respeito às mulheres.

Mesmo com toda a evolução da sociedade, ainda hoje mulheres são educadas para os espaços privados e têm acesso reduzido aos públicos. A militância pelas redes sociais digitais, a presença de uma pauta feminina no jornalismo – já que um de seus fundamentos é o interesse público – e a conscientização constante de homens e mulheres sobre a necessidade de um espaço igualitário na política fazem parte de uma série de medidas que, em médio e em longo prazo, podem mudar a representatividade feminina nos cargos públicos. Sem conscientização, não há mudança.

Sesc tem 10 filmes gratuitos

RÁPIDAS

Isadora gimenes

MIS tem mostra híbrida

Fãs de cinema poderão visitar a “Itinerância: 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo”, que exibe, gratuitamente, dez filmes durante este mês no Sesc Campinas. A agenda tem início no

A ideia das artistas visuais Cássia Aranha e Luciana Mantovani para a mostra “Código Facial” é bastante original. Híbrida, a exposição reúne elementos de dramaturgia e videoperformance, além de buscar o conceito da individualidade humana em meio ao caos. Pessoas anônimas que visitaram o Museu de Imagem e Som (MIS) e o Paço Municipal de Campinas foram entrevistadas, tendo seus perfis traçados, e depois fotografadas. Na mostra, as imagens têm seus rostos soSaiba+ de nobrepostos por QR codes. Os visitantes poderão acessar vembro vem informações sobre as pessoas por meio de um aplicasem medo de tivo gratuito. O objetivo é oferecer uma experiência polêmica: já na mandramatúrgica e audiovisual. Gratuita, a exposição fica tanto no Paço Municipal quanto no MIS (Museu da chete mostramos a falta de representaImagem e do Som) até o dia 4 de dezembro. tividade feminina na Câmara Municipal de Campinas, fato que acabou se evidenciando após o resultado das últimas eleições municipais, em que o percentual baixíssimo de mulheres ocupando cargos na política se manteve. E se, em 2016, mulher na política ainda é um tabu, o que esperar quando se fala de doenças sexualmente transmis-

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Foto: Isadora Gimenes

Visitantes da exposição usam celulares para fazer a leitura de código

dia 19 de novembro e dura até 2 de dezembro. As exibições abordam as principais tendências e narrativas do cinema e vários lugares do mundo. Neste ano, França, Islândia, Alemanha, República Tcheca, Itá-

lia, Reino Unido e Marrocos são os países de onde vêm os longas selecionados. É possível conferir a programação completa e os horários das sessões pelo site da instituição (www.sescsp.org.br/campinas).

Carta ao Leitor síveis (DSTs)? O Saiba+ traz uma notícia preocupante sobre a epidemia de sífilis pela qual o País vem passando e que atinge, principalmente, os jovens que pouco se preocupam com o uso de preservativos. E também, na área de saúde, temos uma matéria sobre a reforma do Pronto-Socorro do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que, depois de um ano e meio, ainda não está pronta, assim como a extensão da maria-fu-

maça, parada há cinco anos. Já para quem está de olho no que há de novo, uma reportagem sobre Parkour pode ser atraente, pois este esporte está ganhando espaço em Campinas. Falando em tendências, food trucks é uma forma barata de ter um negócio gastronômico, uma alternativa para quem procura emprego no final de ano, já que as contratações tendem a cair em Campinas, como mostra outra reportagem desta edição. Boa leitura!

Clube promove Hilda Hilst

Expediente

O Instituto Hilda Hilst acaba de criar o “Clube Obscena Lucidez”, sistema de assinaturas que reúne itens para fãs da escritora, que os receberão mensalmente numa caixa. Retirados do acervo da autora estão trechos de diários, anotações com pistas sobre seu processo criativo, poemas e ilustrações inéditas, velas, livros e outros itens. A intenção é usar o lucro do clube para preservar o acervo de Hilda e a Casa do Sol, chácara em Campinas onde ela viveu e escreveu a maior parte de sua obra. Mais informações estão no site www.hildahilst.com.br.

Jornal-laboratório produzido por alunos da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas Centro de Comunicação e Linguagem (CLC) Diretor: Rogério Bazi; Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo. Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza. Professor responsável: Fabiano Ormaneze (Mtb 48.375) Edição: Caroline Luppi e Ana Letícia Lima Diagramação: Felipe Bratfisch e Marcelo Prata


Cidades

Novembro de 2016

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Fim de ano terá queda de contratações

Somente emergências e urgências são atendidas; prazo de entrega era para maio de 2015 Foto: Fernanda Grael

Movimento na 13 de Maio: lojas do Centro devem contratar 1.745 profissionais até o Natal

Fernanda Grael

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contratação de funcionários temporários para o Natal e fim de ano terá queda de 0,51% na cidade, segundo a Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic). No ano passado, foram 6.488 contratados. Já em 2016, a previsão é de cerca de 6.455. Somente na região central, onde está localizada a maior parte das vagas, o número de contratações temporárias

diminuirá 4,9%. No ano passado, foram 1.835 e a estimativa da Acic para este ano é de 1.745. Os maiores empregadores continuarão sendo os shoppings e os supermercados. Em relação a 2014, quando cerca de 11 mil funcionários temporários foram contratados, a queda é ainda maior: 42%. Segundo Laerte Martins, economista da Acic, isso acontece pela situação instável em que se encontra a economia

e que os processos produtivos e comerciais não serão alterados até o final do ano. “Teremos ainda mais postos de trabalho eliminados no comércio, indústria e serviços”, ressalta. A loja Pernambucanas, do Centro de Campinas, costumava contratar cerca de 15 ou mais funcionários temporários para o fim de ano. Porém, com a crise, o número caiu para 10 neste ano. “Diminuímos em mais de 20% as vagas, pois

não estamos esperando muitas vendas”, explica o gerente da loja Magno Soares. De acordo com a vice-presidente da Acic e presidente da Câmara de Dirigentes Logistas (CDL), Adriana Flosi, apesar da expectativa de contratação baixa, é esperado um aumento nas vendas em comparação ao ano passado. “A economia está se recuperando e temos uma tendência positiva. O ritmo de crescimento ainda não é o mesmo do passado, mas o importante é que essa tendência é concreta. Há também um efeito pedagógico deixado pela crise”, explica, referindo-se ao fato de que os varejistas, em geral, tiveram de fazer mais com menos. “Isso faz com que muitos apostem numa melhor eficiência do processo de atendimento e de vendas, reduzindo a quantidade de contratações temporárias”, diz. Em todo o País, a previsão da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem)

para abertura de vagas temporárias no final deste ano será de cerca de 71 mil trabalhadores temporários, queda de 7%, quando comparado com dezembro de 2015, que registrou 76 mil contratações. O estudante Gustavo Cotrim, de 21 anos, já começou a busca por uma vaga, mas até agora não teve retorno. “Eu estou procurando emprego para o final do ano. Está sendo bem difícil. Eu fico na expectativa porque realmente preciso de um emprego”, conta. É o mesmo caso de Kris Herik de Oliveira, de 24 anos: “As vagas temporárias começaram a surgir lá há duas semanas no site Emprega Campinas, mas ainda não tive nenhum retorno.” As principais funções contratadas, de acordo com a Asserttem, serão atendente, assistente de crédito, embalador, estoquista, etiquetador, caixa, fiscal de loja, promotor de vendas, repositor e vendedor. A faixa etária varia de 18 a 45 anos.

Obra em rodovia está atrasada há sete meses

Reformas na SP-101 visam à implantação de marginais e deveria ficar pronto até 2018, diz Artesp Foto: Thaísa Gigo

Obras devem melhorar trânsito na rodovia que liga Campinas a Hortolandia

Thaísa Gigo

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Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) notificou a concessionária Rodovias do Tietê por não ter iniciado a construção de pistas marginais na Rodovia Jornalista Franco Aguirre Proença (SP-101), no trecho entre as cidades

de Campinas, Hortolândia e Monte Mor e por atrasos na implantação de um acesso no km 5 da rodovia, que deveria ter começado em abril e estar pronto no início de 2018. Até o momento, a obra não teve início. Além disso, a agência notificou a companhia seguradora Pottencial, que

presta garantia contratual de até R$141,4 milhões a essa concessionária. A assessoria explicou que a contratação de seguro é uma obrigação nas concessões de rodovias do Estado, prevista nos editais como uma das garantias para que as obras sejam executadas. ‘’O acionamento do seguro não exime as concessionárias de pagarem multas e demais penalidades que decorrem dos atrasos em obras, podendo chegar até a medidas mais extremas como a caducidade do contrato de concessão. O principal objetivo desse conjunto de medidas é fazer com que as concessionárias executem as obras previstas’’, informa a assessoria da agência. A concessionária deveria ter começado a im-

plantação de vias marginais da SP-101, no início do ano, entre Campinas e Monte Mor e, principalmente, no trecho urbano em que a via cruza o município de Hortolândia. “A previsão do término era para 2018 e, a partir de agora, novos acordos entre a Artesp e a Rodovias do Tiête serão feitos e um novo prazo para início e conclusão dos serviços será analisado’’, diz a assessoria. Segundo a agência, a implantação das marginais trará benefícios ao tráfego de veículos na região de Campinas, facilitando o acesso aos municípios de Hortolândia e Monte Mor. Com o atraso da obra, muitos motoristas que passam por essa região em horários de pico são obrigados a enfrentar trânsito intenso.

É o caso da médica Ludmilla Plepis, de 34 anos, que sempre passa por esse local para ir trabalhar. ‘’Com a implantação de marginais que possam melhorar o fluxo de trânsito nas pistas principais, já ajudaria muito. Em horário de pico, o trânsito é um pouco intenso e em dia de chuva, então, piora. É uma rodovia perigosa e conhecida por alguns acidentes. A atenção é sempre redobrada.’’ Em nota por meio da assessoria de imprensa, a Rodovias do Tietê informou que “o início das obras é precedido de uma série de fases tais como execução e aprovação de projetos, licenças e desapropriações”. Apesar disso, não deu detalhes de quando deve iniciar a obra.


Cidades

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Novembro de 2016

R$ 1 mi e obras continuam paradas Ampliação de trilhos da Maria-Fumaça interrompida em 2012 não tem previsão Foto: Samanda Souza

Samanda Souza

A

extensão da linha da Maria-Fumaça da Estação Anhumas até a Praça Arautos da Paz está parada há quatro anos, desde que o contrato entre a Prefeitura e a empresa Encalso foi suspenso em agosto de 2012. A obra, um projeto que começou a ser desenvolvido ainda com o prefeito assassinado Antonio da Costa Santos (Toninho), foi

retomada por Hélio de Oliveira Santos (PDT) em 2010, deveria ter sido concluída em 2011. Os trabalhos foram interrompidos, de acordo com os moradores no primeiro semestre de 2011, quando Hélio foi cassado. No local, estão apenas estruturas de concreto que seriam usadas para a instalação dos trilhos em formato de ponte em cerca de 500 metros. A obra de expansão teria, ao todo, cerca de 2 quilômetros.

Segundo a Prefeitura, até o momento não houve contratação de uma nova empresa. Segundo o departamento de turismo, o total de R$ 680 mil reais, embora não haja empresa

contratada, nem prazo para a retomada das obras. O esqueleto do plano inicial, seis pilares de concretos que serviriam de apoio para o elevado por onde a locomotiva

passaria, pode ser visto na Praça Arautos da Paz e na Estação Anhumas. Somente a construção dos pilares já custou R$ 1 milhão aos cofres públicos, sem prazo de retomada das obras.

Passeio pela história custa entre R$ 100 e R$ 140 Em 1984, após um trabalho de restauração, foi criada a Viação Férrea Campinas – Jaguariúna. O trajeto é realizado em um trem movido por uma locomotiva a vapor do século XIX. As estações pela qual a ferrovia passa, construídas na década de 1920, são Pedro Américo, Tanquinho, Desembargador Furtado e Carlos Gomes, embora as paradas sejam apenas em Campinas (Anhumas) e em Jaguariúna. Os valores dos passeios saem RS 140,00 para adultos e 100,00 para crianças acima de 2 anos.

Food trucks garantem novos investimentos Restaurantes móveis custam a partir de R$ 100 mil, 60% menos que um endereço fixo

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ans, caminhões, furgões vendendo comida nas ruas existem há muito tempo. Eles são os food trucks, forma mais barata de abrir um negócio gastronômico, tradição nos Estados Unidos e que, nos últimos anos, ganharam as ruas brasileiras, embora, por aqui, a versão gourmet é que tem feito sucesso. Os primeiros empreendimentos do tipo chegaram ao Brasil em 2012. “Gastei em torno de R$ 100 mil para montar meu restaurante móvel”, destaca Micael Rodrigues, dono de uma camionete com carroceria onde vende lanches. Abrir um food truck requer um investimento menor do que um restaurante. Para ter um negócio gastronômico fixo, o gasto inicial fica em torno de R$ 300 mil, sem contar funcionários e despesas para ma-

professora, conta que vai a Food Trucks, pois vê “a comida sendo preparada e os alimentamos saem mais rápido que em um restaurante”. A rapidez é uma característica mais apreciada pelos clientes. “Nosso cardápio tem opções rápidas de serem preparadas, pois o tempo e o espaço em que trabalhamos é pequeno e temos que agradar o cliente”, explica Ramos. Em relação à tradição Food truck de Leonardo Ramos vende massas em Jundiaí: opções custam, em média, R$ 30,00 dos Estados Unidos, os nutenção entre outros. misturar a manipulação de sionais largam seus empre- food trucks brasileiros não Quem se arrisca nes- dinheiro com manipulação gos em restaurantes porque são opções baratas. Um se ramo ainda tem que de alimento. Temos que querem ser seu próprio lanche, por exemplo, cusse adaptar às exigências nos adaptar ao padrão que chefe, além de terem con- ta, em média, entre R$ 25 da Agência Nacional de a Anvisa exige tanto em tato direto com o seu clien- e 30. Vigilância Sanitária (An- restaurante quanto em am- te”. Realmente, ser patrão Isso se deve ao fato, de visa) municipal e estadu- bientes externos”, explica atraiu Rodrigues: “Vale acordo com Romera, de al, da Prefeitura, do De- Leonardo Ramos, dono de muito a pena ser patrão e que, no Brasil, esse tipo de partamento Nacional de um food truck especialista largar o lado de funcioná- negócio leva para as ruas Trânsito (Denatran), do em massas. rio, além de ter o reconhe- o mesmo tipo de cardápio, Departamento Estadual de Alan Romera, profis- cimento do cliente. ” muitas vezes com ingreTrânsito (Detran) e do Ins- sional de gastronomia, A proximidade entre dientes sofisticados, que os tituto Nacional de Metrolo- enumera alguns fatores vendedor e comprador aca- restaurantes. Nos Estados gia, Qualidade e Tecnolo- para o aumento desse tipo ba atraindo o público. Már- Unidos, em geral, são progia (Inmetro). “Não pode de negócio. “Muitos profis- cia Cristina, de 45 anos, dutos mais simples. Foto: Guilherme Luz

Guilherme Luz

Trens parados na Estação Anhumas, de onde os novos trilhos devem levar os veículos até a Praça Arautos da Paz; projeto começou com Toninho do PT


Saúde

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Reforma do PS da Unicamp causa transtornos

Somente emergências e urgências são atendidas; prazo de entrega era para maio de 2015 Samanda Souza

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reforma do pronto-socorro do Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (HC-Unicamp) está atrasada há um ano e meio. A obra, iniciada em 12 de janeiro de 2015, deveria ter sido entregue em 120 dias, mas até hoje não foi finalizada. Com isso, o atendimento sofre com superlotação e apenas pacientes em estado de urgência e emergência são atendidos. Os demais devem se dirigir a outros locais, como indicam várias placas e folhetos dispostos na recepção. As obras compreendem aumento do número de leitos e melhoria na

recepção. Enquanto isso, dois contêineres foram instalados na área externa, onde estão sendo realizadas as triagens e onde funciona a sala de espera. A manicure Vanessa Canedo, de 36 anos, procurou, em meados de outubro, o pronto-socorro

com fortes dores abdominais, mas a médica da triagem disse que o caso dela não era tão sério e pediu para que procurasse outro local para ser atendida, pois na Unicamp estavam sendo recebidas apenas as urgências e emergências. No mesmo dia, ela foi até o

hospital Mario Gatti, onde o médico constatou que ela precisava de uma cirurgia de apendicite. Por causa da demora, ela teve complicações na operação, mas passa bem. Em contato com a Unicamp para saber sobre o motivo do atraso e

Classificação de risco de acordo com a Unicamp Vermelho: prioridade zero - emergência clínica ou cirúrgica, necessidade de atendimento imediato. São eles: Parada cardiorrespiratória, acidentes graves, AVC, choques, insuficiência respiratória, traumas, ferimentos decorrentes de arma de fogo ou arma branca, explosões, entre outros. Amarelo: prioridade 1 - urgência, atendimento o mais rápido possível. Pacientes críticos ou semicríticos que necessitam de atendimento médico e de enfermagem o mais rápido possível, porém não correm riscos imediatos de vida. Verde: prioridade 2 - prioridade não urgente e sem risco de morte imediata. Pacientes em condições agudas. Devem procurar outro local de atendimento. Azul: prioridade 3 - consultas de baixa complexidade. Devem ser atendidos após todos os pacientes classificados com vermelho, amarelo e verde. São pacientes que podem ser atendidos em Unidades Básicas de Saúde. (Fonte: Unicamp)

Infográfico: Ana Laura Lopes

Depressão atinge 30% dos jovens Dados são de pesquisa que analisou pessoas de 12 a 17 anos Ana Laura Lopes

U

ma pesquisa feita pelo projeto Estudos de Risco Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), com adolescentes de 12 aos 17 anos, divulgada neste ano, revelou que 30% dos adolescentes têm transtornos mentais comuns (TMC), caracterizados pelos sintomas de depressão e ansiedade. O psicólogo e psicanalista Reginaldo Elbins explica que a adolescência é um período de muita insegurança, o que gera medo, ansiedade e sentimento de inadequação. “Isso é devido ao fato de que o adolescente não é mais uma criança. Ele não tem mais uma vida tranquila, a adolescência é uma transição para a vida adulta, que vai exigir dele diversas responsabilidades, compromissos, prazos.” Além disso, ele explica que, na adolescência, se forma a personalidade. “É por conta desse ‘eu não sou mais quem eu era, mas também não sou o que eu gostaria de ser’ que esse período de transição é complicado e passível da

o prazo para a entrega da reforma, a assessoria de imprensa, informou, em nota, que “não estamos falando sobre esse assunto até definição das mudanças no calendário.” As placas que davam prazo final para quatro meses permanecem no local.

depressão”, explica. Os principais sintomas da depressão são a tristeza, a apatia, o aborrecimento e a irritabilidade. A pessoa perde a energia e se desinteressa pelas coisas e pela vida. Os sinais da doença se manifestam no físico – com cansaço, falta de energia e até variação no peso - , no comportamento – hábito de dormir excessivamente, solidão e fuga de svvituações – e no pensamento. “O depressivo acha que está tudo horrível, tudo errado. Ele pensa o tempo todo que a vida não vale a pena, que não tem sentido, está o tempo todo se criticando, se achando um fracasso, se perguntando por que está vivo e por que está aqui. Esses estados formam um ciclo e o depressivo fica rodando nesse ciclo”, explica Elbins. A depressão de Rafaela Deodato, de 17 anos, foi diagnosticada quando ela tinha 15 anos e tentou se suicidar por se sentir sozinha e insuficiente. “Sempre estive cercada de muitas pessoas, mas eu sempre me sentia sozinha. Não conseguia confiar em ninguém, odiava

sair de casa porque eu sabia o tanto de gente com que eu teria que lidar.” O caso de depressão do universitário Gabriel Guzela, de 19 anos, começou quando ele tinha 17 e sentia, com regularidade, a necessidade de ficar sozinho. “O mundo me incomodava, eu sentia que não me encaixava nos grupos sociais”. Gabriel, além de terapia e uso de medicamentos, fez trata-

mentos alternativos, como a terapia holística, técnica não médica que busca equilíbrio energético e autoconhecimento. Espiritualidade Elbins explica que a espiritualidade é fundamental no tratamento da depressão, uma vez que ajuda o depressivo que está preso em eventos do passado que atrapalham a projeção do futuro e consequentemente

a maneira como ele vive o presente. “Quando falamos de espiritualidade, trabalhamos com crenças e valores que nos projetam à frente. Não estamos falando das demandas da cultura e da economia, que nos projetam coisas para seis meses ou um ano. Quando falamos de espiritualidade, estamos falando para o final dessa vida e também para além dessa vida”, diz.


Saúde

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Novembro de 2016

Epidemia de sífilis soma 227 mil casos

Ministério da Saúde relata também que 60,7% dos centros de saúde não têm medicamentos Raisa Garcia

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Ministério da Saúde confirmou, em outubro, que o Brasil está passando por uma epidemia de sífilis. A doença é causada pela bactéria Treponema Pallidum e pode ser transmitida sexualmente ou durante a gravidez, de mãe para filho. No período de 2010 a 2016 foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 227.663 casos de sífilis adquirida, de acordo com dados divulgados em 2016 no boletim epidemiológico de sífilis. Desse total registrado, 65.878 casos foram notificados em 2015. Outro problema que acompanha o crescimento no número de casos é o desabastecimento do único remédio contra a doença: a penicilina. Segundo o levantamento mais atualizado

(janeiro de 2016) feito pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, 60,7% dos estados brasileiros relatou falta do medicamento. De acordo com especialistas, o público jovem é o mais atingido pela doença, isso porque falta conscientização da importância do uso de preservativo durante relações sexuais, causando aumento no número de casos. Para a médica Ana Eliza Ralise, doutora e especialista em saúde pública, a atenção básica de saúde pública tem investido em recursos para campanhas de conscientização e testes rápidos, que chegam a obter resultados em 15 minutos. Ela explica que a rapidez no diagnóstico permite dar início precoce ao tratamento. A falta do medicamento no Sistema Único de Saúde

preocupa. “Não tratar a sífilis pode causar complicações e atingir diversos órgãos”. Em relação aos sintomas iniciais, ela afirma que, quando a doença os apresenta, “geralmente se manifesta em forma de lesão no local de entrada da bactéria, não só no órgão genital. Pode ocorrer em outras regiões como lábios e pele. Quando existe lesão, o diagnóstico é feito por exame clínico, mas também pode ser feito por exames laboratoriais”. Em muitos casos, no entanto, os sintomas passam despercebidos ou nem existem nessa primeira fase. Na primeira fase, a sífilis pode apresentar feridas genitais semelhantes a aftas, desaparecendo de 3 a 6 semanas mesmo sem tratamento, dando a falsa sensação de cura espontânea. Na segunda fase, após o desapa-

recimento das feridas, a doença apresenta sintomas como febre, mal estar, perda do apetite e erupções na pele, que são bastante características nas mãos e solas dos pés. A terceira fase da sífilis é bastante preocupante porque pode atingir órgãos internos. Se não tratada, a doença pode evoluir e até levar à morte. Pamela Franco, enfermeira responsável pelo setor de maternidade do Hospital Madre Theodora, reforça também a importância do tratamento de gestantes com sífilis, uma vez que o risco da doença ser transmitida ao bebê é grande. “Na infecção congênita, onde a gestante transmite a doença para o feto, existe a necessidade de ambos serem tratados com penicilina. Em casos mais sérios, as complicações podem implicar em má formação do bebê. Nes-

se caso, não há muito o que se fazer”. A profissional explica que os testes para diagnosticar a doença em gestantes são feitos durante o pré-natal e que o procedimento é norma do Ministério da Saúde. Para reduzir o avanço da doença, tanto Pamela quanto Ana Eliza acreditam na prevenção como um dos principais fatores, porém, reforçam que as campanhas deveriam ser mais intensificadas e com estratégias mais eficientes. O uso de preservativos pode diminuir o avanço da doença e é a resposta para grande parte das causas. Pamela destaca que “sexo sem proteção é a principal forma de contagio, inclusive no sexo oral. A demora no diagnóstico influencia muito no avanço da doença, porque muitas vezes ela surge de forma silenciosa. É preciso estar atento”. Infográfico: Raisa Garcia


Política

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Mulheres somam 10% de vagas nas eleições

Pleito de outubro não altera situação nas Câmaras e Prefeituras da RMC: só 28 eleitas Fotos: Gabriela Del Rio

Neusa do São João (PSB) é a única mulher na Câmara de Campinas na legislatura 2013-2016; Mariana Conti (PSOL) será a única entre 2017-2020, com 6,9 mil votos

Gabriela Del Rio

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esmo elegendo o dobro de mulheres se comparado às eleições municipais de 2012, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) ainda apresenta números que reforçam a baixa representatividade feminina na luta pela ocupação de cargos políticos. Neste ano, a quantidade de cargos conquistados foi de 28, número extremamente pequeno, já que representa menos de 10% das 299 cadeiras colocadas à disposição no Legislativo das 20 cidades da RMC.

Em Campinas, este número é ainda mais discrepante: das 33 vagas dispostas para vereadores, apenas uma será ocupada por mulher a partir de 2017. Mariana Conti, do PSOL, foi a quarta mais votada da cidade, com 6.956 votos, após uma campanha militante e construída de forma voluntária. Segundo ela, ser a única mulher eleita em uma cidade de proporção como Campinas ilustra como a sociedade é extremamente machista. “Ainda sofremos o peso da herança patriarcal que estabelece diferenciação de papéis

determinados pelo gênero: à mulher caberia o espaço da casa, o cuidado da família e do marido; os espaços públicos seriam masculinos, por excelência.” Já para a cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) Camila Massaro, “essa resistência se dá pelo fato de as mulheres ainda serem socialmente vistas enquanto cidadãs que não possuem os atributos necessários para ‘ser político’, no sentido da política partidária, parlamentar, isto é, a disponibilidade de tempo e

o comportamento cujos meninos são ensinados desde pequenos”. Em meio a todos os aspectos históricos e culturais que alimentam este preconceito, outro fator pode ser considerado agravante nesta busca por espaço das mulheres. O recente processo de impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma, segundo o cientista político Vitor Machado Barletta, da PUC-Campinas, serviu como uma tragédia. “No caso de Dilma, o aspecto político foi o de menos. Ela foi massacrada socialmente, por ser mulher.

As sessões da câmara dos deputados foram uma demonstração clara de machismo agressivo e ostensivo. Foi uma catástrofe nessa luta das mulheres.” Mesmo com as dificuldades e barreiras encontradas, Mariana se apoia no feminismo e afirma que estamos em desenvolvimento: “As mulheres estão perdendo a paciência, indo à luta e se empoderando. Precisamos ocupar todos os espaços. Mais do que representar as mulheres, quero que a minha atuação na Câmara dos vereadores sirva para fortalecê-las politicamente”.

Em Campinas, homem ocupa presidência do PMB Partido da Mulher Brasileira teve apenas um candidato na cidade, o vereador Aurélio Cláudio

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m Campinas, a única cadeira conquistada pelo PMB (Partido da Mulher Brasileira) será ocupada por um homem: Aurélio José Cláudio, de 62 anos, que se filiou ao partido em abril deste ano, sendo também o único candidato pela sigla na cidade. Antes disso, ele

pertencia ao PDT e havia sido eleito em 2004, 2008 e 2012. No pleito de 02 de outubro, ele obteve 3.510 votos. Segundo ele, a decisão de filiar-se ao partido se deu justamente por sua pouca representatividade na cidade. “Procurei o PMB por tratar-se de um partido novo sem os ranços e

defeitos dos demais.” Aurélio diz que, “muito embora eu tenha três filhas, sou de uma família onde as mulheres são maioria: cinco irmãs. Ainda não posso afirmar com toda segurança que represento suas causas, mas estou atento e pretendo me aprimorar e representá-las com dedicação e

entusiasmo”. Sobre a pouca representatividade das eleitas, ele acredita que o preconceito venha da própria sociedade. “Não acredito em preconceito no meio político, todos os partidos apresentaram mulheres nas últimas eleições. Elas, porém, não receberam votação com-

patível com a dos homens. Acredito que o preconceito está no seio da sociedade, mesmo as mulheres não votam em mulheres. Elas entregam seus filhos para as professoras, médicas, policiais femininas, psicólogas, confiam em advogadas, mas na hora do voto...”, afirma o vereador.


Esporte

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Novembro de 2016

O que esperar do Guarani no ano que vem? Clube conseguiu subir para a Série B; desafio é se manter e voltar à elite após 2018 Fotos: Nayara Tabaru

Jogo entre Boa Esporte Clube e Guarani Futebol Clube no estádio Melão, em Varginha (MG): placar de 3x0 tirou sonho da estrela de bronze do bugre

Nayara Tabaru

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pós a estrela dourada de 1978 e a prateada de 1981, o Guarani Futebol Clube lutou em Varginha (MG), pela terceira estrela do Campeonato Brasileiro, a de bronze. Entretanto, o objetivo de ser o primeiro time brasileiro a conquistar as três divisões do campeonato, terminou na grande final. O placar de 3 a 0 para o Boa Esporte Clube acabou com o sonho. Resta a pergunta: o que esperar do Guarani no ano que vem? O presidente do clube,

Horley Senna, explica que o desafio agora é não parar de crescer. “Conseguimos o primeiro objetivo, que foi o acesso à Série B no Campeonato Brasileiro. No ano que vem, vamos tentar o acesso à Série A1 do Paulista.” Para 2018, o presidente diz que o time deve buscar a estabilidade e, em seguida, vislumbrar a Série A do Brasileiro. “E nunca mais sair de lá”, ressalta. Para atingir os objetivos, o presidente pretende manter no mínimo 50% do elenco profissional, o que, segundo ele, não será difícil, devido à grande valori-

zação após a campanha de 2016. Além disso, a ideia é manter a comissão técnica e, consequentemente a superintendência e o executivo do futebol. O meia Fumagalli é mais otimista e diz que, com um planejamento adequado, o Guarani pode brigar pelo acesso à Série A do Campeonato Brasileiro, em 2017. “É campeão da série A, campeão da série B, então acho que qualquer pessoa que entende de futebol colocaria o Guarani como um dos favoritos, mas, para isso, o Guarani tem que se estruturar. Tem

que manter o pé no chão, ter um planejamento melhor ainda, para que 2017 seja um ano de recolocar o Guarani no grande futebol brasileiro”, diz. Para a alegria dos torcedores, Fumagalli, de 39 anos, afirma que continuará no clube por mais um ano. “Eu quero continuar jogando. Estou me sentindo bem ainda, tenho condições para jogar, de ajudar dentro de campo.

cial para o Guarani existir. Segundo, por estar de pé. E terceiro, pelas conquistas que teve até hoje e as que virão no futuro.” Ele ressalta a participação dos torcedores em rodadas realizadas às segundas-feiras à noite. O ápice, no entanto, foi o jogo de 8 de outubro, que garantiu a volta à Série B e que contou com o tobogã do Brinco de Ouro da Princesa lotado novamente. Ao Torcida todo, 16,7 mil torcedores, recorde do campeonato, Segundo Senna, a tor- foram ver o jogo contra cida é primordial para o o ASA de Arapiraca, que time. “Primeiro, é essen- terminou em 3 a 0.

Wilson Lopes, 20 anos, caminhoneiro “A gente espera que o Guarani permaneça na Série B. Acho que o primeiro objetivo é não cair e depois tentar o acesso.”

Isabella Antonialli, 20 anos, estudante “Espero que o Guarani tenha uma ótima campanha, claro. Mas que com o dinheiro ele consiga pagar as dívidas, que são muitas”.

Walter Bertazzoli, 65 anos, corretor de imóveis “As expectativas são muito boas, pois vamos contratar mais jogadores e manter o elenco desse ano, para sermos campeão da série B”. Rogério Castelli, 50 anos, condutor escolar “Que o Guarani consiga, nesse primeiro ano, se manter. Claro, se tiver o acesso para a Série A, vai ser muito bom. Mas como a coisa tá muito complicada financeiramente, acho que se manter nessa divisão é mais interessante.”


Estética

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Transição capilar dá adeus a tratamentos Aceitar os cabelos originais gera economia, mas exige tempo, adaptação e enfrentamento social Manuela Rocha

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que alisar os cabelos não a deixava mais confiante. “Era só uma paranoia enorme de ‘meu cabelo tem estar impecável’. Hoje penso: seja livre, meu crespo, fique como quiser”. As mulheres que optam por aceitar o cabelo natural enfrentam muitos preconceitos, inclusive de pessoas próximas. Thayane afirma que era comum os amigos confundirem o processo com descuido e, quando ela optou por cortar bem curto, chegou a ser confundida com um rapaz. Com Jéssica, o constrangimento começou na infância, quando ela era excluída das brincadeiras por causa dos cabelos. Ela se lembra que amigos perguntavam se ela não tinha dinheiro para pagar uma progressiva. Além do aumento da autoestima, outro sentimento comum quando se fala em transição capilar é a liberdade de não passar mais horas no salão. A dona de casa Thayná Ribeiro, de 22 anos, alisou os cabelos dos 12 aos 18. Antes disso, desde 8, já era levada pela mãe para sessões de relaxamento capilar. “Vi que poderia ser quem eu realmente sou, sem aquilo que me prendia, uma ‘escravidão’ de retoque de raiz”. Ela revela que realizou mais de 200 progressivas, escovas, hidratações e, por conta disso, aos poucos, seu cabelo foi “ficando frágil”. Jéssica e Thayná também passaram a economizar. Só para se ter uma ideia, a professora costumava gastar R$ 450 a cada três meses no salão. “Hoje em dia gasto muito menos, já que os produtos são mais baratos e duradouros”, diz a professora.

À volta aos cabelos naturais gerou não só uma mudança na auto-estima da universitária Gabriela Oliveira, mas também originou uma exposição fotográfica com madeixas crespas ou cacheadas, o Crespura. A amostra já conta com quatro edições e tem mais quatro marcadas. Com o nome inspirado em uma música do rapper paulistano Emicida, o Crespura irá para onde puder ir, onde for, de acordo com Gabriela. Nas redes sociais, a iniciativa está presente no Instagram, além de que será o tema do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da estudante. E também terá livro, site e loja virtual. Ela completa que “Crespura é minha vida agora”.

Fotos: Samanda Souza

stica, puxa e seca. Passa o creme alisante, passa a amônia ou ácido nos fios. Essa descrição fazia parte da rotina de Jéssica Sbruzzi, professora de 22 anos, antes de abandonar de vez a necessidade de alisar os fios e seguir um padrão de beleza. Há dois anos, depois de quase uma década aderindo aos cabelos lisos, ela decidiu assumir os crespos, em busca de identidade. Ela e outras mulheres fazem parte do processo conhecido como “transição capilar”, que busca a valorização da diversidade original no cabelo. Isso significa nada de química alisante por meses, ou anos, dependendo de cada pessoa. Aderir a esse processo, no entanto, significa ir na contramão das tendências. Em pesquisa exclusiva da marca de higiene pessoal e beleza Dove, com mil brasileiras de 16 estados, entre 18 e 60 anos, 90% delas disseram sentir pressão social para ter os fios lisos. Além disso, 48% acreditam que o cabelo alisado passa uma impressão profissional melhor. Em contrapartida a esses números, no Facebook, o maior grupo sobre transição capilar, Cacheadas em Transição, reúne 220.742 membros. Com o objetivo de acolher as novatas e dar dicas sobre o processo, o espaço também incentiva as integrantes a não desistir, principalmente, após os primeiros meses, quando os produtos químicos deixam de ser usados e o cabelo costuma ficar com dupla textura, ou seja, uma mistura de fios lisos e cacheados. De acordo com uma das administradoras do grupo, que alisou os cabelos dos 9 aos 17 anos, Thayane Fernandes, o processo permite à mulher se confrontar com novas ideias de beleza. “Eu descobri quem eu sou, me autopercebi como indivíduo, mulher e única”, conta. A estudante de jornalismo Gabriela Oliveira, de 22 anos, participava também de um grupo de Facebook com a mesma finalidade, o “Faça amor, não faça chapinha”. Ela ressalta que deve agradecimentos a essa comunidade virtual. Ademais, completa

O antes e depois de Isabella Garcia, de 18 anos, que deixou de alisar após um problema de saúde

Saúde

A saúde do cabelo também está envolvida no processo. O uso de produtos químicos constante nos fios pode danificá-los e até fazê-los cair. Foi o que estava acontecendo com a universitária Isabella Garcia, de 18 anos, que alisava os fios desde os 10. Só que, no caso dela, eles começaram a cair em grande quantidade. O

dermatologista recomendou a suspensão do relaxamento. Além da melhoria da saúde e o aumento dos fios, ela também consegue economizar, porque utiliza produtos naturais, alguns cultivados por ela mesma, como babosa e outras receitas caseiras. De acordo com o professor de Terapia Capilar Ebeneze Rodrigues, do curso de Estética, na Universidade de

Taubaté (Unitau), o alisamento, feito com amônia, ou o relaxamento, com guanidina, dioplicolato de amônio ou de sódio, são processos químicos alcalinos. Isto é, além de alterar a estrutura interna do fio, retiram altas porcentagens de aminoácidos, queratina e cistina, associações de vitaminas. Dessa maneira, o cabelo fica mais fino e tende a cair mais.


Cultura

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Venda de livros de youtubers crescem 133%

Sucesso se deve à criação de um novo público, que acompanha ídolos nos vídeos e no papel Foto: Ana Laura No

Ana Laura No

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m levantamento da agência Nielsen BookScan indica que as vendas de livros escritos por youtubers cresceram 133% neste ano. O sucesso dessa nova geração de escritores se deve à criação de um público cativo e específico, que se torna seguidores de seus ídolos, seja na tela do computador ou nas linhas e palavras dos livros. O editor da Verus Editora, do Grupo Editorial Record, Thiago Mlaker, que já publicou dois livros desses novos autores, esse mercado começou devido à crise pela qual as editoras passavam. “A crise me motivou a olhar muito mais o mercado nacional, por conta do dólar. Com os autores internacionais, é necessário fazer um adiantamento, em que se calcula quanto esperamos vender e adiantamos esse valor de direitos autorais para o autor e para a editora, tudo em dólar”, explica. Mlaker trabalhava anteriormente na Editora Novo Conceito e foi responsável por lançar um dos primeiros livros de youtubers no Brasil, “Eu Fico Loko”, de Christian Figueiredo, que possui mais de 6 milhões de inscritos em seu canal e hoje já está em seu terceiro livro. O autor, de 22 anos, vendeu nos seis primeiros meses, pelo menos 100 mil exemplares. De acordo com o editor, a ideia de lançar livros com esse conteúdo teve como foco atingir o público que já acompanhava esses jovens nos canais da internet. “A gente pensa sempre na TV, em música, mas acho que os adolescentes não estão mais aí. Eles estão na internet e no Youtube. Acabei vasculhando todos os que eram possíveis e vi um que tivesse algo a dizer.” Segundo Mlaker, a desenvoltura do menino diante da câmera e o fato de contar histórias reais e dilemas enfrentados por adolescentes foram dois dos principais motivos para o investimento. A mestra em Imagem e Som pela Universida-

Pré-adolescente, em livraria, exibe obras dos youtubers Christian Figueiredo e Rezende Evil, dois dos mais conhecidos

de Federal de São Carlos (UFSCar) Giovana Milanetto, que desenvolveu pesquisa sobre os youtubers, explica que o sucesso vem da criação do chamado “personagem de si”. “A construção do personagem de si começou junto com essa transmissão de si pela internet, que começou com as “Cam girls”, que são aquelas moças que costumavam se transmitir pela webcam no começo dos anos 2000. Com a criação desses personagens, nós construímos uma rede muito vasta de pessoas que tem o interesse em acompanhar, em saber tudo que acontece, criando uma narrativa de si online. Os livros são outras linguagens que também vão se encaixar nisso.” Giovana esclarece ainda que existe uma grande polêmica envolvendo livros de youtubers, que, em alguns casos, acabam virando apenas um produto e não a continuação das histórias. Entretanto, ela defende que as obras

podem ser grandes incentivos à leitura entre jovens. “Youtubers gamers, por exemplo, têm público pré-adolescente e, nessa geração, há pouco contato com a literatura. Mas, por causa dos livros, acabam comprando, lendo e se interessando”. No entanto, a especialista explica que, se a leitura não for levada a sério, “acaba ficando mais uma porta de entrada rasa e comercial, se nada mais for desenvolvido além dessa camada de entretenimento pelo entretenimento.” Pedro Afonso, de 19 anos, mais conhecido como RezendeEvil, é um youtuber gamer e tem 9 milhões de inscritos em seu canal do Youtube. Ele já está no terceiro livro. O primeiro, “Dois Mundos, Um Herói”, da Companhia de Letras, ocupou o segundo lugar dos livros youtubers mais vendidos, de acordo com pesquisa da BookScan, no primeiro semestre. Ele afirma que a ideia é expandir o conteúdo de seu canal, porém

antes nunca havia pensado em escrever. “A minha ideia é ter mais uma plataforma para me comunicar com o meu público e mostrar a importância da literatura, não ficar só na internet. Não tinha pretensão de escrever livros, mas, depois do primeiro, eu peguei gosto e é algo que me interessa muito. Gosto de transitar por diferentes plataformas e gerar mais conteúdo.”

Público Mlaker acredita que o público dos livros é mais específico e o conteúdo varia de acordo com a linha da editora. “A gente foca no público que já é dos youtubers. Até o trabalho de marketing, por exemplo, depende muito mais deles divulgarem do que qualquer outra ação. Outra dificuldade, e vai da consciência e da linha de cada editora, é equilibrar uma pessoa famosa com público com alguém que possa dar algum conteúdo. Vai

do projeto e da discussão do livro, vamos alinhando a expectativa do autor com a nossa.” Segundo Giovana, o youtuber acaba criando uma marca, comercializando, além dos livros, produtos de beleza e peças de teatro. Isso atrai o público pela aproximação. “As pessoas têm muito interesse nessas marcas porque elas conseguem se dialogar muito mais com essas pessoas comuns. A marca é uma consequência de criar um comunicador, um personagem.” Para o editor, no mercado editorial é sempre preciso inovar. A expectativa da Verus é de dois a quatro livros de youtubers em cada semestre. “Sempre tentamos inovar com o desafio de fazer algo de que as pessoas gostem, que tenham vontade de ler. Hoje, por exemplo, o negócio seria Youtube, amanhã pode ser o Snapchat. A grande questão disso tudo é achar gente em que as pessoas se conectem.


Comportamento

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Mulheres são 52% do público de games

No desenvolvimento, no entanto, elas são minoria, só 10% dos postos são do sexo feminino Foto: Raissa Garcia

Raisa Garcia

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e acordo com a pesquisa Game Brasil 2016, divulgada em fevereiro deste ano, 52,6% do público que consome jogos no Brasil é formado por mulheres. No quesito desenvolvimento, no entanto, elas ainda são minoria: só 10%, de acordo com levantamento da incubadora Labindie, especialista em pesquisas para o setor. Beatriz Blanco, bacharel em artes visuais, é ilustradora de games, professora de projetos digitais, escritora de um blog especializado no assunto, e consumidora frequente de jogos. Para ela, “os games atendem os mais diversos perfis de pessoas, já que são muito variados”, conta. Ela começou a se interessar por games incentivada pelo pai, que presenteava com jogos não só os irmãos, mas a ela também. “Eu fui uma criança dos anos 90 que cresceu nesse contexto em que toda a comunicação do mercado de games dizia que jogos não eram para mim, mas jogo desde cedo. O que acontece é só que não éramos levadas em conta pela indústria”, destaca a ilustradora, referindo-se aos comerciais da época. Ainda hoje, a maioria dos anúncios foca no sexo masculino. Nem sempre foi assim, no entanto. Nos anos 70, os videogames se popularizaram e eram vendidos como uma diversão familiar. Os anúncios da Atari, por exemplo, sempre mostravam mulheres jogando. Geralmente mãe e filha, ou casais de namorados. O videogame começou a ser vendido como um brinquedo infantil e masculino depois da crise no setor, na segunda metade dos anos 80, quando a Nintendo fez sucesso posicionando games como brinquedos para meninos. Após esse período, a figura da mãe e da menina começam a desaparecer dos anúncios. A estudante do curso de jogos digitais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Joyce de Lanna,

Joyce de Lanna, de 22 anos, jogando Tomb Raider, cuja personagem principal é ícone da representatividade feminina

conta que, apesar de ser a única menina da turma, nunca se sentiu oprimida. “Ser mulher nunca interferiu no meu relacionamento com colegas ou professores, pelo menos academicamente falando. Não sei como está o clima no mercado de trabalho. Acho que, por existir tão poucas desenvolvedoras, a representatividade ainda é bem pequena, mas acredito que isso tem mudado bastante

no cenário atual”. Quando questionadas sobre a representatividade feminina, Beatriz e Joyce afirmam que os estereótipos hipersexualizados de mulheres frágeis e em perigo ainda são constantemente reforçados. Com isso, a maioria dos protagonistas continuam sendo masculinos. Joyce destaca, “quando a história tem apenas um personagem principal,

na maioria das vezes, ele sempre é homem. Também queremos ser protagonistas de histórias de ação! Hoje temos a Lara Croft, por exemplo, que eu acredito que tire essa imagem de donzela frágil em perigo ou de que apenas os homens podem se aventurar. Isso está e continuará mudando de forma a tornar mais forte a representação da mulher como heroína dentro dos jogos, repre-

sentação que os homens já têm”, afirma. De forma similar, Beatriz reforça que a internet proporcionou maior visibilidade para as mulheres falarem de questões como representatividade, além de se reafirmarem enquanto público no mercado. “A questão é que a indústria apenas se esforçou para nos ignorar, mas nós sempre estivemos aqui”, completa.


Comportamento

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De salto em salto, parkour atrai campineiros Modalidade esportiva ainda é pouco conhecida, mas já tem escola e grupos na cidade Fotos: Isabella Levy

Isabella Levy

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ara quem vê um adolescente pulando obstáculos pela cidade, as opiniões são muitas. Tem gente que acha que é vandalismo, outros que consideram caso de polícia. Alguns, no entanto, observam atentos as acrobacias que usam as estruturas urbanas como suporte. O parkour, esporte ainda pouco conhecido em Campinas, atrai cada vez mais curiosos, vindos seja por causa dos jogos de videogame ou atraídos pelos saltos que misturam desafios e resistência. Um desses praticantes que já passou por todas essas situações é o professor da modalidade, Lucas Schultz, de 20 anos, que também estuda educação física. Ele conheceu o parkour há cerca de 10 anos e optou fazer de sua paixão a sua profissão. Há três meses, o grupo Parkour Campinas, liderado por Schultz, fechou uma parceria com a academia Arautos Crossfit, próxima à Praça Arautos da Paz, para orientar aulas da modalidade para iniciantes. Atualmente, são oferecidas duas turmas de 30 a 40 alunos cada. As turmas são divididas por faixa etária: entre 6 a 12 anos e a partir de 13 anos. Na academia, as aulas acontecem aos sábados pela manhã, mas Schultz também dá aulas particulares. Entre seus alunos mais novos, há uma família. Mateus Henn, de 12 anos, começou a praticar há cerca de um mês, e logo foi seguido pelo pai, Paulo, e a madrasta, Carol. “Trouxemos o Mateus para fazer uma aula experimental e ele adorou. Quando viemos assistir, ficamos interessados também, então resolvemos tentar”, comenta o pai. Já a madrasta afirma ter algumas dificuldades. “Quando os assistimos, tudo parece ser muito mais fácil, lembra quando éramos crianças e brincávamos de pular o muro. A realidade, hoje, é diferente, mas é gostoso praticar. Me sinto

meio criança de novo”, acrescenta a madrasta. “Para mim, o mais legal é ver os dois caírem”, completa Mateus. Na mesma turma está Jorge Marcos, de 16 anos. Apesar de já praticar há cerca de dois anos, todo sábado ele se reúne aos colegas na academia para treinar e aprimorar suas práticas. “Muita gente ainda associa a prática ao vandalismo, por causa dos games em que aparece, e não o veem como uma modalidade esportiva. É um treino físico e mental para superar obstáculos, medos e limites. Parkour é como uma terapia para mim”, afirma, referindo-se a jogos como Assassin’s Creed, em que a rivalidade entre duas sociedades secretas ancestrais é disputada por guerreiros experientes em Parkour, que os possibilita escalar qualquer construção em busca de assassinar o inimigo.

Schultz ressalta a variedade de benefícios da prática. “Parkour é uma atividade completa. Nunca tem uma parte do corpo que a gente não movimente enquanto treina. É uma percepção corporal muito grande. A gente aprende a movimentar e controlar nosso corpo, além de ser bom para ganhar massa muscular, emagrecer, ou só para se divertir mesmo”. O professor conheceu o esporte vendo alguns amigos fazendo acrobacias no condomínio onde morava e, desde que soube o que era, nunca mais parou. Juntou-se ao grupo Parkour Campinas em 2008 e, desde então, dedica seu tempo ao esporte. “Eu vivo Parkour. É o que eu mais amo fazer. Sempre foi uma prioridade minha. Então, não tive dúvidas quando escolhi minha profissão”, afirma. Antes da parceria

com a academia, entretanto, os treinos aconteciam pela cidade. “Sempre gostamos de variar os lugares para termos desafios diferentes. Os lugares em que mais costumamos praticar são a Arautos da Paz, o Taquaral, a Unicamp, o Bosque dos Alemães e o Bosque dos Jequitibás. Eu e mais alguns praticantes mais experientes costumamos ir a outras cidades também”, acrescenta Schultz.

Mulher Quando questionado sobre o espaço da mulher na modalidade, Schultz comenta que “o Parkour feminino está crescendo, mas ainda é pequeno em Campinas. É uma tendência o aumento da participação, mas infelizmente as mulheres ainda se sentem reprimidas no meio de tantos homens”. Carol ainda revela

ainda se sentir em desvantagem devido ao seu físico, mas não pretende desistir. “Por ser mulher, os exercícios a princípio parecem ser bem mais difíceis para mim, mas acredito que seja questão de desenvolvimento de força física e treinamento. Acima de qualquer dificuldade, é muito gostoso praticar”, acrescenta. “Nós que praticamos Parkour ainda enfrentamos muitos preconceitos no Brasil, mas queremos mostrar à sociedade que não é vandalismo e sim uma prática esportiva. Qualquer um que se interessar pelo esporte será sempre bem-vindo a aprender as práticas e a desenvolver suas habilidades, superando seus limites. Buscamos sempre incentivar e motivar os quem se juntar a nós. Parkour é mais do que um esporte. Parkour é uma família”, completa Schultz.

Jorge Macos “voa” entre obstáculos criados pelo vão dos banheiros públicos na Praça Arautos da Paz, no Taquaral


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