Revista KRAG

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REVISTA

KRAG Edição 01

Ano 1

Dezembro 2016

PRETITUDES A atitude preta invadiu as galerias de arte com a Pretitudes, uma exposição de negros, sobre negros. pg. 34


DESCULPE O transtorno Estas páginas está vazia, pois foi reservada para alguém muito importante para nós. VOCÊ!

Sua marca merece este espaço!


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EDITORIAL

Olá Você está recebendo a primeira edição da Revista Krag, uma publicação feita especialmente para você que se interessa por arte, beleza e cultura negra, além de gastronomia. Nesta edição você vai descobrir como é importante encontrar a própria identidade através de um contexto histórico de muita luta. Você vai conhecer exemplos de negros vitoriosos graças à sua atuação pessoal e profissional, como Antônio Carlos Santos Silva, mais conhecido como TC; a empresária Adinalva Ruggeri; a cabeleireira Fabiana Lourenço e o fotógrafo, jornalista e escritor Roniel Felipe. Eles têm muito que contar! Não perca a matéria sobre turbante, um acessório ancestral que simboliza a resistência dos negros e por isso nunca sai de moda. Aprenda uma amarração nova com a Cristiane Dias Alves e desfile seu charme por aí. Conheça também os pontos turísticos afro de Campinas seguindo nossas dicas. Está com fome? Confira nossas receitas no ‘’Sabor herdado’’, que só de imaginar os temperos dá água na boca. Acompanhe esses e outros assuntos nesta edição da Revista Krag. Boa leitura e até a próxima.

Equipe Krag

Andressa

Bárbara

Jacqueline

Verônica


índice

identidade .6 Cabelo colorido, roupas que chamam a atenção e personalidade de sobra. Linha e lente .10 personal organizer ++ .14 Adinalda é sorridente, cheia de vida e está conquistando o mundo com sua forma de organizar. CONECTADOS. 16 Feito para você .18 Listamos vários produtos que foram feitos especialmente para realçar a beleza negra. preto na foto .20 Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada .26 Fabiana está fazendo a cabeça da mulherada campineira com seus afros de encher os olhos. EXPEDIENTE A Revista Krag é o Projeto Experimental das alunas Andressa Silva Simão, Bárbara Fornazari Demarchi, Jacqueline Cristina Souza e Verônica Alvez Miranda, estudantes da Faculdade de Jornalismo da Ponti¬fícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), sob orientação da professora Cecília Toledo. Edição: Bárbara Demarchi Textos: Andressa Simão, Bárbara Demarchi, Jacline Souza e Vêronica Miranda. Fotografia: Andressa Simão, Bárbara Demarchi, Jacline Souza e Vêronica Miranda. Diagramação: Bárbara Demarchi Revisão: Andressa Simão, Bárbara Demarchi, Jacline Souza e Vêronica Miranda. Impressão: Nova Supri Tiragem: 10 unidades A fotografia da capa é de Bárbara Demarchi

TURBANTES .30 homem que luta .32 TC está à frente de importantes centros de cultura afro em Campinas, e contou um pouco da sua história para a KRAG. PRETITUDES .34 ÁFRICA GASTRONOMICA .38 Um pouco de comida boa não faz mal a ninguém! Por isso, trouxemos receitas africanas que dão água na boca. Role afro .42


LIFESTYLE

BL ACK Guilherme Oliveira: cachos, soltos ou presos

Quetsia Stephani SimĂľes: empoderada com seu visual


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Créditos: Jacqueline Souza

I

dentidade, empoderamento e tombamento são palavras de ordem para o estudante da Faculdade de História Guilherme Oliveira. Depois de anos lutando contra seus cabelos crespos, o estudante da PUC-Campinas decidiu assumir de vez a sua negritude. Hoje, os cabelos são a sua marca registrada. Oliveira e tantos outros negros ostentam a cabeleira como um símbolo de luta, identidade e respeito aos antepassados.

POWER Beatriz Rosá¬rio é fã da maquiagem colorida


Assumir os cabelos crespos não foi uma atitude fácil para o estudante. A mudança radical veio aos 15 anos, com o empurrão da família: “Graças a ela comecei a deixar meu cabelo crescer. Percebi que cada vez que meu black ficava maior, eu recebia mais elogios”, conta. Ele não só ostenta os crespos, como usa turbantes. Assim como ele, muitos jovens negros estão deixando de esconder os cabelos atrás de modismos, como o alisamento. Hoje, assumir os crespos é para muitos negros um verdadeiro orgulho. A psicóloga do Instituto AMMA Psique e Negritude, Maria Lucia da Silva, compartilha desse posicionamento. “É importante o sujeito estar conectado com a sua identidade, porque ela é responsável pela sua cultura, valores e concepções de vida e de mundo'', explica. Mas também ressalta que essa não é uma tarefa fácil. A estudante de Turismo Quetsia Stephani Simões, da PUC- Campinas, admite que demorou a assumir sua identidade. “Não é fácil reconhecer uma identidade na qual você não tem representatividade nenhuma, porque simplesmente ninguém mostra”, diz. Questsia conseguiu romper os padrões e continua com o seu empoderamento, ou seja, se deu o poder de assumir o passado e se sente fortalecida com suas escolhas. Apesar do grito de liberdade, Oliveira admite que não foi simples assumir a pele negra, mesmo se autodeclarando como preto desde a infância. “Durante muito tempo eu achava que não era muito legal ser negro”, afirma. Tudo começou a mudar quando ele entendeu que o problema não estava nele, mas sim nos padrões europeus que a sociedade brasileira estabeleceu. Já a atendente de caixa Beatriz Rosário admite que demorou a assumir sua identidade negra. “Até eu me tocar que meu cabelo crespo não era o problema e muito menos minha pele, o processo foi longo”,

conta. Para a psicóloga Maria Lúcia, a construção da identidade depende do conhecimento que o indivíduo tem com o grupo que pertence. “A identificação com o grupo é importante para que o sujeito se reconheça no outro e, assim, ganhe identidade”, explica. Bandeira. A construção da identidade negra começou em meados de 1960, nos Estados Unidos, com o movimento Black Power, que tornou-se um símbolo de luta pelos direitos civis da população negra. Segundo a pesquisadora da Universidade de São Paulo Nádia Regina Braga dos Santos, que estudou a construção da identidade negra a partir do cabelo, o movimento norte-americano tinha como slogan ''Black is beautiful'' (Ser negro é lindo) e criticava a imposição da sociedade de alterar a estrutura do cabelo das mulheres negras para se enquadrar nos padrões europeus, até hoje reconhecidos por muitos grupos sociais pela beleza dos fios. O movimento chegou ao Brasil nos anos 60, mas logo perdeu força diante da resistência da ditadura militar. Na época, apenas a estética dos cabelos, a soul music e os figurinos de roupas conseguiram ser seguidos no país, fortalecendo, assim, a autoestima da população negra. Segundo a pesquisadora, os movimentos da década de 60 não foram eficazes, já que em meados de 1980 houve um rompimento da relação entre a estética, política e a resistência. “Como resultado a população se rendeu novamente à cultura do alisamento do cabelo e com ela veio o retrocesso dos negros sendo rendidos pela cultura europeia”, explica. A consequência é que os padrões europeus passaram a valer no país, colocando de lado os movimentos negros que tentavam elevar a autoestima dessa população. A resistência, segundo ela, estava com os artistas que reproduziam a moda afro dos Estados Unidos por


meio do cantor James Brown e do grupo Jackson Five. Redes. O ano de 2010 marcou a cabeça das mulheres negras no Brasil com o início do movimento de transição capilar, que libertou os cabelos crespos do alisamento. As redes sociais tiveram um expressivo papel nesse movimento estético, segundo a pesquisadora Nádia Santos. “Na época era difundida nas redes sociais a ideia da beleza ligada à valorização da estética do cabelo natural”, explica. Segundo ela, a ferramenta mais utilizada para popularizar esse hábito foi o You Tube, que deu início à revolução cibernética. “As mulheres começaram a gravar vídeos para mostrar como estavam lidando com a transição capilar”, conta. Em paralelo ao movimento de transição capilar, surge em meados de 2014 outra onda estética chamada de tombamento, que embora seu sentido literal seja o ato de reconhecimento do valor histórico de um bem, nas ruas ele também significa o movimento de se autovalorizar esteticamente. A expressão ficou conhecida após o clipe ''Tombei'', da rapper Karol Conká, adepta dos cabelos e maquiagem colorida, até então restrita a alguns

grupos sociais. Para Beatriz Rosário, tombar vai além do colorido. “É muito mais do que usar tranças coloridas ou batom azul. Tombar é ser mais você. É ter personalidade forte e única. Tombar é não se deixar fraquejar”, diz. Já para o estudante Guilherme Oliveira, o tombamento surgiu como uma resposta à negação da beleza e da estética negra. “É como uma forma de afirmar que pretas e pretos são lindos, se destacam e se empoderam'', explica. Revolução. Aceitação é outra palavra que também está na boca dos negros, pois resgata a representatividade, identidade e resistência. Após um passado marcado por padrões europeus, os jovens estão inseridos em uma revolução cibernética a favor da autoestima, principalmente das mulheres negras. São blogueiros e vlogueiros negros que expressam sua opinião, relatam acontecimentos e compartilham textos. O empoderamento através das redes sociais foi denominado como “Ubuntu’’ digital, que significa “Eu sou porque nós somos”. A palavra existe nas línguas zulu e xhosa e são faladas pelos povos da África Subsaariana. Créditos: Jacqueline Souza

Beatriz Rosário

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entre linha e lente perfil

Créditos: Verônica Miranda

Não sou um coitadinho que venceu, mas um cara que teve oportunidades e, até onde pude, as agarrei.” É assim que se descreve o jornalista e fotógrafo Roniel Felipe, de 38 anos. Criado na Vila Castelo Branco, de Campinas, ele foi adotado por pais brancos aos dois meses de vida. Da infância até a idade adulta, construiu uma história marcada por lutas e vitórias. “Quando criança eu achei que seria caminheiro”, conta. Hoje divide seu tempo entre trabalhos pessoais, a parceria com o Projeto Gente Nova e a Federação das Entidades Assistenciais de Campinas (FEAC). Roniel teve a educação básica na

Roniel Felipe


escola pública Profº Antonio Fernandes Gonçalves, no bairro onde cresceu. Ele conta que as crianças negras eram tratadas de forma diferente e até mesmo maltratadas por alguns professores. “Eu era péssimo em escrever, mas sempre fui muito bom em desenho. Houve um dia em que fiz uma redação e junto com ela um desenho muito bonito. A professora jogou o papel no chão. Essa atitude hoje é inaceitável”, analisa. Outra lembrança da infância são as brincadeiras de mau gosto pelo fato de ser filho negro de pais brancos. Como seus pais não haviam vivido aquela situação na pele, eles não sabiam como ajudá-lo. “Encontrei apoio para esses problemas na vida e com o tempo fui formando minha personalidade. Hoje, as crianças negras são donas de si, sabem quem elas são e isso mostra que estamos evoluindo nesse sentido”, completa. O contato com o jornalismo custou a acontecer. Sua vontade inicial era estudar história. Prestou Unicamp para o curso de história, passou, mas ficou na lista de espera. Infelizmente nunca ingressou por falta de vaga. No ano seguinte conheceu a ONG AFROBRAS que oferecia bolsas para negros em universidades particulares. Era preciso apenas ser aprovado em uma universidade conveniada. Então, tentou história na Universidade Metodista de Piracicaba e passou. Começou a cursar, mas no mesmo ano o convênio com a ONG foi rompido pela universidade. Sem condições de continuar estudando decidiu prestar o vestibular para o curso de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, sendo aprovado. Durante três anos e meio foi bolsista e todo ano temia pelo rompimento da bolsa. Conheceu o jornalismo, a fotografia e o prazer da escrita. Através do curso nasceu o livro Negros Heróis, que foi seu trabalho de conclusão de curso. Ele acredita que o livro possibilitou expressar o dom para a escrita e,

assim, sensibilizar as pessoas para o tema. “O livro chega a várias escolas e isso é muito importante. Em Negros Heróis eu tento reescrever uma história, a que eu não tive na escola.” Sua capacidade de ditar histórias foi através de videogame. “Vou aqui e ali, eu morro, eu subo e desço. Isso me encantou”. Livro. A ideia surgiu quando foi fazer uma matéria na Casa de Cultura Tainã, em Campinas. “Conversando com o Antonio Carlos Santos Silva, o TC, que considero meu mestre, ele sugeriu que fosse contada a história de Laudelina de Campos, principal figura na luta dos direitos das domésticas na cidade. Ela era filha de escrava doméstica e quase estrangulou um capataz que tentou bater em sua mãe. Ela era uma mulher à frente do seu tempo”, conta. Empolgado com a história decidiu incluir TC na trama. “TC é mais contemporâneo e carrega uma visão de ancestralidade africana. Emprego. Foi graças ao Projeto Gente Nova (PROGEN) que Roniel conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada e um curso em desenho técnico. “Esse projeto teve grande importância na minha vida e ainda tem. Através de entrevistas realizadas dentro da ONG, fiz meus primeiros contatos com políticos”, explica. Segundo Roniel, no PROGEN as oportunidades são dadas a todas as crianças e adolescentes, mas alguns não tiveram escolha: ou traficam ou morrem se prostituem ou morrem. Tive muitos amigos que morreram em chacinas e se eu estivesse junto também teria morrido”, afirma. Seu projeto mais recente é o livro “Mudando a Rotina para exercer cidadania” que conta a história do PROGEN, “Foi um momento que deixei o meu eu escritor e me vi como personagem.” Outro livro que ainda está em produção tem como objetivo contar a história dos 50 anos da Vila Bela, atualmente Vila Castelo Branco.

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PErfil

Adinalva Ruggeri


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Créditos: Verônica Miranda

ALTO ASTRAL, GARRA E

ORGANIZAÇÃO A

alegria e o sorriso largo são marcas registradas da campineira Adinalva Ruggeri, empresária bem sucedida na área de personal organizer. Filha caçula de dez irmãos, ela superou as dificuldades financeiras da vida para chegar aos 48 anos dona do próprio negócio.


O segredo ela conta com orgulho: as lições aprendidas com os pais Tiago e Lurdivina, ambos falecidos. “Honestidade, idoneidade, respeito e educação eram os lemas do meu pai”, conta. Toda a força adquirida com a família se refletiu na sua carreira profissional. A decisão de cursar uma faculdade veio depois de trabalhar oito anos em linha de produção. “Eu via aquele pessoal feliz do escritório e pensava que queria fazer parte daquela turma feliz. Foi quando decidi voltar a estudar”, lembra. Depois de um ano e meio cursando Relações Públicas na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, ela se inscreveu em uma vaga interna para o setor comercial, na mesma empresa onde trabalhava na produção. “Na inscrição foi surpreendida pela atendente do RH, que me perguntou baseada em que eu queria me inscrever”, recorda. Ela se lembrou das lições do pai, que sempre a alertava para nunca culpar o fato de ser negra quando não alcançasse alguns objetivos. A resposta veio em seguida: “Baseado no fato de estar fazendo faculdade. Acho que mereço uma oportunidade que não seja na produção e que eu quero crescer”, disse, na época.

Ela conseguiu a vaga, passou por quase todos os setores da empresa e lá ficou por 16 anos, até que em 2002 foi demitida em função da privatização das empresas de telefonia do governo. Antes de sair da empresa, ela cursou pós-graduação de Administração e Marketing na Universidade São Francisco em Campinas, onde conheceu uma amiga, que foi sua grande aliada no desenvolvimento da profissão. Nesta ocasião, ela também recebeu um convite da amiga para organizar a agenda de uma família tradicional e muito rica de Campinas. “Eu fazia muitas visitas à família, no bairro Gramado. Essa vivência íntima me permitiu perceber a necessidade de uma organização nas responsabilidades dos cinco empregados da casa”, conta. A partir daí, ela decidiu capacitar-se na área de treinamento e fez vários cursos, como rotinas domésticas, serviço de lavanderia e de copa, decoração, arranjo floral e servir mesas à francesa, americana e brasileira. “Durante um ano permaneci com essa família e isso foi muito importante para eu me aperfeiçoar em uma residência de alto padrão”, diz. A inserção no mundo de famílias de alto padrão também Créditos: divulgação

Cabines iguais são o segredo da organização do guarda-roupa, segundo Adinalva Ruggeri


Créditos: divulgação

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Dispensa seca organizada pela Casa Ruggeri, empresa sob comando da empresária

trouxe alguns momentos ruins para Adinalva, classificados por ela como racismo. Um deles partiu do porteiro de um prédio, que ao vê-la chegar à portaria, direcionou-a ao elevador de serviço. Outra situação que a constrangeu foi em uma visita de avaliação, que é o primeiro contato de Adinalva com o cliente e sua casa. “Cheguei, parei o carro na baía de visitantes e pedi ao porteiro que avisasse a proprietária do apartamento que eu havia chegada. Foi quando escutei pelo interfone ele dizendo para a moradora que a sua diarista estava lá. Então perguntei ao porteiro em que momento eu havia dito o que iria fazer naquele apartamento. A cliente escutou minha fala e o porteiro ficou muito sem graça”, conta. Nesses momentos Adinalva se lembrava de uma das falas do seu pai Tiago: “Antes de ser negro, você é gente e a cor é apenas um detalhe”. E seguia em frente. Da infância à idade adulta, as brincadeiras sempre existiram. “Na década de 80 era mais difícil para o negro assumir

seu cabelo, mas hoje está mais fácil, porque podemos alisar, usar Black Power ou pintar de loiro. Hoje a aceitação é mais fácil e a mulher negra está empoderada, com mais espaço para se assumir”. Hoje Adinalva se sente realizada como personal organizer e seu trabalho já ultrapassou até fronteiras. “Quando estava na metade da organização de uma casa, a cliente me disse que estava de mudança para a Califórnia e se eu poderia ajudá-la nos Estados Unidos. Chorei de emoção e agradeci pela imensa oportunidade”, conta. Além da viagem paga pela cliente, Adinalva pode conhecer o berço da organização, a Container Store, que é uma grande loja de departamentos especializada em organização. É possível todas as ferramentas utilizadas na organização, como por exemplo, divisórias e cabides como uma infinidade de opções. “As palavras que seriam capazes de descrever aquela experiência são gratidão, felicidade, oportunidade, benção e merecimento”, finaliza.


lifestyle

representativi Q

Créditos: FreePik

ue o mundo está cada vez mais digital, ninguém dúvida. Com um click é possível se conectar com outra pessoa, que pode estar ao lado ou até a quilômetros de distância. As redes sociais estão na moda e roubam a cena em todos os lugares. Elas permitem um simples bate papo, o compartilhamento de ideias, a discussão de temas e até a aquisição de conhecimento. Segundo Pesquisa Brasileira de Mídia de 2015 sobre hábitos de consumo de mídia pela população, da Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal, 48% população brasileira acessa a internet. Ou seja, quase a metade da população do país. A pesquisa mostrou que 65% dos internautas são jovens, na faixa de 16 a 25 anos, contra 4% dos usuários com 65 anos ou mais. Entre os internautas, 92% estão conectados por meio de redes sociais, sendo as mais utilizadas o Facebook (83%), o Whatsapp (58%) e o Youtube (17%). O uso de aparelhos celulares como forma de acesso à internet lidera entre os usuários. A adesão às redes sociais, parti-

cularmente ao Facebook, fez o estudante de Engenharia de Controle e Automação Elderson Nogueira Ferreira participar do grupo ‘’Intelectualidade Afro Brasileira’’, com 19 mil inscritos, segundo informações disponibilizadas na página do grupo. Ele conta que descobriu o grupo faz oito meses após ler um artigo sobre os desafios da mulher negra na sociedade brasileira. “Sinto-me muito mais à vontade no grupo para expor minha opinião, principalmente porque muitos participantes compartilham das mesmas vivências e pensamentos”, diz. De tanto participar das rodas de conversas desse grupo, ele se tornou mais crítico com o tema e também mais atento ao que não percebia. “A maioria dos temas expostos nos grupos são positivos e falam da beleza do negro e dele ser capaz de ocupar qualquer espaço que desejar”, diz. Ferreira defende a interação de informações trocadas nos grupos sobre a população negra. “Os grupos são essenciais para seus membros demonstrarem experiências de vida e para que um indivíduo

‘‘sinto-me muito mais a vontade no grupo para ~ expor minha opiniao’’ Elderson Nogueira Ferreira, estudante de Engenhearia de Controle e Automação


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vidade DIGITAL não pense que certas situações só acontecem com ele”, afirma. Trocar ideias e compartilhar assuntos comuns nos grupos pode, na sua opinião, ajudar uma pessoa a ter um pensamento crítico na resolução de problemas. “Nos grupos podemos aprender mais sobre a história do nosso povo”, diz. A estudante de Direito e administradora do grupo Rolê das Pretas, Paola Fernanda, acredita que os grupos são importantes por serem canais de troca de ideias. “Os grupos têm força para determinar suas próprias pautas e isso é revolucionário em um mundo em que negros e negras não têm direito pleno à voz’’, afirma. O grupo, fundando há um ano, tem hoje 945 membros, segundo Paola e é um espaço de acolhimento e discussões. “É uma realização saber que eu e outras organizadoras oferecemos um espaço de autonomia para mulheres pretas’’, explica. Ela acredita que os grupos digitais são canais de discussão e exposição de ideias a partir das próprias vivências. “Os grupos favorecem a escuta atenta, pois ao invés de falarmos generica-

mente sobre racismo, como é feito em ambientes mistos, podemos trocar ideias com aqueles que também sofrem o mesmo tipo de opressão”, diz. Pesquisa. Quando o assunto é internet, os aparelhos celulares são o principal concorrente de computadores ou notebooks, segundo a última Pesquisa Brasileira de Mídia e o uso das redes sociais influência esse resultado. Mais do que as diferenças regionais, a escolaridade e a idade são os fatores que impulsionam a frequência e a intensidade do uso da internet no Brasil. Quem tem mais escolaridade acessa a internet todos os dias – 72% - e aqueles que têm menos, apenas 5%. Entre os usuários com ensino superior, a intensidade média diária é de 5h41, de segunda a sexta-feira. Já os jovens com idade entre 16 e 25 anos, 65% se conectam todos os dias, em média 5h51 durante a semana. Os aparelhos celulares como forma de acesso à internet já competem com os computadores ou notebooks, 66% e 71%, respectivamente. O uso de redes sociais influência esse resultado.

Créditos: FreePik

^ “‘Os grupos tem forca ´ para determinar suas ´ proprias pautas e isso ´ ´ revolucionario’” e Paola Fernanda, estudante de Direito


MODA E BELEZA

DESODORANTE

A linha Ebony da Rexona foi criada para proporcionar proteção duradoura, de 48 horas, para mulheres de pele morena e negra. Está disponível nas versões roll-on, aerossol e creme que podem ser encontrados facilmente nas prateleiras dos supermercados.

shampoo, condicionador e extras

A marca #todecacho tem uma linha completa de produtos para cuidados com cabelos crespos e cacheados. Pré-shampoos, shampoos, condicionadores, cremes para pentear, gel redutor de volume, ativador de cachos, máscaras e gelatinas para aumentar o volume são os lançamentos. É de perder a cabeça em meio às opções!

escova de cabelo

SIM! Existe uma escova especialmente dedicada à missão de desembaraçar os cabelos, sem quebrá-los. Seu nome é Michel Mercier. Importada da França, a escova tem 428 cerdas e está disponível no Brasil nas versões para cabelos finos, normais e espessos, nos modelos Tradicional, Anti-splip (com cabo antideslizante) e Madeira.

hidratante corpotal

Fácil de encontrar em qualquer supermercado ou farmácia, o Vasenol Nutrição de Cacau, da linha Hidratação Total, foi pensado para a pele morena e negra. A fórmula do hidratante possui manteiga de cacau pura para realçar a cor e o brilho natural da pele, além de evitar o ressecamento.

(PER)

FEITO PARA MIM


A

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pesar do cresci¬mento do setor de cos¬méticos para pele negra, a dermatologista e especialista em pele negra Katleen Conceição é crítica com relação ao que se encontra nas pra¬teleiras. “Falta bastante produto no mercado”, diz ela, que se tornou uma referência do assunto, no país. Pelas suas mãos já passaram Hugo Gloss, Taís Araújo, Lázaro Ramos, Preta Gil, Cris Vianna, Thiaguinho, Maria Júlia Coutinho, Mc Sapão e vários outros famosos. Graduada pela Universidade Federal Fluminense, ela é membro da Sociedade Skin of Color.

cabeluso devido a produção maior de glândulas sebáceas e cabelos quebradiços.

Por que a pele negra precisa de produtos exclusivos?

Como você analisa o mercado cosmético para a pele negra atualmente no Brasil?

Porque a pele negra possui 35 tonalidades diferentes de cor e por isso é mais suscetível a alguns problemas dermatológicos, como manchas na pele, hiperpigmentação pós-acne, queloides, foliculite de barba, encravamento de pelos- eles são mais tortuosos na pele negra-, oleosidade na pele e no couro

A pele negra é mais resistente a alguns problemas típicos de pele branca? Sim. A quantidade de fibras colágenas no negro é maior, o que deixa a pele mais resistente a rugas e linhas de expressão. Além disso, a quantidade de melanina também é maior e isso ajuda na resistência da pele ao sol e efeitos do envelheci¬mento. Mesmo assim, o negro deve usar protetor solar.

Não existe foco para os cosmé¬ticos para a pele negra no Brasil. Algumas empresas ainda estão iniciando suas atividades nesse setor e por isso eu ainda sinto que falta bastante. O mercado atual não entende que nós somos consumidores. Créditos: divulgação

Katleen Conceião


ensaio

CrĂŠditos: BĂĄrbara Demarchi

preto


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O

ensaio fotográfico ‘’Preto’’ foi feito para mostrar a essência da beleza negra e teve a participação dos leitores da Revista Krag. Ele foi realizado na Casa de Cultura Tainã, na Vila Padre Manoel de Nóbrega, em Campinas, com a presença de Cristiane da Silva, Lázaro de Souza e Andressa da Silva. Quer se ver na Krag? Envie à redação sua fotografia em preto e branco. Quem sabe sua foto não é escolhida para a próxima edição?

Andressa da Silva e Lázaro de Souza



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Créditos: Bárbara Demarchi

Andressa da Silva e Lázaro de Souza


Andressa da Silva

Lรกzaro de Souza

Cristiane da Silva


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Créditos: Bárbara Demarchi

Andressa da Silva e Lázaro de Souza


PERFIL

CABELO CABELEIRA CABELUDA DESCABELADA


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Créditos: Vêronica Miranda

Fabiana Lourenço


A

cabeleireira Fabiana Lourenço é uma das mais renomadas profissionais especializadas em cabelo crespo e de negro em Campinas. Aos 39 anos, casada e mãe de três filhos, a menina Quésia de 10 anos e os meninos Efraim de 5 e Urian de 2, ela gosta de trabalhar literalmente a cabeça de suas clientes para que aceitem seus cabelos crespos e cacheados e tirem proveito do que a natureza lhes deu. Em seu salão no Cambuí, o trabalho com as tesouras ocupa apenas 30% de seu tempo. Na maior parte do atendimento, Fabiana conversa com suas clientes para conhecer o tipo de cabelo e, dessa forma, ajudar suas clientes (dar espaço) a aceitarem (dar espaço) seus cabelos ao natural. “Uma vez fui criticada por outro profissional porque, segundo ele, meu método era muito idealista”, conta. Sua resposta, na época, é a mesma de hoje. “Meu objetivo sempre foi o de ajudar as pessoas a se aceitarem e se amarem”, explica.

Hás 23 anos, quando abriu seu negócio na cidade, ela detectou a carência de profissionais em corte e tratamento de cabelo cacheado e crespo. Na época, Fabiana decidiu especializar-se nesse tipo de fio e começou a construir uma carreira sólida no mercado. Seu atendimento personalizado, no entanto, não se restringe a cachos: ela também atende mulheres com cabelos lisos. Fabiana acredita que a maioria das pessoas no Brasil têm uma descendência negra. “No país a miscigenação é tão grande que todas as pessoas têm um pouco de anelação no cabelo. Muita gente tem um negro dentro de si, mas não sabe”, analisa. Quando jovem, ela não pensava em ser cabeleireira. “Sempre gostei de estudar artes e por isso entrei em um curso de estilista, mas meu projeto foi interrompido em função de um trauma, que foi a perda de um namorado, morto por assassinato”, conta. Triste com a situação e sem rumo quan¬to à escolha profissional, Fabiana foi

Fabiana Lourenço gosta de conversar com as clientes para aceitarem seus cabelos


aconselhada por amigos a fazer um curso de manicure. Ela acei¬tou o conselho e se matriculou em uma escola, que abriu as portas para o mundo da beleza. “Em um mês de curso eu estava dando aula no curso de cabeleireiro, mas confesso que na época tinha preconceito de cortar cabelo, porque a profissão não era regula-mentada”, explica. Já casada, ela recebeu um empurrão do marido para fazer o curso de cabeleireiro em uma escola técnica de Campinas. Fabiana aceitou, se apaixonou pela profissão e nunca mais abandonou o salão. Ao longo de sua carreira, ela conta nos dedos os dias que ficou longe do salão. Entre os motivos estava o nascimento das duas filhas. Fabiana sente-se realizada como cabeleireira, principalmente por perceber a transformação de suas clientes após receberem o tratamento em seu salão, que não se resume somente a corte, tintura, tratamento e penteados. “Procuro ajudar as clientes a se conhecerem e, desse modo, se aceitarem como

são, principalmente as que têm cabelos cacheados ou crespos”, diz. “Lembro de uma mulher, por volta dos 35 anos, que chegou ao salão com aparência deprimida e o semblante caído. Após o tratamento, percebi que seu comportamento foi se transformando e ela se mostrava cada vez melhor quando voltava ao salão. Para mim, foi uma enorme satisfação vê-la bem”, diz. A insatisfação com os cachos vai ainda mais longe. Segundo ela, é comum pessoas com cabelos lisos casarem com negros e terem filhos de cabelos crespos. A mãe que não sabe lidar com aqueles fios acaba transferindo à criança sua angústia. Para Fabiana, a insatisfa¬ção do adulto com o cabelo crespo pode, então, começar na infância. “Quando essas pessoas sentam na cadeira, cada tesourada é um toque na ferida de momentos que mexeram com a autoestima”, con¬ta. Seu desejo é justamente aliviar esse peso e ajudar a cliente a se sentir feliz com suas madeixas. Como elas são. Créditos: Vêronica Miranda

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MODA E BELEZA

MANIA DE TURBANTE A

pesar de hoje ser usado como acessório de moda, os turbantes, tecidos amarrados sobre a cabeça para escondê-la totalmente, escondem histórias de opressão e fé. Cristiane Dias Alves, é turbanista e proprietária da Djumbo, marca de roupas voltada para o público negro. Filha de Orixá, colocar o turbante pela manhã se tornou um ritual desde que foi iniciada na religião. “Usar um turbante não é para qualquer um. Cada posto dentro da religião tem uma hierarquia. Usamos as amarrações como forma de identificação do cargo das pessoas do terreiro. Aqueles que

não são de religiões de matrizes africanas podem usar o turbante, mas não de qualquer jeito”, explica. Mesmo com a significação religiosa, o uso estético não é ilegítimo, pois também possui uma história que marca a herança negra. Durante a escravidão era comum encontrar mulheres pretas que usavam o turbante para esconder a ausência de orelhas, isso porque elas eram arrancadas por ordem das mulheres brancas, na tentativa de minimizar a beleza das escravas. Desse modo, o tecido era, além de um elemento estético, uma forma delas enlouquecerem com o barulho. Créditos: Bárbara Demarchi

Cristiane Dias Alvez, Cris como é conhecida, divide o tempo com ensinando mulheres negras, e brancas, as diferentes amarações de turbantes


FAÇA VOCÊ MESMO Coloque o tecido sobre a cabeça, como mostra a foto. Cetifique-se de deixar todo o cabelo para dentro. Se for preciso, faça isso com a ajuda de elásticos ou presilhas.

Cruze os dois lados do tecido, primeiro na frente e depois atrás da cabeça. É importante sentir que o turbante está ficando firme na cabeça, pois não existem nós para prendê-lo.

Volte com o tecido para frente da cabeça e o cruze pela última vez. Essa transpassada que dará o acabamento ao seu turbante, portante verifique se está do jeitinho que você quer.

Encaixe as pontas de tecido que sobraram dentro das voltas do turbate. Depois disso, arrume-o na cabeça para que siga o contorno da raiz do seu cabelo e lembre-se: orelhas sempre para dentro.

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perfil

UM SER BAOBÁ N

a história do livro Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, as árvores baobás de origem africana ameaçavam a existência do planeta Asteróide B 612, do personagem Pequeno Príncipe. Imponentes com seus troncos largos e podendo alcançar até 25 metros de altura, os baobás representam a força da resistência africana e luta dos negros no Brasil

Créditos: internet


Há quem acredita que dá para salvar o mundo plantando baobás. Antônio Carlos Santos Silva, mais conhecido no meio cultural de Campinas como TC Silva, é um deles. Coordenador da Casa de Cultura Tainã, hoje reconhecida como um dos pontos de cultura mais atuantes no Brasil, TC cultiva os baobás como filosofia de vida. Ele dirige com seu grupo o projeto Rota dos Baobás, que tem como objetivo promover a infraestrutura da comunicação entre os povos. O projeto deste militante e ativista engajado em movimentos sociais é parte da Rede Mocambos, que fornece infraestrutura digital – como a instalação de softwares livres em regiões afastadas, visando o compartilhamento e a conservação do patrimônio cultural de sociedades descendentes de comunidades afro-brasileiras. O projeto, que é financiado pelo Banco do Brasil e Ministério da Cultura e Comunicações, pretende levar tecnologia ao país. “Para a cultura africana, plantar baobás representa esquecer o que os negros sofreram na escravidão”, explica TC. Para ele, documentar a história dos negros no Brasil é registrar um período importante para o país e cultura e evitar que ela seja esquecida e apagada. Se para o Pequeno Príncipe os baobás podiam rachar o pequeno planeta, para TC a árvore é o símbolo de preservação do conhecimento africano. TC costuma carregar no bolso de suas roupas três sementes de baobás, de origem de Madagascar, embrulhadas em

um plástico. “É para trazer sabedoria do povo africano”, conta. TC foi um dos fundadores da Casa de Cultura Tainã e sempre esteve no comando da entidade, já faz 27 anos. O espaço foi lançado para unir dois bairros que tinham conflitos na cidade de Campinas: a Vila Castelo Branco e a Vila Padre Manoel, na região noroeste da cidade. O começo não foi fácil e ele lutou muito com seus companheiros. “Até greve de fome nós fizemos para conquistar o espaço Tainã”, conta. Por todos os esforços e conquistas do passado, TC ganhou a Ordem de Mérito Cultural pelos serviços culturais prestados à população brasileira. Em 2016, ele recebeu outro prêmio pela sua dedicação à cultura: o Diploma de Mérito Cultural da Câmara de Vereadores de Campinas. “Tudo o que conquistei na vida foi por acreditar na sabedoria dos baobás. Sem o conhecimento passado pelos povos africanos nós não teríamos tecnologia”, explica. Para ele, os baobás foram suas referências para o trabalho no Tainã. Para manter sua plantação de baobás, ele já enfrentou muitos desafios. Um deles foi na fronteira da Bolívia com o Brasil, faz 10 anos, quando tentava sair do país com as mudas. Barrado pela Polícia Federal, teve que explicar e convencer os guardas da importância daquelas mudas para seu espaço cultural. Os argumentos foram válidos e ele foi liberado. Vitória para a cultura africana, que se mantém viva na Casa de Cultura Tainã. Créditos: Andressa Simão

Tambores e piano da Casa de Cultura Tainã, localizada na Vila Padre Manoel de Nóbrega

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Arte

PRE TI TU DES

Créditos: Andressa Simão


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Fotografias das obras da exposição Pretitudes


P

ara uns, ela é a essência de uma origem; para outros, é o orgulho da raça. Para uma outra parte, é o amor e, para a maioria das pessoas, é a representação. Ela é a “Pretitudes”, uma exposição de arte itinerante que pretende percorrer várias cidades brasileiras. Por onde passa, o sucesso é absoluto. Não é para menos: seus trabalhos têm a cara negra do Brasil. A exposição fez parte da sexta edição da Semana do Audiovisual em Campinas, que aconteceu em agosto deste ano, no Museu da imagem e do Som (MIS), cujo tema tratou das práticas democráticas. Uma boa notícia para quem perdeu a exposição em Campinas. Segundo a curadora do MIS, Andrea Mendes, essa não será a única chance de prestigiar a exposição na cidade. Sem dar mais informações, como datas, ela revela que em breve “Pretitudes” dará outro voo rasante em Campinas. O projeto contou com a participação de obras de oito artistas plásticos e recebeu apoio de grupos e entidades envolvidas com a cultura afro. Segundo a curadora do MIS, a proposta da exposição foi refletir sobre a identificação artística dos negros. É por isso que, junto com a mostra, foram realizados debates para discutir as representatividades para além da representação. Para o artista plástico Tiago Rego, a importância do evento é reconhecer que a cultura negra é a essência das obras de arte brasileiras. “É muito importante para mim, como artista e negro, saber que as minhas raízes deram origem ao trabalho que eu faço”, explica. “Por isso eu valorizo as fortes características dos negros em minhas obras”. Exposições como essa valorizam tanto a representatividade negra que trabalha com obras de arte, como ajudam o público a refletir sobre as contribuições do negro na sociedade. “Temos uma identidade negra artística que vai muito além da escravidão. Precisamos

mostrar ao público e refletir sobre isso”, analisa a curadora do MIS. O desenhista e escritor José Luís de Oliveira concorda com ela. Zélus, como gosta de ser chamado, defende um maior número de projetos como essa proposta. “Esse tipo de projeto ajuda a representatividade ter o mérito que merece”, declara. O artista plástico especializado em arte afro-brasileira, Alexandre Melo, afirma que a identidade negra faz parte da história da arte no Brasil. “As técnicas, formas e estilos da arte brasileira têm traços muito fortes africanas, que foram heranças deixadas na época da colonização”, diz. A representatividade negra nas obras de arte sempre passou despercebida pelo público e críticos em função de poucos artistas do século XIX destacarem os negros em seus trabalhos. Apenas no início da década de 20 é que o mulato se tornou parte da identidade brasileira, mesmo assim representado como escravo. Os principais artistas brasileiros que já retrataram os negros em diferentes momentos, ressaltando a legitimidade da raça, foram Eustáquio Neves, Sergio Vidal e Lasar Segall.

" Esse tipo

de projeto ajuda a representatividade ter o mérito qye merece’’ Zélus, desenhista e escritor


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nhumi!

o d a d r e h r

o b a S

S

abe aquele prato rico em temperos, aromas, ervas e especiarias que conta com sabores de uma vasta gastronomia? Assim

é a culinária africana, que é recheada de ingredientes como azeite de dendê, leite de coco, noz moscada e pimenta malagueta. Introduzidos no Brasil pelos escravos no período da colonização, os temperos africanos estão presentes em uma infinidade de pratos na gastronomia do país, como a moqueca de peixe e o cuscuz doce. A raiz da gastronomia africana vem da influência de vários povos que colonizaram o continente e neste cruzamento de tradições muitas receitas feitas no Brasil tiveram a influência da comida africana. Foi durante a Rota Marítima do Cabo, no século XVII que


o

39 Créditos: Andressa Simão

Culinária africana é marcada por diversidade e tradição

surgiu o prato predileto do líder Nelson Mandela, o bobotie, uma torta de carne carregada de temperos presentes na memória olfativa de muitos africanos. Nigeriana e apaixonada por gastronomia, a enfermeira Patrícia Ijeoma vive em Campinas há mais de 22 anos. Apesar de tanto tempo longe do seu país, ela leva consigo o paladar e os sabores de cada alimento. “Não tem como não sentir falta e nem se lembrar do gosto da comida africana quando coloco na boca alguma comida que tem um tempero típico de meu país”, conta. “É uma sensação única”, completa.

O chefe de cozinha Jonathan Wehrung, do Victoria Hotel, teve que estudar muito para preparar as refeições dos jogadores da seleção da Nigéria, que ficaram hospedados em um hotel em Campinas, no período da Copa do Mundo, em 2014. “Acabei fazendo muitas pesquisas, tive que entender o significado e as origens das receitas, temperos e o modo de preparo, tudo para não decepcionar os jogadores”, explica. Para ele, degustar a comida africana é saborear os conhecimentos de diversas tradições. As heterogeneidades dos temperos e dos alimentos estão presentes no preparo de cada refeição.


Braaibroodjie Ingredientes: 2 cebolas cortadas 2 fatias de pão branco 1/2 xícara de queijo cheddar 1 tomate pequeno cortado 1 colher (café) de óleo vegetal 2 colheres (café) de alho-poró Molho picante a gosto Manteiga amolecida

Modo de Preparo: Aqueça uma grelha e coloque o pão fatiado até dourar, depois reserve em um prato. Em uma tigela pequena, misture o alho-poró com um pouco de óleo. Passe a manteiga em todas as fatias do pão e logo em seguida polvilhe cerca de um terço do queijo. Cubra com o tomate, sal e pimenta. Se preferir, espalhe o molho de preferência no recheio. Depois, despeje o molho de alho-poró com o óleo vegetal sobre o sanduíche. Coloque de volta o sanduíche na grelha para que derreta o queijo, por cerca de dois minutos. Sirva imediatamente.

Créditos: Andressa Simão

Braaibrooodjie


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Bobotie Ingredientes: 1 kg de carne de pato moído 1 fatia de pão francês 1 xícara (chá) de leite de coco 1 cebola grande 2 ovo 12 amêndoas descascadas e picadas 2 colheres (sopa) de óleo 1 colher (sopa) de Curry 1 colher (chá) de colorau amarelo 75g de uva passa 10 damascos secos 4 colheres (sopa) de limão 6 folhas de louro Sal a gosto

Créditos: divulgação

Modo de Preparo: Corte o pão em pedaços e coloque numa tigela. Cubra-o com meia xícara de leite de coco e deixe de molho por alguns minutos. Amasse o pão levemente com um garfo. Depois, aqueça o óleo numa frigideira e frite as cebolas picadas em fatias finas durante cinco minutos. Retire do fogo. Bata os ovos com o leite de coco e reserve. Misture todos os outros ingredientes. Despeje tudo em uma tigela, coloque o leite e os ovos sobre a mistura de carne e tempere com sal e pimenta. Leve ao forno a 180 graus por 45 minutos. Decore com folhas de louro sobre a carne. Sirva com arroz branco.


TURISMO

cAMPINAS + AFRO D esde julho de 2015, as manhãs de domingo de Campinas tem uma opção turística com sotaque africano. É o Roteiro Afro, que faz parte do projeto “Conheça Campinas”, promovido pela Secretaria de Turismo da Prefeitura Municipal. São 22 destinos selecionados no percurso, com o objetivo de resgatar a memória e a arquitetura da cidade, que tem um expressivo valor histórico na cultura negra. Entre os pontos destacados estão a Catedral Metropolitana de Campinas e o Largo São Benedito, com a igreja e o monumento da Mãe Preta. Também está no percurso o Largo das Andorinhas e o Parque Ecológico Monsenhor Emilio Salim, que representam a identidade negra do município. Segundo o coordenador do Movimento Negro Unificado, Reginaldo Bispo, durante a construção da Catedral Metropolitana de Campinas muitos escravos morreram em função da precariedade das condições de trabalho. “Um taipal desabou sobre os que trabalhavam e muitos homens deram a vida pela obra”, explica. “A Catedral tornou-se a representação da luta e do suor de cada negro que por lá passou”. O Roteiro Afro foi lançado como parte das comemorações dos 242 anos de Campinas. Para Bispo, conhecer a cultura negra é importante para a formação cultural e artística da cidade. “Esse é um patrimônio de todo campineiro”. Lembra.

Créditos: Andressa Simão

catedral metropolitana

Localizada no centro da cidade, a construção começou em 1807. Primeiramente a igreja ficou pronta no interior, pois um acidente aconteceu na parte externa, em janeiro de 1863, atrasou as obras. A finalização da obra, que uma arquitetura luxuosa graças à colaboração do artista, Ramos de Azevedo, foi finalizada em 1883.

largo das andorinhas

A praça foi construída em 1886 e adotou esse nome em função da Casa das Andorinhas, um mercado de hortaliças que se localiza no local. No período da escravidão, havia um tronco, cerca de 200 metros de distância do local, onde muitos escravos eram amarrados para apanhar. A praça era também chamada Largo do Pelourinho.

mãe preta

A igreja de São Benedito e o monumento Mãe Preta estão localizados no Largo São Benedito, considerado o local mais expressivo da religiosidade negra. A Mãe Preta é uma escultura esculpida por Júlio Guerra, que faz uma homenagem a cultura e sabedoria africana às mães e minorias negras que lutaram por um futuro melhor em Campinas.

parque monsenhor salim

A Sesmaria Engenho Mato Dentro, que foi construída em 1806 como usina de açúcar, passou a ter plantação de café em 1820. Em 1879, a propriedade contava com 200 escravos. Os hectares se dividiram e deram origem ao bairro Vila Brandina, ao Shopping Iguatemi e ao Parque Ecológico.


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