Saiba Mais Maio 2017

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Desde 2006

Livro de professor da PUC-Campinas aborda o ativismo em tempos digitais Pág.10 Faculdade de Jornalismo - PUC Campinas

Maio de 2017

Cresce 22% o número de infectados por HIV A única faixa etária que registrou aumento nos casos está entre os 20 e 29 anos

A única faixa etária que registrou aumento nos casos de HIV entre 2015 e 2016 é a de jovens entre 20 e 29 anos. O cres-

cimento da quantidade de novos casos da infecção registrados pela Secretaria de Saúde de Campinas foi de 22%, passando de 315

para 386 casos. Nas outras faixas etárias, foi registrada uma redução no número de casos de 9% e 6%, entre 30 e 39 anos e 40 e

49 anos, respectivamente. Segundo o Coordenador do centro de referência no tratamento e prevenção do HIV/Aids de Campinas

(CTA), Josué Lima, a banalização da doença é um dos principais fatores para esse crescimento. Pág. 6

Comer fora fica mais Jovens protestam caro em Campinas contra Reforma

Campinas tem a sexta refeição mais cara no País com um aumento de 9% no preço do prato

Campinas é considerada a sexta cidade mais cara do País para se alimentar fora de casa segundo pesquisa da Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert). O va-

lor gasto com a alimentação na cidade aumentou 9% em 2017, alcançando a média de R$ 36,00 por refeição. Esse valor é 27% maior do que a média do vale-refeição oferecido no País. Pág. 5

ESPORTE Com o crescimento da popularidade do futebol nos Estados Unidos, universidades passam a oferecer bolsas para intercâmbio esportivo para brasileiros. Pág. 9

Ato de estudantes contra a aprovação da reforma da Previdência realizado no dia 31 de Março

As mudanças previstas na Reforma da Previdência, em tramitação no Congresso, afetam diretamente os jovens. Para receber o valor total do benefício, a contribuição deve acontecer por 49 anos, ou seja,

COMPORTAMENTO Veto presidencial da lei que formaliza a profissão de detetive tende a fazer crescer o número de pessoas que trabalham na área de forma indevida. Pág. 11

uma pessoa que começa a contribuir com 18 só conseguirá se aposentar com 67, o que se agrava na perspectiva de dificuldade de conseguir o primeiro emprego e estabelecer uma carreira estável. Pág. 3

CULTURA 1° Mostra de Cinema Italiano em Campinas trouxe 18 filmes para exibição. Estiveram presentes cerca de 30 mil pessoas, atingido a estimativa da Prefeitura. Pág. 12


Opinião

2 RÁPIDAS

CARTA AO LEITOR

Beatriz Bermudes

Melina Marques e Tawane Larini

Foto: Beatriz Bermudes

“Feira Livre das Mina que Faz” tem 2ª edição

editores

A segunda edição do Saiba + procura responder questões sobre os principais assuntos que passam pela cabeça dos jovens. Você sabe como as Reformas do Ensino Médio e da Previdência podem interferir no seu futuro? A nossa equipe esclarece. E um alerta! O número de casos de pacientes infectados pelo HIV cresceu 22% em Campinas, segundo a Secretaria de Saúde. A úni-

A “Feira Livre das Mina que Faz” tem segunda edição no dia 6 de maio no Terraço Garatuja, no Jardim Nova Europa, em Campinas. O evento aconteceu pela primeira CRÔNICA vez em dezembro de 2016, com o objetivo de proporcionar ambientes de vivências, troca de saberes e fortalecimento de ações artísticas, com o intuito de fomentar o comércio direto entre artesãs e público. As artesãs que Beatriz Bermudes quiserem participar e expor podem se inscrever pelo forSe não me falha a mulário disponível na página do Facebook “Feira Livre memória, fui assediada das Mina que Faz”. Para o público geral, a entrada custa pela primeira vez aos 9 R$ 3,00. O evento será das 12h às 18h. anos de idade. Estava na missa procurando um lugar para sentar quando um senhor passou a mão em mim. Quando olhei para ele, assustada, ele Nos primeiros três meses de 2017 foram ofertadas 19 lambeu os lábios e me mil vagas de emprego nas cidades da região de Campinas mandou um beijo. Esse (SP), de acordo com o portal Emprega Campinas. O nútipo de experiência não mero representa uma recuperação na economia da região, é fácil de esquecer, mas, com 26% mais oportunidades ofertadas do que no último com a idade, aprendi igtrimestre de 2016, segundo Alex Lima, administrador do norar. Assim como aprensite. Entre outubro, novembro e dezembro foram 13 mil di a ignorar os olhares no vagas, no total. O resultado do primeiro trimestre repreônibus quando voltava da senta um primeiro passo para a recuperação do mercado. escola, os assovios na rua quando ia para aula de balé, as “cantadas” durantes as primeiras festas da adolescência. Foi só na adolescênUm grupo de funcionários públicos, envolvendo psicia, por volta dos 17 anos, cólogos e psiquiatras, desenvolve, mensalmente uma que vi crescer o movisessão de terapia comunitária no Bosque dos Jequitibás. mento feminista, do qual A proposta é cuidar da saúde em espaços públicos, por passei a fazer parte. Foi meio de reuniões com profissionais. Durante a terapia, o quando parei para pengrupo é estimulado a utilizar a criatividade para ressigsar nas diversas mulheres nificar as mais adversas situações, assim como partilhar que lutaram, tanto tempo experiências e refletir sobre elas. Os encontros aconteatrás, para que eu tivesse cem toda primeira quinta-feira do mês, das 14h às 16h, direito à educação, para na sala de reuniões do Museu Aquário. A participação é que eu pudesse escolher gratuita e não precisa de inscrição. com quem quero casar, ou melhor, se quero casar, para que tivesse direito Expediente ao voto, sobre meu corpo. Quanto mais aprenJornal laboratório produzido por alunos da Faculdade dia sobre, mais me doía de Jornalismo da PUC-Campinas. acreditar que em pleno Centro de Comunicação e Linguagem (CLC) século 21 nós, mulheres, Diretor: Rogério Bazi; ainda somos assediadas Diretora-Adjunta: Cláudia de Cillo; e abusadas. Era absurdo, Diretor da Faculdade: Lindolfo Alexandre de Souza. para mim, que algo tão Professor responsável: Fabiano Ormaneze básico e essencial como (Mtb 48.375) ter direito ao próprio corEdição: Melina Marques e Tawane Larini po era justamente o que a Diagramação: Igor Batista e Rodrigo Salas sociedade como um todo custava a respeitar.

Maio de 2017 ca faixa etária a registrar esse aumento está entre 20 e 29 anos. O motivo? A banalização da gravidade da doença. Ainda sobre saúde, quem disse que comer apenas coisas saudáveis é sinônimo de bem-estar? A ortorexia nervosa, uma doença que atinge pessoas obsessivas por dietas e alimentos sadios, tem afetado a vida de muitos jovens, como a da estudante de direito Maria Paula Borges, de 21 anos. É preciso tomar cuidado, também, com o excesso de atividade física. Na ânsia por um corpo perfeito, o exagero no treino pode ocasionar

lesões físicas e cardiovasculares, conforme o personal trainer Clovis Cavalo. Mas também tem notícia boa no esporte. Universitários brasileiros podem ser convidados para jogar futebol nos Estados Unidos: é o chamado intercâmbio esportivo. E não podia faltar tecnologia. A reportagem do Saiba + conversou com o prof. Doutor Tarcísio Torres Silva, que recentemente lançou o livro Ativismo Digital e Imagem: Estratégias de engajamento e mobilização em rede. Esperamos que você aproveite a leitura e até a próxima edição!

Eu não deveria ser feminista

Vagas de emprego crescem 26% na RMC

Psicólogos desenvolvem sessão comunitária

Durante esses breves anos como feminista, passei por uma fase de militância assídua, quando tudo precisava ser problematizado; depois veio uma fase de estudos, porque eu precisava entender todas as nuances desse movimento; e, por fim, me encontrei na fase que gosto de chamar de “microrrevolucionária”. É um período no qual passa a existir uma paciência, especialmente voltada aos homens, para tentar descontruir atitudes machistas. Por isso, chamo de microrrevoluções, porque pouco a pouco a realidade vai sendo alterada. Mas, por fim, iria descobrir que a realidade dificilmente muda. Foi no dia 31 de março que me deparei com um relato publicado no blog #Agoraéquesãoelas, da Folha de S. Paulo. No texto, a figurinista Susllem Tocini narra alguns casos de assédio vividos por ela nos últimos meses, sendo o responsável por tais atos o ator José Mayer. E, como se apenas isso não fosse suficiente, o galã da Globo ainda teve a ousadia de dizer que tais ações “são próprias do machismo e da misoginia do personagem Tião Bezerra”, vivido por ele na última novela das 21h. Poucos dias depois, quando foi anunciado o afastamento do ator por tempo

indeterminado, ele assumiu responsabilidade e pediu desculpas. Continua recebendo o salário de R$ 200 mil, enquanto que Susllem recebeu o que lhe era devido e foi desligada da emissora. Ainda me recuperava desse choque quando, cerca de uma semana depois, mais um caso absurdo no horário nobre da Globo: durante uma festa no programa Big Brother Brasil, o médico Marcos Harter agride, física e verbalmente, a estudante Emilly Araújo. Com uma mão apertando o braço dela, dedo em riste e aos gritos, Marcos tenta silenciar a jovem durante uma discussão. Os dois estavam em um relacionamento desde o começo do programa e não era a primeira vez que ele se exaltava com a moça. Durante meses, Emilly esteve nesse relacionamento abusivo, mas precisou chegar a esse ponto para que alguma atitude fosse tomada. Marcos não só foi expulso do programa, como a polícia foi até a casa e instaurou um inquérito. Depois de anos de discussões acerca dos direitos da mulher, nem um desses casos deveria ter acontecido. Depois de todo esse tempo, essa luta já deveria estar vencida. Eu não deveria ser feminista, mas é por Susllems, Emillys, por mim e por tantas outras, que persisto.


Trabalho

Maio de 2017

Previdência gera debate entre os jovens

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Reforma cria preocupação com aposentadoria e desemprego, que atingiu 32,5% dessa faixa

A

s mudanças previstas na Reforma da Previdência, em tramitação no Congresso, afetam diretamente os jovens. Para receber o valor total do benefício, a contribuição deve acontecer por 49 anos, ou seja, uma pessoa que começa a contribuir com 18 só conseguirá se aposentar com 67, o que se agrava na perspectiva de dificuldade de conseguir o primeiro emprego e estabelecer uma carreira estável. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no último trimestre de 2016, 32,5% da taxa de desempregados no Brasil são jovens entre 18 e 24 anos. Esse dado, de acordo com Marcos Paulo Silva, de 25 anos, coordenador da Frente Estadual de Jovens Negras e Negros da União da Juventude Socialista, movimento que realiza atos contra a reforma, aponta que o ingresso no mercado de trabalho também impacta negativamente na futura aposentadoria, uma vez que, por não ter experiência, o jovem não consegue uma oportunidade e, consequentemente, con-

tinua sem experiência, num ciclo vicioso. “No geral, a juventude está em trabalhos informais ou contratos precarizados, até acessar o mercado de trabalho formal”, diz. Além disso, em relação à reforma da previdência, ele afirma que a medida proposta pelo governo de Michel Temer (PMDB) significa para os jovens “retirar tudo aquilo que os trabalhadores brasileiros lutaram durante anos para conquistar”, ressaltando que a juventude atual terá mais dificuldade de acessar os direitos mínimos e a aposentadoria. A estudante de engenharia Cássia Kuki, de 22 anos, faz parte da parcela de jovens que está preocupada com o futuro. Agora, no último ano da faculdade, ela começou a estagiar, mas, apesar de apreensiva com a carreira e entrada no mercado de trabalho, ainda não pensa sobre a aposentadoria e investimentos em longo prazo. De acordo com ela, é difícil se inteirar de todas as discussões e mudanças. Com a rotina corrida, as notícias sobre a reforma ficam em segundo plano “quando dá, acompanho”.

Foto: Alana Romão

Alana Romão

A estudante de engenharia Cássia Kuki, de 22 anos, já se preocupa em relação ao futuro profissional

A consultora de comunicação recém-formada Mariana Fernandes, de 23 anos, reflete a situação enfrentada por jovens que estão entrando no mercado de trabalho. “Eu, sinceramente, não tenho acompanhado muita coisa. No fundo, eu até me preocupo com a questão, mas a gente que já está inserido no mercado de trabalho não tem muito com o que se revoltar”. Para ela, essa é uma questão que não pode ser mudada ou interferida. O advogado Walmir Leão acredita que a reforma é um “mal necessário”.

Contudo, ele concorda que, se aprovada, atinge principalmente os mais jovens. “A reforma vai fazer com que os jovens mudem o comportamento atual e vão precisar investir em uma previdência privada”, o que, de acordo com Leão, é uma possível saída para garantir uma aposentadoria mais tranquila. Em contrapartida, o economista e professor da PUC-Campinas Ednilson Arendit afirma que a reforma não é necessária. “O problema não é a previdência. É o pagamento da dívida interna”, explica o economista,

Foto: Marcos Bruno

Estudantes em manifestação contra a Reforma da Previdência que ocorreu na cidade de Campinas no dia 31 de março de 2017

afirmando que a previdência deve ser analisada pelo contexto da seguridade social, ou seja, um conjunto de ações que existem para assegurar o acesso à saúde, assistência social e previdência para os quais existem fontes de financiamento asseguradas. Os problemas e o suposto déficit, segundo ele, são derivados do fato de que “o governo retira e não considera no cálculo da previdência aqueles tributos que, pela Constituição, têm que ser utilizados para o financiamento da seguridade social”. O governo utiliza esses recursos para pagar juros da dívida. Em relação aos jovens, o economista diz que “se prevalecer o projeto inicial, os jovens dificilmente se aposentarão”. Além disso, “se for algo inalcançável, a não ser que a contribuição da previdência seja obrigatória, muitos farão a opção por não contribuir e ir para previdência privada.” Com isso, de acordo com Arendit, haveria redução da contribuição para o INSS o que acarretaria em problemas futuros pois haveria “a queda da receita da previdência podendo inviabilizar a continuidade da previdência pública”.


Educação

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Maio de 2017

Reforma do ensino antecipa escolha profissional Foto: Primela Leite

Segundo psicóloga, medida aumenta insegurança entre aqueles que não sabem área a seguir

Professora Andrea Ribeiro faz oficina de matemática para os alunos que estão cursando o Ensino Médio

Primella Leite

O

Senado aprovou, no dia 8 de fevereiro deste ano, a Medida Provisória que institui a reforma do Ensino Médio. Anunciada pelo presidente Michel Temer (PMDB) em setembro do ano passado, a reforma passou pela última votação e pretende tornar mais flexível e atual o currículo dos três últimos anos na escola, permitindo que cada aluno escolha a área que mais tem afinidade para se especializar. Essa medida, porém, traz insegurança aos jovens que se sentem despreparados para escolher, na fase da adolescência, o que querem seguir. A estudante Caroline Nascimento, de 15 anos, está cursando o 1° ano do Ensino Médio e diz que não sabe a profissão que quer seguir. “É muito difícil ter essa responsabilidade tão grande de decidir o que eu quero fazer na vida adulta, enquanto ainda sou uma adolescente e acabei de sair da infância. Hoje, sinceramente, gosto mais de exatas, mas já pensei em ser historiadora e isso poderia me prejudicar futuramente. Se, lá na frente, após essa reforma, a pessoa decidir que está preparada para prestar o vestibular e escolher algo diferente do

que quis na escola, ela estará atrasada e despreparada”, desabafa. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) será obrigatória em todas as escolas e deverá ocupar o máximo de 60% da carga horária total do Ensino Médio, sendo o tempo restante preenchido por disciplinas de interesse do aluno, que poderá eleger prioridades de acordo com o campo de formação desejada em uma das cinco áreas de interesse: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. A psicóloga especializada em orientação vocacional Gislaine Gonçalves diz que muitos pais têm a procurado justamente pela questão da reformulação. “Tanto os pais quanto os filhos em fase escolar me procuram porque estão perdidos quanto a essa decisão. No geral, tenho observado que muitos deles nem sabem a área de que gostam na escola. Alguns dizem que amam matemática, mas que já sonharam em ser publicitários. Acredito que essa fase de implantação da reforma será um pouco conturbada para o jovem, que estava acostumado com outro processo decisivo, um pouco mais tardio. Com a reformu-

lação, os alunos não são preparados para terem autonomia”, conta. Gislaine aconselha que os jovens procurem toda a orientação necessária para se sentirem seguros. “É importante fazer testes vocacionais, procurar orientação de psicólogos e ler muito sobre a área que quer estudar. Procurar conhecer o que está acontecendo no universo da área de

que gosta e se gostaria de se especializar naquilo, futuramente, também é fundamental”, diz. “Além dessa ajuda, o jovem pode listar quais atividades gosta de fazer em seu tempo livre, os tipos de filme de que mais gosta, os assuntos sobre os quais gosta de conversar e suas principais qualidades”, acrescenta. Embora existam malefícios encontrados por alunos, pais e educadores, Fernando Domingues, que atua como coordenador pedagógico numa escola particular, diz que a mudança tem pontos positivos. “Se eu trago um engenheiro para dar aula de matemática, a aula é mais aplicada aos alunos. Ensinar matemática em um contexto de engenharia é melhor que uma matemática 100% teórica ou abstrata, que os alunos tinham até agora”, afirma. Segundo a professora de matemática Andrea Ribeiro, a escola pública não pode se tornar boa sem as condições necessárias para que a

juventude tenha uma formação do ser humano na sua completude. Segundo ela, essa formação é indispensável também para o professor. “Para funcionar, precisa de um bom projeto político-pedagógico. Aproveitar a energia que surgiu nesse processo e fazer com que esse processo faça sentido. A maior parte das escolas define projetos de forma alheia à comunidade escolar. Isso não funciona. Daria mais resultado se revissem o processo de gestão da escola, incluíssem professores e alunos na discussão”, diz. De acordo com o Ministério da Educação, o novo modelo ainda depende da BNCC que está em elaboração e será homologada em 2017. Após essa etapa, no primeiro ano letivo subsequente à data de publicação da BNCC, os sistemas de ensino deverão estabelecer um cronograma de implantação das principais alterações e iniciar o processo de implementação a partir do segundo ano letivo. Foto: Primela Leite

Estudante do Ensino Médio Caroline Nascimento, de 15 anos, se prepara para as provas do final do semestre


Economia

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Campinas é a 6ª mais cara para comer fora Valor gasto com alimentação subiu 9% em 2017, atingindo a média de R$ 36 por refeição

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ampinas é considerada a sexta cidade mais cara do País para se alimentar fora de casa, segundo pesquisa da Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert). O valor gasto com a alimentação na cidade aumentou 9% em 2017, alcançando a média de R$ 36,00 por refeição. Esse valor é 27% maior do que a média do vale-refeição oferecido no País. Nos últimos quatro anos, Campinas se manteve entre as cidades mais caras da região Sudeste quando se trata de refeições fora de casa – desde

2015, está entre as quatro primeiras colocações, disputando com Rio de Janeiro e Niterói. Para a pesquisa, são considerados os valores obtidos de maneira quantitativa em estabelecimentos que aceitam o vale-refeição em 51 municípios. O preço médio de uma refeição completa é calculado por meio da soma do valor médio dos pratos, bebidas, sobremesas e cafés em quatro sistemas de alimentação – comercial, self-service, executivo e à la carte. Em Campinas, o preço de um prato comercial fica em torno de R$ 29,09, enquanto um almoço em restaurantes self-service é R$ 33,52. Considerando o executivo, o valor atinge R$ 50,07 e, para

quem prefere o sistema à la carte, precisa desembolsar em média R$ 60,33. Com o aumento de 23% no preço da alimentação fora de casa ao longo dos últimos dois anos, os campineiros vêm encontrando dificuldades para almoçar com os valores oferecidos pelo vale-refeição. Segundo dados divulgados pela Sodexo, o tíquete médio de refeição oferecido no Brasil é de R$ 28,31, bem abaixo do preço das refeições em Campinas. Por isso, muitos estão apostando nas marmitas e trazendo alimentação de casa. Este é o caso do videomaker Lucas Sou-

Foto: Giovanna Rossini

Giovanna Rossini

Lucas Sousa leva a comida de casa ao trabalho para economizar

sa, de 21 anos, que opta por trazer marmita de casa e deixa o vale-refeição com a mãe. O jovem explica que a ideia foi dele, já que considera muito caro se alimentar nos restaurantes do centro da cidade, onde trabalha. “Com o valor do vale que eu recebo, é possível fazer uma boa compra no supermercado e é uma ótima maneira de dar uma força a mais lá em casa e traz benefícios para toda família”, afirma. Assim, além de economizar, Sousa comenta que a opção por levar comida de casa também ajuda a controlar sua alimentação e comer melhor, já que, durante a breve experiência que teve comprando marmitex prontas, passou mal diversas vezes. No entanto, o também estudante num curso técnico de Meio Ambiente afirma que, à noite, antes de ir para aula, compra um pão de queijo ou um salgado no caminho. “Não pesa tanto no orçamento. No final do mês, soma cerca de R$ 50 ou R$ 60, valor que eu gastaria em dois dias almoçando em um self-service”, completa. Levar comida de casa também foi a escolha de Fabrício Albergaria, de 22 anos, que se divide entre o curso de Jornalismo e o trabalho como atendente de uma livraria em um shopping. Apesar do benefício do vale-refeição, o jovem recebe um valor muito pequeno para as refeições diárias. “São cerca de R$ 10 por dia. Imagine almoçar com este valor em um shopping?”, questiona. Preocupado com os

gastos, Albergaria costuma segurar o saldo de seu vale-refeição e usá-lo eventualmente para comer fora do horário de trabalho. O jovem se queixa que, mesmo sendo possível encontrar uma variedade de restaurantes e estabelecimentos no shopping, ainda é muito difícil ter uma boa alimentação com um valor tão baixo. “A alimentação em qualquer lugar de Campinas é muito cara. As empresas deveriam oferecer um benefício de acordo com a média da cidade em que estão”, completa. Segundo Moretti Bueno, assessor do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Campinas, a opção pelas marmitas é uma escolha comum entre os brasileiros e não afeta diretamente a economia do setor de alimentação. “Esta tendência não oferece perigo para os restaurantes da cidade, já que eles vão continuar a ser frequentados por quem tem uma condição aquisitiva maior”, explica. Bueno também esclarece que a alta constante nos preços é um reflexo da qualidade de produtos e serviços oferecidos em cada uma das categorias, além de ser diretamente influenciado pela economia nacional instável. “Em uma país sem previsão de custos, em que uma semana o preço do tomate é R$ 2 e no outro R$ 20, é muito difícil para os estabelecimentos segurarem os preços”, conclui.


Saúde

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Maio de 2017

Número de infectados por HIV cresce 22% Em Campinas, jovens entre 20 e 29 anos representam a única faixa com aumento de casos Sarah Lombardi

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única faixa etária que registrou aumento nos casos de HIV entre 2015 e 2016 é a de jovens entre 20 e 29 anos. O crescimento da quantidade de novos casos da infecção registrados pela Secretaria de Saúde de Campinas foi de 22%, passando de 315 para 386 casos. Nas outras faixas etárias, foi registrada uma redução no número de casos de 9% e 6%, entre 30 e 39 anos, e 40 e 49 anos, respectivamente. Segundo o coordenador do Centro de Referência no Tratamento e Prevenção do HIV/Aids de Campinas (CTA), Josué Lima, a banalização da doença é um dos principais fatores para esse crescimento. “É um perigo para o jovem principalmente, porque, muitas vezes, ele pensa que o fato de existir medicações e tratamento é igual a ter a cura e ainda de graça. Mas isso não é uma verdade.” Já a médica infectologista Cláudia Tala, do CTA, afirma que é necessário que o tema seja abordado pela po-

pulação. “Existiu muita conscientização na minha época [anos 80/90]. Porém, agora, a mídia tem falado pouco sobre o assunto. As novas gerações estão cada vez menos preocupadas e, com isso, deixam a prevenção para depois, porque, se não quiserem usar a camisinha, após a exposição ao vírus podem recorrer a PEP [Profilaxia Pós-Exposição] para não contraírem HIV”. A PEP consiste no uso de três medicamentos antirretrovirais, o Tenofovir (TDF), a Lamivudina (3TC) e o Atazanavir/ritonavir (ATV/R), durante 28 dias, diariamente, após a possibilidade de exposição ao vírus. Os remédios devem começar a ser usados em até 72 horas e a efetividade da medicação é maior conforme menor for o tempo do início do tratamento. Segundo Lima, a maioria dos pacientes que tomam PEP, por causa de uma relação sexual desprotegida, são jovens e do sexo masculino, por deixarem a prevenção em segundo plano. “Apenas em 2016, obtivemos um aumento de 15% do

uso da PEP por relações sexuais desprotegidas”. Antes do início da PEP, todas as pessoas passam por um exame e por uma consulta médica. Segundo a Secretaria de Saúde de Campinas, mais de 50% das pessoas que usaram a PEP apresentaram efeitos adversos aos medicamentos. Em função desses sintomas, de acordo com

Claudia, muitos desistem durante o tratamento. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão diarreia, vômitos, náuseas, manchas avermelhadas pelo corpo, agitação, insônia, sonhos vívidos, cefaleia e fadiga. A primeira reavaliação do paciente sob PEP é feita logo após a primeira semana, com o objetivo de identificar esses

possíveis efeitos adversos e reforçar a necessidade de adesão até o final do tratamento. Todas as pessoas que iniciarem a PEP são cadastradas no CTA para acompanhamento e devem ser orientadas sobre a necessidade de repetir a testagem de HIV em 30 dias após a exposição. Outro exame é feito 90 dias após a primeira testagem.

Onde tomar a PEP? Centro de referência DST/Aids Campinas – Amda/CTA/Coas Endereço: R. Regente Feijó, nº 637 – Centro - Campinas Tel. (19)3234-5000 CTA do Cecom da Unicamp Endereço: R. Vital Brasil, nº 100 - Cidade Universitária - Campinas Tel. (19)3521-9076

Foto: Sarah Lombardi

No Centro de Referência no Tratamento e Prevenção do HIV/Aids de Campinas é possível tomar a PEP e fazer exames de prevenção e tratamento da doença


Saúde

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Jejum intermitente promete perda rápida de peso Foto: Isabela Lopes

Estratégia alimentar tem gerado discussões e polêmicas em grupos de redes sociais

Igor Caruso realizou dieta como experimento e perdeu oito quilos

Isabela Lopes

O

jejum intermitente tem sido a estratégia alimentar mais discutida nas redes sociais nos últimos tempos, principalmente, em grupos fechados no Facebook. Num deles, voltado para iniciantes, já são cerca de 300 mil membros. Só para se ter uma ideia, na maioria dos demais grupos

voltados a dietas, o número não ultrapassa os 20 mil inscritos, conforme levantamento feito pela reportagem do Saiba+. O método consiste em ficar um tempo, que pode ser de 12, 16 ou 24 horas, sem ingerir alimentos sólidos. No período, é apenas liberado o consumo de chá, café e água. Para a nutricionista Carolina Soares, especialista em dietas, a grande procura pelo método se dá

devido aos rápidos resultados que o jejum intermitente proporciona. Ela afirma que estes grupos nas redes sociais possuem duas vertentes. A primeira é que muitas pessoas utilizam para divulgar resultados, por meio de fotos, e, consequentemente, incentivar outras pessoas que estão realizando ou pretendem realizar o jejum. Já a segunda é voltada a pessoas que publicam suas dietas possibilitando que outros seguidores as adotem. Carolina explica que esse tipo de exposição faz com que as pessoas deixem de procurar um acompanhamento médico, colocando sua saúde em risco. Após o período determinado do jejum, a pessoa deve voltar a comer alimentos sólidos saudáveis e não altamente calóricos. “Não é recomendável ficar mais tempo que o proposto. Ultrapassar esse período pode acarretar problemas no metabolismo e provocar um processo inflamatório, causando, em alguns casos, o desenvolvimento de doenças como o colesterol, a hipertensão, entre outras”, afirma. O estudante de engenharia João Felipe Lopes, de 21 anos, começou a fazer o jejum intermitente no começo deste ano. Ele conta que re-

solveu adotar esse método por praticidade e para se beneficiar com alguns tipos de hormônios que são secretados no jejum, como o glucagon – hormônio de crescimento, que queima gordura. O estudante descobriu o método nas redes sociais. “Minha nutricionista e meu personal trainer decidiram que eu deveria realizar esse jejum para ganhar um pouco de peso com qualidade, sem ganhar muita gordura. Diferente do que muitos pensam, você acaba ficando muito disposto, já que alguns mecanismos biológicos são ativados”, diz. Lopes afirma que chegou a perder 2 quilos de líquidos durante cinco dias, nos quais alternava 24 horas de jejum, com períodos de alimentação equilibrada. “Durante esse período, tomava apenas café, pois a cafeína inibe o apetite. Após o período do jejum, eu restringia dias de carboidratos, dependia muito do meu treino de musculação”, conta. Em contrapartida, o estudante de educação física Igor Caruso,de 24 anos, realizou a dieta apenas como experimento. Em um mês, ele chegou a perder 8 quilos.“A repercussão do jejum

intermitente foi tão grande tanto nas redes sociais, como na minha área, que decidi fazer apenas para comprovar a qualidade da dieta. Eu fiz o jejum de 16 horas e, durante esse período, só tomava água ou chá. Quando acabava o período do jejum, eu comia todos os carboidratos que a minha nutricionista recomendava e, assim, consegui chegar no resultado esperado”, diz. Ele ainda ressalta que o método pode dar bons resultados se tiver um acompanhamento de um profissional na área. A nutricionista lembra que o jejum intermitente não serve apenas para pessoas que almejam perder uns quilinhos. De acordo com pesquisas, o método mostra uma melhora de inúmeros fatores de risco, como pressão arterial, colesterol total, LDL, triglicérides, além dos níveis de açúcar no sangue. Pode, também, prevenir doenças cardíacas e até mesmo o câncer. “Toda dieta deve seguir uma receita feita de acordo com cada paciente e suas prioridades. Se você tem um acompanhamento médico e segue o que o profissional propõe, não estará correndo risco com a sua saúde. O fundamental é ter ciência disso”, afirma.

Alimentação saudável pode se tornar doença Ortorexia nervosa atinge quem tem uma visão distorcida e perfeccionista da dieta

Ana Clara Rampazzo

U

ma dieta baseada em alimentos frescos, não industrializados, está longe de ser ruim. O problema é quando isso se torna uma obsessão e já existe até mesmo uma doença para quem desenvolveu essa característica. Trata-se da ortorexia nervosa. De acordo com a nutricionista Ana Carolina Vasques, essa situação é gerada por fixação por saúde alimentar, qualidade dos alimentos e pureza na dieta. “A atual preocupação é a ideia dos jovens de que a dieta possui um papel fundamental para a saúde humana, o que causa uma visão distorcida e perfeccionis-

ta do conceito de alimentação saudável”. A nutricionista explica ainda que as mulheres são o grupo de maior risco, principalmente as adolescentes, que excluem alimentos processados, ricos em açúcar e/ou gordura e aditivos alimentares, como corantes e conservantes. De acordo com a nutricionista, a internet e as blogueiras fitness são grandes influenciadoras. “Frequentemente, são relatados hábitos alimentares distorcidos, inadequados, irreais e inatingíveis. Os fãs e seguidores acabam tentando implementá-los em sua rotina e até mesmo segui-los de maneira cega. Muitas vezes, os alimentos são rotulados em bons ou ruins por estes gurus, mas não é bem por aí. Precisa-se de bom senso

e moderação para se ingerir qualquer tipo de alimento.” A estudante de Direito Maria Paula Borges, de 21 anos, conta que começou a mudar a alimentação em busca de uma vida mais saudável e acompanhava dietas pelas redes sociais, mas, devido a fortes dores de cabeça e mal-estar, procurou uma nutricionista. “Excluí da minha alimentação produtos que achava ter muito corante e agrotóxico e, por isso, deixei de comer nutrientes importantes para o organismo. Hoje tenho uma nutricionista que acompanha toda a minha alimentação e, quando vejo alguma dieta interessante na internet, tiro dúvidas se será bom para mim ou não. Mas tenho uma preocupação excessiva com a quali-

dade das verduras e frutas que compro.” Segundo a nutricionista, uma das consequências da ortorexia nervosa é o isolamento social e solidão, já que o ortoréxico prefere ficar em casa a sair da dieta. “Há o desprezo pelos que não seguem os mesmos padrões alimentares tidos como saudáveis, por isso a pessoa acaba se afastando. As privações alimentares também podem levar à exclusão de alimentos ou grupos de alimentos nutritivos e importantes para a saúde geral, culminando em deficiências nutricionais.” A estudante ainda conta que já recusou convite de amigos para jantar para não sair da dieta e já chegou a se sentir mal ao sair

para comer com amigos e familiares. “Sempre me sinto culpada quando saio com amigos e como alimentos industrializados ou que não são saudáveis, mas sei que não deveria.” Ainda de acordo com a profissional, o transtorno se assemelha à anorexia e à bulimia, e tratamento envolve acompanhamento psiquiátrico, psicológico e nutricional. “Tanto na bulimia quanto na anorexia nervosa e ortorexia nervosa, os indivíduos se sujeitam a crenças rígidas e perdem seu real poder de escolha. Contudo, na ortorexia, não há distorção da imagem corporal, medo de engordar e preocupação excessiva com quantidades de alimentos como há na anorexia e bulimia nervosa”.


Gênero

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Mulheres oferecem serviços de manutenção Foto: Isabela Arioli

Após casos de assédio, muitas optam por não contratar homens para serviços de conserto em casa

Fernanda Mazza também faz manutenção e reparo de serviços elétricos

Isabela Arioli

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or causa do grande número de assédios, serviços como consertos elétricos e hidráulicos, pintura e instalações em geral, antes quase exclusivos de homens, têm ganhado mão de obra de mulheres, que oferecem esse tipo de trabalho exclusivamente para clientes do sexo feminino. Em São Paulo, serviços de manutenção domésticas, como M’ana e o Maridas de Aluguel foram criados para suprir as necessidades de mulheres que precisam do atendimento em casa, mas não se sentem confortáveis contratando um homem. Em Campinas, a opção

para mulheres que querem o atendimento diferenciado é o A Fe Faz. A empresa foi criada por Fernanda Mazza, que conta sempre ter tido problemas ao contratar profissionais dessa área, pois se sentia muito desconfortável. “Comecei então a fazer esses reparos na minha casa sozinha. Percebi que tinha bastante habilidade com as ferramentas, fui fazer um curso de elétrica e tive a ideia de fazer A Fe Faz com atendimento especializado para o público feminino, já que não temos muitas mulheres nessa área.” Para a empresária, a ideia tem dado muito certo pois, segundo ela, as mulheres se sentem mais seguras

ao contratar outra mulher para serviços de manutenção doméstica. Isso porque as chances de assédio são altas, principalmente quando as mulheres residem sozinhas, ou não são casadas. Esses dados podem ser comprovados de acordo com o levantamento da Organização Não Governamental (ONG) Think Olga que revela que 99,6% das mulheres já reportaram terem sido assediadas em algum momento da vida. Dentre os assédios ocorridos dentro de casa, encontram-se relatos em relação a porteiros, seguranças, mecânicos, funcionários de operadoras de televisão, entre outras profissões exercidas majoritariamente por homens. Perguntas inoportunas e cheias de segundas intenções são as mais encontradas nessas abordagens, como aconteceu com a jornalista Natália Almeida, de 21 anos. Desde os 15, ela reside sozinha e, certa vez, quando um funcionário de uma operadora de televisão foi instalar o sinal em seu quarto, fez comentários constrangedores. “Nossa, esse quarto inteiro pra você, essa cama inteira pra você, sozinha.” Ana Luisa Correard, fundadora da empresa M´ana, conta que ela passou por um

desconforto dentro de casa e decidiu criar a empresa porque havia uma grande demanda a ser atendida. Logo de início, a ideia foi tão bem aceita, que hoje, um ano e meio depois, a página da empresa no Facebook já atinge mais de 30 mil curtidas. Por semana, são, em média, 20 atendimentos. “Chega de homem estranho em casa!” é o lema da empresa. Com certeza, uma pessoa que concorda com isso é a comunicadora de 23 anos que não quis ser identificada. Ela passou por uma situação muito delicada alguns anos atrás e, por isso, ainda tem medo de que o indivíduo a procure. Vivendo apenas com a mãe em um apartamento, certo dia chamaram o serviço de operadora de internet para resolverem um problema no modem que ficava no quarto dela. Ao perceber olhares estranhos em torno do quarto e perguntas de cunho pessoal, a profissional e a mãe decidiram ir para outro cômodo. Após o serviço ter terminado, ela sentiu que algo estava estranho e, quando foi procurar o que tinha acontecido, percebeu que o rapaz havia levado consigo um par de calcinhas, que estava no cesto de roupa suja. A garota e a mãe ficaram tão inconformadas que deci-

diram não delatar o funcionário para a companhia telefônica por medo do que poderia acontecer, já que ele possuía nome, telefone e endereço das duas. Desde então, elas só contratam mulheres para os serviços. “Após essa ocasião, comecei a procurar opções para os diversos serviços oferecidos só por homens. Encontrei o M’ana e na próxima oportunidade que tive, chamei as meninas. A experiência foi completamente diferente por eu me sentir completamente segura dentro da minha própria casa sabendo que não sofreria violência de gênero.” Caso a mulher se sinta desamparada, de acordo com a advogada Kethleen Bego de Oliveira, a melhor atitude a tomar é registrar Boletim de Ocorrência, mesmo quando a vítima não tem a intenção de seguir em frente com o caso. Isso porque, com um B.O. previamente realizado, será mais fácil tomar as providências como denunciar a empresa que forneceu o serviço ou pedir uma medida protetiva contra o assediador. No entanto, segundo a advogada, muitos desses casos não são levados a sério pela dificuldade da sociedade em aceitar o fato de que a mulher não quer ser alvo de assédio, principalmente dentro de sua

Programa da Unicamp orienta contra abuso Iniciativa promete auxiliar quem enfrenta problemas na hora de denunciar casos no SUS Letícia Baptista

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pesar de existirem diretrizes específicas a serem seguidas por médicos em casos de violência contra a mulher, as vítimas ainda não se sentem confortáveis para o atendimento em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). Definido em 2015, o protocolo geral integra o “Programa Mulher: Viver sem Violência” e apenas estabelece orientações para que os exames não precisem ser refeitos, além de oferecer elementos à responsabilização de autores de violência, como denúncias realizadas na Delegacia da Mulher. No entanto, a prática vivida por mulheres da região de Campinas (SP) mostra que as

regras de assistência não vem sendo seguidas. A auxiliar administrativa Angélica Marques conta que passou por diversas situações de constrangimento ao levar a amiga, que preferiu não ser identificada, ao SUS em frequentes casos de violência que sofria do ex-marido, no final de 2015. “Toda vez eu a levava no UPA e os médicos nem davam bola. Perguntavam se ela tinham provocado a briga, se ela tinha traído o esposo. Uma vez até perguntaram se ela tava saindo de sainha curta por aí. Davam remédio pra dor, faziam curativo como se ela tivesse se machucado sozinha. Cada dia era mais absurdo”, conta Angélica. Ela lembra de uma médica orientá-la a levar a amiga

ao plantão de atendimento psicológico, no entanto, não foi suficiente. “O psiquiatra fez perguntas básicas, deu remédio pra acalmar e pediu os dados do ex-marido dela, mas nem deu em nada”. A médica especialista em Medicina Legal e Perícias Médicas Fabianne Bonnet explica que a falta de preparo dos plantonistas dificulta e, geralmente agrava, a circustância em que a vítima se encontra. “Algumas mulheres, que já foram vitímas de violência anteriormente, preferem não procurar o atendimento médico por medo e vergonha, e acabam deixando as denúncias para trás”, diz. Segundo a médica, as boas práticas no atendimento são indispensáveis para um

processo bem sucedido. “A identificação de agressores e a sua consequente condenação ligadas à precisão do processo pericial médico-legal. Para atingir esse estágio, é preciso dispor de protocolos bem estruturados e investir em treinamento”, afirma. Busca pela melhoria Ainda que o bom atendimento esteja deficiente na maior partes das unidades de saúde, no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Caism, a busca por melhorias é constante. Responsável pelo Programa de Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual, a médica e professor Lúcia Helena Paiva explica que toda a equipe do hospital está preparada para

dar todo amparo necessário à vítima. “A equipe é formada por um médico, enfermeira, psicóloga e assistente social e treinada para da melhor forma possível. Todos os exames são realizados mediante entrevista com a vítima, que pode decidir denunciar ou não seu agressor. Nós encorajamos-na a denunciar, sempre”, explica. Lúcia ainda explica que todos os princípios para essa assistência são passados em sala de aula, porém não garante que seja seguido na prática. “Eu sei que meus alunos estão prontos, mas vemos muitos médicos despreparados por aí. É como toda área no mercado de trabalho, existem maus profissionais em todas elas.


Esporte

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Intercâmbio esportivo leva brasileiros aos EUA Com a grande demanda, empresas intermediam contato entre atletas e universidades Felipe Foltran

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programação dos canais de televisão, o investimento que está sendo feito no esporte e, principalmente, a contratação de grandes estrelas do futebol mundial para os clubes de futebol nos Estados Unidos têm feito com que a população se volte para a modalidade. Mas quem também está de olho nos gramados de lá são brasileiros que descobriram uma nova oportunidade de experiência no Exterior: o intercâmbio esportivo. A prática ganhou muita força entre os jovens que sonham em se tornar atletas profissionais, mas também é oportunidade para estudar em universidades dos EUA. Com a popularização da modalidade, as universidades, que têm grande importância esportiva no país, buscam a profissionalização de atletas e isso inclui brasileiros, mundialmente conhecidos por se-

rem bons de bola. Aproveitando essa oportunidade, algumas empresas se encarregaram de fazer esse meio de campo entre o atleta aqui do Brasil e a universidade estrangeira, como é o caso de Renato Barbosa, empresário, diretor da B.R.A Sports. “A idéia de criar a empresa surgiu mais pela demanda dos treinadores internacionais do que simplesmente por negócio. Eu tive a oportunidade de jogar lá e tinha muito treinador buscando atleta brasileiro, mas não havia atletas preparados no perfil de que eles precisam, uma combinação da parte acadêmica, parte atlética e, principalmente, a proficiência na língua”. Barbosa também explica como funciona a relação dos estudos com o futebol. “A própria estrutura e organização da instituição deixam o tempo necessário para estudar e jogar em alto nível. Os professores sabem que o atleta representa a instituição, por isso sempre irão ser

exigentes nesse quesito, mas todo o suporte acadêmico é entregue. Com isso, ele consegue combinar os estudos e o futebol”, conta. Roger Riqui, treinador nos EUA, explica que, quando o jogador brasileiro chega aos EUA, “o trabalho é todo individualizado, para que possa atingir e desenvolver seu potencial técnico, físico e tático”. A parte tática citada pelo treinador realmente é bastante diferente. Os jogadores têm funções muito mais táticas do que técnicas, fazendo com que o jogo fique mais estudado e, consequentemente, mais parado. Apesar disso, o estudante Igor Esteves, de 19 anos, que está há quase um ano nos EUA, diz que a adaptação aos novos métodos é natural. No entanto, a comida e o idioma são os principais adversários fora de campo. “Acredito que a grande mudança na minha adaptação aos Estados Unidos foi, principalmente, a comida. Aqui tem muito fast-

Foto: Felipe Foltran

Atletas treinam em campo de futebol da B.R.A.Sports em Jundiaí

food, até mesmo dentro do refeitório da universidade. O idioma também é uma complicação. Nas conversas do dia a dia, é tranquilo. O problema é quando temos que fazer uma prova, ou então, conversar com professores e diretores, pois a linguagem usada é diferente”, diz. O estudante, que está morando em Alexandria, localizada no estado da Louisiana,

conta haver um crescimento do público do chamado soccer nos EUA, já que, por lá, “futebol” nomeia outra modalidade. “Agora, nos principais programas esportivos, existe uma parte especial dedicado ao soccer. Torcidas estão sendo criadas e lotando os estádios, fazendo com que a paixão por um clube se torne realidade, como é no Brasil.”

Excesso de exercícios causa problemas cardíacos Segundo personal, exagero de prática pode enfraquecer o corpo e atrair infecções

Bruna Brognoni

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busca pelo corpo perfeito com resultados rápidos é uma constante em academias, mas profissionais advertem que o exagero das atividades e a falta de cuidado podem causar problemas físicos e cardiovasculares. O personal trainer Clovis Cavalo trabalha há mais de 10 anos em academias e, com frequência, vê alunos se lesionarem por causa de exercícios que sobrecarregam e colocam o corpo em posições inadequadas. “A postura incorreta desgasta as musculaturas e os ossos. Além disso, exercícios podem afetar ombros, joelhos, coluna e outras articulações”, afirma. Quando questionado sobre a moda do crossfit, programa de treinamento de alta intensidade e rendimento, Cavalo explica que esse tipo de exercício é conhecido por realmente dar um resultado muito rápido.

Além disso, o personal destaca que conhece pessoas que iniciaram o crossfit e não continuaram os exercícios por conta das dores musculares e das grandes lesões que sofreram em curto tempo. “Muitos esportistas sofreram lesões por excesso de carga na musculatura, tendão, desgaste articular e pode até romper um ligamento. Isso, futuramente, pode causar hérnia de disco, tendinite e bursite. Todas essas patologias são inflamações”, alerta. Para dar um outro lado dessa história, o proprietário do CrossFit Sousas, Rafael Pace, afirma que os danos que a prática de crossfit e exercícios em geral são equivalentes. “Fazer exercícios físicos em excesso, seja ele qual for, pode trazer danos à saúde, tanto fisicamente quanto mentalmente. O crossfit pode machucar? Lógico. Como podemos falar que o rendimento de cada um será o mesmo? Não

podemos afirmar que todos os praticantes estarão ilesos, mas não podemos dizer que a prática é um passo certeiro para isso”, contrapõe. O médico Marcelo Senna explica que para praticar esporte é necessário fazer uma avaliação física antes de iniciar as atividades, seja em academias ou no crossfit. “Todas as academias, devem exigir do aluno um exame médico para comprovar que ele está adapto a fazer atividade física” afirma. Além disso, Senna diz que pessoas que estão acima do peso devem ter um cuidado a mais dos profissionais. “Os alunos que estão com sobrepeso devem estar sempre acompanhados no momento da atividade física, pois as lesões são mais comuns em pessoas que estavam sedentárias e voltaram a treinar” Conta. Além disso, Senna conta que todos os praticantes de atividade fisica devem sempre pedir orientação do profissional se existir du-

vidas sobre os exercícios, e, caso sintam alguma dor no decorrer do treinamento, devem buscar um atendimento médico para fazer uma avaliação da gravidade do ocorrido. O personal trainer afirma que o exagero é o que se chama de síndrome do excesso de treinamento, que ocorre quando a pessoa treina sem parar para ter desempenho melhor. No entanto, não existe lógica direta entre intensidade e resultado. “O corpo passa a produzir hormônios de uma maneira errada. Além disso, o coração fica acelerado o tempo todo, mesmo em repouso”, afirma. As consequências começam a aparecer também no dia a dia e o paciente pode começar a ficar mais irritado, com insônia e até com a imunidade mais baixa. Com a defesa mais baixa, é mais fácil ter infecções. Outro problema é em relação ao sangue, que pode ficar mais grosso, o que

pode levar a um infarto do miocárdio ou a um derrame cerebral, por exemplo. Além disso, em casos extremos, há risco de arritmia e até parada cardíaca. A esportista Angélica Forner treina todos os dias em academia. No último mês, ela teve de fazer uma cirurgia de hérnia de disco que atingiu a medula espinhal, por ter feito exercícios em excesso pela busca do corpo perfeito. “Hoje em dia, eu recomendo a todos que tenham mais cautela ao treinar, os danos podem ser imensos a nossa saúde, física e mental”, afirma. Ainda se recuperando, Angélica alerta que o mais importante é sempre prestar atenção aos sinais que o corpo dá. “É fácil ignorar porque a gente sempre quer se superar, mas o corpo fica debilitado e não pode deixar a cabeça passar por cima disso”, aconselha. Ela diz que ainda tem dificuldade de entender que o corpo ainda está em recuperação.


Tecnologia

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Bolhas sociais: ativismo em ambientes digitais “O que as pessoas fazem na internet é o resultado do que elas são”, afirma professor Laura Pompeu

Foto: Laura Pompeu

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s protestos feitos com cartazes, panelaços e marchas de milhares de pessoas bloqueando ruas se tornam um lado da moeda ativista. Nas redes sociais digitais, os que demandam atenção por uma causa usam de todos os meios ao seu dispor, com hashtags, textos, filtros de foto, vídeos e imagens que, por sua vez, são compartilhadas e curtidas conforme atingem mais indivíduos com a mesma opinião. O recém-publicado livro Ativismo Digital e Imagem: Estratégias de engajamento e mobilização em rede (Editora Paco, 2016, R$ 35,00), é fruto da pesquisa de doutorado em Artes Visuais na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do professor Tarcísio Torres Silva, da PUC-Campinas. No livro, são analisadas as imagens que circularam pelas redes sociais digitais durante a Primavera Árabe, em 2010, e a Revolução Verde, em 2009. Em entrevista ao Saiba+, ele discute os conceitos trabalhados no livro, desde os movimentos ativistas nas redes, o uso de imagens e o impacto na “realidade”. Em poucas palavras, o que é ativismo digital e o que ele representa para nossa sociedade? Há uma discussão se devemos mesmo chamar de ciberativismo ou ativismo digital, justamente por demarcar um determinado ambiente em que esse ativismo acontece, como se ele fosse diferente do ativismo que acontece nas ruas ou na “realidade”. Então, a proposta de chamar de ativismo digital é justamente para demarcar, de fato, um ambiente, mas que não se

Movimentos como “Não são só R$0,20” e “Tchau, Querida” são ativismo digital? Sim, a gente tende a imaginar esse ativismo como uma coisa de esquerda, mas ele também aparece na direita. As vozes são as mais diversas. Temos vários estudos sobre as jornadas de junho de 2013, mostrando o poder das imagens, dos eventos e vídeos amadores. A partir desses vídeos, os ativistas conseguiram criar uma narrativa interessante ao ponto de levar as massas às ruas. A guerra Livro recém-publicado sobre ativismo digital analisa imagens que circularam nas redes política dos últimos tempos tões políticas. É mais algo a atenção, mais aquele ob- sendo alimentado nas redes no Brasil é uma guerra de que flerta, que combina, que jeto ou assunto vai ter des- sociais por coisas que a gen- memes, nesse sentido. agrega à questão do ativismo taque. Isso também de uma te já previamente acredita. As que sempre foi feito, a qual- maneira inversa começa a pessoas ficam à mercê do seu Como essa nova forma de quer questão ligada ao poder, chamar a atenção da mídia próprio gosto, porque elas es- uso das redes pode afetar o ao questionamento do poder. tradicional, que começa a colhem um determinado pa- uso pessoal? Como afeta a voz política do indivíduo? É importante entender que reportar isso. Mas o que a drão ideológico. não existe um mundo digi- gente percebe muito é que tal e um mundo real. Então, ainda há uma dificuldade o que as pessoas fazem na de transformar essa ativiinternet é o resultado do que dade virtual, fácil, em uma elas são. ação concreta. Isto é, que a pessoa consiga, para além Qual a importância do ati- daquele ambiente, reprodu- Uma pesquisa do Centro Acho que, para as pessoas vismo no meio digital hoje? zir, de fato, a ação em algu- Regional de Estudos para mais corajosas, que abermas questões. É preguiçoso o Desenvolvimento da In- tamente se colocam dessa Acho que o meio digital tem de uma certa maneira. Há formação (Cetic) indica que maneira, há uma confusão essa perspectiva de, supos- estudos que falam sobre 58% dos brasileiros estão entre o que é vida privada e tamente, ampliar o alcance a existência de bolhas so- conectados à Internet. Esse pública. Essa rede foi criada da causa. Mais gente fica ciais, pelas quais as pessoas número é alto ou baixo e o com o intuito de unir as pessabendo, fica conhecendo com determinados tipos de que significa para o ativismo soas independentemente das e difunde. Justamente por ideologias tendem a con- digital no Brasil? crenças. Se você vir um atiisso, a quantidade de causas versar só com pessoas que vista ou uma pessoa que tem e discussões sendo levanta- acreditam na mesma coi- Esse número é interessante, ideias muito claras, inevitadas aumentou. Isso é bom, sa. Isso ficou muito claro, mas, quando ele é colocado velmente, você estava lapinum certo aspecto, quando principalmente na eleição dessa maneira, ele inclui heavy dando essa rede. Isso possivocê tem uma difusão maior Dilma/Aécio. Estudos mos- users e usuários que vão numa bilita que as pessoas falem de vozes e, por outro lado, tram que pessoas que eram lan-house da prefeitura uma mais abertamente sobre coivocê torna a discussão mais a favor do Aécio só conver- vez por semana. Essa diversi- sas que até então elas guardifusa. É muita gente falando savam sobre isso e o oposto dade no Brasil é muito grande. davam para si. De uma certa sobre várias coisas. também. A mesma coisa na Há lugares que ainda não têm maneira, isso acaba criando situação do impeachment. energia elétrica, como você o efeito das bolhas também. O contra-argumento de ten- vai falar de inclusão? Acho Quando as pessoas entram tar convencer o outro sobre que tem uma coisa ótima: no Facebook, elas não esdeterminada coisa não fun- quanto mais pessoas incluí- tão muito a fim de entrar cionava. Então, as pessoas das no mundo digital, maiores em contato com um tipo de acabavam se atritando e se as possibilidades delas terem opinião específico que não Quando curtidas e compar- afastando do ponto de vis- pelo menos mais acesso a fer- tem muito a ver com a delas. tilhamentos começam a fa- ta digital. Acho que há um ramentas que vão empoderá- Talvez, a gente deveria ter zer a diferença? desafio aí, pensando nisso -las de certa maneira. Mas, via uma rede só para isso, mas como um ambiente de de- de regra, o que a gente ainda aí, se tivesse, ela não seria Eu acho que é no sentido bate, mas, via de regra, isso percebe é que a quantidade de tão interessante justamente de levantar a causa. Quanto não acontece. Até por uma usuários de grande quantidade nesse aspecto de confundir o mais essas causas chamarem questão de algoritmo de horas ainda estão concen- privado com o público.

“Não existe um mundo digital e um mundo real” restringe ao ambiente digital. Mas marca que ele acontece. Existem algumas particularidades nele que o diferem, ao mesmo tempo que o complementam, quando você está trabalhando com ques-

trados no Sul e Sudeste, parte de uma classe média alta. Isso ainda repercute no tipo de discurso, no tipo de ideologia, nos tipo de valores colocados no mundo digital.

“Há lugares sem energia elétrica, como você vai falar de inclusão?”


Comportamento

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Lei extingue exigência de curso para detetives Brasil conta com aproximadamente 150 mil profissionais,mas número pode aumentar Fernanda Perez

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om o veto presidencial do artigo 3° da lei que formaliza a profissão de detetive, sancionada no dia 11 de abril, o número de pessoas que trabalham a área de forma indevida tende a aumentar, segundo André Luís Silva, presidente do Conselho dos Detetives Particulares do Estado de São Paulo (Condesp), que existe há 17 anos e fiscaliza os detetives profissionais de Campinas e região. O artigo tornava obrigatório o diploma de nível médio e a capacitação por meio de curso profissional para o exercício da profissão de detetive particular. A Lei 13.432/2017, que reconhece detetives particulares ou profissionais como profissão, foi publicada com uma série de vetos no dia 12

de abril no Diário Oficial da União. A nova lei tem origem no Projeto de Lei da Câmara (PLC) 106/2014, aprovado no Senado em 15 de março deste ano. A partir dessa lei, é considerado detetive particular o profissional que, por conta própria ou na forma empresarial, colete dados e informações de natureza não criminal, para o esclarecimento de assuntos de interesse privado do cliente, utilizando de meios legais. O Brasil conta com aproximadamente 150 mil detetives particulares com certificado na carteira, de acordo com o Condesp. Só no estado de São Paulo, são 300 detetives, fora os que trabalham sem o registro. Em Campinas, 60 pessoas são cadastradas como detetives profissionais e esse conselho estima que

existam cerca de 40 indivíduos trabalhando na cidade sem o cadastro. “No ano passado, nós fizemos um levantamento das pessoas que trabalham sem comunicar o Conselho e informamos a administração municipal, mas nada foi feito até o momento”, afirma Silva. Em relação aos pré-requisitos para se tornar detetive particular, antes a pessoa precisava realizar um curso de detetive, que podia ser online ou presencial e obter o certificado e a carteirinha de detetive junto ao Condesp ou outro órgão associativo, dependendo da região onde o profissional atuava. Com a nova lei, o curso de formação profissional com carga horária de, no mínimo, 600 horas foi vetado, sob a justificativa de que a necessidade de

curso específico impediria a atuação de detetives sem a habilitação e também de profissionais de outras áreas que cumpram a função sem causar nenhum dano social. De acordo com Silva, no entanto, “o problema da execução da atividade de detetive ser aceita sem um curso específico faz com que qualquer pessoa entre para o ramo, principalmente agora em momento de crise. Enquanto um detetive cadastrado no Condesp e com a carteira de registro no município cobra de R$ 7 a R$ 10 mil para investigar casos conjugais, esse detetive sem o registro cobra R$ 2 ou R$ 3 mil do cliente. Muitas vezes, o cliente deposita o dinheiro e esse detetive clandestino some e não realiza o serviço. Aí a pessoa vem atrás do profissional regularizado pelo Condesp”. Com essa formalização da lei, os detetives particulares passam a ter como deveres do profissional preservar o sigilo de fontes

e respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem das pessoas. Eles podem também colaborar com investigação policial em curso, desde que estejam devidamente autorizados pelo cliente e com a liberação do delegado de polícia. Noedir Carlos de Oliveira, de 50 anos, trabalha como detetive há 30 anos e tem uma agência de investigações na cidade de Piracicaba. O interesse pela atividade surgiu em 1983, pois, naquela época, ele “tinha um vizinho que era detetive particular e a Globo passava muito sobre a profissão no Globo Repórter. Então, eu me apaixonei pela profissão e meu vizinho me chamou para ajudar nas investigações. No mesmo ano, eu comecei a fazer o curso de detetive por correspondência”. Os casos mais atendidos são de pessoas que desconfiam que estão sendo traídas pelos companheiros e empresas que estão com

processos trabalhistas milionários. Nesses casos, buscam provas contra o autor do processo. Pela lei, entre as proibições à atividade, estão a de aceitar serviço que contribua para a prática de crimes, divulgar os meios e os resultados da coleta de informações, exceto em defesa própria, participar diretamente de diligências policiais e ainda utilizar os dados coletados contra o cliente contratante. O detetive particular será acionado via contrato, que poderá ou não conter seguro de vida para o profissional. No entanto, para Silva, a não exigência de formação qualificada faz essas pessoas que escolheram ser detetives trabalharem sem nenhum conhecimento técnico e de legislação, sem saberem como atingir os objetivos, sem infringir a privacidade do outro. Ainda segundo ele, o problema é a falta de punição já que o artigo que abordava as sanções foi vetado. O projeto de lei previa o cancelamento do registro e processo criminal.


Cultura

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Mostra italiana reúne 30 mil pessoas Festival de cinema atingiu expectativa da organização e pode voltar em 2018

Cine Gourmet combinou gastronomia e exibição de filmes na Praça Carlos Gomes, em Campinas, no dia 09/04

Marilisy Mendonça

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1ª Mostra de Cinema Italiano de Campinas teve um público de aproximadamente 30 mil pessoas, realizado entre os dias 6 e 13 de abril, com a exibição de 15 filmes contemporâneos e três clássicos. Bibiana Sant’Anna de Marco, coordenadora de Comunicação da Prefeitura de Campinas, afirma que, considerando todos os eventos realizados, como o Chef Na Praça, Cine Gourmet – que associou gastronomia e exibição de filmes –, além de palestras acadêmicas e projeções em universidades, o número de pessoas presentes atingiu a estimativa da Prefeitura. Segundo Artur Araujo, diretor de Comunicação, o evento já possui contrato com previsão de retorno à cidade de Campinas no mês de abril de 2018 e no ano de 2019. A empresária Diana Negrini esteve no Cine Gourmet, evento que integrou exibição de filmes e gastronomia na Praça Carlos Gomes. Ela foi com os filhos de 3 e 9 anos, além de uma amiga. De acordo com ela, a experiência foi agradável, porém os pratos poderiam ter preços mais acessíveis. O custo variava entre R$ 5,00 e R$ 20,00. A costureira e estudante de Moda Iara Silva Rodrigues participou da exibição de dois filmes da mostra

na Esamc e conta que eventos do gênero são importantes para a cultura da cidade. “Acho absurdamente importante termos eventos como esses, para trazer visibilidade à cidade de Campinas, para aumentar o acesso à cultura para todo e qualquer público. São eventos acessíveis, que disseminam não só a nossa cultura como culturas internacionais, ampliando nosso conhecimento cultural e nos aproximando cada vez mais de outras partes do mundo.” Juliana Sangion é professora da disciplina Documentário na

Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e participou de dois debates da Mostra de Cinema Italiano, com a presença de ator e diretor de filmes. Ela ressalta a importância de eventos como esse para a cidade de Campinas: “A mostra trouxe diversos filmes que não passaram no Brasil. Então, é importante porque dá possibilidade para que as pessoas tomem contato com a cultura italiana, já que cinema é um reflexo da cultura de um povo, de como agem, pensam e vivem.”

Campineiros puderam assistir a filmes contemporâneos e clássicos durante mostra


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