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MEU ERRO FOI ME AMAR DEMAIS

por Larissa Leal e Rosiane Lopes

Oque acontece quando o amor que deveria ser o mais forte e incondicional de todos, é substituido por um amor que machuca? Mães narcisistas exercem uma relação parental conturbada e depreciativa – especialmente com suas filhas, pois veem nelas uma competição direta. “Eu nunca fui para o exterior, por que você tem que ir?” Foi o que Ana, filha de mãe narcisista, ouviu ao contar para mãe sobre sua primeira viagem para fora do país.

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Enquanto Ester* seguia os ditos de sua mãe, era uma boa filha. Quando decidiu enfrentá-la, o cenário mudou: “virei uma cobra traiçoeira”. Para chegar ao padrão que agradasse sua mãe, Ester viveu a base de dietas. “Me chamava de gorda e barriguda, mesmo eu sendo magra”.

Segundo a psicóloga Tais Nicoletti, mães narcisistas são controladoras e esperam que os filhos façam o que consideram certo. Enxergam-nos como uma extensão de si mesmas, uma falha da prole significa uma falha da mãe. Apesar de inalcançável, a busca pela aceitação da mãe pode durar anos e afetar a maneira como os filhos lidam com relações futuras.

Acreditar que o amor sempre terá uma configuração dolorosa e que ninguém vai conseguir amá-las de outro jeito é um sentimento constante de mulheres que convivem com essas mães. Ana, após ser forçada pela mãe a casar aos 16 anos, se casou novamente e sofreu agressões morais e físicas do marido. Após se separar, o reencontrou na casa da mãe, que tinha uma ótima relação com o ex-genro – mesmo sabendo de toda a situação.

O controle da mãe narcisista pode se mesclar na relação parental e se tornar tão sútil que, por vezes, o filho pode não perceber que sofre abusos disfarçados de cuidados e preocupação. Críticas, humilhação e comparação, manipulação e chantagem emocional se escondem sob a justificativa do amor materno.

As consequências de uma relação parental narcísica são profundas e o adoecimento psíquico é iminente. Marcados pela incapacidade de formar uma personalidade, se desvencilhar de uma mãe narcísica e de um amor que machuca pode ser um labirinto sem saída.

*O nome da fonte foi alterado para preservar sua identidade.

suportar. Se bem que esses limites são ilusórios: 10 vezes abaixo da real capacidade. Chama-se coeficiente de segurança.

Entramos no primeiro vagão. O funcionário aperta o cinto e trava uma barra de metal que perpassa meus ombros. Pesquisas influenciadas por uma preocupação excessiva já diziam que esta é uma norma dupla: caso o cinto falhe, há a trava, e vice-versa. Mas essa lógica sugere a possibilidade de falhas. O que aconteceria se ambas falhassem? Calo meu espiral de pensamentos ilógicos.

No mesmo instante em que o carrinho parte, a chuva começa a cair. Lembro do efeito da chuva nas estruturas de metal. Será que a manutenção está em dia? Minha mente é interrompida: começamos a subir. Crec. Atrás de mim, um homem diz que sua trava está solta. O percurso continuou. Fechei meus olhos, todo o resto foi obscuro.

Felizmente, nada fatal aconteceu. Quando saio do carrinho, minhas pernas ainda tremem. Ao fim, o cinto cumpriu sua promessa. Mas a possibilidade de que ele poderia falhar ainda me atormenta. Não acho que terei coragem numa próxima vez.

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