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Alessandro Borsagli

Dossiê

A METRÓPOLE EM PRETO E BRANCO: análise das mudanças na paisagem urbana de Belo Horizonte com base no acervo ASCOM (1947-1967)

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The metropolis in black and white: analysis of the urban landscape of Belo Horizonte based on ASCOM collection (1947-1967)

Alessandro Borsagli*1

RESUMO: O artigo analisa, a partir do acervo de imagens da Assessoria de Comunicação Social do Município (ASCOM), as transformações ocorridas na paisagem urbana da cidade de Belo Horizonte entre os anos de 1947 e 1967, período que corresponde ao processo de metropolização da capital de Minas Gerais. Nesse sentido, a partir das análises realizadas nas imagens do acervo que se encontra sob a guarda do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, torna-se possível dividir os registros fotográficos das administrações municipais em dois períodos, um de cunho técnico e outro de cunho populista. As imagens apresentam não só grande valor para a compreensão das mudanças ocorridas na capital mineira durante o processo de metropolização, mas também um valor de representação visual das administrações municipais do período analisado.

Palavras chave: Belo Horizonte. ASCOM. Iconografia. Paisagem urbana.

ABSTRACT: This article approaches the transformations occurred at Belo Horizonte urban landscape among 1947 to 1967 based on Assessoria de Comunicação Social do Município (ASCOM) collection. This period is associated to Minas Gerais capital metropolization. In this sense, the analyses of images presented in the ASCOM collection allowed to divide the records of municipal administration in two period, technical and populist. The images represent are a great value for the comprehension of changing occurred in the capital during the metropolization process, in addition, also represented a great value to visual representation of municipal administration in the analyzed period.

Keywords: Belo Horizonte. ASCOM. Iconography. Urban landscape.

Introdução

A cidade de Belo Horizonte, ao longo dos 124 anos de existência passou por rápidas e profundas transformações de ordem urbana e ambiental, entre outras transformações que modificaram de maneira notável a paisagem urbana da capital de Minas Gerais. Nesse contexto, onde a paisagem é modificada e adaptada de acordo com

*Mestre em Geografia pela PUC Minas, autor do site Curral del Rey e de diversos livros sobre a Geografia Histórica de Belo Horizonte. E-mail: borsagli@gmail.com

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os interesses e necessidades de diversos segmentos da sociedade, a fotografia exerce um papel de grande importância para o conhecimento e análise das paleopaisagens. No caso de Belo Horizonte, cidade pensada, planejada e parcialmente construída entre os anos de 1894 e 1897, as mudanças ocorridas na paisagem se deram em um curto intervalo de tempo, onde as transformações urbanas e paisagísticas mais notáveis aconteceram em períodos distintos ligados entre si, deixando fragmentos na paisagem e na memória da população, que nos últimos anos tem se interessado cada vez mais por fotografias que ajudam a compreender a dinâmica da evolução urbana da capital. Nesse sentido, o acervo da Assessoria de Comunicação Social do Município (ASCOM), atualmente sob a guarda do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte (APCBH), possui grande importância entre os acervos iconográficos que preservam os elementos urbanos existentes, modificados ou demolidos e que em algum momento foi o presente do que hoje é o passado. Portanto, o objetivo deste artigo é analisar, a partir das imagens do acervo da Assessoria de Comunicação Social do Município de Belo Horizonte, as transformações ocorridas na paisagem urbana da cidade de Belo Horizonte entre os anos de 1947 e 1967, que atestam a notável transformação urbana pela qual passou Belo Horizonte, em um período que se caracteriza pelo processo de metropolização da capital mineira e por consequência, pelas profundas modificações em sua paisagem urbana. Nesse contexto, é importante observar que entre os anos de 1950 e 1964, Belo Horizonte apresentou um aumento populacional de cerca de 270%, passando de 352.724 habitantes no ano de 1950 para cerca de um milhão de habitantes no ano de 1966, resultado do processo de metropolização da capital, iniciado por volta de 1950 e desencadeado, entre outros fatores de cunho social, político e econômico, pela consolidação da Cidade Industrial, criada por decreto no ano de 1941 e o aumento da exploração do minério de ferro no Quadrilátero Ferrífero (BELO HORIZONTE, 1979, p.256), onde Belo Horizonte se encontrava em posição geográfica favorável para o estabelecimento de siderúrgicas, indústrias e demais serviços que proporcionaram o acentuado crescimento a partir da primeira metade da década de 1950. A linguagem visual, no caso aqui abordado a fotografia, proporciona a leitura da paisagem em um determinado tempo e espaço (SILVA et al, 2017, p.2), possibilitando, no âmbito urbano, compreender como se deu a transformação da paisagem, sendo

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considerada por parte do meio técnico científico como imagem da realidade (GOLTARA; MENDONÇA, 2015, p.120). Os acervos iconográficos que registram as transformações ocorridas na paisagem de Belo Horizonte podem ser considerados reminiscências de um período de importantes transformações urbanas, políticas, econômicas e sociais, dentro do qual as fotografias exercem um papel muito mais complexo do que apenas o papel associado à contemplação, tornando-se um importante objeto de análise histórica e atestando a mudança paisagística ocorrida na capital, além de atestar, por meio da imagem, as transformações ocorridas ao longo das décadas a partir da constante remodelação do espaço.

Fotografia, paisagem e Belo Horizonte nas primeiras décadas

A fotografia surgiu no século XIX, em um momento em que o ocidente passava por profundas transformações científicas, econômicas, sociais e culturais, e rapidamente tornou-se um símbolo da expressão da realidade que deveria ser perpetuada. No caso do Brasil, a fotografia chegou por volta de 1840 no Rio de Janeiro e em poucas décadas já havia se disseminado pelas principais cidades brasileiras possuindo uma função geralmente funcional, se resumindo a uma forma de produção de retrato ou registro documental (MENDES, 2003, p.185). Para John Tagg, a fotografia não é uma ideia, e sim itens materiais “que são produzidos por um modo de produção elaborado, e distribuídas, circuladas e consumidas dentro de um certo conjunto de relações sociais” (TAGG, 1993, p.188). Para o autor, as imagens são significadas e entendidas dentro de inúmeras relações de sua produção, ao mesmo tempo em que elas são plenas de ambiguidades, portadoras de significados não explícitos e de omissões pensadas, calculadas, como observado por Kossoy (2002). Visto a sua natureza físico-química e, atualmente, eletrônica/digital, a fotografia ganhou ao longo do tempo um notável status de credibilidade. Para Kossoy (2002) a imagem fotográfica depende de três componentes que possibilitem sua existência no mundo: o assunto, que é o objeto do registro; a tecnologia, que viabiliza tecnicamente o registro; o fotógrafo, o autor, quem a idealiza por meio de processos cultural, estético e técnico.

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Nesse contexto, torna-se necessário ainda observar que, com o advento de novas técnicas, a fotografia a partir da década de 1860 tornou-se cada vez mais popular no ocidente, cujo interesse atendia não só as camadas menos abastadas da sociedade, mas também os interesses governamentais, que utilizava a fotografia como propaganda e registro documental (FATH, 2020). Para Mauad (2005):

A fotografia deve ser considerada como produto cultural, fruto de trabalho social de produção sígnica. Nesse sentido, toda a produção da mensagem fotográfica está associada aos meios técnicos de produção cultural. Dentro dessa perspectiva, a fotografia pode, por um lado, contribuir para a veiculação de novos comportamentos e representações da classe que possui o controle de tais meios, e, por outro, atuar como eficiente meio de controle social por meio da educação do olhar (MAUAD, 2005, p.144).

Partindo da ideia de que a fotografia é um produto cultural de grande importância artística, documental e comprobatória, ressaltando que ela não é apenas uma forma de representação da realidade, e sim uma das formas de ver, perceber e apreender a paisagem, ela pode ser considerada um capítulo à parte na história de Belo Horizonte, cidade imaginada, planejada e construída sobre o sítio que anteriormente era ocupado pelo arraial do Curral del Rey, destruído para a construção da nova capital de Minas Gerais (BORSAGLI, 2016a, p.19). A nova capital de Minas Gerais surgiu em um momento onde a fotografia passava por transformações que permitiriam anos mais tarde a sua popularização, possibilitando ainda o estabelecimento de novas atribuições à imagem fotográfica. De início, a fotografia foi utilizada pela Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) como um instrumento que atestava a transformação do real, da paisagem que desapareceria com o avanço das obras de construção da Cidade de Minas2 (BARTOLOMEU, 2003, p.39), e a criação de um gabinete fotográfico tinha não só finalidades documentais, mas também de propaganda, uma vez que a ideia de construção de uma cidade racional e geométrica, onde o espaço deveria ser hierarquizado e a natureza controlada, era até então inédito no Brasil.

2 Primeira denominação da nova capital. No ano de 1901 passou a se chamar Belo Horizonte, denominação herdada do antigo arraial do Curral del Rey, que teve o seu nome alterado no ano de 1890 para arraial de Belo Horizonte.

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Nos primeiros anos que se sucederam à inauguração da capital, ocorrida no ano de 1897, a fotografia com finalidades de registro documental continuou a ser feita de maneira regular à quantidade de equipamentos fotográficos que existiam na cidade. Destacam-se os fotógrafos Francisco Soucasseaux e Raimundo Alves Pinto, autores de dois álbuns fotográficos compostos de inúmeras fotografias de uma cidade moderna, que rompia com os becos tortuosos das antigas cidades surgidas no período colonial e exemplo a ser seguido pelos principais centros urbanos do Brasil republicano. Nesse mesmo período, as fotografias passaram também a ilustrar inúmeros cartões postais que levavam para fora do estado e mesmo do país as imagens e perspectivas de uma moderna cidade dos trópicos. Tal projeto político dotado de um plano urbanístico apresentava, nas dezenas de postais veiculados a partir das primeiras décadas do século XX, suntuosos edifícios em meio a grandes espaços vazios e paisagens pitorescas com fortes traços rurais, em grande parte conectadas ao ecletismo dos edifícios e à geometria das vias (BORSAGLI, 2016a, p.79). A partir da década de 1920, uma parte considerável das fotografias feitas pelo poder público possuía como principal característica o registro das obras de urbanização e saneamento realizadas em Belo Horizonte (Figura 1). É uma década que pode ser dividida em duas partes: na primeira metade da década, as fotografias apresentam, em geral, os elementos naturais como entraves à expansão do traçado ortogonal, com imóveis residenciais coexistindo com pastos, matas e cursos d’água em leito natural, responsáveis pela interrupção das vias planejadas. As imagens, como as imagens realizadas pela administração estadual de Mello Viana (1924-1926) serviriam como prova visual para a execução das obras que foram realizadas na segunda metade da década, visto a necessidade de se controlar o meio em prol de uma cidade salubre, higiênica e organizada.

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Figura 1 - Obras de canalização do Ribeirão Arrudas

Legenda: Perspectiva das obras de canalização do Ribeirão Arrudas no ano de 1925 publicada na Revista Fon Fon a partir de uma matéria patrocinada pelo governo estadual. Fonte: Acervo Biblioteca Nacional, 1925.

Nesse contexto, observa-se que a partir do ano de 1926, as imagens das obras realizadas pelas administrações municipais passaram a ilustrar boa parte dos relatórios anuais apresentados ao Conselho Deliberativo do Município de Belo Horizonte, e após o ano de 1936, à Câmara Municipal. Os primeiros relatórios ilustrados foram elaborados na gestão de Christiano Machado (1926-1929) e contemplavam basicamente as obras de canalização, saneamento e pavimentação de vias (BORSAGLI, 2016a, p.123). Muitas das fotografias, organizadas em álbuns fotográficos denominados Calçamento de Ruas de Belo Horizonte, Obras de Canalização e Saneamento Básico de Belo Horizonte, Aspectos da Cidade de Belo Horizonte, Conjunto de Obras Públicas e Obras Públicas da Prefeitura de Belo Horizonte durante a gestão de Christiano Machado, foram enviadas para diversos estados para fins de propaganda, uma vez que o presidente do Estado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, dentro do acordo político entre São Paulo e Minas Gerais, que elegeu grande parte dos presidentes do período da

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República Velha (1894-1930), tinha pretensões de ser o próximo candidato à presidência da república, nas eleições de 1930. Nesse período, a fotografia em Belo Horizonte já havia se popularizado e os registros fotográficos passaram a ser mais regulares e abrangentes, a partir desse momento também praticado como hobby onde, além dos profissionais já habituados a registrar de maneira documental e artística diversos aspectos da capital, outros fotógrafos como Wilson Baptista e Augusto Guerra Coutinho passaram a registrar cenas do cotidiano de uma cidade que crescia para todos os lados e para cima (BORSAGLI, 2016, p.105). Através da lente dos fotógrafos, a transformação da paisagem urbana de Belo Horizonte a partir da década de 1930 foi sistematicamente registrada, e sob essa perspectiva, pouco estudada. Nesse contexto, é importante observar que a partir da associação homem natureza em um determinado tempo/espaço, e a ação coletiva com a finalidade de adaptar e modificar o meio a partir das necessidades específicas de cada grupo social, na busca de uma melhor adaptação ao sítio habitado, a paisagem urbana passa a existir, tornando-se objeto de análise e de reflexão com o intuito de se compreender as formas e as relações entre o meio e o ambiente construído, onde a fotografia, analisada de maneira criteriosa e ciente das motivações e interesses que envolveram a sua concepção, pode exercer um papel crucial no processo de reconstrução geográfico-histórico.

As imagens do acervo APCBH/ASCOM e a sua importância para a análise e compreensão das mudanças ocorridas em Belo Horizonte (1947-1967)

De acordo com Miranda (2015), a Assessoria de Comunicação Social do Município de Belo Horizonte (ASCOM) foi criada no ano de 1992, após as alterações ocorridas nos órgãos responsáveis pela comunicação social da administração municipal e secretarias.

No ano seguinte, o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte recebeu uma grande quantidade de documentos da ASCOM, onde se destacam as imagens produzidas

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ao longo das administrações municipais das últimas oito décadas, distribuídas de maneira regular para os meios de comunicação da capital para fins de divulgação3 . Possivelmente, os registros feitos pela divisão de comunicação social do município se iniciaram no período do Estado Novo (1937-1945), quando foi criada a Agência Nacional - órgão responsável pela divulgação dos atos realizados pela administração federal de Getúlio Vargas (1930-1945) - que produziu imagens durante os atos do então ditador4. As primeiras imagens do acervo da ASCOM possuem certa similaridade com as imagens produzidas pela Agência, como visitas às obras de infraestrutura urbana e eventos específicos, como inaugurações e cerimônias oficiais. Belo Horizonte era então administrada por Juscelino Kubitscheck de Oliveira (1940-1945), prefeito nomeado pelo interventor estadual Benedito Valadares (19331945), por sua vez, nomeado por Getúlio Vargas no ano de 1933. Ou seja, a criação de uma divisão responsável pelo registro e divulgação dos atos municipais nesse período está em conformidade com os planos federais de difusão e registro dos atos e realizações federais, fato também observado por Miranda (2015) ao se referir ao surgimento de um órgão responsável pela comunicação social do município. É importante observar também que as novas formas de gestão municipal consolidadas após 1930, possivelmente iniciadas na segunda metade da década de 1920, também contribuíram para a criação da divisão municipal de comunicação social em Belo Horizonte. As primeiras imagens identificáveis da ASCOM remetem ao ano de 1947, período em que Belo Horizonte, pela primeira vez em sua história, realizou eleições para a escolha do prefeito, até então nomeado pelo governo estadual. Nesse contexto, o período se caracteriza ainda pela realização das eleições gerais no Brasil após a queda de Getúlio Vargas, ocorrida entre os anos de 1945 e 1947, onde em uma das primeiras imagens do acervo da ASCOM (Figura 2) é possível observar as faixas de cunho político instaladas no vale do ribeirão Arrudas próximo à Estação Rodoviária e o Abrigo de Motoristas São Cristóvão.

3 Muitas das imagens produzidas pelas administrações municipais do período analisado ainda se encontram nos acervos fotográficos da imprensa escrita de Belo Horizonte, sem identificação de sua origem. 4 Existem muitas imagens das visitas realizadas por Getúlio Vargas e por diversos presidentes da república a Belo Horizonte nos arquivos da Agência Nacional, onde a similaridade com o acervo iconográfico da ASCOM é notável.

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A imagem apresenta ainda o cotidiano de uma das regiões mais movimentadas de Belo Horizonte, tendo em primeiro plano a ponte da Rua Berilo, construída pela administração de Juscelino Kubitscheck com a finalidade de melhorar a mobilidade urbana de um trecho que já apresentava no período congestionamentos frequentes durante os horários de pico e nas passagens das composições ferroviárias (BORSAGLI, 2017b, p.281).

Figura 2 – Ponte da Rua Berilo, no bairro Lagoinha de Belo Horizonte.

Legenda: Perspectiva da ponte da Rua Berilo, demolida no ano de 1981na Lagoinha, 1947. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

A segunda metade da década de 1940 se destaca por ser um período onde as transformações na paisagem urbana dos principais centros urbanos do Brasil ocorriam de forma abrupta e veloz, decorrentes do processo iniciado na Era Vargas, onde o incentivo econômico e os investimentos realizados pelo governo federal para a criação de zonas industriais levaram a profundas mudanças de ordem viária e urbana, da qual Belo Horizonte pode ser considerada uma das protagonistas da reorganização urbana iniciada na primeira metade da década de 1930.

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Dentre as mudanças ocorridas nesse período, a modernização/verticalização da área central, a abertura/ampliação de vias, o estabelecimento de uma zona industrial no vale do ribeirão Arrudas no ano de 1936 e a contínua valorização das áreas mais afastadas do centro se encontram em conformidade com as políticas de remodelação urbana disseminadas pelo governo Vargas (BORSAGLI, 2015, p.27). Nesse contexto, as imagens produzidas na segunda administração de Octacílio Negrão de Lima (1947-1951) apresentam em geral as obras e benfeitorias realizadas ao longo da gestão do prefeito, dentre as quais se destacam as obras de construção das barragens de detenção do Leitão e do Acaba Mundo e o alargamento deste último no bairro Funcionários (Figuras 3 e 4). As imagens contemplam ainda as obras de instalação da drenagem pluvial na Cidade Jardim e diversas imagens panorâmicas feitas de pontos específicos da região central, perspectiva que se tornou recorrente nas administrações seguintes, em um momento em que a cidade se encontrava em um embrionário processo de metropolização que se consolidaria na gestão seguinte, de Américo Renné Giannetti (1951-1954). É importante ressaltar que a partir da administração de Negrão de Lima, as imagens não contemplam apenas as ações de infraestrutura urbana promovidas pelas administrações municipais, passando a abranger também os eventos, solenidades e o próprio cotidiano do prefeito e demais servidores do município que se encontravam no exercício de suas funções, possivelmente em consonância com o período político de cunho populista que emergiu a nível nacional após a renúncia de Getúlio Vargas em outubro de 1945.

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Figuras 3 e 4 – Obras no Córrego Acaba Mundo.

Legenda: Aspectos das obras de alargamento do canal do córrego do Acaba Mundo e construção da barragem de detenção nas cabeceiras do mesmo curso d’água, 1949. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

A gestão Giannetti possui, entre outras medidas de relevância para o estudo da história do processo de evolução urbana de Belo Horizonte, a criação de um Plano Diretor, a elaboração de um plano rodoviário municipal e a reforma do Parque Municipal (Figuras 5 e 6), realizações que visavam preparar a capital para a inevitável metropolização que, de acordo com a administração municipal do período (BELO HORIZONTE, 1954, p.75), figura como um dos motivos para a elaboração do plano e de obras que visavam resolver o “enclausuramento” da cidade nos horários de pico (BORSAGLI, 2016a, p.246). A ideia defendida pela gestão, de uma continuidade do planejamento estabelecido pela Comissão Construtora da Nova Capital (BELO HORIZONTE, 1952, p.22), também evocado por administrações anteriores demonstra que, mesmo preso a ideais de cunho político-tradicionalistas de ordem urbanística, existia uma preocupação da administração municipal para uma ação planejada, onde as obras que seriam executadas obedeceriam um plano racional, revelando não só a realidade físico-espacial, mas também as condições socioeconômicas da capital, onde o estabelecimento de um plano e de uma metodologia de trabalho eram imprescindíveis para o crescimento ordenado e equilibrado da capital, o que de fato acabou não ocorrendo.

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Figuras 5 e 6 – Obras em Belo Horizonte.

Legenda: À esquerda: obras de canalização do córrego do Acaba Mundo no Parque Municipal, 1954. À direita: trecho recuperado da Estrada dos Borges, bairro Santa Inês no ano de 1954. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

Nesse contexto onde a metropolização já era uma questão concreta e que demandava soluções urgentes, a gestão do prefeito Celso Mello de Azevedo (1955-1959) se destaca pelos primeiros registros fotográficos oficiais dos inúmeros bairros populares que já existiam em Belo Horizonte, em consonância com a criação do Departamento de Bairros Populares (DBP), ocorrida no primeiro ano da administração, assim como a busca pelo estabelecimento de um planejamento que tinha como finalidade compreender a estrutura urbana da capital (BORSAGLI, 2016a, p.252). Os assentamentos informais já existiam em Belo Horizonte desde a sua fundação, no entanto, até o presente momento se conhece poucos registros visuais das primeiras favelas que inicialmente se assentaram dentro dos limites da Avenida do Contorno, ao mesmo tempo em que inexiste qualquer registro cartográfico ou menção de destaque nos relatórios oficiais. À medida em que eram urbanizadas as terras compreendidas dentro da Avenida do Contorno, as favelas foram sendo extintas e os seus moradores expulsos ou realocados em locais fora da zona urbana planejada (Figuras 7 e 8), sobre as quais Roger Teulières (1956), um dos poucos pesquisadores a abordar a questão no período 1897-1955, realizou um estudo geohistórico descritivo a respeito da formação das favelas da capital mineira. Dentro desse contexto, os registros fotográficos passaram a mostrar não só as favelas, mas também a população de rua que crescia a cada ano, em Belo Horizonte, devido ao

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acentuado fluxo, em grande parte causado pelo êxodo rural, que levava a migração de grandes contingentes populacionais para os centros urbanos.

Figuras 7 e 8 – Migração em Belo Horizonte.

Legenda: À esquerda: cartaz instalado na Vila São Vicente em apoio ao trabalho realizado pelo DBP. À direita: moradores de rua, possivelmente retirantes, sob o Viaduto de Santa Tereza, 1955. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

Dentro dos estudos sobre o processo de evolução urbana de Belo Horizonte, a gestão de Mello de Azevedo ainda se destaca pela criação de espaços de lazer infantil em algumas das principais vias e praças da capital e a busca pela solução hídrica da capital (Figuras 9 e 10), que nesse período já apresentava uma crescente disparidade entre a disponibilidade e o consumo (BORSAGLI, 2016b, p.146). Os estudos dos locais onde seriam assentados os tubos de aço que levariam as águas para a capital foram registrados pela divisão responsável pela comunicação social do município, assim como as demais obras realizadas pela gestão que havia compreendido que a metropolização era iminente, assim como os problemas decorrentes da disparidade cada vez mais crescente entre o crescimento populacional e urbano e as obras de infraestrutura necessárias para o pleno funcionamento da cidade. Importante ressaltar que uma parte considerável das fotografias produzidas pela gestão se encontram em consonância com as informações contidas nos relatórios elaborados ao longo da gestão, encerrada em 31 de janeiro de 1959.

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Figuras 9 e 10 – Espaços de lazer e obras em Belo Horizonte.

Legenda: À esquerda: um dos “recantos” construídos para o lazer infantil na Avenida Brasil, 1956. À direita: prefeito e técnicos analisam o local para a construção da adutora do Rio das Velhas, [1956?]. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

A gestão do prefeito Amintas de Barros (1959-1963) foi marcada pelo populismo e pelo emprego da palavra metrópole pela primeira vez em seus relatórios, em um momento onde a capital começava a sofrer as consequências causadas pela disparidade entre o acentuado crescimento urbano e a infraestrutura necessária para dar suporte ao crescimento. De acordo com Borsagli (2016a), Belo Horizonte era o retrato do caos gerado pelo processo de metropolização para o qual as administrações municipais não haviam se preparado. A paisagem urbana se encontrava em transformação com a construção de grandes edifícios de uso misto, ao mesmo tempo em que as principais vias fora da Avenida do Contorno eram asfaltadas, obras regularmente visitadas pelo prefeito, que fazia questão de aparecer em eventos oficiais com parentes, e de posar como um operário, um líder que buscava estreitar a sua relação com as massas a partir de imagens minuciosamente preparadas e distribuídas para os meios de comunicação do período (Figuras 11 e 12). Nesse sentido, não só a administração de Amintas de Barros, mas também a de Jorge Carone Filho podem ser consideradas como a materialização de um estágio político que ocorreu no Brasil entre os anos de 1946 e 1964, quando a sociedade, de um modo geral, se tornava cada vez mais urbana, e consequentemente mais suscetível aos conflitos gerados por esse processo.

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A administração de Amintas de Barros possui ainda como característica a notável quantidade de registros dos eventos, visitas e demais acontecimentos ocorridos durante sua administração, fato que acabou por se tornar comum nas gestões seguintes.

Figuras 11 e 12 – O Prefeito de Belo Horizonte, Jorge Carone Filho.

Legenda: À esquerda: o prefeito com uma ferramenta durante o asfaltamento de vias no bairro Padre Eustáquio. À direita: o prefeito durante a visita do vice-presidente João Goulart em julho de 1960. À direita de João Goulart o candidato ao governo do estado Tancredo Neves. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

A administração de Jorge Carone Filho (1963-1965) foi responsável por profundas transformações na paisagem urbana de Belo Horizonte a partir da adoção de uma postura agressiva frente aos problemas agravados pela metropolização, onde a mobilidade tem destaque em meio ao pacote de obras lançado pelo prefeito no primeiro ano de gestão. Aliado político de João Goulart, Carone conseguiu um financiamento federal para a realização de obras que visavam a melhoria da mobilidade, como a cobertura do córrego do Acaba Mundo, na Rua Professor Morais, a retirada dos trilhos da Rede Mineira de Viação na Praça Vaz de Melo e Avenida Nossa Senhora de Fátima, o asfaltamento e alargamento de vias, como as obras de ligação da Avenida dos Andradas, responsável pelo estreitamento da Praça Rui Barbosa, até então conectada ao canal do ribeirão Arrudas (Figura 13), e o corte dos Fícus na Avenida Afonso Pena e Bias Fortes sob justificativa de melhoria do tráfego na área central de Belo Horizonte.

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A administração foi ainda responsável pela consolidação da Ferrobel, criada em outubro de 1961 pelo seu antecessor com a finalidade de promover a industrialização do município a partir dos recursos financeiros alcançados pela exploração mineral responsável nos anos seguintes pela mudança no perfil da Serra do Curral. A cobertura do Acaba Mundo e a supressão das árvores na área central da capital, iniciada pela administração Carone inaugurou uma nova estética urbana, onde os elementos naturais, antes integrados e controlados pelo racionalismo geométrico da cidade, passaram a ser erradicados da paisagem urbana como observou Borsagli (2016), que considera que a breve gestão do prefeito, cassado em janeiro de 1965 pela ditadura militar instaurada no Brasil nove meses antes, foi a responsável pela adoção de um modelo urbano que seria seguido pelas gestões municipais seguintes.

Figuras 13 – Obras em Belo Horizonte.

Legenda: (A) Obras de aprofundamento do leito do córrego do Acaba Mundo para a sua posterior cobertura. (B) Obras de ligação viária entre as Avenidas do Contorno e Andradas na Praça Rui Barbosa, 1963. (C) Obras de retirada dos trilhos em trecho próximo à Praça Vaz de Melo, 1963. (D) O prefeito Jorge Carone Filho em palestra a respeito dos resultados obtidos da exploração mineral pela Ferrobel. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

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O sucessor de Jorge Carone Filho na administração da capital mineira foi Oswaldo Pieruccetti, indicado pelos militares após a cassação do prefeito e de seu vice. O novo prefeito, em seus dois anos de administração, foi responsável pela continuidade e intensificação das obras na capital, onde se destaca o programa de reforma urbana intitulado Nova BH 66, nascido de uma parceria entre a Prefeitura e a Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. O programa foi criado com o objetivo de realizar a melhoria na infraestrutura urbana de Belo Horizonte, que apresentava sinais de colapso desde a década de 1950. Com uma população de um milhão de habitantes, a capital apresentava problemas de toda ordem, desde córregos poluídos e esgotos transbordando na região central, até a questão da mobilidade e da segurança, com a população passando a construir muros e grades para se abrigar da crescente violência urbana que se agravou ao longo da década de 1960. Dentro dos objetivos propostos, as bases do projeto eram promover a canalização, cobertura e alargamento dos cursos d’água de Belo Horizonte e o asfaltamento dos logradouros, estreitamento das calçadas, abertura de novas vias e a regularização do abastecimento de água (Figura 14).

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Figura 14 – Obras em Belo Horizonte

Legenda: (A) Obras de asfaltamento da Avenida Afonso Pena no ano de 1965, ao fundo o prefeito Oswaldo Pieruccetti e o governador Magalhães Pinto. (B) O prefeito, operários e citadinos observam um curso d’água canalizado, 1966. (C) Obras de alargamento das alamedas da Praça da Liberdade no primeiro ano da gestão de Sousa Lima, 1967. (D) Asfaltamento de um trecho da Avenida João Pinheiro após a retirada das árvores da via, 1967. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

A breve administração de Pieruccetti foi responsável pela consolidação de um modelo urbanístico centrado no automóvel, um processo iniciado na década de 1930 e amplamente registrado pela divisão de comunicação social de Belo Horizonte nas gestões municipais após o ano de 1947. A paisagem urbana da porção do município compreendida dentro do perímetro delimitado pela Comissão Construtora da Nova Capital no ano de 1895, em pouco mais de duas décadas foi modificada de maneira profunda a partir da verticalização, impermeabilização do solo e supressão e ocultamento dos elementos naturais em meio urbano, e a partir da gestão de Luiz Gonzaga de Sousa Lima as obras de infraestrutura urbana, tendo o automóvel como elemento conformador do espaço urbano, passaram a ser empregadas não dentro do perímetro, mas também em todo o município.

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Nesse sentido, a análise das imagens do período permite reconhecer não só os processos acima observados, mas também os traços e marcas na paisagem o que permite uma reconstituição do passado (Figuras 15 e 16).

Figuras 15 e 16 - Perspectiva norte da parte da área central de Belo Horizonte nos anos de 1947 e 1965 tendo o edifício Acaiaca (à esquerda em construção e à direita concluído) como principal referência.

Legenda: As imagens, apesar da perspectiva aproximada, são importantes para a compreensão das alterações ocorridas na paisagem urbana da área central de Belo Horizonte entre os anos de 1947 e 1967. Fonte: Acervo APCBH/ASCOM

Considerações Finais

O artigo buscou analisar as mudanças ocorridas na paisagem urbana de Belo Horizonte entre os anos de 1947 e 1967 a partir das fotografias selecionadas que integram o acervo da ASCOM, uma vez que o acervo possui grande importância para a história da evolução urbana de Belo Horizonte, em um período caracterizado pelo processo de metropolização da capital mineira e por consequência, as profundas modificações em sua paisagem urbana. O conjunto de imagens produzidas no período analisado pode ser dividida em dois momentos: no primeiro momento, entre os anos de 1947 e 1960, é clara a priorização para fins de registro/propaganda, das obras de infraestrutura urbana e de saneamento realizadas pelas gestões de Octacílio Negrão de Lima, Américo Renê Giannetti e Celso Mello de Azevedo. Os registros de eventos, cerimônias e demais compromissos oficiais até agora identificados também aparecem nos conjuntos fotográficos das referidas administrações, porém em menor quantidade se comparado com os registros de obras.

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O segundo momento engloba as administrações de Amintas de Barros, Jorge Carone e Oswaldo Pieruccetti, onde os registros dos compromissos oficiais estão na mesma quantidade em relação ao número de registros das obras de infraestrutura urbana e de saneamento. É importante ressaltar que, tanto Barros quanto Carone, realizaram gestões de forte apelo populista, ao mesmo tempo em que a primeira gestão de Pieruccetti representava, em parte, a antítese das administrações anteriores, ao mesmo tempo que deu sequência às obras iniciadas na administração Carone, fato proporcionado por ele ser um preposto do regime militar instaurado no Brasil após o golpe de 1964, uma vez que foi conduzido de maneira indireta para o cargo de prefeito após a cassação de Carone em janeiro de 1965. Nesse sentido, o acervo da ASCOM permite a reconstrução paisagística de uma época de grande importância para a compreensão dos processos que culminaram na metropolização da capital mineira e das políticas urbanas, econômicas e sociais que de alguma maneira nortearam a transformação do espaço urbano de Belo Horizonte, que figura no cenário nacional como a capital que mais cresceu entre os anos de 1950 e 1970. As imagens do período analisado permitem ainda traçar um paralelo de cunho geográfico-urbano com a expansão do tecido urbano da capital, uma vez que grande parte dos registros fotográficos realizados durante a gestão de Negrão de Lima se concentram nas zonas urbana e suburbana da capital, e em alguns pontos de interesse da sua administração e das administrações seguintes, como as obras de captação dos mananciais de abastecimento de Belo Horizonte.

Na gestão de Pieruccetti os registros abarcam quase todo o município, em geral obras de canalização de cursos d’água, abertura e pavimentação de vias em locais que oficialmente não possuem registros fotográficos, fato que atesta, de maneira visual, a rápida expansão urbana da capital mineira. Enfim, o acervo da ASCOM é de grande importância para a memória do município de Belo Horizonte, para a identidade coletiva e para o conhecimento de um passado que em algum momento foi o presente, além dos processos que acarretaram na transformação da paisagem urbana no período analisado. É um acervo que pela sua magnitude e abrangência, ainda se encontra em fase de identificação, tendo potencial, em um futuro próximo, de revelar novas informações sobre o processo de evolução urbana de Belo Horizonte.

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