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Maria do Carmo Andrade Gomes

Dossiê

Entrevista

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Maria do Carmo Andrade Gomes

Foto: Acervo Pessoal.

Historiadora, Mestre em Biblioteconomia e Doutora em História pela UFMG. Pesquisadora aposentada da Fundação João Pinheiro. Foi diretora do APCBH em dois períodos, entre 1999 e 2000; entre 2005 e 2011, atuando em diversas frentes de trabalho, em especial na construção de parcerias, como no caso da Câmara Municipal de Belo Horizonte e negociações e projetos por uma sede própria para o APCBH. Como pesquisadora, desenvolveu diversos projetos relativos às atividades arquivísticas tanto no APM como no APCBH. Como cidadã, participou da criação e ocupou diferentes cargos à frente da Associação Cultural do APCBH - ACAP-BH, viabilizando patrocínios importantes.

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1. Comente sobre a sua trajetória profissional e como ela se relaciona com o Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte.

Ainda quando estudante de História na UFMG, fui por três anos estagiária do Arquivo Público Mineiro, onde eu adquiri minha paixão pelos arquivos. Quando me formei e fui trabalhar no IEPHA-MG, em 1980, meu primeiro trabalho como profissional foi a participação na elaboração dos primeiros tombamentos estaduais de conjuntos arquitetônicos em Belo Horizonte. Ainda não existia o APCBH e nossas pesquisas realizavam-se no Museu Histórico Abílio Barreto ou diretamente nos acervos disponíveis dos órgãos municipais, como a antiga Secretaria Municipal de Assuntos Urbanos, além de órgãos estaduais, como o próprio APM e o extinto Plambel.

Assim, posso dizer que vivenciei as dificuldades de se pesquisar a história de Belo Horizonte antes da criação do APCBH, seja pelo desconhecimento dos acervos, seja pela dificuldade de acesso ou pela falta de qualquer instrumento de pesquisa. Desenvolvi dissertação de mestrado em 1994 sobre a relação entre a pesquisa histórica e o uso dos arquivos, o que me proporcionou uma formação mais teórica no campo arquivístico.

Participei do seminário de criação do APCBH em 1990 e de muitos eventos promovidos ao longo desses anos. Em 1994, no cargo de Diretora de Apoio Cultural e Extensão do APM, participei da elaboração do projeto de criação do Banco de Dados da Comissão Construtora da Nova Capital, numa parceria entre o Museu Abílio Barreto, o APM e o APCBH.

Também tive oportunidade, como historiadora da Fundação João Pinheiro, de pesquisar no APCBH para outros projetos que desenvolvi, dos quais destaco as obras Panorama de Belo Horizonte, Atlas histórico e Omnibus, uma história dos transportes coletivos em Belo Horizonte (ambos publicados em 1997 na Coleção Centenário da Fundação João Pinheiro).

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2. Comente sobre a sua experiência como diretora e os desafios de se estar à frente de uma instituição arquivística como o APCBH.

Por dois períodos tive o privilégio de dirigir o APCBH: entre os anos de 1999 e 2000 e no período entre 2005 e 2011. Foram experiências muito importantes e gratificantes para minha vida profissional. Exerci o cargo em governos democráticos e progressistas, o que facilitou muito o diálogo com as autoridades municipais.

Embora o APCBH seja ainda uma instituição pequena em termos organizacionais, seus desafios sempre foram gigantescos. Estar à frente do APCBH significou enfrentar certa invisibilidade da instituição frente às prioridades dos governos municipais, arcando com a enorme responsabilidade de preservar materialmente, com recursos financeiros e humanos sempre insuficientes e uma sede inadequada, um acervo documental sempre crescente, frágil, único e de imenso valor histórico e probatório para a cidade e os cidadãos de Belo Horizonte.

Para dirigir o APCBH é necessário munir-se de argumentos técnicos, vontade e muita diplomacia para dialogar permanentemente com os órgãos da administração municipal, na busca do entendimento da importância da gestão documental. Significa ainda a busca constante por conferir sentido a essa preservação, ou seja, organizar, divulgar e dar acesso a toda a documentação.

Enquanto diretora busquei estar à altura desses enormes desafios. Destaco alguns resultados, de forma não cronológica: a construção de parcerias importantes, particularmente com a Associação Cultural - ACAP∕BH e a Câmara Municipal de Belo Horizonte; o recolhimento de acervos acumulados de grande importância como os projetos arquitetônicos, BHTrans, Câmara Municipal e Cemitério do Bonfim; a conservação preventiva do acervo audiovisual; os primeiros projetos de digitalização do acervo; e a promoção de projetos de pesquisa, divulgação e educação patrimonial Exposições Itinerantes, História de Bairros, Descrição da documentação cartográfica da Comissão Construtora da Nova Capital, entre outros.

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Embora diversas iniciativas tenham proporcionado a melhoria das condições dos ambientes de trabalho, consulta e das áreas de guarda do APCBH, permaneceu sem solução definitiva a questão da sede própria do Arquivo, apesar de muitos esforços que levaram à produção de dois projetos arquitetônicos e à desapropriação de um imóvel para esse fim.

3. Como você vê o papel do APCBH ao longo desses 30 anos? Que lugar a instituição ocupa na cidade?

É cada vez mais significativo o papel do APCBH em Belo Horizonte. Hoje o Arquivo é referência obrigatória para quem pesquisa a história da cidade e de suas políticas públicas, para o cidadão em busca de determinados direitos e informações, para o professor que leciona sobre a história e a memória locais. Muitos outros usos ainda podem e devem ser mais explorados, mas destaco a procura do Arquivo pelos próprios agentes públicos, entre autoridades e servidores da PBH e da Câmara Municipal.

4. Como cidadã, quais são as suas perspectivas futuras para o

APCBH? Quais são os desafios da instituição para que ela se fortaleça?

Como cidadã, eu busco ser otimista quanto ao futuro do APCBH, tanto quanto o futuro de nossa democracia e do nosso projeto como nação, que passa hoje por uma crise sem precedentes. Como uma instituição que sempre teve que lutar muito pelo reconhecimento de sua importância, a APCBH desenvolveu uma musculatura e uma flexibilidade que lhe permite sobreviver às crises orçamentárias, à carência de pessoal, numa constante busca por alternativas para consecução de sua missão institucional.

O APCBH já é uma referência cultural na cidade, mas ainda precisa ver reconhecida sua importância no seio da administração municipal. Esse reconhecimento passa necessariamente pela implementação da gestão de documentos em toda a PBH, pela maior

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autonomia do Arquivo como órgão central da administração municipal e pela instalação de uma sede própria à altura de sua importância para a Prefeitura e para a cidade de Belo Horizonte. O APCBH conta para enfrentar o futuro com uma tradição de 30 anos: as gerações de técnicos e servidores qualificados e comprometidos com a casa. A eles rendo minha homenagem.

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