Unicom Feira do Livro 2014

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27ª DO SANTA CRUZ DO SUL

JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC - SANTA CRUZ DO SUL VOLUME 24 nº 3 AGO/SET 2014 - EDIÇÃO ESPECIAL PROJETO - Martina2.indd 1

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EDITORIAL

OPINIÃO

O poder de transformação da literatura Transformar é uma palavra utilizada por aqueles que anseiam por mudanças. Muitos dizem que a verdadeira transformação é feita de dentro para fora. Assim, o pensamento é o primeiro a ser transformado, seguido pelas ações. Por isso, o slogan da 27ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul é tão especial. Ao afirmar que Ler Transforma, vislumbra-se um mundo de oportunidades para os leitores. A leitura não é apenas uma sequência de palavras. Ler é deixar a imaginação solta para viajar pelos mais diversos caminhos. É compreender os personagens e as suas transformações durante a trama. A leitura não é feita só de palavras: são imagens, pontos, vírgulas, espaços em branco, sentimentos, suspiros. E não são apenas os olhos que podem ler: através do Braille, também é possível ler com as mãos. Foi neste clima que a equipe a da A4 – Agência Experimental de Comunicação da Unisc entrou em ação para contar histórias de pessoas que tiveram a sua vida transformada pela leitura. Ao ler o Unicom – edição especial Feira do Livro, você vai descobrir como é a vida de quem decidiu criar páginas na Internet para discutir literatura e conhecer pessoas que, por terem tantos livros em casa, acabaram montando as suas próprias bibliotecas. Se as pessoas se transformam, os personagens também. Confira essas e outras histórias nas páginas do Jornal Unicom. Boa leitura e uma ótima Feira do Livro, em ritmo de mudança. Que esta temática seja um incentivo para você, assim como foi para os nossos repórteres.

EXPEDIENTE

UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul Av. Independência, 2293 - Bairro Universitário Santa Cruz do Sul - CEP 96815-900

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Curso de Comunicação Social Bloco 15 - Sala 1506 Telefone: (51) 3717-7383 Coordenador do Curso: Hélio Etges

CONTO

Transformou-se

ANDRESSA BANDEIRA *

Sebastião agora era outro. O presente despretensioso, o livro pequeno, o transformara. Agora Sebastião entendia todo aquele lance de “viajar sem sair do lugar” e de “aprender se divertindo” e todas essas coisas que as mães e as professoras de português adoram dizer. O rapaz, agora sim, tinha encontrado um hobbie, uma paixão, algo mágico para fazer entre uma coisa e outra. Entre uma vida. Há mais ou menos um ano nesse mundo de papel e tinta, Sebastião já crescera muito. Eram novas ideias, novas palavras. Novas vontades. Menos dinheiro, que ia em comida, contas de luz e água ou em livros. A amiga,

aquela que presenteou Sebastião com seu primeiro livro, tem muito orgulho dele. E esse sentimento cresce a cada página que Sebastião lê. Porque o melhor era que ele não só comprava, ele lia! Lia tanto ou mais que ela, que era uma ratinha de biblioteca. A amiga - Sofia o nome dela -, ajudara Sebastião a se apaixonar por algo capaz de transformar qualquer um. Sofia fez Sebastião se apaixonar por livros. E assim transformou a vida dele para sempre. * Estudante de Jornalismo, Unisc Criadora do blog umcafeeumconto.blogspot.com

CRÔNICA

A culpa é das letras Umas das coisas mais incríveis e aterrorizantes da vida é a sensação de fechar um livro após ler a última página. Você começa a história com alguma expectativa, se entrega à leitura, vive agradáveis horas na companhia dos personagens, em um lugar diferente, numa outra vida, e depois de algum tempo, tudo isso acaba. A sensação de perda é inegável. Presenciar todos estes momentos incríveis e acabar sendo confrontado pela realidade é muito cruel. Só os verdadeiros amantes da literatura compreendem esta sensação. De ficar órfão. E sentir-se sozinho. Pensar que nunca na vida vai amar tanto outra obra. Todas as pessoas ao seu redor vão continuar vivendo suas vidas alheias ao que aconteceu, sem imaginar o que você sente. Que seu mundo não é mais o mesmo, que sua vida tem um novo sentido, que você percebe e vê

PAOLA SEVERO *

as coisas de uma outra maneira depois de aprender com seus novos amigos de dentro das páginas. Uma cena, uma frase ou uma ação dentro de um amontoado de papel impresso movem engrenagens estranhas dentro de nós. Mas não tente explicar isto a ninguém, vão te chamar de louco. Acredite, eu já tentei. Todas as alegrias e sofrimentos compartilhados com seu livro pertencem ao leitor, e ao leitor apenas. Cada um vai ler as mesmas palavras e tirar dali diferentes significações. A magia dos livros reside no fato de que eles ensinam coisas diferentes a cada pessoa, porque cada ser é diferente. O consolo é saber que cada novo livro vai te encontrar diferente, depois das mudanças operadas pelo anterior. * Estudante de Jornalismo, Unisc Criadora do blog uma-leitora.blogspot.com

CONTO

A melhor viagem

MARTINA SCHERER *

Naquele dia, Mariana estava aflita. Era o último dia da sua viagem para a Cidade Luz, Paris, que ela sempre sonhou visitar. Acompanhada de um grupo de amigos, Mariana não teve medo de seguir em frente e conhecer cada cantinho da cidade. Devorou cada informação da maneira mais rápida que podia, pois estava muito curiosa. Da Torre Eiffel ao Museu do Louvre, passou por todos os pontos turísticos. O Arco do Triunfo é realmente lindo, pensou. E a Catedral de Notre-Dame, então, magnífica. Quando se deu por conta, em um dia estava correndo atrás de borboletas nos jardins de Monet e, no outro, aproveitando uma linda música em um passeio pelo Rio Sena. Mariana voltaria transformada. Era outra agora: mais culta, mais alegre, mais satisfeita. Não por conta da

Editora-chefe: Cristiane Lindemann Subeditora: Laura Gomes Diagramação: Martina Scherer Arte: Juliana Mallmann Fritsch, Caroline Trapp, Aline Gonçalvez, Mariana Müller Plümer e Beatriz Luchese Ilustrações: Whellinton Rocha

cidade que escolheu, mas pelo simples fato de ter viajado. Através de passeios como o de Mariana, é possível se conhecer outra parte do mundo, sem sair do lugar. Viagens assim são perfeitas para qualquer idade. Com lágrimas nos olhos, ela ia se despedindo de tudo aquilo. Em todos esses dias, a companhia dos amigos foi incrível. Poder compartilhar da história deles, melhor ainda. Agora ela sabia tudo sobre a vida de cada um. Mas, infelizmente era o fim: as últimas páginas chegavam. Era hora da despedida. O fim de mais uma história. Assim, Mariana fechou o livro. E foi dormir pensando em qual seria o destino da sua próxima viagem. * Estudante de Jornalismo, Unisc

Reportagem: Andressa Bandeira, Caroline Fagundes, Eduardo Finkler, Laura Gomes, Mahara de Brito, Martina Scherer e Monique Rodrigues

Impressão: Grafocem Tiragem: 1.000 exemplares

Este jornal foi produzido pelos monitores da A4 Agência Experimental de Comunicação Núcleo de Jornalismo, sob a supervisão da professora Cristiane Lindemann. Acompanhe o conteúdo produzido pela nossa equipe durante a 27a Feira do Livro de Santa Cruz do Sul através do site: hipermidia.unisc. br/27feiradolivro

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Espaços virtuais debatem literatura A Internet tornou-se ferramenta para os amantes dos livros LAURA GOMES REPORTAGEM

da vida, e literatura me soava muito bem.” Por meio desse pensamento surgiu, em julho de 2010, o vlog (canal com vídeos) Cabine Literária (http:// www.youtube.com/cabineliteraria). Criado por Danilo, o espaço virtual tinha como objetivo inicial servir de incentivo para que o seu criador lesse mais livros. A iniciativa deu tão certo que, em outubro de 2013, nasceu o site do Cabine Literária (http://cabineliteraria. com.br/). “No começo, a única coisa que mudou é que passei a ler bem mais do que antes”, lembra Danilo. O novo endereço do Cabine Literária contém, além do vlog, notícias, colunas com críticas, entrevistas, tirinhas e listas com indicações de obras, tudo relacionado à literatura. Danilo acredita que o site é uma forma de incentivar o gosto pelos livros. “Falar sobre literatura é especial porque considero a literatura um assunto muito importante. Nosso país precisa de muito mais incentivo à leitura do que temos atualmente”, pondera. Se, no início, a única mudança era o aumento no ritmo de leitura, agora Danilo aprecia a repercussão que o Cabine Literária tem. “O retorno é maravilhoso. Os fãs são muito participativos, tanto no canal como no site, além dos e-mails que recebemos com opiniões e sugestões”, admira o criador do Cabine. Ao longo do tempo, o vlog e o site sofreram transformações para aprimorar seu conteúdo. “Os novos quadros surgem da necessidade de abordarmos determinado assunto sob um certo ângulo. Sofremos influências, obviamente, mas tenho certeza de que tudo o que fazemos tem a nossa cara”, afirma. Apesar de o tema central ser a literatura, Danilo e sua equipe procuram não parecer muito formais. “Por mais que a gente fale sobre livros, prefiro caminhar para uma identidade mais descolada do que reproduzir a ideia de que literatura é assunto exclusivo pra estudiosos do assunto”, opina. Já com Bruno Miranda a iniciativa começou em blogs para, depois, virar vlog. “Eu sempre tive vários blogs desde que comecei a usar a Internet,

mas nunca tinha dado certo porque eu ainda não tinha encontrado o que realmente gostava de falar. Em 2010, quando comecei a gostar muito de ler, surgiu o blog, que se tornou canal quase dois anos depois”, lembra Bruno. Foi assim que teve início o vlog Minha Estante (http://www.youtube. com/user/minhaestante), que conta com mais de 60 mil inscritos e cerca de 2 milhões e 500 mil visualizações. Nos vídeos, Bruno faz resenhas sobre livros. “É mais uma conversa informal com quem assiste do que uma coisa séria e profissional. Uma das coisas mais legais de falar sobre literatura é saber que ler é um hábito muito bom e eu posso ajudar as pessoas a lerem mais”, acredita. Desde que criou o Minha Estante, a vida de Bruno se modificou. Além de receber feedback do público por e-mail e redes sociais, o retorno veio profissionalmente. “Dedico a maior parte do meu tempo a isso e eu não me vejo mais sem o meu canal. Hoje trabalho com o canal e em uma produtora, pela experiência que consegui adquirir com os vídeos”, conta o criador do Minha Estante. Tanto Bruno quanto Danilo acreditam que a literatura pode transformar a vida das pessoas. “A literatura ensina empatia, principalmente. Aumentar a inteligência emocional já seria um grande feito, mas, quando não faz isso, ela ao menos oferece um escape da vida real, o que também pode ser bastante transformador pela capacidade que uma obra tem de unir pessoas. É comum que amizades comecem por causa de um livro, por exemplo”, comenta Danilo. Além de conhecer pessoas através da literatura, os livros também proporcionam aprendizado. “A mudança principal para quem lê está na leitura, na escrita, no vocabulário, na criatividade e também no senso crítico, que aumenta”, opina Bruno. Mas, mais do que isso, o responsável pelo Minha Estante ainda acredita em uma transformação maior: “cada livro é único e também pode mudar a nossa forma de ver a vida”.

TECNOLOGIA

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A

popularização da Internet transformou as tradicionais rodas de conversa. Assuntos que antes reuniam os amigos e familiares pessoalmente, agora podem ser debatidos em qualquer lugar e até com desconhecidos. Com o intuito de falar sobre literatura e interagir com outros amantes de livros, surgiram espaços na rede mundial de computadores destinados à troca de impressões sobre livros, autores, personagens e tudo o que envolve o mundo da literatura. Esta temática tomou conta de blogs, sites e redes sociais, que passaram a atrair leitores para discutir este universo. Danilo Leonardi encontrou na literatura um desejo profissional. “É um assunto do meu interesse. Quando saí da escola, comecei a pensar no que é que eu gostaria de trabalhar pelo resto

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MAPA DA FEIRA

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MARTINA SCHERER

Livros por todos os lados Há 27 anos, Feira do Livro é palco de encontros entre a comunidade santacruzense e a literatura MARTINA SCHERER REPORTAGEM

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Programação - Como em outros anos, o programa será voltado a todos os públicos. Prevista para sexta-feira, às 19h30min, a abertura da Feira contará com a participação de autoridades, convidados e comunidade em geral, além da apresentação do Coro Masculino da Afubra, a Associação dos Fumicultores do Brasil. E outras atrações musicais são destaque na Feira do Livro: também comparecerão o Coral do Sesc e do Sindicato do Comércio Varejista de Santa Cruz do Sul (Sindilojas) Maturidade Ativa; o cantor Leonardo Reis; a Orquestra Municipal de Sopros de Santa Cruz do Sul e a Orquestra da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc); e alunos do Colégio Marista São Luís e da Escola Educar-se. O patrono desta edição é Aldyr Garcia Schlee, escritor, jornalista, tradutor, desenhista e professor. Gaúcho, do município de Jaguarão, é um dos grandes nomes entre a relação de contistas do estado. Schlee estará presente para uma entrevista coletiva, no dia 11, quinta-feira. Neste mesmo dia, à noite, participará

de uma conversa, no Auditório do uma biblioteca móvel. No espaço, Memorial da Unisc, sob a mediação três mil títulos esperam o leitor, do professor de literatura, Elenor contemplando livros em formato Schneider. Já a homenageada será acessível, em braille e áudio-livros; a santamariense Lélia Almeida, além de revistas e jornais atualizados. que estará na Feira na segunda- E a brincadeira ficará por conta do feira, dia 8, com um bate-papo Colégio Marista São Luís, com a sobre literatura feminista. No Pescaria do Conhecimento: um jogo, diálogo, terá a companhia da no chafariz da Praça, que utiliza também escritora Valesca de materiais reciclados para educar. Outro destaque da prograAssis e da jornalista e professora do curso de Comunicação Social mação é o Encontro de Quadrinistas e Fãs de Histórias em Quadrinhos. da Unisc, Fabiana Piccinin. Além deles, outros escritores Com sua primeira edição em passarão pela Praça, como Mario 2013, é um espaço de encontro Pirata, Luiz Conorel, Marli Silveira, entre produtores, profissionais e Gustavo Czekster, Fabrício Carpi- amadores deste tipo de literatura. nejar e Mauro Ulrich. Enquanto isso, O evento inicia na noite de sextaos autores Demétrio de Azeredo feira, dia 12, com um painel sobre Soster, Rudinei Kopp, Valesca de o assunto com o patrono Aldyr Assis, Flávio Nascente dos Santos, Garcia Schlee. No sábado, dia Milton Pokorny, Lily Elisabeth 13, diversos outros momentos de Pokorny, Valquíria Ayres, Marisa diálogo acontecerão, no Teatro do Borges e José Karkuszewski farão Espaço Camarim. Como atividades paralelas, lançamentos de livros. Também o patrono, Aldyr Gargia Schlee acontecerão mostras Literárias e a homenageada Lélia Almeida, sobre os autores Simões Lopes Neto, Machado de Assis e Mario lançarão novas obras. Alguns espaços já tradicionais Quintana. Além desta, haverá continuarão sendo cenário para a outra exposição especial, pela Feira: a contação de histórias e Biblioteca da Unisc, com obras espetáculos teatrais, bem como do patrono e da homenageada da apresentações de dança e música, Feira; e ainda, a exposição Bruxa já são figurinhas carimbadas para Roxilda & amigos, de Valquiria animar o público. A Bebeteca, Ayres e Lula Helfer. Em dois parceria entre Sesc e Xalingo, momentos, chamados A Feira vai traz, além da biblioteca do à escola, os autores Mario Pirata Sesc, material para desenhos e e Flávio Nascente dos Santos brinquedos e jogos educativos. participarão de um bate-papo Outro acervo disponível para com estudantes do município. consulta é o espaço da Biblioteca Pública Elisa Gil Borowski, da Secretaria HORÁRIOS DA FEIRA: Municipal de Educação e Cultura (SMEC), com Sexta-feira (5): 19h às 22h espaço para, por exemplo, Segunda a sexta: 8h30 às 19h aulas de xadrez. Sábados: 9h às 21h O Serviço Social da Domingos: 10h às 19h Indústria (Sesi) também oferecerá a quem passar pela Praça, o Centro Cultural Sesi,

MAPA DA FEIRA

Crianças ouvindo histórias, adultos jogando xadrez, mães comprando algodão-doce, o mágico entretendo a todos e os astros da festa: livros, muitos livros. Todos os anos, a praça Getúlio Vargas, no centro de Santa Cruz do Sul vive este clima durante os dias de Feira do Livro. Em 2014 não será diferente. A Feira, que chega a sua 27ª edição, acontece de 5 a 14 de setembro, sob o tema Ler transforma. Desde o seu início, em 1988, tem o objetivo de desenvolver o interesse pela leitura, propagar os livros e fazê-los chegar até a mão do leitor. Atualmente, é o mais representativo evento literário do município e destaque no cenário sociocultural do Estado. Com o objetivo de deixá-lo cada vez mais interessante, o comitê organizador, composto, desde 2006, pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), Prefeitura Municipal e Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), busca trazer novidades todos os anos. Segundo Roberta Pereira, gerente da Unidade do Sesc de Santa Cruz do Sul, os pontos que deram certo na edição anterior serão mantidos, como a programação simultânea, tanto nos dois palcos da Feira, quanto em diferentes locais da cidade, por exemplo. Além disso, a área coberta será ampliada por toda a extensão da Praça para garantir

maior conforto aos visitantes em caso de chuva. Ao total, serão 18 expositores de livrarias de Santa Cruz do Sul e de outros municípios do estado, instalados no coração da cidade, para trazer à comunidade os mais variados gêneros literários. Em 2013, puderam ser encontradas nas bancas, obras infantis, sobre cultura - teatro, música, cinema, dança ou fotografia -, livros de culinária, biografias, clássicos da literatura nacional e estrangeira, espíritas, além de edições de bolso e dos tradicionais saldos.

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A literatura fronteiriça vai invadir Don Frutos, Contos de Futebol, Cultura, geografia e os idiomas do Brasil O Dia em que o Papa foi a Melo e Uma e do Uruguai são Terra Só. Estes, assim como muitos destaque na obra do outros, são títulos que poderão ser patrono da Feira encontrados na Praça Getúlio Vargas,

MARTINA SCHERER ENTREVISTA MONIQUE RODRIGUES RESENHA

durante os dias de Feira do Livro. No repertório, não haverá apenas romances longos e demorados, mas também muitos contos, provenientes da mão, da mente e da criatividade do gaúcho de Jaguarão, Aldyr Garcia Schlee, patrono da 27ª edição do evento literário realizado em Santa Cruz do Sul. Com uma caminhada que iniciou muito antes de 1983, data da publicação do seu primeiro livro - Contos de Sempre -, Schlee é

jornalista, tradutor, desenhista e professor. Atualmente, é um dos grandes contistas gaúchos, tendo escrito também em espanhol. Sua última publicação foi Memórias de o que já não será, ainda deste ano. Confira na entrevista mais detalhes da literatura do patrono que, inclusive, já passou por Santa Cruz do Sul quando jovem:

O que veio primeiro em tua vida: o jornalismo ou a literatura? Antes de tudo, veio a leitura. Eu continuo sendo, antes de um escritor, um leitor.

De onde vem a inspiração para as personagens populares presentes na tua literatura? Não sou um autor inspirado por isso ou aquilo. Em literatura, respiro normalmente. Não tenho “inspiração”, que geralmente é justificativa pobre e vazia de quem não sabe por que escreve. Quanto a meus personagens, são a razão de ser de minha literatura, resultado de minha visão de mundo e motivo de minhas mais caras convicções. Como analisas a tua escrita em relação ao regionalismo? Algo mudou do início da tua carreira para cá?

PATRONO

DIVULGAÇÃO/MOVIOLA FILMES

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Schlee e seus contos

dir a praça O dito regionalismo é, no Rio Grande do Sul, com raras e honrosas exceções, uma marca do gauchismo tradicionalista e ufano, resultante em parte da dificuldade que temos tido para nos identificar e para dispormos de uma verdadeira identidade. Desde que nós, os sul-rio-grandenses, aceitamos e incorporamos a denominação de gaúchos, o peso e a abrangência desse gentílico – gaúcho – passou a ser causa e consequência da razão de não sabermos quem somos e de sermos o que não somos (aqui, até time de futebol é “gaúcho”; e nossas façanhas – dos “gaúchos” – servem de modelo a toda a Terra!). Minha literatura é sul-riograndense (e, como tal, “gaúcha”; mas não gauchesca e muito menos ufana e tradicionalista). Ela sempre foi e é assim, desde o primeiro conto e o primeiro livro quando, confessadamente, dispus-me a desmontar o gaúcho.

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Por que a preferência pela forma curta de literatura, o conto? Não se trata de preferência, mas de fôlego. Sou um escritor de recado rápido, capaz de manter o meu leitor sob controle, com gosto, por até dez, vinte páginas no máximo. Sei que assim é mais difícil fazer literatura, porque nada é mais simples e complicado que um conto (e nada melhor e impactante que um bom conto). Para tomar um pouco mais de ar, ganhar fôlego e ir além dos limites tradicionais de uma história curta, escrevi durante anos um romance de quase seiscentas páginas: Don Frutos, no qual ultrapassei a milha e os 2.200 e 3.000 metros permitidos aos parelheiros de tiro longo, nos Grandes Clássicos. Foi uma experiência interessante e maravilhosa! Em que momento que a profissão de escritor se funde com a de jornalista, tradutor, desenhista e professor? Fui desenhista, jornalista e professor por muito tempo – e vivi do desenho, do jornalismo e do magistério com muito entusiasmo, muita dedicação e muita satisfação. De certa maneira, nunca deixei de ser desenhista, jornalista e professor – talvez porque tenha incorporado ao meu fazer literário o que de melhor aprendi e pude desfrutar no desempenho de minhas profissões originais. Mas quero dizer que, apesar de dedicar cada oito a dez horas diárias de meu trabalho, hoje, à literatura, sendo assim o que se chamaria de escritor em tempo integral – não me sinto à vontade quando me atribuem a profissão de escritor. Essa profissão, no Brasil, existe predominantemente na imaginação e na promoção de autores e editores.

Sobre ser patrono na 27ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul: qual a tua expectativa? Ser patrono da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul neste 2014, em que completo 80 anos de idade é um presente que recebo sem jamais ter pretendido. Digo isso não por modéstia; mas porque isso era algo que eu não poderia nem me sentiria no direito de almejar. Fui um guri que andou por Santa Cruz naqueles tenebrosos dias da II Guerra Mundial, vendo aqui pessoas sendo presas e levadas presas, pela rua, só porque falavam alemão. O impacto de meus dias em Santa Cruz, que também foram belos e inesquecíveis, no aconchego de minha família e de minha avó que só falava alemão, fez-me devedor desta cidade – onde aprendi a ver o mundo numa outra dimensão e onde comecei a me sentir parte da humanidade. Voltar aqui como patrono da Feira do Livro é, por isso tudo, demais para mim.

E, para finalizar: por que ler transforma? O conhecimento transforma as pessoas. Esse é um dado fundamental da cultura e a grande justificativa da educação – formal ou informal. Como a leitura é uma grande produtora de conhecimento, naturalmente por isso assume caráter transformador. Mas ler literatura não é só ler (por isso que é difícil encaixar a leitura literária na escola, num processo de educação formal). Ler uma obra literária é apreciar e desfrutar; não é só aprender isso ou aquilo ou mais aquilo pela simples leitura. Ler uma obra literária é ultrapassar o didático, no plano do conhecimento, pelo apreço e o desfrute de um outro mundo: o mundo de beleza, imaginação e magia que está posto nas páginas dos livros e em qualquer outra produção artística; e que é capaz de alimentar e aumentar o nosso saber, estimulando-nos a capacidade de melhor senti-lo, decifrá-lo e aproveitá-lo com gosto.

PATRONO

O fato de teres nascido em uma cidade fronteiriça foi que te influenciou a escrever em espanhol? O fato de ter nascido a 200 metros do Uruguai e de ter vivido a infância e parte da juventude sob forte dependência do Uruguai, fez de mim um autor sul-riograndense fronteiriço. Um autor fronteiriço bilíngue, capaz de escrever um livro em português, outro em espanhol... e de até ser aceito, editorialmente, como autor uruguaio. As palavras são o instrumento e marca fundamental de minha literatura, revestindo personagens, cenários, situações, sentimentos que, num mundo literário (criado pelas mesmas palavras) constitui a recomposição de um pequeno e limitado mundo real perceptível em Jaguarão e arredores e ao longo do rio Jaguarão, fronteira uruguaia adentro e acima, no máximo até Melo, Treinta y Tres e Tacuarembó. Aí, na reconstrução literária desse mundo, não há como deixar de fora esta ou aquela palavra ou este ou aqueloutro falar.

A linguagem da fronteira pode estar, às vezes, mais comprometida com a criação do mundo literário do que presente e identificável no mundo fronteiriço real.

Doutor em Ciências Humanas, jornalista, escritor bilíngue, tradutor e, ainda, desenhista, o patrono da 26a Feira do Livro de Santa Cruz do Sul é Aldyr Garcia Schlee. Ele escreve e publica suas obras em português e espanhol, e em seus contos explora o universo da fronteira, fazendo uso de uma linguagem representativa da fala e da cultura do homem do pampa sul-rio-grandense. Schlee lançou seu primeiro livro, intitulado Contos de Sempre, no ano de 1983. Entre as suas principais obras estão Don Frutos (2010) e Contos da Vida Difícil (2013). Lançado pela editora ARdoTEmpo, Contos da Vida Difícil é um livro de 184 páginas e quatorze contos, que se passam na década de 1930, quando a Ponte Internacional que liga Jaguarão-RS com o Uruguai estava sendo construída. Havia uma grande migração para o estado do Rio Grande do Sul, principalmente para as cidades da fronteira – como a própria Jaguarão, que serve de cenário para esses contos –, e, com isso, expandia-se o mercado da prostituição. O autor retrata um passado de desejos muitas vezes proibidos, como no conto da jovem Agnela, que desejava seu cunhado, e que um dia não resistiu, entregando-se a ele. Engravidou e foi obrigada por seu pai a casar, sendo abandonada pelo cunhado que argumentou não querer se casar com uma moça que não era mais virgem. Em Contos da Vida Difícil, Schlee descreve a vida aparentemente fácil – mas, na realidade, miserável – de cafetinas e prostitutas. Uma vida de falsos prazeres e relacionamentos que duravam uma noite, sem profundidade ou qualquer tipo de compromisso. Uma excelente obra, de um ótimo autor, que não teme em usar as palavras e, por meio delas, a cada conto, conquista mais seus leitores.

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A arte de contar histórias Pessoas que encontraram nos livros uma profissão e uma forma de transformação ANDRESSA BANDEIRA MARTINA SCHERER REPORTAGEM

LER TRANSFORMA

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espida de fantasias e sem adereços é que Rosária Costa conta suas histórias. Fantoches, só quando o público for de crianças muito pequenas. Depois de ler o texto diversas vezes, vem a hora da memorização em voz alta, acompanhada de gestos, a fim de auxiliar os ouvintes a visualizar a trama. Além disso, ela separa alguns objetos – que pode usar ou não – e pega o livro com a história a ser contada. Junto com muita criatividade e diversão, tudo vai para dentro da bolsa de histórias e, assim, ela caminha rumo a mais uma contação. O ambiente possui paredes desenhadas e delas escorrem personalidades da literatura. Criadores e criaturas se misturam para embelezar a Biblioteca Caá Yari, do município de Venâncio Aires, desde 2005 local de trabalho de Rosária, bibliotecária e contadora de histórias. Com seu jaleco enfeitado de castelos, bruxas e flores, chamado por ela de vestido de contação, ela transporta quem estiver disposto a ouvir para o mundo do faz de conta e vai transformando rotinas por onde passa, tendo como matériaprima a arte da literatura. Formada em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Rio

Grande (FURG), a venancioairense escolheu o Curso por gostar de motivar outras pessoas a ler. “Sempre gostei de ler e contar a quem estivesse disposto a me ouvir sobre o livro que havia lido”. E foi na Universidade que Rosária transformou este passatempo em profissão, ao conhecer a técnica da contação de histórias. Ao participar de um encontro do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), do Ministério da Cultura, em Porto Alegre, ela viu pela primeira vez a atuação dos Contadores de Histórias, que não utilizavam nem o livro, nem personagens e nem fantoches para traduzir o que liam. “Só a narrativa, só a palavra em todo o seu esplendor e... aí decidi que era isto que eu queria fazer!”, lembra, entusiasmada. Então, neste mesmo encontro, a bibliotecária participou de oficinas e, logo após, começou a praticar em encontros de seu Curso e na Feira do Livro da FURG. Hoje, atua nos eventos realizados pela Biblioteca e pela Prefeitura, além de escolas municipais. Quanto ao estilo, Rosária diz que prefere contos de fadas e histórias de bruxas. “Eu leio as histórias e elas me escolhem. Depois, dependendo do tema do evento, do público ouvinte ou do local, eu decido qual vou contar”, explica. Um dos exemplos que estimularam em Rosária o gosto pela leitura veio do pai: “Ele chegava em casa cansado do trabalho e ainda ficava um bom tempo lendo. Pra mim, que era pequena e ainda não alfabetizada, aquilo era um mistério tão bom, que fazia o meu pai, mesmo cansado, ficar um tempo fazendo”. Assim que descobriu a leitura, ela passou a gostar do tal mistério e não parou mais. Hoje,

as histórias de Rosária incentivam outras pessoas não só a lerem, mas a igualmente passarem a contá-las. É o caso de Joana Potira Heinen, que conheceu a bibliotecária e contadora de histórias ainda nos tempos de escola, enquanto frequentava a Biblioteca Municipal. Em 2009, começou a participar de saraus organizados por Rosária, e foi aí que ambas se aproximaram. A partir do convite de Rosária – a quem Potira se refere como Dona Chefa Fada Madrinha – para um estágio na Biblioteca, ela iniciou a atuar na contação de histórias. “Durante o Ensino Médio e o Magistério, contei histórias para crianças, mas para mim era apenas uma atividade lúdicopedagógica. Só fui ter consciência da importância desta arte durante o tempo em que fui aprendiz da Rosária”, lembra. A companhia de Rosária foi fundamental para Potira. Segundo ela, Rosária a emprestava livros sobre contação de histórias, sugeriu obras infantis e a apresentou a outros contadores. Além disso, a chamava para contar histórias junto com ela, proporcionando a participação em encontros da área. Hoje ela conta, com orgulho, que cultiva ainda hábitos da adolescência: “retiro livros em bibliotecas, garimpo sebos e livrarias, compro, ganho, troco ou ainda pego emprestado”. Em Venâncio Aires, Potira contava histórias em eventos da Biblioteca e também no Colégio Oliveira Castilhos, em encontros semanais. Atualmente morando em Porto Alegre, foi convidada a fazer parte de um grupo de contadores profissionais e aproveita as horas livres para participar de atividades de formação.

Graduada Literatura e em História, Potira vislumbra tirar proveito da prática da contação para executar outros projetos: “Como historiadora, eu posso contar histórias no meu trabalho, a partir da Educação Patrimonial”, explica. Para matar a saudade, sempre que vai a Venâncio a profissional conta histórias para as crianças da família. Dentre as preferidas estão aquelas que ela ouvia quando era pequena – em sua maioria, engraçadas. “Gosto da multiplicidade de cenários, ambientes, nomes, personagens e lugares. Minhas histórias favoritas são aquelas não óbvias, que permitem devaneios para quem ouve e para quem conta”, ilustra. A seleção dos títulos acontece de forma livre, porém, buscando um equilíbrio entre a diversidade de clássicos europeus e narrativas mitológicas, contos africados, lendas asiáticas, trechos das Mil e Uma Noites, causos brasileiros e literatura infantil urbana contemporânea. Profissionalização – Assim como Potira, Natália Gutterres firmou no amor pelas histórias o sonho da futura profissão. Aos 10 anos, a acadêmica da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) teve seu primeiro contato com os livros, quando uma tia lhe deu de aniversário uma coleção de fábulas clássicas em um box. “Foi o melhor presente que eu tinha recebido na minha vida”, conta. Nestes livros, Natália percebeu com o que gostaria de trabalhar: “Vi a biografia do escritor e qual faculdade ele fez pra saber escrever daquele jeito. Depois de ler Faculdade de Letras eu sabia exatamente o que faria ao terminar a escola”, conta, determinada.

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LER TRANSFORMA

A estudante de Letras, que tem nos livros bons parceiros, deseja um dia fazer outras pessoas felizes ao escrever suas próprias histórias. Fantasia, mundos fantásticos e obras que tratem de temas distópicos são os gêneros literários que mais lhe agradam. Dos autores favoritos, Natália tem uma lista na ponta da língua: Álvares de Azevedo, Edgar Allan Poe, J.K Rowlling, Lord Bryon, Rick Riordan e Stephanie Meyer. E vontade de estar sempre em contato com o mundo literário não falta. Ela costuma ler mais de uma obra por vez, pois, argumenta, esta é a melhor forma para aumentar o raciocínio. “Te faz pensar e organizar os dados de duas histórias de uma vez só. De vez em quando, rola um terceiro, mas o terceiro vai mais devagar”, relata. Natália relembra que sempre foi uma menina quieta e os livros que começou a receber de presente eram seus únicos amigos. “Quando li Crepúsculo, conheci a Bella, que era tão quieta e desajeitada quanto eu. Escrevi muitas histórias em que a personagem principal era assim, e era como se ela virasse minha melhor amiga”. Para Natália, a literatura é capaz de mudar a vida das pessoas, tanto no conhecimento, quanto na expressão e na forma de pensar. “Tu podes viajar sem sair do lugar, conhecer pessoas que tu nunca vais esquecer. E elas sempre estarão ali, é só você abrir o livro”, completa. Para Rosária, Potira ou Natália, um livro pode ser o melhor lugar no mundo. “É tão importante que eu não saberia separar a literatura da minha vida”, confessa Potira. Para ela, ler e ouvir histórias dá autonomia para novos conhecimentos, contatos, questionamentos e ainda aprimora a capacidade de ler qualquer coisa com senso crítico. Mas a historiadora faz um alerta: “Para que a leitura transforme a vida das pessoas, é necessário que o ato de ler se torne parte delas”. Outro benefício da leitura, para Rosária, é o exercício de cidadania. A bibliotecária acredita que quem lê tem acesso a caminhos que levam a conhecer seus direitos e buscá-los, exigindo que sejam cumpridos. “Tenho certeza de que a leitura não transforma o mundo. Mas ela transforma as pessoas em cidadãos que podem, eles sim, transformar o mundo”. Já para Natália, a literatura representa uma fuga da realidade. É como a estudante de Letras leu certa vez em alguma obra: a “chave de casa”, um lugar infinitamente íntimo, próprio de cada um. E você, já deixou-se transformar pela literatura?

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Heranças guardadas em prateleir Quando as famílias estimulam a paixão pela literatura, além do conhecimento, também as bibliotecas passam de adultos para crianças MONIQUE RODRIGUES REPORTAGEM

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gosto pela leitura normalmente começa na infância, quando a avó, a mãe, o pai ou um irmão mais velho costumam ler histórias para a criança dormir. Ela entra em um mundo mágico, cheio de aventuras, onde existem fadas, princesas e super-heróis – o que desperta a imaginação e contribui para a sua aprendizagem. Quando essa criança tem uma biblioteca em casa, e vive rodeada de livros, este processo torna-se rotineiro e impulsiona ainda mais o seu desenvolvimento, inclusive intelectual. Esse é o caso de Iuri Vico, que adquiriu o gosto pela leitura graças ao estímulo da mãe, e de Rogério Goulart, que herdou de seu pai esse hábito, bem como algumas obras que hoje estão no seu acervo. Mônica Gomes Vico, 50 anos, é professora de literatura e contadora de histórias. Famosa em Cachoeira do Sul por realizar, há 19 anos, A hora do conto, um momento em que ela interpreta personagens da cultura infantil e faz a alegria das crianças nas escolas da cidade. A paixão pelos livros vem da infância e foi alimentada por sua avó. “Eu tinha uma avó que ficava cega, surda e muda quando lia, e ela me apresentou ao mundo dos livros”, conta Mônica. O primeiro livro lido por ela foi Sandhy, aos 6 anos de idade, e, desde então, não parou mais. “Gosto de livros, de palavras e do poder das palavras”, explica. Atualmente ela está lendo As Crônicas de Gelo e Fogo, de George Martin. A paixão de Mônica foi repassada a seu filho, para quem, desde cedo, comprava livros, pois queria que ele

gostasse de literatura tanto quanto ela. Começou adquirindo algumas obras e as guardando. Por ser professora e por apreciar a leitura, a cada semana um livro diferente que entrava em sua casa. E quando percebeu já havia uma estante cheia, já havia montado a sua biblioteca. Assim, seu filho, Iuri Vico, 24 anos, desenvolveu o prazer pelos livros. Quando criança, sempre esperava a mãe chegar do trabalho para ler sua historinha favorita na época: O Patinho Feio. Vico tinha uma relação tão forte com a mãe, que se recusava a ouvir a história quando era contada por outra pessoa. Baseada nos contos favoritos de seu filho, a professora foi apresentando outros livros para ele, ampliando conhecimento. “É através da oralidade que a criança tem o primeiro contato com as histórias, então é muito importante contar histórias para as crianças e, de preferência, dizer o nome do autor também, pois assim elas vão criando um repertório, e já vão procurando mais sobre o autor”, conta Mônica. Hoje o acervo da professora é dividido em quatro minibibliotecas: uma com livros didáticos para a preparação de suas aulas (nas áreas de Português, Inglês e Literatura), outra com os livros infantis que eram de seu filho, uma terceira com os livros que ela ganhou de editoras sobre a teoria de contação de histórias e a quarta com seus livros pessoais. Uma parte deles está dividida em duas grandes estantes de sua sala, o restante fica em seu quarto. Há diversos títulos clássicos como A Divina Comédia, As Crônicas de Nárnia, a coleção de livros de Agatha Christie e também livros chamativos como Contos de fantasmas e A dieta faz mal ao Cérebro. São tantas obras de diversos temas que Mônica perdeu as contas da quantidade de livros que possui. Leitura e escrita – Iuri Vico conta que sempre teve à disposição em sua casa vários livros, e nunca desgrudou deles. Gosta de ler e escrever desde a infância. Nesse percurso, descobriu também o seu talento para a poesia,

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eiras e quando tinha 12 anos ficou em segundo lugar em um concurso. Mesmo morando com sua mãe, ele montou uma biblioteca própria em seu quarto, com um acervo que denota suas preferências. Autores como Bob Black, Airton Ortiz e Charles Bukowsky e livros como Trinta e SeisFotos e Poemas e Admirável Mundo Novo fazem parte da coleção de Vico. Ele concorda com sua mãe que não se deve dar dicas de livros para as pessoas, e acrescenta: “a escolha de um livro é pessoal e muda de acordo com a personalidade da pessoa, ela tem que se sentir livre e não forçada a ler uma certa obra”. E para um leitor estimulado desde os primeiros anos, não surpreende que outra paixão tenha se manifestado: a da escrita. “Leio desde muito cedo, gosto tanto de ler e me encanto com as histórias, que ultimamente, além de poemas, tenho escrito também crônicas. Entre elas há uma que fala sobre a importância da leitura e como os livros podem levarnos a lugares antes desconhecidos”, declara Vico. O acervo dele está guardado em seu quarto, onde ele mantém uma estante próxima de sua cama, com todos os seus livros ao alcance de sua mão. Mônica e Vico costumam trocar livros entre eles, o último foi O gringo, de Airton Ortiz, que a mãe repassou ao filho.

“Tudo que caía em minhas mãos eu lia” Para Rogério Goulart, 61 anos, a história não foi diferente. A literatura entrou em sua vida por influência do pai, que, segundo ele, foi uma pessoa autodidata, que tinha uma cultura geral imensa. “Ele foi um homem que leu muito a literatura francesa e inglesa clássica, além da literatura brasileira”. Goulart lembra que seu pai foi alfabetizado em casa, pois morava no interior do município de Rio Pardo, e lia para ele na infância o livro Seleta em prosa e verso. Assim, aos nove anos de idade, apenas, já pegava obras de Jorge Amado do acervo de seu pai, escondido, e a partir daí nunca mais parou de ler. Com o passar do tempo, Goulart foi procurar coisas do seu gosto na biblioteca pública da cidade de Rio Pardo. “Tudo que caía em minhas mãos eu lia”, conta. Com isso, começou a desenvolver seu senso crítico, debatendo com seu pai acerca do conteúdo dos livros. Impulsionado pelo desejo de estar em contato com as obras, em sua juventude trabalhou em uma livraria. “Pra mim aquilo era o paraíso, pois ninguém poderia

brigar comigo por eu estar lendo”, recorda. Goulart começou a montar uma biblioteca em sua casa com alguns livros do acervo de seu pai, e foi aumentando a biblioteca que hoje conta com 1.200 exemplares. Uma parte desses livros fica em uma estante na sua sala de jantar, próximo à mesa, onde basta retirar um livro e sentar-se para ler. São obras de diversos autores e temas, como Erico Verissimo e Charles Bukowski. Devido a um problema de visão, Goulart não pode mais ler seus livros, porém, utiliza a internet para dar continuidade na leitura de tudo o que gosta. “Apesar dos erros de português e também de muitas bobagens que encontramos, a internet abre portas para muitas coisas”, avalia. Por ser um homem habituado à leitura – e apaixonado por ela –, transmitir isso a seus filhos foi algo natural. Ele comentava tudo o que lia, despertando neles o interesse. Goulart conta que hoje as táticas usadas para aproximar os filhos da literatura são outras: “Eles são de outra geração, pegaram a geração da televisão. Na hora da leitura eles

já estavam com fones de ouvido, não tinha mais aquela coisa romântica de dizer ‘senta filho que vou te ler um livro’. Então você, no papel de pai, vai se adaptando, e vendo do que eles gostam, e assim participando, dando dicas”. Sobre a importância dos livros na educação dos filhos, Goulart argumenta: “ler, para mim, é muito importante. A literatura nos proporciona algo que nenhuma outra coisa pode proporcionar. A literatura dá maturidade, conhecimento e o que nenhuma universidade pode dar. Livros proporcionam a cultura geral. É tão bom abrir um livro e ser surpreendido”. E dentre tantas páginas já consumidas, ele diz que se ele pudesse indicar um livro aos leitores, indicaria os de Erico Veríssimo, por ser um escritor gaúcho e em suas obras falar sobre a nossa terra, e sobre a nossa língua. “A literatura me acompanhou durante toda a vida, durante a vida do meu pai e agora acompanhará a vida de meus filhos. Pois todo pai que lê acaba transmitindo ao outro o gosto pela leitura.”

ACERVO

Goulart: No acervo, obras que eram de seu pai

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Mônica: Há 19 anos ela conta histórias para crianças

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Santa Cruz homenageia Lélia Almeida A escritora é também consultora na área de Direitos Humanos, Gênero e Segurança Pública MAHARA DE BRITO ENTREVISTA LAURA GOMES RESENHA

“Me senti muito honrada e acho que é sempre muito importante este tipo de iniciativa, porque representa uma espécie de reconhecimento do trabalho do escritor.” Essas foram as palavras da escritora Lélia Almeida ao falar sobre o sentimento em relação ao convite para ser a homenageada da 27ª edição da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. Há alguns anos ela foi patronesse da Feira e, por isso, hoje, diz sentir-se muito grata pela homenagem, já que uma parte importante de sua vida profissional e intelectual viveu aqui. Na Feira, que ocorre entre os dias 5 e 14 de setembro, a homenageada vai lançar a segunda edição do livro

O amante alemão, além de apresentar um volume de crônicas que está sendo editado pela Editora Confraria do Vento, do Rio de Janeiro. “Vamos fazer autógrafos e palestras”, disse Lélia. Nascida em Santa Maria, a escritora, que hoje reside em Brasília, já lançou livros de ensaios, crônicas, esquetes e novelas, além de uma edição contendo seus posts no Facebook e postagens feitas em seu blog, Mujer de Palabras (http://mujerdepalabras. blogspot.com.br). Também teve participação na antologia O Livro das Mulheres, organizada por Charles Kiefer, em 1999. Lélia lecionou em universidades

por muitos anos e, atualmente, é consultora na área de Direitos Humanos, Gênero e Segurança Pública, junto ao Ministério da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. É, ainda, tradutora de língua espanhola e colunista de periódicos eletrônicos. Trabalha com temas relativos a gênero e movimentos de mulheres e literatura de autoria feminina. Foi a criadora e coordenadora nacional, durante três anos, de um projeto de segurança pública do Ministério da Justiça chamado Mulheres da Paz. Confira a entrevista concedida pela escritora Lélia Almeida à reportagem da Agência A4:

maneira geral, vive tempos de assombrosos retrocessos no que se refere à promoção dos direitos humanos. Isto é muito assustador, como se déssemos um passo para frente e muitos para trás. É um momento muito desafiador, onde forças da reação e forças de transformação se debatem duramente. Uma pena, mas acho que estamos num momento de retrocesso obscurantista lamentável.

mesmas dificuldades históricas que sempre enfrentaram para que possam se desenvolver plenamente em suas potencialidades. Pelo menos a minha geração não verá a transformação pela qual temos lutado desde muito tempo.

HOMENAGEADA

DIREITOS HUMANOS

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Como defensora dos direitos humanos, qual teu papel de influência na transformação da sociedade? De que forma acreditas que contribui no pensamento das pessoas em relação aos direitos humanos? Minha militância no movimento de mulheres data de muito tempo, e como escritora questiono as questões relativas às mulheres e seus problemas na nossa sociedade, no nosso tempo, e imagino que escrevendo sobre estes temas, de maneira crítica, posso contribuir, minimamente, para que possamos entender os dilemas que as mulheres vivem em suas vidas. Escrever sobre estes temas, abordandoos a partir de uma bibliografia inteligente e de um debate crítico, pode trazer ao público algumas polêmicas importantes e que sejam esclarecedoras para que as pessoas possam desmistificar preconceitos cristalizados e viver melhor. Acreditas que a sociedade brasileira precisa evoluir nestes aspectos? Acredito que a sociedade brasileira, assim como o mundo, de uma

Nesta mesma perspectiva, o que pode ser dito sobre os direitos da mulher? Qual o lugar que ela ocupa, hoje, na sociedade? O lugar que a mulher ocupa na sociedade hoje, mesmo que algumas ocupem cargos de poder inimagináveis há muito pouco tempo (mulheresnaPresidência,porexemplo), é um lugar de subalternidade, de coadjuvante. As mulheres seguem ganhando menos que os homens, mesmo tendo o mesmo (ou melhor), preparo que eles e sua contribuição para a cultura ainda é negligenciada e desvalorizada. E ainda que tenhamos muitos direitos institucionalizados, as mulheres continuam enfrentando as

Poderias citar exemplos de iniciativas em andamento no Brasil que contemplem a garantia e a defesa dos direitos humanos? Todas as ações propostas pela plataforma da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República que trata de temas relativos às pessoas com deficiência, crianças e adolescentes, pessoas idosas, comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT), adoção e sequestro internacional, mortos e desaparecidos políticos, combate ao trabalho escravo, combate às violações e direitos para todos. Há muitas ações em que o Brasil foi pioneiro. Conheço bastante sobre o Programa de Proteção a Criança e Adolescente Ameaçados de Morte (PPCAAM), por exemplo, que é uma iniciativa da maior relevância.

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Amor proibido

da

DIVULGAÇÃO/LAURA ALMEIDA

FEIRA DO LIVRO

Tens o hábito de frequentar Feiras do Livro? Acreditas que o público vem aumentando ou diminuindo? Por quê? Frequento muitas Feiras do Livro em todo o país e fora daqui também. As feiras de uns tempos pra cá se proliferam e, portanto, o público é também cada vez maior. Há muitas atividades promotoras da leitura que são importantes e o livro é um produto cada vez mais

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popular, mas isto nem sempre é garantia de boa qualidade do que se escreve e do que se lê. De todas as maneiras, é importante que as pessoas tenham cada vez mais acesso aos livros e ao convívio com os escritores. Como já morastes em Santa Cruz, provavelmente já frequentastes a Feira daqui. Se sim, qual tua visão sobre ela? Já frequentei a feira daqui e sei que elaestáemfrancaexpansãonosúltimos anos, trazendo nomes importantes da literatura nacional e internacional, promovendo bons debates, e isto é um dado de qualidade importante. Posso dizer, pelo que observo de longe, que a Feira está bombando! Na última década tornou-se um comentário recorrente que a Feira do Livro não é mais um espaço de encontro da intelectualidade local. Qual tua opinião? Quando penso no êxito das publicações locais, como as antologias de contos organizadas pelo Romar Beling e pelo Rudinei Kopp, Nem te Conto I e II (e a terceira edição, que sai este ano),

acho que este tipo de afirmativa não procede. O êxito de vendas, autógrafos e divulgação dos autores locais nestas antologias não parece corresponder a esta afirmativa. Mas há lugares, sim, em que as feiras de livros viraram verdadeiros circos, espetaculares, em que não se valorizam os bons autores e onde prima uma visão comercial e bastante superficial, por vezes, medíocre, das questões referentes ao processo cultural que envolve o livro e o trabalho dos escritores. Acreditas que a condição de homenageada amplia a visibilidade de um escritor(a) para quem não acompanha literatura? As homenagens, os prêmios e todo tipo do reconhecimento do trabalho do escritor são iniciativas que ajudam a fazê-lo mais conhecido, é claro, porque ele só será conhecido se for lido e isto tudo ajuda muito, sim. Por último: o que esperas da Feira? Rever os amigos, boas conversas, bons debates. O encontro do autor com o público leitor é um momento de excelência, de boas trocas.

HOMENAGEADA

O que fizestes para ser a homenageada da Feira do Livro? Este título é importante? Por quê? Eu não sei exatamente o motivo do convite, imagino que seja pelo fato de O amante alemão ter sido contemplado pelo Prêmio Açorianos no ano passado. Mas me senti muito honrada e acho que sempre é muito importante este tipo de iniciativa, porque representa uma espécie de reconhecimento do trabalho do escritor. Já fui Patrona da Feira do Livro de Santa Cruz em outra ocasião e sou muito grata por esta homenagem, já que uma parte importante da minha vida profissional, intelectual e como escritora e editora eu vivi aqui.

Retratar uma cultura vista pelos olhos de um estrangeiro sempre vai ser um desafio. Ainda mais quando essa cultura é transmitida por alguém que tem a mesma nacionalidade, mas que está localizado em território colonizado por imigrantes. Esse é um dos aspectos abordados no livro O amante alemão, escrito por Lélia Almeida, homenageada da 27ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. Lançado em 2013 pelo Instituto Estadual do Livro e pela Companhia Rio-grandense de Artes Gráficas, de Porto Alegre, o livro conta a história de Duzília Flores, jornalista que se muda para Santaluz (nome fictício para Santa Cruz do Sul) em função do seu trabalho. Com 351 páginas, O amante alemão apresenta as impressões da protagonista sobre a cidade de cultura alemã e sobre Johan Hermann, personagem alemão com o qual Duzília se encontra em alguns dias de março, durante 12 anos, para viver uma paixão. Porém, a paixão é proibida, já que Johan é casado com Brigitta e mora na Alemanha. Autora de O amante alemão, Lélia Almeida nasceu em 1962, no município de Santa Maria. A escritora atuou como professora universitária e hoje mantém o blog Mujer de Palabras (http://www. mujerdepalabras.blogspot.com) e escreve para veículos eletrônicos de todo o país. O amante alemão ganhou, em 2013, o Prêmio Açorianos na categoria narrativa longa. Lélia também é autora dos romances Antônia (1987) e Querido Artur (1999). A escrita da autora é de fácil entendimento e conduz a história deformaclaraparaoleitor.Através dos pensamentos de Duzília Flores é possível colocar-se no lugar da personagem, experimentar como é viver em Santaluz e perceber o seu sentimento em relação ao amante alemão. Em alguns momentos a narrativa se confunde, por trazer mais personagens e pensamentos, mas com o decorrer da história o leitor encontra a explicação para o que está sendo narrado. O livro é uma mistura de amor proibido com uma cultura a ser descoberta por Duzília.

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Um universo imagético e criativ Feira do Livro incentiva as crianças a se envolverem com o mundo literário antes mesmo da alfabetização ANDRESSA BANDEIRA CAROLINE FAGUNDES REPORTAGEM

Cristiane, as narrativas são capazes de transcender a leitura e a escrita. “É milenar a questão do contador de histórias. Se nós formos pensar nas tribos indígenas, por exemplo, nós tínhamos os sábios, que tinham autoridade de passar de tribo em tribo contando histórias ao longo do percurso”, assinala. Conforme a vice-diretora, às vezes os familiares dos alunos não têm tempo para promover o contato entre as crianças e a literatura, o que é papel da escola também. “Se prepara o aluno para contar uma história lendo o que está na sua frente” – e, para tanto, não é necessário que a criança já esteja alfabetizada. Ela precisa, numa primeira instância, saber da existência deste universo, que o acesso a ele é possível. Assim, ir à Feira do Livro é também escutar, é ver uma programação pensada. “A Feira do Livro não é mais só livro. É a arte. A arte escrita, a arte falada, a arte expressada. A arte visual, a arte cênica, a música”, acredita Cristiane. Partindo deste contexto, na Escola Educar-se os professores trabalham toda a programação da

Feira com os alunos, dentro e fora da sala de aula, evidenciando que o evento não se restringe ao ato de comprar livros. O objetivo vai além. Não é só incentivar o comércio, mas também o contato desde cedo com os autores das obras, que são convidados a palestrar na Escola, por exemplo. A ideia é viver a proposta, efetivamente, segundo Karen da Costa Síppel, coordenadora pedagógica de Educação Infantil ao 6º ano. Outra prática estimulada pela instituição é a ida dos pais ao evento, juntamente com seus filhos. Lá eles podem dar mais atenção às crianças, diferente dos professores, que atendem muitos alunos ao mesmo tempo. Karen comenta que também durante as reuniões pedagógicas, a Escola incentiva os pais a terem momentos de contato com a leitura junto de seus filhos. “A criança faz essa leitura através da imagem e da imaginação, se colocando naquele lugar, na história, na narrativa que vai sendo contada”, explica. Desde bebês - Mãe da pequena Clara, a médica infectologista

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uando se passeia pela Feira do Livro de Santa Cruz do Sul vê-se de tudo. Peças teatrais, animadores culturais, vendedores, cachorros, gatos, livros (claro) e uma parcela de visitantes muito especiais: as crianças. De todas as idades e escolas. Aliás, de todas as idades mesmo. Até as que não sabem ler ainda, mas já vão descobrindo no universo das letras um lugar cheio de magia e imaginação – o que, segundo a pedagoga Kamila Billig, reflete no desenvolvimento cognitivo, pois aprimora o repertório, amplia o conhecimento geral, aumenta o vocabulário e estimula a criatividade, contribuindo posteriormente na vida escolar. Dentre a parcela de pequenos apreciadores do evento estão os alunos da Escola Educar-se, que há 30 anos desenvolve um trabalho efetivo com a literatura. Segundo a vice-diretora Cristiane Iserhard, ler não se resume ao ato de decodificar. Permite “entrar e compreender o universo da história, que transita no simbólico, no imagético das crianças e também dos jovens”. Para

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tivo Cristiane Hernandes considera a Feira do Livro um evento cultural muito importante para todos, principalmente para as crianças, mesmo não alfabetizadas, por estimularogostopelaleitura.Segundo ela, o encontro desperta o interesse para o fantástico mundo das histórias infantis, desenvolvendo a imaginação e a criatividade. Cristiane conta que habitualmente instiga suas filhas à leitura. “As meninas ganham livros desde que nasceram. Costumamos fazer leituras diárias e, além disso, eu e o pai delas também temos livros da nossa infância guardados, que oferecemos a elas”, conta a mãe. Para a pedagoga Kamila, ouvir os pais contando histórias antes mesmo de nascer cria no bebê uma intimidade, um laço que se torna um momento de cumplicidade. “O ouvido é o primeiro órgão sensorial a se desenvolver. Por este motivo, é fundamental estimular este sentido. Imediatamente depois de nascer, a criança consegue reconhecer a mãe pelo tom de voz e o desenvolvimento da audição está ligado à aquisição da linguagem. Ver os pais lerem, ir a

Feiras do Livro, olhar os desenhos (antes de estar alfabetizado) contribui para o desenvolvimento do leitor. É fundamental ter contato com a leitura, tocar, brincar com os livros”, avalia. Atos como este não estimulam apenas o imaginário das crianças. Kamila afirma que a prática de ler para o filho “estabelece um vínculo afetivo importante que ajuda no desenvolvimento emocional da criança”. Como mãe, ela acredita que é papel da família incentivar a leitura. “Uma atividade que meu filho sempre gostou é eu ler uma parte da história e pedir para que ele continue, criando finais diferentes e novos personagens. Essa ‘brincadeirinha’ com uma historinha vai estimulando a criatividade da criança”, pontua a pedagoga. O trabalho de leitura em grupo também é bastante rico e desperta mais ainda o interesse dos pequenos, conforme a vice-diretora da Educarse. “Quando a leitura está no grupo reafirma a questão do pertencimento. Este grupo, então, é um grupo que busca, através da leitura, outras

formas de ver o mundo”. Tanto Cristiane como Karen acreditam que os alunos que têm contato com os livros antes mesmo de serem alfabetizados se tornam leitores melhores, pois alimentam o desejo pela leitura e a tornam, desde cedo, parte da sua realidade. É com este propósito que a Escola Municipal Infantil (EMEI) Mundo Mágico trabalha. Segundo a diretora da instituição, Carla Rodrigues, a leitura é o básico da educação. “Incentivar as crianças a lerem, manter o contato com os livros e viver esse mundo de faz de conta faz parte da realidade deles, é nesta fase que eles estão. E isso é muito importante. Eles gostam e pedem”. A diretora explica que na escola infantil as crianças possuem uma biblioteca própria, além da biblioteca que é usada pelos professores, para retirar livros. “Saindo deste ambiente e visitando a Feira do Livro eles podem ver que não é só na escola que existe esse contato”, comenta. Conforme Carla, as visitações da EMEI Mundo Mágico à Feira do Livro aconteciam antes mesmo

da sua gestão como diretora, quando assumiu há três anos. “Nós organizamos grupos de passeio para visitar a Feira do Livro tanto nos turnos da manhã quanto nos turnos da tarde, já que às vezes há crianças diferentes nas turmas, pois algumas frequentam só meio turno”, completa a diretora. Afora as atividades em torno do evento, a escola promove também a Semana da Criança, com grupos de teatros e contadores de histórias, para estimular o imaginário dos pequenos. Para Kamila, que além de mãe e pedagoga também possui o hábito da leitura, o único patrimônio que ninguém tira do ser humano é o conhecimento. “A leitura nos proporciona essa transformação, é como dar asas à imaginação, ajuda a formar cidadãos críticos, capazes de contribuir para a evolução de ideias. Ler e saber interpretar é a principal atividade para expandir os seus horizontes, aumentar o seu nível de cultura, ganhar mais vocabulário e, em consequência, se tornar uma pessoa mais inteligente”, acredita.

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INCLUSÃO

Leitura para além das dificuldades

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Salas de recursos auxiliam na inclusão de deficientes visuais no mundo dos livros CAROLINE FAGUNDES EDUARDO FINKLER REPORTAGEM

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om o barulho do despertador, Luís Alexandre de Oliveira acorda, coloca seus óculos e caminha cerca de meia hora até a Escola Estadual Monte das Tabocas, que fica na Rua Rufino Pereira, no centro de Venâncio Aires. Esta é a rotina de Luís Alexandre, que frequenta a sala de recursos para deficientes visuais desde 1996. Junto a ele, mais 19 alunos com idades que variam de cinco a 60 anos são auxiliados pela professora Silvania Maria Laissmann.

A profissional conta que, nos mais de 20 anos como educadora, nenhuma experiência foi tão gratificante como a de ensinar Braille para deficientes visuais. Silvania explica que “a sala de recursos foi criada com o propósito de atender os alunos de Venâncio Aires e região”. Apesar de muitos alunos já terem concluído o Ensino Médio com o auxílio da sala, ela ressalta: “a sala de recursos é um apoio para que a inclusão aconteça de fato, mesmo porque

os que ainda estão no ensino regular frequentam este espaço no turno oposto”. Em relação à dificuldade para o aprendizado, Silvania destaca que “quando o aluno não tem outra deficiência (mental) a aprendizagem é rápida, dependendo da frequência com que ele vem, se é uma ou duas vezes por semana”. A profissional esclarece que, geralmente, em meio ano o aluno domina o código Braille, e a escrita antecede a leitura. Para a educadora “é necessário dominar o Braille para acompanhar o

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Trabalho de referência – Em Santa Cruz do Sul a Escola Estadual de Ensino Médio Santa Cruz é referência na educação de deficientes visuais, com duas

salas de recursos, uma para cegos e outra para deficientes intelectuais. A sala surgiu no ano de 1997, quando a instituição recebeu uma aluna vinda de Porto Alegre, que já recebia atendimento especializado lá. Ao perceber a necessidade de dispensar tratamento especial para a menina, a professora Seli Flesch adotou a ideia de trabalhar especificamente com ela, transformando uma sala de dentista que estava sem utilização na sala de recursos. Há sete anos o professor Reginaldo Soares, formado em Educação Física e com capacitação para trabalho com deficientes visuais, atua na sala de recursos auxiliando crianças e jovens com deficiência visual. Segundo ele, o espaço é um suporte para o deficiente. “Ele vai na escola regular e aqui a gente faz um complemento com a educação dele. Ajudamos a transcrever algumas coisas para Braille ou, quando precisa, transcrevemos para a professora poder entender. E quando eles são pequenos a gente ensina a ler e escrever em Braille.

Como uma escola normal, a gente vai alfabetizando para que eles possam frequentar uma escola regular”, explica o profissional. Na sala, o atendimento é feito, de preferência, individualmente ou em grupos de até três alunos, conforme a necessidade e o perfil de cada um. Nos encontros realizados uma ou duas vezes por semana, são feitos trabalhos de psicomotricidade, de motricidade fina, de leitura, de escrita, de recortes, enfim, tudo que possa estimular a criança a se desenvolver melhor. Livros, máquina de escrever em Braille, computadores adaptados, materiais em relevo e brinquedos para estimular o tato fazem parte das atividades. Segundo Soares, é através das miniaturas que o cego conhecerá o mundo. “A visão é responsável por cerca de oitenta e cinco por cento do que a gente recebe de informação. O aluno cego está privado disso, então tem que estimular tudo isso através dos sentidos que sobram, os sentidos remanescentes”, completa.

Os livros em Braille que a Escola Monte das Tabocas possui foram doados pela Fundação Dorina Nowill para Cegos, que atende cerca de 7 mil instituições, entre bibliotecas e escolas. A Fundação possui cerca de 2.500 títulos, que vão dos clássicos da literatura até best-sellers. Quando transformado em Braille, um livro impresso triplica o seu tamanho (em relação ao número de folhas) e, por este motivo, a Instituição faz os livros mediante projeto e patrocínio. Depois de analisado o custo/benefício define-se qual será o formato da obra (áudio ou impresso).

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ensino regular ou será aluno ouvinte até aprender o mesmo”. Na sala também é possível aprender sobre orientação e mobilidade, maneiras para se ter uma vida mais tranquila e tudo o que diz respeito ao deficiente. À medida que acontece o avanço na aprendizagem, outros elementos são necessários para acompanhar o processo em sala de aula regular. E quando o aluno apresenta dificuldades, novas técnicas são usadas para que ocorra a aprendizagem do código Braille. “As pessoas que perdem a visão com determinada idade, por problemas de diabetes, por exemplo, às vezes aprendem a escrever, mas a leitura é

bastante complicada pela falta do tato nas pontas dos dedos”, ressalta Silvania Laissmann. O aluno Luís Alexandre de Oliveira acompanha os trabalhos da professora desde a primeira turma. Apesar de já ter se formado no Ensino Médio, ele não possui emprego. “Na época que eu concluí o Ensino Médio havia muito preconceito na sociedade para com os deficientes visuais, mas aqui eu achei uma forma de aprender mais e pude ajudar os colegas na aprendizagem do Braille”, conta. Há também Valdir José da Costa, que possui seu próprio negócio como massagista autônomo e, há cerca de 12 anos, frequenta a sala de recursos da Escola Monte das Tabocas. Ele salienta que “é importante os deficientes participarem de qualquer tipo de atividade, pois, a partir daí, é mais fácil a sociedade aceitar o deficiente dentro dela”. Foi pensando nisso que Silvania fundou a Associação dos Deficientes Visuais de Venâncio Aires - Adeviva. A professora conta que quando sai para outra cidade e tem uma atividade que é relativa ao deficiente, procura levar um dos seus alunos. “Eles sabem o que necessitam. Nós possuímos todos os sentidos, então ninguém melhor para falar sobre o problema do que quem o vivencia”. Segundo Silvania, “para nós termos ideia de como é ser cego teríamos que ficar pelo menos um mês com os olhos vendados”.

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Eles se transformam e podem te tra Personagens literários passam por mudanças carregadas de significados e podem influenciar a vida dos leitores

FANTASIA

ANDRESSA BANDEIRA REPORTAGEM

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er é capaz de transformar. É nisso que aposta o tema da 27ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. Além de provocar mudanças em seus leitores, a literatura é capaz de transformar seus próprios personagens. Médicos que viram monstros, meninas loiras que crescem e diminuem de tamanho e homens que passam a ser baratas são alguns exemplos destas metamorfoses. “Geralmente esses personagens integram a literatura fantástica, porque estão no âmbito do inexplicável, do estranho”, explica a professora do Mestrado em Letras da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Ana Claudia Munari Domingos. Segundo a docente, as criaturas fantásticas, monstros e seres que estão entre o humano e animal, ou entre o que é terreno e etéreo, são personagens literários desde sempre. Eles serviam como forma de explicar o universo, o ser humano e a natureza antes da ciência ou quando esta ainda não conseguia responder as dúvidas existenciais dos homens. “Na literatura, os seres que se transformam também podem ser vistos como ‘duplo’, a natureza dual do ser humano e da vida, o jogo entre luz e escuridão, mal e bem, Deus e diabo, vida e morte”, diz Ana. Também é possível pensar no duplo sob a perspectiva psicológica, como ocorre no livro O médico e o monstro, de Robert Louis Stevenson. O personagem Hyde é o lado obscuro da personalidade do médico Jekyll, “uma espécie de id que se liberta para fazer

aquilo que está apenas no desejo do outro”, analisa a professora de mestrado. Ana observa, acerca da narrativa, mais uma curiosidade: “interessante que Hyde sugere hide que, em inglês, significa escondido, enquanto que o sentido da palavra ‘monstro’ tem sua origem em mostrar, apontar, ou seja, mostrar o outro lado do ser, aquele que a civilização nos fez esconder.” Então, Hyde é o lado escondido de Jekyll, que se mostra e que se torna monstro. “É por isso que essas criaturas costumam surgir à noite, como vampiro ou lobisomem”. Quando as transformações de personagens literários são analisadas em obras infantis tomam um aspecto um pouco diferente. Como, por exemplo, em Alice no País das Maravilhas, livro do inglês Lewis Carroll. Alice, a personagem principal, ora cresce excessivamente, ora fica minúscula. “Isso tem sentido no fato de que Alice é uma criança, um indivíduo em formação, que está construindo sua personalidade, e as histórias para as crianças costumam mostrar jornadas de crescimento, de passagem, de transformação da infância para o mundo adulto, quando algo é descoberto, quando o mistério é solucionado”, analisa a docente de Letras. Ana lembra também que, durante a história, a própria Alice sugere estas mudanças, quando diz ao Coelho Branco que não sabe mais quem é, pois já se transformara muitas vezes desde que tinha acordado.

Em narrativas como estas a constante é a dualidade, o jogo do indivíduo contra si, ou ainda, contra o outro. “O monstro costuma ser perseguido porque ameaça a civilidade, ‘mostra’ o lado selvagem, irracional ou

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transformar não espiritualizado do homem”, explica Ana. “A redenção desse mostro pode se dar quando ele luta para sobrepujar o seu lado monstruoso, quando ele morre e se sacrifica, o que significa a vitória da civilidade, ou quando

O PODER DA LEITURA Para a professora do Mestrado em Letras da Unisc, a importância da literatura está no estatuto que possui – o de arte. E, sendo arte, a literatura nos coloca em contato com a nossa essência, “com a dimensão infinita e inexplicável

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da existência humana”. Fazendo parte da cultura, a literatura se torna “uma forma de nos ajustarmos ao mundo, à nossa gente, ao nosso meio e, ainda, de nos darmos a conhecer ao outro”, reflete. Ao ser a arte da palavra, a literatura é uma artesã da linguagem verbal e, como diz Ana, “sabemos que o domínio da linguagem, como forma que representa o mundo e o domina, é essencial para a inserção do sujeito em sua cultura.” Segundo a estudiosa, a literatura não é serva, nem de ideologias nem de indivíduos – ela é o lugar da liberdade, “onde a imaginação nos permite vivenciar o que a realidade não comporta e, assim, enxergamos o mundo como uma estrutura muito mais ampla do que nosso pequeno círculo”. Para ela, imaginar, prospectar e até o ato de fingir são capazes de ajudar na construção de um mundo melhor. “Linguagem e imaginário são, assim, os elementos da literatura que, podemos dizer, têm serventia e são pretexto para tudo.” Ana crê que toda ação que incentiva a leitura é válida e, nesse sentido vê as feiras de livros como iniciativas positivas. “Há bons e maus eventos literários, depende muito que objetivos os colocam em cena, se o mais importante é dar espaço ao comércio de livros em detrimento da discussão sobre livro. Uma boa feira do livro tem de colocar seu objeto como foco, promovendo o mercado do livro”. Ela ainda assinala que eventos desta natureza precisam

dar espaço para livreiros e fazer circular o rol de publicações, trazer autores não só para autógrafos, mas para conversar sobre suas obras. “Uma boa feira é isso: olha o livro, gostoso, fresquinho! Olha o clássico baratinho!”. A professora considera que o leitor não “lida” com a literatura, ele a põe em funcionamento. Para preencher as lacunas de uma história, ele utiliza seu próprio conhecimento, repertório, experiências e até suas dúvidas. “Essa é a maravilha da literatura, porque lemos o texto com aquilo que somos, então nós somos uma parte do texto”. Segundo Ana, o filósofo Aristóteles classificava esses acontecimentos na catarse, quando acabamos por nos colocar no texto, nos identificando com aquele drama e vivenciando-o com os sentimentos que ele pode nos despertar. Podemos assim, amar, sofrer, acusar, revoltar-nos e nos surpreender. Isso tudo sem que as consequências atinjam a esfera da nossa vida real. Certo, para Ana, é que o leitor nunca sai ileso da experiência vivida ao ter contato com uma narrativa. “Sempre que habitamos um livro, voltamos diferentes, deixamos parte lá, que a história da leitura vai contar, e trazemos em nós um pouco da vida que roubamos das histórias. Um leitor de verdade sabe jogar esse jogo, sabe escolher o tabuleiro, os personagens, sabe se enrodilhar nas armadilhas só pelo prazer de escapar, porque um bom livro literário é sempre uma vitória para um leitor”, afirma ela.

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ele é aceito, caso em que o equilíbrio é mantido porque aprendemos a conviver com o estranho”, esclarece. Já na literatura infantil é comum que este monstro não seja o vilão da narrativa, pois a criança tem uma capacidade maior de assimilação do estranho. Conforme Ana, os pequenos não se espantam porque suas noções de civilidade ainda não se firmaram. Na literatura contemporânea e também na televisão e no cinema, criaturas com a habilidade de transformar-se têm aparecido com frequência, muitas vezes como heróis e não vilões. “É uma característica deste tempo, não apenas quando buscamos afirmar o sentimento de tolerância e aceitação do diferente, mas também porque os limites da tecnologia nos colocam na esfera de uma espécie de descrença: parece que tudo pode acontecer, então nada nos parece inverossímil”, argumenta Ana. “Assim, é fácil transformar o estranho, aquilo que parece impossível, em verossímil, e é isso que a literatura faz”, completa.

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Patrono

Aldyr Garcia Schlee Escritora Homenageada

Lélia Almeida

27ª DO SANTA CRUZ DO SUL

PREFEITURA MUNICIPAL DE

SANTA CRUZ DO SUL

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