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Luis Manuel Gaspar

Luz Acesa nos Bastidores GALERIA ACERT 路 19 MAR A 20 ABR 2016



Compreender é associar, para a inteligência não há melhor exercício do que a imagem”, escreveu Jean Epstein. E os trabalhos de Luis Manuel Gaspar dão-lhe certamente razão. Entre a natureza e a máquina, entre o humano e o não humano, certas imagens desta exposição descobrem nexos que se fortalecem do prévio afastamento que vêm desfazer. Encontramos o planisfério terrestre nas manchas da quitina de um artrópode, flores que se humanizam num sexo, seres humanos que adquirem traços de um insecto ou de um crustáceo, uma cabeça que também é uma lâmpada e um olho, tecidos cujas dobras se desfazem em folhagem, rostos que admitem uma visão subcutânea, madeixas de cabelo a lembrarem patas de aranha… Tudo desenhado com o máximo rigor, mas entre uma figuração realista e a transfiguração anti-realista resultante das conexões improváveis que nos são reveladas. Se estas imagens nos parecem “muito lentas”, como disse António Barahona, é porque precisamos de as decompor, de analisá-las a partir das sensações contraditórias que produzem em nós. E nesse exercício revelam-se as palavras que as habitam. Muitos dos desenhos de Luis Manuel Gaspar subentendem as palavras da poesia. Não apenas porque a surpresa que provocam pode resultar de articulações metafóricas, de um tropo que liga dois reinos para produzir um terceiro, mas também porque, em muitos casos, os desenhos se destinaram a acompanhar poemas, ou partiram de textos; e ainda porque, nas pranchas dedicadas a vários poetas, encontramos as imagens que Luis Manuel Gaspar quis que víssemos nos versos reproduzidos, ou a par deles. É um mundo onde as imagens da poesia e as imagens visuais se interpelam mutuamente. Livremente. Um mundo para ver, ler e imaginar. Fluido, delicado, irónico e inquieto. E cheio de gravidade. Rosa Maria Martelo

Na capa: «Nevada» ‘Caderno de Leituras n.º 33’, Edições Chão da Feira, Dez. 2014 Na página da esquerda: desenho para ‘Cão Celeste’ # 6, Dez. 2014


Luís Manuel Gaspar cria um universo imagético que complementa a poesia portuguesa publicada nas últimas décadas.

encontramos um dos aspetos mais originais deste trabalho, um diálogo intenso e íntimo com a linguagem verbal, cujo resultado é a criação de uma outra gramática, visual, sim, mas com o verbo sobrevoando cada traço e cada mancha de cor.

Luis Manuel Gaspar é presença frequente em muitas das boas edições de poesia que têm circulado nas últimas décadas. Nas capas que desenha, nas ilustrações que cria, no rigor com que corrige e edita poetas pouco ou muito conhecidos, a sua mão nota-se no trabalho que é sempre de muitos, e dele também. Nas bandas desenhadas que foi criando a partir de poemas

É esse trabalho tão íntimo junto das palavras dos poetas que aqui se poderá ver - e ler, porque as imagens também se lêem e Luís Manuel Gaspar trabalha com consciência aguda desse facto. Entre capas e outras imagens, a exposição deste autor mostra um percurso atento e uma entrega dedicada à construção de um outro universo, nem paralelo nem alternativo ao dos poemas, antes complementar.

Oganização da ACERT, em colaboração com o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa

ESTRUTURA FINANCIADA POR

Associação Cultural e Recreativa de Tondela Rua Dr. Ricardo Mota, 18; 3460-613 Tondela


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