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Maioria dos idosos não sabe


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último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, mostrou que o país tem cerca de 20 milhões de idosos e que a expectativa de vida do brasileiro está em torno de 73,5 anos. Mas muito idosos estão indo muito mais longe que isso. Pelo censo de 2010, nada menos do que 24 mil brasileiros têm mais de cem anos. Hoje, sete anos depois, esse número deve ter chegado a 26 mil. Que lições esses centenários estão dando aos gerontólogos e aos pesquisadores dos mistérios da vida longa? A expectativa de vida dos brasileiros que nasceram no começo do século 20 era de apenas 34 anos. Hoje vivemos mais que o dobro, com uma expectativa de exatos 73 anos e cinco meses. Em 78 cidades brasileiras, os idosos já representam 20% da população. Delas, 64 são no Rio Grande do Sul, têm pequeno porte populacional —no máximo, 11,5 mil habitantes —, e são rurais. Isso, de início, já dá uma pista: a vida pacata, longe das atribulações das grandes cidades, pode ser um fator de longevidade. Chegar aos 100 anos com saúde, dizem os especialistas, é um sonho possível. Mas o estilo de vida que levamos é essencial para se viver mais e melhor. “Existe um consenso entre os cientistas de que o peso da genética na longevidade é de apenas 25%”, afirma o geriatra Clineu de Mello Almada Filho, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Já os fatores ambientais e os hábitos de vida respondem por 75% de suas chances

de ter uma vida mais longa”. Entretanto, nas famílias de longevos, a genética parece ter papel mais determinante. Pessoas que vivem mais de 90 anos provavelmente têm parentes nesta geração ou nas anteriores que também chegaram lá. A questão central, porém, é esta: viver muito depende principalmente de como você vive. Uma pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade de Cambridge acompanhou, durante 11 anos, 20 mil pessoas com idades entre 45 e 79 anos, sem histórico de doenças. Cada participante recebeu uma pontuação de 0 a 4, na qual cada ponto correspondia a um dos seguintes comportamentos: não fumar, praticar atividades físicas regularmente, beber moderadamente e ter um bom nível de vitamina C no sangue (obtida de frutas e verduras). No final do levantamento, os pesquisadores concluíram que pessoas com 0 ponto tiveram quatro vezes mais

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chances de morrer do que aquelas com 4 pontos. Outro estudo, realizado pelo Pacific Health Research Institute com 5.820 homens de meia-idade, identificou outra relação entre fatores de risco – como fumo, obesidade e ingestão de bebidas alcoólicas em excesso – e a longevidade. Segundo os pesquisadores, a chance de viver até os 85 anos era de 69% entre aqueles que não apresentavam nenhum fator de risco e de 22% para os que apresentavam seis fatores ou mais. “O que você fizer errado hoje será debitado na sua conta amanhã”, afirma o Dr. Wilson Jacob Filho, professor de geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Tabaco é um péssimo negócio, assim como bebidas, droga e sedentarismo. Se você carrega uma barriga há 30 anos, sua coluna vai cobrar. Se fuma, seu pulmão vai cobrar”. A boa notícia é que sempre é tempo de incorporar bons hábitos. “Já que não foi antes, que seja agora”, afirma o Dr. Almada Filho. “Quem começar a praticar uma atividade física aos 80 anos chegará melhor aos 81. A mudança de hábitos é o melhor caminho para promover o envelhecimento saudável”.

Fique por dentro

“Tabaco é um péssimo negócio, assim como bebidas, droga e sedentarismo. Se você carrega uma barriga há 30 anos, sua coluna vai cobrar. Se fuma, seu pulmão vai cobrar”.

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Em 2050, o quinto do mundo O geriatra Emílio Moriguchi, representante do Brasil no grupo de pesquisa do envelhecimento na Organização Mundial da Saúde, chama atenção para o fato de que o Brasil sempre foi considerado um país de jovens. A preocupação com o envelhecimento vem de, no máximo, duas décadas. Agora, projeta-se que, em 2050, o Brasil será o quinto país do mundo em número de idosos. O fato é que atingir os 100 anos de idade com saúde e disposição não é mais privilégio dos poucos que nasceram com o código genético da longevidade. Mas há fatores sociais que também contribuem para o aumento da expectativa de vida. Sabe-se que o contato social frequente entre idosos estimula o funcionamento do cérebro num grau maior do


que as atividades solitárias, como a leitura. Além disso, ajuda a controlar o stress relacionado ao envelhecimento e até mesmo retarda os efeitos de doenças como Alzheimer.

O que se deve fazer para chegar aos cem Alimentação Primeiro: cuidar da nutrição, alimentando-se de forma saudável e variada, com verduras, legumes, frutas e carnes com pouca gordura – e fazendo várias pequenas refeições ao longo do dia. Em segundo lugar, é necessário evitar os inimigos da boa alimentação: o excesso de sal e de açúcar, e as frituras. “Incorporar essas ideias é

mais importante do que discutir se comer ovo faz bem ou faz mal”, afirma o Dr. Almada Filho.

Atividade Física Uma pesquisa realizada na Universidade McMaster, em Ontário, no Canadá, submeteu um grupo com mais de 65 anos a um treinamento de musculação e ginástica por seis meses. Os resultados foram comparados com os de pessoas na faixa de 20 a 35 anos. Antes das sessões, os mais velhos eram 59% mais fracos do que os mais jovens. Seis meses depois, esse índice havia caído para 38%. Exercícios físicos feitos num ritmo moderadamente intenso, cerca de três vezes por semana, ajudam a aumentar a expectativa de vida. E, além dos exercícios aeróbicos, como caminhada, alguma musculação é necessária não só para manter a massa muscular mas também a força, para um dia a dia mais independente, mais à frente. Mas, atenção: na terceira idade, o gerenciamento da saúde é fundamental, sobretudo a partir dos 65 anos. Estudos apontam que 78% dos idosos têm pelo menos uma doença crônica que requer uso de medicamentos – como diabetes, hipertensão, osteoporose – e 56% têm dois males crônicos ou mais.

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Exercícios de Memória

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om mais de 20 mil citações em periódicos e trabalhos da especialidade, o argentino Ivan Izquierdo é um dos mais respeitados neurocientistas da América Latina. Mora no Brasil há mais de 40 anos e hoje coordena o Centro de Memória do Instituto do Cérebro da PUC-RS. Suas pesquisas ajudaram a entender os diferentes tipos de memória e a desmistificar a ideia de que áreas específicas do cérebro se dedicariam de maneira exclusiva a um tipo de atividade. Cinco perguntas para o Dr. Iván Izquierdo

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Terceira idade na farmácia: um novo nicho de mercado

Fique por dentro O publico da terceira idade é o grande trunfo futuro das farmácias, pois é quando as visitas à farmácia vão se tornando cada vez mais frequentes.

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O consumidor da terceira idade é, evidentemente, o maior consumidor de remédios. Além disso, é fiel, geralmente escolhe uma farmácia perto de casa, faz amizade com o farmacêutico ou atendentes e compra sempre lá. O consumidor sênior é economicamente ativo, tem mais tempo para procurar o que realmente quer e já viveu muito – por isso, costuma se ater aos detalhes e encara a compra, mesmo de remédios, até de forma lúdica. Em alguns casos, é um motivo para ele sair de casa. E a maturidade traz junto um alto grau de exigência e capacidade de negociação. Diante de tudo isso, as farmácias devem fazer o possível para atender a esse público de forma diferenciada. Nas prateleiras para compra espontânea, um cantinho da terceira idade, com os produtos de consumo mais

procurados por essa faixa etária. Atrás do balcão, atendentes preparados para lidar com as necessidades desse público – incluindo farmacêuticos com uma visão muito humanista das necessidades de atenção exigidas pelos idosos. Cabe ao proprietário, por exemplo, perceber quais são os funcionários com mais paciência e carinho no atendimento a esse público e designá-los para isso. Para Regina Blessa, consultora especializada em varejo, autora dos livros Merchandising no Ponto de Venda e Merchandising Farma, grandes mudanças nas farmácias estão por acontecer. “O público da terceira idade é o grande trunfo futuro das farmácias, pois é quando as visitas à farmácia vão se tornando cada vez mais frequentes. Após os 50 anos, de uma visita mensal passamos para três ou mais, dependendo da saúde do consumidor. Se o melhor consumidor da farmácia é o idoso, porque não adaptar o lay-out da loja para ele?”. Segundo Blessa, é muito comum ver produtos expostos nos rodapés das gôndolas e pomadas para dor nas costas onde não dá para se abaixar. “As gôndolas já deveriam ser desenhadas com uma barra de 40 cm de rodapé fechado, para só então começar a exposição de produtos ao alcance fácil de qualquer idoso”. Ela aponta os erros mais comuns nas farmácias em relação ao lay-out: “Obstáculos, degraus, produtos no chão dificultando a circulação, economia de tonner na cor de pequenos preços mal colocados, produtos sem preço e atendentes sem paciência para se relacionar com os idosos são algumas das aberrações que mais se nota”. m


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Nosso “disco rígido”, portanto, é limitado? É impossível medir o espaço de memória. Temos 100 bilhões de neurônios, mas as conexões neurais são inúmeras. Sabe-se, a partir de testes com animais de laboratórios, que para evocar lembranças é preciso de pelo menos 60% do hipocampo e 40% para armazenar. É preciso ter espaço livre.

Qual a importância do esquecimento? No livro Psychology o professor de neurobiologia da Universidade da Califórnia James McGaugh afirma que o aspecto mais notável da memória é o esquecimento. Não guardamos a maior parte dos fatos que vivemos, dos livros que lemos, das imagens que vemos. Mesmo a nossa infância, quando fazemos mais descobertas, pode ser contada em no máximo uma hora. Isso é natural. A formação e a evocação de memórias ocupam muitas células neurais. É preciso liberar espaço, que é saturável.

Com o tempo, é inevitável sentir perdas de memória? Acredito que isso seja um mito. Existem pessoas com 80 anos e memória fantástica, e jovens com dificuldade de lembrar. O fato de os idosos terem dificuldade de se lembrar de fatos de ontem e poderem dar detalhes de passagens da juventude é uma questão de memória seletiva. É muito mais confortável lembrar-se da época em que se namorava e saía para dançar do que das recomendações médicas mais recentes.

Existem exercícios ou remédios para deixar a memória mais afiada? Em condições normais – sem doenças ou perdas causadas por acidente –, ninguém precisa de remédio para a memória. E o melhor exercício não saiu de laboratórios e tem milênios. É a leitura, uma espécie de natação para o cérebro. Ao mesmo tempo, exercita a memória em suas várias faces: de longo prazo, de trabalho, visual, auditiva, a linguagem e a criatividade. A TV seria como um fast-food, pois apresenta informações prontas, digeridas. Por isso é tão preocupante a falta de acesso à leitura no Brasil.

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O excesso de informação leva à saturação precoce da memória? De fato, esse excesso pode gerar estresse e ansiedade, que afetam a memória. Mas é engraçada a percepção do que é excesso de informação. Outro dia, li um livro do escritor espanhol Santiago Ramón y Cajál, de 1920, em que ele já se queixava disso.

MITOS

Esquecimento é sinal de idade avançada Falso. Pessoas de todas as idades estão

em constante processo de esquecimento. É impossível se lembrar de tudo

Com a maturidade, aumenta a perda de neurônios Falso. A fase em que mais se perdem

neurônios é na primeira infância, quando a criança começa a andar e deixa de

ser quadrúpede. A partir da adolescência, em condições normais, não há perdas importantes

Os neurônios que se perdem ao longo da vida nunca são substituídos Controverso. Estudos recentes

mostram que novos neurônios podem se formar na idade adulta, mas pesquisadores ainda não sabem se é

possível que eles possam realizar conexões úteis. m

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Maioria dos idosos não sabe que têm 10 • Novembro / 17 ESPECIAL SÊNIOR


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diabetes está aumentando entre a população da terceira idade. Seis em cada dez diabéticos idosos não sabem que têm a doença. O crescimento do diabetes no envelhecimento se deve principalmente à obesidade, à falta de atividade física, à maior ingestão de carboidratos e ao uso de remédios como corticóides. Este é o alerta do Dr. Mauro Scharf, endocrinologista do Lavoisier Medicina Diagnóstica para o dia 14 de novembro, Dia Mundial de Combate ao Diabetes.

No Brasil existem mais de 5 milhões de diabéticos diagnosticados – e a grande maioria tem mais de 45 anos. De acordo com o médico, normalmente os idosos são acometidos pelo diabetes tipo 2, responsável por 90% de todos os casos registrados da doença. Ele ocorre quando o organismo pode produzir alguma quantidade de insulina, mas esta não consegue agir adequadamente para fazer a transfor-

mação da glicose em energia – geralmente devido ao aumento da resistência periférica à ação do hormônio. O tratamento do diabetes na terceira idade em geral é feito com dieta controlada em carboidratos, atividade física, uso de medicamentos que diminuem os níveis de glicose no sangue e, muitas vezes, uso da insulina injetável. Alguns pacientes nessa faixa etária apresentam dificuldade em mudar velhos hábitos alimentares, mas o controle da obesidade é fundamental para o tratamento. Já os idosos que estão desnutridos devem suprimir os açúcares de absorção rápida e manter os amidos associados a fibras, frutas, proteínas, legumes e verduras. Também devem fazer, no mínimo, quatro refeições por dia. Os sintomas mais comuns do diabetes são: muita sede, frequente vontade de urinar, muita fome, cansaço, turvação da visão e emagrecimento. Em alguns casos, no entanto, a doença pode ser assintomática e retardar o diagnóstico e o tratamento. Para o médico determinar que o paciente está diabético, é necessário realizar uma avaliação do paciente com base no histórico familiar e de vida, além de um exame físico e testes específicos, como um exame de dosagem da glicose no sangue. m

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