437 - MANUAL DE ECONOMIA2

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Mesmo assim, aumentou bastante a diferença entre o nível de renda das nações do mundo desenvolvido e as nações do mundo subdesenvolvido, cabendo, portanto, analisar qual o papel do comércio internacional no alargamento destas diferenças. Não se trata, entretanto, de analisar se é melhor para um país subdesenvolvido ter ou não ter relações comerciais com outros países. Ou seja, a pergunta relevante não é ter comércio internacional ou não ter. Este tipo de pergunta é facilmente respondido pelos parágrafos anteriores sem dúvida o comércio internacional é favorável ao desenvolvimento econômico. A pergunta critica e importante que tentaremos analisar nesta seção refere-se, como toda análise econômica, aos acréscimos - será melhor ter mais comércio internacional ou menos comércio internacional? Em outras palavras, é melhor dirigir os novos investimentos à produção de bens de exportação ou à produção de bens destinados ao mercado interno? A este tipo de pergunta é que surgem algumas respostas contrárias à Teoria Clássica e que passamos a analisar em seguida. Antes, entretanto, cabe descrever rapidamente as principais características do padrão de comércio que existe entre os países subdesenvolvidos e os países desenvolvidos. Em primeiro lugar, os países subdesenvolvidos são basicamente exportadores de produtos primários, isto é, de alimentos e matérias-primas, e importadores de produtos industriais das nações mais avançadas. Em segundo lugar, a maioria dos países subdesenvolvidos baseia sua receita de exportação em apenas alguns produtos, isto é, a pauta de exportações destes países não é diversificada. Além disto, a demanda de bens primários, por parte dos países desenvolvidos, apresenta uma elasticidade-preço bastante baixa e, ao mesmo tempo, uma elasticidade-renda também muito baixa. Isto significa que, se a renda dos países desenvolvidos aumenta em 1 %, por exemplo, a demanda de café, ou de cana-de-açúcar, ou de cacau aumenta em bem menos do que 1 % e, portanto, a renda brasileira do setor de exportação aumenta bem menos do que 1%. Se, entretanto, apesar de a demanda crescer pouco, a produção aumentar, como a demanda é inelástica com relação aos preços, a receita total de exportações cai, diminuindo, portanto, a capacidade de importar do país em questão. Mais ainda, como o grosso das receitas de exportação destes países se baseia em apenas alguns produtos, as receitas estão sujeitas a grandes variações em pequenos períodos de tempo, comprometendo a oferta de divisas com que o país pode contar para suas importações necessárias ao desenvolvimento. Em conseqüência destas características das exportações dos países subdesenvolvidos, economistas, como Raul Prebisch, da CEPAL, chegaram à conclusão de que seria melhor para o mundo subdesenvolvido menos comércio internacional, isto é, que seria melhor para o mundo subdesenvolvido dirigir seus investimentos para a produção de bens consumidos no mercado interno e não para a exportação.

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