437 - MANUAL DE ECONOMIA1

Page 64

1. Controvérsias metodológicas Já no fim do século XVIII é possível a distinção entre duas concepções da Ciência Econômica que utilizam dois métodos opostos, e que correspondem às posições dos fisiocratas e dos clássicos. Ambos atribuíam importante papel à ordem natural, em contraste com a ordem social, instituída artificialmente pelo homem; consideravam a economia ciência da natureza", cujas relações são essencialmente determinadas por elementos objetivos, externos ao homem; acreditavam que a livre concorrência permite o estabelecimento do preço mais vantajoso para compradores e vendedores, e que o interesse pessoal é o grande motor da atividade econômica; pensavam que os fenômenos sociais estão ligados entre si por relações que devem ser analisadas etc. A metodologia das Escolas Fisiocrática e Clássica era dedutiva e abstrata; mas, enquanto Quesnay e seus discípulos enfocaram os problemas econômicos do ponto de vista macroscópico, os clássicos permaneceram essencialmente na ótica microscópica. Em 1758 surgiu a primeira edição do Quadro econômico, considerado o primeiro modelo econométrico de descrição global do processo econômico estacionário. Nele Quesnay representou o fluxo de despesas e de produtos entre as classes produtiva, proprietária e estéril da França. Apesar de ter apenas quatro páginas, constitui a origem dos estudos econométricos que se desenvolveram em nossa época, a partir de Léontief48. Mirabeau, entusiasmado, considerou o Quadro econômico uma das três grandes invenções da 49 humanidade, juntamente com a escrita e a moeda .

O método do Quadro econômico marcou época por evidenciar a interdependência entre todos os setores do processo econômico, ser facilmente manuseável e controlável, ser global e simplificado (reduziu a vida econômica de uma nação a fluxos de grandes agregados - no caso, as classes da sociedade francesa do século XVIII)50.

48

O trabalho de Léontief, diz Schumpeter (História da análise econômica, trad., Rio de Janeiro, Ed. Fundo de Cultura, 1964, v. 1, p. 301), reviveu o princípio fundamental do método do Tableau économique, embora com objetivo e técnica diferentes. Entre Quesnay e Léontief, está Marx; este, entretanto, não procurou tornar seu esquema estatisticamente operativo. 49 François Quesnay, Quadro econômico; análise das variações do rendimento de uma nação, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1969. 50 A esse respeito assim se exprimiu Dupont, um dos discípulos de Quesnay - "nada está só, todas as coisas permanecem unidas" cf. Schumpeter, Fundamentos... cit., p. 303).

64


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.