Som e imagem: a comunicação no cinema

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28 falados porque viriam para estragar a arte mais antiga do mundo, a pantomima 21, destruindo a grande beleza do silêncio. Porém, superada essa resistência inicial, Chaplin cedeu e acabou compondo, segundo Nelson Alves Barbosa (2007), canções inesquecíveis para seus filmes, como a música “La violetera”, de “Luzes da cidade” (“City Lights”) em 1931, a música “Smile”, de “Tempos Modernos” (“Modern Times”) em 1936, e a música “Limelight”, de “Luzes da ribalta” (“Limelight”) em 1952. O som permite um registro descritivo ao filme, como os efeitos subjetivos que, transpostos à banda sonora, sobrepõem conteúdos memoriais por vozes fora de campo22 por exemplo, antes inseridos visualmente na montagem. De fato, houve uma revolução na forma de se fazer cinema que modificou consideravelmente a montagem. O som pode, com efeito, ser utilizado como contraponto ou como contraste da imagem e, em cada uma destas rubricas, de maneira realista ou nãorealista, o que dá imediatamente ao realizador (...) quatro modos possíveis de organização de imagem-som, em lugar da imagem única do filme mudo. Além disso, o som pode não corresponder apenas a uma fonte que aparece no ecrã, mas também, e principalmente, estar fora de campo. (MARTIN, 2005, p. 143)

Em agosto de 1928, S.M.Einsenstein, V.I.Pudovkin e G.V. Alexandrov escreveram o manifesto A Statement, que guiou os princípios estéticos de boa parte das obras não comerciais dos anos seguintes. Os autores lutavam contra uma “direção incorreta” que o cinema poderia seguir com a chegada do som. Segundo Einsenstein (apud MARTIN, 2005), a montagem seria a regra elementar da ortografia cinematográfica e o meio mais poderoso de composição para contar histórias. Por isso, defendiam a cultura da montagem como o meio pelo qual o cinema poderia ter uma força efetivamente poderosa. A fotografia de um objeto tende a neutralizá-lo, descontextualizando-o de sua realidade e transformando-o com isso em uma ótima peça para a montagem artística. Ao ligar essa imagem de novo ao seu som, ela perde essa sua característica de independência, aumentando a sua inércia como peça de montagem. (BAPTISTA, 2007, p. 17-18)

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Pantomima: um tipo de representação teatral em que as personagens se expressam apenas por gestos. Chaplin (apud AUMONT; MARIE, 2006), ao considerar o cinema mudo como a arte da pantomima, ressaltou sua virtude de comunicar sentido de maneira imediata, independente de qualquer língua. (AUMONT; MARIE, 2006) 22 Fora de campo é “um elemento da história que não é captado em determinado enquadramento, mas sabemos que existe na cena.” (GONÇALVES, 2009, p. 5).


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