As mídias sociais e os novos desafios para o jornalista do século XXI

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AS MÍDIAS SOCIAIS E OS NOVOS DESAFIOS PARA O JORNALISTA DO SÉCULO XXI1 Por Vágner Benatti Fernandes2 O maior dos desafios virá quão maior for a adversidade. A escalada tecnocrática da informática até as mídias sociais levaram o jornalista ao subemprego (quando não ao desemprego ou a trabalharem em áreas diferentes das tradicionais). Não percebemos o perigo que rondava nossa cosmópole, ou ficamos de mãos atadas e sem forças para competir contra o desenvolvimento da informática ou compactuamos com ela? “Sim” para todas as alternativas. O desafio para o jornalista do século XXI é discutir a tecnodemocracia com a sociedade. Onde estava a força de jornalistas e sociedade quando os bancos substituíram sua mão de obra por máquinas? “A técnica em geral não é nem boa, nem má, nem neutra, nem necessária, nem invencível. É uma dimensão, recortada pela mente, de um devir coletivo heterogêneo e complexo na cidade do mundo. Quanto mais reconhecermos isto, mais nos aproximaremos do advento de uma tecnodemocracia.”3 Naquele momento, nos distanciamos dela. Já os burocratas implementaram a técnica sem considerar as projeções do impacto contra aqueles trabalhadores e toda uma cadeia de mudanças ocorreu entorno dela. Foi o que aconteceu com o Jornalismo. A informática evoluiu com o desejo de agilização do processo produtivo capitalista. Aconteceu logo após o início da estandardização desenfreada de produtos e a mobilização dos meios de comunicação de massas para intervirem na cultura ocidental de modo que o indivíduo comum assimilasse um padrão voraz e passional de consumo. “É na acumulação, na circulação e no tratamento sempre mais intenso e rápido da informação que se situa o verdadeiro crescimento. É a era da explosão informacional do tempo.”4 Um crescimento que provoca o desinteresse maciço por questões acerca da coletividade cosmopolitana. O desafio do jornalista do século XXI é salvar o Jornalismo. Não há desafio algum em se adaptar às mídias sociais. Trata-se de seleção natural: aquele que não dominar os novos meios e canais, fica fora do mercado de trabalho. Não condenando a técni1 Trabalho final concluído em 22/10/2010 da disciplina Informática para Jornalistas ministrada pelo discente Cláudio Fajardo; 2 Vágner Benatti Fernandes é aluno de Comunicação Social da UNIPAC – Campus VI (Granjas Betânia, Juiz de Fora / MG); 3 LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência - O futuro do pensamento na era da informática. 34/2004; 4 LÉVY, Pierre. L'Informatique et l'occident. Esprit/1982.


ca, mas a sua aceleração inconsequente e fora do alcance político da sociedade, verificase, pois, uma dificuldade de “cura” contra seu mau uso. Chegamos num momento em que se esboça discussões sobre sustentabilidade, cuidados com o meio ambiente, consumo racional e não desperdício de recursos naturais e alimentos e se sobram notícias sensacionalistas, irrelevantes e de puro entretenimento. A catarse é o combustível principal para o consumo. E isso é interessante para os anunciantes tanto das mídias tradicionais quanto no contexto online. Os jornalistas devem se unir contra o poder capitalista, “reprogramar” a consciência dos cidadãos para que se libertem de programações consumistas alienantes e, assim, salvar o Jornalismo e seu papel fundamental de formar e informar. A informática ultrapassou há muito seus limites enquanto ferramenta. Passou a ditar o ritmo do planeta. A divisão do trabalho chega a tal que centenas de empregados de uma grande corporação qualquer ou não se conhecem, ou não falam a mesma língua natural ou moram em partes distintas do planeta, mas colaboram para um mesmo projeto. As redes de computadores nos dão a velocidade, mas, se o tempo do desenvolvimento das coisas se esvai, quem terá tempo para pensar em suas consequências ambientais, sociais e no desenvolvimento humano? A experiência da inteligência coletiva está cada vez mais intensa. Mas a internet é relativamente jovem se a compararmo com a escrita. Passaram-se 3000 anos até que a maioria das pessoas de culturas de escrita soubessem ler. A internet é um bebê gigante recém nascido que cresce muito rápido. A inclusão digital é uma questão de tempo, mas a educação desse bebê gigante depende de nós. É preciso pensar a internet como uma ferramenta para o desenvolvimento humano como um todo e não só para o desenvolvimento de poucos que dela tem controle, para os donos do processo produtivo. “Para tornar-se tecnodemocracia, não falta à tecnopolítica nada além de transcorrer também na cena pública, onde os atores são cidadãos iguais, e onde a razão do mais forte nem sempre prevalece.”5 O jornalista do século XXI precisa correr contra o tempo e aprender o máximo que conseguir dessa era de transformações informacionais, sobre mídias digitais, etc. Mas é fundamental que os profissionais, no meio de tantos afazeres, dialoguem entre si e com a sociedade para estabelecer uma consciência tecnodemocrática e retomar o desenvolvimento humano. 5 LÉVY, Pierre. As tecnologias da Inteligência - O futuro do pensamento na era da informática. 34/2004;


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