Unipautas nº 05 (2014/2)

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Submarinos nazistas

FOTO: MELISSA RENZ

PORTO ALEGRE/RS SEMESTRE 2014/2 ANO II • NÚMERO 5

Apaixonado por História, o jornalista e escritor gaúcho Marcelo Monteiro conta no livro U-93 detalhes de ataques alemães que levaram o Brasil a ingressar na I Guerra Mundial. página 9

JORNAL DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIRITTER

Livros em papel FOTO: LEANDRO OSÓRIO

HERÓIS DA RESISTÊNCIA NA 60a FEIRA DE PORTO ALEGRE

Isabel Vincent troca experiências com leitores

página 3

página 3

Literatura infantil encanta os pequenos

página 6

Autores compatilham espaço com chefs

página 8


2  •  UNIPAUTAS • NO 5 • 2014/2

Expediente O Jornal UniPautas é um projeto da Faculdades de Comunicação Social (FACS) do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter/Laureate International Universities. Este é um espaço de divulgação do material produzido nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Seu projeto gráfico foi desenvolvido pelos designers e professores Sandro Fetter e Jaire Passos. UniRitter / Laureate International Universities Campus Porto Alegre: Rua Orfanotrófio, 555• Alto Teresópolis • Porto Alegre/RS CEP 90840-440 • Fones: (51) 3230.3333 | (51) 3027.7300 Campus Canoas: Rua Santos Dumont, 888 • Niterói • Canoas/RS • CEP 92120-110 Fones: (51) 3464.2000 | (51) 3032.6000 Reitor: Telmo Rudi Frantz Chanceler: Flávio D’Almeida Reis Pró-Reitora de Graduação: Laura Coradini Frantz Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão: Márcia Santana Fernandes Coordenação do curso de Jornalismo: Laura Glüer Coordenação do curso de Publicidade e Propaganda: Sônia Zardenunes Unipautas Edição: Laura Glüer Rodrigo Lopes Projeto Gráfico: Jaire Passos Rogério Grilho Sandro Fetter Diagramação: Alunos do Projeto Experimental Jornal Supervisão diagramação: Rogério Grilho Supervisão fotográfica: Rogério Soares Professores envolvidos: Rogério Grilho (Projeto Experimental Jornal), Rodrigo Lopes (Redação Jornalística), Rogério Soares (Fotografia) e Ana Carolina Trava Dutra (Criação Publicitária) Fale conosco: unipautas@uniritter.edu.br www.unipautas.uniritter.edu.br issuu.com/unipautas

APRESENTAÇÃO/ARTIGO Unipautas literário Esta edição do Unipautas é muito especial. Em suas páginas, temos a cobertura da Feira do Livro de Porto Alegre, um dos eventos culturais mais importantes do sul do país. Autores de diferentes gêneros, a visão dos leitores e visitantes do evento, do patrono da feira, Ayrton Ortiz, e muitos outros temas relacionados ao universo das letras povoam esta nova edição do Unipautas. Outro destaque é a cobertura dos lançamentos da Editora da UniRitter, em diferentes áreas do conhecimento. Esta também é uma edição com gosto de “missão cumprida”. A tur-

ma de 2014/2 das disciplinas de Projeto Experimental Jornal e Redação I teve como missão fazer dois jornais. O grupo comprou a ideia com dedicação, sem se intimidar ao desafio lançado pela coordenação, no início do semestre. E está aí o resultado. O exercício do jornalismo laboratorial é um dos preceitos das Diretrizes Curriculares dos cursos de Jornalismo. A capacidade de elaborar pautas, apurar, redigir e editar conteúdos relevantes e de interesse da opinião pública deve ser desenvolvida ao longo de toda a formação do futuro jornalista. No curso de Jornalismo da UniRitter, temos

incentivado esta prática constante, não somente no jornal Unipautas, que agora passa a ter duas edições semestrais, como nas demais mídias desenvolvidas nas disciplinas. Bons repórteres sempre terão espaço em uma sociedade democrática, onde a informação tem papel fundamental. Que o exercício da reportagem, pautado pelos valores-notícia, pela ética e pela paixão pelo jornalismo possam estar sempre vivos no nosso jornal laboratório Unipautas. Laura Glüer Coordenadora dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas

Cheiro de livro novo Nesses tempos em que nos relacionamos com as pessoas muitas vezes mais pela tela do smartphone do que pelo olho no olho, não abro mão de um bom cheiro de livro. Sabe aquele odor de papel novinho, que se espalha das páginas até o nosso nariz quando a gente pega uma obra na prateleira de um livraria? Ah, essa experiência talvez um aplicativo um dia até venha a substituir, mas mesmo o mago digital Bill Gates, dono da Microsoft, chegou a admitir: “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever inclusive a sua própria história”. Minha história com os livros começou cedo: um dia, quando eu tinha uns cinco anos, meu pai, recém-chegado do trabalho, me deu de

presente Um Guri Daltônico, de Carlos Urbim. Comprara na Feira do Livro de Porto Alegre. Mal sabia meu pai que, anos depois, no exercício do jornalismo diário, eu sentaria bem perto, na Redação, da mesa de Carlos Urbim, o grande jornalista, que nos deixou em janeiro de 2015. Feliz o destino que permitiu que a Feira – e nós, seus leitores - tenha homenageado o Urbim como patrono antes de sua partida (em 2009). Voltando aos livros, costumo repetir em sala de aula aos jornalistas em formação o velho clichê: só escreve bem quem lê bem. Acredito que jornalista deve ler tudo o que cai em mãos: de enciclopédia a bula de remédio. Mas, como tempo anda escasso e as leituras se acumulam ao lado da cama, melhor escolher bons livros. Aqueles que nos levam

a aventuras deste ou de outros mundos, de ficção ou de realidade, do futuro, do passado e do presente. Esta edição do UniPautas mergulha no universo da Feira – das pequenas grandes histórias de um evento tão porto-alegrense quanto o Brique da Redenção, o Guaíba e o Gasômetro. Mas que, diferentemente dos outros pontos turísticos, que temos todos os dias, este só se estabelece uma vez por ano, por um período menor do que eu gostaria, confesso. Mas, cada vez que começa, é como sentir o aroma de livro novo. No caso da Feira, cheirinho de papel misturado ao perfume dos jacarandás. Boa leitura! Rodrigo Lopes Professor da disciplina de Redação Jornalística – Jornal

A Feira é muito mais do que a Feira Desde que nasci a cidade ganha, meio que de uma hora para outra, uma enorme Feira do Livro bem no seu Centro. A maior da América Latina. E há alguns anos que estou envolvido com a Feira, seja autografando, palestrando, dando oficinas ou, agora, atuando pela Editora UniRitter. Pouca gente sabe que a Feira começou porque as pessoas não tinham o hábito de ir a livrarias, livros no começo do século XX eram vistos como objetos meio sagrados, as pessoas não ficavam à vontade para entrar em uma livraria e ficar folheando os livros. Meio como eu me sinto hoje quando passo perto de uma joalheria. Assim, um grupo de editores e jornalistas teve a ideia de levar o livro até as pessoas, colocando-os

em exposição na praça. Deu certo. Deu muito certo. Deu tão certo que hoje centenas de municípios do Rio Grande do Sul e milhares de escolas têm suas próprias Feiras do Livro. Nem tudo são flores, claro. De lá para cá muito se debateu sobre o futuro do livro, e talvez mais ainda nos últimos 10 anos, em função do surgimento dos e-books e de novas possibilidades para publicação de conteúdo. Mas o livro não acabou, e parece a cada ano revigorado na praça. Apesar do constante fechamento das pequenas e médias livrarias, apesar da crescente concentração do mercado editorial nas mãos de poucos grupos internacionais, apesar da enxurrada de blockbusters que tomaram conta das vitrines das livrarias.

Descobrimos, ao longo desses 10 anos, que o maior adversário do artista local não é mesmo a tecnologia: é o mercado. E a Feira, que começou para levar o livro para perto das pessoas, hoje tem um papel diverso e talvez ainda mais importante: dar vazão à diversidade do mercado editorial gaúcho. Só na Feira a grande Saraiva tem o mesmo espaço que a livraria do Zé, e só na Feira meu livro está exposto ao lado do livro de vampiro do momento. Por isso, e por toda a repercussão na mídia, e pela multidão de gente que vai até o Centro, a Feira do Livro não é apenas uma Feira, é muito mais do que isso. Marcelo Spalding Perez Professor da Uniritter, Editor Executivo da Editora UniRitter


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EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL

“Eu aprendi a ser jornalista no Brasil” Isabel Vincent, repórter investigativa do jornal The New York Post, dividiu experiência com leitores Stheve Balbinotti

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m dos grandes nomes do jornalismo investigativo mundial, a canadense Isabel Vincent bateu um papo com o público da 60° Feira do Livro de Porto Alegre. O encontro foi promovido pelo Sindicato dos jornalistas do Rio Grande do Sul e fez parte da programação dos eventos do país homenageado da edição deste ano, o Canadá. Isabel é conhecida pelo seu trabalho investigativo e já ganhou vários prêmios com reportagens em que deixou o medo de lado e viu a morte de perto. Seu trabalho atual é como repórter do The New York Post, onde luta contra a corrupção na cidade de Nova York. Seu momento profissional de maior tensão foi no início dos anos 1990 cobrindo a guerra civil em Angola. “Fui ao front, e havia dias em que achava que morreria por causa dos bombardeios. Era uma situação em que não se sabia quem era quem. Eu estava viajando de carro por uma área muito atingida”, afirma Isabel, sobre o perigoso momento vivido na África. A jornalista trabalhou no Brasil entre 1991 e 1995 e lembra como era o jornalismo investigativo brasileiro à época. “Os jornaistas eram muito ousados. Eles saíam e publicavam matérias sobre corrupção. Eu achava

que corriam muitos riscos fazendo isso. Mas achava ótimo. Aprendi a ser jornalista aqui, no Brasil”, comenta Isabel. Quando o assunto é o futuro, a canadense diz que não pretende voltar a trabalhar como correspondente internacional: “Já fiz isso e com uma idade em que não me importava. Não era casada, não tinha filhos. O jornalismo local é o mais importante”. O maior sonho da jornalista é dirigir um jornal em uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos. “Acho que existe muita corrupção em lugares menores, que notícias não estão sendo divulgadas. É mais difícil fazer isso em uma cidade pequena do que em uma grande capital. Você precisa de mais coragem para fazer jornalismo nesses lugares. Sempre quis dirigir um jornal pequeno”. Ela deixa um conselho aos novos jornalistas. “Você tem de sair para falar com as pessoas para fazer jornalismo. Não pode fazer pelo Google, pela internet, sentado no seu escritório. Você tem de sair para a rua, o que é muito básico, não é? Mas tenho muitos colegas que não fazem isso até hoje”. Histórias, prêmios e livros Graças ao desejo de acabar com a corrupção por onde passa, Isabel ganhou diversos prêmios e indicações por seus trabalhos. Foi finalista do Prêmio Nacional de Jornais pela cobertura da guerra contra os traficantes de drogas no Rio de Janeiro, na década de 1990. Também foi indicada ao Pulitzer

Isabel Vincent e o escritor e roteirista José Antônio Silva, que também participou do debate Foto: Stheve Balbinotti

(o maior prêmio do jornalismo americano) por suas matérias no caso Rangel, em Nova York e colaborou nas investigações que levaram à prisão de políticos corruptos na cidade. Em 1993, foi premiada pela Associação de Imprensa Interamericana pela cobertura do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, no Peru. Um trabalho sobre o tráfico de pessoas no Brasil e na Argentina lhe rendeu o reconhecimento do Jewish Book Award for Bodies and Souls. Isabel é autora de quatro livros: Uma questão de Justiça (1995), Parceiros silenciosos de Hitler: Bancos suíços, Ouro nazista

e a busca da justiça (1997), Bertha, Sophia e Rachel – A Sociedade da Verdade e o Tráfico das Polacas nas Américas (2006) e Gilded Lily: Lily Safra, a formação de uma das viúvas mais ricas do mundo. “Quando tenho que escrever um livro, acordo às 4h da manhã e depois vou trabalhar”, comenta. Uma Questão de Justiça conta detalhes de um dos sequestros mais misteriosos do Brasil. No dia 11 de março de 1989, o empresário Abílio Diniz foi capturado por 10 pessoas. Argentinos, canadenses, chilenos e um brasileiro estavam envolvidos no crime que durou seis dias: “Virou um livro, porque eu tinha muita

informação. Abílio Diniz me convidou para fazer uma entrevista com ele”. Por conta de outra obra, enfrenta problemas: “Estou sendo processada. Não posso falar”. A frase é sobre o livro Gilded Lily, no qual a jornalista conta a história da bilionária Lily Safra. Uma biografia não autorizada e peloa Justiça proibida de circular. A autora utilizou documentos e depoimentos de quem conviveu com a biografada. Lily casou-se quatro vezes e ficou viúva de todos os maridos, sendo o último com o banqueiro libanês Edmond Safra, morto em um incêndio misterioso em Monte Carlo, em 1999.


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60 ANOS COMPARTILHADOS

“Ler não é um dever, e sim um direito”, afirma Airton Ortiz Airton Ortiz realiza um sonho de infância, ser homenageado da Feira do Livro de Porto Alegre

Das viagens a xerife da 60a Feira do Livro As viagens de Ortiz estão documentadas nas obras literárias em que descreve o lugar e a cultura locais

Amanda Quevedo e Carlos Lacerda

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irton 0rtiz, patrono da 60ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, nasceu na vila ferroviária de Bexiga, interior do município de Rio Pardo, em 27 de novembro de 1954, ano da primeira edição do evento da Capital. Formado em Jornalismo pela PUC-RS e com pós-graduação na UFRGS, ele se interessou pela leitura ouvindo histórias que seu pai lhe contava todos as noites após o jantar. Fã de quadrinhos e de revistas, tomou gostou por criar suas próprias histórias. Foi neste momento que escreveu sua primeira obra, Aventura no topo da África, que narra sua expedição ao cume do monte Kilimanjaro, quando se tornou o primeiro gaúcho a escalar a mais alta montanha do continente africano, em 1999. Ortiz conta hoje com 17 livros publicados e um desejo de aumentar esse número. “Não quero parar por aqui, a vontade de escrever é mais forte, então tenha certeza

T

O Patrono da Feira fala da suas experiências por mais de 60 países visitados, muitas das quais viraram livros Foto Divulgação

de que esse número vai aumentar”, prometeu. Ao viajar por mais de 60 países e aprender culturas diferentes, Ortiz busca inspiração na vida real para escrever: “A vida real é muito mais fantástica do que qualquer fantasia que se possa criar”. A grande maioria de seus livros fala da aventura de morar no país visitado, buscando a riqueza dos detalhes e mostrando o que cada um tem de bom.

endo sido patrono de algumas feiras pelo interior do Estado, Airton Ortiz disputou nove vezes a honraria na Capital, mas estava difícil. Lembra que, a cada edição que não realizava o sonho, recebia o apoio do porteiro de seu prédio. “Ele falava como se fosse uma eleição para vereador: ‘Não desiste, seu Airton, se o senhor for novamente vai dar certo’”. E o dia chegou, disputando o “cargo” com Aldyr Schlee, Cíntia Moscovich, Maria Carpi e Celso Gutfriend, Ortiz foi nomeado como patrono da 60ª edição da Feira. Para o escritor, “as duas maiores honras para quem faz livros aqui no Estado são, por ordem: ser patrono da Feira do Livro de Porto Alegre e, depois, receber o Prêmio Nobel de Literatura”, brincou.

OBRAS DO AUTOR/ANO 1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

A banquinha que faz aniversário junto com a Feira de Porto Alegre Em seis décadas, a única banca que esteve presente em todos os anos, é a da família Luizelle Daniela Fernandes

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relação de amor da Feira do Livro de Porto Alegre com os leitores é conhecida. Poucos, porém, sabem como o evento também integra a vida de livreiros, que, a cada ano se mudam para a Praça da Alfândega em novembro. A única banca que esteve presente

em todos os 60 anos da Feira é a da Livraria Autora, da família Luizelle. Bancas como a da Livraria do Globo também estão na praça desde a abertura, porém não em todas edições. Esse ano, como em todos os outros, a Livraria Aurora montou seu estande na feira, porém o livreiro mais antigo do evento, Eduardo Luizelle por motivos de saúde, não pode participar. Como a Feira é o grande orgulho da família, o patriarca estava muito bem representado por sua esposa, Rosa Luizelle, que cuida da banca com a maior dedicação e carinho. Em 1955, quando a Feira começou,

a Livraria Aurora se instalava na Praça da Alfândega aos cuidados do senhor Sétimo, vô de Eduardo. De lá pra cá, a presença da Aurora é garantida no evento. A tradição da livraria se estende aos visitantes, muitos deles vão direto até o estande em buscas de bons livros e das inúmeras promoções. “A Aurora sempre tem boas ofertas e uma variedade enorme de livros, todos os anos faço boas compra aqui”, afirma Eliane Alves, frequentadora da Feira há pelo menos 10 anos. Para Osvaldo Coutinho, 64 anos, a Aurora tem livros infantis diferenciados. Todos os anos,

A Aurora é sinônimo de boa leitura. Foto: Daniela Fernandes

ele procura as obras para presentear os netos. “Sempre presenteio as crianças com livros, tem alguns que mais parecem brinquedos de tão divertidos, eles adoram”, conta. Na Feira durante as semanas de novembro ou em sua sede, a disposição dos livros, o atendimento cordial, o balaio cheio de ofertas, a tradicional fachada

verde da Aurora nos remete a um clima nostálgico, de cultura, sonhos e muitas histórias, que encanta desde as crianças até idosos. Há quem passe horas circulando pelo local. Para quem não pode ir à Feira este ano, a livraria fica bem perto da Praça da Alfândega, na Rua Marechal Floriano, 505, no Centro Histórico de Porto Alegre.


UNIPAUTAS • NO 5 • 2014/2  •  5

CULTURA EM MINIATURA

Práticos, leves e baratos, livros de bolso conquistam leitores Tendência mundial, os livros em versão pocket são os mais procurados na Feira do Livro Cristiane Vargas e Melissa Renz

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s pockets se tornaram fenômeno de vendas a cada Feira do Livro de Porto Alegre. E tem pra todos os gostos: ficção cientifica, romance e contos. Os livros de bolso são considerados pela maioria práticos e eficazes. O estudante de Publicidade Stefan Toio, 27 anos, é adepto dos livros pockets, principalmente os de filosofia. “ Os pockets são bons, pelo fato que são de custo mais baixo do que os livros maiores, do mesmo autor. Então, eu compro o pocket porque é mais barato do que o livro de versão mais original,e é uma boa opção para quem quer economizar”, compara. O último livro que Toio adquiriu foi O fu- Yan Kruel posando com um dos maiores sucessos de vendas em pocket da Feira do Livro de Porto Alegre Foto: Melissa Renz turo de uma ilusão de Freud. Beatriz Ilibio Moro, mestranda mesada de uma adolescente, com- mim era ótimo: tinha acesso ao acesso rápido ao texto”, explica em Lingüística, conta que come- prar muitos livros era um sonho texto e gastava dentro dos limi- Beatriz. çou cedo a comprar seus livros impossível”, explica. tes do meu orçamento mensal. Sobre a qualidade dos livros pockets “Comecei a comprar liCasualmente, esta foi a épo- Continuei comprando na época pockets, ela acredita que pode vros de bolso na época em que ca em que os livros de bolso se de faculdade, quando a demanda melhorar: “Os que tenho posestava no Ensino Médio, há uns tornaram mais populares em por leitura era grande, o núme- suem um design um pouco ultra10 anos. Gostava muito das aulas Porto Alegre. Existiam só alguns ro de exemplares que a bibliote- passado, sem uma capa chamade Literatura e passei a ter o so- no mercado, os livros clássicos. ca da faculdade disponibilizava tiva, por exemplo, com texturas, nho de ter uma biblioteca própria. “Lembro-me de pagar em média para os alunos de todo o curso fontes diferentes, e são um pouSó que, com o (pouco) dinheiro da de R$ 10 cada livro, o que para era insuficiente e eu precisava ter co frágeis. É preciso cuidar para

não acabar quebrando o livro”, diz Beatriz, referindo-se a quando um grupo de páginas se solta em blocos). Os livros pockets são cada vez mais procurados durante os 11 anos em que a Livraria Entrelinhas integra o grupo de bancas da Feira do Livro. O vendedor Yan Kruel, 18 anos participa pela primeira vez do evento de Porto Alegre. “A maior parte dos livros de bolso que vendemos são L&PM”, diz Kruel. São livros muito procurados, devido seu preço acessível e por serem mais leves, fáceis de carregar. Para muitos, são também uma maneira de popularizar e disseminar a cultura. Hoje um livro tamanho convencional do dramaturgo inglês Shakespeare, por exemplo, custaR$ 55. O mesmo livro no formato pocket, com o mesmo conteúdo, sai por um valor entre R$ 15 e R$ 20. Esses livros menores são procurados por um público diversificado, o que realmente define a procura é o baixo custo das obras, afirma Kruel. Memória de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, Dom Casmurro, de Machado de Assis, obras variadas da autora Agatha Christie e os títulos do jornalista David Coimbra foram os mais vendidos. Acompanhe os quatro títulos mais populares este ano na Feira, na página 9 desta edição.

Dicionário de inglês em diferentes formatos e tamanhos na área internacional da praça Cristiane Vargas e Melissa Renz

H

á mais de 20 anos, a Livraria SBS participa da área internacional da Feira do Livro. O sócio Marcelo Anele, 41 anos, desde 2000 atua como livreiro. “Nesse período de baixa nas vendas, a Feira ajuda a aumentar a receita da livraria no período do final de ano”, diz Anele. A livraria é procurada por escolas de idiomas, professores e pessoas que querem aprender inglês. Esse público busca

desde livros de literatura, dicionários e títulos em geral, destacando também os livros em miniaturas como guias de viagem e histórias infanto-juvenil. “A chegada do ebook ao Brasil trouxe um receio aos livreiros”, comenta Anele. Mas, devido à cultura das pessoas, mantém-se o hábito comum, de segurar o livro e folhear suas páginas durante a leitura. Também por uma questão de nem todas as pessoas terem acesso à internet. Com isso, cada vez mais os chamados “livros de bolso” ganharam seu espaço,

substituindo os livros de tamanho convencional. Junto a essa facilidade de manuseio, vem também o preço acessível, aumentando as vendas. Na SBS, o Dicionário Oxford é um dos mais procurados pelos leitores. Em seu tamanho convencional, com CD-ROM, custa R$ 42. O mesmo título, sem CDROM, custa R$ 32. Já o mesmo dicionário em miniatura sai por apenas R$ 15. “A cada ano a venda de dicionário tem caído nas vendas, devido os downloads disponibilizados pelas editoras”, afirma Anele.

Dicionários pocket são muito procurados pelos leitores na Feira. Foto: Melissa Renz


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GOSTO PELA LEITURA

A literatura infantil agiganta a imaginação dos pequenos Apesar dos avanços da tecnologia, os livros infantis ainda predem a atenção da criançada Leticia Kruse e Paulo Nunes

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60° Feira do Livro de Porto Alegre, de 31 de outubro a 15 de novembro, na Praça da Alfândega, contou com orquestras comunitárias, praça de alimentação, e claro, vários estandes de leituras diversas. Uma das que atraíram mais público foia área infantil. Este tipo de leitura está muito presente na feira, e, apesar dos avanços tecnológicos, muitas crianças ainda gostam de ler e apreciar livros em papel. Entre as crianças que visitavam a Feira, está Júlia Figueira Almeida, oito anos. Ela contou suas preferências: “Gosto de contos de fada, como Chá das Princesas. Também gosto de livro de moda e sobre o corpo humano”, conta Júlia. Outras crianças estavam no local. Algumas mesmo sem saber ler já apreciavam a leitura, ao reconhecer letras e figuras, como o caso de Nicholas de Mattos, seis anos, e Wagner Manoel De Moraes, quatro anos. Um dos vendedores do

estande Ciranda do Livro, Maurício de Mattos, 30 anos, explicou o que mudou na leitura da época em que não existia a internet até os dias de hoje: “É interessante, porque, de uns tempos para cá, a leitura diminuiu. Então, fazemos livros mais ilustrativos, como quebra-cabeças, e de colorir. Esses são os mais vendidos. E os clássicos também, só que modernizados”. Veja alguns dos livros infantis mais vendidos na 60° Feira do Livro de Porto Alegre. Turma da mônica A Turma da Mônica é uma história em quadrinhos criada por Mauricio de Sousa em 1963, onde os principais personagens são: Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão. Os livros contam histórias sobre temas adultos, como política, cidadania e preconceito, em uma linguagem simples e com ilustrações que traduzem esses assuntos para as crianças. A história se passa no bairro Limoeiro, em São Paulo. Desde 1970, a série foi editada por diversas editoras como Abril e Globo. Desde 2007, é publicada pela Panini Comics, somando quase 2 mil revistas já publicadas entre cada personagem. Além

Os livros infantis mais procurados na Feira deste ano foram Peppa Pig , Cinderela e Turma da Mônica Foto: Leandro Osório

disso, também conta com publicação especial de tiras no formato de bolso pela própria Panini e pela L&PM. Cinderela O conto italiano da Cinderela fala sobre uma menina que perde

o pai e mora com a madrasta e duas irmãs más. Elas tinham inveja da Cinderela e faziam dela uma serviçal. Seus únicos amigos eram os animais da floresta. No baile de formatura, seus amigos fizeram seu vestido, mas a madrasta e as suas irmãs estragaram a roupa. Ela ficou triste. Graças a suas orações, surgiu uma fada madrinha, que fez um novo e lindo vestido. Ela pode ir ao baile, porém teria de voltar à meia-noite. Quando chegou à festa, estava tão linda que o príncipe a chamou para dançar. À meia-noite, ela teve de sair correndo e perdeu seu sapatinho de cristal. O príncipe achou o sapato e foi atrás da sua dona. No final da história, o príncipe encontrou Cinderela e devolveu o sapato. Ele estava tão encantado e apaixonado por ela, que se casaram e... bem, você sabe... Viveram felizes para sempre. Peppa pig

Os livros em estilo quebra-cabeça e de colorir são os quem mais chamam a atenção dos pequenos na Feira Foto: Leandro Osório

Peppa Pig é série de desenhos que conta a história de Peppa, uma porquinha cor-de-rosa que vive com seu irmão George e Papai Pig e Mamãe Pig, em uma cidade fictícia. Veja quem são os personagens da família: Peppa - É uma porquinha de seis anos, que adora brincar de se vestir com fantasias. Passa o dia saltando entre as poças de

lama ao redor de sua casa. Suas aventuras sempre terminam com muitas gargalhadas. George - É o irmão pequeno de Peppa. Tem dois anos e adora brincar com sua irmã mais velha. Seu brinquedo favorito é um dinossauro, que leva para toda parte. Costuma chorar quando se assusta ou quando perde o seu amigo dino. Suzy – Uma ovelhinha. É a melhor amiga de Peppa. Elas adoram se fantasiar: Suzy sempre se veste de enfermeira, e Peppa, de princesa das fadas. Ambas vão ao parque para brincar com seus amigos: Rebecca, Danny, Zoe, Pedro, Candy, Emily e Juan. Papai Pig - É o pai de Peppa e George. É muito alegre e está sempre sorrindo e brincando com os filhos. Gosta de ler jornal e fica empolgado com a ideia de viajar de carro. Comilão, adora biscoitos e torta de abóbora. Às vezes, fica mal-humorado, especialmente quando não consegue encontrar seus óculos. Porém, está sempre ensinando seus porquinhos. Mamãe Pig - É a mãe de Peppa e George. Gosta de saltar as poças de lama quase tanto quanto Peppa. Trabalha em casa, no computador e, às vezes, deixa que Peppa e George a ajudem. Além disso, é muito inteligente e sabe interpretar mapas melhor do que Papai Pig.


UNIPAUTAS • NO 5 • 2014/2  •  7

NOVOS AUTORES

Samanta Holtz fala de sua vida no universo literário A escritora lançou seu livro, Renascer de um Outono, e concedeu autógrafos no dia 8 de novembro

SOBRE A ESCRITORA

Nicolle Lenuzza

V

ender livros, aproximar os leitores dos escritores, promover debates e oficinas. A Feira do Livro de Porto Alegre é tudo isso. Mas é também uma oportunidade para o público conhecer novos autores, que começam a despontar no cenário literário brasileiro. Samanta Holtz é uma dessas novidades que os gaúchos puderam conhecer. A escritora paulista já tem três livros publicados e mais dois ou três esperando para ir para o papel. Sua paixão pela literatura começou desde o berço, quando, por acaso do destino, nasceu no Dia Mundial do Livro. Aos cinco anos, Samanta já lia suas primeiras histórias, algo que aprendeu sozinha. Aos oito anos, começou a escrever seus primeiros quadrinhos. Seu sonho era trabalhar com o pai deste gênero, Maurício de Sousa. “Eu pegava um monte de folhas de oficio, grampeava no meio e fazia meus personagens, então já eram meus primeiros traços literários”, conta ela. A escritora começou sua carreira literária pelo selo Novos Talentos da Literatura Brasileira da editora Novo Século, que dá oportunidade para novos autores. Hoje, assina pelo selo principal da mesma editora seus três livros, O Pássaro, Quero ser Beth Levitt e Renascer de um Outono. Ela já ganhou prêmios literários, encanta com suas escritas e, por onde quer que passe, seus leitores. Samanta esteve em Porto Alegre, no dia 8 de novembro, para um bate-papo na Feira do Livro promovido pela editora Novo Século. Sempre simpática e sorridente, conversou com o Unipautas em um dos bancos próximo ao chafariz da Praça da Alfândega: Unipautas - Quantos livros você lê por mês? Samanta - Eu lia mais antes, porque tinha mais tempo, agora tento manter um ritmo de leitura que é mais lento. Nesta

A escritora Samanta Holtz na Praça da Alfândega, Centro Histórico de Porto Alegre Foto: Nicolle Lenuzza

época de lançamento de livros e eventos, consegui no mês de outubro ler um livro, o que pra mim é muito pouco. Acho que, a partir de janeiro, quando vou começar a focar mais na escrita do livro novo e diminuir o ritmo de divulgação, pretendo conseguir voltar a ler mais, o que é uma média de três livros por mês, pelo menos. Unipautas - Qual a sensação de ser premiada diante de tantos nomes importantes do cenário literário brasileiro? Samanta - Fiquei muito lisonjeada. Você para e pensa que, há alguns anos, eu apenas sonhava em ser escritora e hoje alguém está me achando digna de receber um prêmio por isso. É maravilhoso, é como se fosse uma recompensa de Deus, da vida, mostrando que você está no caminho certo, continue assim. Premiação é sempre a confirmação de que estamos indo no caminho certo. Unipautas - Para Samanta, o que é ser escritor? Samanta - É mais do que pôr um livro na estante dos leitores, é você realmente fazer a diferença na vida das pessoas. O maior prêmio que recebo são os depoimentos mostrando que isso está

acontecendo. Unipautas - Qual a melhor e a pior parte de ser escritor? Samanta - A melhor parte é um leitor chegar e falar: “Olha, o seu livro mudou a minha vida, me inspirou a fazer alguma coisa que eu queria muito”. Eu recebo muitos depoimentos de pessoas que começaram um projeto ou deram andamento em um sonho que tinham desistido depois de lerem meus livros, porque principalmente O Pássaro traz essa mensagem de buscar os sonhos. A pior parte é a falta de tempo. Eu queria ter tempo pra fazer tudo integralmente. Às vezes, recebo tantos recados e vejo que deixo alguns passarem. Às vezes, quero me dedicar totalmente à escrita e me ausento dos leitores e vice-versa. A gente começa a entrar em um conflito pessoal de como administrar tudo junto. Unipautas - Se você pudesse escrever para algum ídolo, quem seria? Samanta - Tem um artista que eu gosto muito. É um pianista, ele se chama Yanni. Sempre fui apaixonada pelas músicas dele. Eu as ouço enquanto escrevo. Já fiz uma pequena homenagem pra ele no livro Quero ser Beth Levitt. O nome da personagem é Felitsa,

Samanta Holtz nasceu no Dia Mundial do Livro, 23 de abril, no interior de São Paulo. Aprendeu a ler sozinha aos cinco anos. Aos nove, ganhou um prêmio de redação em sua cidade, Porto Feliz. Publicou seu primeiro romance em 2012, O Pássaro, premiado no Destaques Literários por votação do público e do júri técnico, seguido por Quero ser Beth Levitt, que teve a primeira edição esgotada em três meses, e Renascer de um Outono, romance escrito ainda na adolescência, seu terceiro a ser publicado. Em agosto de 2014, foi nomeada Escritora Humanitária no I Prêmio Anita Garibaldi do Estado de São Paulo. A escritora afirmou ainda que no início de 2015 pretende escrever mais um romance.

o mesmo nome da mãe dele. É uma pequena homenagem para alguém que me inspirou tanto com as músicas. Unipautas - Quem são seus ídolos nacionais? Samanta - Mauricio Gomyde e Carina Rissi. Os dois não são apenas bons escritores. São também bons como pessoas. Unipautas - Dos seus três livros, qual você gostou mais de escrever? Samanta - Ai, que difícil! Acho que o que mergulhei mais foi o Quero ser Beth Levitt, porque é uma historia mais leve, mas precisei ficar o tempo todo atenta, para não cometer nenhuma gafe, por ser um livro de época. Precisei pesquisar muito também. Renascer de um Outono foi o primeiro que escrevi, mas foi o último a ser publicado. Então tive de fazer muitas revisões, reescrevi, mudei a ordem dos capítulos. Tenho recebido muitas opiniões diferentes sobre este, talvez por ser o único livro que escrevi em primeira pessoa. Tem gente que ama e gente que odeia, porque tem menos ação. Em contrapartida, tem mais sentimento. E O Pássaro é um livro mais denso. Mas gostei de todos, cada um de sua maneira.

O Pássaro Número de Páginas: 368 Editora: Novo Século - SP

Quero Ser Beth Levitt Número de Páginas: 544 Editora: Novo Século - SP

Renascer de um Outono Número de Páginas: 328 Editora: Novo Século - SP


8  •  UNIPAUTAS • NO 5 • 2014/2

DE OUTROS MUNDOS

Heróis, meninos bruxos e fadas circulam entre as bancas da praça Livros que conduzem a mundos distantes e apresentam personagens irreais ganham espaço Gicele Kreibich

O

penúltimo sábado da Feira do Livro de Porto Alegre reuniu bruxos de quatro casas diferentes. A predominância de pessoas que dizem ser da Sonserina ou Grifinória era visível entre as bancas. Apesar da magia e dos bruxos não serem reais, isso não impediu o Encontro dos Herdeiros de Sonserina, que aconteceu na Casa do Pensamento, localizada na sessão infantil da feira. O fã-clube da saga Harry Potter organizou algumas horas de quiz, troca de conhecimentos, além de jogos relacionados a uma das obras de ficção consagradas no mundo todo. Jéssica Campos, estudante do Ensino Fundamnetal, 13 anos,

Representação dos personagens da literatura geek e distópica. Arte: Athos Ribeiro

diz que começou a ler a série por influência do irmão e se considera uma das maiores fãs de Harry Potter. “Eu pegava os livros escondido do Giovani. Depois que

eu lia, não queria devolver pois pra mim era a melhor história de todas”, confessa Jéssica. Trilogias e sagas que se passam em um mundo distópico

como chamativos para possíveis compradores. “Estou procurando de banca em banca para achar um preço melhor, não tem um box, tenho de ficar procurando livro por livro”, relata Deborah Bilhalva, que buscava os livros da trilogia A Seleção, que fez a autora Kiera Cass conquistar muitas fãs brasileiras com suas histórias envolvendo guerras, monarquia e um romance. Além das distopias, os quadrinhos e mangás também ganharam mais espaço e visibilidade. Entre os corredores repletos de livros na 60o Feira do Livro de Porto Alegre não era difícil encontrar alguma obra especial sobre Batman ou outros personagens da DC Comics e Marvel. “Meu filho coleciona esses livrinhos, não sei se ele já tem esse, estão ganhando espaço nas ban- mas vou levar para dar de precas. Títulos como Jogos Vorazes, sente”, conta Cláudia Santos, Divergente, Game of Thrones dona de casa, e que com seus 47 (Guerra dos Tronos) e tantas ou- anos chama os sagrados Mangás tras obras surreais são expostos de livrinhos.

Para inclusão de jovens, este ano a Feira saiu da Praça e foi à Fase Projeto tem o objetivo de despertar prazer pela leitura entre adolescentes infratores Jéssica Kasper

O

s adolescentes do Case Poa 1, da Fundação de Assistência SocioEducativo (Fase), lançaram na 60º Feira do Livro a cartilha Movimento Ensinando a Mudança: Em busca da Felicidade. A atividade foi fruto de um projeto do órgão, em parceria com a escola Tom Jobim, cujo objetivo é despertar uma cultura de paz, dentro e fora da privação de liberdade. Distribuído na Feira, o trabalho descreve todas as atividades que são realizadas com os jovens infratores na unidade. A cartilha estava a mostra na Biblioteca Moacyr Scliar, na Área Infantil, nos dias 9 e 10 de novembro.

A Feira levou alguns autores para o centro de internação provisório da Fase, para palestras e atividades educativas. O projeto O Mundo aos Meus Olhos incluiu uma oficina de leitura e aulas de fotografia, nas quais os adolescentes puderam fazer registros apresentados durante o evento no centro da Capital. O projeto ISPAE Sem Algemas levou cinco meninos à Feira, para que pudessem ver o resultado desse trabalho e participar de uma roda de discussão sobre as atividades. O projeto Roda de Leitura Temática é coordenado pela bibliotecária da Fase, Juliana Peres, que pretende ampliar a ideia para outras unidades da fundação, variando os temas e levando conhecimento para os jovens: “O objetivo é que o adolescente perceba a leitura não só como uma obrigação, de pegar um livro e estudar para a prova, mas entenda que a leitura é muito mais do que isso, conhecer assuntos novos e ampliar os horizontes”.

Sessão de autógrafos na Feira do Livro da cartilha Movimento Ensinando a Mudança: Em Busca da Felicidade. Foto Jéssica Kasper

Um dos temas abordados com as meninas foi a Lei Maria da Penha. As jovens receberam conhecimento sobre conceitos da legislação e, a partir daí, realizaram atividades, como textos, desenhos e colagens, também

expostos na Feira. O projeto A feira vai à Fase conta com o apoio da Câmara Rio Grandense do Livro e da escola Tom Jobim. O objetivo é levar escritores, contadores de histórias e outros mediadores de leitura

para realizar encontros mensais com os adolescentes retidos na instituição. Além de aproximar o universo literário dos internos, a iniciativa vem contribuindo para estimular o hábito de ler e a inclusão social desses jovens.


UNIPAUTAS • NO 5 • 2014/2  •  9

PAPO COM O AUTOR

O escritor, os submarinos nazistas e uma nação inteira na guerra Os motivos que levaram o Brasil a entrar nos grandes conflitos mundiais são temas de Marcelo Monteiro Melissa Renz

O

jornalista e escritor gaúcho Marcelo Monteiro lançou o livro U-93 – A entrada do Brasil na Primeira Guerra, com prefácio do músico João Barone (baterista da banda Paralamas do Sucesso). É o segundo livro do autor com a mesma temática. O primeiro foi U-507 - O submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial, cujo prefácio foi de Luis Fernando Veríssimo. A nova obra foi lançada em São Paulo, Santa Maria e Porto Alegre. Mas, mesmo já tendo tido sua estreia oficial, nada mais obrigatório do que também estar presente na Feira do Livro. Baterista nas horas vagas e fanático pela banda de rock Deep Purple, Marcelo tem 21 anos de jornalismo e atualmente é editor do jornal Zero Hora, onde ele recebeu o Unipautas para um bate-papo. Leia os principais trechos: Unipautas – Como surgiu o desejo de ser jornalista? Marcelo - Curiosamente, o desejo de ser jornalista eu tinha desde a infância. Desde os cinco anos eu já sabia que queria isso.

Logo que aprendi a escrever, com sete anos, comecei a brincar de produzir jornais. Eu ouvia noticiários de rádio e na TV, anotava e, depois, decupava. A partir disso, eu fazia o meu próprio jornal. Unipautas - Como começou sua trajetória no jornalismo até os dias de hoje? Marcelo - Em 1990, comecei no jornal A Razão, em Santa Maria. Trabalhava na parte gráfica, no sistema de composição de páginas. No ano seguinte, entrei na faculdade, e, dois anos depois, eu passei para a Redação, já como editor de esportes. Logo após, passei por vários veículos como a Rádio Atlântida (Santa Maria),Diário Catarinense (Joinville-SC), Zero Hora. Depois, fui para São Paulo trabalhar com produção de conteúdo. Lá, trabalhei na Gazeta Mercantil, Revista Placar, e no Portal IG. Em Brasília, trabalhei no Correio Braziliense, Jornal Hoje em Dia, Agência Brasília, do governo federal. Faz dois anos e meio que retornei para Porto Alegre, como editor de Zero Hora. Unipautas - E como surgiu a oportunidade de ser escritor? Marcelo - Durante toda a minha carreira, sempre pensei em escrever um livro-reportagem, mas sempre faltou uma temática que eu achasse que valesse a

pena investir. Em 2008 quando estive na Bahia para fazer uma matéria sobre turismo, descobri que a cidade que eu estava (Valença no Sul da Bahia) tinha recebido náufragos dos navios afundados por um submarino alemão durante a Segunda Guerra Mundial, em 1942. Eu achei fascinante porque sempre gostei do tema Segunda Guerra, eu adorava História e sabia que o Brasil tinha ido para o conflito, mas não sabia os motivos. Isso acabou me levando inicialmente a uma série de reportagens que amadureceu e acabou virando livro. Unipautas -Como você vê o momento atual da política no Brasil? Marcelo - É um momento muito bom do ponto de vista da democracia estar sendo consolidada, mas, ao mesmo tempo, me preocupa ver o renascimento de uma pequena parcela de pessoas pedindo, por exemplo, intervenção militar, que é uma coisa surreal. Mas acho que a grande parcela da população brasileira não concorda com isso. Unipautas - Tem alguém que te inspirou a ser jornalista? Marcelo - Não tenho alguém específico. Tenho meu bisavô, que era jornalista, mas, infelizmente, não cheguei a conhecê-lo. E tem o meu avô que foi a pessoa que mais me incentivou. Quando

eu produzia esses jornais, quando criança, ele so comprava. Com o dinheiro, eu conseguia comprar as canetinhas e o papel. Ele foi o meu grande financiador (risos). Unipautas- Na época do lançamento do seu primeiro livro, você deu diversas entrevistas, inclusive para o Jô Soares. Como é estar do outro lado, no lugar de entrevistado? Marcelo - É algo que a gente vai acostumando com o tempo. No começo, é meio estranho mesmo. Acho isso muito legal porque é uma possibilidade que tu tens de fazer as pessoas refletirem sobre certas coisas. Enquanto jornalistas, nós conseguimos fazer as pessoas refletirem, mas também enquanto fonte dá para despertar nas pessoas o mesmo. Unipautas - Hoje em dia, quem fala mais alto em você, o jornalista ou o escritor? Marcelo - Essa é a melhor pergunta que pudesse ter sido feita nesse momento. Estou meio que em uma encruzilhada, eu estou encontrando minha realização maior como jornalista ao fazer essas reportagens imensas que muitas vezes não cabem nos jornais e nas revistas. Para quem gosta de ir a fundo em um assunto, o livro dá muito mais espaço e liberdade. As duas maiores reportagens que eu fiz na vida

foram os meus dois livros. Por isso, minha ideia é continuar nessa área. Unipautas - E quais são os seus próximos projetos na literatura? Marcelo - Eu já estou trabalhando em algumas pesquisas e provavelmente algo relacionado à Segunda Guerra, naufrágios brasileiros envolvendo submarinos alemães, talvez algo parecido com os outros dois livros anteriores. Unipautas - Quais são os desafios tanto da profissão jornalista quanto escritor? Marcelo - O jornalista, diferentemente dos outros profissionais, não é alguém que no momento em que bate o ponto e sai da empresa se desliga do trabalho. Ele tem de estar sempre ligado, se está em um bar com amigos e vê algo que possa ser o indício de uma pauta investigativa ou de uma denúncia, ele já registra aquilo para, amanhã, colocar em prática. Muitas vezes, com a tecnologia, as matérias são feitas praticamente em tempo real. Nós, jornalistas, temos isso de não desligar nunca e esse talvez seja o grande desafio. Como escritor é diferente, eu sou um escritor relativamente novo. Percebo que a grande dificuldade é se inserir no mercado. Não adianta ter um baita produto e não conseguir colocá-lo à disposição das pessoas.

Entre os mais vendidos, apenas um é brasileiro Foram vendidos 400 mil exemplares durante os 17 dias da Feira do Livro de Porto Alegre. Essas vendas não bateram os números de 2013 Paulo Nunes

N

o ano de 2013 foram comercializados 20.384 unidades a mais do que neste ano. O evento teve a visita de 1,4 milhão de pessoas. Com a venda de 400 mil exemplares, 4,85% foi a diferença em comparação ao o ano passado. Os números são da direção da Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL). Um dos possíveis fatores para a queda de vendas foi a constante chuva, que tirou o público de vários eventos .Uma das iscas para atrair os leitores foram as sessões de autógrafos com autores nacionais e internacionais. Foram realizadas mais de 700 sessões durante todo o evento. Confira a seguir quais foram os quatros livros campeões de venda nas bancas neste ano em Porto Alegre.

A CULPA É DAS ESTRELAS (John Green) É o sexto romance do escritor Norte-Americano John Green. Publicado em janeiro de 2012, a história é narrada por uma paciente com câncer de 16 anos de idade, chamada Hazel Grace, que é forçada por seus pais a participar de um grupo de apoio, onde posteriormente se encontra e se apaixona por Augustus Waters, de 17 anos, ex-jogador de basquete amputado.

NÃO SE APEGA, NÃO (Isabel Freitas) Tudo começa com um pontofinal: a decisão de terminar o seu namoro de dois anos com o namorado dos sonhos de toda garota. Mas por trás das aparências existia uma menina infeliz, disposta a assumir as consequências pela decisão de ficar sozinha. O livro, narra os percalços vividos por sua personagem para encarar a vida.

SE EU FICAR (NOVO CONCEITO) (Gayle Forman) O livro, de Gayle Forman, narra a história de Mia, que está em coma após o acidente que matou seus pais e precisa escolher entre ficar e viver ou morrer. Ela sabe que precisa fazer a escolha mais difícil de todas. Mia mostra que morrer é muito fácil, viver e ter que passar por tantas dificuldades é o que realmente dá medo.

DIÁRIO DE UM BANANA (Greg Heffley) Não é fácil ser criança. E ninguém sabe disso melhor do que Greg Heffley, que se vê mergulhado no ensino fundamental, onde fracotes subdesenvolvidos dividem os corredores com garotos que são mais altos, mais malvados e já se barbeiam. Em “Diário de um banana”, o autor e ilustrador Jeff Kinney nos apresenta um herói improvável.


10  •  UNIPAUTAS • NO 5 • 2014/2

ELES TAMBÉM VÃO À FEIRA

Depois dos escritores, a vez dos chefs fazerem sucesso A área gastronômica ganhou um novo e diferente espaço na edição deste ano da Feira Graziella Stiebe

C

onhecidos em eventos gastronômicos de rua, os food trucks foram uma atração à parte na 60ª Feira do Livro de Porto Alegre. Aos finais de semana, pratos que antes só

eram servidos em restaurantes foram expostos nos corredores da feira, no mesmo nível das barracas que alimentavam a fome de leitura dos visitantes. Sete veículos com lanchonetes adaptadas foram estacionados na área de alimentação, oferecendo cardápio variado com preços atrativos. Com a Praça de Alimentação reduzida este ano, apenas ao lado do Santander Cultural, na rua Cassiano Nascimento, a feira contou com uma alternativa

que vem se popularizando na área gastronômica: food trucks, ou caminhões-lanchonetes. Esse conceito moderno de cozinha em movimento já é parte do cenário urbano de cidades como Porto Alegre. Os pratos inspirados na comida de boteco, com um toque da alta gastronomia, são preparados no interior de vans e furgões. Segundo a comissão organizadora da feira os trucks trabalham com preços populares, que vão de R$ 5 a R$ 25.

AS SETE OPÇÕES DA FEIRA DE 2014 • Ligeirin, especializado em comida japonesa (temakeria). • Olivia e Palito, truck com especialidades gourmet. • Versão Brasileira, que usa ingredientes nacionais para reproduzir pratos clássicos da gastronomia mundial. • Trattoria Sobre Rodas, caminhão especializado em comida italiana, com massas, nhoques, risotos e polentas e outras receitas da nona. • Tu Carrito, panchos uruguaios. • Jackie & Jack, restaurante móvel com pegada americana, oferece fried chicken, pork ribs, burgers e muito mais. O Delicafé e todos os tipos de cafés. Fotos: Graziella Stiebe

• Delicafé, cafeteria móvel repleta de delícias e lanches gourmet.

Os argentinos marcaram presença

O exército de homens e mulheres que põe o evento em pé todos os anos Montagem das tendas, eletricidade, lona, faxina, um grupo de profissionais fazem a Feira da Capital Mariana Catalane Arocha Frantzeski

I

magine quantas pessoas trabalham para a realização e manutenção do único momento do ano em que encontramos os livros mais baratos? Você já pensou em participar desse backstage? Saiba que, há 60 anos, um grupo de profissionais muda visualmente um dos espaços mais tradicionais do centro de Porto Alegre, a Praça da Alfândega. Nos escritórios, é um ano inteiro de planejamento. Quando a praça ganha cara de feira, são eles que começam a colocar o evento de pé, no dia 1º de outubro. Alguns funcionários são contratados, outros, terceirizados. Quem tira a feira do papel integra a chamada equipe de

A limpeza é uma das funções fundamentais para garantir a circulação dos visitantes durante a Feira. Foto: Leandro Osório

pré-produção do evento. As estruturas começam a ser montadas bem antes, com um mês de antecedência. Assim a praça recebe milhares de pessoas atraídas pela vasta oferta de livros

e atividades gratuitas e também pelos espetáculos de arte, dança, música e teatro. O objetivo é não interromper a rotina de toda a praça ao mesmo tempo. Organizada por setores, a

construção inicia pela cobertura – afinal, a chuva é outra assídua frequentadora. A montagem das lonas dura aproximadamente 20 dias. Com sucesso obtido no primeiro passo, é liberada a

chegada das barracas que preenchem a parte interna. A rede elétrica e a montagem dos estandes de serviço dependem um do outro. São organizados ao mesmo tempo, mas por equipes diferentes. Os eletricistas fazem parte da equipe de engenheiros. A montagem, os pisos, os palcos são serviços terceirizados. Na equipe desta pré-produção são cinco eletricistas preparados para montar nove pontos de tomadas elétricas distribuídas por caixas que abastecem os estandes, dois auditórios, dois teatros, uma biblioteca, estúdio de rádio, mobília, ar-condicionado, equipamento multimídia, tomadas, mesas. E finalmente chegam as barracas: são 102 no geral, 14 na área infantil e 11 na internacional. As livrarias maiores têm suas próprias barracas, as menores alugam. No dia-a-dia da feira, a segurança é monitorada pela Brigada Militar, por câmeras e soldados. A limpeza é feita por 30 faxineiros, 10 para cada turno e um por corredor.


UNIPAUTAS • NO 5 • 2014/2  •  11

Mauricio de Sousa, escritor infantil pelas circunstâncias Criador da Turma da Mônica recebeu homenagens e espalhou emoções por onde passou Letícia Anele

M

agali, uma das personagens mais famosas dos quadrinhos brasileiros, fez aniversário no dia 7 de novembro. Nada mais natural do que convidar para a festa seu pai, Mauricio de Sousa, ilustre participante da 60 edição da Feira do Livro de Porto Alegre. Também criador de personagens como Mônica, Cebolinha, Cascão, Chico Bento, entre outros, Mauricio participou de um bate-papo com crianças do Ensino Fundamental, de sessão de autógrafos, e foi homenageado, ao receber a Comenda Ordem do Jacarandá. Depois, ele respondeu perguntas em uma coletiva de imprensa. Mauricio contou como começou a escrever e a desenhar especialmente para crianças. “Quando comecei a desenhar histórias em quadrinhos, eu não sabia que ia fazer história em quadrinhos para crianças, porque comecei minha carreira

fazendo tira de jornal. O jornal como preconceito, cidadania, tradicionalmente é um produto política e fala de uma forma tão para adultos, então as tirinhas simples que as crianças entensaíam sem a preocupação de fa- dem o mundo real, mesmo que zer uma história infantil. Só que seja pela fantasia. Mauricio exmeus personagens eram crian- plicou ao UniPautas o dom de ças, e criança gosta de se ver. transmitir temas importantes Então, quando saíam as minhas para a formação das crianças. tirinhas, a criançada começava a “Como tenho 10 filhos, 11 netos pegar o jornal do pai, e eleger a e dois bisnetos, estou conversanminha história como a história do todo tempo com essa criançadelas. Percebi que estava viran- da. Quando estou conversando do história para criança, aí levei sobre alguns assuntos, eles pera coisa mais a sério. Fui escritor guntam: ‘Como é esse negócio, infantil devido às circunstâncias, disso e daquilo?’ Tenho de fazer não tinha planejado isso, mas uma ginástica para traduzir isto, agradeço aos céus por isso”, ex- para colocar uma imagem coloplicou Mauricio. quial, mais simples, direta, para O desenhista coloca nos gibis, que seja inteligível e que eles entemas considerados de adultos, tendam bem”, disse.

O PAI DA MÔNICA

Pareceu sonho, mas foi bem real Letícia Anele

S

empre fui apaixonada pela Turma da Mônica. Ao saber que Mauricio de Sousa estaria na 60 Feira do Livro de Porto Alegre, não pensei duas vezes para ir até a feira e tentar conseguir falar com ele. Além de conhecêlo, também queria tentar fazer uma reportagem com alguém que admiro. Ao chegar ao Clube do Comércio, local de sua sessão de autógrafos, palestra e entrevista, fui barrada pela segurança. Só poderia entrar crianças e professores de colégios inscritos na visita. Depois, pior, sessão para somente 70 pessoas. Saí e fui dar uma volta pelos estandes da feira. Enquanto fotografava, vi pessoas com a camiseta da Feira do Livro. Perguntei a uma delas se teria como fazer uma matéria com Mauricio de Sousa, disse que era estudante de Jornalismo, e a reportagem era uma sugestão do professor Rodrigo Lopes. Era Marco Cena, editor de um dos livros de Lopes. Sorte! Ou... Ele disse que, talvez, eu não conseguisse conversar com Mauricio. Mas, (grande notícia!), me levaria para tirar uma foto do desenhista Na porta do Clube do Comércio, Marco avisou: “Agora, tu fazes parte da imprensa”. Parecia um sonho. Tirando fotosde quem tanto me inspirou na infância! Tirei várias. Dele e das crianças. Depois, dei um abraço

bem apertado e falei o quanto o adorava. Fotografei a sessão de autógrafos. Quando não estava tirando fotos, estava conversando com o editor da Turma da Mônica. Toda vez que Mauricio dava um autógrafo, ele desenhava um personagem para cada pessoa. Chegou a minha vez. Pedi para ele desenhar o Floquinho, em homenagem ao meu cachorro que virou estrelinha. Meu companheiro dos oito aos 21 anos, o Skoll. Depois, pedi um autógrafo para a minha mãe. Dois de uma só vez? Sim, por isso levei um puxão de orelhas do editor de Mauricio. Eu estava burlando o combinado. Quando expliquei que pedi ao Mauricio o desenho do Floquinho em homenagem ao meu cachorrinho, ele achou lindo. Sugeriu que eu lesse o último gibi, pois Floquinho desaparece. Coincidência, né? Antes da coletiva de imprensa, houve homenagens a Maurício. Foi então que descobri que Marco Cena, aquele que me colocara dentro da sala onde estava o desenhista, era presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro. Ou seja, ninguém menos do que o organizador da feira. Fui na pessoa mais certa possível. Não desisti quando fui barrada, fui persistente e valeu muito a pena. Além de conhecer de perto o querido desenhista, tive um dia de jornalista. Foi um dos melhores dias da minha vida. Aprendi duas coisas: ser cara de pau quando necessário e desistir jamais!

Uniritter Autografa aproxima autor e público

N

o dia 9 de novembro, 10 títulos da Editora Uniritter foram autografados no evento já tradicional da instituição na Feira do Livro de Porto Alegre, conhecido como UniRitter Autografa. Estima-se que mais de 300 pessoas foram os lançamentos neste ano. A Editora, vinculada à PróReitoria de Pesquisa, PósGraduação e Extensão, tem como objetivo principal publicar obras de valor científico e cultural, produzidas por professores e especialistas. Filiada à Associação Brasileira das Editoras Universitárias

– ABEU, as publicações contam com cuidadoso projeto editorial e de design gráfico para cada uma de suas coleções. Além de estimular e editar a produção acadêmica, a Editora UniRitter promove ações culturais de incentivo à leitura e à valorização do livro, contribuindo na tarefa de formar leitores para o desenvolvimento da sociedade. Os 10 títulos deste ano são de diversas áreas do conhecimento e passaram pela avaliação dos conselhos Científico e Editoral da instituição. A Editora possui diversos livros no seu catálogo que estão à venda na Biblioteca e no quinto andar do Prédio C, ambos no Campus Zona Sul, em Porto Alegre.

CONFIRA OS LANÇAMENTOS 1. Caminhos para a Sustentabilidade através do Design, de André Luis Marques da Silveira, Carlo Franzato e Julio van der Linden (orgs.) 2. Lições de Direito das Famílias, de Claudia Ernst Rohden e Juliana Leite Ribeiro do Vale (orgs.) 3. Debates contemporâneos sobre Direito das Sucessões, de Cláudia Gay Barbedo (org.) 4. As Relações Internacionais em Debate - volume 2, de Cristine Koehler Zanella e Marc Antoni Deitos (org.) 5. Sustentabilidade na construção: em busca de novo paradigma, de José Alberto Azambuja 6. Assessoria não é acessório: a importância da comunicação na construção de marcas fortes, de Laura Glüer 7. Identidade coletiva de professores na escola pública, de Maria Beatriz Pauperio Titton 8. Literatura para intervir, de Rejane Pivetta 9. Literatura, História e Cultura Africana e Afro-brasileira nas Escolas – 2ª ed., de Regina da Costa Silveira e Rosilene Silva da Costa (orgs.) 10. Uma introdução à criptografia, de Vinicius Gadis Ribeiro

FOTO: MARIANA CATALANE FRANTZESKI

Mariana Catalane Arocha Frantzeski


12  •  UNIPAUTAS • NO 5 • 2014/2

ALÉM DOS LIVROS

Moacir Scliar para ler, Q ver, ouvir e sentir

Exposição com recursos audiovisuais revela a vida e a obra de um dos maiores escritores gaúchos e um imortal da Academia Brasileira de Letras Vanessa Magnani

uando nasci, correu pela vizinhança que eu me chamava Mico”. É com essa frase, escrita à mão com tinta preta pelo próprio escritor em um pedaço de papel rasgado, que fica evidente o propósito da mostra O Centauro do Bom Fim, um projeto intimista, que traz ao público detalhes desconhecidos sobre o escritor gaúcho Moacyr Scliar. Na entrada do Santander Cultural, no Centro Histórico de Porto Alegre, um túnel se apresenta à nossa frente, nos fazendo voltar no tempo. Fotografias que contam a imigração de judeus compõem um caminho que retrata um dos aspectos da vida do escritor: o judaísmo. Filho de casal com descendência russo-judaica, Scliar nasceu e morou em uma comunidade israelita no bairro Bom Fim, na Capital. Na exposição, enquanto uma música instrumental toca ao fundo, o corredor conduz a um mapa do bairro em que sempre residiu, onde há as principais ruas desenhadas no assoalho, revelando como era o universo de Mico – seu apelido entre amigos e familiares. Para Judith Scliar, viúva do escritor, a importância da mostra é exatamente exibir a vida pessoal da figura pública: “É para que as pessoas possam compartilhar conosco a pessoa que o Moacyr foi. Para que as pessoas possam conhecer um pouco mais da vida dele”. Dentro das gavetas amarelas espalhadas pela parede há uma chave que abre uma portinhola. Em seu interior, há livros pessoais como Noite, de Érico Veríssimo e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. É perceptível a ação do tempo em suas páginas descoloridas. Doroti Raduszewski, de 70 anos, que visitou a apresentação pela primeira vez, comentou que seu falecido marido, Eumar Raduszewski, era conhecido de Scliar. Ambos judeus

Diversos livros de Scliar são encontrados por toda mostra. Fotos Vanessa Magnani

e escritores, trocavam correspondências. “Está tudo muito lindo, coisas muito boas que fizeram para ele e que é muito merecido pra ele e pra nós, pois somos nós que ganhamos com isso”, declara. Itens íntimos de Scliar são encontrados em todos os lados do primeiro andar do Santander Cultural, incluindo sua máquina de escrever, seus manuscritos da obra Guerra no Bom Fim com suas correções estão disponíveis para o público apreciar. Uma exibição com fotografias, vídeos e textos escritos nos quadros pendurados enchem os olhos. Há telas com representações de livros como Os deuses de Raquel, onde atores interpretam trechos da obra. Poltronas se juntam a tablets que trazem resumos de exemplares. Um painel com perguntas sobre a vida do escritor testa o nível de conhecimento do público. Interação pura. O escritor que possui seus livros traduzidos para cerca de 10 idiomas ampliou Porto Alegre dos mapas. “O Bom Fim tornou-se um bairro mundial através da literatura dele”, destaca Judith Scliar.

Tablets que trazem trechos de livros de Scliar estão disponíveis para o público

As várias facetas de Scliar

M

A Guerra do Bom Fim – um de seus livros mais famosos – e A balada do falso Messias, traduzido para o inglês.

oacyr Scliar se formou em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1962 e seu discurso de formatura está presente na exposição. No mesmo ano, publicou seu primeiro livro Histórias de médico em formação. O primeiro gaúcho a integrar a Academia Brasileira de Letras (ABL), possui mais de 70 livros publicados.

Romances, contos, crônicas, ensaios, matérias jornalísticas: Moacyr era versátil. Médico, escritor, jornalista, professor: Moacyr era multifacetado. Ao escrever, desligava-se do mundo à sua volta e fazia uma ligação direta com as palavras. Vencedor de mais de 15 prêmios, entre ele Os Açorianos e Jabuti, teve suas obras traduzidas para 10 idiomas. “Ele

tinha um apelido entre a família e amigos, Mico. Apesar de todos os prêmios que recebeu, nunca deixou de se considerar o Mico do Bom Fim. Scliar continuou sendo o escritor simples do Bom Fim”, aponta Judith. Toda essa poesia ficou disponível aos nossos olhos até 16 de novembro. A pluralidade de Scliar foi explorada. O público espera uma nova oportunidade.


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