Unipautas nº 03 (2014/1)

Page 1

ENTREVISTA

Jornalista e publicitário Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala, fala sobre o futuro da comunicação. contracapa

PORTO ALEGRE/RS SEMESTRE 2014/1 ANO II • NÚMERO 3

JORNAL DA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIRITTER

O mundo em Porto Alegre Edição especial do Unipautas aborda a presença estrangeira na capital dos gaúchos

Foto: Michelle Bertotti

As pessoas Para morar, para fugir, para passear, para trabalhar, para jogar. Série de reportagens especiais mostra a história de estrangeiros que vieram morar na Grande Porto Alegre, como o atleta olímpico cubano Angel Dennis (foto).

Dança

RITMO ESPANHOL NO PAÍS DO SAMBA Gabriel Matias, o bailarino porto-alegrense que fez do flamenco sua vida e sua profissão. p. 20

Cultura

páginas 4 a 9

SEMANA DA CHINA COLORE REDENÇÃO

Foto: Tiago Pereira

A cultura Da arquitetura à culinária, passando pela dança e pelo esporte, a influência estrangeira se faz sentir na Capital. Exemplo disso é o crescimento do futebol americano (foto) na cidade.

Evento traz aos portoalegrenses oportunidade de aproximação com cultura chinesa. p. 15 Comunicação

A PROFISSÃO DOS SONHOS Jornalistas Marcelo Barreto e Marcelo Rech contam suas experiências como correspondentes. p. 17

páginas 12 e 13 Foto: Isabel Borges

A Copa Cerca de 160 mil turistas, dos cinco continentes, coloriram as ruas de Porto Alegre. Pelo Caminho do Gol passaram holandes, coreanos, argelinos, argentinos, australianos, nigerianos, franceses e, claro, os campeões do mundo alemães (foto).

páginas 10 e 11

Gastronomia

VIAGEM DE SABORES Restaurantes internacionais permitem que se tenha um aperitivo de outras partes do mundo sem sair da cidade. p. 22-23


2  •  UNIPAUTAS • 2014/1

APRESENTAÇÃO

EDITORIAL

Jornalismo de gente grande

Vida longa ao jornal impresso

Rodrigo Lopes, professor

N

o lugar da bola redonda, uma bola… oval. Sim, no país do soccer, na Porto Alegre da Copa 2014, também se joga futebol… americano. Outra: um jogador cubano foge da delegação em um país europeu, quer escapar mesmo do medo de voltar para ilha onde nasceu, e acaba reconstruindo sua vida em Canoas. Uma terceira: uma cidadã afegã deixa para trás a ditadura do Talibã e as bombas americanas para reencontrar em um famoso instituto de beleza da Capital sua dignidade. O que estas histórias têm em comum? Três coisas. Primeiro, são histórias de mundos tão longínquos e, ao mesmo tempo, tão próximos. Segundo: estão ao nosso lado. Aposto que acontecem a não mais do que 50 quilômetros de onde você mora. São histórias que muitas vezes, neste mundo globalizado, passam invisíveis ao nosso olhar. Afinal, com a internet, é mais fácil sabermos o que acontece em Bagdá, Cabul ou Pequim, do que tomar conhecimento do que ocorre com o nosso vizinho. Mas há um terceiro elemento que une o time de futebol americano de Porto Alegre, o cubano em fuga e a afegã refugiada: estas e muitas outras pessoas ganharam a luz, a visibilidade, por conta de jovens repórteres em formação, sedentos por contar histórias de gente. Sim, gente, ser humano, matéria-prima do Jornalismo com “J” maiúsculo. Ricas histórias preteridas em muitos jornais, carentes de

dever cumprido, da entrevista humanidade. Números, estatísticas, você, bem feita. Caro leitor, peço licença para caro leitor, não encontrará neste Unipautas que tem em mãos. me dirigir aos estudantes que Os textos que você lerá nesta ter- confeccionaram os textos que ceira edição do jornal laboratório você lerá a seguir. Queridos aludos alunos da UniRitter transpi- nos, o “prof ” está orgulhoso! ram vida. Seja por conta de quem Daqui para frente, escrevam mais, foi personagem das reportagens, exercitem mais a arte tão antiga seja por quem as escreveu. Neste de juntar letrinhas. Lembrem-se: primeiro semestre como docente, só escreve bem quem lê muito. E foi com orgulho que acompanhei não percam a curiosidade pelo – e, confesso, palpitei bastante - mundo. Como falamos em aula os estudantes do 3º semestre de – e, eu sei, até cansei vocês com Redação I na arquitetura destas isso -, as grandes histórias estão páginas. Os alunos planejaram nas ruas. Não estão dentro das as pautas, sujaram os sapatos Redações. A vida está lá fora, a atrás das entrevistas, entusias- nossa espera. É o repórter quem maram-se com relatos emocio- ilumina a cena, quem joga luzes nados e também frustraram-se sobre ela. Caro leitor, agora é a você a diante de algumas negativas das quem me dirijo: vivemos, no fontes. Sim, caro leitor, a vida, com semestre em que este jornal foi toda a sua complexidade, não é feito, o maior evento esportivo fácil. De jornalista, então, nem se do Brasil em 64 anos. Você até fala: nem sempre encontramos a pode ser contra, mas, com a fonte, ou, quando a encontramos, Copa, o mundo ficou mais perela muitas vezes não quer falar to do Brasil. Acostumamos-nos conosco. Neste mundo jornalísti- a trombar com torcedores franco de informações pausterizadas, ceses, com mapas nas mãos, no de avalanche de notícias, vence Brique da Redenção, curtimos quem tem persistência. Por isso, ver o Beira-Rio lotado de holanvibrei junto com aqueles estu- deses e australianos. Mas há muidantes, repórteres ganhando to do mundo em Porto Alegre asas, ao saber que, quando já es- mesmo quando não há Copa. tavam desistindo, deram mais Receptivos que somos, nós, os um telefonema, tentaram mais gaúchos, exercemos com maesum e-mail, bateram na porta – tria a hospitalidade. Isso desde a até um encontro casual na frente Porto dos Casais. Não é a toa que do Mercado Público está valendo. estrangeiros como o cubano de Para uma boa reportagem, 10% Canoas ou a refugiada afegã esdepende de talento. Noventa por colhem o paralelo 30 como suas casas. É um pouco desse mundo cento de transpiração. Já estive do outro lado. Já fui em Porto Alegre que você encon(sou) repórter, coordeno equipes trará nestas páginas. Boa leitura! de jornalistas profissionais como editor. Por isso, sei o quanto vale o sorriso de um repórter ao vol- * Rodrigo Lopes é professor de tar da pauta com a sensação de Redação Jornalística

Expediente O Jornal UniPautas é um projeto da Faculdades de Comunicação Social (FACS) do Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter/Laureate International Universities. A iniciativa surgiu da necessidade de criar um espaço de divulgação do material produzido nos cursos de jornalismo e publicidade. Seu projeto gráfico foi desenvolvido pelos designers e professores Sandro Fetter e Jaire Passos. A tipografia principal dos textos e títulos é a Directa Serif, produzida pelo designer capixaba, Ricardo Esteves Gomes.

Marcelo Spalding, professor

O

jornal vai mesmo acabar, professor? Mas eu gosto tanto dele... Mais ou menos assim começou nosso semestre em Projeto Experimental de Jornalismo Gráfico. Os jovens estudantes estavam ávidos por verem seus nomes nas páginas do Unipautas, eles que já haviam admirado o nome dos colegas nas edições anteriores. Nativos digitais, estes jovens na verdade refletem uma sensação de todos nós: que os meios eletrônicos conseguiram superar em muitos aspectos as mídias tradicionais, mas que a concretude do papel, a ideia de permanência, a possibilidade do cheiro e do toque permanecem fascinantes. Fazer jornal impresso é não ter chance de arrumar um errinho aqui ou ali depois que o texto for publicado, é lutar contra as limitações físicas da página, cortando palavras, linhas, trechos inteiros. É esperar ansiosamente pela impressão para depois mostrar aos pais e amigos, tirar foto e publicar no Facebook, guardar com carinho em uma gaveta ou mesmo deixar sobre a cômoda para todos verem. Fazer jornal impresso é

conectar-se com o que há de mais tradicional no jornalismo, talvez de mais genuíno, sentir-se parte de uma história que começou antes mesmo de Gutemberg, forjou partidos, nações e revoluções, popularizou gênios e questionou regimes. É acreditar no texto, no poder da leitura e da escrita como protagonistas, não abrindo mão do aspecto visual, mas tratando com o devido cuidado e respeito a técnica que nos tirou da Pré-História. Ainda assim, meus queridos alunos, meus caros leitores, é bem provável que o jornal impresso como o conhecemos esteja com seus anos contados. Seja por aspectos econômicos, ecológicos ou culturais, está com seus anos contados. A pergunta certa, porém, é: quando o jornal vai acabar? E eu ouso responder: depois que nós morrermos. Nossa geração, e incluo aqui a dos jovens que estampam estas páginas, ainda tem prazer de folhear um jornal com bons textos, boa diagramação, conteúdos instigantes. A nossa geração tem prazer em ver seu nome impresso a tinta resistindo ao tempo. E enquanto viver esta geração, viverá o jornal. * Marcelo Spalding é professor de Projeto Experimental Jornal

Na web Acesse as edições anteriores do Jornal Unipautas via internet. http://www.issuu.com/ editorauniritter

Fale conosco: unipautas@uniritter.edu.br  •  www.unipautas.uniritter.edu.br Reitor: Telmo Rudi Frantz Chanceler: Flávio D'Almeida Reis Pró-Reitora de Graduação: Laura Coradini Frantz

Coordenação do curso de Publicidade e Propaganda: Sônia Zardenunes Unipautas

UniRitter / Laureate International Universities

Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão: Márcia Santana Fernandes

Edição: Laura Glüer Marcelo Spalding Rodrigo Lopes Solon Saldanha

Campus Porto Alegre: Rua Orfanotrófio, 555• Alto Teresópolis • Porto Alegre/RS CEP 90840-440 • Fones: (51) 3230.3333 | (51) 3027.7300 Campus Canoas: Rua Santos Dumont, 888 • Niterói • Canoas/RS • CEP 92120-110 Fones: (51) 3464.2000 | (51) 3032.6000

Coordenação do curso de Jornalismo: Laura Glüer

Projeto Gráfico: Jaire Passos Rogério Grilho Sandro Fetter

Diagramação: Marcelo Spalding Consultor em diagramação: Rogério Grilho (MT 7465) Supervisão fotográfica: Rogério Soares Professores envolvidos: Marcelo Spalding (Projeto Experimental Jornal), Rodrigo Lopes e Solon Saldanha (Redação Jornalística), Rogério Soares (Fotografia) e Cláudia Trindade (Criação Publicitária)


2014/1 • UNIPAUTAS • 3

EDITORIAL

Olhar “glocal” no Unipautas

Os inquietos que fizeram esta edição

Laura Glüer, professora

O

jornal laboratório Unipautas nasceu há pouco mais de um ano, com a proposta inicial de trazer reportagens dos estudantes de Jornalismo da UniRitter, com um olhar local sobre a capital dos gaúchos. Chegando à sua terceira edição, em um semestre que colocou Porto Alegre na vitrine internacional com a Copa do Mundo, o olhar local tornou-se “glocal”, ou seja, globalizado mas sem perder a ênfase local. As matérias com estrangeiros em Porto Alegre e a cobertura especial produzida pelos alunos do projeto de extensão Unicopa 2014 trouxeram um caráter diferenciado para esta edição, ampliando horizontes e valorizando ainda mais a nossa cidade, não somente pela ótica de quem aqui nasceu, mas por quem escolheu Porto Alegre como destino. Professores e alunos estão de parabéns por terem aceitado o desafio de trazer para o nosso Unipautas um olhar “glocal”. Olhar que oxigena a pauta de um jornal laboratório, rompendo com o óbvio e com o valor-notícia da proximidade. Esta proposta está totalmente alinhada à vivência de internacionalização estimulada no curso de Jornalismo da UniRitter. Viver novas experiências em sala de aula e fora dela, conhecendo culturas diversas, é o que queremos para nossos estudantes. Sabemos que o jornalismo é, cada vez mais, multiplataforma e a mídia impressa, neste contexto, necessita se reinventar. Mas acreditamos que o exercício de produzir um jornal laboratório, ao mesmo tempo em que remete à origem do jornalismo, é fundamental para preparar o aluno para novas experiências midiáticas. Assim, com o objetivo de estimular o exercício do jornalismo impresso no curso, a novidade do próximo semestre é a edição de dois jornais laboratório por semestre, na disciplina de Projeto Experimental Jornal e Redação I. A ideia é tornar esta publicação ainda mais factual e dar ritmo de produção editorial nas disciplinas que conduzem este projeto. Que venha mais um semestre. E terminamos este 2014/1 com o sentimento de missão cumprida. * Laura Gluer é coordenadora do curso de Jornalismo da UniRitter

O projeto Unicopa Reportagem especial desta edição sobre a Copa do Mundo é fruto de projeto de extensão criado em 2013 pela FACS

diferenciados e inovadores que foram além do futebol. O time, que começou com cinco estudantes, foi ampliado para oito alunos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas.

O Unicopa 2014 esteve inteiramente conectado às redes sociais, promovendo o compartilhamento de informações e a interação. Nossa regra sempre foi bem clara: fazer e pensar o jornalismo esportivo com ousadia e reflexão.

Buscar novos conceitos e tentar fugir do lugar-comum. Nosso desafio nunca foi superar ou competir com veículos da mídia profissional, mas ser um balão de ensaio, no qual a evolução fosse medida diante do nosso próprio

Leandro Olegário, professor

O

dia 28 de junho de 2013 marcou o início de uma caminhada. Era lançamento do Unicopa 2014, um blog com conteúdo focado na Copa do Mundo de 2014 em Porto Alegre. Era o primeiro projeto de extensão da Faculdade de Comunicação Social focado em jornalismo esportivo: conteúdos

Equipe do Unipautas. Foto: Divulgação

crescimento - estimulando no grupo competências necessárias à atuação destacada no mercado de trabalho. Durante a Copa do Mundo, o ‘filé mignon’ da nossa cobertura, estivemos espalhados em pontos estratégicos da capital, incluindo o Beira-Rio. Mostramos o evento com um olhar curioso, explorando também o jornalismo humanizador. O espírito de equipe transformou um elenco de inquietos em uma seleção de abnegados diante do inesperável que rege a rotina jornalística – e a vida. * Leandro Olegário é coordenador do Unicopa


4  •  UNIPAUTAS • 2014/1

Estrangeiros em Porto Alegre Para morar, para passear, para trabalhar, para jogar. Uma série de reportagens sobre estrangeiros que visitaram ou vivem na capital dos gaúchos

Porto Alegre como destino Turistas vêm de fora do Brasil a fim estudar e conhecer as belezas e a cultura da capital dos gaúchos

“Minhas amigas sabem o quanto gosto de arte, então me levaram até lá e me encantei por ter sido a morada do poeta que dá nome ao espaço e pelas múltiplas manifestações culturais que ocorrem no lugar”. Ethiene Antonello Para Cláudia, o Brasil é mais Mariana Aguiar desenvolvido do que o Uruguai, pois a região de onde ela vem não oferece muitas oportunidades egundo dados do Minis­ aos jovens, que acabam migrantério do Turismo, desde do para a capital e outros países. 2011 Porto Alegre foi a capital que mais evoluiu em aspectos Para estudar culturais, alcançando 76 pontos em uma escala de 0 a 100. A cidaOutro que está de passagem de se destacou pela existência de pela capital é o estudante Lucho patrimônios artísticos e históri- Leone, de 17 anos, que escolheu cos que atraem turistas e está en- Porto Alegre como destino para tre as cidades que se consolidam fazer intercâmbio. Ele veio de como polo de turismo e negócios. Rosário, Argentina, a fim de coA uruguaia Claudia Morel, 34 nhecer pessoas e culturas difeanos, estudante de Direito, veio rentes: “Gostei muito da cidade, a Porto Alegre para visitar suas é muito bonita e fomos muito amigas, as quais não via desde bem tratados”. Lucho ainda diz que se mudaram do Uruguai. que Porto Alegre é uma das capi“Minhas amigas falavam que tais mais organizadas e melhores Porto Alegre é uma cidade linda de se viver no Brasil. e cheia de atrativos, então resolvi Quando veio para cá, Lucho visitá-las e estou adorando. Vou conheceu vários lugares, mas o ficar por pouco tempo, mas volta- que mais lhe encantou foram os rei outras vezes”, afirma Claudia. estádios de futebol da cidade: a Os pontos turísticos que mais Arena do Grêmio e o Beira-Rio. O chamaram sua atenção foram a argentino também passeou por Redenção, o Gasômetro e a Casa shoppings, conheceu o centro da de Cultura Mario Quintana: cidade, passou o dia na fazenda

S

Turista argentino se diverte na Quinta da Estância. Foto: Lucho Leone

Redenção é um dos pontos mais visitados por turistas estrangeiros na Capital. Foto: Ethiene Antonello

de turismo Quinta da Estância, em Viamão, e finalizou a semana com um passeio encantador pelo Guaíba: “Fizemos um passeio de barco em que era possível ver toda cidade. Fiquei encantado”. Para trabalhar Assim como Lucho, muitos estudantes vêm para Porto Alegre em busca de novos conhecimentos e culturas, mas acabam se encantando com a beleza e o aconchego da cidade. É o que conta o português Nuno Mourão, 26 anos, nascido em Lisboa e graduando de medicina. “Além de Portugal, já morei em diversos lugares do mundo. No Brasil, já vivi em Natal, Rio de Janeiro, Florianópolis e Porto Alegre. Gostei muito da experiência que tive no Rio Grande do Sul, é um lugar muito equilibrado, belo e cheio de oportunidades”, relata. Nuno conta que para concluir

a faculdade é necessário fazer estágio em locais diferentes, para ter referências em várias áreas, e os estudantes têm o direito de escolher para onde vão: “Quando vim estagiar no Brasil, pesquisei as cidades mais influentes e atrativas, tanto culturais como de lazer. Decidi então, passar um tempo em Porto Alegre. Gostava muito de passear no Parcão, em Ipanema e na Redenção, a natureza me encanta. A cidade é desenvolvida e acolhe os moradores, que aparentam gostar de viver no lugar.. Além de fazer muitas amizades, Nuno conta que se encantou com a beleza da mulher gaúcha: “Já sabia da fama que as mulheres do Sul tinham, e posso afirmar que é a pura verdade”. Para torcer Rafael Ferrero, estudante de Relações Internacionais, 21 anos,

já veio algumas vezes a Porto Alegre. Ele mora em Montevidéu, Uruguai e vem à capital do Estado para assistir jogos de futebol. Ele conta que adora a rivalidade existente não só na cidade, mas em todo Rio Grande do Sul entre a dupla Gre-Nal. Torcedor do Nacional, Rafael já está acostumado com esta rivalidade no futebol, pois na sua cidade também é assim. Ele já veio várias vezes assistir aos jogos do seu time no antigo estádio do Grêmio, o Olímpico, na Arena e no Beira-Rio. “Sempre somos muito bem recebidos em Porto Alegre, principalmente pelos torcedores do Grêmio, que é nossa torcida amiga”, conta Ferrero. Para o uruguaio, Porto Alegre é como se fosse uma Montevidéu maior, com incríveis belezas e lugares muito legais: “gosto muito do Rio Grande do Sul, me sinto em casa quando visito o Estado”.


2014/1 • UNIPAUTAS • 5

Estrangeiros em Porto Alegre ESPECIAL

O atleta que enfrentou um país na busca pela liberdade Angel Dennis aproveitou a oportunidade durante um campeonato para fugir de Cuba e hoje mora na Grande Porto Alegre

pra mim aquilo era uma brincadeira, eu queria o baseball”, conta, de forma tímida. A pedido dos pais, por ser uma grande oportunidade, e com a promessa de que se não gostasse poderia abandonar o Michelle Bertotti vôlei, Dennis mudou de ideia. Aceitou o convite e se tornou uma revelação no esporte. uem vê o atleta de saCom 15 anos, teve oportuque imponente, e que já nidade de jogar no Qatar e na foi considerado um dos Venezuela. “Senti o gosto da limelhores jogadores do vôlei de berdade, vi que poderia ganhar Cuba, não imagina a história dinheiro e ajudar a minha famísurpreendente que ele carrega. lia”, fala, relembrando da época Angel Dennis, 36 anos, atu- que sonhava com a liberdade. al jogador do Canoas Vôlei, foi Em dois anos já fazia parte da um dos maiores pontuadores principal seleção de vôlei do país: da Superliga neste ano. Falando “Viajamos pelo mundo inteiro, português com uma mistura de recebíamos um bom dinheiro, sotaques italiano e espanhol, mas a maior parte tinha que sua língua mãe, ele conta como entregar ao governo, ficávamos foi tomar a decisão que mudaria com cerca de 10% ou 15%, só”. para sempre a sua vida. Dennis nasceu em Havana, Começam os problemas Cuba, quando o país vivia em uma ditadura política imposta O time venceu campeonatos por Fidel Castro. De família hu- como Mundial e Pan-Americano. milde e muito unida, era apai- Nas Olimpíadas de Sydney, a sexonado pelo baseball. Sonhava leção cubana chegou como uma crescer no esporte na posição de das favoritas, mas foi derrotada pitcher. Queria viajar, conhecer por um ponto pela Rússia nas novos lugares, mas o governo quartas de final. não permitia que o povo saísse A medalha Olímpica não veio do país, nem para turismo. para Dennis, mas na Austrália ele conheceu a jogadora de vôlei O vôlei encontra Dennis da Itália Simona Rinieri, que se tornou sua namorada e viabiliAos 13 anos, a professora da zou o sonho de ser livre: “Com escola o convidou para jogar a derrota nas Olímpiadas, as vôlei. Haveria um campeonato coisas se complicaram para nós. nacional e faltavam jogadores. Voltamos a Cuba e nos disseram Dennis aceitou o convite. Por ter que como o resultado não hase destacado no campeonato, foi via sido bom, não sairíamos do selecionado para integrar a sele- país, e ficaríamos nos dedicanção de menores. “Não aceitei o do aos treinos”. Sete meses deconvite, não queria jogar vôlei, pois. começaram as competições

Q

Dennis foi um dos maiores pontuadores da Superliga deste ano. Foto: Arquivo pessoal

internacionais e a seleção cubana voltou a vencer: “Queríamos ir para a Itália, lá estavam os melhores times, disseram que poderíamos ir, mas o tempo foi passando e nunca nos liberaram”, lamenta. Contando com o apoio da namorada, o pensamento de fugir do país ganhou força: “foi muito complicado combinar a fuga, não podíamos falar por telefone e não tinha internet. Quando havia a oportunidade de sair com a seleção, aproveitava para falar ao telefone com mais liberdade, mas isso só aconteceu umas três vezes”. Falou com os pais sobre a intenção e recebeu apoio. A oportunidade Havia um campeonato na Bélgica e a delegação se preparava para partir. “Foi um dia de muita emoção, eu e meus pais estávamos com o coração apertado, não sabíamos o que iria acontecer, foi um momento muito duro para mim”, se emociona ao falar. Dennis sabia que não voltaria mais. Chegando na Bélgica, teve os documentos recolhidos por um funcionário do governo cubano, como era de costume. No dia seguinte, participou dos jogos do campeonato. Até que chegou o grande dia. Ao acordar, a delegação fez o alongamento e logo teriam o café da manhã e uma hora e meia depois teriam que assistir a um vídeo para analisar o time adversário daquele dia. A fuga Dennis disse não estar se sentindo bem: “Voltei para o quarto do hotel, um jogador espanhol me ajudou, colocou minha mala dentro da mala dele e saiu. Dois minutos depois eu saí, fui até o posto de combustível, onde estavam os italianos que me tiraram dali. Eu nem sabia como eles eram. Simona tinha combinado que um deles estaria com um chapéu vermelho, e era essa a nossa referência. Eu estava nervoso. Um dos italianos já estava com o carro ligado e o outro com o chapéu, estava do lado de fora, entrei no carro e saímos a mil”, transpira, ao relembrar o momento da fuga. O plano era de chegar na Itália para pedir asilo, e aconteceu conforme o previsto. Após

Depois de parar de jogar, Dennis pensa em morar no Brasil. Foto: Michelle Bertotti

dois dias, outros 5 jogadores cubanos tomaram a mesma atitude de Dennis e fugiram também: Ihosvany Hernández, Iasser Romero, Lionel Marshall, Ramón Gado abandonaram a concentração da seleção e buscaram asilo na Itália para jogar no país. O sexto fugitivo, José Luis Hernández Larriñaga, foi para a Argentina para casar com a noiva. Por causa dessa decisão, Dennis ficou muitos anos longe da família, não conseguia falar com eles e nem vê-los. Ele considera essa a parte a mais difícil de sua vida, pois estava em um país longe de todos, sem dominar o idioma, porém sentia-se livre. O relacionamento com a jogadora italiana não deu certo: “Isso me fez amadurecer muito, tive oportunidade escolher o que eu queria para a minha vida, em qual time eu queria jogar, pude escolher meu futuro. O clube me abraçou, me deu moradia, carro e comida”. Dennis recebeu asilo e

conquistou a cidadania italiana, onde morou e jogou por 10 anos. Em 2013 foi jogar na Argentina, onde defendeu o Bolívar. E em uma viagem para o Brasil, enquanto negociava com o Canoas, conheceu a atual esposa, a catarinense Jussane Mazzuchetti Dennis. Uma nova vida Hoje, com a nova família, comemora a chegada da primeira filha, Elena Caridád, nome escolhido em homenagem à mãe de Dennis, que atualmente faz tratamento para combater a leucemia. Satisfeito com a vida livre que leva, ele fala que pretende encerrar sua carreira no Brasil e ficar por aqui: “Hoje me considero uma pessoa livre. O dia 27 de dezembro de 2001 é uma data de recomeço na minha vida e eu faria tudo outra vez. Não me considero cubano ou italiano, sou um cidadão do mundo”, finaliza, enquanto segura a mão da esposa.


6  •  UNIPAUTAS • 2014/1

ESPECIAL Estrangeiros em Porto Alegre

Solo brasileiro serve como abrigo para refugiados O Brasil é um lugar de refúgio para muitos reassentados que procuram uma nova história Cindy Vitali e Débora Dalmoro

U

m mundo justo é aquele em que as pessoas podem sentir-se seguras com suas famílias em sua terra. É um lugar onde elas se sentem tranquilas e confiantes ao sair nas ruas e podem ser amantes da sua cultura sem nenhuma restrição. Entretanto, muitas pessoas deixam sua terra natal por perseguições por raça e religião, catástrofes, conflitos armados, violência generalizada e violação dos direitos humanos. O maior desejo das famílias é buscar uma nova vida, em um novo local. Atualmente, o Brasil abriga 4.689 refugiados reconhecidos de 79 nacionalidades distintas (36% deles são mulheres), segundo dados do Conselho Nacional para Refugiados, o Conare. Os principais grupos são compostos por refugiados vindos da Angola, da Colômbia, da República Democrática do Congo e do Iraque. Refugiados no Sul Conhecido por seu povo acolhedor, o Rio Grande do Sul passou a dar abrigo para milhares de refugiados. Projetos como a Associação Antônio Vieira (ASAV), vinculada ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e o Comitê Nacional para

Refugiados – Conare, prestam assessoria a refugiados. Dessa forma, no Rio Grande do Sul encontra-se o maior número de reassentados do Brasil, com aproximadamente 250 refugiados vindos do Afeganistão, da Colômbia e do Paquistão pelo programa de Reassentamento Solidário, segundo o Acnur. Grupo sediado na UFRGS assessora imigrantes e refugiados Em 2006, após um grupo de alunos do Direito da UFRGS, estagiar na sede do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em Brasília, surgiu a iniciativa do projeto GAIRE – Grupo de Assessoria a Imigrantes e a Refugiados em parceria com ACNUR e o Programa de Reassentamento Solidário no Rio Grande do Sul. Segundo Patrícia Assoni Grechi, de 22 anos, estudante de Relações Internacionais da UFRGS e atualmente monitora no Gaire, o trabalho do grupo pode ser dividido em dois eixos: atendimento aos refugiados e a divulgação da temática. “Os atendimentos são realizados por profissionais e alunos de áreas diversas - atualmente o grupo conta com cerca de 25 estudantes e profissionais das áreas do Direito, Relações Internacionais, Serviço Social, Psicologia e Ciências Sociais”, comenta Patrícia. O Gaire recebeu a notícia de que a UFRGS passará a ter um sistema de ingresso específico para refugiados, processo que foi iniciado a partir de uma carta do grupo manifestando a

Indiano e sua família afegã vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor. Foto: Débora Dalmoro

importância de tal ação. “Isso representa uma grande conquista para os refugiados e o Gaire se orgulha imensamente de ter ajudado“ diz. Afegã em solo porto-alegrense Em 2002 a professora afegã Roquia Atbai, 44 anos, chegou a Porto Alegre com o ex-marido e os dois filhos. Ela desembarcou no Brasil sem falar português e usando lenços cobrindo o rosto. Após um mês a refugiada passou a atuar em um salão de beleza como esteticista, área que atua até hoje. Os filhos de Roquia continuam com ela, mas o ex-marido voltou para o Oriente Médio, assim como fazem os refugiados que não se adaptam. Para ela, um dos maiores problemas é a saudade dos familiares.

Refugiado indiano sonha com retorno M

ovidos por uma proposta da ONU, o refugiado indiano Farid Fazal Rahman, 20 anos, e sua família afegã vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor. Após 10 anos residindo em Porto Alegre, Farid não é totalmente feliz por aqui. Estudante de Técnico em Administração e estagiário da EPTC, seu maior desejo é voltar para a Índia: “sinto muita saudade das pessoas de lá, falo todos os dias com os meus amigos,” declara. Muçulmano praticante, Farid e sua família frequentam todas as sextas-feiras a mesquita localizada no centro de Porto Alegre.

Esse é um dos únicos momentos em que eles têm o contato mais frequente com seus conterrâneos. Com um português impecável, o indiano destaca que o povo gaúcho é acolhedor. Ele e sua família foram muito bem recebidos na capital gaúcha, diferentemente de outras famílias, que foram enviados para diversos países. O lugar preferido do indiano em Porto Alegre é o Parque da Redenção. Farid associa o Arco do parque com um dos pontos turísticos de seu país, a Porta da Índia: “Quando chegamos a Porto Alegre e vimos o Arco da Redenção, foi uma grande surpresa,” finaliza, emocionado.


2014/1 • UNIPAUTAS • 7

Estrangeiros em Porto Alegre ESPECIAL

Nossos capitães hermanos A adaptação e as expectativas de Barcos e D’Alessandro, os capitães da dupla Grenal Jéssica Marquezotti

T

odo mundo conhece a rivalidade entre Brasil e Argentina, assim como entre Grêmio e Inter. Mas há algum tempo diversos jogadores argentinos estão atuando na dupla Grenal, como Hernán Barcos, atacante do Grêmio, e Andrés D’Alessandro, meio-campo do Internacional. Os capitães, que preferem não ser chamados de craque, agradecem e se orgulham de fazer parte da história da dupla Grenal. Barcos chega a afirmar: “Não sou craque. Sou hoje o capitão de um time com uma história muito bonita e que luta para voltar a vencer. Também quero fazer a minha história aqui e estou fazendo”. Barcos está no Rio Grande do Sul desde 2013. O atacante tem 29 gols marcados em 75 partidas. Já o meio-campista colorado está desde 2008 no clube e possui 51 gols em 227 jogos. Para os jogadores, atuar no país que vive o futebol foi uma oportunidade muito grande, e talvez por isso a adaptção tenha sido tão rápida. Para D’Alessandro, “a proximidade

que tem com a Argentina, a cultura e os costumes são parecidos com os nossos, e o clube me ajudou muito na adaptação”. Barcos também afirma que teve uma ótima recepção nos dois clubes em que atuou no país (Palmeiras e Grêmio) e que a família está bem adaptada. Para Barcos, tecnicamente o futebol gaúcho e argentino são parecidos, mas na Argentina, segundo ele, se tem menos espaço para jogar. Já D’Alessandro acredita que o futebol brasileiro esteja em um nível acima do argentino: “hoje o campeonato brasileiro é o melhor de Sudamérica. O futebol argentino baixou muito a qualidade e acaba sendo mais físico, isso torna o futebol brasileiro, melhor taticamente e tecnicamente”, diz o camisa 10. Em relação à rivalidades, para Barcos a comparação entre a disputa de um clássico gaúcho e um clássico argentino é fraca: “são duas grandes rivalidades, mas Boca e River mexe com o país inteiro”, diz o camisa 9. Já para D’Alessandro, as disputas são parecidas pelo fanatismo do torcedor. Um fator muito criticado é o valor pago por um passe. Para os dois, o futebol é um negócio, e o importante é o torcedor sempre manter a paixão, e não esquecer que isso vale mais que qualquer valor de passe.

D’Alessandro, no Inter desde 2008, foi fundamental para títulos como o da Libertadores e da Sul Americana. Foto: Alexandre Lopes

Não sou craque. Sou hoje o capitão de um time com uma história muito bonita e que luta para voltar a vencer.” Hernán Barcos, atacante do Grêmio Barcos, no Grêmio desde 2013, é o artilheiro gremista nesta temporada. Foto: Lucas Uebel


8  •  UNIPAUTAS • 2014/1

ESPECIAL Estrangeiros em Porto Alegre

Atraído pela “bagunça” do bem Charles Di Pinto, nascido na Filadélfia, alterna períodos nos EUA e no Brasil, mas há oito anos fixou-se em Porto Alegre Luiza Guerim

A

cidade de Porto Alegre vem recebendo cada vez mais pessoas de diversas partes do mundo. Com uma média anual de 1,7 mil novos cadastros destinados a estudos ou trabalho, a capital gaúcha já conta com 29.485 moradores estrangeiros. Um deles é o comunicador e professor universitário norte-americano Charles Di Pinto, 42 anos, nascido na Filadélfia. De pai americano e mãe gaúcha, Charles teve desde pequeno contato com o Brasil e a língua portuguesa, da qual possui completo domínio. Em 1990, com 18 anos, Charles se mudou com sua família para Porto Alegre pela primeira vez, e desde então o comunicador intercala períodos morando no Brasil e nos Estados Unidos. Durante esses 24 anos, o professor universitário conta que

Para o americano, o melhor da cidade são as pessoas . Foto: Luiza Guerim

viu uma grande transformação na capital gaúcha: “se eu tivesse vindo nos anos 90 e voltado em 2014, eu não reconheceria como sendo a mesma cidade”. Para Charles, a grande diferença entre sua cidade natal e Porto Alegre está no comportamento das pessoas. A informalidade e

proximidade do povo brasileiro contrastam com o distanciamento do americano, algo que lhe causou choque em sua chegada ao país. Entretanto, segundo Charles, esse aspecto do povo estaduniense é a razão da organização da sociedade: “Essa distância é uma forma de organização, de

funcionar de forma mecânica. A complexidade de uma sociedade, quando é bem organizada, traz certo distanciamento.” A opção por Porto Alegre O comunicador define Porto Alegre como uma “bagunça”, mas

não apenas no sentido negativo da palavra. Para ele, é justamente esse aspecto da cidade que aproxima as pessoas e resulta naquilo que mais gosta na capital gaúcha: o povo. “O Brasil encanta, as pessoas tem um comportamento muito interessante. São mais informais, mais soltas, mais bagunçadas”, explica o norte-americano. Porém, essa bagunça é também negativa. Para Charles, o jeito “esperto” do brasileiro, furando filas e buscando levar vantagem em suas ações, e a falta de organização da cidade são resultado dessa caracerística da capital. O americano fez ainda uma comparação curiosa a respeito do transporte público da cidade: “andar de ônibus em Porto Alegre lembra muito os jogos da Disneylândia, porque tem curvas fortes, pula para cima e para baixo e tem um monte de gente se empurrando”, brinca Charles. Há oito anos vivendo regularmente em Porto Alegre, o professor universitário vê a capital gaúcha e o Brasil vivendo um momento especial, mais abertos para pessoas com ideias novas e empreendedoras.

A trajetória de uma imigrante alemã no RS Hamburguesa encontrou em Porto Alegre tradições, comidas e até o estilo alemão de sua cidade natal Lucille Soares

N

Objetos de decoração da casa remetem à cultura alemã. Foto: Lucille Soares

ascida em Hamburgo, na Alemanha, Susane Scheffer e sua família vieram para o Brasil há cerca de 40 anos, quando ela tinha apenas sete. Seu pai era engenheiro mecânico especializado em fábrica de óleo vegetal e mudou-se para cá quando uma grande fábrica alemã, que exportava óleo, resolveu expandir suas empresas para o Brasil, implementando filiais em Belo Horizonte e Porto Alegre. Vieram para Porto Alegre na época da ditadura militar, e Susane, que já havia cursado a 1º série na Alemanha, estudou em um colégio alemão da capital. Alguns anos depois seu pai

deixou de trabalhar na empresa que o trouxe, entretanto decidiu ficar aqui com sua família, pois passou a achar a qualidade de vida no Brasil melhor do que na Alemanha. Assim, deixaram alguns parentes lá, inclusive seus avós, os quais visitam quando é possível, porém ela só voltou a seu país de origem duas vezes, na infância e na adolescência. Com vinte e três anos, Susane pensou em voltar a morar na Alemanha, ideia que assustava muito seu pai, até que conheceu seu marido, e mudou seus planos, constituindo família aqui. Susane formou-se em Arquitetura e hoje trabalha como Projetista de Fábrica na Petrobras. Devido ao seu cargo, tem contato com diversos estrangeiros que vêm morar no Brasil, e vê que todos têm dificuldade de adaptação, longe das famílias, e nem sempre são recebidos com hospitalidade. Quando questionada sobre

voltar à Alemanha, ela diz que ainda não pensa em retornar, pois acha que quando um imigrante volta, existe uma espécie de preconceito em função da ideia de que em tempos difíceis se abandona a terra natal e depois se volta, quando a situação está melhor. Entretanto, ela acha que se tivesse ficado lá seu nível de estudo e trabalho seriam superiores. E sonha que, no futuro, o filho faça seus estudos no exterior. Em Porto Alegre, Susane encontrou um pouco dos costumes alemães, que ela cultiva até hoje. Um exemplo são as confeitarias, onde se podem encontrar doces típicos da Alemanha. Susane também destaca bairros porto-alegrenses, como Moinhos de Vento, onde se podem perceber características alemãs. Em sua casa, vemos objetos de decoração que nos remetem à cultura alemã, e uma série de livros originais em alemão.


2014/1 • UNIPAUTAS • 9

Estrangeiros em Porto Alegre ESPECIAL

O mochileiro que rodou a América e escolheu Porto Alegre A história de José Augusto Varon, um mochileiro que escolheu o Brasil para se aventurar no turismo independente e, após percorrer vários lugares do mundo, resolveu que não voltaria mais para casa Thuane Liesenfeld

O

Brasil é um dos principais países de visitação turística. Só no ano de 2013, o número de turistas que desembarcaram no país chegou a 6 milhões, segundo o Embratur (Ministério do Turismo Brasileiro). No ano de 2014 é esperado que o recorde seja batido, com mais de 7 milhões, devido à Copa do Mundo. Mas não somente o turismo que soma, existem também estrangeiros que escolhem o país para sua permanência, como no caso dos mochileiros: pessoas que viajam com o intuito de conhecer gastando pouco, se instalar alguns meses e adquirir um pouco da cultura de determinado local. José Augusto Varon, por exemplo, natural de Amero, Colômbia, começou a visitar lugares pelo mundo quando tinha 22 anos. Após a primeira aventura com a mochilagem, nos EUA, resolveu não ficar mais no mesmo lugar, passando por Canadá, México, Costa Rica, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Argentina. Até chegar em Porto Alegre e escolher a capital como sua atual casa. “Viajar me deu um novo sentido na vida”, diz Varon, hoje com 30 anos. O principal motivo que o levou a escolher ser mochileiro foi a curiosidade que tem desde criança, quando começou a viajar

José Augusto Varon escolheu o turismo idependente como um estilo de viver, e não se arrependeu. Foto: Thuane Liesenfeld

de um país para outro com seus pais. Ainda com cinco anos, mudou-se para Miami, e a partir daí começou a ter vontade de conhecer outras culturas. A escolha da capital A escolha pela capital dos gaúchos, segundo o colombiano, não foi difícil: “É uma cidade pequena e tranquila. Aqui, tudo é mais devagar, e as pessoas são mais receptivas, comparado aos outros lugares em que vivi.” Quando chegou na Capital, conseguiu ficar em uma pensão durante alguns dias até encontrar uma moradia fixa por meio do site couchsurfing (site para viajantes): “Juntei dinheiro, economizei, aprendi a falar português com amigos ainda no EUA e vim para o Brasil com o intuito de conhecer a cultura linda que ouvi falar”. Também não foi complicado

conseguir emprego. Não se passaram dois meses e o rapaz já estava trabalhando como professor de espanhol e de inglês. Atualmente, é gerente de projetos na empresa de traduções RTS Brasil e dá aulas particulares de língua estrangeira. Em Porto Alegre, Varon também conheceu sua futura esposa, Carito Muller, 30 anos, e diz que uma das histórias mais interessantes e especiais que tem para contar sobre sua trajetória na mochilagem é o jeito pelo qual os dois se conheceram. “Conheci Carito quando fui convidado para um jantar entre amigos, ela estava cantando no karaokê do bar quando me convidaram para acompanhá-la na cantoria.” Apesar da estabilidade, seu próximo plano é, claro, tentar mudar-se novamente, dessa vez para o Canadá ou Inglaterra, pois aqui, segundo suas próprias palavras, “já deu o que tinha que dar”.

Ele pretende levar Carito para a prática do turismo independente. Principais desafios Em relação à adaptação ao Brasil, não foi complicado se acostumar com o gosto da comida, com a cultura e até mesmo com as leis. “Tudo é, pelo menos um pouco, parecido com os países em que já morei”, afirma. A principal dificuldade foi com o costume das pessoas. Ele diz também que no Brasil a população é mais sensível e vulnerável, fácil de desagradar: “não gosto de lidar com pessoas muito delicadas, me sinto julgado ou me sinto mal, pois acredito que vão ficar ofendidos com qualquer coisa que eu possa fazer”. Outro grande desafio, segundo o mochileiro, é juntar dinheiro. Nesta região do país, o gasto com comida, remédios e coisas

para se sustentar é muito grande, é preciso ter um controle alto sobre o que é necessário e o que é para a diversão: “costumo gastar o menos possível com o que eu puder, até com o transporte público. Por isso uso minha bike”. O costume de usar a bicicleta como a principal locomoção ele adquiriu na Europa. Segundo ele, seu recorde em um dia foi um caminho que fez do bairro Leopoldina, zona norte de Porto Alegre, à Restinga. Depois de sua longa trajetória na mochilagem, Varon, que está longe de casa há mais de oito anos, revela vários conselhos sobre como lidar com esse estilo de vida: “você precisa ser corajoso o suficiente sempre para novos desafios, ter mente aberta para enfrentar as barreiras e limitações, ser vulnerável e respeitar as pessoas, entender os seus costumes. Só assim se conquista aventuras incríveis e amizades especiais”, diz.


10  •  UNIPAUTAS • 2014/1

ESPORTES Copa do Mundo Foto: Isabel Borges

Um mês para a história Cinco jogos, 22 gols, quase 43 mil torcedores por jogo, 160 mil turistas estrangeiros e uma recordação eterna Isabel Borges

A

té o frio e a chuva do inverno gaúcho deram uma trégua para receber os milhares de visitantes que vieram de cinco continentes para acompanhar os jogos da Copa do Mundo 2014, realizados no mês de junho no Estádio Beira-Rio. Segundo estimativas do Governo do Estado e da Secretaria de Turismo, foram 350 mil turistas, sendo 160 mil estrangeiros. Dentro do estádio a média de público foi de 42.993 torcedores por jogo e um total de 22 gols nas cinco partidas. Fora de campo, franceses, holandeses, argentinos, alemães, nigerianos, australianos, coreanos e argelinos se misturaram

com o povo gaúcho nos dias dos jogos. A Polícia Militar contou com um reforço de 1,6 mil homens vindos do interior para a capital auxiliando na segurança em torno do estádio e nas proximidades. Uma ideia que deu certo e chamou a atenção da FIFA foi o Caminho do Gol. Criado pela Prefeitura, trata-se de um bloqueio para a circulação de carros de uma pista da avenida Borges de Medeiros até a chegada ao Estádio Beira-Rio para os torcedores. Ao longo do trajeto, os torcedores presenciavam atrações culturais, como a apresentação da Banda da Brigada Militar. A Capital contou também com outra atração: a Usina do Gasômetro abrigou nos 500 metros quadrados do seu mezanino o Centro de Mídia, direcionado a jornalistas não credenciados pela FIFA e oferecendo uma infraestrutura física e tecnológica a veículos nacionais e internacionais.

Transmissão de Argentina X Nigéria, ocorrido na Capital. Foto: Isabel Borges

Cinco capítulos de um sonho Paulo Mendes e Rian Ferreira

A

estreia de Porto Alegre na Copa do Mundo Fifa 2014 ocorreu dia 15 de junho de 2014, quando o Beira-Rio recebeu 43.012 torcedores para França x Honduras. Benzema foi o nome do jogo, fez dois gols e garantiu a vitória por 3 a 0 da França contra Honduras. Além disso, a Capital foi a primeira a usar recursos tecnológicos: um gol da França, logo aos 3 min, teve a participação da tecnologia da linha do gol para confirmar que a bola entrou. Benzema chutou, a bola bateu na trave e voltou para o goleiro Valladares, que não conseguiu segurar. A bola ultrapassou por poucos centímetros a linha do gol, e quando o goleiro a segurou novamente, o árbitro Sandro Meira Ricci já havia recebido a confirmação do gol pelo equipamento. No dia 18 de junho, a segunda partida na cidade foi entre Austrália e Holanda. O público do BeiraRio foi de 42.877 pessoas. Mesmo sem tradição no futebol, os australianos se mostram tão fanáticos quanto os holandeses. Mais de 5 mil holandeses e cerca de 20 mil australianos compareceram na capital gaúcha. Dentro de campo, a Austrália não se intimidou com o favoritismo holandês e foi ofensiva desde o início, chegando a estar na frente no placar, mas o resultado final foi 3 a 2 para os laranjas. A partida que na teoria seria a menos empolgante de se ver provou o contrário. Dia 22 de junho, Coreia e Argélia proporcionaram um belo espetáculo dentro e fora de campo. Argelinos e sul-coreanos seguiram com brilhantismo a festa dos dois jogos anteriores. Antes de iniciar a partida no estádio Beira-Rio, as duas torcidas faziam uma linda festa. De um lado, uma grande bandeira da Coreia do Sul foi aberta por cima dos torcedores na arquibancada inferior; de outro, uma sintonia incrível ao cantar o hino da Argélia. O jogo acabou em 4 a 2 para a Argélia, a primeira vez na história das Copas que uma seleção do continente africano marcou quatro gols em uma partida. O jogo mais esperado na capital, Argentina

e Nigéria, reuniu no estádio Beira-Rio cerca de 43 mil pessoas, e Porto Alegre teve uma invasão “hermana” de aproximadamente 100 mil argentinos, que estavam espalhados por hotéis, ônibus, trailers, no Acampamento Farroupilha, na Cidade Baixa e diversos pontos da cidade. Na quarta-feira, dia 25, ao soar do apito, o time argentino foi ofensivo. Lionel Messi, que estava de aniversário um dia antes, foi o grande nome do jogo, vencido pelos hermanos por 3 a 2. Já na fase de mata-mata, quis o destino que a seleção argelina se despedisse do Mundial em solo gaúcho. A missão dos africanos era a mais desafiadora até o momento: derrotar a seleção alemã de Özil, Müller e da muralha Neuer. O poderoso esquadrão europeu foi reforçado por 12 mil alemães que, confraternizando com argelinos que apareciam na travessia até o Beira-Rio, fizeram a festa durante todo o Caminho do Gol. Em campo, os africanos fizeram uma grande partida, segurando um 0 a 0 e chegando a ameaçar o gol de Neuer, mas na prorrogação o cansaço e as cãibras tomaram conta da equipe argelina, que aos poucos se entregou no gramado do Beira-Rio. Logo no primeiro minuto do tempo extra, Schürrle, de letra, abriu o placar, que venceu a prorrogação por 2 a 0.

Australiano no Caminho do Gol. Foto: Bruna Fonseca


2014/1 • UNIPAUTAS • 11

Copa do Mundo ESPORTE

Invasão de turistas, cores, cânticos e idiomas na Capital Turistas de diversos países estiveram em Porto Alegre por ocasião da Copa Daniel Fagundes e Luiza Guerim

A

atmosfera cosmopolita tomou conta de Porto Alegre durante a Copa do Mundo. O evento trouxe turistas de todos os continentes seja para torcer pela sua seleção no estádio Beira-Rio ou para conhecer a cidade. Teve casal americano que

deixou o verão da Califórnia mais fantásticos para visitar por para aterrissar no aeroporto in- causa do clima. Todos nos aceitaternacional Salgado Filho. Eric ram muito bem em sua cultura”. e Felicia Lee ficaram hospedaJá o equatoriano Oscar dos na casa de um familiar para Parinango esteve em Porto aproveitar o Mundial, mesmo Alegre para apoiar a sua seleção. sem partidas de sua seleção em Oscar visitou a Redenção e o Porto Alegre. Impressionados Centro Histórico, além de conhecom a organização da cidade, os cer Viamão, onde o Equador fez norte-americanos ressaltaram a sua preparação para o Mundial. importância da Copa do Mundo O equatoriano disse ainda para “trazer culturas diferentes”. gostar da comida gaúcha e da Os Lee destacaram ainda o cli- “gente amável e alegre” de Porto ma agradável da capital e a re- Alegre. Perguntado sobre o que ceptividade do povo gaúcho: “As mais gosta na capital, Oscar não pessoas são muito legais e ami- esconde: as mulheres gaúchas gáveis. E claro, é um dos lugares são “muy lindas”.

Já os holandeses deixaram Os australianos, com muita Po r t o Alegre l a r a n j a . simpatia e bom humor, também Literalmente. A partida entre estiveram em grande número na Holanda e Austrália provocou cidade. Larry McInner, de West uma ocupação nórdica da Esquina South Wales, esteve pela primeiDemocrática ao Beira-Rio. Ido, ra vez em Porto Alegre e gosintegrante da embaixada da tou da recepção dos brasileiros: Holanda no Brasil, não poupou “Estamos nos divertindo muito. elogios à capital gaúcha: “É A hospitalidade e a amizade do uma cidade maravilhosa e pelo povo brasileiro com todos são que presenciamos, é muito ótimas”. organizada. Estamos muito Nesta Copa do Mundo, não impressionados com Porto restou dúvida: holandeses, equaAlegre”. A comida gaúcha torianos, argentinos, norte-amemereceu destaque com “suas ricanos, australianos, argelinos e carnes grelhadas, que são brasileiros têm a mesma paixão: absolutamente fantásticas”. o futebol. Foto: Bruna Fonseca Foto: Isabel Borges

Os uruguaios Soyla Branedt e Ismael Bulmini na Fan Fest de Porto Alegre . Foto: Débora Dalmoro


12  •  UNIPAUTAS • 2014/1

ESPORTES Futebol Americano Foto: Daniel Fagundes

Futebol americano em Porto Alegre Esporte ganha fãs no Brasil e já tem três times na Capital Daniel Fagundes Luiza Guerim

O

futebol americano, esporte que arrecada bilhões de dólares por ano nos EUA e tem uma das ligas esportivas mais valiosas do planeta, a NFL (National Football League), está crescendo cada vez mais no Brasil e presente também na capital gaúcha. Somente Porto Alegre tem três times: São José Bulls, Porto Alegre Pumpkins e Restinga Redskulls. O primeiro time do estado é o Porto Alegre Pumpkins (leia matéria ao lado). Por ideias diferentes, alguns jogadores deixaram o clube e fundaram o Porto Alegre Bulls, que no mês de maio firmou uma parceria com o Esporte Clube São José e passou a se chamar São José Bulls. Através do site oficial do time, o presidente do Bulls, Cristiano Leão comentou sobre a nova fase: “Esta

parceria representa um avanço em questão de marca e estrutura que não temos como mensurar, unir-se a um clube com mais de 100 anos de tradição é uma honra muito grande, além de se abrirem portas para este esporte que ainda está nascendo na cultura do brasil e do nosso estado.” Apesar do crescimento, o esporte segue encontrando obstáculos no país. O preconceito, a falta de estrutura, federações e patrocínios, além da carência de jogadores são algumas questões que pesam na hora tanto de montar como manter um time: “A gente sabe que o Rio Grande do Sul é bem resiliente em relação a essas coisas. O pessoal não gosta muito de coisa nova, passava xingando a gente: ‘vai jogar futebol’”, desabafa Junior Colman, fundador do Bulls. Apesar disso, o São José Bulls é o único time do país com um grande patrocinador: o CIEE (Centro de Integração

Empresa-Escola/RS). A equipe vem conquistando suas metas estabelecidas desde sua criação em 2007, como chegar a um torneio nacional, ser o primeiro time gaúcho a ter um jogo televisionado e conseguir jogar em um bom estádio. Buscando o crescimento do futebol americano no estado, o Bulls e o Restinga Redskulls estabeleceram uma parceria histórica na capital, através do empréstimo de jogadores do time da zona sul para disputar o Torneio Touchdown com a camisa dos touros vermelhos: “Tenho certeza absoluta que todos irão representar muito bem a nossa comunidade e que estão totalmente capazes de fazer um excelente trabalho neste novo desafio”, declarou em nota oficial o treinador Paulo Pillar, do Restinga. Com a transmissão da NFL nos canais a cabo brasileiros e a popularidade do esporte

crescendo ainda mais, o futuro do futebol americano no país é promissor. Para o Pumpkins, o crescimento da equipe acompanhará o progresso do esporte. Cristiano Leão revela ainda um objetivo para sua equipe: “O maior sonho é atingir a estrutura de um time grande: ter campo, vestiário, salas de reuniões, refeitório, quartos para concentrar

antes dos jogos, o que é muito importante e faz diferença”. Ainda não é possível traçar um paralelo justo e equilibrado entre o futebol americano nos EUA e no Brasil. Porém, o esforço e o amor desses jovens visionários podem ser determinantes para alavancar a popularidade do esporte no Rio Grande do Sul e no Brasil.

Ataque e defesa em formação para início da jogada. Foto: Luiza Guerim


2014/1 • UNIPAUTAS • 13

Futebol Americano ESPORTE

Um futebol jogado com as mãos Regras do futebol americano, que é jogado com as mãos, privilegiam a estratégia, não a brutalidade Paulo Luciano Mendes

N

o Brasil, quando falamos em esporte o primeiro que vem à cabeça é o futebol, aquele jogado com os pés, onde tem onze jogadores para cada lado e o propósito é marcar gols. Mas existe um futebol diferente, que é jogado não só com pés, mas com as mãos também, e cujo objetivo é colocar a bola no chão no fundo do campo adversário: o futebol americano. O futebol americano é complexo e cheio de regras, mas diferentemente do que muitos pensam, é um esporte baseado em estratégia e não em brutalidade e violência. O objetivo do jogo é simples; entrar na área ao fundo do campo do adversário, conhecido como endzone, com a posse de bola para marcar o touchdown, ganhando assim seis

Jogo entre Porto Alegre Pumpkins e Ijui Drones pelo Gaúcho Bowl. Foto Fanpage POA Pumpkiins Crédito da foto

pontos e tendo direito a um chute livre ao gol, onde a bola deve passar por aquele grande “Y” que também fica no fim do campo e dá direito a um ponto extra (ou mesmo dois pontos, se o time preferir arriscar um passe para

mais uma corrida até a endzone). A única situação em que um time que não tem a posse de bola pode pontuar é derrubando um jogador adversário que esteja com a bola em mãos na sua própria endzone. Isso equivale a um gol

contra no futebol normal. No Brasil, em 2014 o futebol americano foi o segundo esporte mais visto e procurado na televisão por assinatura, somente atrás do Futebol (soccer). Fora das telas, há dois campeonatos

As posições do futebol americano U

m time de Futebol Americano possui 53 jogadores em seu elenco, divididos em 3 unidades: Ataque, Defesa e Especialistas. Confira: ATAQUE

QUARTERBACK (vermelho) É o principal jogador da equipe. Organiza as jogadas de ataque e realiza os lançamentos e passes. SNAPPER (azul) Jogador responsável por passar a bola para o QB (snap) e bloquear os adversários. BLOQUEADORES (amarelo) Formam uma barreira de proteção aos jogadores de ataque. CORREDORES (preto) São responsáveis pelas jogadas terrestres, correndo após receber a bola do QB. RECEBEDORES (verde) Recebem lançamentos - geralmente em profundidade. DEFESA LINHA DEFENSIVA (rosa) É a primeira linha de combate ao ataque adversário. Pode ser formada por três ou quatro jogadores.

nacionais, o Torneio Touchdown e a Liga Brasileira de Futebol Americano. Já no Rio Grande do Sul, temos o Gaúcho Bowl, que é o campeonato estadual. Na Liga Brasileira e no Gaúcho Bowl joga o Porto Alegre Pumpkins, enquanto no Torneio Touchdown quem representa o estado é o POA Bulls O Pumpinks é o primeiro time do RS. Começou no Colégio Farroupilha logo após Vinicius Bergamann, um dos fundadores do time, trouxe algumas bolas e equipamentos do Exterior. “A gurizada começou a estudar e praticar o esporte nos intervalos e assim começou a formação da equipe”, conta André Paludo, que faz parte da direção e núcleo de marketing da equipe. Com a formação do time, os treinos passaram a ser realizados em parques abertos, aumentando o número de interessado. Hoje o Pumpinks conta com 94 atletas treinando semanalmente. Já o POA Bulls foi criado a partir de jogadores que saíram do Pumpkins, e isso leva a uma rivalidade, parecida com a existente entre o Grêmio e o Internacional.

OS TIMES DE PORTO ALEGRE

LINEBACKERS (celeste) Formam um segundo nível da proteção. Podem ser 3 ou 4, conforme o sistema adotado pelo técnico. SECUNDÁRIA (laranja) Responsável por proteger a retaguarda, principalmente contra lançamentos. ESPECIALISTAS KICKER Jogador que realiza os chutes de precisão, como kick-off (início ou reinício da partida), ponto extra (chute após touchdown) e field goal (chute que vale três pontos). LONG SNAPPER Jogador que passa a bola para o kicker em chutes de devolução ou pontuação. HOLDER Encarregado de segurar a bola para o chute do kicker. PUNTER Atleta responsável pelos chutes longos de devolução ao adversário. KICK RETURNER Jogador que recebe a bola do kickoff ou do punt e corre pelo campo, buscando conquistar o máximo de jardas. Daniel Fagundes e Luiza Guerim

Nome: Porto Alegre Pumpkins Fundação: 2005

Nome: Porto Alegre Bulls Fundação: 2007

Nome: Restinga Redskulls Fundação: 2012


14  •  UNIPAUTAS • 2014/1

NOTÍCIAS O mundo em Porto Alegre

Instituto incentiva aprendizado da língua alemã em POA Instituto presente em mais de 150 países já é conhecido dos portoalegrenses, onde está há quase 50 anos Débora Dalmoro

F

undado em 1951 na Alemanha há quase 50 anos em Porto Alegre, o Goethe-Institut é uma instituição cultural da República Federal da Alemanha com 159 sedes pelo mundo. As funções da organização são divididas em três pilares. O primeiro visa à oferta de cursos, provas e a cooperação pedagógica com universidades e escolas de ensino alemão. O segundo é a parte da programação cultural, que realiza eventos relacionados à Alemanha ou com brasileiros que lá estejam interligando os dois países. Seminários, exposições, concertos, artes visuais e literatura fazem parte da gama de oferta cultural. E o terceiro pilar é a biblioteca que oferece

informação alemã, a possibilidade de solicitar material ou de utilizar a versão online, que é gratuita. No meio digital pode-se retirar material sem sair de casa. Essa oferta está aberta a todas as pessoas que tenham interesse em livros e jornais periódicos da atualidade. De acordo com o diretor de ensino Adrian Kissman, o Brasil tem uma importância grande em relação aos recursos da imigração: “Temos um aumento gradativo de procura pelo curso de 10% ao ano, dobramos o número de aluno de 2008 até 2014, a gente procura ter no Brasil inteiro”. Segundo ele, o Brasil está se internacionalizando e esse fator é responsável pela procura de línguas estrangeiras, pois as possibilidades de viagens oferecidas atualmente fazem aumentar o interesse por aprender outro idioma. O diferencial dos cursos, segundo Kissman, é o padrão de qualidade internacional, por ser sede oficial da Alemanha, e o nível linguístico avançado: “Esses fatores conferem um estilo

Biblioteca aberta ao pública traz livros em português e alemão, inclusive para crianças. Foto: Débora Dalmoro

diferente entre os cursos que a gente oferece”. O diretor afirma, ainda, que estão investindo muito na área de tecnologia, e a partir do segundo semestre desse ano vão ser usados tablets

como ferramenta auxiliar para conduzir as aulas. Cada sala vai ter uma mala com iPads que depois de serem usados vão ficar recarregando a bateria dentro dela. Em parte os equipamentos vão

substituir os livros, pois vão estar com os conteúdos armazenados: “é um desafio muito grande tentar simular a realidade de um ambiente não real, que é onde se aprende”.

Mais de 100 consulados facilitam a vida dos estrangeiros na Capital Consulados, como o do Peru, prestam serviços a estrangeiros e também a porto-alegrenses que desejam ir ao exterior Cindy Vitali, Ethiene Antonello e Mariana Tripoli

P Peruanos exibem identidade recebida no consulado em POA. Foto: Cindy Vitali

oucas pessoas sabem que Porto Alegre conta, atualmente, com mais de 100 consulados, que estão ali para garantir proteção e assistência aos cidadãos de seu país que estão em viagem como os turistas, a negócio ou morando no exterior. Esses lugares são responsáveis por disponibilizar as pessoas do país consulado, nacionalidade para esposa brasileira, procurações, pedido de nacionalidade,

alistamento militar e eleitoral, entre outras. O consulado, diferentemente da embaixada, é a representação administrativa de uma nação dentro de outra, tratando de pessoas. A embaixada é responsável por assuntos de interesse comum entre as duas localidades, como assuntos políticos, econômicos e culturais. Já o consulado, tem a tarefa de resolver assuntos e auxiliar seus cidadãos que residem no território estrangeiro localizado. Consulado do Peru atende brasileiros e peruanos Com um ambiente harmonioso e bem castelhano, o Consulado Honorário do Peru, por exemplo, localiza-se na Rua Loureiro da Silva e atende cerca

de 60 peruanos por mês, dividido entre estudantes e artesãos. Muitos procuram o consulado na intenção de conseguir seus documentos, outros querem registrar seus filhos como peruanos, e até brasileiros buscam informações para realizar negócios no Peru. O Peru, aliás, é um dos países mais visitados da América do Sul. A maior parte de visitantes se dirige aos mais de cem mil sítios arqueológicos, mas há também se dedicam ao ecoturismo na Amazônia peruana, ao turismo cultural nas cidades coloniais e ao turismo gastronômico, de aventura e de praia. Os turistas brasileiros podem ingressar com passaporte ou documento de identidade nacional, RG. Não precisa de visto, o que acaba facilitando muito no momento de escolher qual país visitar.


2014/1 • UNIPAUTAS • 15

O mundo em Porto Alegre NOTÍCIAS

Semana da China colore Redenção Semana da China no Rio Grande do Sul traz aos porto-alegrenses oportunidade de aproximação com cultura chinesa Bruna Fonseca

O

s olhares de surpresa dos espectadores, acompanhados de sorrisos, aumentavam conforme aproximavam-se ao evento montado próximo ao Monumento ao Expedicionário. Com trilha sonora oriental, os gaúchos puderam degustar tradicionais pratos chineses e a arte do chá, conferir leituras de poesias e participar de oficinas de caligrafia. Assim finalizavam-se as atividades da Semana da China na capital. As cores das vestimentas e a delicadeza dos movimentos dos dançarinos durante a dança do leão - costume chinês para atrair prosperidade e sucesso - destacaram-se diante do verde das árvores do Parque. A apresentação,

organizada pela academia de artes marciais do estilo Ying Jow Pai (Garra da Águia do Norte), da Zona Sul de Porto Alegre, encerrou o último dia de atividades da feira. Ocorrida entre os dias 19 e 25, a Semana da China no Rio Grande do Sul, uma realização do Governo do Estado junto ao Instituto Confúcio da UFRGS, faz parte do processo de aprofundamento da interação entre o país e o estado em três eixos: seminário de negócios, circuito cultural e cooperação tecnológica. A atração mais esperada da agenda do acontecimento, a Ópera de Pequim, declarada pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, teve seus ingressos esgotados nos dois dias de apresentação no Theatro São Pedro. O governador Tarso Genro assinou, durante o dia de abertura das atividades, um acordo que afirma cooperação dos dois países nas áreas científicas e tecnológicas, estimulando assim intercâmbios de estudantes. “A China será a grande potência do século XXI, e cabe a nós fazer com que

essa evolução seja benéfica por meio de políticas de recepção e integração “, afirmou. De acordo com o coordenador da Assessoria de Cooperação e Relações Internacionais (Acri), Tarson Nuñez, o resultado da Semana superou as expectativas dos idealizadores do evento. “O evento superou nossas expectativas. Foi muito impressionante o interesse da população gaúcha, especialmente pelas atividades culturais. Além disso, os contatos empresariais e reuniões de negócios foram muito promissores em termos da possibilidade de atração de investimentos chineses para o Rio Grande do Sul”.

Ópera de Pequim integrou a agenda da Semana da China. Foto: Cláudio Fachel

A China será a grande potência do século XXI, cabe a nós fazer com que essa evolução seja benéfica.” Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul

Parque da redenção foi palco de festividade chinesa. Foto: Cláudio Fachel

Walk for city chega em Porto Alegre Projeto norte-americano inspira estudantes em iniciativa pela mobilidade urbana dos pedestres Munique Freitas

U

m grupo de jovens da Capital desenvolveu uma alternativa diferente para a mobilidade de pedestres, com placas informando o tempo que leva o percurso a pé até os principais locais da cidade. Se você está no Hospital de Clínicas, por exemplo, em direção ao Parque Farroupilha encontra a placa “São 8 minutos a pé até a

Redenção”. Outros avisos assim foram colocados em pontos de maior circulação de carros, com o objetivo de estimular os cidadãos a fazerem seus percursos caminhando. É o caso da aposentada Maria Gonçalo, que demonstra surpresa ao deparar-se com esta iniciativa: “eu ia pegar um ônibus para ir até o centro, mas lendo que leva poucos minutos, vou caminhando.” A iniciativa trata-se de um projeto internacional, o Walk Your City, que chegou a Porto Alegre. O projeto surgiu em Raleigh – Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e está vinculado ao Shoot the Shit, coletivo que

propõe iniciativa por cidades planejar outros projetos como mais criativas (http://shoot- esse, ele afirma que o grupo theshit.cc). pretende lançar mais propostas Luciano Harres Braga, 29, um para mobilidade. “É um prato dos apoiadores deste coletivo cheio para soluções criativas”, na cidade, explica que o pro- diz Luciano. cesso foi simples, desenvolviA estudante Aline Malaguez, do num Workshop do Colégio 23, diz ter notado o impacto, ainFarroupilha: “Foi ideia dos alu- da que pequeno, na população: nos do colégio. Eles que estão “Acho que estamos muito acomocolocando placas nos postes e a dados nos carros, ou pensamos gente ajudou com a produção e em pegar ônibus em caminhos planejamento”, relatou. Ele con- que podem ser feitos a pé. As plata que fez contato durante meses cas são estimulo para mudança com os criadores norte-america- desses hábitos”, diz. nos para verificar a possibilidade Inicialmente, os jovens tide produzir o material em por- veram apoio da Prefeitura tuguês, antes da realização do Municipal, mas como alguns projeto. cartazes foram arrancados e piAo ser questionado se deseja chados, a Prefeitura deixou de

apoiar o plano. Com o intuito de espalhar placas por toda a cidade, o projeto já distribuiu mais de 70 cartazes nos bairros Chácaras das Pedras, Três Figueiras e Petrópolis. O Shoot This Shit não trabalha apenas neste projeto, mas sim em outros conceitos que acreditam fazer a diferença no cotidiano das cidades. É uma coligação que atua pelo Brasil com o propósito de implementar ações que transformem ou acrescentem no cotidiano da sociedade. Em Porto Alegre, são realizados workshops para unir e criar ideias coletivas para melhorias no município.


16  •  UNIPAUTAS • 2014/1

NOTÍCIAS O mundo em Porto Alegre

Um carrossel para além do futebol Johan Neeskens, integrante do “Carrossel Holandês”, ministrou curso para educadores em POA Rian Ferreira e Gabriel Ribeiro

D

uas finais de Copa do Mundo, três títulos da Liga dos Campeões, mais de uma década servindo à seleção holandesa e 23 anos de carreira. Tudo isso reunido em um senhor de 62 anos, com um sorriso um tanto tímido e uma bola de futebol debaixo do braço. Na companhia de mais três instrutores, Johannes Jacobus Neeskens, integrante da seleção holandesa que encantou o mundo em 1974, passou uma semana na capital instruindo educadores da rede municipal. Para Christian Gomes, um dos participantes da atividade, o curso foi um apanhando geral da educação holandesa do futebol: “Eles educam as crianças desde os seis anos de idade até

os 13 com uma teoria específica”, conta. O educador e árbitro ainda disse que, dos 13 aos 16, a tática começa a ser incorporada nos jovens para, a partir dos 16 anos, o rendimento em si ser realmente avaliado. O prefeito José Fortunati também compareceu ao evento e caracterizou a iniciativa e a visita de Neeskens como “inesquecível para os amantes do futebol”. Jan Derks, um dos instrutores, disse que a teoria é a receita do sucesso dos treinadores holandeses: “Temos o (Frank) Rijkaard, Guus Hiddink, Van Gaal, entre outros, todos educados desta maneira e hoje são grandes nomes do cenário mundial do futebol”. Para Johan Neeskens, “o objetivo do curso é apresentar aos presentes a filosofia do ensino futebolístico holandês e ensinar a aplicar isso no dia a dia com as crianças”. O ex-jogador e treinador explicou que dividia os professores em dois grupos, cada um com dez crianças. A iniciativa, como se vê, vai muito além do futebol. Neeskens

Neeskens na Escola Anísio Teixeira, bairro Aberta dos Morros, zona Sul de Porto Alegre. Foto: Cristine Rochol/Divulgação PMPA

explicou que além de mostrar o futebol para as crianças, os holandeses querem apresentar o outro lado do esporte. “Não temos apenas o esporte, mostrar o lado social e as coisas da vida também é importante, além de fazer parte da metodologia do projeto. Espero que todos

aproveitem muito bem essa experiência”, conceitua. Quando o assunto é Copa do Mundo, Johan diz que entrar em campo em uma final de Copa foi uma sensação muito bonita: “jogar uma final pelo seu país é uma honra, imagina ter essa oportunidade duas vezes. Lamento não

ter conseguido conquistar a vitória, mas estar na história da sua pátria já é suficiente”. A Holanda, em 1974, encantou o mundo pelo futebol coletivo imposto pelo técnico Johan Cruijff, eliminou o Brasil, mas acabou derrotada na final pela Alemanha.

Passaporte para cães e gatos Aceito no Mercosul, passaporte animal facilita a circulação de cães e gatos na América do Sul João Pedro Zettermann

Q

uem nunca teve vontade de levar seu animalzinho de estimação para viajar junto mas não pôde? Ou arrumou suas malas e ficou com pena de deixá-lo sozinho? Agora, essa vontade pode ser realizada mais tranquilamente. O passaporte para cães e gatos surge como uma alternativa segura e mais

rápida para quem quer viajar na companhia do seu bichinho. O trânsito de cães e gatos entre cidades e países exige algum documento emitido pela autoridade veterinária do país de origem que, obrigatoriamente, seja aceito pelo país ou cidade de destino do dono do animal. O documento precisa mostrar as condições e o histórico de saúde do animal, além de que ele atende às exigências sanitárias do país de destino. Para a obtenção do documento, o dono necessita apresentar o atestado de saúde e a carteira de vacinação do bichinho. O animal precisa ter uma

identificação eletrônica para o passaporte ser concedido, e depois de solicitado, o passaporte demora cerca de 30 dias úteis para ficar pronto. Baixa procura A procura pelo passaporte ainda é baixa, já que ele não é obrigatório (apesar de facilitar o trabalho das autoridades), como destaca a chefe da Unidade de Vigilância Agropecuária do aeroporto, Consuelo Paixão Côrtes: “Por não ser um item obrigatório, e ser uma coisa relativamente nova, ele ainda tem uma procura pequena. Desde sua

implementação, apenas cinco foram solicitados e entregues até agora”, destacou ela. O passaporte é gratuito, substitui o CZI (Certificado Zoosanitário Internacional) e o atestado de saúde e vale por toda a vida do animal, desde que sejam atualizadas as informações a cada viagem. O passaporte é aceito em todo o Brasil e em alguns países do MERCOSUL, como Paraguai, Uruguai, Argentina e Venezuela, desde que cumpra todas as exigências impostas pelo país. Por isso o dono do animal deve se informar com antecedência sobre essas exigências e adequar seu

bichinho a elas, o que pode durar algumas semanas ou meses. O CVI (Certificado Veterinário Internacional) é outro documento que também é aceito para viagens, e ainda é o mais utilizado. Ele, assim como o passaporte, pode ser feito no Serviço de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro), órgão que faz parte da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) do MAPA e fica localizado em aeroportos, portos, postos de fronteira e alfândegas. Além de Porto Alegre, ele pode ser obtido nas cidades de Santana do Livramento, Uruguaiana e Chuí.


2014/1 • UNIPAUTAS • 17

A profissão dos sonhos de todo jornalista Os jornalistas Marcelo Barreto e Marcelo Rech contam suas experiências como correspondentes

em aceitar mais esse desafio, que já havia manifestado como um de seus destinos favoritos como correspondente. Em relação à ambientação no país, Marcelo conta que a famíWilliam Dias lia teve de se adaptar rápido a “nova casa”: “Mudamos em julho de 2011 e levamos praticamente magine trocar literalmente todo o segundo semestre para de vida e morar em outro completar a adaptação. Tivemos país, aprender um outro de alugar apartamento, esperar idioma, mergulhar em outras a mudança chegar, achar escola culturas e ter que se ambientar para as crianças, tudo isso em em um lugar totalmente dife- pouco tempo e já em forte ritmo rente do seu, seja na mais calma de trabalho”, lembra o jornalista. cidade do primeiro mundo, no Assim como no dia a dia, ambiente mais hostil de guerra Barreto também encontrou muou até mesmo em catástrofes danças consideráveis no amnaturais. biente de trabalho, já que voltaEssas são as missões nem tão va para a reportagem após oito fáceis da vida de um jornalista anos como apresentador: “como correspondente internacional o posto era de correspondente que, além de informar, precisa na Europa, fiz muitas viagens. se acostumar a um novo espaço, Saí de uma redação grande voltaa um novo estilo de vida. da para o esporte, para um escriEnviado especial dos ca- tório pequeno em que apenas eu nais SporTV na cobertura da e o produtor éramos exclusivos Olimpíada de Londres 2012, da emissora”, conta. Marcelo Barreto teve pouco De volta ao Brasil em agosto tempo para se ambientar em de 2013, Marcelo Barreto consium novo país. Tendo a opor- dera a experiência muito posititunidade de cobrir um dos va. Faria de novo? Marcelo não maiores eventos esportivos do pensa duas vezes ao responder: mundo, Barreto, que já havia “passado esse período, gostaria morado no Exterior e estudado de repetir a experiência, mesmo na Universidade de Michigan que em outra cidade, tomei gos(EUA), não pensou duas vezes to pela coisa”.

I

A experiência de Marcelo Rech A primeira expedição brasileira na Antártica, Guerra da Iugoslávia e Guerra do Golfo. Essas são algumas das mais importantes coberturas internacionais do jornalista gaúcho Marcelo Rech. Filho de militar, Rech cresceu trocando de cidade. Logo aos dois meses, a família mudou-se de Santa Cruz para Pelotas. Após entrar para a equipe da EBN, Marcelo, em um ato de proatividade, pediu para reportar notícias da expedição ao continente gelado. Assim, em 1982, fez parte da equipe brasileira no continente de gelo: “Ir à Antártica 30 anos atrás era como ir à Lua. Sempre gostei do frio, de aventura. Para mim, com 22 anos cobrir a primeira expedição de brasileiros no continente foi uma luz”, revela o jornalista. Como nem todo o lugar do mundo é perfeito, o correspondente também enfrenta situações em que encontra a pior miséria do mundo. Com Rech não foi diferente. Para ele, o pior lugar em que já foi enviado especial foi a província de Zambézia, no Moçambique. Segundo ele, as pessoas chegavam a disputar quem ficaria com um saco plástico e soldados brasileiros estavam lá teriam que apartar essas brigas. Cobertura de guerras

Barreto foi eviado especial dos canais SporTV em Londres 2012. Foto: Divulgação

Jornalismo MÍDIA

Entre os lugares com mais dificuldade de ambientação, Rech cita o Oriente Médio: “o mais difícil com certeza é o Oriente Médio, devido às culturas, costumes e línguas. A Arábia Saudita, Iêmen, o Afeganistão, devido aos seus regimes fechados, são lugares bem complicados”, comenta. Quando o assunto é guerra,

Rech cobriu, entre outras, a Guerra do Golfo. Foto: ZH - Divulgação, Daniel Marenco

o jornalista, que cobriu duas e também a separação da União Soviética, fala que atualmente é mais fácil cobrir uma guerra do que antigamente: “é rotineiro uma pessoa que tenha um blog e 1500 dólares no bolso viajar para cobrir uma guerra, por simples curiosidade, sem ser profissional na área. Antes era mais raro, mais difícil. Na situação em que considera uma das piores que já passou, ele fala sobre quando estava cobrindo uma guerra e passou mais de 48 horas sem comunicação, sem passar informações

para o Brasil e também sem receber notícias, o que para ele é uma situação de extrema agonia, não saber o que se passa com o mundo e ao mesmo tempo ninguém saber como ele estava naqueles momentos”. Quando questionado se já teve algum lugar que voltaria ou se haveria algum lugar que gostaria de ser enviado, o jornalista brinca, e revela que seu destino favorito foi um evento passado: “eu gostaria de ter coberto a Guerra do Vietnã, mas não tinha idade, tinha apenas 8 anos”.


18  •  UNIPAUTAS • 2014/1

CULTURA Arquitetura

Influência estrangeira na arquitetura histórica da Capital Porto Alegre é conhecida por seus belos prédios históricos, mas poucos conhecem a participação de arquitetos estrangeiros Gabriela Holken, Lucille Soares e Rafaela Barboza

P

orto Alegre foi fundada em 1752, quando cerca de 500 açorianos fixaram-se à beira do lago Guaíba. Em 1822, recebeu os primeiros imigrantes alemães, surgindo às primeiras olarias e estabelecimentos comerciais. A presença estrangeira, portanto, é marca da cidade desde sua origem. E também na arquitetura. São muitas as influências estrangeiras na arquitetura da capital gaúcha. Muitos arquitetos de vários países deixaram seus nomes gravados nas construções históricas da Capital. Biblioteca Pública

Projetada por Affonso Hebert, a construção teve início em 1912, porém só foi totalmente terminada em 1921. Sua decoração é composta por esculturas de mármore e bronze feitas pelo escultor alemão Alfred Adloff e pelo italiano Giuseppe Gaudenzi com participação do brasileiro Eduardo de Sá. A arquitetura da biblioteca tem influência da cultura europeia.

reparação foi feita na estrutura. O prédio defronta-se com depredações, pichações nas entradas, pisos esburacados e, toda semana, o Instituto é alvo de vândalos e assaltos. Ainda esse ano, o Secretário Estadual de Educação anunciou que há um projeto de restauração, mas as obras não tiveram início, pois essa mesma proposta não foi concluída. Theatro São Pedro Inaugurado em junho de 1858, o teatro localizado no Centro Histórico é considerado um dos mais belos do país. Foi construído pelo arquiteto alemão Phillip Von Normann. A construção conta com o estilo barroco português e é revestida internamente de veludo e ouro na decoração. A disposição da plateia, em forma de ferradura, é característica do teatro italiano da época. Em 1975, o teatro passou por uma grande reforma. A restauração foi coordenada por Eva Sopher, imigrante alemã nacionalizada brasileira. Com a ideia de “integração do passado com o presente”, o teatro foi reinaugurado em 1984. Catedral Metropolitana Conhecida como Igreja Matriz, ou Igreja Mãe de Deus, foi construída novamente em 1920, pois sua primeira versão em estilo barroco teve de ser substituída devido a suas condições de

Novo projeto do Palácio Piratini foi feito pelo arquiteto francês Maurice Graso. Foto: Rafaela Barboza

degradação. Dom João Becker iniciou os estudos para a construção de uma nova matriz, que foi feita pelo arquiteto italiano Giovanni Batista Giovenale, da Academia de Belas Artes São Lucas, de Roma. O estilo foi inspirado na Renascença Italiana. A cúpula possui 65 metros de altura e 18 metros de diâmetro, considerada uma das maiores do mundo. Os painéis de mosaico na fachada foram feitos nas oficinas do Vaticano.

Instituto de Educação General Flores da Cunha Desenhado pelo arquiteto espanhol Fernando Corona, as obras tiveram início em 1930, ficando pronto em 1939. No saguão encontramos três pinturas a óleo que estão entre as maiores do país. O Instituto de Educação General Flores da Cunha foi durante 60 anos o único a formar professores no Estado. Carrega esse nome em homenagem ao governador do Rio Grande do Sul. Foi tombado pelo município de Porto Alegre em 1997 e logo depois pelo IPHAE em 2006. No início de 2007, foi liberada uma verba para realizar reformas na parte elétrica e restaurar o ginásio interditado há 15 anos, porém ainda hoje nenhuma

Santander Cultural Construído por Hipólito Fabre e pelo alemão Theodor Wiederspahn, o Centro Cultural Brasileiro, mantido pelo Banco Santander, teve sua construção iniciada em 1927 e somente concluída em 1931. O interior do prédio foi projetado pelo arquiteto polonês Stephan Sobczak, e as esculturas da fachada traseira feitas pelo alemão Alfredo Staege. Tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual, o prédio tem como elementos da arquitetura a predominância do estilo neoclássico, com vitrais de origem francesa e decoração requintada. A restauração feita pelo Banco Santander manteve o estilo original da construção. O Centro Cultural já recebeu exposições de Miró e Pablo Picasso, e também já serviu de espaço para a Bienal do Mercosul. Margs

Projetada por polonês, construção teve participação de alemão. Foto: Rafaela Barboza

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli situa-se no Centro Histórico da cidade e recebe esse nome em homenagem ao professor, pintor, restaurador e museólogo brasileiro Ado Malagoli. Primeiramente o prédio abrigou a sede da Delegacia Fiscal da Fazenda, mas em 1978 passou a

ser usado como museu. O projeto arquitetônico é de autoria do alemão Theodor Wiederspahn, com decoração dos também alemães Franz Radermacher e Alfred Adloff, sendo este último, o responsável pelas estátuas de Ceres e Hermes, que compõem a fachada do prédio, representando a Agricultura e o Comércio. O Margs recebe diversas exposições nacionais e internacionais, possui uma vasta biblioteca, e também serve de espaço para oficinas de arte. Palácio Piratini Primeiramente chamado de “Palácio de Barro”, foi sede do governo por 107 anos. Até que, em 1894, o então governador Júlio de Castilhos resolveu fazer uma nova construção, porém por trocas de governo e problemas no projeto, a construção só iniciou em 1920, na administração de Borges de Medeiros. O novo projeto foi feito pelo arquiteto francês Maurice Gras, inspirado no Petit Trianon de Versailles, com forte influência neoclássica. Outro francês também teve participação, o artista Paul Landowski criou algumas esculturas do palácio, entre elas, as que representam a Agricultura e a Indústria, presentes na fachada principal.


2014/1 • UNIPAUTAS • 19

Literatura e Cinema CULTURA

O poeta gaúcho que descobriu versos na Venezuela A história de um jovem que largou sua rotina de estudante na UFRGS para embarcar numa trajetória poética na Venezuela

a Venezuela – lhe proporcionava ‘’uma semana em um dia, um romance em uma linha’’, comenta Lucas. Por viver tanto em tão pouco tempo, só poderia surgir a vontade de participar de tudo que Andressa Carmona e Júlia Gaffreé o país lhe proporcionava: foi ao funeral de Chávez, andou pelas ucas Gonçalves, 24 anos, ruas durante as eleições, bateu um dia trocou o sonho de panela e, por último, participou ser estudante de Letras de uma manifestação na qual da UFRGS pela chance de dar ficou trancado em um condoaulas de português no Instituto mínio durante cinco horas com Cultural Brasil Venezuela, em mais três pessoas – incluindo a Caracas. namorada venezuelana que coO também escritor, que em nheceu na viagem. 2012 foi finalista do Prêmio Lucas conta que, quando foi AGES de Literatura com o seu para a Venezuela, deixou para primeiro livro, “Se soubesse o trás uma convivência de quase que dizer diria em prosa” (Paco dois anos com três amigos que Editorial 2011), conta que desde eram como irmãos, mas se diz que chegou lá o que os venezuela- acostumado a um estilo de famínos mais perguntam é: “por que lia mais desapegado por ter pais aqui?”. E na verdade ele mesmo separados. não sabia responder. Para a namorada, a venezueRefletindo, pensou que pri- lana María Antonieta, 23 anos, meiramente pela oportunidade: Lucas deixa a alma em seus texfoi a que surgiu para intercâm- tos, criando através da verdade, bio. Depois, viu que Caracas – e o que o caracteriza, seu estilo

L

único: ‘’O Lucas é um criador que encontrou na Venezuela mais dilemas que respostas, por isso segue aqui’’. Um dos amigos que morava com Lucas descreve o apartamento que dividiam como um lugar que transpirava inspirações artísticas vindas de cada um. Um pouco da alegria do apartamento foi transferida para Venezuela quando o amigo decidiu fazer suas malas e procurar um caminho diferente, deixando para trás confidentes que ainda sentem a falta do parceiro poético. “A Venezuela me recebeu de braços abertos e eu caí, me atirei no peito desse país. Hoje sou apaixonado por essa paixão exagerada do venezuelano; por esse ódio tão instantâneo que o venezuelano pode alimentar de um dia pro outro; por todas essas ações passionais e tão humanas que me dão gás pra escrever, pra seguir denunciando, pra me sentir útil. Estou profundamente apaixonado por esse país”, completa Lucas.

Colombiano radicado em POA estreia em longas de ficção. Foto: Divulgação

Hay que filmarse, pero sin perder la ternura jamás Diretor colombiano que estudou cinema em Cuba e mora em Porto Alegre produz seu primeiro longa-metragem de ficção Guilherme Wunder e Mariela Moraes

O

diretor, roteirista e produtor colombiano Juan Zapata, 36 anos, mora no Brasil há cerca de dez anos e é conhecido por já ter dirigido quatro documentários desde que chegou no Brasil. Seu novo filme, porém, marca a estreia na ficção. Simone conta à história de vida da atriz porto-alegrense Simone Telecchi, que interpreta ela mesma na trama, e fala sobre os dilemas da liberdade sexual por meio dela. Juan, que se define como “uma pessoa que está sempre tentando se descobrir a cada filme e a cada circunstância da vida”, conta que essa história chegou nele por acaso, graças a um teste que Simone Telecchi tinha feito para participar de uma série do colombiano: “existia uma ambiguidade muito grande entre o

masculino e o feminino dela e quase que instantaneamente e por frações de segundo era evidente uma história, que me fez ficar amigo dela, fez com que ela contasse essa história e a partir dela eu disse que ali nós tínhamos um filme”. Zapata nunca tinha produzido um longa-metragem ficcional, e relata que nem sentiu diferença entre esse trabalho e os documentários que já produziu, devido ao amor que sentiu contando à história: “Foi tão gostoso e tão feliz produzir esse longa como quando faço um documentário, não teve tanta diferença não, mas sinto que é um passo à frente, é um ponto de virada na minha vida profissional”. Para o futuro, o colombiano não pretende descansar e está com vários projetos, desde documentários à filmes ficcionais: “Estamos terminando um documentário que será lançado em março sobre as primeiras ambientalistas da América Latina, que são daqui, gaúchas, mas que trabalharam muito no mundo inteiro e foram pessoas que criaram muitas da leis ambientais”.

O artista

Lucas gosta de produzir suas fotos mostrando um pouco de cada país. Foto: Arquivo Pessoal

Juan Zapata estudou Cinema na Universidade Jorge Tadeo Lozano, em Bogotá, e na EICTV, em Cuba, Juan Zapata foi professor de Cinema em universidades da Colômbia entre 2002 e 2004. Vivendo no Brasil desde 2004, ele deu aulas de Fotografia e Roteiro na Universidade Luterana do Brasil (2007/08) e também de Produção Executiva e Distribuição Alternativa (2010).


20  •  UNIPAUTAS • 2014/1

CULTURA Dança

“O Flamenco me faz sentir satisfeit ”

Dança espanhola ganha espaço no país do samba e na cidade da chula Bruna Fonseca, Estevan Gonçalves e Mariana Tripoli

A

pesar de ainda não contar com grande atenção e apoio do público, o Flamenco vem conquistando um número expressivo de fãs verdadeiros no país do samba. A dança foi diretamente influenciada pelos costumes ciganos, juntamente com a cultura mourisca e árabe, as quais, na época, estavam em um período difícil. Eles encontraram, assim, uma forma de expor suas riquezas e esperanças. Passadas as tormentas, tornou-se uma arte que proporciona aos dançarinos e admiradores dos espetáculos uma viagem através de sentimentos que a música, em conjunto com a dança, provoca, tais como alegrias, tristezas, e até revoltas.

Ao Brasil o Flamenco chegou na década de 1950, quando os imigrantes espanhóis começaram a chegar ao país. A dançarina e professora do Naira Nawroski Centro de Artes Integradas, Silvia Canarim, 42 anos, dá aulas de Flamenco há 18 anos na cidade e afirma que o ritmo está no topo dos mais procurados pelo público adulto. Fortemente inspirada pelo dançarino Israel Galván, Silvia encontrou-se com o Flamenco após uma longa trajetória à procura de uma profissão. Estudou piano, alguns semestres do curso de Publicidade e formou-se em Jornalismo. “Aos 18 anos, eu estava descontente com a Publicidade e, ao procurar uma atividade para aliviar minha tensão, encontrei-me em uma escola de dança”, conta. Sílvia, que fez seu doutorado em Flamenco na Universidad de Sevilla, na Espanha, afirma que seu maior desafio como professora é encontrar um caminho para chegar até o aluno, envolvê-lo

da forma correta e absorver a característica de aprendizagem de cada um para que se mantenham na dança: “Cada aluno, assim como cada pessoa, é único. Alguns terão muita facilidade técnica, mas terão dificuldades na hora da expressividade. Outros tem facilidade para expressar sentimentos”. Do hobbie à profissão O bailarino porto-alegrense Gabriel Matias sequer pensava em dança flamenca, mas tinha sua mãe como principal referência nesse ramo. Após o convite de um professor, o garoto começou a frequentar as aulas e, desde então, tomou gosto pela arte da dança originária de Andaluzia, na Espanha. Hoje, aos dezenove, a rotina de Matias é toda voltada ao flamenco: “Ministro aulas para todos os níveis em cursos, workshops e aulas regulares em outras cidades. Sou também coreógrafo e faço parte da montagem do novo

espetáculo da Cia de Flamenco Del Puerto”, conta o bailarino, que recebe convites para shows no Brasil e no exterior. Matias se orgulha das experiências que adquire a cada dia desde que decidiu tornar-se um bailarino: “as melhores experiências que se leva são as trocas com os outros profissionais da área. Por constantemente, estamos viajando e temos um intercâmbio muito intenso, além de termos a possibilidade de conhecer outras culturas.” Para Matias, o retorno financeiro é uma consequência quando se coloca seriedade, responsabilidade e constância em

primeiro lugar. Ele também conta que é preciso grandes doses de perseverança para não desistir e se tornar um bailarino bem-sucedido: “o retorno financeiro demora um pouco, mas vem. É preciso trabalhar muito, muitas horas de ensaio prático, até 5 horas pordia, escutar muito flamenco e ler bastante’’ conta Matias. Quando perguntado sobre preconceito, Matias garante que nunca sofreu e acredita que exista, na maioria das vezes, na cabeça do próprio bailarino por ter vergonha de falar para os outros que dança. “Dentro do mercado não há preconceito, muito pelo contrário”, diz.

A verdade é que o flamenco me faz sentir satisfeito em muitos aspectos da minha vida.” Gabriel Matias, bailarino


2014/1 • UNIPAUTAS • 21

Dança CULTURA

O balanço da serpente em uma dança das arábias Artista de dança do ventre gaúcha que já trabalhou até na Arábia fala sobre uma das danças mais tradicionais do mundo Yasmin Furtado

B

atidas de quadril, movimentos ondulatórios com os braços, pulsações com a barriga e simulação de movimentos de uma serpente. Talvez você não esteja reconhecendo todos os itens citados, mas a dança você certamente conhece: a Dança do Ventre. Nadima Murad, uma das maiores artistas do gênero no Brasil, é bailarina, professora, coreógrafa e administra a mais conceituada escola de Dança do Ventre no Estado, a Escola de Dança Nadima Murad. É, ainda, a idealizora de um dos maiores eventos de dança, o Festival de Dança do Ventre do Rio Grande do Sul: “a primeira vez que vi a Dança do Ventre me apaixonei. Foi em 1996 na TV. A professora Maria Lou do Couto estava dando um curso, me inscrevi e nunca mais parei. Descobri naquele momento minha verdadeira paixão e que não poderia mais viver sem praticar”. Em sua carreira internacional, passou por países como Emirados Árabes Unidos (Dubai), Marrocos, Bahrein, Líbano, Síria e foi a única gaúcha a trabalhar no Egito (Castelo de Montazah), onde venceu um concurso realizado em 2008 na cidade de Alexandria: “ter trabalhado nos países árabes foi a coisa mais maravilhosa que aconteceu na minha vida profissional. Até os dias

de hoje sonho com aquela vida de glamour que levava lá, trabalhando uma hora por dia, ou melhor fazendo o que amo e morando em hotéis de luxo. Não posso dizer que é trabalho (risos)”. Por outro lado, Nadima lembra que o público da época era bem exigente: “lá, diferentemente daqui, as pessoas saem quase todas as noites para jantarem e assistirem shows de dança e música fazendo de cada show um momento único de muita alegria e descontração”, explica. Considerada uma das danças étnicas mais populares do mundo, a dança traz um leque de benefícios para a vida de quem pratica: “vão desde ser uma ótima e prazerosa atividade física, a uma nova forma de conhecer novas pessoas e relaxar a mente desvendendo os mistérios de uma cultura milenar impressionante. Procure boas profissionais com referências, estude, assista a shows e viva a dança com paixão e amor por que ela encherá sua vida de alegria”, diz Nadima. História Não se sabe ao certo de onde vem a dança, mas grande parte das pesquisas aponta que seu início deu-se no Antigo Egito em rituais cultos e religiosos para fertilidade, daí o nome “Dança do Ventre”. As mulheres dançavam fazendo movimentos pélvicos e abdominais, pois acreditava-se que dessa movimentação surgissem os “frutos”. Sofrendo várias modificações com o passar dos anos, o caráter da dança hoje é considerado artístico, cultural e profissional, mas sem perder a essência árabe usada em seus movimentos.

Premiada bailarina e coreógrafa Nadima Murad ministra aulas em Porto Alegre. Foto: Divulgaçáo


22  •  UNIPAUTAS • 2014/1

CULTURA Gastronomia

Dos peixes aos sushis A história da Japesca, fundada nos anos 70 e uma das pioneiros do emergente mercado de fast-food de comida japonesa Jenifher Mello

A

o andarmos pelas ruas e shoppings de Porto Alegre, é possível notar a variedades de restaurantes que servem comida japonesa. Muitas pessoas ainda pensam que sushi trata-se apenas de “peixe cru”, quando, na verdade, a culinária japonesa apresenta diversos pratos. Nos restaurantes, as opções vão dos tradicionais sushis e shashimis aos temakis, que são um tipo de sushi enrolado à mão em uma alga, recheado com arroz e peixe. Um dos principais nomes da culinária japonesa em Porto Alegre é o da empresa Japesca, fundada em 1970 por João Lopes da Cunha, um pescador criado e nascido na Ilha da Pintada. A história da empresa começa no Mercado Público, local onde todo o pescado era comercializado. Ainda em meados de 1970, o fundador decidiu abandonar a sociedade que mantinha com uma peixaria do Mercado Público e inaugurou sua própria

indústria de pescados em São Lourenço do Sul, próximo a Rio Grande, onde a matéria-prima era farta. Em 2009, a família decidiu expandir os negócios para o ramo da cozinha oriental, assim nascendo a Temakeria Japesca. O restaurante integra uma linha de fast-food japonês, mas nunca deixou de lado o seu principal negócio: a comercialização de peixe. O novo negócio começou em um espaço pequeno junto ao local que a empresa já possuía no Mercado Público, atendendo junto a peixaria. Logo que a culinária japonesa ganhou seu espaço em meio a tantos outros modelos de restaurantes, apenas o público de maior poder aquisito tinha a possibilidade de desfrutar deste novo conceito gastronômico. Sob a orientação de uma consultora japonesa, a empresa decidiu oferecer um produto de qualidade, praticidade e rapidez em sua entrega com um preço acessível, com o objetivo de popularizar a comida japonesa entre os gaúchos, que são preferencialmente são consumidores de carne vermelha. Após ser eleita por três anos (2010, 2011 e 2013) como a melhor Temakeria de Porto Alegre, com o prêmio “Veja Comer & Beber”, MELHOR TEMAKI, a empresa implantou o “PAS”

Os temakis são os mais comercializados, em especial o de salmão. Foto: Divulgação

– Programa de Alimento Seguro em todas as suas unidades, com o objetivo de aumentar a segurança alimentar e a qualidade dos produtos comercializados aos consumidores. Gabriel Antonio Mendo da Cunha, advogado e um dos sócios da empresa, salienta a forma simples e rápida nos atendimentos: “Nosso diferencial é a

agilidade entre o pedido e a entrega, de forma simples, rápida e eficiente, esse novo modelo tem agrado os clientes que buscam qualidade e preços mais acessíveis nesse área gastronômica”. Atualmente, a rede conta com seis Temakerias - duas delas inauguradas em 2013 nos bairros Cidade Baixa e Moinhos de Vento, uma tele entrega e mais

uma Cevicheria (restaurante de comida peruana) que abriu suas portas em Março deste ano, na Avenida Nilo Peçanha na Zona Norte de Porto Alegre. Os próximos planos da rede Japesca é a abertura de mais uma temakaria na Avenida Assis Brasil, Zona Norte. Outro projeto que está em andamento são as temakerias móveis.

Temperos e segredos árabes em POA Restaurante combina sabor e tradição na sua culinária libanesa Mariela Moraes Kessler

F

Primeira unidade foi fundada nos anos 80. Foto: Mariela Moraes Kessler

undado em 1989 por Therese Youssef Ghanem, nascida no Líbano, Al Nur é um dos mais conhecidos restaurante árabes de Porto Alegre. Com um cardápio típico libanês, Al Nur vem crescendo e com isso mudanças ocorreram ao longo do tempo. Em 2004, Cid Said, filho da dona Therese, assumiu o comando do restaurante, modernizando e aumentando a capacidade para 68 pessoas. Com música libanesa ao fundo, o restaurante oferece para o seu público a Rodada Al Nur, que

nada mais é que o rodízio onde são servidas a maioria das iguarias da casa. O cliente também pode saborear o menu à la carte e algumas raridades, que são os pratos elaborados por clientes mais assíduos do restaurante. Tudo sobre o comando da chef Marli Scott. Atuando como gerente da casa há nove meses, Alex Ritta, 39, conta que todas as quartas-feiras o Al Nur oferece ao seu público uma orientação individual na borra do café, que é uma tradição milenar árabe: “Quem realiza esta leitura é Nurah Said Said, irmã do proprietário, Cid Said. Neste dia as mulheres vêm em peso para o restaurante, formando fila no lado de fora. É um dia em que o restaurante lota.” Além de sua matriz, localizada

no bairro Rio Branco, Al Nur possui uma filial no Shopping Bourbon Wallig e daqui a 30 dias ficará pronta a da Zona Sul: “A loja da Protásio sem dúvida é a mais aconchegante e charmosa. A nossa filial do Bourbon é mais sofisticada. Para a zonal sul estamos preparando um restaurante maior, com a parte de cima reservada somente para eventos, com um lindo jardim e espaço kids monitorado por câmeras, que os pais poderão acessar através do celular. Com certeza será a loja mais glamourosa”, conta Alex. A casa que deu origem ao Al Nur localiza-se na Avenida Protásio Alves, número 616. Aberto diariamente, o restaurante conta também com o serviço de telentrega.


2014/1 • UNIPAUTAS • 23

Gastronomia CULTURA

Sabor e tradição polonesa O Polska Restauracja apresenta a culinária típica com receitas apetitosas e um ambiente familiar do país europeu Marcella Schaurich

O

Polska foi inaugurado em 1996 pela filha de poloneses Irena Kowalczyk. Ela, que também é casada com um polonês, já tinha intimidade com a culinária do país há muito tempo. Antes de abrir o restaurante decidiu conhecer de perto os mistérios e segredos dessa cozinha fazendo cursos na própria Polônia. Hoje quem cuida do restaurante é a filha de Irena, Janine Kowalczyk: “Por ter sido uma herança deixada por nossa família, é muito importante para gente manter o restaurante e aperfeiçoar ainda mais o cardápio”, conta Janine.

O Polska trabalha com seis tipos de sopas, entre elas a tradicional sopa de zour (com beterraba e ervilhas), além de oferecer a mesa polonesa, que é composta por cerca de dez pratos tradicionais, como filé ao molho caçador (Filet w Sosie mysliwskim), beterraba com raiz forte (Cwikla) e os pastéis cozidos recheado com ricota (Pierogi). A bebida típica fica por conta da vodca polonesa, Wódka Wyborowa, segundo Janine “uma das melhores do mundo”. O restaurante é reconhecido por ganhar por 15 anos consecutivos o prêmio de melhor restaurante polonês do Brasil pelo Guia Quatro Rodas. Por ser motivo de muito orgulho para a família Kowalczyk, os prêmios estão todos pendurados na parede do restaurante, fazendo parte da decoração. O ambiente é simples, porém muito acolhedor, pois foi pensado cuidando os mínimos

Tradicionais ovos de páscoa pintados a mão. Foto: Marcella Schaurich

detalhes para recriar um ambiente familiar do país europeu. A decoração fica por conta dos móveis estilo cristaleiras,

repletos da história da Polônia, as tradicionais bonecas e os ovos de páscoa pintados à mão (pisanki e Malowanki).

Para deixar os clientes ainda mais no clima polonês, o local, conta com uma música ambiente polonesa.

Muito mais que chucrute e chope Família Baumbach mantém restaurante alemão há mais de 40 anos na Capital Paola Gonçalves

T

u d o co m e ço u n o Restaurante Tiroleza, em São Leopoldo, onde Orlando e Vera Baumbach trabalhavam como auxiliares de cozinha. Em 1967, Seu Orlando e sócios fundaram o Ratskeller, na capital, e em 1982, o sonho da família começou a sair do papel ao iniciar a construção do Restaurante Baumbach, no bairro São Geraldo, inaugurado em 1989 e que desde então tem

conquistado uma clientela fiel e assídua: O Ratskeller tem no seu cardápio, dentre tantas tradicionais comidas da culinária alemã, marrecas, peixes e filés, porém o prato mais pedido é o Peixe Baumbach, que tem em seu acompanhamento camarões e batata dorê. Na sobremesa, dois pratos competem pela preferência do público: o apfelstrudel- prato tradicional alemão-, e a pera recheada com sorvete. Raqueli Baumbach, gerente há 25 anos, conta que o segredo dos elogios sobre seu bom atendimento é a união: “aqui trabalhamos todos juntos, não há competição, somos uma única equipe”, finaliza ela.

Luiz Santos, 55 anos, que visita com frequência o estabelecimento, afirma que “para minha família, o Ratskeller Baumbach é o melhor restaurante e com custo/benefício muito bom. Melhor atendimento em relação aos outros que conheço em Porto Alegre”. Além do atendimento, o Baumbach tem uma curiosidade sustentável: desde a sua inauguração utiliza a energia solar e tem recipientes que colhem água da chuva, ajudando o meio ambiente. O restaurante localiza-se na Av. Pará 1324, bairro São Geraldo, em Porto Alegre. O valor médio do prato por casal varia entre R$35 a 40 reais.

Baumbach Ratskeller opera desde 1982 no bairro São Geraldo Foto: Paola Gonçalves


24  •  UNIPAUTAS • 2014/1

ENTREVISTA

“O profissional do futuro tem muito o espírito do jornalista” Unipautas - Como está o mercado hoje para a comunicação? Fedrizzi - Eu vejo o mercado muito complicado, dificil, mais restritivo, mas como eu sempre falo, sempre deve se escolher uma profissão adequada que se goste de fazer, se dedicar mais que os outros e consequentemente você virá a ser sério candidato entre os melhores. Quem não quer falar do trabalho fora do ambiente dele é porque não gosta do que faz. O que eu sinto falta mesmo é o profissinal 360, aquele que tem noção de um pouco de tudo, que sabe diagnosticar o problema e achar a ferramenta certa pra resolvê-lo.

Jornalista e publicitário Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala, conversa com estudantes de Jornalismo da UniRitter sobre o futuro da comunicação Luiz Otávio Rodrigues, Rian Ferreira e William Dias

P

oderíamos dizer que Carlos Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala, uma das maiores do Brasil, já fez de tudo um pouco em comunicação: trabalhou em rádio, em redação de jornal, foi chefe de jornalismo em TV, assessor de imprensa e até candidato a publicitário no ano de 2002. O talento não surgiu a toa: nascido em Joaçaba, SC, é filho do também jornalista Nelson Fedrizzi, radicado em Porto Alegre. Ele ouvia do pai que os seus filhos poderiam fazer tudo “desde que não inventassem ser jornalistas”. Mas Alfredo, o segundo de cinco filhos, não conseguiu fugir do jornalismo, principalmente porque desde os tempos de Colégio Rosário ele participava de um pequeno jornal rodado em mimeógrafo. Em entrevista ao Unipautas, Fedrizzi relata como vê o futuro da comunicação em meio à discussão entre os formatos tradicionais e digitais. Unipautas - Na sua opinião, qual vai ser o perfil do comunicador do futuro? Fedrizzi - Essa pergunta vale

Carlos Alfredo Fedrizzi, dono da Agência Escala. Foto: Divulgação

alguns milhões de dólares (risos). Eu acho que a gente precisa aprender a ler sinais, ter estratégia, criatividade, inteligência, ou seja, coisas que nunca acabam. O profissional do futuro tem muito o espírito do jornalista, por ter ser bastante curioso. Unipautas - O digital vai fazer com que as mídias tradicionais acabem? Fedrizzi - Nunca, o que existe é uma readequação, uma adaptação. No natal passado mesmo eu ganhei um toca discos da minha esposa e minha filha me presenteou com LPs, porque várias bandas estão sendo reeditadas em LP. Claro que vira nicho, coisa

de colecionador ou especialista, mas tudo isso continua sobrevivendo. As novas tecnologias vêm para complementar com as outras e se readequar, ou seja, o ser humano é o que é e está aí porque soube se adaptar. Unipautas - O que você consome mais, o digital ou o tradicional? Fedrizzi - Eu não sei responder o percentual, mas tenho muito prazer em ler o jornal em papel. Eu uso o digital durante o dia, especialmente quando estou viajando, pois compro muitos livros e também fica mais versátil do que levar dois ou três livros para viagem.

Unipautas- Existe ainda alguma atividade que você não tenha feito e queira fazer? Fedrizzi - Sim, tem muita coisa ainda. Eu acho que nós temos que ter muitos projetos na cabeça, seja de curto, médio ou longo prazo, porque a cada dia que passa precisamos nos renovar.

Unipautas - Pelos lugares que você já visitou no mundo, tem algo lá fora que falte aqui para os profissionais entrarem bem no mercado? Fedrizzi - Eu diria que falta experientalismo, falta experienciar mais, ousar mais. No Vale do Silício por exemplo, se você tiver quebrado uma empresa isso conta como ponto positivo porque significa que você é uma pessoa que faz, ousa, experimenta. As próprias emissoras de TV não precisariam comprar programas prontos, elas têm criatividade suficiente para criar os próprios. Falta às pessoas tomarem mais as rédias das suas atividades.

O jornalismo antigamente era mais heroico, hoje é mais profissional.”


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.