Escritores Brasileiros Contemporâneos - n. 31 - edição especial (extra)

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O R etrovisor R egina B rito Fixei olhar através do retrovisor e vi que você me seguia no seu luxuoso carro automático. Por quê? Há quanto tempo não nos víamos, lembra? Foram tantos desencontros, mentiras, ironias e muitos percalços pelo caminho. Nunca abri seus e-mails, achava bobagem... E do nada você me envia uma mensagem tão fora de propósito, palavras descombinatórias que não condizem com a sua personalidade. Homem objetivo, acostumado a mandar e nunca pedir. Estranho, não? Mesmo de longe, observei o quanto você estava abatido, envelhecido... “Continua bebendo, fumando e sei lá mais o quê... É melhor parar o carro, pode acontecer um acidente, está emparelhando com o Escritores Brasileiros Contemporâneos

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meu FUSQUINHA, que você tanto desdenha”. — foram as palavras e os pensamentos de Lindalva. Eles pararam os carros e resolveram conversar. Foi difícil iniciar um assunto, pois se olhavam, tentando descobrir o que mudara nas aparências de ambos. Ela pigarreou e iniciou o papo: — Como tem passado? — Só, muito só... E você mais bela do que antes. O TEMPO lhe lapidou. E comigo foi injusto. Concorda? Ela deu um sorriso e um olhar de soslaio, nem concordou, nem o contrariou. Não era preciso. Resolveram tomar uma garrafa de vinho, fazia uma noite fria, tal qual a indiferença de Lindalva. Ela apenas o fitava e passava o dedo Janeiro/2022

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