Revista T&D Segurança nº 18

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Ano 33 Edição Especial nº 18 Segurança nº 15

R$ 12,00

OLIMPÍADAS

A elite preparada Olimpíadas Rio 2016: os desafios da segurança


[ ESPECIAL ]

Olimpíadas do Rio 2016: os desafios da segurança pública

Cidade receberá a maior operação integrada de inteligência, defesa e policial da história do País

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Fernando Frazão/ Agência Brasil

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Divulgação/Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro

EXERCÍCIO EM estação de trem no subúrbio do Rio de Janeiro

Disque-Denúncia ficou fora do esquema de segurança Importante instrumento no combate à criminalidade no Estado do Rio, o Disque-Denúncia (2253-1177) ficou de fora no planejamento de segurança para os Jogos Olímpicos. É o que lamenta o fundador e coordenador do projeto, Zeca Borges, que acredita que o serviço poderia ser fundamental para conscientizar a população sobre a percepção de possíveis ameaças terroristas. “Poderíamos criar um aplicativo, onde as pessoas pudessem fazer as denúncias e também criaríamos uma campanha de percepção de ameaças, como fizemos com o caso dos sequestros, que terminaram praticamente sendo zerados no Rio a partir de nosso trabalho junto com a Polícia. A população saberia observar atitudes suspeitas, locais suspeitos e isso, sem dúvida é fundamental para a segurança de todos”, afirma Zeca Borges. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin), por exemplo, acredita ser fundamental o desenvolvimento de uma “cultura de segurança”, na população. É o que o órgão esclarece, em nota para T&D: “É fundamental que a sociedade brasileira desenvolva a chamada “cultura de segurança”, ou seja, que a população aprimore sua percepção sobre situações suspeitas e que suscitem estranheza. Nesses casos, espera-se que o cidadão repasse, à ABIN ou a outros órgãos de segurança, os fatos que despertem sua atenção, como tentativas de acesso indevido, objetos abandonados em áreas públicas, entre outros. A Agência estimula que tais informações sejam prontamente encaminhadas para que, após adequada avaliação, sejam desencadeadas as ações antecipatórias por parte dos órgãos de repressão e combate ao terrorismo. A ABIN já tem sido contatada nesse sentido, por meio da nossa Ouvidoria, por telefone ou pelas redes sociais.” Para efetuar denúncias, a população pode utilizar os serviços do 190, da Polícia Militar. 22

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Policiais dos batalhões de Operações Policiais Especiais (BOPE), de Ações com Cães (BAC) e de Operações Especiais de Fuzileiros Navais participaram de uma simulação de tomada de reféns na estação de trem do Engenho de Dentro, Zona Norte do Rio. As forças especiais receberam o suporte técnico de representantes da (Unité de Recherche, Assistance, Intervention et Dissuasion (RAID), a força de elite empregada nas crises mais importantes de segurança da França, país que tem sido alvo de ataques do Estado Islâmico. Foi mais um dos treinamentos realizados no sistema da SuperVia com foco nos Jogos. Antes da simulação, a concessionária promoveu uma orientação prévia sobre os riscos específicos deste tipo de transporte (rede com cabos de alta tensão). A estação Engenho de Dentro terá grande fluxo de pessoas durante as Olimpíadas devido às competições realizadas no estádio do Engenhão. Funcionários da CCR Barcas, por meio da Marinha do Brasil, receberam treinamento de prevenção e combate ao terrorismo, na sede da concessionária. Os militares estiveram nas dependências do transporte aquaviário de passageiros, ministrando um “curso” específico direcionado aos líderes da área operacional do modal. No dia 9 de junho, 15 policiais militares do BAC realizaram um exercício especial em uma embarcação da CCR Barcas, atracada na Estação Praça XV. O treinamento contou com adaptação dos cães farejadores ao ambiente marítimo e reconhecimento de objetos ilícitos (drogas e armas) e de substâncias explosivas. Em abril, no dia 29, militares da unidade de Operações Especiais da Marinha Norte-Americana (SEAL) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) também estiveram na CCR Barcas. A intenção do exercício conduzido pelos agentes brasileiros na concessionária foi promover a troca, com os SEALs, de conhecimentos e técnicas antiterror em ambientes confinados. Além dos policiais do BOPE, participaram do intercâmbio, agentes das unidades de Operações Especiais da Força Nacional de Segurança.


T&D - Segurança - Como será feita a segurança nos pontos turísticos e áreas de concentração comercial com apelo turístico? Roberto Alzir - Todo planejamento de segurança dos jogos é alicerçado em uma criteriosa análise de risco que mapeia as principais ameaças à segurança dos jogos Rio 2016 e condiciona a adoção de medidas preventivas e de pronta resposta por parte das diversas forças públicas envolvidas. No que diz respeito ao turista, o Rio de Janeiro conta com duas polícias que atuam de forma integrada. A Polícia Militar é responsável pelo policiamento ostensivo e conta com o Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas, o BPTur. A Polícia Civil, a polícia judiciária, que investiga os crimes, conta com a Delegacia Especializada de Apoio ao Turismo, a Deat. As duas instituições atendem com sucesso as demandas dos turistas através de profissionais com proficiência em vários idiomas, além disso temos um grande número de policiais capacitados e em processo de capacitação em línguas estrangeiras em condições de efetuar um primeiro encaminhamento da demanda, até que ocorra o suporte de um profissional com maior proficiência no idioma solicitado, contamos inclusive com o imprescindível apoio do corpo diplomático e a ajuda de pessoas cadastradas que podem ser acionadas para essa interlocução, caso seja necessário.

Divulgação/Governo do Estado do Rio de Janeiro

Subsecretário Extraordinário de Grandes Eventos, da Secretaria de Estado de Segurança, Roberto Alzir, fala à T&D - Segurança

Uma iniciativa de interesse público. A Prefeitura, através da Empresa Olímpica Municipal, também tem feito um esforço contínuo para conversar com entidades de classes e grupos expressivos com objetivo de compartilhar informações sobre os Jogos e as atividades correlacionadas, ampliando este apoio à Olimpíada.

T&D - Segurança - Há algum entendimento que o crime organizado do Rio de Janeiro possa ser um facilitador para grupos terroristas? Em caso positivo, quais medidas foram tomadas para evitar isso? Roberto Alzir - Nada de concreto nesse sentido. Um conjunto de ações vem sendo tomada com base no trabalho integrado da Inteligência e Segurança Pública para que nada venha a ofuscar o brilho dos Jogos. Apesar da baixa probabilidade de um ataque terrorista devido às características e posicionamento geopolítico do país no cenário internacional, trabalhamos intensamente na capacitação e treinamento das equipes para atuarem em qualquer cenário.

T&D - Segurança - Os treinamentos conjuntos entre as unidades policiais, militares e forças estrangeiras tem dado certo? Roberto Alzir - A Secretaria de Segurança do Rio firmou vários convênios com o Ministério da Justiça, Embaixadas da Espanha e dos Estados Unidos para a capacitação dos profissionais de segurança. A previsão é que 7.674 profissionais - sendo 5.636 policiais militares, 2.038 policiais civis, além dos agentes convidados de outras instituições - sejam capacitados em cursos desde intervenção antiterrorismo e gestão de grandes eventos até segurança turística e idiomas. Nas últimas semanas, por exemplo, integrantes da RAID, a polícia de elite francesa estão fazendo treinamento com membros do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e do Batalhão de Ações com Cães (BAC).

T&D - Segurança - Qual será o papel de apoio do setor de segurança privada (shoppings, centros comerciais etc.) durante os Jogos? Roberto Alzir - Com o advento de um megaevento como os Jogos Rio 2016, ocorre uma concentração de esforços dos três níveis governamentais de toda estrutura de segurança pública, defesa civil, defesa, ordenamento e mobilidade urbana, com o aporte de recursos humanos e materiais extraordinários, que são capazes de suprir as demandas extraordinárias de um evento desta natureza. No que diz respeito à segurança privada e demais instituições e associações, vêm sendo feitas uma série de parcerias e entendimentos, que visam somar forças. Fruto de uma parceria entre o Governo do Estado e o Sistema Fecomércio RJA, a Operação Segurança Presente é um exemplo.

T&D - Segurança - Já passamos, com sucesso, por grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo, Jogos Pan-Americanos, Jornada da Juventude e tantos outros. O que a Olimpíada difere deles na área de segurança? Roberto Alzir - O grau de complexidade e simultaneidade de eventos acrescentam um grau extra de dificuldade, que irá testar o limite máximo de nossa capacidade de planejamento e operação. A nossa capacidade de integração e compartilhamento de informações tem evoluindo com o passar dos eventos e está atingindo um patamar muito próximo ao ideal para os Jogos Rio 2016, tendo em vista o acúmulo de experiências e em virtude do amadurecimento institucional dos diversos órgãos envolvidos em prol de um objetivo único que nos une que é entregar jogos pacíficos e seguros.

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[[ ENTREVISTA OLIMPÍADAS] 2016 ]

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Fotos do autor

Afinando a

elite...

Exercício Interagências de Operações Especiais/2016

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UM OPERADOR DO TIGRE efetua a ciclagem do seu fuzil M-16A2 QCB na posição de tiro em pé, alvo a 20 metros

tiroteio após perseguição ao veículo em que empreenderam fuga. O local dessa oficina foi o Ginásio do Colégio da Polícia Militar de Goiás (CPMGO), onde o CAAdEx montou a pista “Franco Atirador em Grande Cômodo”. O uso dos caçadores (snipers) visando outros atiradores foi fundamental para o sucesso da missão, e mais uma vez, o DSET validou erros e acertos. O cenário Saint Denis teve como referência ação empreendida pela Polícia e Forças Armadas francesas no dia 18 de novembro de 2015, quando cinco suspeitos dos ataques terroristas em Paris, cinco dias antes, foram capturados, e dois outros mortos, isso após troca de tiros num subúrbio parisiense. Reproduzido no estande de 200 metros, constou de uma pista de tiro de combate com apoio de sniper, onde a progressão dos times foi coberta por fogo de precisão vindo de uma posição elevada. A comunicação entre o time e seu caçador de cobertura é peça-chave, e detalhes simples como um equipamento headset confortável e intercons capazes de serem operados sem que o caçador tire as mãos da sua arma fazem toda a diferença entre viver e morrer. 13 de novembro de 2015, em frente a casa de shows Bataclan, Paris, 21:40. Do interior de um WW Golf preto saem três homens pesadamente armados. Ao invadirem o estabelecimento, abrem fogo indiscriminadamente sobre os frequentadores, e 90 pessoas são assassinadas. Depois de tomarem reféns, negociações com a Polícia resultaram infrutíferas. Dois atiradores foram mortos pelas tropas 36

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das Brigades de Recherche et d’Intervention numa ação de força que resultou em 27 tiros no escudo balístico usado pelos policiais. O terceiro envolvido seria encontrado alguns dias depois, na ação realizada em Saint Denis. Essa oficina foi realizada em instalações externas ao C Op Esp, em um ginásio esportivo, e serviu para treinar a simulação de ataque terrorista com utilização de dispositivo explosivo improvisado (IED) “Grande Cômodo”, durante uma partida de volei. Aqui, a dificuldade é ampliada pela presença de civis em pânico, e pela necessidade de uma ação de choque rápida e decisiva, evitando um número maior de baixas. O uso do DSET, tanto pelos times encarregados de retomar o ginásio, quanto pelas tropas da FOR OP do CAAdEx (Força Oponente), que fez o papel de terroristas, validou a ação. Só assim foi possível obter um quadro claro de análise pós ação, observando os erros e acertos de cada time de forma detalhada. 30 de abril de 1980. Seis terroristas armados invadiram o prédio da Embaixada do Irã em Londres fazendo 26 reféns. Após longas e infrutíferas negociações e a execução de um refém, foi lançada a Operação Nimrod, e o mundo assistiu estupefato a um assalto tático de forças especiais efetuado de forma magistral por cinco grupos do Special Air Service (SAS). Em questão de minutos os reféns foram libertados, ao custo de um deles morto e outro seriamente ferido. Somente um terrorista sobreviveu e foi preso e condenado. Executada na “Casa de Matar”, essa oficina serviu para exercitar a entrada tática empregando o


DSET e a FOR OP do CAAdEx. Nessa instalação, as equipes utilizaram o sistema de treinamento não letal Simunition para entradas táticas e resgatar reféns, tudo sob a supervisão atenta dos chefes de oficina, que podem caminhar sobre a “Casa” acompanhando a progressão das equipes. A ação, dividida em quatro estágios, compreende a entrada, verificação dos compartimentos, progressão e eliminação de ameaças,e evasão em segurança com os reféns. Essa mesma atividade de entrada tática foi repetida no período noturno, com a construção semiobscurecida, dificultando sobremaneira o trabalho. Nairobi, capital do Quênia. No dia 21 de outubro de 2013, um grupo armado não identificado atacou a tiros de fuzis e granadas o mais sofisticado Shopping Center da cidade, chamado Westgate, frequentado pela elite do país e estrangeiros residentes. No seu interior e estacionamento, 67 pessoas foram mortas e outras 175 feridas com vários graus de seriedade. Durante as 48 horas seguintes, a polícia enfrentou os atiradores e, ao final de quatro dias confusos, o governo enviou tropas das Forças Armadas para combater os terroristas, dando a operação por encerrada. Até hoje essa ação vem suscitando acalorados debates e dúvidas na comunidade internacional de segurança e na imprensa. Para essa oficina, o C Op Esp conseguiu recriar o estacionamento de um shopping center, com dezenas de veículos, e uma rua principal saindo desse local, com pouco mais de 200 metros de comprimento e dois cruzamentos, e também recheada de veículos e outros obstáculos. Foi exercitado o tiro de combate, a progressão no terreno e capacidade de diferenciação entre alvos legítimos e falsos.

Aumentando a complexidade O C Op Esp possui duas “Casas de Matar” em seu estande, uma abaixo do nível do solo, e outra montada em um galpão equipado com passarela elevada, de onde os coordenadores podem acompanhar o desenrolar da ação. Essa segunda instalação recebeu o treinamento de entrada tática noturna, com emprego de munição real e óculos de visão noturna, e a mesma operação, diurna, usando o sistema Simunition em fuzis M4 Commando, porém em um cenário mais complexo, com o emprego de uma “bomba suja” pelos terroristas. Com o apoio da Companhia de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear (Cia DQBRN), uma demonstração de reconhecimento e descontaminação QBRN pós ação foi preparada, além da exposição de aparelhos usados para a identificação e reconhecimento de agentes químicos, biológicos e radiológicos. Com a explosão de uma bomba neurotóxica por parte dos terroristas, retirar os reféns do local e eliminar a ameaça torna-se uma questão vital. Mas as tropas destacadas para esse tipo de ação demandam implementos especiais. Os uniformes, importados, são de um tipo especial revestido internamente com uma grossa camada de carvão ativado, luvas e botas estanques de material especial dificultam os movimentos, assim como uma enorme máscara com filtro ativado que cobre todo o rosto com uma peça única de pexiglass. Esse material se faz necessário para garantir uma mínima chance de sobrevivência à tropa em contato com o agente neurotóxico. Imediatamente após o fim da ação, tanto reféns quantos soldados são submetidos a um demorado e

OS FEDERAIS DO COT possuem grande experiência no combate a quadrilhas pesadamente armadas, e empregam armamento moderno como fuzis H&k HK416 com silenciadores

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[ TECNOLOGIA ]

Guerra ao

narcotráfico Conhecendo as operações da mais secreta ferramenta de combate ao tráfico de drogas no México Kaiser David Konrad, do México

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Fotos: Força Aérea Mexicana

m 2006, após tomar posse como presidente do México, Felipe Calderón teve a corajosa iniciativa de declarar guerra aos cartéis que controlam o narcotráfico. As forças de segurança não eram mais capazes de combater o mal provocado pela droga e pelos grupos que vinham disputando o controle de um mercado ilegal que ainda movimenta bilhões de dólares anualmente. Isso se devia ao fato de possuírem efetivos e meios insuficientes, agravado pela corrupção nas suas fileiras. A atividade criminosa era responsável por milhares de mortes violentas todos os anos, degradando a sociedade mexicana, exportando uma imagem de “terra sem lei”, fato que não necessariamente condizia com a realidade. Além disso, o narcotráfico havia se tornado uma séria ameaça à segurança nacional. Buscando uma solução, Calderón decidiu tirar os militares dos quartéis e os colocar nas ruas para fazer frente à poderosa ameaça, cujos tentáculos, inclusive, alcançavam algumas das próprias estruturas de governo e se espalhavam pelo mundo. O presidente confiava no treinamento, profissionalismo e nas capacidades das Forças Armadas

para uma tarefa que veio a se mostrar difícil e que até hoje está em andamento, mas ao que parece, trazendo resultados positivos. Na atualidade, o México é o país que tem o maior número de militares engajados em operações de segurança pública e combate urbano no mundo, com 35 mil soldados engajados e desdobrados em pontos chave de todo o território nacional, em missões que vão desde patrulhar as ruas diuturnamente em comboios formados por caminhões e camionetes protegidos por guerreiros com fuzis e metralhadoras em pé sobre os veículos, a até complexas operações de amplo espectro em conjunto com a Polícia Federal e demais órgãos de segurança pública, quando são empregados todos os recursos militares e tecnológicos disponíveis em terra, ar e no mar. Segundo dados da imprensa local esta estratégia de combate direto aos cartéis do narcotráfico teria provocado a morte de quase 30 mil pessoas, sendo que grande parte delas estaria envolvida direta ou indiretamente com o crime, enquanto que muitas outras foram vitimadas em consequência dos embates. O governo passou então a focar nas atividades de inteligência, e não necessariamente no confronto direto. Assim, em julho de 2008, a Secretaria de Defesa Nacional (SEDENA) assinou um contrato para aquisição de um lote de sistemas aéreos não tripulados do tipo Hermes 450 da empresa israelense Elbit Systems Ltd, uma das líderes mundiais em tecnologias de aeronaves remotamente pilotadas (ARP), com seus produtos já tendo acumulado mais de 500 mil horas de voo operacionais nos mais diferentes teatros. Com essa aquisição, as atividades entraram numa nova fase passando a ser realizadas com tecnologias de ponta, através de equipamentos e sensores especiais, que trouxeram uma vantagem não somente tática, mas estratégica, pois a capacidade de coletar dados de forma remota e segura, com precisão e em tempo real, proporcionada pelo Hermes 450, o transformou na principal ferramenta nesta luta. Ao privilegiar as atividades de inteligência, foram evitados os constantes confrontos, o que veio a se confirmar anos depois, com a redução drástica no número de mortes em comparação ao início da operação, que também se refletiu no número de soldados e policiais mortos e feridos em serviço, junto à redução do custo dessas ações. O objetivo não era que os criminosos fossem mortos, mas sim que eles fossem presos e levados à Justiça, a qual julgaria e sentenciaria, o que nada mais é do que o resultado do processo legal decorrente do delito cometido, um claro exemplo de que havia lei no México.

Secreta Em maio de 2009 a Força Aérea Mexicana criou o Escuadrón de Sistemas Aéreos No Tripulados (ESANT), numa cidade isolada no Estado de Tlaxcala, cuja localização exata é sigilosa. Sua base de operações está situada a uma altitude de 8.300 pés acima do nível do mar e em meio a uma bela região pouco habitada e cercada pelos vulcões La Malinche, Iztaccíhuatl e Popocatépetl. A unidade tem um efetivo de 250 militares. Ironicamente, em Tlaxcala está apenas a base, pois há restrições para operar ali devido à grande altitude, mas oferece tranquilidade e segurança para os militares e suas

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[ ATUAÇÃO CONJUNTA ]

Bombeiros Comunitários A iniciativa paranaense Anderson Subtil

pesar de sua pequena extensão territorial, o Estado do Paraná apresenta o quarto maior PIB entre as unidades federativas brasileiras, sendo superado somente pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais embora, em vários indicadores, seja superior aos mesmos. Sua economia é extremamente diversificada, sobressaindo-se na indústria, extrativismo, turismo e, principalmente, no agronegócio, figurando ainda entre os maiores exportadores do País. Como os 54

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demais estados sulistas, o Paraná recebeu e ainda recebe grande contingente de imigrantes, o que faz sua população de pouco mais de 11 milhões de pessoas reunir cerca de 35 etnias, oriundas de praticamente todos os cantos do mundo. A capital, Curitiba, uma metrópole com mais de três milhões de habitantes, é a mais desenvolvida entre as grandes cidades do Brasil, além de estar incluída entre as mais notáveis quanto à limpeza, áreas verdes, inovações urbanas e qualidade de vida.


Fotos Agência Estadual de Notícias PR /Coordenadoria Estadual de Defesa Civil

MODERNA VIATURA ABTR VOLKSWAGEN CONSTELLATION 13-180, desenvolvida pela TRIEL-HT especialmente para o Programa. A operacionabilidade dos PBCs e a capacitação dos agentes de defesa civil é constantemente garantida por comissões de fiscalização do CBM-PMPR

Iniciativa pioneira Tal como ocorreu no vizinho Estado de Santa Catarina, o serviço de combate ao fogo surgiu por iniciativa de membros da comunidade alemã local. Foi em 1897 que um grupo de alemães e descendentes, de Curitiba, liderados por Emílio Verwiebe, Frederico Seegmüller e Ferdinando Poppe, fundou a Sociedade Teuto-Brasileira de Bombeiros Voluntários. De início, o fato repercutiu bastante e a presidência da província prometeu, inclusive, subvencionar a ideia, o que veio a ocorrer somente anos depois, quando a organização já se encontrava em crise. Seja como for, a Sociedade teve uma efêmera existência sendo dissolvida em 1901, depois que vários voluntários pereceram no incêndio do elegante Hotel Paraná. Os uniformes, equipamentos e ferramentas daquela instituição estão expostos no Museu Paranaense, no centro histórico da capital.

Entre o final do século 19 e o início do novo, várias leis e determinações políticas foram formuladas, visando a criação de um Corpo de Bombeiros em Curitiba, mas nenhuma chegou a se tornar realidade. Apenas em 1912 veio a surgir uma Seção de Bombeiros no então Regimento de Segurança, atual Polícia Militar do Paraná (PMPR), tropa que teve funções secundárias como Arma de Engenharia até meados dos anos de 1930. Hoje, e durante quase toda a sua história, o Corpo de Bombeiros Militar está integrado à estrutura da PMPR, funcionando como um de seus Comandos. Entretanto, para fins de planejamento e utilização, funciona como uma organização independente. Seus integrantes são formados na Academia de Polícia do Guatupê, mas frequentam cursos técnicos próprios. O efetivo está em torno de 3.500 oficiais, suboficiais e praças, de ambos os sexos, distribuídos em nove Grupamentos de Bombeiros, dois

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[ ARMAMENTO ]

Robert Draiks

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Fuzis x Carabinas no uso policial Ronaldo Olive

rinha do Brasil. Outra curiosidade em termos de nomenclatura é que os fuzis IMBEL IA2, calibre 5,56x45mm, fornecidos aos órgãos de segurança pública numa versão de funcionamento apenas semiautomático são chamados pelo fabricante de carabinas, embora tenham canos com exatamente o mesmo comprimento (330mm) das armas de tiro seletivo utilizadas pelo Exército Brasileiro (EB). Ah, sim: estas são invariavelmente chamadas de “fuzis de assalto” por aquele fabricante nacional.

Fuzis Historicamente, a escolha de armamento pelas forças policiais em todo o mundo costuma seguir um padrão bem definido: contrapor-se aos níveis de ameaça apresentada pela criminalidade. Este procedimento mais bem conhecido é o dos Estados Unidos, recordando-se que lá, na década de 1930, foi o aumento do poder de fogo dos gângsteres que levou o Federal Bureau of Investigation (FBI) a armar seus agentes com fuzis de tiro seletivo Colt Monitor, calibre .30-06. Muito gradualmente, e em regiões de maior criminalidade naquele país,

TRADICIONALMENTE e em todo o mundo, o uso de fuzis por forças policiais tem sido consequência do crescente aparecimento dessas armas nas mãos de criminosos

Robert Draiks

o Brasil, e em diversos países de todo o mundo, discussões – frequentemente, bem acaloradas – têm surgido no que se refere ao uso de fuzis e carabinas por forças de segurança pública. Em primeiro lugar, dúvidas também emergem relativas ao “o que é o quê” da questão, mostrando que até pontos de nomenclatura são confusos. Por definição bem tradicional, carabinas eram versões mais curtas (invariavelmente, com canos menores) de fuzis convencionais, geralmente destinadas às tropas de Cavalaria, Artilharia ou de apoio ao combate. A arma longa padrão da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, a Kar 98K, calibre 7,92x57mm, era chamada de Karabiner 98 Kurz por ser, de fato, uma versão encurtada do histórico fuzil Mauser Modelo 1898 (Gewehr 98). Outros exemplos no mesmo conflito podem ser encontrados no Reino Unido (Lee-Enfield No.5 Carbine), Itália (Moschetto 91/38) e Japão (Arisaka Tipo 38). Quanto aos Estados Unidos, que combateram com o M1 Garand, calibre .30-06 (7,62x63mm), optaram não por encurtar seu fuzil regulamentar, mas por criar e adotar uma arma nova, a U.S. Carbine Caliber .30 M1, calibre .30 Carbine (7,62x33mm). E os próprios alemães voltaram a usar a designação de carabina (MaschinenKarabiner, carabina automática) para os primeiro exemplares experimentais de uma nova família de armas que viria produzir aquilo que veio a ser chamado de SturmGewehr (fuzil de assalto). Nos dias de hoje, ainda se procura chamar de carabinas armas com canos mais curtos que os dos fuzis que lhe deram origem, como no bem conhecido exemplo da Colt Modelo R0735B (M16A2 Commando), calibre 5,56x45mm e cano de 292mm, amplamente utilizada pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ). Já a carabina Colt M4 usada, por exemplo, pelo Batalhão de Operações Especiais (Batalhão Tonelero) do Corpo de Fuzileiros Navais, possui cano com 368mm de comprimento, mais curto que o cano de 508mm dos fuzis M16A2 utilizados pelas demais tropas dessa força da Ma-

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