T&D nº 149

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Brasil A reestruturação da Força Aérea

COBRA

Combatente Brasileiro do Futuro: Visão e status

Voando o A-29 da USAF

Entrevista: o Comando Logístico do Exército e o AmazonLog/2017


| ENTREVISTA |

EB

ma das organizações mais relevantes por suas atribuições dentro do organograma do Exército Brasileiro, o Comando Logístico (CoLog) foi ativado em dezembro de 2008, a partir da transformação do então Departamento Logístico. Ao CoLog cabe orientar e coordenar o apoio logístico ao preparo e emprego da Força; prever e prover as necessidades em termos de suprimentos, manutenção e transporte, os recursos e serviços demandados para o cumprimento das missões e mobilizações; e coordenar as atividades de fiscalização de produtos cujo controle cabe ao Exército, além daquilo que se refere a remonta e veterinária. Dessa forma, o CoLog, como órgão central do Sistema Logístico do Exército, atua através de suas Diretorias (Material; Abastecimento; Material de Aviação; e Fiscalização de Produtos Controlados) e de um braço operacional que é a Base de Apoio Logístico do Exército, sediada no Rio de Janeiro (RJ), à qual subordinam-se cinco outras organizações militares que trabalham em prol do Exército como um todo, inclusive em assuntos como desembaraço alfandegário em importação ou exportação de material de interesse da Força Terrestre. Atualmente sob o comando do general-de-exército Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, o CoLog prepara um dos maiores exercícios, tanto em vulto quanto em características especiais, a acontecer nas Américas, o AmazonLog/2017, formulado dentro dos mais modernos conceitos de emprego militar e ambiente interagências contemporâneo. Para saber um pouco mais sobre isso, Tecnologia & Defesa conversou com o general Theophilo, principal autoridade do exercício.

AmazonLog/2017 Preparando o amanhã O comandante logístico do Exército Brasileiro fala à T&D

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TECNOLOGIA & DEFESA

Tecnologia & Defesa - General, o que vem a ser o AmazonLog? General-de-Exército Guilherme Cals Theophilo Gaspar de Oliveira O AmazonLog é um exercício logístico que acontecerá na Região Amazônica, mais especificamente na cidade de Tabatinga (AM), tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. O objetivo é capacitar as Forças Armadas, assim como órgãos e agências, a atuar em regiões de difícil acesso, desenvolvendo estratégias logísticas adequadas. Além disso, oferecer ajuda humanitária e fomentar um debate científico acerca de temas como desenvolvimento tecnológico, meio ambiente e estratégias de defesa. T&D - Quando será realizado e quais serão os participantes? General Theophilo - O exercício será conduzido no período de 6 a 13


de novembro de 2017 e já possui presença confirmada das Forças Armadas brasileiras, dos Exércitos dos Estados Unidos, Equador, Colômbia e Peru, assim como de diversos órgãos de segurança pública, agências reguladoras e observadores de todos os países sul-americanos, além da China, Rússia, Canadá, dentre outros. Já a escolha da cidade de Tabatinga deu-se graças às suas peculiaridades geográfica e hidrográfica, além de ser uma região que representa fielmente as características amazônicas: chuvas frequentes, difícil acesso, vegetação densa, acesso limitado a sua bacia fluvial e outras, ficando estrategicamente localizada em uma região de fronteira que enfrenta desafios como tráfico de drogas, contrabando da fauna e flora, isolamento e difícil fiscalização. T&D - Como surgiu a ideia do exercício? General Theophilo - O AmazonLog foi inspirado no Exercício Logístico “Capable Logistician- 2015”, conduzido por países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na Hungria. Naquela ocasião, foi desdobrada uma base logística multinacional com a presença de diversos países, todos atuando de acordo com padrões estabelecidos previamente e em classes logísticas bem definidas, tais como purificação de água, fornecimento de combustíveis, energia e outras. No quesito ajuda humanitária, o objetivo foi apoiar africanos e asiáticos refugiados que buscavam ajuda na Europa. Os militares brasileiros envolvidos participaram como observadores na Hungria e trouxeram a experiência para o Brasil. E foi por estar ciente dos desafios da Amazônia e da importância dela para o País que o Comando Logístico, através do seu comandante, está à frente do AmazonLog, que será um exercício similar mas adaptado à realidade brasileira. T&D - Dessa forma, então, e dentro da nova realidade de cooperação não só interagências mas também multinacional, foram convidados outros países? General Theophilo - Além dos Exércitos dos Estados Unidos, Colômbia e Peru, outros países foram convidados e enviarão representantes. No quesito agências, estarão presentes: o Departamento de Polícia Federal, a Infraero, o IBAMA, a Secretaria da Receita Federal, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, o Departamento de Imigração e Assuntos Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores, a FUNAI, a ANVISA, a FUNASA, o VIGIAGRO e o

Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio). Dentro do próprio Exército Brasileiro, o Comando Militar da Amazônia (CMA) aparece como importante parceiro, uma vez que abrange a região da Operação América Unida/ Exercício AmazonLog 17, que tem como área de responsabilidade os Estados do Amazonas, Rondônia, Acre e Roraima, que fazem fronteira com Peru, Colômbia, Venezuela e Bolívia. O CMA receberá tropas e meios dos países amigos participantes do evento, além de oferecer a maior parcela de contribuição para o planejamento e execução das ações previstas. Isso inclui não só os recursos próprios, mas a experiência para operar na área, aliada ao relacionamento com autoridades e agências com os quais compartilha a defesa da Amazônia. Toda essa gama de conhecimento será utilizada para a realização do AmazonLog 17, o que facilitará sobremaneira o sucesso do exercício, uma vez que o CMA, com sede em Manaus (AM), possui treinamento, meios e efetivos para ser o grande apoiador do exercício logístico. Dentro do CMA, o Centro de Operações (COp) tem participado ativamente do planejamento em todos os níveis, tudo isso em cooperação com a base em Brasília (DF) e seguindo todas as diretrizes traçadas. Além do CMA, estarão envolvidas tropas e meios da 12ª Região Militar, 16ª Brigada de Infantaria de Selva, 2º Grupamento de Engenharia, 1º Batalhão de Comunicações de Selva, 4º Centro de Telemática do Exército, 7º Batalhão de Polícia do Exército, dentre outras. Ainda dentro das unidades do Exército Brasileiro, é importante frisar a participação do Comando de Operações Terrestres (COTER) e da Base de Apoio Logístico do Exército (Ba Ap Log Ex). O COTER participa do Grupo de Trabalho (GT) de planejamento do exercício nos níveis político e estratégico, ao contemplar o emprego de meios através da elaboração de uma Diretriz de Planejamento Operacional Militar, da qual derivou a Diretriz do COLOG. Já a Ba Ap Log Ex terá seu comandante à frente da Base Logística Multinacional,

unidade responsável por deslocar de várias regiões do País para Tabatinga os meios necessários à instalação e operação de Unidades Logísticas Multinacionais Integradas (ULMI), que apoiarão as tropas e agências estacionadas no cumprimento de tarefas de logística humanitária e operacionais. T&D - O que se pode esperar do AmazonLog? General Theophilo - Como regra geral, um exercício de logística multinacional nesses moldes busca integração, treinamento, desenvolvimento de estratégias logísticas, dentre outros. Assim, espera-se que entre os dias de sua realização seja possível treinar o Sistema Logístico para apoiar civis e efetivos militares empregados em regiões remotas e desassistidas, como costuma acontecer em operações de paz e ajuda humanitária. Também será realizada a fiscalização de produtos controlados, assim como um teste da atividade logística de transporte e suprimento para a Amazônia, respeitando suas peculiaridades e aprendendo com a realidade local. Paralelamente, será possível abrir espaço para que empresas demonstrem seus produtos, quer em exposição, quer em utilização operacional, principalmente aqueles que trabalham na linha de preservação ambiental e suas consequências. 35 já confirmaram presença em Tabatinga, agregando conhecimento e tecnologia. Para a área acadêmica, será realizado de 26 a 28 de setembro, em Manaus, um Simpósio de Logística Humanitária (SILOGEM) para debater temas ligados à Região Amazônica, apresentação de estudos e discussões nessa linha, além de uma exposição de material de emprego militar. Mais de 55 empresas já realizaram inscrição para o evento. Em termos de manutenção, será a oportunidade de empregar material Classe VI, que diz respeito a geradores, embarcações (motores de popa) e outros tipicamente usados ou severamente afetados em regiões amazônicas, principalmente em operações. E quanto à cooperação, estreitar laços com agências tradicionalmente nossas parceiras, mais a interopera-

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Johnson Barros/ FAB

| BRASIL |

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Uma Força

que se renova ALA, COMPREP, COMAE, GAP, entre outras novas siglas. Reportagem especial mostrando o que fica e o que muda na Força Aérea Brasileira, num grande processo de reestruturação em busca de melhorias na sua eficiência e concentração de foco na atividade operacional

João Paulo Moralez

uando o tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato assumiu o cargo de comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), o KC-390 já era uma realidade prestes a fazer o seu primeiro voo. O tão aguardado desfecho do programa F-X2 tinha chegado ao fim com a assinatura de contrato e aquisição de 36 caças SAAB JAS-39E/F Gripen. Os jatos de combate F-5EM já haviam sido modernizados, os Super Tucano entregues, assim como vários modelos de aviões estavam em fase final de modernização, como os C-95B/C Bandeirante e P-95B Bandeirulha. A operação do avião de patrulha P-3AM Orion já estava absolutamente dominada, enquanto gradativamente o H225M (H-36 na FAB) chegava às unidades operadoras. E muitas outras áreas estavam em transformação, fosse com a chegada de novos meios ou do recebimento de aeronaves que recém haviam passado por um processo de atualização. De fato, muito havia sido feito na gestão do tenente-brigadeiro do ar Juniti Saito, que com muito profissionalismo conduziu a FAB a um novo patamar tecnológico e de doutrina. Mas aqueles eram apenas alguns de muitos passos importantes que a Força daria a seguir. Ao assumir o comando em janeiro de 2015, o brigadeiro Rossato ficou diante do agravamento da maior crise política, institucional e econômica que o País já enfrentou em toda a sua história. Seriam dois anos extremamente difíceis em termos de verbas orçamentárias. TECNOLOGIA & DEFESA 13


| INTERNACIONAL |

Exclusivo: O repórter de Tecnologia & Defesa, Kaiser David Konrad, esteve na Base Aérea de Moody e voou o A-29 no 81º Esquadrão de Caça 32 TECNOLOGIA & DEFESA


Fotos do autor

LAS

O Super Tucano em operação na Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) oody é, desde 2006, a casa da 23ª Ala Aérea do Comando de Combate da USAF. Ali estão baseadas suas três principais unidades: o 23º Grupo de Caça, que reúne dois esquadrões e a maior frota de A-10C Thunderbolt II, com mais de 90 pilotos, sendo esta uma unidade de pronto emprego capaz de ser desdobrada para qualquer lugar do mundo em pouco tempo; o 347º Grupo de Resgate, composto por três esquadrões; um

equipado com aeronaves HC-130P Combat King; outro com helicópteros HH-60G Pave Hawk; e um terceiro formado por Anjos da Guarda, sendo o mais antigo da USAF exclusivamente dedicado a missões de resgate em combate (C-SAR). Finalmente, três anos atrás, a base aérea foi escolhida para abrigar o 81º Esquadrão de Caça, sendo sede do programa Light Aircraft Support e dos novos A-29 Super Tucano.

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| EXÉRCITO BRASILEIRO |

COBRA O soldado brasileiro do século 21 A evolução do projeto e as dificuldades Roberto Caiafa 42 TECNOLOGIA & DEFESA


Projeto Combatente Brasileiro (COBRA), criado pelo Exército Brasileiro (EB) após a introdução da Estratégia Nacional de Defesa (END) e da Política Nacional de Defesa (PND), busca materializar o conceito de “Sistema de Combate Soldado” por meio de aquisição, obtenção, pesquisa e desenvolvimento de Sistemas e Materiais de Emprego Militar (SMEM/ MEM), dotados de adaptabilidade, flexibilidade e modularidade. O projeto também visa potencializar a consciência situacional, a letalidade seletiva e a proteção do combatente, permitindo aumentar as capacidades militares terrestres e operativas, sendo um efetivo instrumento do processo de transformação do Exército. Para o soldado brasileiro, esse conjunto de premissas pode ser traduzido na sobrevivência e persistência em combate (uniformes resistentes e com alto fator de proteção/ocultação, rações balanceadas, mais munição) letalidade e poder de fogo (novos armamentos, acessórios de visada/pontaria, optrônicos) e consciência situacional (recursos tecnológicos de comunicações digitais, incluindo satelitais, e sensores dia/ noite qualquer condição climática). Os equipamentos, sistemas e armas previstas são baseadas em estudos

realizados no Estado-Maior (EME), Comando de Operações Terrestres (COTER) e Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), para dotação de módulos de capacidades, materializados pelas entregas do projeto no curto, médio e longo prazos. Visualiza-se a dotação de modelos conceituais de combatente, permitindo a atuação em todos os ambientes operacionais nacionais (selva, caatinga, montanha, etc), ou no contexto de uma força expedicionária ou de paz sob a égide de organismos internacionais. A END estabeleceu, de forma bastante objetiva, a elaboração do Plano de Articulação e Equipamento de Defesa (PAED), a fim de que as Forças Armadas possam se adequar às exigências do combate moderno em ambiente de amplo espectro. Para isso, prevê suas transformações conforme três eixos estruturantes: a própria organização, reorganização da Base Industrial de Defesa (BID), e a composição das Forças. Em suas diretrizes, a END e a PND determinam a elaboração dos Planos de Articulação e Equipamentos dessas. No caso do Exército, o mesmo deveria, na elaboração de seu Plano de Articulação e Equipamento do Exército Brasileiro (PAEB), atender aos imperativos da flexibilidade, mobilidade e elasticidade, além de focar nas diretrizes

emanadas pelo Ministério da Defesa. O PAEB foi elaborado estabelecendo sete projetos estratégicos (PEE-SisFron, Proteger, Astros 2020, Guarani, Defesa Antiaérea, OCOP e Defesa Cibernética), os quais seriam os indutores da transformação pretendida. O PEE Obtenção da Capacidade Operacional Plena (OCOP), de forma mais ampla, atende às demandas da END ao contemplar todo o Exército em suas diferentes funções de combate, resultando em 19 subprojetos integrantes. O COBRA é um dos mais importantes, e atua com outros subprojetos OCOP.

A CONCEPÇÃO Os estudos para a formulação conceitual, conduzidos pela equipe de gerenciamento do projeto COBRA, utilizaram como referências as concepções do tipo “Soldado do Futuro” de diversos países, tais como o francês FÉLIN (Fantassin à Equipements et Liaisons Intégrés), o alemão IdZ-ES (Infanterist der Zukunft-Erweitertes System), também conhecido como GLADIUS, o norte-americano Land Warrior Integrated Soldier System, o inglês FIST (Future Infantry Soldier Technology) e o espanhol COMFUT (Combatiente Futuro).

O SISFRON é um dos PEE beneficiados pelo COBRA. Novos uniformes, acessórios e avançados sensores como o radar SENTIR M10 estão sendo paulatinamente entregues as tropas destacadas para regiões fronteiriças

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