Chupa Manga Zine nº 16

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chupa manga zine

número 16 ● maio 2020

NESTA EDIÇÃO: NOVAS DEMOS VÁRIAS FITA O PAPO RETO DO BANDCAMP ESPECIAL — A MÚSICA DOS QUADRINHOS O UNIVERSO OBSERVÁVEL DA JANELA OS INCRÍVEIS SONS DE ANIMAIS IMAGINÁRIOS A MÚSICA PERIGOSA DO FLUXUS


chupa manga zine

número 16 ● maio 2020

EXPEDIENTE edição, redação, revisão, tratamento de imagens, mídias sociais e pauta Stêvz agradecimentos Bubbles Zine

cba Stêvz é o nosso fantástico editor, e apesar de preferir não empregar superlativos, referir-se a si mesmo na primeira pessoa do plural ou na terceira do singular, é exatamente isso que está fazendo agora. Assina todos os textos deste zine, exceto onde indicado.

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Impresso, dobrado, grampeado e refilado em casa na quarentena de maio de 2020

Chupa Manga Records São Paulo • Pós-Brazil

na capa: uma performance de Piano Activities, de Philip Corner, durante festival do Fluxus (Wiesbaden, Alemanha, 1962)


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Sempre pode piorar. Caso você não viva debaixo de uma pedra, deve estar sabendo da pandemia de coronavírus que virou o mundo de cabeça pra baixo. Apenas no Brasil, até o fechamento desta edição já são mais de 13 mil mortos (confirmados), e quando você estiver lendo isto provavelmente serão muito mais. Como se não fosse o bastante, temos um nazista genocida alucinado na presidência, que teima em desrespeitar as recomendações de todos os especialistas e abandona a população à própria sorte — enquanto escrevo este texto, chega a notícia da demissão do segundo ministro da saúde, menos de um mês após entrar no cargo, por não ser irresponsável o suficiente para este governo. Também perdemos tantos artistas importantes num espaço curtíssimo de tempo que nem dá pra acompanhar, e a tragédia ainda parece longe de ter fim. Por aqui completamos, hoje, dois meses de quarentena tentando não enlouquecer com as notícias. Todos os eventos do ano tiveram que ser naturalmente cancelados, e em agosto eu participaria pela primeira vez como convidado na Bienal de Quadrinhos de Curitiba — cujo tema da edição não poderia ser mais apropriado: música e quadrinhos. Pesquisando sobre o tema, cheguei ao vídeo de uma apresentação obscura de Music From Nancy em 1979, que acabou virando a matéria principal desta edição. Para complementar, trazemos os últimos lançamentos do selo, uma defesa do Bandcamp, um pequeno verbete sobre Dick Higgins, do Fluxus, a transcrição de um single e algumas dicas de documentários e outras amenidades para te distrair sem sair de casa. Se cuide, e até a próxima edição.


SESSÃO MARMELADA

aprenda a tocar essa música no fim desta edição!

demos STVZ - O UNIVERSO OBSERVÁVEL DA JANELA Uma demo instrumental com a participação de Bruninho do Chapa Mamba na bateria — gravada do seu celular. Faixa iniciada em julho de 2019, miramos em um Arthur Verocai de baixíssimo orçamento, mas talvez tenha passado longe. Foi o que saiu, desculpe.

STVZ - BATE NA MADEIRA Outra demo, esta de 2016, que nunca tinha visto a luz do dia. A letra continua, infelizmente, apropriada: pro azar sumir, bate na madeira / pra morte não vir, bate na madeira / pra gente sorrir, bate na madeira / pro jogo virar, bate na madeira-a-a-a


OUÇA chupamanga.bandcamp.com soundcloud.com/chupamanga youtube.com/chupamangarecs

v á r i as fi t a

HAKAIMA SADAMITSU DISCARD PILE CHUPA.016

STANO SNINSKÝ LANDSCAPES CHUPA.017

Estes dois discos de 2017 serão relançados em K7 pelos nossos amigos da Tudo Muda Music, selo brasiliense que já havia feito o mesmo com Computer Music (Stvz, 2015).


ENTREGANDO O OURO

streaming sem papo furado Talvez você ainda não saiba, mas o Bandcamp é uma das plataformas de streaming mais justas com quem produz música. Diferente do onipresente Spotify, por exemplo, ele permite controle total sobre os lançamentos — do áudio à arte da capa, sem qualquer tipo de restrição além da resolução dos arquivos — e, o mais importante: transparência. Parece óbvio, mas na maioria dos serviços é notoriamente obscura a divisão de valores pagos pelos royalties de centésimos de centavos. Algumas listas circulam por aí comparando quantos plays um artista precisa obter nas maiores plataformas para atingir um salário mínimo do Reino Unido, e basta dizer que nada abaixo das centenas de milhares chega perto disso. Mas também, que absurdo querer ganhar dinheiro com música!

O Bandcamp funciona de outra forma. Embora esteja aos poucos ganhando algumas funcionalidades de rede social (como a nova seção “community”, uma espécie de blog dentro da página de artistas), o foco por ali é realmente a audição: você não pode sair navegando a esmo enquanto ouve alguma coisa, a não ser que abra outra aba. Ele não é focado em playlists, mas em tags e no espaço de cada lançamento, mesmo que tenha alguns posts temáticos com curadoria na página inicial. É verdade que tanto a sua versão web quanto o aplicativo são primariamente voltados para música atual, de artistas vivos, e não clássicos dos catálogos de grandes gravadoras — e é justamente aí que queremos chegar. A questão financeira também opera por outra lógica, deixando na


ao lado, ilustração de Emma Shore para o Bandcamp Daily

SAIBA MAIS daily.bandcamp.com/features/ bandcamp-covid-19-fundraiser SIGA O NOSSO SELO chupamanga.bandcamp.com/ follow_me

mão dos artistas a opção de fazer prévendas, disponibilizar apenas algumas das faixas do álbum ou incluir faixas bônus e material extra no download, por exemplo. Não há pagamento por plays, mas os ouvintes podem comprar o material — tanto digital quanto físico (embora essa opção talvez seja menos utilizada no Brasil) — diretamente de cada artista. A cada compra, o Bandcamp fica com 15%, o Paypal com aproximadamente 5%, e todo o resto vai direto para os autores. É realmente simples, e faz parte da política de “Fair Trade” do site, que desde 2008 já repassou milhões de dólares para a comunidade artística. Na atual situação de calamidade mundial por conta da covid-19, enquanto o Spotify se propõe a cobrir doações para

organizações de assistência a músicos (os de carreiras razoavelmente estabelecidas, diga-se), o Bandcamp resolveu abrir mão da sua porcentagem de forma integral, na primeira sexta-feira de cada mês, para ajudar os criadores de conteúdo. É um estímulo para os fãs apoiarem diretamente as suas bandas favoritas, e que nas duas primeiras ocasiões distribuiu mais de dez milhões sem taxas. As próximas datas desta ação são 5 de junho e 3 de julho de 2020, de 4 às 4 da manhã no horário de Brasília. Para nós, é uma ótima oportunidade de lançar material novo, e também acabamos disponibilizando a opção de compra da nossa discografia completa com 50% de desconto. Aproveite para seguir a Chupa Manga Records por lá!


ESPECIAL

música e quadrinhos: de cage à periquita

o “zen” de Nancy e Sluggo em uma tira de 1978

Este texto só foi possível graças ao zine Bubbles, de Richmond (EUA), que gentilmente nos disponibilizou a sua entrevista com os autores de Music From Nancy, além das imagens do programa original da peça. Siga o trabalho deles em bubbleszine.com

Diferente da música, as histórias em quadrinhos não são uma mídia temporal, mas espacial. Isso significa que o leitor determina o seu próprio ritmo de fruição, podendo modificar a ordem de leitura, pular quadros e páginas inteiras, avançar e retroceder quando bem entender. Uma página pode ser percebida de uma vez só, como uma grande moldura e, ao autor ou autora resta apenas sugerir o ritmo da narrativa, através da disposição dos elementos. A imaginação do leitor deve fazer o resto, no espaço entre os quadros conhecido como sarjeta. [1]


detalhe de Projection 2, de Morton Feldman, 1951

Na música, só existe o presente. [2] Com a necessidade de preservação e difusão — antes do advento do fonograma — ao longo dos séculos, a partitura tenta comunicar o som em um formato espaço-visual. Ainda assim, qualquer registro desse tipo não é mais do que uma série de instruções para a sua execução. O nível de detalhamento, ainda hoje, pode variar desde acordes cifrados abertos a interpretações até notações extremamente específicas, e à medida em que a música de vanguarda do século 20 tornou-se mais e mais complexa, também complicou-se a sua escrita. Em resposta a isso, diversos compositores desenvolveram, a partir dos anos 1950, novos sistemas e méto-

dos de notação gráfica, como John Cage, Morton Feldman e Earle Brown, da chamada “Escola de Nova Iorque”. Desta forma, uma linha que se alonga, muda de direção e de espessura, pode ser lida como a representação sonora de uma melodia que faça o mesmo, e assim por diante — mas isso é assunto para outro texto. As possíveis variações são infinitas, e esta é uma forma de delegar um papel maior ao intérprete ou ao próprio acaso na performance, dependendo da intenção do autor. Partindo dessa premissa, qualquer informação visual pode ser interpretada como música. A série “The Way I See It”, do MoMA, por exemplo, registrou


que os desenhistas escolhem representar os sons musicais, aludindo desde à notação tradicional e onomatopeias ao timbre dos instrumentos (por vezes de forma semelhante à das partituras visuais).

o pianista Jason Moran interpretando o quadro “Broadway Boogie Woogie” (de Mondrian, 1942) como uma partitura sinestésica. [3] Não é surpresa, portanto, que mais cedo ou mais tarde alguém tentasse o mesmo com uma história em quadrinhos. As duas artes já dialogam há um bom tempo, com referências uma à outra, seja na aparição de personagens em capas de disco e letras de canções — “Casper The Friendly Ghost”, de Daniel Johnston, e “Superbacana”, de Caetano Veloso, para ficar em dois exemplos distantes e distintos —, como nas citações musicais nas páginas dos gibis — um Jimi Hendrix completamente alucinado na “homenagem” de Robert Crumb a “Purple Haze” na Zap Comix, ou Los 3 Amigos dançando “Cantor de Mambo”, dos Mutantes. É interessante, nesse ponto, observar as diversas formas com

As HQs com temática diretamente musical são relativamente comuns, seja em biografias de artistas reais ou imaginários — Carlos Gardel, de Muñoz e Sampayo; Coltrane, de Paolo Parisi; ou O Pequeno Livro Do Rock, de Herve Bourhis — ou com aspectos mais filosóficos e metafísicos — A Pior Banda do Mundo, de José Carlos Fernandes; e Aparecida Blues, de Biu e deste que vos escreve —, mas uma aproximação realmente híbrida entre as duas áreas nem tanto. Podemos naturalmente citar o clássico Tubarões Voadores (1984), de Luiz Gê e Arrigo Barnabé, como uma tentativa de mesclar música e quadrinhos em uma só obra — ou, ao menos, em duas obras construídas juntas mas que podem ser consumidas separadamente. É também o caso do excelente Música Para Antropomorfos (2007), parceria do artista gráfico Fabio Zimbres com a banda Mechanics. Em uma experiência ainda mais radical, os músicos enviaram demos instrumentais das canções para Zimbres, que criou uma narrativa totalmente subjetiva em cima delas, de onde a banda retomou para criar as letras. O resultado é um disco e um livro que, assim como no exemplo anterior, podem tanto ser absorvidos separados como juntos, criando uma nova experiência. [4]


Na página anterior: o quadro “Broadway Boogie Woogie”, de Piet Mondrian. Nesta página, do topo: Total Jazz, do francês Blutch; Aparecida Blues; Tubarões Voadores e Música Para Antropomorfos.


Mas talvez nenhuma obra tenha ido tão longe nesse campo quanto o obscuro Music From Nancy, de 1979. Relativamente desconhecida no Brasil, a personagem — uma garotinha esperta de oito anos com um laço vermelho nos cabelos arrepiados — de Ernie Bushmiller, surgiu em 1930 na tira “Fritzi Ritz” e ganhou sua própria série em 1938. Por aqui, foi publicada como Xuxuquinha, Periquita e Teca entre os anos 1960 e 70. Com seu traço econômico e preciso, e por trás de um aparente enredo bobo, Bushmiller criou um microcosmo perfeito de gags visuais que levou a arte dos quadrinhos até a sua síntese. Reverenciada por nomes como Art Spiegelman[5] e Scott McCloud[6], Nancy é tão parte do inconsciente coletivo norteamericano que foi pirateada por ninguém menos que Andy Warhol e rendeu até um livro inteiro de versões zoadas do artista Joe Brainard. Para comprovar sua importância, os autores Paul Karasik e Mark Newgarden lançaram, em 2018, o livro How to Read Nancy: The Elements of Comics in Three Easy Panels (Phantagraphics), onde dissecam o estilo de Bushmiller — analisando exaustivamente, em especial, uma tira específica de agosto de 1959, reduzindo-a a seus elementos mais básicos, para demonstrar a maestria visual do desenhista. [7]

de baixo pra cima: “Como Ler Nancy”, e a personagem por Brainard e Warhol


Anos antes desse reconhecimento formal, três amigos recém-saídos da faculdade se propuseram a criar uma performance musical baseada na personagem. Segundo eles, “um tributo a Ernie Bushmiller que tenta traduzir a sensação visual de Nancy em uma sensação aural, empregando uma abordagem programática”. Partindo de 16 tiras dentre as suas favoritas, Steve Sweet, Jesse Poimboeuf e Steve Cunningham idealizaram Music From Nancy, que teve a sua estreia em novembro de 1979 no Centro de Arte Contemporânea de Nova Orleans e seria apresentada publicamente apenas outras poucas vezes. A obra submetia as tiras escolhidas a uma série de condições preestabelecidas, para criar as 16 curtas peças que, juntas, somam em torno de 10 minutos. Nelas, cada personagem é representado

a famosa tira publicada em 8 de agosto de 1959: uma aula da narrativa visual de Bushmiller

por um instrumento — numa referência deliberada a Pedro e o Lobo, de Prokofiev —, e o cenário (interior ou exterior, dia ou noite) por um drone específico. Nancy é representada pelo Mellophone, um sintetizador de brinquedo, e seu amigo Sluggo — traduzido no Brasil como Tico ou Marciano — pelo Accordiotone, um pequeno órgão híbrido. Os três músicos de smoking se revezavam entre tocar estes e uma dezena de outros instrumentos pouco convencionais, como bolhas sopradas por um canudo na água, além de vídeos pré-gravados que eram exibidos em uma televisão de tubo. A apresentação contava ainda com recortes coloridos enormes dos personagens, que eram levantados por cordas à medida em que apareciam nas tiras projetadas acima do palco para que o público pudesse acompanhar o programa.


FacsĂ­mile de uma das pĂĄginas do programa original de Music From Nancy



Todos os personagens humanos são retratados por motivos melódicos curtos. A melodia para elementos não-humanos foi determinada subjetivamente, tendo como critério evocar as sensações das tiras. O cenário foi construído a partir de diversas tiras de Ernie Bushmiller nas revistas Comics on Parade nº 62 (1948) e nº 70 (1950).

Para chegar à composição, os autores decidiram que a cabeça de cada personagem representa uma nota. Sobrepondo-se uma pauta musical sobre a tira, o intervalo entre as notas é definido. A qualidade (maiormenor) de cada intervalo é determinada dependendo se as mãos do personagem estão no quadro (maior, tom) ou fora dele (menor, semitom). A cada intervalo foi, então, designado um valor numérico conforme essa legenda: 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

INSTRUMENTAÇÃO

nancy — mellophone

(sintetizador de brinquedo)

televisão — vídeo pré-gravado coelho patinador — patins coelho de brinquedo — theremin cão — voz humana cão pulando — theremin tia fritzi — guitarra elétrica de brinquedo inspetor — gravador aquário — canudos na água sluggo — accordiotone (órgão híbrido italiano)

realejo — jack-in-the-box

(caixa de surpresas)

pássaro — apito deslizante lixão — lata de lixo rádios — rádios mulher, bebê, criança — guitarra de brinquedo

garoto — accordiotone,

uma 8ª abaixo de sluggo

tio gus — trompete bolhas e ventilador — dedo e boca espaço — muson

(sequenciador de brinquedo)

marcianos — accordiotone, mellophone praia — unidade de eco garotinho — guitarra de brinquedo

personagem ausente idem ↓½T ↓b2 ↑½T ↑b2 ↓1T ↓2 ↑1T ↑2 ↓1½T ↓b3 ↑1½T ↑b3 ↓2T ↓3 ↑2T ↑3 ↓2T ↓b4 (sic) ↑2T ↑b4 (sic) ↓2½T ↓4 ↑2½T ↑4 ↓3T ↓b5 ↑3T ↑b5

Um intervalo médio foi determinado para cada tira, dividindo-se a soma deles pelo número de quadros. A série de intervalos médios de todas as tiras define, por exemplo, o tema puro de nancy, com a nota dó escolhida como ponto de início. TEMA PURO DE NANCY

Pure Nancy Theme

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Depois, a curva formada pela progressão da cabeça de cada personagem em uma tira é comparada ao contorno melódico do seu tema, e o segmento correspondente ao formato da curva determina o motivo a ser tocado em cada quadro. Para cada quadro subsequente, a nota inicial do motivo é determinada pela posição relativa das cabeças. Empregando um andamento moderado, o motivo é repetido para caber na duração pré-determinada de cada quadro, de acordo com a sua largura. Por exemplo: um motivo de quatro notas tocado seis vezes para caber em 19 segundos é representado pela “fórmula de compasso” 19/6. Todas as notas têm a mesma duração. Ufa! Parece complexo, e realmente o excesso de regras torna a coisa toda um pouco difícil de acompanhar — em um jornal da época, um crítico reclamava que a explicação da peça era mais longa do que a própria performance —, mas não temos dúvidas de que essa seja possivelmente uma das tentativas mais sérias de ser produzir uma obra musical baseada diretamente em uma história em quadrinhos, de forma objetiva, mesmo que o resultado não seja exatamente agradável.[8] Em um vídeo da apresentação de estreia, disponível na íntegra no canal de Steve Cunningham no Youtube, é possível conferir Music From Nancy com os seus próprios olhos e ouvidos. [9] E você? Conhece algum outro exemplo de interação desse tipo entre música e histórias em quadrinhos?

NOTAS [1] Não me lembro onde li argumento semelhante quanto à diferença do cinema em película para o digital: de que o espaço “morto” entre os quadros do rolo de filme é o que causaria essa “mágica” da imaginação no primeiro. [2] No entanto, na cabeça do ouvinte há também a memória do que passou e a expectativa do que virá, e é exatamente essa dinâmica que a torna interessante. [3] youtu.be/05KLW-xsoxE [4] O processo foi explicado detalhadamente no livro Comiczzzt! - Rock e quadrinhos: Possibilidades de interface (Contato Comunicação, 2015), de Márcio Júnior, vocalista dos Mechanics. A obra também traça um panorama histórico da aproximação entre música e quadrinhos. [5] washingtonpost.com/news/comic-riffs/ wp/2018/04/12/nancy-has-a-cult-followingamong-many-top-comics-pros-heres-why/ [6] McCloud chegou a desenvolver um exercício narrativo em que usa quadros recortados das tiras de Nancy, chamado “5 card Nancy”: scottmccloud.com/4-inventions/nancy/index.html [7] howtoreadnancy.com [8] Fica a vontade, agora, de ver outros experimentos do tipo com personagens da cultura nacional: imagine a performance eletroacústica da série atonal do Almanacão da Mônica, os contornos melódicos da turma do Pererê ou a tessitura sonora da Graúna! [9] youtu.be/QkX2-LncA0M


DICAS

sem sair de casa FIELD RECORDINGS OF MYTHICAL BEASTS Esta pérola do músico Anthony Janas — sob a alcunha da Sociedade de Preservação de Animais Raros — registra falsas gravações de campo de quatro animais míticos em seus habitats naturais. Utilizando sintetizadores e técnicas de sonoplastia de cinema (foley), o álbum apresenta o primeiro volume das “explorações de um grupo de expedições esquecido em uma jornada a regiões remotas do mundo”, documentando Fênices, Hidras, Grifos e Holgas pelo caminho. [ anthonyjanas.bandcamp.com/album/ field-recordings-of-mythical-beasts

na página ao lado, João Gilberto em uma noite fria de 1983

THE BLACK GODFATHER Este documentário (“O Pai da Black Music”, em português) de 2019 conta a história de Clarence Avant, figura emblemática do showbusiness norte-americano e negociador nato. Empresário da música, criou os selos Sussex e Tabu e lançou a carreira de inúmeros artistas, como Bill Withers e Sixto Rodriguez (de Searching for Sugarman). Mas seu talento para chegar a acordos favoráveis para todas as partes o levou a circular por áreas das mais diversas, como direitos civis, cinema, esporte e política. Em entrevistas com um time de celebridades — incluindo dois ex-presidentes (Barack Obama e Bill Clinton), uma sala de ex-CEOs de gravadoras e seu grande amigo Quincy Jones (dica da nossa 12ª edição) —, o filme reconta a sua trajetória de garoto pobre do sul dos Estados Unidos a unanimidade dos bastidores de Hollywood. [ netflix.com/title/80173387

DOT WIGGIN Uma rara — e longa — entrevista com a relutante líder das Shaggs, em meio à pandemia, onde ela relembra os tempos da banda com as irmãs, as gravações do clássico Philosophy of The World e a breve carreira da Dot Wiggin Band, além de contar um pouco sobre a sua vida e curiosidades de um possível filme biográfico. [ thetrapset.net/272-dot-wiggin-the-shaggs/


O BARATO DE IACANGA Vencedor do júri popular no festival In-Edit no ano passado (do qual falamos na nossa 13ª edição), este filme de Thiago Mattar revive as quatro edições (1975, 81, 83 e 84) do histórico Festival de Águas Claras. Realizado em plena ditadura numa fazenda na cidade de Iacanga, interior de São Paulo, o festival teve apresentações lendárias de nomes diversos como Luiz Gonzaga, Hermeto Pascoal, Raul Seixas, Walter Franco, Sivuca e outros — e talvez a mais famosa delas, de João Gilberto, em 1983 (essa, por sinal, disponível na íntegra no Youtube). Inevitavelmente comparado (ainda na época) com o famoso Woodstock, o acontecimento levou dezenas de milhares de pessoas para a pequena cidade e fez seu organizador

arriscar a própria pele para conseguir autorizações e alvarás com o governo militar. Além das ótimas histórias de bastidores, imagens de arquivo e trechos dos shows, é possível ver como um projeto utópico pode se transformar, por ganância, em um mero empreendimento comercial completamente sem alma — como parece ser a regra nos megaeventos do tipo, infelizmente. [ netflix.com/title/81211691

MILES DAVIS: BIRTH OF THE COOL Outro título exibido no In-Edit do ano passado, sobre a vida e a obra de Miles — que reinventou o jazz pelo menos umas duas ou três vezes —, não precisa dizer mais nada. [ netflix.com/title/80227122


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© Stvz, 2020.

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PLAY ALONG

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RAPIDINHA

m ú si c a p e r i g o s a DICK HIGGINS foi um multiartista angloamericano, aluno de John Cage e cofundador do movimento Fluxus, nos anos 1960. Cunhou o termo “intermídia” para descrever suas atividades que incluíam, além da música, gravura, poesia, performance e mais. Defensor do uso de computadores para a criação artística e da introdução de elementos aleatórios, são atribuídos a ele e a sua esposa — Alison Knowles, também artista do Fluxus — alguns dos primeiros textos literários gerados inteiramente por computador, como a quarta parte do livropoema A Book About Love & War & Death, publicado em 1972 por sua editora Something Else Press e cujas primeiras partes foram criadas com o auxílio de lançamento de dados.

Uma de suas obras mais conhecidas — e curiosas — são os cartões de Danger Music, que trazem instruções para performances (anti)musicais fisicamente perigosas — ou simplesmente impraticáveis — tanto para artista quanto público, como “não sorria por alguns dias” ou “voluntariese para ter sua espinha removida”.



f iq u e e m c a s a

f a ç a m ú s ica


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