Viagem Cósmica

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“Somos todos viajantes de uma jornada cósmica – poeira de estrelas, girando e dançando nos torvelinhos e redemoinhos do infinito” Carl Sagan


FICHA TÉCNICA TÍTULO: Viagem Cósmica – Vivências AUTOR: José Maria Araújo Balhau EDIÇÃO: Edições Ex-Libris® (Chancela do Sítio do Livro)

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REVISÃO: Maria Gabriela Ferreira e Maria Inocência Leal Abrantes Araújo

ARRANJO DA CAPA: Carolina Araújo Gonçalves e Paula Alexandra Araújo Sevivas PAGINAÇÃO: Carolina Araújo Gonçalves

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Lisboa, outubro 2023

ISBN: 978-989-9028-90-6

DEPÓSITO LEGAL: 519967/23

© JOSÉ MARIA ARAÚJO BALHAU

Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei.

Declinação de Responsabilidade: a titularidade plena dos Direitos Autorais desta obra pertence ape-

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PÚBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO:

www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500


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Aos meus netos, Maria, Carolina e Tiago, e às minhas filhas, Xaninha e Calozita, com o desejo e esperança de que estas minhas memórias possam constituir alicerces e fortalezas úteis para a condução das suas vidas.

À MI, que ao aparecer no decorrer do meu percurso, fortalecendo-me em coragem e ânimo, deu sentido à minha vida. À memória de meus pais.

Às minhas irmãs, Luísa e Gina, ao meu irmão, Manel.

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Às gentes da minha aldeia.


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AGRADECIMENTOS Não posso deixar de agradecer a algumas pessoas da minha família, amigos e instituições que, direta ou indiretamente, me ajudaram e deram o seu contributo para a existência deste livro.

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Agradeço aos que me disponibilizaram algumas das fotos/imagens utilizadas, uns a título individual, outros por via de Associação dos Oficiais da Reserva Naval (Facebook), Associação Squalius/Rancho Folclórico de Escalos de Cima, Centro de Documentação 25 de Abril (Facebook), en.Wikipedia, Escallos de Cima (Facebook), “Filipe Morato Gomes / Alma Viajante”(Blog), Locais da minha vida - Da Covilhã com amor (Facebook), “Meio Século de Aprendizagens” (blog), Mozambique in My Heart (Facebook), Nossa Terra – Penha Garcia (Facebook), Pexels, Pixabay, Restos de Colecção (blog) e Sérgio Guimarães (fotógrafo, já não entre nós). Agradeço à minha filha Xana o seu precioso contributo, em desenhos, no design da capa.

Agradeço à minha neta Carolina que, mesmo assoberbada com muitas tarefas escolares, se disponibilizou e empenhou na definição e tratamento do design da capa e contracapa, das imagens inseridas no texto e na exigente tarefa da paginação.

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Agradeço a Sandra Pena, da editora Sítio do Livro, a disponibilidade e simpatia com que sempre me recebeu para esclarecimentos e ajuda em pormenores na formatação do livro. Agradeço a Maria Gabriela Ferreira (Letra a Letra – Revisão de texto) o seu empenho e profissionalismo na revisão do texto do livro. Agradeço, por fim, à MI, minha companheira, o apoio e a inestimável e útil assistência que me deu nas versões preliminares, designadamente em aspetos relacionados com a ortografia, sintaxe e semântica do texto.


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ÍNDICE

Primeira parte INFÂNCIA

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Quando e onde tudo começou ......................................................................................... 21 A caminho da Covilhã ..................................................................................................... 25 Na Covilhã .............................................................................................................................. 31 Regresso aos Escalos ......................................................................................................... 39 Nos Escalos ...................................................................................................................... 41

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Nascimento da Gina .................................................................................................. 45 O moleiro, o ferreiro e os canteiros ........................................................................... 46 A Feira de Santo Amaro .............................................................................................. 52 Festejos a São Pedro .................................................................................................. 57 Festejos a São João ..................................................................................................... 60 Festejos a São Sebastião ............................................................................................. 63 Início da Escola Primária ........................................................................................... 65 Nascimento do Manel ................................................................................................ 66 Relação com a Igreja .................................................................................................. 67 O Diabo chegou à aldeia ........................................................................................... 72

Segunda parte ADOLESCÊNCIA

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Início da atividade laboral .................................................................................................. 81 Nas pedreiras ................................................................................................................... 83 Pesadelo na fábrica dos cereais ........................................................................................ 87 Opção Marinha ................................................................................................................. 93 No Palácio da Junqueira ...................................................................................................107

Terceira parte JUVENTUDE

Na Marinha ...................................................................................................................... 119 A recruta ..................................................................................................................... 123 Deslocação à Unidade Militar da Serra da Carregueira ................................................ 125 Deslocação à Escola de Fuzileiros Navais ................................................................... 127 Fim da recruta ............................................................................................................ 129 Curso de Instrução Técnica Elementar (ITE) ......................................................... 130 Comando Naval do Continente ....................................................................................... 132 9


Curso do 1.º Grau de Abastecimento ........................................................................ 136 Flotilha de Escoltas Oceânicos ................................................................................... 140 Corpo de Marinheiros da Armada ............................................................................ 148 Direção do Serviço de Abastecimentos ......................................................................... 149 Regresso à vida civil .........................................................................................................163 Grupo da Rua de Santa Marta .......................................................................................167 O casamento ....................................................................................................................175 Embarque para Moçambique ........................................................................................185 Em Moçambique ..............................................................................................................195

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Visita à Praia do Bilene ............................................................................................ 203 Visita à Namaacha .................................................................................................. 206 Nascimento da Calozita ........................................................................................... 214 Segunda visita à Namaacha ........................................................................................... 216 Estudantes Universitários - Luta pela liberdade e fim do colonialismo................... 217 Regresso à Metrópole .............................................................................................. 223

Quarta parte MEIA IDADE

No Ministério da Educação ........................................................................................... 231 Nascimento da Xaninha ................................................................................................. 233 A religiosidade atribulada da tia Ilda ............................................................................. 239 O 25 de Abril .................................................................................................................. 243 Candidatura ao Ensino Superior .................................................................................... 247 Na Universidade .............................................................................................................. 251 No Ministério da Educação (Pós concluída a licenciatura) ........................................... 259

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Criação das Escolas Superiores de Ensino Artístico ............................................... 267 Conflito na Universidade Livre (UL) ...................................................................... 269 Expansão do Ensino Superior Particular e Cooperativo ......................................... 270 CESE Invest. em Educação - Contacto com alunos dos Ensinos Básico e Superior .... 275

Visita a Lanzarote .............................................................................................................. 291 Visita ao norte da Itália .................................................................................................... 305 Milão ....................................................................................................................... 306 Génova .................................................................................................................... 311 Veneza ....................................................................................................................... 314 Sistema de Avaliação e Acompanhamento das Instituições de Ensino Superior ........... 327 Os netos .......................................................................................................................... 335

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Quinta parte APOSENTAÇÃO

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Visita a Roma ..................................................................................................................... 351 Visita ao Vaticano ............................................................................................................. 361 Visita a Florença ............................................................................................................. 371 A cozedura do pão ......................................................................................................... 383 Visita a Paris ................................................................................................................... 391 Visita a Versalhes ........................................................................................................... 409 Nas Termas de São Pedro do Sul ....................................................................................... 421 A Chegada da Covid-19 ................................................................................................... 451 Retrospetiva ....................................................................................................................... 463

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Prefácio

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Queridos leitores: Nestes tempos já serôdios, com o “baú” já bem cheio de lembranças, umas boas, outras nem tanto, de certezas e incertezas, de muitas e variadas interrogações sobre o que o futuro me, nos reserva, felizes mortais com lágrimas – que me desculpe João de Melo esta aproximação ao título do seu livro -, interroguei-me, com insistência e pertinência - julgo! -, se deveria levar a vós o humilde e modesto testemunho do meu percurso existencial. Duas razões me levaram a hesitar no propósito: tratando-se de uma tentativa, de grande folgo, de levar por diante uma experiência tendencialmente literária, colocou-se-me a incerteza, por um lado, quanto ao dispor ou não de engenho e arte para tamanha tarefa, por outro, a ideia, que não se me apresenta muito clara e segura, se realmente terei tido até aqui, com um mínimo de qualidade e interesse, um percurso vivencial suficientemente rico para o efeito. Não obstante dúvidas, e apesar delas, arregacei as mangas, que é como quem diz, “agitei” os meus neurónios potenciadores da memória e da criação e avancei na intenção de levar até vós as minhas vivências, assegurando-vos de que os factos relatados aconteceram praticamente na totalidade, com algumas “nuances” introduzidas. Umas de pura ficção, outras pequenos torneamentos de situações, fruto de lapsos de memória não recuperada, escapatórias úteis, mesmo inevitáveis, para dar coerência ao texto. Sobre a qualidade e pertinência deste propósito, se terei ou não minimamente conseguido atingir os objetivos, se o relato dos acontecimentos por mim vividos terão ou não algum interesse e utilidade para quem os lê, só vós, leitores, podereis ajuizar! Posto isto, e superadas positivamente as hesitações iniciais, agradeço às forças ocultas do Universo, fico-lhes grato, não interessa se por obra do acaso, ou, parafraseando Torga, “por algo pré-determinado pela Providência, ou o que lhe quisermos chamar”, ter-me colocado no caminho companheiros de jornada, uns mais próximos, outros menos, seja os que mais intimamente comigo coabitaram ou ainda coabitam, seja todos aqueles que também se cruzaram ou acertaram passo comigo na grande caminhada, entrando no 13


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“trem da Vida”, rumo, digo eu, ao desconhecido. Uma palavra dirigida a todos aqueles que, tendo coabitado comigo, em cumplicidade e/ou em intimidade, no mesmo espaço geográfico, nas mesmas instituições onde exerci a minha atividade profissional, se cruzaram e conviveram comigo nesta já longa caminhada, e que ao longo do livro sobre eles me vou retendo e “mastigando” as vivências que são deles e minhas. Uns que já partiram, outros ainda presentes, uns mais merecedores do meu carinho, do meu apreço e do meu respeito, outros nem tanto, ainda assim, todos bem presentes e merecedores de estar comigo no “baú” das minhas lembranças. A todos eles presto sentida homenagem, em especial às gentes da minha aldeia, extensiva às gentes de todas as aldeias da Beira Baixa, e do país, que nos momentos muito difíceis, muito dolorosos, de muito sofrimento, do antes, durante e pós-guerra, lutaram, arduamente, pela sobrevivência, com muita angústia e sobressaltos, sendo certo, também, como é natural, com algumas alegrias. Rurais que labutaram nas quintas dos grandes senhores da terra, trabalhadores da construção civil que, por infortúnio, tiveram de emigrar, em grande parte para França, e outros países da Europa, trabalhadores das pedreiras e canteiros que extraíram e trabalharam, artisticamente, o granito no espaço triangular Escalos de Cima, Alcains e Castelo Branco. Usando um termo de agradecimento tão em uso na Beira Baixa, a todos BEM HAJAM por terem entrado na minha vida, independentemente das nossas vivências comuns terem sido boas ou más, por culpas próprias e/ ou contingência do acaso.

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w ev ie 1 - Universo

“[…] a ínfima partícula azul que consideramos a nossa casa não é mais do que isso mesmo: um grão de poeira estelar próximo da orla da nossa galáxia, entre os cem mil milhões (ou mais) de galáxias existentes no Universo.”

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Edward O. Wilson, O Sentido da Vida Humana

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w ev ie 2 - Escalos de Cima

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“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer Porque eu sou do tamanho do que vejo E não do tamanho da minha altura… Nas cidades a vida é mais pequena Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro. Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave, Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, Tornam-nos mais pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar, E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.” Alberto Caeiro – Heterónimo de Fernando Pessoa

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Primeira parte

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INFÂNCIA

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“…foi preciso que biliões de átomos errantes tenham conseguido juntar-se, numa dança intrincada e misteriosamente coordenada, de forma a criá-lo a si. ... estas partículas minúsculas irão dedicar-se sem qualquer queixume aos mil milhões de hábeis e articulados esforços necessários para o manter intacto e deixá-lo desfrutar da experiência supremamente agradável, mas em geral subestimada, a que chamamos existência.” Bill Bryson, Breve História de Quase Tudo


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VIAGEM CÓSMICA - VIVÊNCIAS

Quando e onde tudo começou

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No dia 8 de julho de 1945, passados quatrocentos e quarenta e oito anos da partida de Vasco da Gama para a Índia e três meses depois do fim da Segunda Guerra Mundial, com a rendição da Alemanha, nasce em Escalos de Cima, numa modesta casa de fachada granítica, de interiores reduzidos e modestos, uma criança do sexo masculino, cujos progenitores ter-lhe-ão desejado um futuro risonho e feliz, pleno de realizações e com muita saúde. (Não dispondo de informação a tal respeito, é verosímil, é suposto que o tenham desejado!) Os aludidos progenitores, meus pais, instintivamente, por obra do “Criador” e, suponho eu, com muito amor, vontade própria e consciência, me empurraram para a vida, como já haviam feito sete anos atrás à minha irmã, contribuindo, assim, para o facto de eu estar agora aqui, neste momento, em comunicação convosco. Também nascidos em Escalos de Cima, e de humilde condição, meu pai, com sete irmãos - cinco raparigas e dois rapazes -, era filho de um pastor, guardador de rebanhos de ovelhas de famílias abastadas da aldeia, e minha mãe, com um meio-irmão e uma meia-irmã, filhos cada um de pai incógnito – por isso, como muitas vezes entrava nos meus ouvidos, filhos da pouca sorte -, era filha de uma criada (e de um padre), que ao longo da vida serviu em casas ricas fora e dentro da região. A povoação de Escalos de Cima, apoiando-me nos apontamentos de João dos Reis de Matos, digno professor e investigador da história da aldeia, da qual era ele próprio também natural, já falecido - a quem presto sentida homenagem -, está inserida no espaço geográfico da Egitânea, antiga cidade romano-visigótica e que corresponde à atual Idanha-a-Velha, rica em vestígios arqueológicos e, por isso, muito valorizada e muito visitada por turistas nacionais e estrangeiros. À decadente e arruinada Egitânea, resultante de lutas internas no período árabe, sucedeu, em importância e domínio da região, a cidade de Castelo Branco (numa primeira fase denominada “Villa Franca da Cardosa” e, posteriormente, antes da atual designação, “Villa de Castell Branco”). Escalos de Cima, a escassos quilómetros de Castelo Branco, beneficiou 21


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e passou a viver na dependência, em grande parte, desta cidade, no plano administrativo, enquanto cidade sede de concelho e de distrito, e também quanto à empregabilidade, essencialmente a trabalhadores da construção civil: pedreiros, canteiros, carpinteiros, rebocadores, ladrilhadores, estucadores, canalizadores, eletricistas, serventes, entre outros trabalhadores dentro do mesmo domínio de atividade. Esta gente, na década de sessenta e anteriores – eu próprio por tal passei! - deslocava-se diariamente de bicicleta para a cidade, com sol, chuva ou vento, em busca de seu sustento, e a trabalhar das oito às dezassete horas, com um curto intervalo de uma hora para o almoço, folgando apenas aos domingos e feriados. Por vezes, a troco de mais uns “patacos”, trabalhavam mais uma ou duas horas, por necessidade urgente de conclusão de obras. Mas nem todos os habitantes ativos exerciam a sua atividade profissional em Castelo Branco, ocupando-se alguns nas pedreiras, a meio caminho para Castelo Branco, na agricultura, para da terra obter sustento para a família, outros (raparigas), com o empreendedorismo de senhoras da aldeia, nos bordados de Castelo Branco e alguns mais ousados, durante a guerra, na procura do volfrâmio, importante para a sua sobrevivência em tempos muito difíceis. No contexto da guerra, o referido mineral, exportado essencialmente para a Inglaterra e para a Alemanha, era altamente valorizado, pelo que as gentes das regiões do país, onde era possível extraí-lo, como era o caso da Beira Baixa, entravam numa autêntica corrida à sua procura nas barrocas, ribeiros e terrenos agrícolas, para depois ser vendido a intermediários. Nesses tempos difíceis do pós-guerra, de muita miséria e privação, não foi nada fácil a meu pai, com um único e parco salário e sem os proventos da “corrida ao volfrâmio”, em que nunca se meteu, fazer face às necessidades da família, com mais um rebento a criar e com a agravante de estar em vigor a determinação do governo de Salazar de racionar produtos alimentares essenciais, por escassez, como açúcar, azeite, leite, pão, entre outros. Por essa experiência passou a minha irmã, com apenas seis anos, esfomeada como os outros habitantes da aldeia, metia-se em filas, e a minha mãe sempre com o “credo na boca”, receando que fosse empurrada, pisada ou alvo de atitudes agressivas de famintos desvairados para alcançar o magro sustento. Entretanto, no contexto da miséria que se estava vivendo, alimentado com o leite materno, progressivamente a escassear, e com as farinhas do 22


VIAGEM CÓSMICA - VIVÊNCIAS

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Ti’ João Moleiro, com dívidas sobre dívidas acumuladas por parte de meus pais, lá iniciei o despertar para a vida, com o primeiro feito importante. A gatinhar e com tentativas amparadas pelo andarilho, iniciei, aos nove meses, os meus primeiros tremelicantes e inseguros passos, a apanhar um rebuçado a curta distância nas mãos do António João Fazenda, sobrinho do Senhor Zé Trindade, dono da mercearia localizada na Praça, local central da aldeia.

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VIAGEM CÓSMICA - VIVÊNCIAS

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A caminho da Covilhã

3 - Estação dos Caminhos de Ferro de Alcains

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Decorrido algum tempo, estaria eu com pouco mais de dois anos, meu pai, que trabalhava na altura em Castelo Branco para um empreiteiro de Alcains, decidiu aceitar uma proposta, com salário mais avantajado que aquele que recebia, para ir trabalhar na construção de um edifício na Covilhã. Ficando esta cidade a mais de cinquenta quilómetros, e o custo dos transportes a pesar no orçamento familiar, havia o inconveniente de ficar ausente durante muito tempo. Este inconveniente levou a que toda a família fosse viver para a Covilhã, enquanto durasse a obra. Para preparar o terreno, criar as condições mínimas para instalar a família, meu pai rumou sozinho à Covilhã, tendo tomado o comboio na estação de Alcains, transporte que lhe era mais vantajoso em rapidez e comodidade. Ainda pensou deslocar-se de bicicleta. A viagem ficava-lhe mais barata, mas a distância e o receio das intempéries outonais, que se faziam sentir a meados de outubro, desmotivou-o. Uma vez lá, tratou logo de encontrar a casa, depois de se ter instalado num barracão, provisoriamente, a servir de dormitório aos trabalhadores da obra, dormindo, como os outros, numa enxerga de palha assente em chão de terra batida e a fazer ele próprio as refeições. Passados alguns dias da chegada à Covilhã, conseguiu firmar contrato 25


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