Revista SescTV - Novembro de 2013

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Documentário

Foto: coraci ruiz

Cartas de afeto

e criam uma empatia mútua. A memória e a afetividade são o fio condutor dessas trocas. O ato de escrever e endereçar uma mensagem torna-se um exercício para que cada um reconstrua sua própria identidade, ora se afirmando ora se contrapondo ao outro. Lançado em 2011, Cartas para Angola recebeu prêmios como o CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), no festival FESTin (Festival de Cinema Itinerante de Língua Portuguesa), em Lisboa; Melhor Documentário Internacional no FIC Luanda e Melhor Documentário no IV Festival de Filme Etnográfico de Recife. É no contato com um interlocutor, na outra margem do Atlântico, que algumas perguntas começam a ser respondidas: “Queridos amigos de África: é uma alegria imensa poder, por meio desta carta, mais uma vez nos reconectar com as nossas raízes, culturas, danças e tambores da África... Porque, no fundo, somos elo de uma mesma família que o Oceano Atlântico não separou e nunca vai conseguir separar”.

Um oceano separa dois países com tanto em comum: a mesma língua, o mesmo passado colonial, pessoas em busca de melhor compreender sua identidade. Brasil e Angola, distantes e ao mesmo tempo próximos, na partilha de referências culturais, na busca por soluções para seus problemas estruturais, na relação afetiva com aqueles que moram longe. Distância esta encurtada por meio de cartas, nas quais remetente e destinatário dialogam sobre sua realidade, seus afazeres cotidianos, mas também sobre dilemas, dúvidas, saudades. “Uma cidade é um lugar externo onde moramos, caminhamos e sonhamos com os olhos acordados, mediante a vizinhança de amigos que nos cercam? Ou uma cidade é um lugar interno que nos persegue, do lado de dentro dos olhos, e mora no nosso coração como uma âncora pesada que nos mantêm presos a memórias e lugares de outro lugar?”, cita uma das mensagens. No documentário Cartas para Angola, de Coraci Ruiz e Julio Matos, a câmera se coloca como mediadora desses encontros, à medida em que atua como provocadora e mensageira. Mas é também testemunha dessa troca de afetos presente nas mensagens partilhadas entre amigos de longa data, ou por pessoas que nem sequer se conhecem de fato. No filme, o espectador acompanha sete duplas de interlocutores que vivem em cidades como São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Taboão da Serra e, do outro lado do Atlântico, em Luanda (Angola) e Lisboa (Portugal). Os perfis semelhantes dessas duplas – poeta conversa com poeta; dançarina com dançarino; músico com músico; escritor com escritora – facilitam a aproximação

Memória, afetividade, distância e identidade são abordados no documentário de Coraci Ruiz e Julio Matos

Documentário Cartas para Angola Direção: Coraci Ruiz e Julio Matos Dia 16/11, às 22h

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