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© 2014, Alêtheia Editores To d o s o s d i r e i t o s d e p u b l i c a ç ã o e m P o r t u g a l reser vados por : ALÊTHEIA EDITORES E s c r i t ó r i o n a Ru a d o S é c u l o, n . º 1 3 1 2 0 0 ‑­ 4 3 3 L i s b o a , P o r t u g a l Te l . : ( + 3 5 1 ) 2 1 0 9 3 9 7 4 8 / 4 9 , F a x : ( + 3 5 1 ) 2 1 0 9 6 4 8 2 6 E­‑ m a i l : a l e t h e i a @ a l e t h e i a . p t w w w. a l e t h e i a . p t Capa e Paginação: Serenela Santos Impressão e acabamento: Gráfica de Coimbra, Lda ISBN: 978-989-622-593-3 Depósito Legal: 369274/14 Janeiro de 2014


Isolés dans l’amour ainsi qu’en un bois noir, Nos deux coeurs, exalant leur tendresse paisible, Seront deux rossignols qui chantent dans le soir. Verlaine



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Eros e Psique - Canova, 1793



Amor é um Fogo que Arde sem se Ver AAmor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se e contente; É um cuidar que ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? Luís de Camões (1524?-1580)

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O Amor, quando se revela OO Amor, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p’ra ela, Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há-de dizer. Fala: parece que mente… Cala: parece esquecer… Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P’ra saber que a estão a amar! Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe, O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar… Fernando Pessoa (1888-1935)

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Nada se Pode Comparar Contigo OO ledo passarinho, que gorjeia

D’alma exprimindo a cândida ternura; O rio transparente, que murmura, E por entre pedrinhas serpenteia; O Sol, que o céu diáfano passeia, A Lua, que lhe deve a formosura, O sorriso da Aurora, alegre e pura, A rosa, que entre os Zéfiros ondeia; A serena, amorosa Primavera, O doce autor das glórias que consigo, A Deusa das paixões e de Citera;

Quanto digo, meu bem, quanto não digo, Tudo em tua presença degenera. Nada se pode comparar contigo. Bocage

(1765-1805)

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Amantes em azul - Marc Chagall, 1914


Amar Perdidamente AAmar!

Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente… Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar... Florbela Espanca (1894-1930)

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N o ta s b i o g r รก f i c a s d o s au to r e s



D. Dinis (1261-1325)

D. Dinis, filho de D. Afonso III e D. Beatriz de Cas‑ tela, foi o sexto rei de Portugal, aclamado em 1279, governado durante 46 anos. Casado com a rainha San‑ ta Isabel, destacam-se de entre os seus feitos mais im‑ portantes o relevo dado à agricultura em todo o seu reinado (de onde provém o seu cognome de «o La‑ vrador»), a reflorestação do pinhal de Leiria, a impor‑ tância dada à cultura – ele próprio poeta, escreveu e compôs a melodia de diversas cantigas de amigo e de amor, tendo por isso ficado também conhecido por «rei trovador», protegendo ainda os outros escritores. D. Dinis foi o primeiro a regulamentar que os docu‑ mentos oficiais teriam de ser escritos em língua por‑ tuguesa, tendo sido ainda responsável pela criação da primeira universidade portuguesa, em Coimbra.

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Luís de Camões (1524?-1580)

O conhecimento da vida propriamente dita do acla‑ mado poeta renascentista português, considerado por muitos o maior poeta de língua portuguesa, autor de Os Lusíadas e de famosos sonetos (mas também ver‑ sado em outras formas poéticas), é muito sumário e incerto. Nascido em 1524 ou 1525, filho do também poeta Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá e Mace‑ do, pensa-se que tenha estudado Literatura e Filosofia em Coimbra, e que pertencesse à pequena nobreza. Alista-se como soldado em várias batalhas em África e na Ásia ao serviço coroa portuguesa, numa das quais perde o olho direito. Em 1552, de volta a Lisboa, fre‑ quenta serões da nobreza, mas também eventos po‑ pulares. Porém, numa rixa fere um funcionário real e é preso. Embarca para a Índia em 1553, onde parti‑ cipa em várias expedições militares. Em 1570 regres‑ sa a Lisboa, já com o manuscrito de Os Lusíadas, que será publicado em 1572, com apoio de D. Sebastião. Morre em Lisboa, a 10 de Junho de 1580, depois de anos a viver doente e na miséria.

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Ă?ndicE



Amor é um Fogo que Arde sem se Ver Luís de Camões.................................................................... 7 O Amor, quando se revela Fernando Pessoa................................................................... 8 Nada se Pode Comparar Contigo Bocage.................................................................................... 9 Amar Perdidamente Florbela Espanca................................................................11 Os Cinco Sentidos Almeida Garrett..................................................................12 Este Amor Infinito e Imaculado Camilo Castelo Branco......................................................14 Sol do Meu Dia João de Deus.......................................................................16 Transforma-se o Amador na Cousa Amada Luís de Camões..................................................................19 Livros e Flores Machado de Assis...............................................................20 Amor Vivo Antero de Quental.............................................................21 Adoração Guerra Junqueiro................................................................23 A Débil Cesário Verde......................................................................24 Mãos Frias, Coração Quente Augusto Gil.........................................................................27

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Saudades Branca de Gonta Colaço...................................................29 Cantiga de Amigo D. Dinis................................................................................30 Quem diz que Amor é falso ou enganoso Luís de Camões..................................................................32 Soneto 116 William Shakespeare..........................................................33 É fácil trocar as palavras Fernando Pessoa.................................................................35 O Amor é uma Companhia Alberto Caeiro....................................................................36 És dos Céus o Composto Mais Brilhante Bocage..................................................................................37 Fanatismo Florbela Espanca................................................................39 Cegueira de Amor Nicolau Tolentino de Almeida.........................................41 Todas as cartas de amor são ridículas Álvaro de Campos..............................................................42 Saudades Florbela Espanca................................................................45 O mais é nada Ricardo Reis........................................................................49

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