Seafood Brasil #38

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NA COZINHA

Peixe nas periferias: irrigando os desertos alimentares

seafood

DIRETO DA PRODUÇÃO

Armadores se reorganizam e cobram estatística pesqueira

brasil

#37 - Dez/Jan 2021 ISSN 2319-0450

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Na fila de espera

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Inserção global do Brasil no pescado passa por planejamento, articulação institucional e maior competitividade


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Comida saudável e natural todos os dias Escritório de vendas Irala 3898-Mar del Plata - Buenos Aires- Argentina Tel: (54-223) 489 5459 / 5488- E-mail: ventas@congeladosartico.com Siga-nos no Instagram @congelados.artico


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Editorial

Na primeira divisão

D

e tudo o que o mundo produz de pescado - seja proveniente da aquicultura ou da pesca - em torno de 36% é vendido pelos países a parceiros globais. Isso correspondeu, em 2018, a uma receita de US$ 164 bilhões em trocas globais. Já a primeira venda teve o valor estimado de US$ 401 bilhões, dos quais US$ 250 bilhões, equivalentes a 82 milhões de toneladas, são da produção aquícola. O Brasil tem uma estrada longa para ser visto como um ator de destaque no âmbito global, apesar de muitas vozes ecoarem o discurso de que a nossa conversão em potência fatalmente acontecerá. Talvez o nosso protagonismo global nas outras proteínas e o forte ritmo da expansão aquícola nos levem a este raciocínio. Porém, as palavras precisam ser convertidas em planejamento e resultados.

per capita anuais. Está claro que o apetite cresceu, assim como o número de fornecedores capazes de matar esta fome. Na reportagem de capa desta edição, investigamos o que precisamos fazer para entrar nesta fila das grandes nações exportadoras de pescado, sem desatender à expansão da demanda interna. Confira como está nossa posição global e como as empresas, associações e o governo federal podem se articular para participar desse campeonato tão duro quanto bilionário. A partir desta edição, a Seafood Brasil passa a contar com a experiência, humor e organização impecáveis de um novo editor-executivo. Salve, Léo Martins! Boa leitura!

Em 1961, a população mundial consumia 9 kg per capita de pescado por ano, mas em 2018 passou para 20,5 kg

Ricardo Torres - Editor-chefe

Índice

06 Cinco Perguntas

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40 Na Gôndola

08 Na Água

44 Estatísticas

10 MKT & Investimentos 20 Na Planta

54 Direto da Produção 63 Suplemento

72 Na Cozinha

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Capa

82 Personagem

Expediente Redação

redacao@seafoodbrasil.com.br Publishers: Julio Torre e Ricardo Torres Editor-chefe: Ricardo Torres Editor-executivo: Léo Martins Repórter: Fabi Fonseca Diagramação: Emerson Freire Adm/Fin/Distribuição: Helio Torres Crédito da foto de capa: Markus Distelrath/ Pixabay, com arte de Emerson Freire

Comercial

comercial@seafoodbrasil.com.br Tiago Oliveira Bueno

Impressão

Máxi Gráfica A Seafood Brasil é uma publicação da

Seafood Brasil Editora Ltda. ME CNPJ 18.554.556/0001-95

Sede – Brasil

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5 Perguntas a José Waldomiro Ribeiro Coutinho Filho, vice-presidente da Camarão BR

Entrevista

Camarão na boca do povo Dedicada à abrir mercado chinês e retomar exportações à Europa, Camarão BR também quer popularizar consumo interno do vannamei

Q

Texto: Ricardo Torres

uando a pandemia começou a aprofundar seus efeitos no food service, os produtores de camarão viram minguar seu principal grupo de clientes. Além do varejo e da venda direta, as exportações despontaram como uma saída possível para algumas indústrias mais bem posicionadas. Novos mercados externos também foram abertos para o crustáceo brasileiro. Porém, a venda externa não decolou.

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Na entrevista abaixo, o vicepresidente da Associação Nacional da Cadeia Produtiva do Camarão (Camarão BR), José Waldomiro Ribeiro Coutinho Filho, explica como o mercado interno absorveu a demanda no momento em que os volumes cresciam. “Estimamos que a produção de camarão em 2020 foi de 95 mil toneladas entre os associados da Camarão BR, mesmo com a pandemia que atrapalhou o melhor momento de produção”, explica. A entidade reúne alguns dos principais produtores de grande porte, que calculam representar cerca de 60% da produção nacional de camarão de cultivo. A exportação não saiu do radar, mas o principal desafio eleito para 2021 é a popularização do consumo interno. Por que o setor precisa de uma nova entidade nacional que defenda os interesses da indústria de produção e processamento de camarão? Nosso posicionamento é bastante claro entre os associados: a Camarão BR adotou um viés de produtores vocacionados para exportação. Vimos que seria mais produtivo para este

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nicho de empresas se a entidade se desvinculasse da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), uma vez que ela tem uma pauta muito extensa, as competências são amplas e não se conseguia atender à totalidade dos associados. Não há sobreposição de demandas. Na verdade, há um aumento na nossa visão de fortalecimento do setor. As demandas trabalhadas por ambas as entidades irão favorecer toda a carcinicultura. Não buscamos protagonismo, pelo contrário: queremos ajudar o setor. Essa é a tônica da Camarão BR. Todos estão no mesmo barco: produtores, os associados da Camarão BR, a ABCC e até os produtores de camarão de pesca extrativa. Afinal, possuímos praticamente todos os mesmos problemas, os mesmos entraves e desafios. Quais são os principais pleitos da entidade? Buscamos a desoneração do PIS/ COFINS na ração e insumos da cadeia, tal qual já possuem a avicultura e suinocultura. Confiamos no trabalho

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dos técnicos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Frente Parlamentar em Defesa do Pescado, por meio do deputado Luiz Nishimori, para alcançar essa vitória. Outro ponto é a modernização do ordenamento jurídico relacionado à questão ambiental da atividade. Durante muito tempo, a carcinicultura foi tratada como degradadora de manguezais, por exemplo, o que é uma grande inverdade. Queremos que as secretarias estaduais sejam responsáveis pelas especificidades de cada região, pois não precisamos aplicar a mesma regra para todos. E, principalmente, que haja parâmetros científicos para cada tomada de


“Se por um lado tivemos consequências nefastas com relação à pandemia, por outro ela nos obrigou a olhar o negócio com outra perspectiva em busca de soluções para os problemas.”

Alguns dos associados da entidade ensaiaram uma reação para retomar as exportações de camarão em 2020, mas os números mostram que não houve grande impulso às vendas externas. O que aconteceu? No ano passado exportamos para os Emirados Árabes, Malásia e Taiwan, além de abrirmos para a Coreia do Sul. A exportação foi uma tentativa de mostrarmos ao mundo que temos um camarão de qualidade e que podemos colocá-lo nos mais exigentes mercados mundiais. Mas estes não são os mercados com maior potencial.

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A União Europeia e a China são nossos principais alvos, pois têm fundamental importância aos nossos

Qual foi a produção nacional de camarão em 2020, de acordo com a Camarão BR, e qual é a projeção para 2021? Quais são os fatores que embasam este desempenho? Baseados no consumo de ração e informação dos associados, estimamos que a produção de camarão em 2020 foi de 95 mil toneladas entre os associados da Camarão BR, mesmo com a pandemia que atrapalhou no melhor momento de produção. Nós representamos cerca de 60% da produção nacional de camarão de cultivo.

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Apesar das dificuldades, o produtor conseguiu bater recordes de produção. Estimo que, neste ano, teremos um aumento de 30% na produção, superando as 120 mil toneladas em 2021. Dois fatores impulsionam este desempenho: a melhoria na produtividade das fazendas, investimentos em matrizes, ração e tecnologia; e a demanda, que cresceu em 2020.

Com a extensão das consequências da pandemia em 2021, qual é a expectativa de vocês em relação aos diferentes canais de venda de camarão no mercado interno: atacado, restaurantes e o varejo? Como ficará a participação para cada canal? Se por um lado tivemos consequências nefastas com relação à pandemia, por outro ela nos obrigou a olhar o negócio com outra perspectiva em busca de soluções para os problemas. O Brasil é um [País] excepcional mesmo: em plena pandemia, estamos conseguindo ampliar vendas em bares e restaurantes com produtos de valor agregado. O mesmo comportamento nós vemos varejo. E é para o mercado interno que a gente vislumbra uma questão comercial perene, já que as sazonalidades não nos afetam tanto quanto as questões econômicas do mercado externo, como o câmbio.

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A Camarão BR está se debruçando sobre o aumento de consumo da proteína e a melhora na percepção do consumidor em relação ao camarão. No âmbito comercial, precisamos trabalhar a questão do sell-in (do fabricante ao distribuidor) ao sell-out (do distribuidor ao consumidor final), aprimorando o contato com as redes de varejo ou mesmo fazendo vendas diretas, diminuindo a dependência de intermediários. Camarão ainda não é um produto de consumo de massa, mas queremos popularizá-lo. Esse é o futuro da carcinicultura e é com este foco que a Camarão BR vai trabalhar neste ano.

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Como temos grande foco no comércio exterior, queremos conseguir a reabertura das exportações à Comunidade Europeia. Isso nos ajudará muito a mitigar os efeitos da redução de faturamento provocada pelo período de pandemia. O governo federal é nosso parceiro nisso, assim como a CNA, com quem o Mapa tem excelente relacionamento. Estamos pleiteando que o Mapa faça uma lista dos barcos e das plantas de aquicultura que estão aptas a exportar para a União Europeia, de modo que se cumpram todos os requisitos sanitários exigidos pelo bloco.

associados. Em relação à China, tivemos um passo importante que foi um pedido do governo chinês para que o Mapa listasse as empresas interessadas na exportação. Reenviamos também uma lista prioritária de espécies, na qual o vannamei encabeçava como primeira espécie da lista. Neste momento, colocamos na mão de cada um dos empresários a responsabilidade de manifestar o seu interesse junto ao Mapa.

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decisão, como a Embrapa - que é nossa parceira - e outros profissionais da Academia são capazes de fornecer.


pó) e possui uma abrangência máxima de lançamento de 50 m.

Comer bem para crescer bem

Na

Água Tecnologia para pesca e criação

Aditivo 100% raiz A Escama Forte apresenta ao mercado o ActiveMOS, aditivo prebiótico para alimentação animal. Rico em mananoligossacarídeos (MOS), o produto é extraído de uma cepa especialmente selecionada das leveduras Saccharomyces cerevisiae. E é justamente por realizar o processamento da parede celular da levedura que é possível otimizar e expor todo o conteúdo de mananoligossacarídeos deste aditivo. Definido pela empresa como um produto que não é um organismo geneticamente modificado, o ActiveMOS é disponível em sacos de 25 kg.

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Lanço sem desperdício Para diminuir a mão de obra e proporcionar uma alimentação mais constante, a Weemac aposta no lançador flutuante de ração. Com um silo de 150 kg, o equipamento melhora a uniformidade do peixe e do camarão, impactando diretamente no rendimento de seus crescimentos. Automatizando toda a produção, o equipamento evita desperdício de ração de diversos tamanhos (menos

Pesquisadores japoneses do RIKEN Nishina Center for Accelerator-Bases Science (RNC), em parceria com o Japan Fisheries Research and Education Agency e a Nagasaki University, criaram cepas maiores de rotíferos. A partir da mutação por irradiação de feixe de íons pesados, as novas cepas do zooplâncton vão ajudar a melhorar os índices de sobrevivência e crescimento de larvas e juvenis de peixes cultivados como robalo, atum rabilho, garoupas e linguados, contribuindo muito com os resultados das larviculturas.

Sobrenome economia O alimentador de peixe turbinado é o que a Trevisan apresenta para auxiliar produtores a terem mais agilidade no processo de alimentação dos peixes. Para que eles tenham economia de tempo e de esforços, o equipamento possui um sistema mecanizado equipado com um sistema de lançamento de ração que usa uma turbina para evitar a quebra do insumo. Com 5 engrenagens para regulagem de descarga, a máquina pode ser utilizada com diversos tipos de ração (exceto as em pó) e faz lançamentos de até 20 m, dependendo do insumo.

Agradando a peixes e frangos Pequena grande notável Para atender a pequenos produtores e até pontos de comercialização, a Marine Equipment disponibilizou uma depuradora compacta para moluscos. Montado em um contêiner reforçado e pensado unicamente para o manejo dos moluscos, o equipamento possui indicadores luminosos que indicam o funcionamento da bomba e lâmpada UV. Com um sistema de resfriamento (chiller) de água acoplado, o depurador pode ser utilizado para ostras do pacífico (até 120 unidades), ostras nativas (até 120 unidades) e mexilhões (até 15 kg).

A cooperativa agroindustrial C. Vale desenvolveu uma fórmula que permite à indústria de rações de peixe também produzir o alimento para frangos. Em parceria com a Wenger, responsável pela extrusora de ração para peixes, após 4 meses de testes foram feitos ajustes nos equipamentos para secagem, granulação e temperatura até chegar a um processo que permita a produção com bons resultados de conversão alimentar dos frangos. Para as fábricas de rações de peixes, a novidade vai trazer maior aproveitamento, já que no inverno as indústrias reduzem o ritmo por causa do menor apetite das tilápias.


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Marketing

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& Investimentos

A melhor arma para vender bem o peixe A Texto: Fabi Fonseca

té quem não vive do comércio de pescado sabe o que significa “vender o seu peixe”. Afinal, esse é um dos ditados mais populares no Brasil quando o assunto é expor uma ideia ou vender um determinado produto.

O marketing, nas diversas vertentes, é um aliado fundamental para alcançar estes objetivos. Com o cenário de pandemia e as profundas mudanças no padrão de compra e consumo, as empresas precisaram acelerar suas estratégias, principalmente as online,

para se comunicarem diretamente com seus públicos. Se um dos anos mais atípicos da história moderna trouxe consigo a necessidade de rever os conceitos para sobreviver no mercado frente ao novo


marketing de conteúdo, lives, podcasts, shows, congressos, cursos e muito mais. Diante de tantas possibilidades, o desafio está em saber o que priorizar em uma boa estratégia de marketing para o pescado. “É fundamental que a empresa identifique as necessidades e desejos dos consumidores com estratégias para atendê-las”, comenta a engenheira de pesca pela UNESP e mestranda em gestão e inovação na

indústria animal (USP-FZEA), Letícia Fernanda Baptiston. Ela conta que é importante se ter uma campanha de consumo durante o ano e não apenas em épocas religiosas como a Páscoa. Porém, é preciso posicionar o produto e comunicar seus diferenciais de um jeito bem claro. “Assim, o consumidor passa a conhecer os benefícios do produto e na hora de fazer suas compras. É desse jeito que se gera valor ao cliente-alvo”.

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perfil de consumidor, a criatividade para se manter nele nunca foi tão fundamental. Em poucos meses, as empresas do setor aprofundaram os esforços para ampliar as formas de comunicação com o público no digital com conteúdos destacados em um ambiente já saturado de informações. Assim, entre as amplas possibilidades, ganharam força as redes sociais como o Instagram, Facebook, WhatsApp e YouTube que possibilitam fazer de tudo:

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Online ou offline, o marketing virou assunto obrigatório no setor em tempos pandêmicos. Veja como as empresas usam a ferramenta para endereçar melhor o desafio de incrementar vendas


Villa Pescados

Marketing & Investimentos

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Time Villa Pescados no Nordeste: empresa aposta forte em marketing de conteúdo para cultivar vínculos e gerar novos leads

Baptiston liderou uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) que, no ano passado, revelou os resultados de um estudo mostrando como o marketing no pescado é essencial para atender necessidades e desejos dos consumidores no Estado de São Paulo - a análise foi publicada no artigo “Comportamento do Consumidor Paulista de Pescado”. Acesse aqui o estudo na íntegra: http://bit.ly/estudomktSP Importante ressaltar que os lançamentos em itens de pescado começam muito antes da campanha

de divulgação. Desenvolver novos produtos para as crianças, como hambúrguer de pescado com a Carne Mecanicamente Separada (CMS), requer um desenvolvimento conjunto com a área de Pesquisa & Desenvolvimento da empresa. Esta área, aliada à mensuração dos gostos e necessidades do consumidor, pode até criar oportunidades para peixes inteiros pouco explorados, como o lambari.

Marketing na prática A ciência auxilia no desenvolvimento de novos produtos à indústria, mas as empresas também precisam agir para aumentar o

desejo de compra do consumidor. E é justamente com esse foco que a Villa Pescados tem trabalhado há 2 anos em um novo projeto de marketing. A distribuidora baiana comercializa camarão em diversas formas para hotéis, bares, restaurantes e consumidor final, mas não atua com supermercados justamente por causa deste plano, como explica o CEO, Tércio Farias. “A gente tomou essa decisão lá no início porque os supermercados tinham uma preocupação grande apenas em fazer girar o produto dentro da sua gôndola”, diz Farias. Ele lembra que, por muito tempo, existiam produtos com qualidade não muito boa que eram vendidos levando em conta só o preço e não seu real diferencial.


Para alcançar seus objetivos, a empresa adotou mudanças na área do marketing de vendas: ao invés do vendedor ser o responsável por todas as etapas, cada fase passou a ter um especialista. “Eu tenho um time só adquirindo o cliente através do online e offline. São 19 canais diferentes e todos os meses a gente testa qual deles performa melhor.” Com uma cultura interna voltada para testes, os canais online e offline experimentados pela Villa Pescados foram as redes sociais, palestras, criação de comunidades, feiras de negócios, relações públicas, relações públicas não-convencionais, marketing de conteúdo, anúncios, SEO e outros. “Desenvolvo uma hipótese e através dela, eu testo e vejo se faz sentido ou não. Se faz sentido, eu acelero investimento em cima disso.”

Para Damasceno, o segredo para montar uma boa estratégia de marketing no setor de pescado passa

Raquel Damasceno, diretora comercial da Natupeixe

pela qualidade do produto, bem como uma equipe preparada para que o consumidor compre e fique fiel à marca - e neste contexto, ter uma agência de publicidade que entenda sua marca é fundamental. Já para os conteúdos online, é preciso ter constância nas postagens, clareza, vocabulário de fácil entendimento, ser verdadeiro e passar credibilidade. “Criatividade também é importante, como elaborar receitas, sorteios em PDV, parcerias com os clientes, sorteios na rede social dos produtos, parcerias com chefs de cozinha, lançamento de produtos e muito mais”, comentou.

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Antigamente, o vendedor da Villa Pescados precisava ir atrás do cliente, convertê-lo e retê-lo. Mas como explica Farias, a fórmula não estava mais funcionando. “A gente entendeu que não adiantava ficar olhando somente para aquisição. Precisávamos reter esse cliente dentro da nossa base”, comenta.

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Na contramão de tudo isso, a partir de uma pesquisa de mercado e uma loja experimental no mercadão de Salvador, a Villa Pescados decidiu que precisava ir “para dentro” do restaurante. “Descobrimos que o brasileiro consome mais camarão fora de casa. Por isso, era preciso falar melhor com o restaurante para aumentar o consumo”, conta Farias. Sendo assim, para atender mensalmente em torno de 900 estabelecimentos, a empresa montou um funil de vendas atrelando online ao offline.

Foi também apostando na esteira dos testes e inovações que a Natupeixe lançou seu delivery no ano passado, diversificando o perfil de um entreposto de pescado fresco e congelado criado em 1985. Atualmente, os clientes estavam em Minas Gerais e Norte do Espírito Santo, atendidos por uma frota própria que cobre desde grandes redes de supermercados até pequenas lanchonetes. No ano passado, a pandemia obrigou o lançamento do delivery com a necessidade de acelerar as estratégias online. Dos benefícios e lições extraídos da experiência, ficou a certeza de que é preciso focar nas redes sociais, além de ter contato mais direto com o consumidor final. “Assim, dá para saber das suas dificuldades e criar estratégias para ajudá-lo”, contou Raquel Damasceno, diretora comercial. A Natupeixe pôde ver os resultados das implementações já no final de 2020, quando obteve um crescimento no delivery de 10%. “As vendas nos surpreenderam. Ampliamos as entregas nas cidades vizinhas e estamos conseguindo atingir um público que antes não conhecíamos”.

Natupeixe

“Isso prejudicou demais o consumo de camarão no Brasil”, opina.


Marketing & Investimentos Que mensagens comunicar? No ano passado, o professor e engenheiro de Pesca Marcos Ferreira Brabo precisou lidar com o desafio de continuar ministrando suas aulas diante da pandemia. Da criatividade de Brabo e em parceria com professor Marcos Antônio Souza dos Santos, da Universidade Federal Rural da Amazônia, nasceu a cartilha: “Marketing Aplicado ao Pescado”. O exemplar em formato digital serviu para nortear as aulas da disciplina de marketing para o curso de Engenharia de Pesca, da Universidade Federal do Pará, que posteriormente foi liberada para divulgação. Além de mostrar a importância do marketing para o pescado, a edição ainda destaca as formas de utilizá-lo, indicando estratégias. As principais são:

Para a pesca Exaltar o cumprimento de medidas de ordenamento como: o período de defeso, o tamanho mínimo de captura, entre outras normatizações. Enfatizar a importância social da atividade no que diz respeito à geração de trabalho e renda, inclusive para populações tradicionais.

Para aquicultura Explorar a sustentabilidade da atividade, pelo menos no que diz respeito à capacidade de ser perene. Enaltecer a padronização do produto, a regularidade na oferta e a possibilidade de estabelecer o peso de abate proporcionadas pelo planejamento aquícola, bem como a possibilidade de controle ambiental.

Para estabelecimentos processadores Avaliar as possibilidades de diversificação de produtos e de fracionamento na mesma embalagem para evitar o descongelamento desnecessário em bares e restaurantes. Inovar em pratos prontos para aproveitamento integral do pescado.

Para os distribuidores Enaltecer o curto espaço de tempo entre o produtor e o varejista/consumidor, com a devida manutenção da qualidade. Explorar a preocupação com a procedência dos produtos adquiridos e possíveis características marcantes dos fornecedores, como certificações e aspectos tecnológicos.

Na comercialização Explorar a procedência do produto, a forma de apresentação, o método de conservação adotado e a sua eficiência. No caso de produtos frescos, potencializar a apresentação de partes do pescado que facilitem a análise sensorial pelos consumidores.

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Para os restaurantes Enaltecer o sabor, a aparência e os benefícios do consumo para a saúde humana. Conceder descontos em bebidas que harmonizem com o pescado ou qualquer outro produto complementar.

Além de mostrar a importância do marketing para o pescado, o exemplar ainda destaca as formas de se aplicá-lo, indicando estratégias

Direto da produção Uma tendência crescente na aquicultura é o uso do marketing digital entre os fornecedores de insumos. E neste contexto, uma das pioneiras nestas estratégias é a Guabi, empresa especializada em desenvolver soluções para a nutrição animal. Ela precisou usar ativamente os recursos digitais no período, embora o uso de algumas funções como reuniões online já fizessem parte do seu cotidiano bem antes da pandemia. “Isso nos ajudou a investir em muitas apresentações, lives e palestras online”, contou o diretor comercial João Manoel Cordeiro Alves. O Facebook, Instagram e o WhatsApp estão entre as ferramentas de marketing preferidas para a divulgação da linha Guabi. “O uso das redes é feito em posts semanais informativos sobre os produtos e saudabilidade”, explicou Alves. O marketing da Guabi é especialmente feito para quem produz pescado e a diferença é que não se fala diretamente de determinadas espécies, mas sim de conceitos. “A gente usa coisas como: quando você compra um peixe produzido no cativeiro, criado por alguém, você evita comer um peixe da natureza. Então, dê preferência para peixes criados”, exemplifica Alves. Ele conta que a empresa tem trabalhado sobre as impressões das pessoas que dizem que o pescado criado não tem o mesmo sabor do extrativismo. “Divulgamos que quando cultivado corretamente, o peixe criado tem um sabor tão bom ou melhor que o de extrativismo, com os mesmos nutrientes e todos os benefícios.” O segmento Aqua da Guabi só começou a ser impulsionado em novembro de 2020 no início da safra de pescado. Ainda que seja difícil analisar a relação custo-benefício


Custo-benefício Na Natupeixe, as mídias preferidas também são o Instagram e o Facebook. A empresa tem parceria com uma

agência de comunicação e publicidade, onde toda a parte de criação das artes, criação das receitas e vídeos são idealizadas e divulgadas. “Eu, Raquel, em meu Instagram pessoal, faço receitas semanais explicando como preparar os produtos. Tenho me surpreendido com a repercussão e carinho dos clientes”, revelou Damasceno. Já a relação custo-benefício, conforme

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Mirar nas redes sociais também foi a estratégia usada pela Aquasul Larvicultura e Comércio, do Rio Grande do Norte, como destaca Saulo Guedes, sócio-fundador. Apesar de ter iniciado a industrialização do camarão congelado no ano passado, logo tomou a dianteira nas comunicações virtuais, consideradas um investimento de baixo custo. Ele conta que nas redes sociais, o público é diverso e consegue atingir

bastante pessoas ao direcionar para qualquer Estado ou consumidor. “Estamos bastante otimistas, pois já temos resultados positivos com o trabalho nas redes sociais”, diz. Para Guedes, o marketing também deve vir de outras instituições como o governo, além de campanhas de fomentos e incentivos para facilitar o acesso aos créditos. Outro ponto crucial é explorar o fato de que o pescado faz bem para a saúde.

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dos investimentos em promoção da marca ou do produto, a impressão que fica é que o uso tem sido muito bom, principalmente porque o desempenho anual foi 10% acima do ano retrasado. “Os números que aparecem até agora são animadores e o investimento se paga”, afirma Alves. Mesmo com um trabalho mais efetivo para as vendas no online, a Guabi ainda continuou o trabalho de marketing através das mídias impressas, mesmo com recursos menores. “O problema é que há pouca gente especializada no mercado. Para anunciar, você tem que pagar por um universo grande mesmo o seu sendo muito pequeno. Então, a gente acaba fazendo coisas mais diretas”, revela.


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Comunicação nas gôndolas dos supermercados A pesquisa “O mercado de peixes da piscicultura no Brasil: estudo do segmento de supermercados”, coordenado pela Embrapa Pesca e Aquicultura, por meio do projeto BRS Aqua e realizada em parceria com o Instituto de Pesquisa e Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), focou em redes de supermercados localizados em cinco capitais, baseadas em critérios socioeconômicos, para identificar o perfil do consumidor de tilápia e tambaqui: Brasília (DF), Curitiba (PR), Manaus (AM), Recife (PE) e São Paulo (SP). Os principais resultados mostraram a necessidade de melhorar a comunicação das qualidades do peixe de cultivo junto aos consumidores, “de modo a informá-los quanto às vantagens desses produtos”. Entre os principais resultados, a avaliação apontou que peixes da pesca extrativa têm melhor reputação que os da piscicultura junto ao consumidor dos supermercados. Os autores também atestaram que os consumidores consultados preferem o produto fresco em filé e cortes.

espécie”, informaram os autores. Já no caso do tambaqui, mais de 41% dos consumidores não sabem se a espécie vendida no supermercado é da pesca ou da aquicultura. Acesse aqui o estudo na íntegra: http://bit.ly/piscicultura-supermercados

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Sobre a preferência aos peixes da pesca, indicada por aproximadamente metade de todos os consumidores, evidenciou a necessidade de melhorar a comunicação aos consumidores sobre os benefícios e as qualidades do peixe da piscicultura, conforme os autores, visando à construção de uma imagem mais positiva. Outro resultado é a consolidação da tilápia como um produto com maior conhecimento pelos consumidores de todas as regiões do País. Mais de 42% dos entrevistados afirmam que se trata de um peixe da aquicultura, porém, mais de 33% dos entrevistados também disseram não saber onde a espécie é produzida, “o que indica que ainda existe um desconhecimento sobre a

Criatividade nos posts aumenta sintonia e engajamento do público


Continuar investindo no marketing online é um dos objetivos principais da Villa Pescados para 2021. A empresa já viu retorno no investimento com um crescimento de 5,4% no faturamento bruto do ano passado em relação a 2019 - a base de clientes foi de 599 para 815 – e uma expansão geográfica de 17% em “praças maduras”. Com

um novo projeto em ação ainda este ano, a empresa pretende colocar o atendimento em 16 Estados. Entre os conteúdos criados a partir do time de especialistas está um E-book sobre o camarão, além de um portal e uma revista eletrônica trazendo notícias e receitas com o crustáceo. E, como adianta Tercio Farias, a ideia é que em breve esses conteúdos também sejam direcionados a públicos específicos. Mesmo com foco no Food Service, a comunicação também é voltada para o consumidor que prepara o produto em sua casa. Com a nova estrutura validada na pandemia, o investimento

na equipe já dá outros resultados: a empresa recebeu o selo do Great Place to Work Brasil (GPTW) por boas práticas em gestão de pessoas. “Isso tudo porque a gente tem um trabalho interno voltado ao cliente”, justifica Farias. Agora, a ideia é investir em outros modelos de conteúdos como a série em podcast “Café com camarão”, que deverá ser inaugurada em breve. Com a presença de chefs de cozinha, a ideia dos encontros é trazer temas relacionados à gestão dos estabelecimentos em plena pandemia. Outro plano da Villa Pescados é uma cozinha digital, além de um projeto como um “Campeonato Nacional de

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O sócio-fundador das empresas Aquasul segue na mesma linha da pesquisadora sobre a relação custobenefício. Para ele, a comunicação online e impressa devem se complementar. “No digital, usamos mais o Instagram, Facebook, WhatsApp, Telegram e YouTube. Mas, também fazemos parte de revistas impressas”, falou Saulo Guedes.

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Ainda que a relação custo-benefício pareça demorar para quem está começando agora, a pesquisadora Letícia Fernanda Baptiston destaca que é primordial continuar investindo na comunicação online. “Existem inúmeras possibilidades de atuações, como o envio de receitas, pesquisas via e-mail marketing e interação com o cliente em canais digitais, além de aplicativos. E claro, a embalagem”, aponta.

Natupeixe

ela, foi demorado no início. “Por isso, é preciso persistência, além de muito profissionalismo, criação de novas estratégias e constância para dar resultado.”


Marketing & Investimentos

Villa Pescados

diagnóstico de câncer. “Neste caso, a Copacol também faz um papel social na doação de uma parte das receitas dos produtos comercializados e comunica o seu apoio na embalagem deste produto”, informa Baptiston. Ela acha muito assertivo e importante ações deste tipo, pois os consumidores também buscam o posicionamento das marcas. “É essa imagem que vai ficar na mente do consumidor”, pontuou.

Livros digitais com conteúdo feito sob medida para o universo de prospects são uma isca eficaz para iniciar a conversão de clientes Pizza”. “Vamos fazer muitas receitas com o crustáceo e dar protagonismo ao pizzaiolo. Depois, isso também vai virar conteúdo para o nosso time de vendas”, revela o CEO.

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Marketing de influência Com as transformações aceleradas e modificadas pela pandemia da Covid-19, a elaboração de métodos de vendas e comunicação com o consumidor trouxe desafios, mas também oportunidades, principalmente com o chamado Marketing de Influência formado pelos influenciadores digitais. Uma pesquisa do Ibope Inteligência mostrou em 2019 a relação dos brasileiros com os influenciadores digitais. Na época, 70% dos brasileiros eram internautas em um Brasil com aproximadamente 230 milhões de Smartphones. Ou seja, 92% dos domicílios brasileiros possuíam esses aparelhos, entre os quais, 97% das pessoas usam para acessar a internet. Já o número de usuários de internet era de 149 milhões - destes, cerca de 140 milhões usavam alguma rede social. A relevância dos influenciadores digitais aparece em paralelo ao aumento do acesso à internet, evidenciando a importância do Marketing de Influenciadores.

Em constante crescimento, o canal é visto como eficaz e complementar às outras mídias. Em uma amostra de 2.000 entrevistados, onde 52% eram mulheres e 48% homens, 52% disseram que seguiam algum digital influencer, sendo que 59% eram mulheres. E, quando perguntados as razões para seguir um influencer, 74% dos entrevistados disseram ser por causa do conteúdo com informação relevante. Já outros 52% disseram ser por causa das ideias ou pensamentos parecidos. Isso é justamente o que defende a pesquisadora Letícia Fernanda Baptiston. Para ela, as empresas que investem nessa estratégia de marketing precisam encontrar comunicadores/ artistas que falem o que a marca oferta, e que espelhem seus valores nas atitudes e posicionamentos. “Mas, devemos lembrar que tudo isso pode gerar aumento ou a redução do consumo, caso este influencer não possua os valores ou o público que a marca oferta”, completou. Um exemplo contado pela pesquisadora é a influencer Ana Furtado e a campanha da Copacol no Outubro Rosa. A comunicadora apresenta um canal familiar aos sábados e já precisou encarar um

Outro exemplo interessante foi a participação da Netuno no último dia 19 de janeiro no programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga. A empresa teve uma inserção de 18 minutos no programa, onde a tilápia e seus benefícios foram apresentados a milhares de brasileiros. Conforme o CEO da Netuno, Christian Becker, a participação da empresa no programa foi espontânea, mas eles também têm atuado efetivamente com o marketing nos últimos meses. “A gente tem uma marca e distribuição muito fortes”, informa. Mas, na visão de Becker, o que faz a diferença hoje é o trabalho de trade e marketing nas redes sociais. “Temos uma agência para trabalhar o material do PDV e temos outra só para atuar com redes sociais e influenciadores digitais. O resultado é bacana.” Optar pelos influenciadores digitais também é uma boa escolha para a diretora da Natupeixe, Raquel Damasceno. “Os influenciadores ajudam e muito, principalmente os voltados à comida saudável”, completou. Mas, para Tércio Farias, CEO da Villa Pescados, a decisão merece mais reflexão. A preferência dele é por influenciadores “menores”. “Acreditamos que é muito mais fácil trazer um chef que entenda o nosso propósito e faça essa promoção porque se apaixonou pelo que a gente faz do que alguém que só foi pago para fazer”, justifica.


Reprodução/TV Globo

A apresentadora Ana Maria Braga divulgou os benefícios da tilápia a milhões de brasileiros no programa Mais Você em janeiro

Para Christian Becker, da Netuno, a melhor forma de elaborar um plano de marketing efetivo para o pescado é ouvir o consumidor no PDV. Porém, sempre apostando no trabalho nas redes sociais. “A gente foca nessas

duas direções porque achamos que a relação custo-benefício é melhor.” Por fim, a diretora comercial da Natupeixe Raquel Damasceno completa que as ações no PDV precisam incluir também um promotor de vendas fazendo o papel de consultor. “Explicando para a dona de casa qual pescado se adequa ao gosto dela, entregando receitas, brindes, divulgando nas redes sociais etc.” Mesmo com tantos desafios, ela acredita que com criatividade, parcerias e muita persistência, as empresas estão conseguindo introduzir o pescado na mesa dos brasileiros.

19

Dado o cenário atual, os desafios no PDV ainda são enormes. A pesquisadora Letícia Fernanda Baptiston coloca que entre as inúmeras possibilidades de atuações está o investimento nas embalagens. “Este é o momento ideal para investir em designs e formatos atrativos, que traga mais do que informações que o consumidor está buscando”, aponta. Por isso, Baptiston diz que é muito importante pensar em qual destino o consumidor dará para a embalagem.

“A Tilappi, distribuidora de pescado em São José dos Campos (SP), colocou uma alça reforçada e estilizou as caixas de isopor onde vende os filés de tilápia para que o consumidor possa usá-la em seu dia a dia. É uma experiência pós-consumo muito inteligente para o destino da embalagem”.

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Desafios no PDV


elementos como gordura animal, sangue, produtos domésticos e outros químicos como ácido clorídrico a 30% e branqueador a 40ºC.

Barba, cabelo e bigode

Na

Planta Tecnologia em processamento de pescado

Cortar a cabeça, eviscerar e escovar pescados promete ser uma tarefa mais fácil, ágil e eficiente. É o que promete a Branco Máquinas com o projeto de sua nova máquina, a Automatic Fish H.E.C 3932. De acordo com a empresa catarinense, a nova máquina foi pensada para processar os mais diversos tipos de peixes como tilápia, pescada gó, sardinha, panga, pintado, entre outros.

Sem levada louca A Trevisan destaca as caixas térmicas usadas para transporte de peixes vivos, alevinos e PLs de camarões. Com capacidade de levar uma grande quantidade de peixes de uma só vez, a água é mantida dentro do equipamento na temperatura ideal durante todo o trajeto independentemente da distância. Com um sistema de quebra de ondas, a caixa possui difusor removível para a descarga dos peixes e higienização do produto. A caixa está disponível em duas versões: 400 litros e 1.000 litros.

O que é bom dura muito A Prevemax, empresa de EPi’s impermeáveis e descartáveis, lança no mercado um avental totalmente feito de poliuretano (PU). Com ele, a empresa promete entregar um equipamento com durabilidade superior a 90 dias - considerando três lavagens por dia. Segundo a empresa, o avental ainda apresenta mais resistência a diversos

Para viagem

SEAFOOD BRASIL • DEZ/JAN 2021 •

20

A Ulma Packaging traz ao mercado a FS 400, sua nova embaladora flow pack horizontal. O novo sistema de embalagem de filme extensível retrátil visa obter embalagens que tenham uma excelente apresentação, mas sem deixar de lado a resistência a vazamento de qualquer líquido. Por fim, a novidade da empresa possui controle avançado e único para todo o sistema, além de facilidade para realizar trocas e ajustes, praticidade na operação e manutenção e custo operacional reduzido.


O poder do gelo em suas mãos A Danfoss anunciou uma nova versão do controlador de evaporador EKE 400, equipamento esse desenvolvido para operar em sistema de refrigeração industrial de qualquer porte. Com as mesmas funcionalidades de controle e otimização operacional no modo de refrigeração e degelo, segundo a empresa, o controlador é composto por um Sistema de Controle Distribuído (DCS), possui comunicação Modbus e gerencia toda a operação no modo de refrigeração e degelo, o que ajuda a proporcionar uma sequência ideal de degelo em sistemas com amônia, CO2 e HFC/HCFC.

Exterminador de coronavírus

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Em parceria com a AlpFilm, a Braskem lançou um filme plástico que pode eliminar o coronavírus. Trata-se do PVC Alpfilm Protect, produto transparente com micropartículas de prata e sílica que em 3 minutos, é capaz de inativar 79,9% e 99,99% em até 15 minutos. O novo filme, que pode ser usado amplamente para proteger alimentos, foi testado e aprovado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP e se torna um aliado importante dos frigoríficos na luta contra a Covid-19.


Capa

No meio da tabela Empresas ensaiam aumento de fluxo exportador de pescado, mas realidade ainda nos mantém distantes dos primeiros competidores do negócio mais rentável do planeta

SEAFOOD BRASIL • DEZ/JAN 2021 •

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Texto: Ricardo Torres

P

alavras de um europeu: “[Durante uma série de viagens ao Brasil], senti que não era fácil ‘lapidar’ e desenvolver esta potencialidade iminente. Mais tarde, percebi que era muito, muito difícil fazê-la progredir, evoluir, avançar, ampliar e expandir tendo, a determinada altura, me resignado ao fato de ser praticamente impossível conseguir uma estrutura

que transformasse o pescado em produtos atrativos para o mercado europeu. Mas, no fundo, bem no fundo, continuo a acreditar que o Brasil, será, num futuro próximo, um dos cinco maiores competidores internacionais de pescado.” A declaração acima, do consultor Miguel Bregieira, sócio-fundador da Relato Temporal, contém tudo o que

normalmente se atribui ao Brasil como competidor internacional no pescado. Estão ali a imensa potencialidade e as nossas dificuldades para convertêla em realidade, mas também uma crença de que faremos a diferença no mercado internacional em pouco tempo. “Um magnífico mercado de ‘diamantes’ fabulosos, ímpares, de enorme magnitude. Mas ‘em bruto’, um mercado onde ainda quase


Trocas globais Os mais de 190 países filiados às Nações Unidas produziram em 2018 cerca de 156 milhões de toneladas de pescado para consumo humano, segundo dados compilados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ ONU). Este volume produtivo rende um fornecimento global estimado em 20,5 kg per capita, mas apenas 36% de tudo o que o mundo do pescado produz é vendido pelos países a parceiros globais. Outros 22 milhões de toneladas são destinados a usos não alimentares, principalmente para produzir farinha de peixe e óleo de peixe. Isso correspondeu, em 2018, a uma receita de US$ 164 bilhões em trocas globais. Não por coincidência, nações pesqueiras - como a Noruega - ou aquícolas - como o Equador - têm o pescado como o segundo item na composição do Produto Interno Bruto, só atrás do petróleo. A China continua a ser, de longe, o maior exportador mundial de pescado, seguido pela Noruega. E ambos não param de crescer. Um levantamento do Rabobank de 2019 mostrou que os dois países adicionaram US$ 2 bilhões no bolso graças ao segmento entre 2012 e 2017. O negócio, porém, não

Por enquanto, ainda estamos em uma posição intermediária. Em 2018, dos 199 países e territórios que venderam pescado para outras nações, o Brasil apurou a 59º maior receita, no valor de US$ 277 milhões. Em uma comparação latina, o Chile faturou US$ 6,9 bilhões, praticamente empatando com a Índia no 4º lugar. Territórios insulares, como as Ilhas Seychelles e Ilhas Maurício estão na nossa frente. Ou seja, nesta corrida, ainda precisamos avançar muito. Nas próximas páginas, vamos traçar algumas rotas possíveis para chegarmos a este objetivo.

Alta no consumo global é puxada por emergentes O consumo per capita de pescado cresceu de 9,0 kg (peso vivo equivalente) em 1961 a 20,5 kg em 2018, cerca de 3,1% ao ano, constatou a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO/ ONU) na recente edição do State of The World Fisheries and Aquaculture (Sofia 2020). Este valor é quase o dobro do mundo anual em crescimento populacional (1,6%) para o mesmo período e superior ao de todos os outros animais e alimentos protéicos (carne, laticínios, leite etc.), que aumentaram 2,1% ao ano. Esta ascensão claramente veio dos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, o consumo saiu de 17,4 kg per capita em 1961, atingindo 26,4 kg per capita em 2007, e diminuiu gradualmente a partir de então para atingir 24,4 kg em 2017. Já nos países em desenvolvimento, o consumo de peixe aumentou significativamente de 5,2 kg per capita em 1961 a 19,4 kg em 2017, a uma taxa média anual de 2,4%.

TENDÊNCIAS NO COMÉRCIO DE PESCADO O pescado está entre as commodities mais comercializadas no mundo

1976 US$ 7,8 bilhões

Participação dos países em desenvolvimento para o negócio

38% valor

39%

volume 23

No presente, sabemos que toda a cadeia produtiva evoluiu em ritmo acelerado, especialmente na tilapicultura. Os dois dígitos de crescimento, porém, foram apenas suficientes para atender aos milhões de brasileiros que passaram a comer pescado com mais frequência. De maneira pontual, ensaiamos alguns passos nos últimos anos para participar do jogo mundial da proteína animal de maior rentabilidade global, mas ainda estamos muito distantes do que o mundo espera de um país com 8.500km de costa e a maior reserva de água doce do mundo.

depende apenas de gigantes globais. Fortemente focado na obtenção de altas produtividades na aquicultura, o Vietnã vem logo na sequência, seguido pela Índia. A participação de países em desenvolvimento, incluindo Equador, Chile e outros emergentes, só cresceu nos últimos anos: em 1976, estas nações representavam 39% do volume global, mas passaram a responder por 60% do volume em 2018.

2018

US$ 164 bilhões Fonte: FAO/Sofia 2020

54% valor

60%

volume

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tudo estava por fazer.” Bregieira se refere ao passado, por ter corrido o País em diversas ocasiões na última década para introduzir aqui produtos processados na Europa.


Capa

PROJEÇÃO DO COMÉRCIO GLOBAL DE PESCADO PARA CONSUMO HUMANO (PESO VIVO) EXPORTAÇÕES 2018

2030

1000 TONELADAS

2018

2030

1000 TONELADAS

CRESCIMENTO PROJETADO %

ÁSIA

20.901

23.660

13,2

17.183

17.740

3,2

8.171

8.708

6,6

4.398

4.667

6,1

Índia

1.398

1.351

-3,4

56

109

95,6

Indonésia

1.221

1.536

25,7

183

213

16,4

720

746

3,6

3.505

3.230

-7,8

Filipinas

420

422

0,5

554

545

-1,6

Coreia do Sul

590

675

14,4

1.866

1.949

4,4

1.779

2.145

20,6

2.041

2.106

3,2

Tailândia Vietnã

3.091

4.322

39,8

513

506

-1,3

ÁFRICA

2.957

2.763

-6,6

4.780

6.688

39,9

Egito

45

70

55,7

650

1.330

104,6

Nigéria

6

6

0,1

559

712

27,4

171

199

16,3

356

463

30,2

África do Sul EUROPA

10.881

11.793

8,4

11.701

12.377

5,8

União Europeia¹

2.806

2.892

3,1

8.318

8.678

4,3

Noruega

2.968

3.042

2,5

254

185

-27,3

Rússia

2.522

3.328

31,9

804

1.251

55,7

AMÉRICA DO NORTE

3.009

2.851

-5,3

6.312

6.502

3,0

Canadá

24

CRESCIMENTO PROJETADO %

China

Japão

SEAFOOD BRASIL • DEZ/JAN 2021 •

IMPORTAÇÕES

808

808

0,1

661

680

3,0

Estados Unidos

1.941

1.777

-8,5

5 649

5.820

3,0

AMÉRICA LATINA E CARIBE

4.613

5.106

10,7

2.478

2.975

20,0

Argentina

599

633

5,6

73

60

-17,9

Brasil

54

64

18,4

638

800

25,4

Chile

1.516

2.328

53,6

136

170

25,3

México

364

309

-15,2

519

635

22,4

Peru

800

414

-48,3

170

186

9,6

OCEANIA

907

882

-2,7

701

772

10,1

Austrália

59

47

-20,4

490

536

9,4

MUNDO

43.267

47.054

8,8

43.155

47.054

9,0

Países desenvolvidos

15.080

15.869

5,2

22.063

22.700

2,9

Países em desenvolvimento

28.187

31.184

10,6

21.092

24.353

15,5

¹Chipre está incluído tanto na Ásia quanto na União Europeia. O comércio intra-União Europeia está excluído. Fonte: FAO/SOFIA 2020


SEAFOOD BRASIL • DEZ/JAN 2021 •

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Capa

Copacol

Equipe da Copacol responsável pelo despacho de filés frescos aos EUA: início de uma jornada

Como aterrissar do sonho Chances de incrementar posição internacional são enormes: desde que haja estratégia, metas e organização setorial

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Q

uando o português consultado para esta reportagem finalmente descobriu o Brasil, ele ouviu da boca de pescadores de Calçoene, no Amapá: “Aqui o peixe morre de velho...”. Miguel Bregieira conta a história com o entusiasmo de quem viveu dias mágicos nos limites do Norte brasileiro, percepção aguçada por um agradável convite dos pescadores para o que ele descreveu como “um espantoso passeio marítimo”. Ao percorrer os afluentes locais do Amazonas, o executivo alega ter presenciado in loco o que aqueles trabalhadores queriam dizer. A convivência com os pescadores também lhe rendeu relatos tristes, sobre como grandes navios de pesca estrangeiros eram avistados capturando ilegalmente em águas brasileiras grandes

quantidades do nosso estoque, especialmente atum. Enquanto isso, pensava, há mercado para este pescado na Europa. Polvo, peixesapo, corvina, espadarte, pargo, marlimazul, atum e pescada amarela entraram em sua lista de produtos fortemente exportáveis. “Uma vez que se trata de peixe fantástico, de qualidade superior e em tão grande quantidade, desde que esta área evolua, seja fortalecida e prospere de uma forma organizada e otimizada, da pesca do produto até à apresentação do mesmo ao consumidor final europeu”, avalia Bregieira. Foi quando o sonho esbarrou na realidade local. A falta de estrutura adequada de desembarque, de indústrias de processamento locais, precária logística fluvial, alta informalidade e até denúncias de

corrupção e possibilidades de extorsão afastaram qualquer possibilidade de lapidar aquele diamante bruto do encontro das águas amazônicas com o Atlântico, de forma a levá-los às mesas dos ávidos consumidores europeus. Especialmente os países conectados com o Mar Mediterrâneo, cujo consumo ultrapassa os 7,5 milhões de toneladas por ano, conta Bregieira, exigindo a necessidade de importação de 5 milhões de toneladas por ano. “Em termos monetários, estamos diante de uma necessidade de importação anual estimada em cerca de US$ 25 bilhões, dos quais apenas a Itália responde por aproximadamente 40%.” Portugal, Espanha, França e Grécia completam a lista destes países. Até 2017, cultivamos o sonho de participar do grupo de fornecedores


que alimenta este apetite mediterrâneo pela proteína aquática. Mas novamente a realidade se impôs: uma série de atropelos governamentais e fragilidades do setor privado nos tiraram a possibilidade de cativar a União Europeia com o nosso pescado (leia mais no texto sobre a União Europeia, na pág. 34). “O Brasil sente falta da União Europeia, mas ela não é desculpa para a falta de desenvolvimento do setor”, avalia criticamente o presidente da Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescados do Mapa, Eduardo Lobo.

Piscicultura: potência germinada

O volume de tilápias exportadas aos Estados Unidos em 2020 aumentou

51% em volume e 18% em receita, para US$ 5,9 milhões. Isso corresponde a quase 10% do que o Brasil faturou com a venda de lagostas aos EUA no mesmo período, já que o crustáceo frequentou os espaços de alto padrão com preço médio de US$ 34 o kg. O volume, porém, foi praticamente o mesmo: 1.300 toneladas do peixe contra 1.400 toneladas da lagosta. O desempenho da tilápia foi o melhor desde o início da série histórica iniciada em 1997. Marcio Rodrigues, gerente de agronegócios da Apex-Brasil, considera as exportações de filé de tilápia fresco para os EUA um sucesso. “É um fator de agregação de valor ao produto nacional, visto que tradicionalmente o Brasil exporta pescado de forma inteira e congelada.” A construção de uma imagem positiva da origem brasileira do produto ganhou o reforço de certificações privadas, como Best Aquaculture Practices (BAP) e

Aquaculture Stewardship Council (ASC), em que as empresas investiram para atestar junto ao consumidor o seu comprometimento para com a qualidade do produto, bem-estar animal e sustentabilidade ambiental. Desde 2017, a Apex-Brasil vem intensificando o relacionamento com as principais entidades do setor e a SAP/ Mapa, com ações em prol do aumento das exportações nacionais. Eles citam a elaboração do Planejamento Estratégico em Agronegócios sobre o Setor de Aquicultura no Brasil e no Mundo, o Estudo de Mercado de Tilápia para os EUA e a participação nas principais feiras internacionais. Em outra frente, a Apex-Brasil e a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) estão trabalhando em parceria para a criação de um Projeto Setorial para apoiar a piscicultura, nos moldes dos já existentes para

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Enquanto a captura conseguiu conservar durante a pandemia a maior parte dos mercados conquistados pósembargo europeu, a aquicultura tentou abrir novos caminhos. A carcinicultura ensaiou uma reação, mas terminou o ano com as mesmas 200 toneladas de 2019 e se concentrou na alta demanda do mercado interno, deixando o protagonismo para a maior commodity mundial da aquicultura: a tilápia. A tilapicultura trabalhou com estratégia em plena pandemia, aproveitando-se do câmbio favorável e do momento de disrupção mundial para aumentar a participação em alguns mercados, especialmente o norte-americano.

Consultor português Miguel Bregieira vê a criação de clusters produtivos a saída para organizar a cadeia em prol da exportação

SEAFOOD BRASIL • DEZ/JAN 2021 •

De acordo com o Painel do Pescado (leia mais na seção Estatísticas desta edição, na pág. 44), o Brasil exportou para 110 países em 2020, incluindo alguns tão pouco usuais como Eslováquia, Mongólia, Belarus, Tanzânia, Gâmbia, Gana e Venezuela, aos quais não havia vendido nenhum kg de pescado em 2019. Roraima foi o Estado onde as exportações de pescado mais cresceram em tonelada (+429%), seguido pelo Paraná (+196,7%) e Amapá (+121,6%).


Capa

O cluster do mar Atrair investimento, aumentar o volume de negócios das exportações, através do aumento da penetração nos mercados internacionais e do aumento de valor acrescentado dos produtos, sempre de forma sustentável. Estes seriam os objetivos para a formação de um Cluster do Mar, um arranjo técnico-político-empresarial para formar pólos produtivos exportadores de pescado, na visão do consultor Miguel Bregieira.

“No âmbito de vários estudos e trabalhos de consultoria que tive a oportunidade de realizar para empresas ligadas a um cluster do mar, posso revelar alguns dados econômicos, para termos uma ideia mais concreta do que estamos a falar. Por cada milhão de dólares exportados, são criados 18 postos de trabalho diretos e obtém-se US$ 490 mil de Valor Adicionado Bruto. O cluster precisa criar e desenvolver estratégias de cooperação entre as várias entidades da administração pública, associações de produtores, empresas, escolas profissionais e universidades, centros de investigação e desenvolvimento tecnológico, para que, de forma sustentável, promova o crescimento económico e consiga dinamizar as exportações e criar postos de trabalho diretos e indiretos. O desenvolvimento do cluster será, inevitavelmente, responsável pelo desenvolvimento de empresas e organismos ligados ao setor, nomeadamente na construção naval (construção de barcos-fábrica), na manutenção e nas reparações navais que se revelem necessárias, bem como na criação, desenvolvimento, fabricação e aplicação de petrechos navais e de pesca.

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• escolas profissionais e universidades; • auditores e certificadores de qualidade; • utensílios e ferramentas para a pesca e indústria; • indústria de refrigeração e congelamento; • indústria de embalagens; • serviços de design; • empresas de transportes adequados; • empresas de tratamento de resíduos; • maquinaria para as indústrias de pescado (linhas de produção, linhas de envase etc); empresas e serviços de estiva (cargas e descargas); • vasto conjunto de serviços auxiliares (engenharia, arquitetura, informática, robótica, qualidade, inspeção etc).”

as demais proteínas, como carne bovina (Abiec/Brazilian Beef), aves e suínos (ABPA/ Brazilian Chicken, Brazilian Egg, Brazilian Pork e Brazilian Breeders), como forma de aumentar a demanda do produto brasileiro e incentivar a produção nacional, criando para as empresas brasileiras mais oportunidades para comercializar seus produtos. A Embrapa Pesca e Aquicultura também teve participação determinante no processo. Em parceria com a Peixe

BR, viabilizou junto ao Ministério da Economia a implementação do regime aduaneiro de drawback para as exportações de tilápia. O dispositivo consiste em um incentivo fiscal à exportação que permite a importação ou a aquisição no mercado interno desonerada de alguns tributos, como IPI, PIS, Cofins e ICMS, de insumos a serem empregados na produção de bens destinados à exportação. Estimativas da Embrapa indicam que o custo de produção da tilápia pode sofrer uma redução de 12% a 37%

Apex-Brasil

Esse cluster poderia ser ainda responsável pelo desenvolvimento de:

Marcio Rodrigues, da Apex-Brasil: piscicultura terá projeto setorial nos moldes de bovinos, suínos e aves

pela diminuição dos custos dos três insumos desonerados - ração, alevinos e vacinas. Apesar dos inúmeros competidores globais, a aposta do Brasil na tilápia é bem vista no exterior. O trader equatoriano Fabricio Amador, que comercializa pescado em toda a América Latina e do Norte, coloca o produto como uma grande chance de o Brasil prosperar nas vendas externas. “Sem dúvida, a tilápia é onde há mais oportunidades, principalmente nos EUA para produtos frescos e também a alguns países da América do Sul. Com o filé congelado também há oportunidades, já que os EUA são um grande comprador”, indica o especialista. Ele também aponta um caminho com itens de valor agregado. “Os produtos prontos para consumo


Netuno USA descarrega em armazém frigorificado na Flórida: Brasil perdeu participação em 2020

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É com estas características que as cooperativas do Paraná deram passos mais firmes rumo à exportação em 2020. A Copacol apostou em subprodutos, como pele e escama, mas também iniciou a participação no filé resfriado para os EUA. “Acreditamos que podemos mudar o conceito da tilápia no EUA com o filé resfriado, diferenciando

Netuno USA

vêm com muita força e isso ajuda a melhorar as margens do produto commodity”, diz. “Mas, obviamente, isso envolve processo e inovação. O Brasil consegue fazer esses produtos de ‘super valor agregado’ porque tem boa tecnologia, mão de obra qualificada e um mercado interno muito grande que pode consumir os excedentes.”


Capa

Netuno USA

Sustentabilidade em pauta: barco de fibra para a captura do pargo no Pará incluiu covo com malha para escape de exemplares menores e sistema de recolhimento sem danos aos corais

do filé congelado da China que não tem boa aceitação”, avalia Valdemir Paulino dos Santos, superintendente comercial da Copacol.

SEAFOOD BRASIL • DEZ/JAN 2021 •

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A C.Vale segue a mesma trilha, embora os embarques estejam em caráter inicial, como ressalta o gerente do frigorífico de peixes, Jair de Sordi. “Temos muito a desenvolver e acreditamos que podemos ser muito competitivos, assim como as demais proteínas brasileiras”, projeta. O primeiro carregamento, de 820 kg, foi transportado em caminhão frigorífico de Palotina a São Paulo e da capital paulista seguiu de avião para Miami, no dia 20 de outubro. Em dezembro de 2019, a C.Vale começou a exportar filé congelado de tilápia ao Japão. Sordi lamenta o embargo europeu, um dos alvos desde a construção do frigorífico de peixes. “Com o fechamento desse mercado, tivemos que buscar outros mercados como o Japão e os Estados Unidos. O Brasil precisa retomar as exportações para Europa para dar mais força e continuidade no crescimento da cadeia”, acrescenta. Juntas, as cooperativas paranaenses saíram de 100 para 400 toneladas de tilápias exportadas, aproximadamente. Mas o maior volume da categoria continua com a GeneSeas - foram mais de mil toneladas exportadas em 2020, crescimento acima de 17% sobre 2019. Tudo isso, apesar das restrições e consequências pandêmicas. “Até maio e junho mantivemos nosso volume

de fresco. Mas com a dificuldade de encontrar voos nas companhias aéreas parceiras, com American Airlines, United Airlines e Air Canada, ficamos muito limitados”, resgata Tyeme Tanaka, coordenadora de exportação da empresa.

2020) e a Índia com -14% (305.661 para 260.871 toneladas).

A GeneSeas tem um histórico de sucesso nos EUA, que culminou com a aquisição do próprio distribuidor norteamericano, a Tropical Aquaculture Products Inc., em março de 2020. O movimento pode ter surpreendido muita gente, mas não tem nada de aleatório. Em 10 anos, o Brasil cresceu 10 mil toneladas no volume exportado aos EUA. Em 2020, os Estados Unidos importaram do Brasil 19.066 toneladas de pescado contra 20.586 toneladas do ano passado, um decréscimo de 7% no período. Em termos de valor, a diminuição foi mais significativa, chegando a quase 20%. Já em termos globais, isso ainda é muito pouco: a importação de filé congelado de tilápia pelos EUA em 2020 foi de 107.167 toneladas, ou seja, a fatia brasileira representou menos do que 0,2%.

Os Estados Unidos seguem importando grande parte do pescado que consomem. Em 2019, foram US$ 22,5 bilhões importados e, no ano passado, pouco menos de US$ 20 bilhões. Além da tilápia, a pauta envolve as principais commodities internacionais, como camarão, salmão e atum. Se o Brasil quiser expandir sua fatia com estes e outros produtos, terá de se qualificar ainda mais. “A cadeia do pescado brasileira precisa se organizar e se preparar. Recentemente temos observado, por exemplo, um aumento na exigência de comprovação de rastreabilidade do produto que entra”, diz Brugger. Ele indica que o NOAA iniciou em 2018 o Seafood Import Monitoring Program (SIMP) com apenas algumas espécies, mas a FDA deverá, já em 2023, solicitar que qualquer pescado seja rastreável desde a captura/fazenda até o prato do consumidor. “Cada elo da cadeia produtiva terá de ter responsabilidade para rastrear seu produto, desde a origem até o seu próximo elo.”

Os dados são da agência norteamericana NOAA e foram levantados por André Brugger, gerente de sustentabilidade da Netuno USA. Ele mostra que o Brasil perdeu participação na pandemia. “Alguns dos grandes exportadores para os EUA até mesmo incrementaram suas exportações: o Chile passou de 232.488 toneladas em 2019 para 246.787 em 2020, a Indonésia foi de 208.021 para 218.356 toneladas, enquanto a Tailândia foi de 203.511 para 219.151 toneladas e o Equador de 127.633 para 154.249 toneladas.” Por outro lado, analisa o executivo, alguns países perderam mercado proporcionalmente até mesmo mais que o Brasil, tais como a China, com decréscimo de 13% (435.431 toneladas em 2019 contra 374.884 toneladas em

Como gerente de sustentabilidade, Brugger bate muito na tecla da certificação, tanto de qualidade (com protocolos internacionais de segurança alimentar) quanto de sustentabilidade. “Por isso, estamos investindo tanto na certificação da pesca do pargo do Norte do Brasil. Sem certificação, esses produtos perdem espaço por produtos similares proveniente de países que já conseguiram”, diz. No caso das commodities como tilápia e camarão, diz ele, o produtor/exportador tem que estar preparado para uma ferrenha competição. No entanto, o mercado já existe e está “aberto e demandando”. “Já nos produtos especiais (espécies nativas, cortes diferentes, produtos com algum componente de inovação), o desafio estará sempre em achar espaço para o ‘novo’”, conclui.

Apetite yankee


Paradoxo da competitividade Grãos e recursos naturais põem Brasil em vantagem, mas alto custo na indústria e mentalidade exportadora de matérias-primas desafiam conquista global

U

ma das chaves para o Brasil abrir a porta do mercado externo está lá fora: preços globais. Até o momento, o País baseia suas estratégias de expansão internacional nas commodities, produzidas hoje em todos os continentes. Para entrarmos como um competidor em volumes expressivos, precisamos ter preço. “O negócio só é eficiente se sobrevive a preços internacionais. Posso até trabalhar o mercado interno com remuneração melhor, mas preciso produzir com competitividade para poder vender e permanecer no exterior”, explica Lobo, da Câmara da Indústria de Pescado do Mapa e sócio da Prime Seafood - especializada na exportação de lagostas vermelhas.

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C.Vale

Exportação de filé fresco de tilápia pela C.Vale: câmbio nos dá vantagem momentânea até conseguirmos baixar os custos de produção

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Tomemos a tilápia como comparação. O preço médio do peixe vivo comercializado no exterior no ano passado foi de US$ 1,73 o kg, enquanto os filés frescos ficaram em US$ 6,28, de acordo com os dados do Painel do Pescado. O levantamento do Globefish, da FAO/ONU, mostra que os nossos competidores de filé fresco têm uma ligeira vantagem sobre nós: Honduras, Colômbia ou México venderam a um preço médio de US$ 6,17 no primeiro semestre de 2020. Já a


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Pargo é uma das principais espécies de captura exportadas pelo Brasil

tradicional de tanque-rede em reservatório pode superar os R$ 7,10.

Netuno USA

Convertendo para o câmbio do fechamento desta edição (US$ 5,43), temos um primeiro preço de US$ 0,82 para a tilápia inteira, mas a um custo de US$ 1,30 no sistema menos eficiente. Ou seja, até para a venda no mercado interno tem muita gente pagando para trabalhar. Se avançarmos para a indústria, a Embrapa Pesca e Aquicultura fez levantamentos prévios que indicam um custo de saída do frigorífico (considerando frete, filetagem e embalagem) superior a R$ 18. Em dólar, estamos falando de US$ 3,31.

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China permanece imbatível. Os filés congelados chineses foram vendidos aos EUA a US$ 3,30 o kg, enquanto a tilápia inteira vendida na própria China oscila entre US$ 1,16 e 1,25. Intimamente conectadas aos mercados de commodities aquáticas, as empresas asiáticas monitoram o comportamento do Brasil e constatam a falta de competitividade depois da porteira. “Acredito que os custos da aquicultura sejam competitivos, mas tenho a sensação que quando chega no processamento, o Brasil perde a vantagem. Poucas empresas possuem a cadeia integrada no Brasil e exportam. Menos players ainda possuem o volume necessário para competir com as grandes empresas lá de fora quando falamos em atender

os grandes contratos globais”, constata Felipe Katata, analista comercial sênior da Mitsubishi Corporation do Brasil. “ A desvalorização do real ajuda muito nessa equação, mas a indústria tem que se mostrar eficiente e competitiva em qualquer cenário cambial”, diz. A julgar por uma cartilha de custos de produção da tilápia divulgada recentemente pelo Mapa, nossa competitividade também depende do sistema produtivo. O preço de primeira venda da tilápia fica entre R$ 4,20 e R$ 4,54, mas o negócio só é lucrativo em sistemas intensivos com pouca troca de água. Para se ter uma ideia, o investimento por kg produzido em um sistema

As cooperativas, profundamente inseridas na economia de escala do agronegócio, são as que têm mais chances de fazer frente aos preços chineses para os filés congelados. Totalmente verticalizadas, a C.Vale e a Copacol têm capital para automação e mecanização, de forma a reduzir a mão de obra e aumentar a eficiência. Ainda assim, Paulino dos Santos, da Copacol, não vê grandes chances de se sobressair. “Não somos competitivos no congelado, perdemos longe para a China. Nosso custo de produção no campo é competitivo, mas o de processamento não.” As empresas nacionais que produzem nos sistemas em tanquesrede apostam no trabalho de marca, especialização e certificação para progredirem em mercados de nicho, como o filé fresco aos EUA. No caso da GeneSeas, em torno de 20% da receita da empresa foi advinda da exportação, incluindo subprodutos, como escamas secas, farinha de peixe e pele congelada. Mas as certificações foram determinantes para abrir mercados de alta exigência de produtos para consumo humano. A GeneSeas tem três certificações: Best Aquaculture Practices (BAP), Aquaculture Stewardship Council (ASC) e HACCP.


André Brugger, da Netuno USA - sem relação com a homônima brasileira -, lamenta que a busca por certificação fique concentrada nas empresas aquícolas. “Nossa frota está bem sucateada e as plantas de processamento de peixes marinhos não têm investido muito em tecnologia e qualidade.” Basta ver, segundo ele, que nenhuma tem certificado internacional de segurança alimentar, como, por exemplo, o British Retail Consortium (BRC). As normas mais reconhecidas no mercado europeu são a BRC e a International Featured Standard (IFS), certificações requeridas por todos os supermercados e pela grande maioria dos distribuidores de foodservice, operadores fundamentais para estabelecer os negócios internacionais. “As vendas diretas a estes operadores sem intermediários na cadeia de

Para além da organização, formalização e certificação das capturas, Bregieira acha que o Brasil tem de inverter a lógica do perfil exportador de matérias-primas. “Em vez disso, é preciso colocar nas gôndolas produtos finais com qualidade”. Ele aponta que várias espécies de peixe branco, cujo pequeno porte não permite filés generosos, podem ser processadas de forma a contemplar as exigências por fish blocks - itens extremamente demandados para as indústrias de empanados. Segundo Bregieira, o consumo na Europa de fish fingers (bastões empanados de peixe) beira 15 bilhões de unidades por ano. Se assume uma produção focada em parceiros dedicados aos fish blocks, o Brasil se capacitaria a ter uma indústria muito competitiva no mercado internacional, sem ignorar a necessidade destes

produtos no mercado interno brasileiro. “O fish finger foi desenvolvido na Inglaterra há 65 anos. Será que um alemão, um finlandês, um inglês ou um sueco resistiriam a uma isca de peixe “tradicional” brasileira?” A última meta, na visão dele, seria alcançar a produção de refeições prontas à base de pescado. “Para mim, não é muito difícil imaginar o sucesso na Europa de uma moqueca de peixe ou de um camarão ao leite de coco e curry, em embalagem individual, para aquecer no microondas em 4 a 6 minutos”, sugere. Katata, da Mitsubishi, acha que na Ásia o comportamento seria similar. “As pessoas buscam soluções inteligentes de consumo e possuir diferentes tipos de apresentações, ajuda a posicionar melhor o país como parte dessa solução. Isso também otimiza o frete internacional, estocagem e apresentação no ponto de venda, além de contribuir para o desenvolvimento de toda a cadeia de valor. Quanto mais opções temos à disposição, mais interessados ficamos em considerar o país como origem”, sinaliza. Temos de preparar, empacotar e vender o Brasil como esta opção.

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Captura precisa ser qualificada

valor é essencial para tornar os produtos competitivos no ponto de venda e a forma mais rápida e eficaz de compreender as exigências do mercado de destino, de forma dinâmica através do canal direto produtor – supermercado/distribuidor”, avalia o consultor português Miguel Bregieira.

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Em 2016, a Netuno havia recebido também a certificação ASC. “Com certificações internacionais, atestados de sustentabilidade e rastreabilidade do produto, você alcança este nicho que paga o prêmio”, avalia Lobo.


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UE: ficamos para trás Enquanto governo joga ao setor privado a responsabilidade da reabertura do mercado, europeus dizem que outros países ocuparam facilmente a lacuna deixada pelo Brasil

N

o ano que vem, completaremos 5 anos sem poder exportar à União Europeia. Aparentemente, nem eles e nem nós sentimos um grande golpe. Se em 2017 faturamos com vendas externas US$ 246 milhões, no ano seguinte passamos a US$ 261, de acordo com dados do Painel do Pescado. Com o câmbio favorável e produtos de nicho, como as lagostas, subprodutos e peixes extrativos, os exportadores brasileiros conseguiram redirecionar o fluxo a outros mercados. Graças a esta renovação, rompemos em 2019 a barreira dos US$ 300 milhões, chegando mais perto do nosso próprio recorde histórico - US$ 418 milhões em 2003, no auge da carcinicultura. No caso da Europa, o impacto da saída do Brasil no abastecimento foi superficial. Segundo o médicoveterinário Alberto Berga Monge, auditor da União Europeia, o Brasil exportava 11 toneladas por ano de produtos congelados. “Isso representava aproximadamente 53 milhões de euros anuais, frente a um

consumo de 12 milhões de toneladas, que resultam em um consumo de 24 kg por habitante europeu”, indicou o especialista. As informações foram concedidas aos sócios da consultoria Lex Experts, Sarah de Oliveira e Gustavo Faria, a pedido da Seafood Brasil. A Lex é parceira da Fundação Verakis, que promoveu entre janeiro e fevereiro um curso especial sobre a pesca e pescado na União Europeia.

as Instruções Normativas nº° 56 e 57, a primeira para “avaliar empresas com interesse em ser certificadoras de embarcações pesqueiras” e a segunda que “Estabelece os critérios de Controle Oficial de Conformidade das Condições Higiênico-Sanitárias de Embarcações Pesqueiras”, que fornecem matériaprima para o processamento industrial de produtos da pesca destinados à União Europeia”.

Com informações de Berga Monge, Faria frisa que a Europa importa de fora do bloco 25% de tudo o que consome de pescado. “Apesar de, proporcionalmente, não parecer muito significativo, nos chamou atenção ele dizer que as 11 toneladas que o Brasil exportava foram rapidamente supridas pela China e pela Índia.” Como Faria salienta, agora com o mercado ocupado, os brasileiros terão de fazer todo um novo esforço para reconquistar este mercado.

Para a SAP, a DG Sante responsável pela política europeia de saúde e segurança dos alimentos - só aceitaria enviar uma nova auditoria se houver alguma embarcação habilitada pelo Mapa de acordo com as exigências europeias. Durante a participação na última reunião do ano da Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescados, em novembro, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, sustentou esta versão e cobrou a cadeia. “Não tenho como pedir nada se não tivermos uma quantidade significativa de barcos cadastrados, ou então não conseguiremos pedir para desatrelar um setor do outro”.

Aparentemente, o governo federal considera que já fez sua parte. Em 31 de outubro de 2019 o Mapa publicou

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Mesmo com 5 anos sem poder exportar para a União Europeia, presença do Brasil no abastecimento local foi pouco sentida


O decreto também divide a responsabilidade do fornecedor ou armador pela segurança do alimento com o estabelecimento responsável, como a indústria de processamento, que deve incorporar estes locais intermediários em seus planos de autocontrole. Tudo isso, no entanto, requer investimento, mas essa não parece ser a prioridade no momento. “Não percebemos que os

empresários sintam segurança de fazer esse investimento, parece realmente que um está esperando pelo outro”, ressalta Oliveira, da Lex. A pandemia certamente retardou o processo, que havia ganhado novo impulso a partir do treinamento de consultores da FAO, viabilizada pela SAP, e o credenciamento de técnicos competentes para certificar embarcações. A Lex foi uma das empresas credenciadas. “Considerando que o Mapa não tem braço para fazer esse trabalho sozinho, credenciar técnicos competentes nessa área é o único caminho possível para essa certificação”, acrescenta.

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oriundo da produção primária não for realizado diretamente no estabelecimento sob SIF, deve ser realizado em um local intermediário, sob controle higiênico-sanitário do estabelecimento.

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Para o presidente da Câmara Setorial, Eduardo Lobo, as modificações trazidas pelo novo RIISPOA facilitam a adaptação às medidas exigidas pela Europa, mas ainda há desafios. “Uma das maiores dificuldades que tínhamos era a exigência de um cais sob Serviço de Inspeção Federal (SIF) para o desembarque pesqueiro. Assertivamente, as modificações do RIISPOA criaram a figura dos locais intermediários de desembarque.” O artigo 207-A do Decreto 10.468/2020, que dispõe sobre o regulamento da inspeção de produtos de origem animal, prevê: quando o desembarque do pescado


Multivac

Multivac

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Para as operações de co-branding ou marca própria, embalagens refinadas são um passaporte para vendas externas

Tecnologia exportadora Despertar das indústrias para a exportação anima fornecedores de maquinário, que apostam no aumento das encomendas de soluções modernas, automação e integração com software

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O

funil está cada vez mais apertado: a expansão da oferta e consumo no mercado interno e a internacionalização do pescado brasileiro vão promover uma busca intensa por melhores resultados. Aos poucos, a disputa passa a ser por centavos, o que acelera a jornada tecnológica das empresas e torna mais atentos os fornecedores de sistemas e equipamentos para o processamento. “A eficiência deve ser buscada de ponta a ponta na cadeia e cada vez mais se requerem decisões rápidas de ajustes de processos. Com o uso de ferramentas tecnológicas adequadas, esta decisão se torna mais ágil e assertiva. Portanto, a ampliação de mercados internacionais depende de novos investimentos em tecnologia”, crava Roberto Pavan, diretor da Atak Sistemas.

O mercado já oferece várias opções de sistemas para indústria de alimentos, mas a especialização ganha cada vez mais adeptos. “Soluções especialistas em seu segmento, que sejam desenvolvidas por quem conhece o processo industrial nos detalhes”, acrescenta Pavan. É uma filosofia de trabalho similar à da Aquabit, que busca oferecer expertise na integração de operadores verticalizados, como as cooperativas. “Nossa preocupação vai desde o alojamento dos animais nos tanques até o abate e beneficiamento nos frigoríficos e cooperativas”, avalia Ailton Rodrigues, CEO da Aquabit. Ferramentas como estas permitem o controle de custos da água à embalagem, o que é um ponto a favor da aquicultura. “Os frigoríficos e cooperativas podem acompanhar de forma integrada como está o desenvolvimento dos animais nos tanques dos produtores, através da

previsão de despesca, como também a eficiência da produção no rendimento de filés e outros indicadores”, diz Rodrigues. Só o sistema não faz o trabalho sozinho, porém. Os investimentos constantes dos grandes frigoríficos têm modernizado o parque industrial do setor, de forma a dar conta da demanda aquecida internamente. Se embarcarmos na exportação, cujos sinais já estão em curso, isso certamente irá se acentuar. “No ponto de vista dos frigoríficos, todos vêm buscando equipamentos que proporcionem alta produção, aliada ao alto rendimento final do produto”, conta Ambrózio Bacca, gerente comercial da Brusinox. Em 2020, a empresa apurou crescimento próximo a 30% nas vendas do segmento, e espera crescer na mesma proporção neste ano.


Fórmulas de eficiência como essa fazem brilhar os olhos de qualquer gerente industrial, mas elas exigem engajamento humano para a integração homem-máquinasoftware. “Não basta somente ter bons equipamentos de alta eficiência

mecânica e automação, mas [é preciso] fazer a gestão do processo com base em uma máquina que seja uma ferramenta de auxílio e fornecimento de informações para a tomada de decisões”, completa Bacca. A experiência também conta. O executivo relata que a empresa trabalha desde a década de 1980 na fabricação de equipamentos com base nas normas do Serviço de Inspeção Federal e também da Food and Drug Administration dos EUA. “Atendíamos empresas que exportavam para os EUA camarão, peixe e lagosta, o que nos fez enxergar que tínhamos capacidade de trabalhar com clientes no mundo todo.” De fato, a empresa sediada em Brusque

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A conta da eficiência é clara: “Estamos falando de um cliente que faz 810 g na mão e na máquina faz 801 g.” Para uma planta que produz 8 horas por dia, são 80 kg de produto por dia, 400 kg por semana e 1.000 kg de economia/mês. O raciocínio convenceu diversas empresas. Só em 2020, Queiroz afirma ter fabricado 40 máquinas do gênero e já tem outras 40 encomendas para este ano.

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O aquecimento também beneficiou a MQ Pack, focada em soluções de embalagem que diminuam o custo final do produto pelo aumento do lucro e competividade das empresas. Uma das máquinas faz automaticamente o melhor cálculo de rendimento de peças por embalagem que chega a economizar 10 g de produto por pacote. “Quando o operador faz isso manualmente, ele coloca 700 g de produto em um pacote de 800 g. Depois de visualizar as opções na mesa, ele coloca uma peça que acaba extrapolando o peso da embalagem”, explica Marcos Queiroz, CEO da empresa. “O operador tem 20 opções. Afinal, nossa máquina tem 16 mil combinações.”


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A rota da modernização tecnológica Na busca pela competitividade nas vendas externas, os processadores precisam ser:

Fonte: Iago Torres, diretor regional de vendas da Marel para a indústria de pescado

(SC) também se internacionalizou: no ano passado, mais de 32% da produção da Brusinox foi vendida ao exterior, segundo o executivo.

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Multinacionais tecnológicas Com uma avenida aberta em todo o universo do processamento global do pescado, as grandes corporações tecnológicas também estão sintonizadas com a ascensão brasileira no negócio. Em alguns segmentos de alta performance no exterior, como embalagens de alto padrão, a evolução até o ano passado havia sido sutil. “Embora o mercado de embalagens de pescado tenha avançado muito timidamente no Brasil nos últimos anos, a pandemia iniciada em 2020, está, agora, contribuindo com a aceleração deste processo”, avalia Daniela Brito, especialista em marketing da Multivac. A redução de tempo nas gôndolas e a busca por maior segurança dos alimentos aceleraram a tendência de itens embalados no mundo. “Além disso, o food delivery também cresceu e

Marel

• Mais ágeis e muito mais flexíveis: a fim de atender às imensas exigências do mercado. • Mais otimizados: para alcançar o maior rendimento possível de nossas matérias-primas e assim, reduzir o desperdício. • Mais transparentes: serem capazes de rastrear os alimentos desde a origem até o consumidor final. • Proativos e mais inteligentes/conectados (Indústria 4.0): para ajudar a melhorar os principais indicadores de produção, como produtividade ou qualidade dos produtos finais. • Mais conectados e interligados: para que se possa agir nos processos em tempo real e garantir a entrega de todos os pedidos.

Controle dos processos, integração homem-máquina-software e rastreabilidade são marcas da eficiência de empresas exportadoras

vem crescendo rapidamente, exigindo dos fornecedores de alimentos, embalagens práticas, seguras e aptas para distribuição até o consumidor final”, completa. Diante do cenário, a Multivac se considera ansiosa para introduzir soluções já comuns no exterior, como a embalagem skin também conhecida como segunda pele. Se o Brasil apostar pelo desenvolvimento de marcas próprias e forte posicionamento de marketing, terá de investir em embalagens que garantam shelf-life, facilidade para transporte e estética para atrair consumidores em outros mercados. “Se olhamos para o Chile, por exemplo, que está muito mais avançado na exportação de pescado, veremos embalagens sendo desenvolvidas nas fábricas locais para o mercado B2C, agregando assim maior valor ao produto exportado”, sublinha a executiva. O escopo é amplo, do vácuo à atmosfera modificada. “Isso inclui desde máquinas mais simples para sacos a vácuo, até termoformadoras

que podem embalar os produtos com uma segunda pele. O equipamento e tecnologia mais adequadas dependerão tanto do produto, quanto do mercado final.” A flexibilidade nas soluções também é central, segundo a experiência da Marel. Iago Torres, diretor regional de vendas para a indústria de pescado, considera que a versatilidade nas linhas e equipamentos permite “que os processadores se adaptem à sazonalidade de produção ou a uma oferta maior de produtos finais”. Os métodos de processamento de pescados diferem entre continentes, regiões e até mesmo dentro do próprio país e também do tipo de espécie trabalhada. “É neste ponto que nossos especialistas podem auxiliar, encontrando a melhor solução para reduzir o tempo de processamento, com maior rendimento, produtividade, rentabilidade e menor manuseio e sobrepeso”, garante. Os fabricantes tentam vender seu peixe, para vendermos melhor nosso peixe lá fora.


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Na

Gôndola A oferta de peixes, crustáceos e moluscos

Para qualquer ocasião Pensando em oferecer praticidade ao público, a Brazilian Fish traz ao mercado a trouxinha de tilápia. Dividido em pacotes de 400 g, o produto é feito com caldo de peixe e recheado com creme de tilápia e requeijão. No entanto, a trouxinha também pode ser preparada para ser servida como aperitivo, para o consumo como salgadinho.

Sem coral e com mais sabor A Opergel, importadora e distribuidora de pescados no Brasil, está lançando no mercado uma novidade para seus clientes. Trata-se das vieiras americanas sem coral. Disponíveis em caixas

institucionais de 10 kg – cada uma contém 10 pacotes de 1 kg -, o objetivo da empresa é oferecer ainda mais praticidade aos chefs profissionais ou amadores no preparo das vieiras, sem deixar de lado o sabor.

De olho na Semana Santa A Noronha Pescados, que já aumentou as importações de salmão fresco do Chile para atender aos clientes de sushis no Nordeste, lançou dois produtos com a cabeça na Semana Santa: o lombo de salmão embalado a vácuo, produto de 500 g; e as porções de salmão fresco, disponíveis em embalagens com atmosfera modificada (ATM).

Adeus, lombo de bacalhau com espinhas Para contemplar os fãs de um bom lombo de bacalhau, a Riberalves lançou o lombo de bacalhau sem espinhas. Previamente dessalgado e ultracongelado, o novo produto tem tempo de cura de 9 meses e está disponível em caixas de cartão de 450 g, cada uma delas com 3 unidades.

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Um é pouco... A fim de deixar suas opções de produtos mais completa, a cooperativa Copacol está apresentando o filé de salmão. A novidade da empresa vai chegar nas prateleiras dos mercados em três tipos de embalagens: filé de

salmão individual, com 125 g; filés em pedaços congelados separadamente em porções de 400 g; e filé inteiro de 800 g. Pensando em oferecer uma alimentação saudável a seus consumidores, ainda de acordo com a cooperativa, além de ômega 3 e potássio, os novos produtos também possuem vitaminas B e D.

Empanado é mais gostoso Especializada na produção, comercialização, importação e exportação de produtos alimentícios com foco principal no setor de pescado, a Seabev International traz para o mercado brasileiro um produto ideal para quem gosta de refeições mais crocantes. Tratase da farinha de empanar Hinata, produto importado da China e indicado para empanar no estilo panko - muito comum em algumas vertentes da culinária oriental.


Pequeno em tamanho, grande em sabor O polvo baby é a última novidade da Docemar Pescados no mercado. Quase do tamanho de uma caneta esferográfica, o polvo pesa aproximadamente 500 g e, apesar de ser menor, traz todo sabor característico deste molusco marinho. Por fim, de acordo com a empresa, a ideia é que o polvo baby seja um protagonista de peso em pratos da gastronomia atual.

abóbora e arroz com coco. A opção busca a praticidade, já que basta aquecer o produto e consumir. Ainda segundo a empresa, a ideia é que com esta nova opção seus clientes tenham mais tempo livre para aproveitar as pausas de suas rotinas, sem abrir mão do prazer em comer algo gostoso.

Pratos cheios de variedade A Iberconsa está lançando um produto que vai aumentar a variedade da linha Nós. É o Directo al Plato, uma nova gama de pratos prontos com inspirações mediterrâneas que unem pescado, massa ou arroz e vegetais. A nova linha inclui as seguintes receitas: merluza marinera com arroz; linguine com camarão

selvagem e ervas finas; fusilli com camarão selvagem e molho de ervas; e merluza da biscaia com arroz. Futuramente, a ideia da empresa é ampliar o Directo al Plato com salmão e bacalhau.

Sem deixar de molho Lombo de Bacalhau, Postas de Bacalhau, Bacalhau Desfiado e Bolinho com Bacalhau. Esses são os lançamentos da Aurora no mercado brasileiro. De acordo com a empresa, o bacalhau passa pelo processo de salga e dessalga em Portugal, modalidade que permite o congelamento e procura facilitar a vida do consumidor.

Praticidade em tempos de pandemia

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Quem já se familiarizou com a tilápia na pandemia vai ter agora mais uma ferramenta de praticidade. A GeneSeas está lançando os pratos prontos de filés com purê de


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Estatísticas

Déficit em queda Importações despencam com Covid e balança comercial tem diferença entre exportações e importações em níveis de 2010

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Texto: Fabi Fonseca e Ricardo Torres

A

Covid cobrou seu preço também para as importações de pescado. As compras externas de pescado (cat. 03 e posições 1604 e 1604) entre janeiro e dezembro de 2020 foram de 296,9 mil toneladas, 11% menos do que no ano anterior, com um dispêndio 29,3% menor - totalizando um gasto total com pescado importado de US$ 896.299.078. O preço médio ficou em US$ 3.018 por

tonelada, uma queda de 20,5% sobre os 12 meses do ano anterior. Os dados são do Painel do Pescado.

2019, o preço médio e a receita tiveram queda de 15,3%, enquanto o volume pouco variou menos de 0,5% - -0,0075%.

Já as exportações atingiram em todo o ano passado um volume de 46.801 toneladas, com receita correspondente de US$ 260.155.152 milhões, a um preço médio de US$ 5.558 por tonelada. Na comparação com o mesmo período de

Com isso, o déficit da balança comercial brasileira caiu 34% em receita e 13% em volume. A diferença entre o valor gasto com importações e arrecadado com exportações de pescado, que era de quase US$ 1 bilhão em 2019, passou para US$ 636 milhões.


BALANÇA COMERCIAL - 2019X2020 EXPORTAÇÕES 01/2019 a 12/2019

01/2020 a 12/2020

Var. 2019 x 2020

US$

TON

US$/TON

US$

TON

US$/TON

US$

TON

307.109.300

46.804

$6.561,60

260.155.152

46.801

$5.558,75

-15,3%

-0,01%

IMPORTAÇÕES 01/2020 a 12/2020

01/2019 a 12/2019

Var. 2019 x 2020

US$

TON

US$/TON

US$

TON

US$/TON

US$

TON

1.267.742.000

333.794

$3.797,98

896.299.078

296.918

$3.018,68

-29,3%

-11,0%

01/2019 a 12/2019

01/2019 a 12/2019

BALANÇA COMERCIAL

Exportações

Importações

SALDO

Exportações

Importações

SALDO

RECEITA (US$)

307.109.300

1.267.742.000

-960.632.700

260.155.152

896.299.078

-636.143.926

-33,8%

VOLUME (TON)

46.804

333.794

-286.990

46.801

296.918

-250.117

-12,8%

Var. Saldo

BALANÇA COMERCIAL DO PESCADO - 2019X2020 Expo - US$

Impo - US$

Balança Comercial

Câmbio (US$ 1-R$)

200.000.000

8,00 144.675.426

126.693.245 5,63

38.881.455

18.246.419 0

112.341.945

77.211.780

100.000.000

25.909.719

3,78

3,75

4,00

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

HISTÓRICO DA BALANÇA COMERCIAL Expo - US$

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

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Estatísticas

Exportação

EXPORTAÇÃO - MÊS A MÊS 2019

No comparativo mês a mês, os exportadores começaram o ano com 4.246,208 toneladas - o desempenho foi melhor do que em 2019 quando o número esteve em 3.767.755 toneladas. Até a Covid-19 mostrar seu poder devastador, em março, as exportações em 2020 estiveram em queda, mas voltaram a ultrapassar o número de 2019 em abril, quando foram exportadas 3.387,168 toneladas, tendência que seguiu até agosto. Já nos últimos 4 meses do ano, as exportações em 2020 desaceleraram em relação a 2019.

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

COMPARATIVO DE PREÇO MÉDIO MÊS A MÊS NOS ÚLTIMOS 3 ANOS Últimos 3 anos

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

O preço médio do pescado exportado começou com queda já no início de 2020, registrando um declínio mais acentuado em fevereiro. O indicador voltou a crescer em março, mas sofreu uma nova queda entre abril e maio quando esteve abaixo de US$ 4, sugerindo um rebaixamento de preços em prol de maior competitividade durante a pandemia. A tendência de alta nos meses seguintes seguiu até setembro, quando esteve acima de US$ 7 e voltou a se recuperar apenas em dezembro. Na sequência, o desenho foi muito similar ao dos últimos 3 anos: meses seguintes registram altas, com pico em julho com cerca de US$ 9. Depois, os valores seguem em queda até novembro, quando voltam a se recuperar nas festas de final de ano.

MAIORES CRESCIMENTOS (POR TONELADA) Com 1.310,139 toneladas e salto de 2091,1%kg, as cavalinhas lideraram com folga o crescimento por espécies em 2020. Os tambaquis aparecem na segunda colocação com 322.032 kg e 733,8%/ kg em 2020. Já os subprodutos tiveram desempenho mais tímido: com 970.281 kg, subiram 12,9%/kg em 2020.

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

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Estatísticas

Exportação

EXPORTAÇÃO POR ESPÉCIE EM TONELADAS

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

A categoria “Outros”, que agrupa espécies não identificadas em outras classificações, liderou as exportações em 2020, com 14.834,76 toneladas a um preço médio de US$ 4.158. Apesar da liderança, o desempenho foi 1,6% menor em relação ao ano de 2019. Atuns e afins aparecem na segunda posição com 11.581,07 toneladas exportadas em 2020, o que representa uma queda de 2,7% sobre o mesmo período de 2019. Na última colocação entre os 10 primeiros, as sardinhas e sardinelas tiveram 653.822 toneladas exportadas em 2020, registrando uma queda de 74.7% sobre 2019.

EXPORTAÇÃO POR ESPÉCIE EM US$ 70M

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

As lagostas lideraram as exportações em 2020 - no período, a espécie foi responsável por uma receita de US$ 75,122,149. Apesar do desempenho, o valor sofreu uma queda de 18,8% em relação a 2019, quando o segmento registrou um saldo de US$ 92,485,827. Já a categoria “Outros” registrou US$ 61.693,735 com exportações em 2020, uma redução de 15.8% sobre o ano retrasado. Com uma queda de 31.3% em 2020 sobre 2019, os camarões fecharam o período com US$ 2.385,666 em exportação. No ano de 2019, o valor tinha sido de US$ 3.473,120.

EXPORTAÇÃO POR PAÍSES EM TONELADAS Os Estados Unidos compraram 17.494,01 toneladas de pescado exportadas pelos brasileiros em 2019, número esse que representa um salto de 9.7% sobre 2019. Já a China e o Equador aparecem na sequência com 5.340,102 toneladas e 3.309,078 toneladas exportadas em 2020, respectivamente. Na ponta dos 10 mais, aparecem o Congo e a Colômbia, com 1.249,925 toneladas e 1.079,51 toneladas, respectivamente.

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

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Os Estados Unidos lideraram as compras de pescado no ano passado com US$ 139.381,830 a um preço médio de US$ 7.967. O desempenho foi 8.7% inferior ao ano de 2019, quando gastaram US$ 152.630,978. Com exceção da Austrália, que teve US$ 7.137,170 exportadas e salto de 11,3% em relação a 2019, a tendência de queda se repetiu com os demais países posicionados na tabela, com destaque para a queda de 48.6% de Taiwan (Formosa) com apenas US$ 7.493,903 em 2020.

Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

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Estatísticas

Importação

IMPORTAÇÃO COVID - MÊS A MÊS 2019

No comparativo das importações mês-amês, fevereiro de 2019 teve um melhor desempenho (39.783,37 toneladas) em relação a fevereiro de 2020 (35.509,97 toneladas). Com exceção de março, a tendência se repetiu nos meses seguintes, com uma diferença acentuada em abril (29.476,01 toneladas em 2019 e 15.956,75 toneladas em 2020). O cenário só começou a mudar a partir de outubro de 2020. Em dezembro, as importações de 40.696,48 toneladas, se recuperaram em relação ao ano anterior, quando foram registradas 35.655,24 toneladas.

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

COMPARATIVO DE PREÇO MÉDIO MÊS A MÊS NOS ÚLTIMOS 3 ANOS Últimos 3 anos

Como nos anos anteriores, a Quaresma em 2020 foi responsável por um impulso no pescado importado. Mas, com a chegada da Covid-19 em praticamente todos os países, os números sofreram queda acentuada em abril de 2020, quando comparada ao mesmo período dos 3 anos anteriores, registrando um valor médio de US$ 2,75/kg. O dispêndio com as compras externas no ano passado voltaram a crescer em maio e oscilaram até um novo salto acentuado em julho, mas romperam com este padrão a partir de setembro, fechando o ano em alta em virtude do câmbio apreciado.

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

MAIORES CRESCIMENTOS (POR TONELADA) As corvinas e subprodutos registraram os maiores crescimentos nas importações do período, com 2.552,205 toneladas e 475%/kg. Já o desempenho dos grupos foi de 172,8% e 90% respectivamente, porcentagens superiores ao ano de 2019.

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

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IMPORTAÇÃO POR ESPÉCIE EM TONELADAS 100k 80k Toneladas

O pescado importado ficou mais barato em 2020. Os salmões e trutas, por exemplo, que lideram a lista, registraram 100.256.9 toneladas no ano passado a um preço médio de US$ 4.158. O valor teve uma queda de 32.5% em relação ao ano anterior quando foram importadas 97,775,806 toneladas das espécies, mas a um preço médio de US$ 6.159.

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

IMPORTAÇÃO POR ESPÉCIE EM US$ 40M

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Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

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Salmões e trutas lideraram as importações em 2020. No período, as espécies foram responsáveis por um gasto de US$ 416.888,248, embora o valor tenha sofrido uma queda de 30.8% em relação a 2019. Já a variação negativa se repetiu em todas as espécies que aparecem no gráfico, exceto os polvos, que com US$ 3,393,128 gastos em importação, foram 31.5% superiores ao mesmo período do ano anterior.


Estatísticas

Importação

IMPORTAÇÃO POR PAÍSES EM TONELADAS 100k

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As compras do Chile foram de 101.246 toneladas no ano passado, número esse que representa um salto de 2,3% sobre 2019, mesmo com a pandemia e o estrangulamento dos canais de food service. Com a expansão das compras de sardinhas, o Marrocos chegou próximo das 50 mil toneladas, já o Uruguai e o Equador aparecem nas últimas colocações na lista dos 10 melhores do período - em 2020, as importações foram de 7262,637 toneladas equatorianas e 5716,198 toneladas uruguaias.

Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

IMPORTAÇÃO POR PAÍSES EM US$ 400m

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O Brasil desembolsou com o Chile no ano passado cerca de US$ 419,86 milhões com as importações de pescado, um desempenho bem acima do valor gasto pelos outros países. Apesar disso, os chilenos tiveram um queda de 30,7% no faturamento em relação a 2019, quando o valor foi de US$ 606.148,033. Com exceção de Omã - que praticamente dobrou o valor gasto, indo de US$ 6033,834 em 2019 para US$ 11.986,991 em 2020 -, todos os outros países que aparecem no gráfico registraram queda nas importações.

Fonte: ComexStat, cap. 03 e pos. 1604 | Tecnologia: Painel do Pescado

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Armadores em reorganização

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Direto da Produção


Volta da estatística pesqueira e ordenamento da atividade estão entre as principais demandas para solucionar problemas da captura Texto: Leandro Silveira e Ricardo Torres

Isso não quer dizer que o governo esteja blindado de críticas. O Decreto nº 9.759/2019, que extinguiu colegiados formados no âmbito no governo federal, suspendeu também os Comitês

Permanentes de Gestão da Pesca (CPGs). “Eram os únicos espaços consultivos dos quais participam representantes do governo, do setor pesqueiro e da sociedade civil para discutir medidas de ordenamento da atividade pesqueira”, indica o diretorgeral da Oceana, Ademilson Zamboni. Olhando para dentro da cadeia, os especialistas ouvidos pela Seafood Brasil apontam a necessidade de uma melhor organização da atividade, a partir da evolução da gestão do setor. Isso contribuiria para a resolução de uma série de problemas, como a sensação de insegurança jurídica que é sempre lembrada inclusive pelas entidades tradicionais. “Precisamos criar um ambiente favorável para

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Os armadores se animam com a trajetória de Villaça pelo setor privado

e como membro do Coletivo Nacional de Pesca e Aquicultura (Conepe), assim como com uma nova entidade que já nasce com bastante representatividade. A entidade expõe os problemas, cobra mudanças e na esfera federal ganha ali outro interlocutor que conhece a atividade, além do próprio secretário Jorge Seif Jr. O momento institucional é ainda mais relevante pelo contexto de descontinuidade da gestão pública da pesca na última década e da baixa representação política do setor produtivo nesse período.

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e o início de um ano normalmente já é marcado por planejamentos, definições e apresentações de demandas, os armadores de pesca do Brasil tiveram essa sensação reforçada já a partir do segundo semestre de 2020. Em agosto veio a nomeação de Carlos Eduardo Villaça para o cargo de diretor do Departamento de Registro e Monitoramento de Aquicultura e Pesca da Secretaria de Aquicultura e Pesca (SAP) do Mapa. Dois meses depois, o setor assistiu à criação da Associação Nacional dos Armadores e Proprietários de Barcos de Pesca (PescaBR), em meados de outubro.


Direto da Produção Jorge Neves, presidente do Sindipi, prega a criação de um ambiente favorável para a atividade pesqueira

junho deste ano. Em 2018, durante a safra da tainha, pela primeira vez uma pescaria brasileira contou com mapas de bordo online, a partir do SisTainha. Uma certa desconfiança dos armadores e pescadores minou, porém, a agilidade na inserção de dados e a comunicação sobre eles em tempo real.

A importância dos números

manutenção da atividade pesqueira e, consequentemente, a geração de empregos”, afirma o presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), Jorge Neves. Neves vê como urgente a modernização do sistema que opera o Programa Nacional de Rastreamento de Embarcações

Pesqueiras por Satélite (Preps) para o acompanhamento contínuo e efetivo das atividades. “Isso exige a modernização dos mapas de bordo documento que registra informações de captura de cada cruzeiro de pesca”, afirma Neves. A informatização dos mapas de bordo para todas as pescarias foi anunciada pelo governo federal em

Alex Dickel/Sindipi

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Em 2015, armadores protestaram no rio Itajaí-Açu contra a Portaria 445: falta de ordenamento pesqueiro segue como grande entrave

Para que as mudanças aconteçam, é preciso que o Brasil volte a ter estatística pesqueira, com a pesquisa e avaliação dos estoques, permitindo a formulação de políticas públicas. Afinal, a ausência dos números impede o setor de demonstrar a sua posição de destaque na produção de proteína animal de qualidade. O presidente da PescaBR, Gabriel Calzavara, destaca que ter essas informações se tornou uma exigência dos mercados internacionais em negociações com os armadores de pesca locais. Assim, é ainda mais fundamental saber quem faz, o que se pesca e o que pode ser pescado. Calzavara cita o caso da Comissão Internacional do Atum Atlântico (ICCAT), para a qual o governo brasileiro assumiu o compromisso de pescar dentro dos limites das cotas estabelecidas pela comissão. “Caso não controle suas pescarias, não poderá comercializar nos mercados internacionais e não poderá pescar. Mas como fazer esse controle sem estatística pesqueira?”, questiona. A demanda é unânime. Zamboni, da Oceana, avalia só ser possível uma gestão pesqueira eficiente a partir da coleta de dados. “Sem estatísticas é impossível fazer uma gestão pesqueira que funcione, sob pena do encerramento da atividade econômica em alguns segmentos”, diz o diretor. Para ele, sem saber o quanto é capturado, a ciência pesqueira e a gestão seguem em um beco sem saída. Outros dados como a reprodução dos peixes, sexo,


Ademilson Zamboni, diretorgeral da Oceana, avalia que uma gestão pesqueira eficiente só ocorre a partir da coleta de dados

Até pela falta de estatísticas, não foi bem recebida por profissionais do ramo a portaria da SAP para importação e nacionalização de embarcações estrangeiras, apresentada em agosto. “Não vemos com bons olhos o arrendamento de embarcações estrangeiras, principalmente porque não temos estatísticas e nem sabemos se a quantidade de embarcações que já possuímos é suficiente ou até exagerada”, opina Alexandre Guerra Espogeiro, presidente do Coletivo

O diretor-geral da Oceana no Brasil lembra que nem sempre a abertura do mar para frotas arrendadas trouxe bons resultados para a atividade no País. Ele conta que alguns desses programas deixaram resultados positivos. Já

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Arrendamento de barcos estrangeiros

Nacional da Pesca e Aquicultura (Conepe). Gabriel Calzavara, ele próprio um empresário que arrendou embarcações estrangeiras de pesca no passado, considera que o mecanismo não é uma política em si, mas um instrumento ou dispositivo de apoio à política a ser adotada pelo gestor de pesca, atualmente a SAP.

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tamanho e idade também são muito importantes.


Direto da Produção

Expectativas com a atual Diretoria de Registro e Monitoramento previstas as licitações dos terminais de Manaus (AM), Aracaju (SE), Belém (PA), Vitória (ES), Cananéia (SP), Santos (SP) e Natal (RN).

Avanço da modernização do registro geral de pesca (RGP) Avanço do programa de monitoramento de embarcações Aumento na transparência no acesso aos dados de pesca (Mapas de Bordo, RGP e PREPS) Retomada gradativa das estatísticas Observar como o Ministério da Agricultura tratará o setor

outros deixaram grandes impactos ambientais e pouco retorno para a pesca brasileira. “As poucas informações disponíveis indicam que já existe uma frota superdimensionada, enquanto os recursos pesqueiros estão cada vez mais escassos e concorridos”, complementa. Para Jorge Neves, quando o assunto são as importações, seria prudente que a única possibilidade fosse exclusivamente para substituição de embarcações nacionais (em efetiva operação e observando a necessidade de se manter o esforço de pesca atual). “Só assim o objetivo de renovação e avanço tecnológico da frota nacional seria atendido, sem comprometer a sustentabilidade das pescarias.” No entanto, na visão de Ernesto São Thiago, advogado que faz parte da

coordenação da Pesca BR, a política de arrendamento de barcos estrangeiros pode tornar o Brasil mais competitivo no mercado internacional. “Além disso, vai dar condições para que nossa indústria naval pesqueira, a médio e longo prazos, chegue ao estado da arte para atender a novas demandas do mercado nacional”, completa.

Apoio à privatização de terminais Já a decisão do governo federal de qualificar terminais pesqueiros públicos para privatização é bem vista por boa parte do setor. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) prevê a concessão dos Terminais Pesqueiros Públicos (TPPs) construídos na era Lula. A primeira licitação, realizada em 28/01, concedeu o Terminal Pesqueiro Público de Cabedelo (PB) ao Consórcio “RotaMar”. Ainda em 2021 estão

Flávio Roberto de Oliveira/Sindipi

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Ter a estatística pesqueira vai ajudar na promoção de mudanças fundamentais para o amanhã do setor

“Com terminais funcionais conseguiremos amenizar bastante a nossa falta de estrutura para descargas, além de coletar dados para a estatística pesqueira. Eles só trariam benefícios”, complementa Alexandre Guerra Espogeiro, do Conepe. A PescaBR também enxerga vantagens aos armadores. “Privatizar esses terminais servirá para minimizar as perdas de recursos da sociedade”, comenta Calzavara. Porém, isso não vai ter impacto para os armadores que desembarcam em outros locais e necessitam de infraestrutura mínima. “Eles precisam atender a exigências sanitárias, armazenagem e fornecimento de insumos estratégicos para as pescarias como gelo, óleo diesel e área de manutenção rápida para suas embarcações”, justifica. O presidente da PescaBR defende, inclusive, que os recursos obtidos com a venda sejam destinados a apoiar a organização dos pequenos armadores de pesca que precisam adequar seus barcos às exigências sanitárias e aos novos controles das pescarias. Ernesto São Thiago vai na mesma linha ao apontar que o Estado deveria atuar em terminais onde não há interesse privado. E avalia que os armadores ainda precisam de outras estruturas de apoio. “Há forte demanda pelo que eu chamo de ‘clusters pesqueiros’ em todo o Brasil, que contemplem fornecimento de combustível, água, gelo, víveres e os serviços de entreposto, inspeção sanitária, armazém geral de pescado”, relata. Neste caso, é possível gerar garantias e certificados de depósito de pescado para financiamento de investimentos e o trabalho de safra e entressafra, como já ocorre no campo.

Problemas internos Para além de mudanças estruturais, o segmento sofre com a falta de união e cooperativismo do setor. “A eterna


USCGC Stone, embarcação da Guarda Costeira dos EUA, veio ao Brasil em janeiro para exercícios de patrulha conjunta contra a pesca ilegal

preços do pescado; e aumento de quase 30x nos lucros anuais líquidos para as empresas.

É também sobre o comportamento e um modelo de produção qualificado como “corrida do ouro” que a Oceana enxerga problemas no segmento. “O desafio principal do setor pesqueiro é se modernizar e mudar de uma visão imediatista de exploração e esgotamento para algo de planejamento e longo prazo”, alerta Ademilson Zamboni. Em webinar realizado em 28/01, o coordenadorexecutivo da ONG Sciaena, Gonçalo Carvalho, destacou que entre os benefícios de uma pesca mais sustentável estão: o aumento de 2,7x na biomassa de peixes no oceano; o salto de cerca de 24% nos

Para Zamboni, essa mudança só será vista a partir da instituição de uma nova legislação, em substituição à Lei 11.959/2009, que dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca. É este dispositivo que pode garantir a sustentabilidade, condicionando a exploração ao potencial produtivo dos estoques. “Ao olharmos para a Lei da Pesca brasileira notamos lacunas preocupantes na vinculação da gestão da pesca com a sustentabilidade dos estoques”. afirmou o diretor

científico da Oceana, Martin Dias. Ele completa. “Sem definições mais claras e gatilhos que indiquem aos gestores a necessidade de reduzir a pressão sobre um estoque, a lei torna-se em parte inoperante. Este é um dos motivos pelos quais ela precisa ser modernizada.” Tal manifestação foi feita em um webinar realizado em 08/12 pela Oceana, que

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US Coast Guard

esperança é que as novas gerações de pescadores sejam mais colaborativos e tenham visão de longo prazo”, diz São Thiago. “Sem isto, não há regulamentação que dê jeito.”

O sabor que faz a diferença


Direto da Produção Barco-fábrica: ferramenta de qualidade A indústria pesqueira brasileira ganhará, em breve, uma grande novidade em porte, tipo e arte de pesca. Um barco-fábrica está sendo construído no Estaleiro Felipe, localizado em Navegantes (SC), o primeiro do País dedicado a capturar o camarão-carabineiro. O empresário Manoel Cordeiro é o responsável pela encomenda, cuja estrutura permitirá realizar os processos de captação, embalagem e congelamento do crustáceo. Cordeiro conta que começou a desenvolver o projeto em 2017, com a compra de material, como geradores e motores, além de visitar embarcações na Europa para tirar a ideia do papel, motivado pela dificuldade de manter a excelência de qualidade do pescado quando a embarcação fica por longo tempo no mar.

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“O camarão chega vivo, por que eu não posso pegá-lo e colocá-lo em minutos em um túnel de -35°C? Nós temos Barco-fábrica tem estrutura completa como fazer isso. O barco-fábripara a captura do camarão-carabineiro ca é capaz de traz um produto de alta qualidade”, lembra. O pesqueiro tem projeto de engenharia do escritório Naval Norte, possuindo 27 metros de comprimento, 7,5 metros de boca (largura) e 6,68 metros de pontal (altura) - ao todo, foram edificadas 110 toneladas de aço na construção. Conhecido pela participação na fabricação de diversas embarcações do gênero, Uilians Ruivo é o responsável técnico. Ele produziu o memorial econômico sanitário para apresentação ao Ministério da Agricultura. A ideia é informar sobre a arte de pesca, a recepção a bordo, os ambientes de trabalho para cada fase do processo industrial, os produtos que serão elaborados, as boas práticas de fabricação, a forma de congelamento (tempo x temperatura), embalagem, controle dos pontos críticos, estocagem, limpeza e higienização. “Assim, podemos disponibilizar planilhas para o Estrutura viabiliza cumprimento de itens dos registro dos autocontroles do programas de análise de perigos e controle Programa APPCC, entre outros atendimentos complementares”, complementa. Ruivo cita que estas estruturas são comuns nos vizinhos. “A Argentina trabalha com centenas de barcos e, há décadas, congela camarão em caixeta pronta para exportação, fileta merluza a bordo ou congela caranguejo de profundidade. Muitos países da Europa fazem o mesmo e os resultados são ótimos”, acrescenta. Na visão de Cordeiro, há demanda no setor para mais barcos-fábrica no Brasil. E assegura que esse tipo de embarcação pode ajudar a valorizar a produção de pescado do País em mercados internacionais. “Nossos peixes são ótimos. O que falta é mudar o modo de lidar com ele, de congelar para ter um peixe que pode competir com qualquer um do mundo”, exalta Cordeiro, destacando que a preocupação será em produzir um camarão de alta qualidade, sem tanto foco na quantidade.

detalhou como o Brasil desconhece a situação de 94% das populações de pescados marinhos que comercializa. “A legislação brasileira sobre pesca é desconectada das melhores práticas de gestão e, portanto, ineficaz em muitos aspectos”, comenta Zamboni. Em sua opinião, a legislação não garante a proteção das espécies pescadas para garantir o futuro da pesca, não direciona responsabilidades e permite todo o tipo de má gestão. Neste contexto, a estatística pesqueira precisa ser contemplada nessa necessária nova legislação. “Para a retomada da estatística de desembarque, o Brasil carece de uma instituição de Estado mais estável e menos sujeita às variações de governo”, aponta Zamboni.

Observadores de bordo A última vez em que o Brasil adotou um Programa Nacional de Observadores a Bordo foi em 2004, quando o Ministério da Pesca e Aquicultura criou, em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco e outras entidades, o PROBORDO (Programa Nacional de Observadores de bordo da pesca de atuns e afins no Brasil). O programa promovia o treinamento e a gestão de engenheiros de pesca, biólogos e oceanógrafos para realizarem trabalhos a bordo de embarcações pesqueiras estrangeiras que atuavam sob arrendamento no Brasil. Jorge Neves, do Sindipi, acredita que o retorno de um programa de observadores a bordo seria importante na contribuição para a coleta de dados sobre a atividade pesqueira, além de ajudar na conservação. “Porém, essas informações só são possíveis com a presença desses profissionais a bordo das embarcações de pesca”, pontua.


mecanismos de fiscalização e transferir esse conhecimento a nações parceiras para que criem uma frente única de combate à pesca ilegal em qualquer oceano.

Até porque o Brasil precisa lidar com um desafio ainda mais complexo: a presença ilegal de embarcações pesqueiras estrangeiras na nossa costa. A questão tem fundo geopolítico, por conta da ascensão econômica da China, motivo pelo qual os Estados Unidos acionaram sua Guarda Costeira para enviar, em dezembro, o navio USCGC Stone para uma rota por países da América do Sul para a realização de patrulhas conjuntas. A Marinha dos EUA é considerada especializada em desenvolver e implementar

Em 2019, o Sindipi assinou um acordo de cooperação com a Organização para Proteção de Recursos Pesqueiros no Atlântico Sul (OPRAS), da Argentina, para elaborar, implementar e reconhecer, em nível oficial e internacional, um Ato Regulatório que inclua ferramentas e mecanismos efetivos para a explotação dos recursos vivos do alto mar no Atlântico Sudoeste, garantindo a conservação e sustentabilidade dos mesmos. Mais organizado, o setor já está atento.

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Para Calzavara, o setor está mais atento à postura do Ministério da Agricultura. “Se o setor não for prioridade, não haverá recursos para mudar a condição da pesca industrial no País, dificultando políticas e planos para o desenvolvimento”, aponta Calvazara.

“Mas se lhe for dada carta branca, teremos muitos avanços para organizar e revisar normas já ultrapassadas e confusas”, acrescenta o presidente do Conepe, Alexandre Guerra Espogeiro.

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O diretor-geral da Oceana no Brasil, inclusive, destaca que os custos do programa eram relativamente baixos. Afinal, eram os próprios armadores que custeavam as diárias dos observadores, com bases operacionais mantidas por meio de convênios e que tinham custos relativamente baixos. “O Probordo foi, por anos, um programa eficaz na geração de dados de alta qualidade para a gestão da pesca”, lembra Ademilson Zamboni.


Direto da Produção

Entrevista

“Melhorar segurança jurídica do setor é prioridade”

À

frente do Departamento de Registro e Monitoramento de Aquicultura e Pesca, Cadu Villaça avisa que precisará “olhar para trás” com a intenção de reorganizar o setor, revogando medidas com a intenção de aumentar a segurança jurídica para a atuação dos armadores de pesca. Só a partir daí poderá partir para ações como aquelas que permitirão a consolidação da estatística pesqueira. Confira abaixo a entrevista exclusiva que ele concedeu à Seafood Brasil. Com a sua experiência no setor privado e agora na SAP, quais são os principais gargalos para os armadores de pesca? E como resolvê-los? O gargalo continua sendo a segurança jurídica, com normas complexas, antigas, não reformadas, baseadas em tecnologia e sistema ultrapassados. O que pretendemos fazer é, como primeiro passo, o “revogaço”. Uma revisão do arcabouço normativo, limpando a matriz normativa. E, depois, você sabe das inseguranças que os programas de monitoramento trazem. Então, nós fizemos um investimento grande em cima da Global Fishing Watch. No momento que tivermos isso consolidado, será lançada uma consulta pública.

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Há demanda por estatísticas pesqueiras, algo fundamental para a formulação de políticas públicas. Já tem atuado para resolver essa dificuldade? O governo precisa cobrar compliance. É um privilégio você ter o direito de uso de um recurso público. E é isso a licença de uma embarcação. Há o encaminhamento de um projeto, que começou antes da minha gestão, dos mapas de bordo eletrônicos, ferramenta extraordinária para alimentar as informações que são obrigatórias de forma digital. O que estamos fazendo é trazer todo mundo para perto, trabalhando na recuperação da credibilidade. Teremos na secretaria um poder analítico sobre essas informações, mas também disponibilizada para grandes experts e estudos mais aprofundados para alicerçar teses, PHDs.

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Há insatisfação no setor com a portaria sobre arrendamento de barcos estrangeiros. Como vê essa negativa? Houve uma consulta pública e a maioria das instituições respondeu não ser favorável. Existem pescarias que estão subaproveitadas e precisa haver esforço e ferramentas para acessar os recursos. Vejo como normal [a insatisfação], é algo que não está no momento de

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Carlos Eduardo “Cadu” Villaça, atual diretor do Departamento de Registro e Monitoramento de Aquicultura e Pesca

ser discutido. Temos de esperar o momento adequado para florescer. Está no foco da SAP a retomada do programa de observadores de bordo? Ou não é prioridade? É uma ferramenta muito necessária, mas de fato não é uma prioridade. Primeiro pela situação da Covid-19, sem perspectiva de solução rápida. Hoje, seria preocupante colocar um observador numa embarcação em uma viagem de 30 dias, sem a devida responsabilidade e compromisso. Tem dois projetos correndo para trazer aquelas tecnologias das câmeras a bordo. Devemos ter ainda nesse ano o primeiro, com o segundo já em andamento.

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Suplemento especial de tecnologia aquícola

Ambas as entidades trazem a visão de que a automação em diferentes

processos da cadeia aquícola veio para ficar. “A estocagem de animais, as contagens, as biometrias, a alimentação e as despescas são exemplos de procedimentos técnicos que tradicionalmente vêm sendo realizados de forma manual. A automação dos cultivos contribui tanto para a redução da dependência de mão-deobra, como num maior controle no uso de insumos, por meio de equipamentos como aeradores, contadores, alimentadores, classificadores, bombas de transferência e despesca”, avaliam as pesquisadoras da Embrapa Adriana Ferreira Lima e Flávia Tavares de Matos. Há espaço também para a modernização na própria pesquisa aplicada. Dissertação de mestrado do biólogo Mateus Cardoso Guimarães orientada pelo pesquisador do IP

Leonardo Tachibana comprovou que a adição de probiótico à ração de tilápias em cultivo intensivo, aliada à vacinação, se mostrou a maneira mais eficaz no controle de infecções pela bactéria Streptococcus agalactiae, uma das principais doenças da piscicultura. Os resultados obtidos indicam o grande potencial da associação de micro-organismos vivos ou viáveis à alimentação de peixes e a relevância da vacinação nas criações animais. Em tempos pandêmicos com abertura ao negacionismo, isso se torna ainda mais relevante. A 5ª edição deste suplemento é patrocinada pelas seguintes empresas: Alliplus, Suiaves/Ammco Pharma, Altamar, Raguife e Samaria Rações, que investiram nesta participação editorial.

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este quinto ano de Suplemento de Tecnologia Aquícola, trazemos uma nova atualização sobre os caminhos tecnológicos acelerados pela pandemia e outras vertentes monitoradas pelas empresas e pesquisadores para colaborar com a expansão da produtividade aquícola no Brasil. Como de praxe, as empresas consultadas para este material (veja lista abaixo) trazem a perspectiva técnico-comercial dos produtos e serviços disponíveis no mercado, enquanto a Embrapa Pesca e Aquicultura e o Instituto de Pesca (IP) da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo nos subsidiam novamente com os temas que canalizam a atenção dos pesquisadores.

Ração

Aditivos

Equipamentos

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AUTOMAÇÃO COM EFICIÊNCIA


Em busca da melhor conversão

A identificação de fontes proteicas promissoras, como farinha de insetos e coprodutos agrícolas, é um desafio constante para a substituição eficiente e sustentável da farinha de peixe nas rações. “Para a tilápia e camarão, cadeias produtivas mais desenvolvidas, melhorias na tecnologia de processamento das rações e o uso de imunoestimulantes e nutracêuticos nas formulações são grandes tendências para a intensificação da produção sem prejuízo da saúde animal e qualidade da água dos sistemas”, indicam. Os pesquisadores frisam que a união de esforços entre instituições de pesquisa, produtores e indústrias de rações é 64

imprescindível para o desenvolvimento e validação dessas tecnologias. É comum ainda os investimentos na modernização das formulações passarem pelo esforço exclusivo do setor privado. A Raguife, sediada em Santa Fé do Sul (SP), acaba de ampliar o portfólio para incorporar a linha de camarões e outra de peixes nativos. “A expectativa é crescer próximo dos 50% seu volume de venda, focado em novos pólos de produção e espécies de cultivo”, indica o sócio-diretor da empresa, Felipe Amaral. O objetivo é ambicioso: “A Raguife vem procurando acompanhar essa crescente no setor para se transformar no principal player de nutrição de peixes do Brasil.” Para alcançar a meta, Amaral diz ter investido na infraestrutura da fábrica, principalmente em tecnologias que possam auxiliar no controle e qualidade dos processos. Os aportes

permitiram a criação da linha de alta performance TOP FISH PLUS G20, focada na etapa de engorda. Para as fases iniciais, a empresa lançou no fim do ano passado a linha PRO START, que engloba a eficiência alimentar com uma formulação baseada em ingredientes de alta digestibilidade e base nas necessidades nutricionais nessa fase do ciclo produtivo, além de um pacote de aditivos focados na sanidade e bem-estar do animal dando suporte a ele em períodos de desafio. As embalagens também foram reformuladas, o que foi - e continuará a ser em 2021 - bastante explorado nas redes sociais e mídias especializadas. A expansão da Raguife não é exclusiva e mostra como o segmento aquícola realmente se aqueceu apesar de todas as complexidades trazidas pela pandemia. “Os restaurantes fecharem foi um grande susto para a produção de camarão, mas o setor

Para acompanhar expansão do setor, a Raguife lançou novos produtos para a nutrição de peixes

Raguife

A

s conversões alimentares das principais espécies de peixe produzidas no Brasil ainda são relativamente altas (1.62.2) quando comparadas, por exemplo, com o salmão-do-Atlântico (1.3) que já atingiu um patamar tecnológico elevado, segundo avaliam pesquisadores da Embrapa Pesca e Aquicultura consultados para este suplemento. “Além do desenvolvimento de linhagens melhoradas e de manejos produtivos mais eficientes, a redução desse importante índice produtivo depende de melhorias nas formulações das rações e práticas de alimentação atualmente empregadas”, informam os pesquisadores Ana Paula Oeda Rodrigues, Licia Maria Lundstedt, Giovanni Vitti Moro e Luiz Eduardo Lima De Freitas. Eles acrescentam que, para os peixes nativos, ainda há um grande caminho a ser percorrido para o desenvolvimento de formulações que atendam as exigências nutricionais específicas de cada espécie, nas diferentes fases do ciclo produtivo.


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Samaria

A Samaria investiu R$ 15 milhões em projetos estruturais e inovações tecnológicas

reagiu rápido”, avalia Marcelo Simão, gerente da Samaria Rações. “Hoje, inclusive, estamos praticamente fechados a novos clientes porque não conseguimos atender a demanda.” Obviamente o fato de pertencer ao maior grupo de engorda de camarão do Brasil está totalmente relacionado ao desempenho. “A Samaria tem a maior fatia do mercado de rações dentro do Ceará e, por ser da Potiporã, tem a maior fatia em camarão no Rio Grande do Norte”. A maior fazenda da empresa fica em Pendências (RN). O fato é que a crise pandêmica não impediu a retomada da carcinicultura pós-mancha branca. A empresa investiu R$ 15 milhões em projetos estruturais e inovações tecnológicas, nas áreas de engenharia de processo, automação e em desenvolvimento e pesquisas nutricionais. Com isso, a capacidade produtiva foi aumentada em 50%, explica Simão. “Das 5.000 toneladas por mês de capacidade atual, em março de 2021 teremos 7.500 toneladas por mês nas linhas de ração para camarões, peixes, aves e equinos.” A empresa programa ainda para o período entre 2021 e 2022 mais R$ 66

25 milhões em ampliações, silagens, novas linhas de produtos e aumento da capacidade produtiva para 10 mil toneladas por mês. “Além dos investimentos em equipamentos, a Samaria tem investido em novas contratações de pessoal técnico qualificado em várias áreas”, indica Simão. Hoje são 100 funcionários (eram 57 funcionários). “Podemos aumentar mais 30%. Hoje, se tivéssemos o dobro do volume da produção, venderíamos.” Simão credita a rápida evolução à venda da empresa ao grupo Samaria. “Por ser uma empresa com gestão local, conseguimos ter muita agilidade na mudança do modelo de vendas e marketing, melhorando a qualidade de produto”, diz. “Como era uma multinacional, muitos departamentos acabavam causando demora nos processos. Hoje em dia, o mercado aponta a necessidade de mudar um produto e, em 48 horas, já conseguimos chegar à solução”, conclui. Entre os principais destaques atuais da linha, estão o SM Bioline com probiótico, desenvolvido com o objetivo primário de auxiliar no balanço de Carbono e Nitrogênio (C/N), envolvido

nos processos de biorremediação e como uma fonte eficiente e prática de ingredientes orgânicos. Segundo Simão, ele é capaz de promover a produtividade primária nos viveiros de camarão através da ciclagem de nutrientes. Outra linha é o SM Bio Acqua, cuja formulação viabiliza o crescimento de bactérias probióticas inoculadas e contém 15% de proteína e 50% de carbono.

Empresas citadas

Felipe Amaral (17) 3631-4347 felipe@grupoambaramaral.com.br

Marcelo Simão (85) 3111-6400 msimao@samariaracoes.com.br


Comunicação eficiente

A

demanda por aditivos acompanhou os investimentos em projetos verticais de fábrica de ração, que devem permanecer em 2021. Como consequência, os fornecedores destas soluções registraram aumentos de pedidos e também investiram na expansão do portfólio com ampliação da carteira de clientes. Foi o caso da Suiaves/Ammco Pharma, como indica o sócio-diretor da empresa, Luiz Eduardo Conte. “Para o mercado de aquicultura, a linha da empresa com maior comercialização foram os aditivos nutricionais, formados pela venda de premix vitamínicos, premix minerais, probióticos, imunoestimulantes e ácidos orgânicos”. Para 2021, a empresa depo-

sita grande expectativa no aumento das vendas de vacinas autógenas e produtos para programas de biosseguridade, mas também reforça a continuidade dos aumentos de vendas na linha de nutrição animal. “Concluímos o ano de 2020 com crescimento acima de 20% nas linhas de produtos e somando todos os mercados de trabalho da empresa”.

falar a língua mais popular, para que o produtor consiga entender o que significa o uso de um óleo essencial junto a um ácido orgânico e o poder antibiótico que essa combinação tem”, diz. “No mundo todo, mas especialmente no Brasil, ocorre muito de não se passar uma informação limpa, clara, direta e rápida ao produtor.”

A popularização do uso de aditivos na aquicultura é um processo contínuo que compreende diversos desafios. Para o diretor da Alliplus, Paulo Rocha, entre as maiores dificuldades está conseguir fazer chegar a informação técnica de forma compreensível aos mais distantes rincões do País. “Tentamos

Na visão dele, o produtor é carente de informação, quer ter conteúdo concreto e soluções. “É isso que faremos em 2021: criar um canal de acesso para que o produtor tenha contato com o formulador, com a fábrica e uma venda rápida e simples.” Outro ponto é deixar claro como soluções

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Acervo pessoal

Acervo pessoal

Francisco Gomes Coelho Filho, da Joli Aquicultura (esq.), e Francisco Danilo de Oliveira, da fazenda Costa Brasil: satisfação com a empresa vem do poder antibiótico oferecido por linhas completas de aditivos naturais

pontuais não resolvem os problemas adequadamente. “Não faz sentido comprar produtos separadamente enquanto existem produtos em linhas completas. Ali dentro tem antibiótico natural, ácido orgânico e óleo essencial”, diz Rocha. Rocha vê potencial para a estratégia, desde que neste ano diminua a instabilidade de falta de insumos e matéria-prima, o que ele chama de “custo-Covid”. “Nós sofremos bastante. Com a pandemia, faltou frasco, caixaria, matériaprima, do mais básico aos itens mais refinados. Como o Brasil não tem uma variedade e qualidade grande de óleos essenciais em volume, ficamos dependentes de outras origens, como Índia e China.” A dependência de outras origens também desafia a “estandardização” de produtos. “Queremos manter um padrão para que o produtor tenha o máximo de segurança possível, diante das dificuldades que um animal propõe.” 68

O uso indiscriminado de soluções caseiras e antibióticos sintéticos preocupa empresas como a Alliplus, mas também pesquisadores. “Apesar de serem a opção mais eficiente quando não há vacina disponível, sabe-se que o uso de antibióticos a longo prazo não é sustentável”, diz o pesquisador do IP Leonardo Tachibana. O uso prolongado desse tipo de medicamento pode levar à contaminação do ambiente e, se os protocolos adequados não forem seguidos à risca, ao aumento da resistência bacteriana. Tachibana e seu orientado Mateus Cardoso Guimarães desenvolveram um protocolo de tratamento da bactéria S. agalactiae, aliando probióticos e vacinação, considerado inédito no Brasil. Entretanto, tanto as vacinas quanto os produtos probióticos já vêm sendo utilizados por piscicultores do País para combater doenças e melhorar o rendimento da produção. “Quando eu comecei a trabalhar com os probióticos, muita gente não acreditava. Hoje,

está comprovado e uma parcela muito grande de produtores já utiliza”, celebra o especialista. De acordo com ele, cerca de 60 a 70% dos criadores de peixes já fazem uso da tecnologia - chegando a quase 100% no caso da criação de camarão. Empresas citadas

Luiz Eduardo Conte (19) 2105-9462 eduardo@suiaves.com.br

Paulo Rocha (85) 99680-5639 paulo@alliplus.com


A solução natural e lógica para seu cultivo de peixe e camarão ou fábrica de ração

Porque comprar separadamente ácido orgânico? Aromas atratibilizantes? Antibióticos de uso veterinário? Se nas linhas AlliPlus e LAC você já encontra: Ácido orgânico Antibiótico natural nos Óleos Essenciais Aromas atratibilizantes de alho, canela, orégano e outros Alta concentração, resultando menor dose por kg www.alliplus.com | www.linhalac.com Peça pelo whatsapp 85 9.9680-5639 ou o e-mail contato@alliplus.com Pedido mínimo 1 L - Frete não incluso (correios) 69


Automação e eficiência

O

avanço da aquicultura brasileira vem acompanhado por uma maior demanda por tecnologias de automação e o aumento da eficiência na produção. As possibilidades são imensas na estocagem de animais, contagens, biometrias, alimentação e nas despescas, procedimentos técnicos que tradicionalmente vêm sendo realizados de forma manual. “Dessa forma, a automação é uma demanda constante, que já começa a se tornar realidade em propriedades mais tecnificadas no Brasil, seguindo uma tendência observada em diversos países”, afirmam as pesquisadoras da Embrapa Adriana Ferreira Lima e Flávia Tavares de Matos.

Em muitos casos, porém, a automação é ainda vista como inviável pelo alto custo de implantação ou pela escala de produção, que não justifica a aquisição de determinados equipamentos. “Nesses casos, a modernização ou adaptação dos equipamentos existentes que facilitem o manejo são de grande importância para garantir o sucesso da produção. Como exemplos, podemos citar os barcos utilizados para o arraçoamento, manejo dos peixes e manutenção das estruturas de cultivo, que devem ser adaptados para esse tipo de atividade, com altura e flutuação adequada, além de cobertura contra os raios solares e chuva, espaço adequado para armazenamento de ração e de ferramentas necessárias, possibilitando também a movimentação de pessoas para a realização das tarefas.”

As pesquisadoras mencionam ainda a possibilidade de modernização de outras estruturas relacionadas ao cultivo de peixes em reservatórios, como as passarelas flutuantes e as balsas de manejo também são extremamente importantes para fornecer apoio às atividades rotineiras dos piscicultores. As passarelas facilitam a movimentação de pessoas até os tanques-rede, sendo fundamentais nos momentos da despesca, auxiliando no transporte dos peixes da balsa até a margem, para posterior estocagem no caminhão frigorífico. “Pelo fato de apresentarem alto custo, o desenvolvimento de estruturas feitas com materiais com menor valor e acessíveis aos produtores seria interessante para que um maior número de produtores as adquira”, afirmam Lima e Matos. No caso das balsas de manejo, as especialistas sustentam que estas estruturas devem ter versatilidade, construídas com materiais robustos e de custo acessível, pois é sobre elas que ocorre a maior parte dos manejos, como biometria, classificação e despesca. “Deve ser adequada ao formato de tanque que o produtor possui, porém, o desenvolvimento de balsas que atendam diferentes volumes e formatos de tanque rede é necessário, principalmente se o produtor possui diferentes formatos de tanque no mesmo local, como quadrados e circulares.” Nas balsas, segundo elas, há a possibilidade de se colocar um sistema de segurança para o cultivo, além de refletores que iluminam as estruturas, evitando roubos. Outra utilidade dessa estrutura é a possibilidade da armazenagem

Altamar

Elas mencionam ainda como a tecnologia pode colaborar no registro de informações da propriedade em bancos de dados específicos, servindo de base para o planejamento e para análises de viabilidade técnica e econômica. “O desenvolvimento de softwares para acompanhamento sistemático

da produção e que sejam capazes de interligar informações técnicas, econômicas e gerenciais resulta em uma produção mais segura e eficaz.”

Equipe da Altamar reunida na nova sede da empresa

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de ração, alocação de mesas classificadoras, além da instalação de um escritório para a organização e registro dos dados obtidos, no caso de não haver área em terra disponível para tal. O aumento da eficiência produtiva por meio da intensificação da produção, por sua vez, seja em tanques-rede ou em estruturas em terra, necessita de equipamentos para maior controle da biomassa e dos parâmetros de qualidade de água, demandando sistemas automáticos com leituras e com disponibilização de informações em tempo real. No mercado brasileiro, encontram-se somente alguns modelos de sondas multiparamétricas que podem ser programadas para o monitoramento da qualidade de água em tempo real (ex.: oxigênio dissolvido, pH) que auxiliam nas tomadas de decisão e conferem mais segurança à produção.

Segmento em alta Atentos à necessidade de modernizar os sistemas de produção, os aquicultores e instituições de pesquisa têm acionado cada vez mais os fabricantes em busca de novidades. A Altamar, uma das principais distribuidoras nacionais destas tecnologias, procurou fazer frente ao aumento da demanda com uma mudança importante: sediada em Santos (SP), a empresa transferiu

a sede em fevereiro de 2021 para um condomínio empresarial em Jacareí (SP). O novo espaço terá mais de 700m² de área e deve operar como um centro de tecnologia. “Na parte externa queremos construir unidades de produção piloto, onde eu consiga testar equipamentos”, vislumbra o sóciofundador, Marcelo Shei. Tudo para prestar um melhor serviço aos clientes, que precisam operar os sistemas oferecidos pela Altamar muitas vezes a milhares de quilômetros de distância e sem toda a expertise necessária. “Muitas vezes, a equipe do cliente que vai operar a estrutura está dispersa na ocasião do treinamento ou mesmo tem dificuldades de compreender como operar o sistema. Precisamos trazer o pessoal para esmiuçar com calma o que o operador vai encontrar no dia a dia”, explica Shei. Segundo ele, o objetivo é concluir a construção das unidades-piloto no final do ano, que permitirão simular condições reais, como a densidade ideal de estocagem. Shei vê o mercado mais atualizado e diversificado. “A utilização de conceitos mais modernos e a busca por resultados mais precisos vão de encontro ao que a Altamar se propõe a fornecer”, explica. Ele continua. “No último ano, nossa maior participação se deu na modernização e fornecimento de novas instalações de aquicultura e centros de

Microalgas

Desinfecção Ozônio e UV

pesquisa. Sempre um mix envolvendo controle térmico, desinfecção, oxigenação, bombeamento e RAS.” O destaque de 2020, segundo ele, foram os filtros de tambor rotativo, indicados para a remoção de sólidos em sistemas de recirculação, captação de água, zoológicos e lagos ornamentais. “Esses equipamentos operam por passagem de água por gravidade, o que permite não só uma ótima eficiência para o sistema de filtragem, mas também reduz a demanda de energia com bombeamento”, detalha. E ainda complementa. “Além disso, possuem um sistema de auto-limpeza que opera continuamente, sem necessidade de limpeza manual por longos períodos”, explica. Os filtros são construídos em materiais plásticos e aço inoxidável 316, permitindo que possam operar continuamente em água doce ou marinha. Além disso, são capazes de remover sólidos entre 150 e 20 micras em vazões que variam entre 15 e 1.000m³/h. Empresa citada

Marcelo Shei (13) 98130-4954 shei@altamar.com.br

RAS

Projetos

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Na Cozinha

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A quebrada come peixe?

Barreiras culturais, de conhecimento e financeiras não são empecilhos a iniciativas das periferias de São Paulo para cada vez mais incorporarem o pescado no rango do dia a dia


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ocê sabe o que é pescado? Nunca vi, nem comi. Eu só ouço falar”. Embora a versão original do clássico de Zeca Pagodinho traga como protagonista o caviar, uma iguaria de alto custo em todo o mundo, em muitas regiões periféricas do Brasil, a falta de acesso aos demais itens de pescado torna a mudança no trecho da música facilmente compreensível. Nessas regiões, é comum encontrar os chamados “desertos alimentares”, termo utilizado para definir locais onde o acesso a produtos in natura ou minimamente processados é difícil.

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Texto: Fabi Fonseca


Divulgação

Na Cozinha

Chef de cozinha Cleunice Maria de Paula, conhecida como Tia Nice, é quem prepara o pescado no Organicamente Rango

Entretanto, nos últimos anos, diversas iniciativas entraram em ação para aprimorar o padrão alimentar de algumas das áreas mais carentes das grandes metrópoles. O pescado, visto por muitos na gastronomia como elemento de exclusão, aparece como um dos principais aliados na tentativa de reverter o cenário. A desigualdade

da oferta de pescado no Brasil não está mais atrelada à falta de produtos da pesca extrativa ou da produção aquícola, mas a uma série de fatores que passa pelo hábito alimentar, alto custo do produto, falta de informações, baixo poder aquisitivo dos moradores das periferias e falta de políticas públicas.

Instalado desde 2019 no bairro do Campo Limpo, área periférica no Sul da cidade de São Paulo, o Organicamente Rango nasceu com o objetivo de “democratizar a alimentação na quebrada”, como explica um dos sócios-fundadores, Thiago Vinicius. “O propósito do nosso restaurante é a alimentação da terra. A gente brinca

Muito mais do que matar a fome

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A alimentação é bem mais do que apenas comer para saciar a fome, como define o Guia Alimentar para a População Brasileira. “Alimentar-se diz respeito ao consumo de nutrientes, como os alimentos são combinados entre si e preparados, as características do modo de comer e as dimensões culturais e sociais das práticas alimentares. Todos esses aspectos influenciam a saúde e o bem-estar”. O Guia Alimentar para a População Brasileira é uma publicação de diretrizes alimentares com embasamento científico conhecido em todo o mundo. O primeiro exemplar foi lançado em 2006 e atualizado em 2014, pelo Ministério da Saúde com o apoio do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas de São Paulo (Nupens/USP) e da Organização Panamericana de Saúde (Opas). O livro serve como referência sobre a promoção da alimentação adequada e saudável. Conforme a própria publicação, “os alimentos in natura ou minimamente

processados em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, são colocados como a base para uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável.”

O Guia Alimentar para a População Brasileira serve como referência sobre a promoção da alimentação adequada e saudável


Horta orgânica que fornece boa parte dos temperos da Organicamente Rango

é a limpeza. A gente faz robalo, cação, tainha e mais”, explicou a chefe. Embora o peixe de aquicultura apareça às vezes no cardápio, a demanda não é tão grande. No delivery, o pescado está presente em todos os dias da semana - um diferencial da casa. Já no presencial, há pescado às terças e quintas-feiras. Porém, às sextas-feiras são totalmente dedicadas ao peixe em pratos que incluem a moqueca. Cleonice, que começou a trabalhar com peixes em quiosques de praias, diz não ver grande diferença na aceitação do peixe na periferia. A não ser pelo preparo, nas regiões praianas o público opta pelas porções que, no restaurante dela, não têm grande saída. “Aqui, as pessoas não querem ter o trabalho de fazer o peixe e eu acho que é por causa do cheiro e espinhas. Então, acabam pedindo para a gente.”

Divulgação

que se ali tem o Fast Food [em relação a maioria dos demais restaurantes da região], aqui tem Slow Food [alusão ao movimento global que nasceu na Itália na década de 1980 e que tem em sua base na desaceleração da alimentação e o incentivo ao consumo de comidas mais saudáveis, valorizando o produtor e o meio ambiente]”. O Organicamente Rango, como o próprio nome já sugere, leva alimentação orgânica e vegetariana aos moradores da periferia. Por lá, a alimentação já começa pelo espaço: na entrada, uma horta orgânica fornece boa parte dos temperos do local. A outra parte das verduras e legumes vêm de uma horta parceira em São Lourenço da Serra, Sudoeste da Região Metropolitana de São Paulo, a 38km do restaurante. O local busca apresentar conceito sustentável, com telhas confeccionadas com embalagens recicladas de creme dental e caixas de leite, além de calhas e baldes que auxiliam na captação da água da chuva. “As pessoas chegam e se conectam com o espaço”, explicou Vinícius.

Gastronomia: o novo futebol da Quebrada A discussão sobre o consumo de peixes nas periferias é muito profunda e passa pelo fato de entendermos como a gastronomia também é um elemento de exclusão no Brasil. Em 2012, após

Chef Edson Leite é o idealizador da Gastronomia Periférica, projeto social que visa transformar as vidas dos periféricos através da cozinha

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A própria Tia Nice é quem se encarrega de buscar o peixe, que normalmente vem do mesmo fornecedor no Vale do Ribeira. Ela tem preferência por algumas espécies de pescado e sempre acompanha todo o processo. “Eu conheço o pescador e já sei como

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À frente do local também está a mãe de Vinicius, a chef de cozinha Cleunice Maria de Paula, conhecida como Tia Nice. Ela ainda conta com a ajuda de seu esposo Chico e mais uma equipe de colaboradores. Foi pelo prazer em preparar os peixes e pela paixão por pesca de Chico é que o pescado está muito presente na casa.


Na Cozinha Usuários do Programa Bom Prato Itapevi

meninos da periferia, sonhava em ser jogador de futebol. Mas, o que ele só ficou sabendo anos depois, era que ganhar dinheiro e ter destaque nesse esporte é para poucos. Agora, para ele, “a gastronomia é o novo futebol da quebrada”. “Entre várias coisas, cozinhar também é um ato político, um ato de formação, de amor. Cozinhar é vida! Comida é inclusão”, enaltece. Ele exemplifica: “Já percebeu que quando estamos em uma reunião e o que se tem é só água para beber, as pessoas não conversam? Agora coloque uma bolacha de água e sal para ver. Tudo muda!”

Organicamente Rango

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uma temporada na Europa, o chef Edson Leite decidiu que era a hora de começar a transformar o cenário. Assim, nasceu a Gastronomia Periférica, um projeto social que visa transformar as vidas de quem mora na periferia através da cozinha. Além do chef, Adélia Rodrigues

divide a sociedade da empresa que conta com uma equipe de 20 colaboradores, em sua maioria mulheres, ex-alunas e gente que mora nesses bairros mais afastados. Aos 15 anos de idade, Edson Leite, assim como a maioria dos

Para Leite, a comida é a maior rede social do mundo. “O que fazemos é sistematizar isso utilizando como estratégia para que as pessoas estejam juntas e pensando em toda cadeia da alimentação. No fundo, cozinhar é o menos importante”, explicou o chef. Ele aprendeu a cozinhar em Portugal, local onde os peixes e frutos do mar são muito utilizados na cozinha. “Se você pegar meu livro, por exemplo, vai ter várias receitas com peixes porque aprendi a cozinhar e respeitar os processos de produção”, contou Leite. Entre seus favoritos estão as espécies de bacalhau, além do polvo e lula. A Gastronomia Periférica é um tipo de workshop gastronômico onde o pescado também tem um papel relevante. O chef antecipa que, para esse ano, a ideia é levar profissionais especializados no preparo de peixes. Ele conta que uma vez, foi a uma grande rede de supermercado na periferia e perguntou ao gerente o que era mais consumido entre a carne bovina, peixe e frango. O gerente respondeu que era a carne bovina, independentemente do preço. O segundo era o frango, seguido do pescado. “Isso me fez entender o porquê temos tantos restaurantes que fazem a chamada comida japonesa na quebrada, mesmo que a maioria


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Na Cozinha

Um exemplo é a ação da Agência Solano Trindade que desenvolve parcerias com empresas privadas e governo. A agência é a estrutura que abriga o Organicamente Rango e outras iniciativas sociais.

Maior consumo do pescado nas periferias enfrenta barreiras culturais e financeiras

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só conheça o salmão”, comenta. Por isso, ter uma formação em cortes de peixes dentro da escola é essencial. “Apresentar crustáceos para os alunos, assim como cozinhar um polvo, são coisas essenciais. Sabe por quê? Porque não sabemos preparar pescado em casa. Ninguém nos ensina e por isso temos aulas específicas”, destacou o chef Edson Leite. Na visão dele, o consumo de pescado nessas regiões está ligado à cultura alimentar e ao desejo pelas coisas. “Durante muito tempo, fomos escravizados e comíamos o que muitas vezes sobrava da alimentação dos ‘brancos’ que comiam ‘bem’. Quando fomos ‘libertos’, o nosso desejo era ser como quem nos escravizava”, opina. E ainda completa. “Por isso, desejamos casas grandes, carne em abundância, camarão, peixes caros etc. Ninguém nem explica para a quebrada que é bom consumir peixe porque tem um valor nutricional importante e que é

uma proteína boa para o organismo. Consumimos porque é uma sensação de ‘poder’, entendeu?”

“Uma questão de valor” Cleonice Maria de Paula, a Tia Nice da Organicamente Rango, expõe que além do aspecto cultural, o que torna o pescado um item de alta gastronomia nas regiões periféricas é o preço. “É muito caro. Você pode pegar pós-ponte [gíria que significa quando há transição entre uma região periférica e o centro da cidade] até aqui e serão valores altos. Se o peixe aqui fosse mais barato, a periferia inteira comeria”, opina. Segundo ela, o caminho para o maior consumo passa por uma organização do setor que inclui também feirantes e os principais estabelecimentos fornecedores, atuando em conjunto para promover o pescado a um preço mais acessível à periferia. Já o governo também pode influenciar na realização de campanhas em prol da alimentação.

No ano passado, durante a pandemia, a agência forneceu 21 mil marmitas gratuitas para comunidades da região e do centro de São Paulo. Foram também 10 mil cestas básicas e 10 mil chinelos. “Eu coloquei frango, mas o sonho era ter colocado peixe [nas marmitas] porque é saudável. A pessoa da periferia, quando abrisse a marmita, se sentiria privilegiada’’, destacou a chef Tia Nice. Thiago Vinicius, da Organicamente Rango, explica que os estabelecimentos da região já sabem da atuação social do restaurante e costumam ofertar produtos com melhores preços das proteínas. No entanto, a parceria não acontece com o pescado, justamente pelo alto custo. O alto custo também é o principal motivo do pescado ser servido apenas uma vez por mês no Programa Bom Prato. Com o objetivo de oferecer à população de baixa renda refeições saudáveis e de alta qualidade a custo acessível, o programa foi criado pelo Governo do Estado de São Paulo nos anos 2000. “O custo sempre interfere no valor total das refeições. A gente só consegue servir porque temos uma regra no cardápio que precisamos ter peixe”, revelou Daniela Rossetti, diretora de qualidade do Bom Prato pela Secretaria de Desenvolvimento Social. Dados atualizados em 2019 apontavam que o subsídio governamental era de R$ 4,70 para adultos e de R$ 5,70 para crianças com até 6 anos, que têm a refeição gratuita. Coordenado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social, a rede conta com 59 restaurantes em funcionamento, sendo 22 localizados na capital, 12 na Grande São Paulo, 8 no litoral e 17 no interior. Com uma alimentação balanceada em 1.200


Em datas especiais, como Natal e Páscoa, o programa oferece cardápios diferenciados. Nas ocasiões, é servido um pescado “mais elaborado” duas vezes ao mês. A média de uma unidade que serve 1.500 refeições diária é que haja o consumo de 500 kg de peixe. “O Bom Prato oferece em todas as refeições

diversas frutas, verduras, legumes, feijão e proteína, que é o prato base. Ele incentiva a população a consumir alimentos saudáveis nas refeições durante o dia a dia e agora, a gente está trabalhando aos finais de semana também”, explica Rosetti. De acordo com a diretora, muita gente que vai às unidades nunca teve a oportunidade de comer uma couve refogada, por exemplo. Então, assim, é possível conhecer um novo alimento, que faz muito bem para saúde da pessoa. “Acredito que esses produtos não têm um preço bom para as pessoas de baixa renda estarem consumindo. Se fossem mais acessíveis, elas poderiam se alimentar melhor”, completou.

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O programa procura atender a população que está em vulnerabilidade alimentar. Para isso, segundo a diretora, em cada unidade da rede, existe uma nutricionista que planeja os cardápios mensais, visando utilizar produtos da época. E é nesse cardápio dos almoços onde o pescado está presente. Os oferecidos são oriundos de fornecedores do Estado através de contratos locais, mas algumas unidades gerenciadas por organizações sociais também compram pescado de outras regiões, como Minas

Gerais. Mas, a orientação é comprar apenas os filés brancos, justamente pela falta de hábito alimentar. “A merluza e o panga são os mais utilizados porque há uma grande quantidade de idosos no programa. Tentamos colocar sempre o filé porque não tem espinha e não causa algum descontentamento dos usuários”, falou.

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calorias, o almoço oferecido todos os dias da semana sai a R$ 1. Cada usuário tem, ao menos, uma porção com no mínimo de 100 g de proteína.


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Democratizar o pescado na quebrada é a grande missão de quem acredita na força e benefícios dessa proteína para a periferia

ser uma câmara frigorífica onde se fabrica gelo para uso próprio e até para outras peixarias.

Caminhos para a democratização do peixe

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Para Thiago Vinicius, da Organicamente Rango, a democratização e o acesso ao peixe precisam partir do hábito de consumo mais “nacionalizado” e, sobretudo, educacional. “Eu pego o cardápio da minha filha na creche e não vejo nenhum tipo de peixe. Quando você vai, por exemplo, à França e vê o cardápio da galera, todo dia se come um queijo diferente. Quando ela crescer vai consumir aquele queijo porque na escola já vai experimentando. Eu não vejo essas coisas nas escolas públicas e nem mesmo nas praias [do Brasil]”, argumenta. Segundo Vinicius, isso forma um cidadão que só enxerga carne ou frango como mistura. O chef Edson Leite, da Gastronomia Periférica, aponta que o pescado é um elemento de exclusão porque não está nas merendas escolares públicas. No entanto, é fácil encontrar o alimento nas escolas particulares no almoço dos alunos em forma de camarão. “Vivemos um momento no qual a exclusão está cada vez mais clara e a alimentação escancara isso, deixando mais nítido o

quanto que, quem tem dinheiro, come o que quiser e quem não tem, come o que tiver. Educação alimentar é a mudança efetiva a nível nacional”, concluiu. Conforme ele, esse hábito também reflete no incentivo ao comércio local, já que nas regiões periféricas é muito mais difícil encontrar peixarias e sacolões. “Abre mais farmácia e açougue do que sacolão e peixaria. Afinal, abrir peixaria na periferia é um grande risco”, destacou. “A maior dificuldade de manter um negócio ‘consistente’ nas periferias é o consumo diário de peixes, que é escasso”, explicou Anderson Oliveira, proprietário da Peixaria Oliveira Fish no Parque Pinheiros, bairro periférico da cidade de Taboão da Serra, em São Paulo. Segundo Oliveira, se os estabelecimentos não estiverem atentos e buscarem outras fontes de renda, como vendas para restaurantes e bares, há um risco muito grande de não fecharem as contas no fim do mês. A administração da peixaria é feita com sua esposa, Ana Paula Oliveira Soares, pois o local vai além de vender pescado: também é uma transportadora que abastece restaurantes da região, além de

“Acredito que a população de baixa renda não tem o hábito de consumir pescado todos os dias”, afirma. Mas, para Anderson Oliveira, isso vem mudando. Afinal, muitas pessoas estão cuidando mais da saúde e buscam informações nutricionais sobre os alimentos. “Para garantirmos este cenário, precisaríamos da ajuda dos nossos governantes em relação aos impostos cobrados para conseguirmos também ter a oferta e demanda” defendeu Oliveira. Já para o chef Edson Leite, a mudança real também faz parte da formação educacional. “O pescado tem que estar na aula de história e no cardápio da escola. Precisamos contar a história dos nossos rios, da nossa fauna marinha. Só assim se inicia uma mudança no consumo”, comenta. Para 2021, o plano de democratizar a alimentação também seguirá no Organicamente Rango. Entre as diversas ações planejadas está um mecanismo que funciona assim: a pessoa, quando paga o prato dela, pode doar uma marmita para as pessoas da quebrada. “Nosso plano é sermos referência na democratização alimentar”, revela Thiago Vinicius. Por isso, os planos incluem ainda uma “Organicamente Escola” para auxiliar a formação dos jovens da região no setor de food service. “É mais um ano para avançar na possibilidade das pessoas virem até a comunidade. A Agência Solano Trindade nasceu para tirar a nossa comunidade das páginas policiais para ocupar as páginas culturais”, finalizou.


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Personagem

A cultura do pescador De montador de caixas de transporte a secretário de pesca de Itajaí, Nilson José de Borba deixa mensagem de dedicação e amor à atividade pesqueira Texto: Ricardo Torres

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os 16 anos, Nilson José de Borba teve a primeira experiência com o universo pesqueiro. Foi contratado pela Sul Atlântico de Pesca para montar caixas de madeira que seriam usadas para o transporte de pescado. Trabalhador incansável e perfeccionista, como hoje se define, logo foi embarcado como pescador. Em contato com os colegas pescadores, percebeu prontamente a vocação para a comunicação. Na década de 90, iniciou uma jornada por rádios catarinenses para apresentar um programa de pesca voltado totalmente ao segmento que se tornou o único elo entre os pescadores, armadores, empresários e seus familiares. Natural, portanto, que ele se tornasse uma das vozes mais ouvidas nas comunidades pesqueiras do Estado. Da rádio ele foi à TV, onde apresentou o programa Nossa Pesca, que valorizava a pesca industrial pela TV Brasil Esperança.

Nilson José de Borba (esq.): uma liderança pelo exemplo que acredita na importância das lições do passado para a construção do futuro

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Em 2006, ciente dos desafios da vida embarcada, Nilson sentiu despertar uma veia de ação social. Ele desenvolveu o projeto Saúde a Bordo, um projeto de prevenção, atendimento e acompanhamento à saúde do pescador e trabalhador da pesca. Foi dele também a iniciativa de realizar cinco campanhas “Dengue não é história de pescador, ela pode matar.” Com a ajuda de outros voluntários, também distribuiu mais de 20 mil preservativos no combate à doenças sexualmente transmissíveis e palestrou sobre métodos de prevenção a doenças infecto-contagiosas. Como coordenador da Estação Rádio Costeira de Itajaí, em 2011, ele zelava pela salvaguarda da vida humana no mar. Ao final daquele ano, ele contabilizou ter colaborado com 32 resgates. Nilson se tornou ainda autor de livros como o “Histórias de Pescador”, “uma coletânea de histórias hilárias e humanísticas contada por nossos pescadores ou pessoas ligadas a eles”, descreve. O livro inspirou o festival de mesmo nome, um sucesso absoluto, de público e de participações. Ele se preocupou ainda em como democratizar o acesso à cultura junto aos trabalhadores do mar. Em 2018, lançou o projeto “Biblioteca a Bordo - Navegando na cultura popular catarinense”, que prevê o estímulo da leitura a bordo. “O objetivo é ajudar a melhorar a imagem do pescador na sociedade, porque através da leitura posso contribuir para mudar o vocabulário, o senso crítico e até o nível cultural dos pescadores.” As campanhas e projetos criados por ele subsidiaram a criação de uma lei municipal que instituiu em Itajaí (SC) a Semana do Pescador, que vai de 23 a 29 de junho. Tanta dedicação em prol do setor chamou a atenção do prefeito, Volnei Morastoni, que o convidou a integrar a equipe de governo, assumindo a diretoria de pesca da cidade entre 2016 e 2020. “Ter a oportunidade de participar de um governo, ajudando a criar políticas públicas de qualidade, que beneficiam todo o setor, pra mim foi muito importante e me deixou muito honrado.” De volta à secretaria com a reeleição do prefeito, ele pretende liderar pelo exemplo. Fez questão de deixar aos leitores da Seafood Brasil uma mensagem sobre a importância de se acreditar no seu potencial, na força de realizar. “Você nunca vai construir coisas grandes nos anos que virão se não recolher as lições dos anos que passaram”, conclui.


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