Filosofia Nietzsche

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considerados como se fossem ‘dados’ desde sempre, os valores adquiriram um estatuto de sacralidade, atemporalidade e universalidade. Afirmando o contrário, Nietzsche verifica sua procedência insidiosa no processo de formação da cultura. Os valores não são eternos, mas são um tornar-se, posto que “são ‘resultados’ (‘Gewordenes’) de um laborioso processo formativo, presumivelmente ocorrido na pré-história da espécie e recuperado hipoteticamente pela reflexão filosófica” (GIACÓIA, 1988, p. 186) Denunciando os indícios inconfessáveis das condições de aparecimento, os valores aparecem atrelados à história. A verdadeira problemática da moral consiste na explicitação de toda a evolução do homem no seio da cultura – de como o homem selvagem pode conquistar uma vontade mais durável que o animal, como foi possível torná-lo responsável e ainda ser capaz de prometer por si mesmo no futuro. Em outros termos, as reflexões de Nietzsche estão intrinsecamente ligadas aos princípios da cultura – e ela se constitui basicamente como adestramento e coerção. O senhor e o escravo Toda a investigação arqueológica que se desdobra a partir dessa necessidade – a de questionar o valor dos valores, com o auxílio da filologia, a partir da óptica da vida, resultará na dupla origem dos valores. Este conhecimento determinará dois tipos de homens – o senhor e o escravo. A determinação dos tipos advém da hierarquia que instaura entre eles uma distância, um abismo. Enquanto o primeiro apresenta um modo de ser afirmador, pois parte de si para criar valores e com isso se enaltece; o escravo, pelo

contrário, é negador, pois é impossibilitado de criar valores por si próprio devido ao bloqueio que sofre em sua interioridade. Só pode fazê-lo invertendo e deformando os valores criados pelo senhor em seu próprio benefício. Assim, é a partir da hierarquia que o filósofo pressente que há uma dupla origem dos valores – ‘bom e ruim’ e ‘bom e mau’ – que pertencem a dois tipos de homens, respectivamente, o senhor e o escravo. Ora, a dupla origem dos valores se remete diretamente às interpretações que eles fazem a respeito da vida. O recuo hipotético presente na Genealogia da Moral, servirá para explicitar como se deu a formação do tipo homem – como ele, dentro do seio da cultura, tornou-se um ser maleável e doméstico, estável por meio de uma maquinaria cruel em que estão presentes as penas, os castigos, a implantação do sentimento de culpa que, se por um lado converteu o homem em ser gregário, por outro, deu origem a toda cultura superior, como as artes e a Filosofia. Na verdade, trata-se de investigar o sentido de toda a cultura – que é, de fato “amestrar o animal homem, reduzi-lo a um animal manso e civilizado, doméstico” (NIETZSCHE, 1988, p. 40)(GM I, 11 p. 40) Retomando o parágrafo 11, da primeira dissertação da Genealogia da Moral, temos a primeira referência à ‘besta loura’ e que somente agora, discorridas tais considerações, temos condições de efetivamente esclarecer. A ‘besta loura’, num primeiro momento, refere-se ao animal homem, aquele errante e aventureiro, ainda não foi cerceado pelas malhas da cultura. Num segundo momento, mesmo sendo submetido às normas e leis – em suma, à vida gregária, podemos apreciar a diferença en-

Nazismo Contração do termo “Nationalsozialismus” (Nacional-socialismo, mas que não deve ser confundido com o socialismo), o nazismo é uma doutrina políticoideológica associada à extrema-direita, cujos principais elementos são o pangerma­ nismo (formação da Grande Alemanha), o antissemistismo (aversão aos judeus), crença na superio­ ridade germânica, o totalitarismo (personi­ ficado na figura do führer Adolf Hitler) e a oposição ao liberalis­ mo econômico. O nazismo colocava-se como uma alternativa à democracia liberal e ao comunismo.

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