Filosofia Nietzsche

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Transvaloração

Transvaloração dos valores Originalmente em alemão é escrito como Umwertung, termo formado pelo prefixo Um – que denota “movimento circular, queda, retorno, mudança” – e pela palavra Wert – que significa “valor”. O ponto central da transvaloração dos valores é a mudança radical de ponto de vista para outro, seja social ou individual.

Oswaldo Giacóia Jr Doutor em Filosofia pela Freie Universität Berlin (1988), com pós-doutorado pela Freie Universität Berlin (93-94), Viena (97-98) e Lecce (20052006). Atualmente é professor LivreDocente do Departamento de Filosofia-IFCH da Universidade Estadual de Campinas. É um grande especialista na obra de Friedrich Nietzsche.

Neste sentido a transvaloração dos valores se dá no deslocamento da moral do escravo para a moral do guerreiro, da moral do servo para um sistema moral que paute a vida, entendida em perspectiva total, de modo a se alcançar a máxima plenitude em cada existência. Devido a isso, para Nietzsche, deve-se jamais submeter a vida à mediocridade, mas sim a uma atualização da vontade, do desejo, por meio da própria potência intrínseca a cada indivíduo. Para ele, trata-se da moral de um super-homem, de uma moral desfraldada nos limites que se estabelecem nos confins do além-do-homem. Tradução de Umwerthung A respeito de tal tema, Luís Rubira, no artigo “Uma introdução à transvaloração de todos os valores na obra de Nietzsche”, expõe a eficiência tanto dos pressupostos básicos do que se liga a transvaloração quanto a problematização sobre a terminologia (e as traduções) de tal conceito. Ou seja, levanta questões como: o que seria transvaloração ou tresvaloração? Em nota explicativa, no citado estudo, Rubira esclarece dizendo: “Acerca das traduções da palavra alemã Umwerthung, é importante registrar o seguinte: o tradutor espanhol Andrés Sánchez Pascual justifica o emprego de transvaloración por guardar a ideia nietzschiana de ‘trocar e substituir uns valores por outros, a saber, os inventados pelos ressentidos, pelos dimanados da afirmação da vida’. O Diccionario de la lengua española da Real Academia Española explica que o prefixo Trans, do latim trans ‘significa al outro lado; a través de. Puede alternar con la forma tras’.” Rubira continua, ao falar dos tradutores franceses (C. Heim; I. Hildebrand, J. Gratien e J.-C. Hémery), especificamente das Éditions Gallimard que utilizam o termo renversement e transvaluation ou mesmo inversion. Para ele, I. Hildebrand e J. Gratien na tradução da Genealogia da Moral realizam duas traduções para Umwerthung: uma para as ocorrências na Genealogia da Moral, na parte I parágrafos 7 e 8, é usada como renversement, e, na parte III parágrafo 27 já aparece o termo transvaluation. “Jean-Claude Hémery acredita que o prefixo ‘trans-‘ utilizado anteriormente nas traduções francesas, não comporta as ideias de ‘renversement, retournement, changement’, guardadas no prefixo ‘Um-‘ alemão, e opta pelo termo inversion. O tradutor brasileiro Paulo César de Souza indica que o prefixo alemão ‘um- indica movimento circular, retorno, queda ou mudança’ e opta pelo termo tresvaloração posto que ‘tres- é uma variante de trans-, que transmite ideia de movimento para além ou através de’, observando que, no seu entender, ‘tres- expressaria

de modo mais adequado a radicalidade da mudança’; observa, ainda, a importância de manter na tradução do termo Umwerthung a ênfase na palavra valor [Wert]”, explica Rubira. Neste sentido, não só pela dificuldade na tradução, para Luís Rubira, a transvaloração de todos os valores é, provavelmente, a tarefa mais polêmica presente na obra de Nietzsche. Rubira comenta, também, sobre como estão condensadas, em tal conceito, as principais ideias de Friedrich Nietzsche. O autor ressalva ainda que, para uma compreensão acertada do conceito, torna-se imprescindível que se tenha clareza o que, para Nietzsche, se consolida como valor. Desse modo, mesmo que se tenha em mente tudo que se encontra no bojo do niilismo na modernidade, bem como o que se ligue a sua crítica à metafísica e à moral socrática-

Neste sentido a transvaloração dos valores se dá no deslocamento da moral do escravo para a moral do guerreiro, da moral do servo para um sistema moral que paute a vida, entendida em perspectiva total, de modo a se alcançar a máxima plenitude em cada existência. Devido a isso, para Nietzsche, deve-se jamais submeter a vida à mediocridade

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