Revista Instantes 6 - Destacável

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Instantes 06

Destacรกvel Iguais na diferenรงa

Biblioteca Escolar/Centro de Recursos Educativos

Escola Secundรกria Manuel Teixeira Gomes


“Iguais na diferença” Prof. Alexandra Santos | Educação Especial

“Não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes” (Paulo Freire)

A escola é, sem dúvida, um dos principais meios de desenvolvimento, de crescimento, de qualidade social, de democracia e de liberdade. Nos tempos que correm, não basta, porém, ter acesso a uma escola. Exige-se, hoje, na prática e não apenas na lei, que a escola seja para todos, seja durante mais tempo e seja para aprender mais e melhor, não só no plano dos saberes, mas também no plano das atitudes, das competências, dos valores e dos requisitos relacionais necessários à participação social e profissional. Tudo isto, sem qualquer tipo de descriminação, sem “deixar para trás” ou “de fora” os que apresentam dificuldades ou mesmo limitações na aprendizagem. Estamos a falar da escola inclusiva, uma escola que, para além de integrar, acima de tudo, inclui. Uma escola que ambiciona a qualidade e que visa promover o sucesso educativo através da garantia duma formação integral de todos os alunos, onde se incluem os alunos com necessidades educativas especiais.


Não será demais recordar a Declaração de Salamanca (1994) que, mundialmente, constitui um dos documentos mais importantes elaborado pela UNESCO no âmbito da educação especial, que recomenda “as crianças e jovens com necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a elas se devem adequar, através duma pedagogia centrada na criança, capaz de ir ao encontro das suas necessidades”. A mesma Declaração reforça, também, a ideia de que “as escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva, constituem os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, constituindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos”. Atualmente, e de acordo com o modelo inclusivo, encontramonos perante o desafio de responder com efetividade às necessidades de uma população escolar cada vez mais heterogénea e, como tal, para além do devido acompanhamento aos alunos com necessidades educativas especiais que frequentam o ensino secundário ao abrigo do Decreto-lei nº3/2008 de 7 de janeiro, este ano, decorrente da alteração da lei referente à escolaridade obrigatória, deparamo-nos com um desafio maior. Pela primeira vez, a escola Secundária Manuel Teixeira Gomes recebeu um grupo de 6 alunos que iniciou o ensino secundário com Currículo Específico Individual. Trata-se de alunos com necessidade educativas especiais que, decorrente de limitações permanentes ao nível da atividade e participação, necessitam de alterações significativas no currículo comum de acordo com o seu nível de funcionalidade, nomeadamente a criação de conteúdos conducentes à sua autonomia pessoal e social, dando prioridade ao desenvolvimento de atividades de cariz prático e funcional e à preparação para a vida pós-escolar. Neste sentido, a Direção da Escola, conjuntamente com os docentes envolvidos, reuniu todos os esforços possíveis de forma a assegurar as condições necessárias à concretização do disposto


na portaria nº 275-A/2012 de 11 de Setembro, que regula o ensino de alunos com currículo específico individual em processo de transição para a vida pós-escolar, definindo uma matriz curricular de modo a garantir que os currículos específicos individuais

integrem

fundamentais,

as

áreas

simultaneamente

curriculares

consideradas

dotada

flexibilidade

da

necessária a uma abordagem individualizada capaz de respeitar e responder às especificidades de cada aluno. Para complementar o trabalho desenvolvido no âmbito dos currículos específicos individuais, elaboramos para cada aluno o Plano Individual de Transição, um projeto para uma vida em sociedade, com o objetivo de promover a aquisição de competências sociais necessárias à inserção familiar e comunitária e o desenvolvimento de uma atividade profissional. Assim, efetuou-se um levantamento das necessidades do mercado de trabalho e dos serviços e instituições possíveis à realização de formação mas, pela inexistência de Centros de Recursos para a Inclusão ou IPSS com valência de Educação Especial, como menciona a referida portaria e, de acordo com as orientações transmitidas pela Direção de Serviços da Região do Algarve, decidiu-se pelo desenvolvimento dos planos na escola, uma vez que os alunos se encontram numa fase de integração na mesma e porque esta oferece um leque considerável de atividades e experiências laborais com o devido acompanhamento e monitorização. Ao longo do ano, estes alunos foram diariamente apoiados pela docente de educação especial no desenvolvimento de áreas curriculares que privilegiam a componente funcional e beneficiaram de aulas de Inglês, TIC e Educação Física para o cumprimento do disposto na portaria já referida, bem como do preconizado nos seus Programas Educativos Individuais. Contaram ainda com uma proveitosa ajuda de uma assistente operacional no acompanhamento diário das diversas atividades desenvolvidas.


Com esta ação ajustada ao perfil de funcionalidade de cada aluno e aos seus contextos de vida, potenciamos a última etapa da escolaridade como espaço de consolidação de competências pessoais, sociais e laborais na perspetiva de uma vida adulta autónoma e com qualidade, ao mesmo tempo que contribuímos para uma inclusão socioprofissional. Por fim, a título pessoal, aproveito para agradecer a esta magnífica escola que me acolheu como se de família se tratasse e em ambiente familiar incluiu com o privilégio de conviver com as diferenças.

"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós, deixam um pouco de si, levam um pouco de nós" (Saint-Exupéry).



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