Eu quero fazer poesia - Lara St

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Eu quero fazer poesia LARA ST 1


Eu quero fazer poesia ©Lara St, 2017, poemas e ilustrações

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Nova RAIZ Rua Vicência Faria Versagi, 400 – cj 111 Sorocaba/SP

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LARA ST

Eu quero fazer poesia (1° Edição)

2017

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Índice

Intenção tropical

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Eu quero fazer poesia

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O meu silêncio mora do lado de fora

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O mundo é feito de rastros

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O mundo é sentimento

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Quando eu não consigo acompanhar meu coração

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É certo que me vou

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Poço eu esqueço seu eco

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Caraca eu posso ter várias caras

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PARTE 2 E os provérbios

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Intenção tropical Olhar para o mundo e como que do outro lado vem algo engajado em te matar. É o que caminha conosco do lado contrário Encontraremos-nos no infinito! E conversamos por telepatia mística? Presente silenciosa e envolvente num traçar um retalho da nossa própria cara E depois destruí-lo simultaneamente porque detestamos nossa própria cara e qualquer cara tricotada parecendo um estranho. Mas quem vê a escrita que está no tricô consegue esquecer da habilidade precária do seu autor. Hoje se veste tudo de fábrica! O padrão já vem pronto e reproduzi-lo custa tempo a sós não tem como.

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Eu quero fazer poesia

Tenho uma cabeça grande E esse coração aflito E mesmo sem eu nunca os ter visto Estes seguem sempre adiante aparecendo comigo

E meus olhos são virados pra frente Nunca enxergam o eu que estou Repousa em tanta coisa que em cada coisa que repousa Eu me divido em duas Aquela coisa que vejo E uma outra que eu não sou e é essa que eu mais desejo

Grande na verdade! é o palco do desejo Essa peça de capa dura 6


O mundo que eu mesma faço De perfeita incoerência A esse ensaio sem brochura Pois será sempre incompleto

Eu também tenho uma música que sempre cometo o erro de não compor Em favor do silêncio Onde fica a minha mais ignorante inocência Confortável, instalada, Sem saber mais como... infeliz, entediada

Acha que sempre está em posição Suficiente de inconsciência pra poder colocar a razão e sua própria existência Em cada pedaço do mundo Vendo se o ser se alimenta talvez por outro coração

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O sentimento chega a não mais entender O que se chama; comparação

Olhava para o espelho de um lago E foi quando eu notei a lua e a copa daquelas arvores que estavam agora para baixo de mim se misturando com uma imagem turvada que julguei ser também do fundo imagem misturada! A agua é o reflexo, o fundo e o seu sal Tudo contido num mesmo momento

Antes disso que me perco! Quando faria de todo aquele espaço Só interessante Se meu próprio movimento destruísse toda aquela permanência Tão absoluta, que mostraria a mim A pequenez de meu próprio sofrimento

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A destruição é uma confusa Em querer fazer de tudo sua imagem e semelhança é o instinto de criar Mas com um nome: vingança Nesses tempos aqui Eu vim vendo Que tudo que vejo é só meu próprio estado Prazer, desgosto, acontecendo

Mas vim ver depois Que estão de máscaras nesses momentos Minha auto afeição perversa Digerindo o veneno para que eu não tenha medo De saborear essa coisa toda Que na verdade é só veneno Que eu insisto em digerir Como se eu estivesse aqui para evacuar! Evacuar e apenas evacuar!

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deixei essa vida envenenada Para que o ego possa engolir essa superfície sem mais nada Essa forma sem conteúdo

satisfeita, enganada

Imaginei-me como um rei Que faz as próprias leis E deixa que o mundo então componha as suas melodias, que ele não pode só, fazer... Mas é um glutão, narcisista No seu mundo real Ninguém se importa Se ele roer até o osso as carnes fartas e mais puras Só para o seu bel prazer Mas todos veem naqueles ossos O quanto lhe falta ternura, o quanto está vazio por ter O mundo sempre lhe calçando os pés E é do vicio que se ocupa

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Me vejo também Como comadre triste e imaginadora Que há muito que tenta se encontrar Mas só pode ver com o olhar que tem O olhar míope para tantas coisas que deixa ainda mais tentadora A descoberta de tudo que ela não é E se por acaso cai em cima de algo E se vê- la de fora, já caída desvalesse Desiste de tentar Ninguém a assiste Ninguém nunca está lá

Em nenhum lugar ninguém pertence E tudo isso é sonho! La nós pertencemos

Mas é num 'ser eu' que me esqueço Esse lugar em que pareço sempre não estar

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essa coisa que falta Que é como a culpa de amar E nunca ter de volta

Nunca quis amar então destruo o que amo por mim Que é algo que eu posso fazer e passo a passo inverto o meu mundo todo não sei o que veio antes talvez uma imensa quantidade de dor impossibilidade de compor com isso ou sair dali e foi quando perverti, quis que cada ser se contesse em si um pedaço de minha dor mas não os conheço, e não conheço a mim mesma

transformado o mundo agora seguia minhas próprias leis (por que vejo como quero)

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e todos tinham alguma inversão refletida desse meu aspecto obscuro, que não aparece em cor Não pertence em outro, mas este parecia acolher-nos

esse ser eu em que me esqueço...

Mas cada coisa que amo! Devo amar até minha dor Como um ser pra fora de mim Deve-se amar sem perturbar a própria vida que acontece É assim que faço poesia

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O meu silêncio mora do lado de fora

O silêncio mora do lado de fora Por dentro há sempre a lembrança ruidosa de viver Coração batendo alerta em quem o concentra, escuta, não controla a pulsação e nada do que funciona, por dentro (é ver a própria vida passar diante dos olhos)

Pertencemos a nossa pele, e nosso interior Que nunca vimos, e só conhecemos de nome -suspeito parecer o dos outros; como mostram os livros!-

O silêncio mora do lado de fora Como um som a qual segue o coração E que o reflete em batidas A mente e o corpo sob o mesmo efeito

Tudo paisagem distração! 15


O mundo é feito de rastros

As formas vão embora passam e deixam seu cheiro no ar_

num rastro de saudades

gosto de coisas que se parecem, Que nos levam pra um mesmo lugar o caminho que faz é a saudade contém a volta e a partida_

 

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O mundo é sentimento

Contingente: Eu perverso!

Inverto Posso, pois tudo que sinto tem mais de uma mão Que se estende até não se ver mais A diferença entre o céu e o chão São vias sem caminhos Curvas sem direção

Estou pra sempre perdida num sonho sozinho encruzilhada em que me aborreço pois no sonho foi fácil conter o que de mundo eu não pertenço

Não há nada mais triste que sentir que conheci um dia essa coisa que nunca mais vejo 17


exatamente em nenhum lugar pois Entre isso que toca e a minha mão Existe um algo que desconheço e que sempre quero conter para mais além do que podem meus dedos E fico vendo muito pra além de onde estou e é assim que eu me distraio e me esqueço

Estou parada! Sabendo que sei poder, livremente Me fazer pertencer a um desses caminhos Num momento em que estarei registrada andando por uma estrada... E já estou em tantas outras! Sem nem ter me visto andar por nenhuma

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Desculpas:

Eu invento que paro Pois temo pisar em algo bom Esmagar uma delicada flor ver seu caule se quebrar (Pois sou tão descuidada e ando distraída olhando para o céu) E não aguentaria ver tão nobre beleza ser destruída pela minha pesada presença Se sou,, sou peso de papel Não deixa voar Ou Começo a imaginar meus pés afundando Se eu resolvesse atravessar E eu sumindo, sendo devorada para baixo da terra pois o solo estaria encharcado virando areia movediça E eu sumindo... Mas que medo mais tolo! Se não fazem nem marcas as sandálias no asfalto! 19


(moro em cidade, mas meus sonhos se passam no campo. Tai o porquê posso imaginar sair na rua e me afundar em lama, e quem sabe não seja isso que eu queira mesmo!)

Inversão:

Já cansei de estar aqui E em gesto bruto e inconformado inverto todos os placas/sinais que informam O nome de cada direção E o número do quilômetro da estrada Sonhando que assim Posso estar em dois lugares ao mesmo tempo é sim... duas placas juntas simbolizando dois em um mesmo lugar acalmo meus desejos com tão baixa perversão! por que estou tão exausta! De me sentir assim tão nada Que quero ser mais que isso! aquilo! mais que nada!

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_Um tempo depois, descobri, ou alguém me contou Que trocando as placas eu confundi o caminho De outros que só querem passar de mansinho Seguir o caminho de casa Oh e como isso me fez sentir miserável! Sou um ser egoísta que não enxerga mais nada além dos sonhos, Ninguém existe para este ser que não existe pra ninguém!_

Solução (ou mistura para fins de embriaguez): As criaturas quais falei antes, e as quais impedi o próprio caminho trazem sempre novidades A fauna e a flora de outras cidades Que elas iam plantar nos jardins daqui que só tem espinhos São diferentes plantas com cheiro de infância Infância! Infância! E nessas diferenças é que encontro semelhança minha contingência 21


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Quando eu não consigo acompanhar meu coração

-estendida na cama ou preliminar :

Só entendo O caminho que há entre meus pés e a cabeça

Toca musica, uma sobremesa (sobre mais do que entendo) Todo resto fora de mim compreende-se E consigo sentir-me simultaneamente. O resto

-uma coisa ardente: Pulmões e coração descompassados/pulsando sob seus próprios eixos/naquela melodia Que só eu posso sentir

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Por isso empresto a eles um de meus temperos conhecidos e começo:

Quando eu não consigo acompanhar meu coração é por que a inspiração eu sinto em outro, tocando em outro lugar, sopro na cara de um estranho eu sou o maestro de ser essa musica contra temporal e só me resta servir ao sentimento que não deixa a musica parar

Mas onde encontrar tantos tons! é harmonia ou esquecimento? se penso as coisas que estão longe daqui sou eu que as trago? ou elas que me levam se as trago as perco, e se me levam... ? 24


sempre as trago, nas viagens em que elas me levam encontro novas, em proporção com as que caem pela janela o vento leva as coisas, e refresca as sensações

Mesmo estando longe sempre estarei perto pois meu coração nunca sai do lugar Mas se perco a vista da estrada qual passo por sono ou outra coisa animal me lamento e invento uma atadura feita de fibras que não criam tramas concisas e que cobrem nada, mais um sentimento de pensar longe e sentir com o próprio coração, que ele esta em outro lugar pois tive a imaginação roubada pela estrada que eu não vejo mas sei estar lá

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É certo que me vou - A viagem de um trem sobre trilhos mecânicos, sem maestro de alavancas do retorno Levando estrangeiros nas costas, sem parar em nenhuma estação -

A quebra da sensibilidade é uma interferência Sinal de trânsito que não se move Trânsito, tráfego de conduta

Ninguém nunca entende esses cochichos que se enroscam

A pulsação do mundo

Copiada e repartida Engolida e despejada Esse coro de buzinas inconformadas

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e carentes Gritando incansáveis em desgosto meu horror, lá se entende; a multidão se justifica

Agora creio em seguir por avenidas que são dutos de mão única que por enquanto não morrem

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Poço eu esqueço seu eco

1. Dentro de mim há um extenso poço onde as coisas que caem rodopiam no mesmo lugar e depois afundam em seu liquido insalubre até perderem a forma

Eu mesma As jogo no poço Com uns tropeços que finjo não ver Mas sei que algumas são obra do vento E dos animais irrequietos que habitam todos os pântanos da contemporaneidade Escondidos embaixo das folhas mais verdes E irresistíveis ao toque Movimentam-se tão depressa

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Que quando percebo já lançaram Com um simples movimento dos pés Algum estado de turbulência novo Ao meu olhar que acompanha esforçado (tenho de volta-lo para trás de minha testa)

Demoro a esquecer Aquecido pelos variados objetos que afundam E me perco, ou com o medo de deixá-los Ali... -Desconfio Afundando...

Miro a água Miragem... Deliro

Então me dou conta

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De estar eu também no fundo do poço

2. O meu quintal tem um poço De pedras cinza e madeira azulada Sua alavanca que sobe e desce Num movimento calmo De tudo que não engana ou envelhece E eu me medito Com o som da água Que de tão espontânea, me é letal E eu conflito: Estou triste Ou é bonito?

3. (toda essa queda e eu nem sai do lugar!)

O poço Vejam vocês,

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é um corpo torto De tanto o tempo passar E sua passagem sob o chão é todo O mundo um lugar de um pro outro Sol, Mosca, Inferno, alto mar Lua, orelha, de livro, me afogo E um corpo que bate no fundo do poço onde está como morto um dia estará.

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Caraca eu posso ter várias caras

Essa é: A conversa fiada com gente estranha, 'juntada', misturada, elevada ao mais alto grau de meu divino pessoal. E quando deus falar pelo corpo de cada um. É por que o cara tá no maior astral, de se dar bem com a vida Descobri que sou poli sou politeísta, e cada dia prefiro acreditar num outro ente divino, o que mais puxa papo, o que mais acompanha meus passos, e que eu vejo no espaço Consideral

Na vida! Navio tantos pra embarcar Mas a gente sempre tem algum que prefere O que tem a cor menos desbotada calda cromada refletora de luz, e é caraca! Cada jeito de ver conduzindo essa embarcação Mas tem também esse que eu sempre vejo porai / ele é o que mais insiste em se esconder depois aparece de surpresa

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Avilda_ tenho um pouco de vários emendo meu corpo ao contrário do avesso virada a paulista com nome requintado ai já tá tudo errado! O meu ponto é do outro lado Do ocidente E nem tente me chamar desses nomes afetados

Relaine_(cobrindo os olhos de Avilda) vende também meus olhos! Pra eu não vender no meu cenho todo esse caos que me compõe Mas através dele posso enxergar em silêncio E voar, e sonhar

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Nem vejo o tempo passar Quando a conversa é boa Quando chove ou garoa E meu ouvido desinflama - Ninguém está me vendo! E eu vejo coisa tanta, na companhia da mais pessoa Que daria pra encontrar: só a sua música no ar!

Avilda_ Eu sou a ramificação de outros sonhos vão do coração até meus ombros! Que gostam mesmo é de dançar Mas sou também essa aflição toda De nos meus sonhos poder também não estar Isso é quando eu me perco, ingressando todo o meu olhar Sem medo, num outro corpo que está e faço de mim o nosso segredo

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transformada em outro, velejo num barco melhor mais confesso Só quem não consegue é a minha boca A Expressão mais serva do medo Não para de contar! Tudo menos o que acontece aqui

_Só Avilda tem um ataque de nervos

Frankeinstein_ Meu pai, minha mãe, alguns braços de coveiro Que enterram os mortos do mundo inteiro Sou agora o lugar do qual retira Suas frases, sou remendo de ideias, do que sei! Do meio das esquinas, asfalto, concreto! Mas também tem vozes em mim, Que falam sozinhas de outro objeto de plástico

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PARTE 2

E os provĂŠrbios

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O Humano se deita à meia noite, não é de costume que sua passagem para os sonhos se dê assim tão cedo. está ansioso, o humano. Prometera a si mesmo que hoje teria um sonho lúcido, isso para ele, era como que a cura mágica para todos os problemas que o afligiam naquela semana quente, lá, tudo poderia ser seu, ninguém haveria como o deter de fazer e ser o que bem quisesse... Lera sobre isso, e nesse dia viveu como um 'ser-para-osonho'. ninguém seria dono de seus sonhos, subordinaria nesses, a todos que já o haviam feito o mal que insiste em estar em todos os seus dias. Sem pressa, seria um malfeitor por noite...

Era como a morte... Só que viva

O Humano sofria de pensamentos suicidas recorrentes, porém era tolo ou covarde demais para poder colocá-los em prática, mas ninguém há de negar que de imaginar, ele entendia mais do que poderia tentar.

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“Concentrar-se em um ponto da visão.." O Humano repetia

"Concentrar-se em um ponto da visão.." repetia...

Até que foi surpreendido por si mesmo, percebera que acabou por se concentrar na frase, e a visão na verdade permanecera exposta a luz todo o tempo.

01:45

"Caralho! Uma hora repetindo a mesma frase... Não não, terei de mudar os meus métodos..."

Depois de um tempo de um pseudo transe induzido, aquilo acabou por se tornar mais uma daquelas coisas que O Humano determinava serem de seu dever cumprir, o que acabava por tornar a todas elas maçantes e não desejadas...

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"Puta que o pariu hein, e agora, tô aqui a mais de uma hora e nada de sonho, é , devem ser as expectativas... malditas expectativas, parece que não aprendo!"

"não deves criar expetativas" era a frase que O Humano carregava consigo no intuito de aderi-la como sua filosofia de vida, porém essa estava mais para um belo ditado na cabeça de uma criança, que entende-o mas o seu corpo parece preferir ignorá-lo.

Existe um ditado, que diz que os ditados só aparecem com significado para os humanos em geral, nos momentos onde eles realmente necessitam ser utilizados, por terem sido criados em tempos muito mais sábios que esse nosso, toda a sua 'anatomia' é meticulosamente preparada para nós, humanos estúpidos do futuro. Quando viu a deplorável situação para qual a humanidade se jogava de boca, o grupo dos oráculos Wytchkwawa (paradeiro desconhecido) formulou pequenos provérbios, que continham em si o segredo para se resolver as mais diversas infâmias que esses anotaram como de aparição frequente na sociedade, e lançaram-nas na terra, das mais diversas maneiras, em escrituras, músicas pinturas, mas nunca de boca em boca. Acreditavam (e tinham razão) que estes perderiam seu caráter perfeito quando

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adentrassem e saíssem sequer uma única vez da caótica mente de qualquer um dos nossos humanos.

{Mas é claro que esse ditado esta perdido, provavelmente destruído com o tempo}

Como há de se esperar, nenhum humano jamais fora sábio o bastante para conseguir se conter de 'colocar sua marca pessoal' em qualquer que fosse a coisa, visível, ou não. Logo quando se deparavam com os provérbios na sua forma mais pura, a maior parte dos que tiveram o prazer, acabaram por modificá-los intrinsicamente, e às vezes até em coisas outras, totalmente desgrudadas de sua forma proverbial. Agora hoje, grande parte do que chamamos provérbios, não passa de uma frase com sonoridade poética, entendimento fácil, e ajustamento para toda e qualquer situação da vida quando cai nas mãos dos metódicos e moralistas.

Até o nosso Humano poderia ter um daqueles provérbios a alguns metros de distância de sua cama, naquele tosco quadro vermelho, mas se encontrava agora numa luta em silêncio com seu próprio consciente e que certamente o manteria ocupado o bastante para nem sequer pensar em olhar para qualquer tipo de arte ou provérbio que fosse,

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nem que esse olhasse para ele com a súplica que se vê num cachorrinho preto através do vidro de um bar, numa noite tão escura quanto seus pelos, onde sua dor se camufla meio ao caos, e torna-se ínfima como gostariam todos que fossem as suas próprias;

Tão generoso humano, dando aos outros sempre a oportunidade de sentir na pele o que não podemos nunca fazer com nossa própria...

5:30

"É, é.. melhor ceder ao sono , independente de ser ele lúcido ou não, nada se compara ao pesadelo de viver no agora, me can sa..."

15:00

Como um bom adepto (ou inepto) do ócio, nosso Humano costuma preferir começar os seus dias a tarde, quando as pessoas lá fora parecem já estar mais calmas.

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O que se segue é rotineiro e nada extraordinário, mas esse dia se passa de modo ligeiramente diferente, tão ligeiro que passa em branco. Ele nota o quadro por alguns segundos a mais hoje; Mas logo se volta para os seus sentidos para tentar desvendar mais profundamente a arte de induzir aos sonhos lúcidos, o que será que havia dado errado ontem? "Talvez nada; apenas tudo"

...

A noite chega O Humano se deita para mais uma tentativa E não é que em cerca de alguns minutos, ele se vê subitamente do lado de fora da sua casa! Mas não está inconsciente, aquilo é real, e se passa naquele mesmo instante, difícil dizer se estava consciente, por que, pelo que se lembra sobre os sonhos, eles acontecem em tempo cronológico enquanto são, independentemente do quão 'são' está o seu hospedeiro humano.

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Os testes de realidade...

Lembrava-se de um provérbio, um que seria bom para certificar-se de sua capacidade de tomar decisões. "À noite, todos os gatos são pardos" Não que isso necessariamente implicava em uma análise dos gatos que visse por aí, mas concluiu que por estar memorizando os ditados, poderia concluir que estava lúcido

"certo, agora sem me emocionar demais, -O Humano lera que ao fazer isso, poderia despertar de seu transe e acabar com toda a graça- vamos investigar"

Foi até o fim da rua, que continha uma pequena luz vermelha no final, naturalmente, seguiu em direção a ela.

"Mas que bosta é essa! Eu aqui, apto para fazer o que eu bem quiser, e resolvo que vou seguir reto até que oportunidades caiam em minhas mãos? Nada disso, nada disso...”

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O Humano percebera que a infelicidade o seguira em seu sonho, mas logo depois percebera que não havia oque temer, ali, tudo era seu, agora tudo ele podia. Lembrou-se daquela vizinha, maldita vizinha... Não era um humano feliz, assim como ele, mas parecia que essa como uma boa pessoa de idade ruim, descontava suas raivas no que vós sonhais; E o cheiro do lixo o teto que despedaça (este é também o chão da casa de nosso Humano, que consequentemente, também estava em estado de ruína, mas nunca soubemos se fora a vassoura da vizinha, ou os pontapés do Humano que iniciaram essa luta por um espaço degradante) "a velha pode ser uma experiência né, vamos ver o quão forte ela vai conseguir bater aquela vassoura..."

"será que nos sonhos lúcidos, quando alguém morre, nunca mais volta a aparecer no inconsciente ativo de seu regente?"

O elevador funcionava normalmente, porém parecia deveras mais ... irritante

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"espero que ela não receba mais visitas, são sempre outras vizinhas , todas com suas vassouras"

A vizinha tinha um gato, era branco. Mas ao olhar pela janela O Humano viu que também era dia

"que pena! o tempo passa tão rápido quando se está aproveitando!"

12:00

O Humano acordou mais satisfeito impossível, era isso, tudo que queria, não fora nem mais, nem menos que o esperado, mas para alguém que se acostumara com o tédio, tudo era mais do que o esperado... Já que quando vinha a tona, seu provérbio pessoal fazia todo e completo sentido

Já a sua vida, infelizmente não conseguira o mesmo estado de significado...

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Era domingo, o que significava que no dia seguinte, haveria de acordar um tanto mais cedo E por isso também que teria de despertar com o alarme, e segundo suas intuições isso poderia por todo o sonho lucido a perder...

"Simples, hei de cumprir meus deveres de sonho da maneira mais rápida que conseguir!"

E o fez,

Lá estava de novo, no sonho, parecia que agora tinha realmente conseguido dominar a sua mente , pelo menos por algumas noites...

"A ocasião faz o ladrão"

"E a memória prova que estou são, hehehehe"

Desta vez seu corpo se encontrava perto da avenida boss'alary, que , olhem só! Coincidentemente era o lugar

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onde aquele traste de humano que humilhara ao nosso por boa parte do colegial (deixando para sempre, cicatrizes marcantes em nosso herói), frequentemente passava suas noites, e se não estivesse... bom agora estaria ao certo eh?

Não foi difícil encontrá-lo, afinal tudo era seu agora, seu corpo era seu, o que via, era seu

Mas aquilo que sentiu, ah nunca havia tido nada que lhe fosse tão adequada e aceitavelmente próprio.

Não, não era o sangue quente com cerveja barata em suas mãos Era maior, não tinha formas, era livre "E o melhor, e que não há quem possa roubar isso de mim"

Infelizmente, foi recrutado pelo tempo, esquecera que este nos rouba tudo, sem nem nunca ter nada...

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14:00

Grampeava papelada Mas suas mãos agiam por conta própria, enquanto na sua cabeça , apenas ideias para esta noite apareciam... Às vezes, corroíam-se em algumas lembranças de dor, mas não era uma dor que lhe pertencia...

"...que talvez visitando algum outro lugar público..." "hey hey hey!"

Desgraçado, era ele, Sr. sorriso, aquele sujeito que insiste em querer parecer feliz , não sei se faz isso para si mesmo, ou para os outros...

"oi, ér.." "HÁHÁHÁ -ele ri sem motivo, e da tapinhas nas costas do nosso Humano sem que haja nenhuma abertura para esse tipo de interação aparente- Você tá sempre ai, tão sozinho... Eu e os caras vamos lá no bar da Ryp hoje a noite, o que acha hã? Esfriar um pouco essa sua cabeça quente HÁHÁHÁ"

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A saliva do homem risonho vai de encontro a careca do Humano, e este pensa conseguir ouvir o "tsssss" do contato entre coisa tão nojenta e sua "cabeça quente"

Mas por falta de astúcia, e preguiça de diálogo, ele acaba cedendo, e acompanhando aqueles humanos alto astral.

Péssima ideia, mas é mais fácil fugir do que negar, e o lugar como ele já sabia, era próximo a sua casa

01:20

O Humano adentra de volta á seu apartamento, caminha um pouco em círculos (isso provavelmente acordará e irritará a vizinha se continuar por algum tempo) olha o relógio, e só consegue pensar em dormir, sonhar, depois daquela experiência grotesca, tudo que não quer é acordar nessa mesma vida, sem que haja alguma ventura que intercale esse ciclo deprimente. . . .

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Já sabe os passos...

"Antes calar que mal falar"

Na verdade O Humano pouco entendia dessas pequena frases ritmadas, mas acabou por se tornar o hábito para verificação da realidade Ninguém melhor para esse sonho que começa com respetivo provérbio, que nosso grandioso contente berrador.

"é uma pena que amanhã estarei de recesso, mas guardarei seu rostinho muito bem aqui comigo!"

O Humano o quer no bar, o humano o vê no bar "Está sozinho? Como queira..."

15:34

Recesso

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22:02

O dia foi um tanto mórbido... "Uma mente vazia é a oficina do diabo"- ele pensa No meu caso é o corpo... Humano subitamente se vê na frente da entrada da fauly gardens, a loja que sua ex-mulher trabalha.

"O que é isso? Estive dormindo então? Será que dormi e não percebi? Incrível! incrível! Ah neurônios! parece que agora vocês estão trabalhando ao meu favor né? Puxa! dessa vez nem ao menos tentei !"

"Uma mente vazia ..., Hahaha só conferindo claro"

"já que estamos aqui, hahaha, ó querida, que lindo trabalho você não fez com as petúnias hã? Mas eu particularmente, gosto daquelas roseiras , que ficam lá atrás, vamos conferir? só nos dois , é sim, agora que você não tem clientes, hahahha"

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o rosto dela esta igual, e eu tento mantê-lo assim, afinal, ela nunca passou de um sonho...

11:35

Fortuitamente, O Humano não ouvira o despertador. Não sabia que poderia ser assim tão lúcido fora dos sonhos Sente um ligeiro mal estar, que poderia ser interpretado como culpa, mas esse logo ignora a sensação, achando-a desnecessária... Nunca lhe importara a perda de um dia de trabalho...

Mas ele nem precisava

"Sim, sim... Entendo senhor, não nunca pensei assim senhor, tudo bem , entendo senhor..."

Seu chefe era importante o bastante para lembrá-lo do que importa....

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Seu emprego era de bosta, mas era o único que conseguira manter com o desleixo que era seu eterno companheiro conseguira...

19:31

A sua cama já falecia com a forma de sua bunda a qual tanto insistia em permanecer quieta, fossilizada , O Humano olha mais uma vez para o quadro vermelho... Este estava mais fascinante do que de costume hoje...

Nada lhe importava mais no mundo material, poderia vender tudo que tinha caso seu dinheiro se tornasse precário. "sim sim, não preciso desse maldito emprego , só me traz frustações" Depois de mentalizar essa ideia, decidiu que dedicaria a sua 'vida' a exploração do mundo dos sonhos, que nunca o decepcionaria, pois era a expectativa e a realidade em uma coisa só, aquilo que mais o incomodava, agora uno, Lá ele era dono do tempo, dono de si

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E decidiu que na sua vida, seria um ser-para-o-sonho, pois era lá onde realmente poderia de fato, ser.

Passou mais algumas horas esperando os olhos pesarem nem que um pouco, procurando técnicas avançadas para sonhos lúcidos, e navegando pelas lojas online de farmacêuticos

não era um humano fumante

12:09

Como de hábito , nessas horas os seus olhos tendiam a começar a sofrer com a gravidade da sua situação de vida, parecendo ser o único momento onde ele e seu corpo entravam em acordo

"O pior cego é aquele que não quer ver" O ditado veio como um meteoro na sua mente, tão rápido e de origem desconhecida. Nem se lembrava aonde que havia lido este ai...

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Era uma noite com chuva, O Humano gostava desses dois elementos quando combinados.

Já havia entendido que no sonho, quem reina é o acaso, e este tinha o colocado numa rua até então desconhecida Mas nem tudo nela, lhe era estranho... Uma voz familiar soou no que parecia não ser um espaço muito distante Olhou em volta

"Tenho só 100 aqui cara, quebra essa, tu falou que ia ser a de 100, como que eu ia saber que na remessa de hoje ia aumentar o preço"

"ó mermão, não sou eu quem escolhe o valor não, então ou tu abre essa sua carteira que eu sei que tá bem gorda, ou não tem papo "

não teve papo, a carteira tava mesmo bem gorda, "mermão" deve ter agradecido ao nosso Humano, por que saiu escolhendo o preço que quis mesmo...

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9:01

Tão cedo...

10:04

O Humano desperta de novo, agora com barulhos vindos lá de baixo "deve ser aquela maldita... a se eu ver aquela vassoura"

A vassoura estava lá, bem aonde ele tinha a visto pela ultima vez, não havia vizinha, e nem uma das amigas dela.

Mas gato estava lá, e ele era branco...

"Ende gut, alles gut"*

*Tudo está bem quando acaba bem

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LARA ST, 18 anos Escreveu todos os poemas Desenhou todas as ilustraçþes

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