Educar Novembro 2015

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Informação útil para todos!

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Edição 95 • Ano 8 • Novembro 2015 Distribuição gratuita e direcionada Foto: Vinny Studio • Impressão: Impressul


Editorial As amarras do controle

EDITORA Cláudia S. Prates JORNALISTA RESPONSÁVEL Lúcio Flávio Filho (MTB 21.441) ARTE Cláudia S. Prates / Rique Dantas COLABORADORES desta edição Auxiliadora Mesquita / Fernanda Moura Paulo de Almeida / André Rezende Bárbara Maglia REVISÃO Vânia Dantas Pinto CONTATO COMERCIAL: 48 8845.7346 comercial@revistaeducar.com.br IMPRESSÃO 47 9143.4416 (Fábia) ou 47 9181.4223 (Andrei) www.impressul.com.br

Foto Micaela Torres

“A vida não é como um jogo cujo controle está nas nossas mãos o tempo todo. Confiar que algo pode dar certo independentemente do seu comando traz equilíbrio e leveza.” Esse trecho, tirado de um artigo de uma revista, resume com eficiência o que nós sabemos, mas nem sempre conseguimos enxergar ou colocar em prática: não temos o dever de dar conta de tudo. Precisamos, vez ou outra, deixar que algumas situações sigam seu curso naturalmente e acreditar que podem ser bem conduzidas por um outro alguém. Em toda parte do mundo há lugares e pessoas para ajudar – seja com as tarefas de casa, com a lavação do carro ou com um serviço de babá. Há custos envolvidos, claro, mas muitas vezes são quase um investimento para toda a família: dividir os trabalhos, pedir que um profissional fique com sua criança por algumas horas enquanto você se exercita (ou tira um cochilo!), aceitar que nem todo dia o astral está propício para isso ou aquilo e que você precisa de uma “mãozinha”… tudo isso (e mais um pouco) pode ser visto como um benefício – todos ganham quando a gente está saudável e de bem com a vida. Porque uma mente muito cheia, cansada, inundada de rigidez e limites, afeta a saúde e os relacionamentos. É verdade que a pessoa controladora quer, na maioria das vezes, garantir o bem-estar de si e de quem está por perto – e o controle tem o seu lado positivo, pois nos faz acreditar em nossas habilidades e capacidades. Mas querer controlar tudo a nossa volta nos torna, quase sempre, vulneráveis a explosões de raiva e agressividade, que acabam respingando em quem está por perto, muitas vezes o marido (ou a esposa) e/ ou os filhos. Os autores do livro Dance with Chance: Making Luck Work for You esclarecem que, muitas vezes, é melhor dissipar a ilusão de controle e dançar com o acaso. E que, paradoxalmente, ao fazê-lo, ganhamos mais controle sobre muitos aspectos de nossa vida. Então, talvez o segredo para uma vida mais leve e plena seja mais simples do que se pensa: viver um dia de cada vez Cláudia Prates e reconhecer que não somos obrigados educar@revistaeducar.com.br a dar conta do recado o tempo inteiro Revista Educar – e não precisamos provar todas as nossas habilidades a ninguém. Isso sim claudiaeducar é deixar a vida no comando.

eDIÇÃO 95 • ANO 8 NOVEMBRO 2015

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Capa e eventos

A capa não nos deixa mentir: os trigêmeos que ilustram nossa edição são queridos e muito fotogênicos. Escolher a foto ideal não foi fácil - quase todas as imagens se encaixavam perfeitamente no formato que precisávamos. E gostamos tanto da ideia de colocá-los na capa que tratamos de pedir a nossa colaboradora Auxiliadora Mesquita que escrevesse uma matéria que mostrasse um pouquinho da vida em família do Guilherme, Thiago e da Giovana (10 anos), filhos de Fabiola Kontopp Grasso e Jucelito Grasso. O resultado você encontra nas páginas 20 e 21 desta edição. ~Os três vestem figurino primavera verão da Catavento Babies & Kids e foram clicados pelo sempre talentoso Vinny.

Rua Araranguá, 89, América Joinville (47) 3029.3212

(47) 9652.8213

freepik.com

Festa do Pijama (Floripa)

Com uma proposta diferente a cada evento, o Pensando e Construindo Nosso Mundo vai oferecer, em novembro, a Noite do Pijama Bemvinda as Férias. A ideia, desta vez, é deixar que as crianças tragam suas barracas e acampem no quintal antes de se acomodarem em seus quartos para uma noite tranquila de sono. A festa contará com atividades diversas, sempre sob o comando de monitores dedicados e eficientes, e terminando no dia seguinte, com um delicioso café da manhã. Dia 27/11 às 19h a dia 28/11 às 10h. Valor: R$ 65,00 Mais informações: (48) 3209.6700 (Rua Papa João XXIII, 121, Coqueiros, Florianópolis).

Foto Luiz Carlos Romualdo Filho

Clique do mês

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Educação

Cuidar dos livros Organizar a mochila

Tarefas

Arrumar a cama

Guardar os s o d e u q n i r b

r Limpóas ap car brin

Ajudar na mesa

Inserir as crianças na dinâmica da arrumação e organização da casa pode ajudar os membros da família a ficarem mais próximos e mais unidos. Quando todos ajudam um pouquinho, a família passa mais tempo unida e, depois, ao final das tarefas, sobra mais tempo para curtir programas de lazer juntos. As tarefas domésticas podem ser introduzidas na vida das crianças desde cedo. A partir do momento em que começam a ter autonomia para andar e para se locomover, já podem ajudar na organização e limpeza da casa.


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Ajudar os adultos ou irmãos mais velhos não deve ser visto como algo cruel ou injusto com os pequenos. Quando eles ajudam, aprendem e se sentem úteis e valorizados. Isso porque começam a executar tarefas que eram somente responsabilidade de seus pais ou irmãos. Depois que aprendem como fazer, se sentem confiantes, pois, aos poucos, vão conseguindo superar pequenos desafios. Além disso, eles adoram imitar os mais velhos. Essa é maneira pela qual começam a identificar e a entender os papéis e a rotina dos adultos. Para eles, isso não passa de uma brincadeira. Quando estão ajudando, também desenvolvem sua motricidade, pois fazer coisas que são simples para as crianças maiores ou para os adultos, pode ser bem difícil para os pequenos. Por exemplo, jogar um papel no lixo. Segurar o papel e abrir a lixeira ao mesmo tempo para, depois, acertá-lo dentro do buraco pode ser uma tarefa que precisa ser pensada e treinada muitas vezes para que se torne fácil e automática. Toda motricidade e raciocínio que usam ao executar as tarefas domésticas são desafiadores para as crianças pequenas, por isso elas gostam e se interessam em auxiliar sua família. Então, por que não deixar que ajudem? Dessa forma, eles se mantêm ocupados, ajudam, desempenham atividades junto com sua família, entendem e aprendem os mecanismos dos cuidados pessoais e de casa, desenvolvem sua motricidade, sua fala e seu raciocínio. Ensiná-los a guardar seus brinquedos, a pegar sua roupa suja e jogá-la no cesto, a levar para a mesa alguns utensílios que não quebrem, a levar algum

objeto para outros membros da família são alguns exemplos de pequenas coisas que eles podem fazer para ajudar. Só não vale dar uma tarefa muito difícil ou que tenha grande probabilidade de dar errado. Para as crianças, o que mais vale é o processo e não o resultado final, por isso é sempre bom não esperar resultados rápidos, eficientes e perfeitos. As crianças ainda estão aprendendo, portanto mostrar irritação e impaciência perde todo o encanto da brincadeira. O importante é que elas consigam desempenhar a tarefa e se sintam confiantes com suas conquistas. Assim, vão querer ajudar sempre e vão crescer sabendo cuidar se si e de sua casa.

Fernanda M. de Moura Pedagoga e responsável pela Escola Infantil Espaço Crescer (Florianópolis). contato@espacocrescerfloripa.com.br

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Escolha

Vejamos cada um deles.

Uma boa escola para o meu filho

Por Auxiliadora Mesquita, pedagoga

Adequação escola/aluno/família É comum ouvirmos discussões sobre a melhor “linha”de educação. Elas têm seu valor, mas o fundamental é que existem diferentes maneiras de ensinar, assim como existem diferentes formas de aprender. Em outras palavras: não existe “a” melhor escola, nem “o” método de ensino definitivo. O que existem são formas diferentes de oferecer a educação e famílias e crianças com perfis diferentes. O que isso quer dizer na prática?

Ilustração freepik.com

Chega uma hora em que toda família enfrenta a questão: qual a melhor opção de escola para os meus filhos? É uma decisão importante, mas, nada de estresse desnecessário – com um pouco de pesquisa é mais fácil acertar.

Basicamente, os pais precisam ter em mente que uma “boa” escola vai depender de três fatores: a adequação escola/aluno/família, as condições gerais da escola e o grau de praticidade da escolha.

Que os pais devem decidir em conjunto que tipo de educação querem para seus filhos e quais os valores que a família quer que sejam reforçados na escola. Uma família de perfil religioso provavelmente se sentirá mais segura matriculando seu filho em um instituição ligada à sua crença. Já para a família que tem prioridade para seu filho ou filha a entrada numa faculdade de primeira linha, certas escolas podem se revelar frustrantes. Ainda quanto a valores, é útil se a família investiga como a escola trata assuntos polêmicos ou como lida com as dificuldades


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de aprendizado, por exemplo. E é preciso levar em conta o perfil da criança ou do adolescente. Uma criança com ritmo mais lento de aprendizado pode precisar de uma escola de ensino mais flexível. Já um adolescente determinado a passar em um curso superior concorrido, provavelmente se adaptará melhor a um ambiente voltado para esse mesmo objetivo.

Condições gerais da escola Boas condições aqui é tudo que torna a escola mais agradável e segura, motivando o aluno e tranquilizando os pais. Verifique se o ambiente físico está em bom estado de conservação e se móveis e equipamentos (brinquedos, lixeiras etc) estão adequados às faixas etárias atendidas. As condições de ventilação e iluminação de salas e áreas externas são fatores importantes. Também é bom observar questões de segurança: como é controlada a entrada e saída dos alunos, se existem intervalos separados para cada faixa etária e qual a atitude da direção quanto a problemas como agressões entre alunos, acidentes ou dificuldades de relacionamento com professores. Aliás, por falar neles, é bom tentar descobrir se estão na escola há muito tempo – alta

rotatividade pode indicar problemas.

Grau de praticidade Por fim, a família deve observar questões práticas como a distância entre a escola e a casa ou o trabalho dos pais, tipos de transporte para acesso à escola, estacionamento etc. O preço também é fundamental – se estiver dentro dos padrões da família, a escolha irá trazer menos dor de cabeça. Verifique se a escola é receptiva à participação dos pais. Para a maioria das famílias, ter contato com a escola apenas nas festinhas não deve ser suficiente. Reuniões em grupo ou individuais com professores e a possibilidade de expor dificuldades com a direção e coordenação são fundamentais para que o percurso da criança e do adolescente na escola seja o melhor possível. Parece muito? Parece complicado? É mais fácil quando já temos referências, mas mesmo quando isso não for possível, vale a pena esse trabalho extra. Observar e perguntar antes podem tornar a escolha mais fácil e acertada!

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Bebê a caminho

Manual da boa gestação Duas listrinhas em um fundo branco e pronto: aquela fração de segundo em que você se dá conta de que a vida jamais será a mesma. E daí por, no mínimo, uns pares de meses, você vai poder cantar baixinho – ou em alto e bom som, pois a música é linda – o sambinha do Poetinha “eu não ando só, só ando em boa companhia”... E enquanto o anjinho cresce na barriga, que vira barrigão, a família vai abrindo espaço na casa, no carro, na vida e – principalmente – no coração para o pequenino. E porque as mudanças - e as emoções - são grandes e são muitas, é importante que a barrigudinha fique atenta a alguns cuidados para que as lembranças sejam tão doces quanto o cheirinho do bebê que virá!

Passa muito rápido!

Viviane Sabel Silveira, mãe de Leticia (8) e João Victor (4), vive a expectativa e a felicidade da chegada do Benjamin, que vai nascer em fevereiro de 2016. A Educar deseja muitas felicidades a essa família linda e unida - que o terceiro filho venha cheio de saúde e traga ainda mais alegrias pra essa turminha! Fotos: Jackson Paul Figurino crianças: Loja Turma da Cuca (Joinville)

Curta e aproveite cada minutinho, todos os chutinhos (que são uma delícia) e cada centímetro de barriga que cresce! Só não deixe de se organizar para que ao final da gestação – quando você estará provavelmente mais cansada – seja tomado por compromissos e providências práticas que a impeçam de aproveitar os últimos momentos de bebezão na barriga.

Ouça os conselhos, ignore os pitacos! Acredite em mim, a partir do momento em que você contar sobre a gravidez, choverão palpites, dicas, conselhos e pitacos diários sobre todos os assuntos relacionados à criação de filhos. Parto normal ou cesariana? Dar ou não a chupeta? Dormir no berço ou cama compartilhada? E uma infinidade de outras possibilidades... Ouça com atenção. Em seguida, faça


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fofo e muito amado para cuidar e não se sente feliz. Ou ao menos não como deveria. Talvez não como os outros dizem que você deveria. A imagem que se vende dos primeiros meses do bebê não é verdadeira e, por isso, não é justa para com as famílias que usualmente se frustram com as pedras no caminho. É duro. E é especialmente duro para as mães. É a representação mais fiel de uma solidão compartilhada. Você nunca está sozinha, mas sempre solitária. É lindo perceber a total vulnerabilidade e dependência daquele pedacinho de gente, mas é – na mesma proporção – desesperador. Respire. Passa. Eu JURO que passa.

uma boa reflexão se isso serve para você. Vou contar um segredo: as mães não são todas iguais. Os bebês também não! Por isso, aquele livro que ajudou o bebê da sua amiga a dormir a noite inteira aos dois meses pode não funcionar para o seu pequeno insone ou para você. As experiências alheias servem, sim, como norte para reflexão, mas lembre-se sempre de que você e sua família são singulares. Cuide mais do coração do que do enxoval. É claro que os bebês precisam de um lugar para dormir e uns paninhos para se defenderem do frio, mas fique atenta à dimensão que você dá a essas questões de ordem prática. Cuide-se e prepare-se emocionalmente para a chegada do “pitico”. Essa é a melhor maneira de garantir um cuidado de qualidade e a construção de um vínculo saudável com seu filho. Procure em sua cidade grupos de gestantes, atividades físicas adequadas, experimente umas sessões de psicoterapia ou procure uma doula. Sim, procure uma doula! Aliás, você sabia que as doulas fazem muito mais que acompanhar partos, certo?! Afinal, não será de grande valia estar com um bebê lindo nos braços e não estar se sentindo bem.

Grite por socorro! Peça ajuda! Eu imploro, peça ajuda! Não compre a ideia de que você precisa ser supermulher e não alimente a ilusão de que a vida continuará a mesma. Peça reforço. As pessoas, usualmente, não têm noção de quanto tempo e energia demanda o cuidado com um recém-nascido, por isso, conte a elas. Ou, melhor, convide a passar um dia com você e o bebê. Tenho certeza de que ficará bem mais claro por que você tem recusado aqueles convites para os longos jantares na casa dos amigos.

Cheire, beije, aperte... ... Amasse, abrace, esmague, afofe, embale, amamente, carregue no sling, durma abraçadinho. Sempre. Muito. O máximo que puder! Essa é a maior garantia que você pode ter de que seu filho vai crescer saudável e feliz – e você também! Afinal, só há uma fórmula infalível para a maternidade: amor. E se não der certo, dobre a dose! Bárbara Farias Maglia

Psicóloga (CRP 12/06523)

Nem tudo são flores O puerpério não é moleza. Você está lá, com um bebê

Crianças, Adolescentes e Apoio Parental - (48) 9687-1400 psi.barbaramaglia@gmail.com

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Escola e férias

Como a família toda pode escapar disso? O final do ano traz muita promessa de diversão e alegria, mas também pode ser um dos períodos mais estressantes para a família. São muitos os compromissos, e a correria para fechar as últimas pendências é intensa. Nossas crianças também não estão imunes: entre as demandas escolares, as festas e as viagens, elas também podem ficar estressadas.

Escapar ou enfrentar estão na base de todo estresse. Afinal, ele nada mais é do que a resposta inventada pelo nosso organismo para dar conta de situações de “perigo”. Imagine um de nossos ancestrais vendo um mamute gigantesco se aproximando. Era a hora de o corpo inteiro se preparar: ou correr muito ou lutar com todas as forças contra o gigante.


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Nossa vida contemporânea tem lá sua cota de “mamutes” e outros bichos. E cada um de nós tem de aprender a gerenciar essa resposta fisiológica do estresse. De acordo com os especialistas, não há nada de errado nisso. O ruim é quando as situações geradoras de estresse são tantas, ou tão intensas e repetidas, que o corpo perde a medida e passa a responder de forma desproporcional ou equivocada. O resultado da resposta exagerada é uma tensão constante que causa males ao nosso corpo e à nossa mente.

Reservar um tempinho, dentro de toda a correria, para observar e escutar os pequenos é fundamental. E se notar que algo não vai bem, identificar o que está causando o estresse é o primeiro passo para fazer modificações e sanar o problema. Boa alimentação, sono regular, atividades físicas prazerosas e brincar – muito! – costumam espantar a maioria das aflições para bem longe. Uma visita ao médico garante que está tudo bem e que pode ser resolvido com bom senso e a dosagem certa para tudo.

Afinal, estresse é coisa boa!

Para as crianças, não é diferente.

Especialistas como a psicóloga Marilda Lipp advertem que nem é produtivo poupar os pequenos em demasia – pequenas doses de “estresse” são necessárias à nossa sobrevivência e eles têm que aprender a lidar, desde pequenos, com as surpresas e necessidades.

Excesso de demandas - uma agenda muito cheia de atividades extra-classe, por exemplo, ou cobranças exageradas de sucesso escolar ou esportivo – podem ter como resposta vômitos, diarreias, taquicardias e sono agitado. Podem aparecer também dores de cabeça ou nas costas. E há ainda aquelas que sofrem mudanças de comportamento, se tornando mais agressivas ou agitadas. Tudo consequência do estresse.

Para a família toda atravessar o fim do ano com alegria, vale baixar as expectativas e se concentrar no que realmente importa. Nem sempre dá para fazer tudo – simplifique ou elimine, revendo prioridades e pedindo ajuda, se for preciso. Nem sempre dá para fazer perfeito – improvise, modifique e aceite as limitações, se for preciso. E lembre-se do que é mais importante: esse é um tempo precioso, tempo de comemorar e sonhar. Aproveitem os momentos juntos. E renovem seu amor, prontos para mais um ano.

Cada criança é única, sempre. E os limites de tolerância às mudanças de rotina, às exigências de desempenho ou ao excesso de atividade vai variar de criança para criança. Algumas podem até gostar, enquanto outras terão maior dificuldade. Por isso é tão importante que pais e mães fiquem atentos, pois o que é tranquilo e até agradável para uma criança pode ser cansativo e de grande pressão para outra.

Auxiliadora Mesquita Pedagoga



Interação entre pais e filhos

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Tema desta edição:

A mascotinha da Revista Educar Conteúdo Auxiliadora Mesquita Arte Rique Dantas / Cláudia Prates

Estamos tão acostumados a utilizar os serviços de um hotel que nem reparamos no incrível trabalho que dá manter um lugar como esse: conservar instalações bonitas e confortáveis; planejar, preparar e servir muitas refeições por dia; deixar tudo limpo e adequado para quem chega. E receber a todos, cada um do seu jeito, com um sorriso no rosto e a disposição para ajudar. Essa é a vida de um hoteleiro! E ainda que novas formas de hospedagem tenham surgido nos últimos tempos, um hotel ainda é a escolha mais comum para quem precisa se hospedar fora de casa, seja a trabalho ou por lazer. Das hospedarias dos tempos antigos até os modernos hotéis de hoje, a maior transformação foi a profissionalização do setor. A WTTC, Conselho Mundial de Turismo e Viagens, estima que atualmente cerca de 1 em cada 11 empregos é desses profissionais. E tem lugar para todo tipo de trabalho em um hotel – desde a manutenção elétrica, hidráulica e civil, passando pela cozinha, a governança e a limpeza, e incluindo o marketing e as vendas, o setor financeiro e o administrativo. Sem falar naqueles com os quais nós, os usuários, entramos em contato mais vezes: a recepção, os garçons, os profissionais do lazer, etc. Esse mundo, fascinante e tão importante para a economia mundial, é o tema de nossa Pipoca do mês, que se lembrou que dia 9 de Novembro é o dia do Hoteleiro. Parabéns para eles!

Quero ser hoteleira!


Interação entre pais e filhos

“Pipoca em: Quero ser HOTELEIRA!”


Interação entre pais e filhos

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Você sabia? • Todo hotel é feito para receber e abrigar as pessoas que precisam passar algum tempo fora de suas casas. Pode ser para passear, para trabalhar ou para resolver algum assunto – se precisamos dormir fora de nossas casas, sempre podemos contar com os hotéis para nos receber. • Para receber tantas pessoas diferentes, os hotéis precisam de muita gente trabalhando: algumas vão manter tudo limpo e arrumado, outras vão fazer as refeições e servi-las para nós. Também há aquelas que nos recebem quando

chegamos ao hotel e indicam o nosso quarto. Existem ainda muitas outras pessoas que não vemos e que trabalham muito para que tudo saia do jeito certo enquanto estamos hospedados no hotel. • Para trabalhar em um hotel, podemos estudar hotelaria ou ter formação em outras áreas relacionadas com o hotel. É muito importante saber falar outras línguas e ter muita vontade de ajudar e receber bem as pessoas. Será que você gostaria de ser hoteleiro?

Achei para você!

Filme

Nesse filme de animação, Drácula tem um hotel especial para os monstros descansarem dos humanos. Ele também tem uma filha de 118 anos que quer conhecer o mundo fora do hotel e viver novas emoções. A história tem uma continuação em Hotel Transylvania 2 e é indicada para crianças a partir dos 6 anos.

Divulgação

Hotel Transylvania (Sony Pictures)

Livros

Agência de Fantasmas (Editora Fundamento)

Marco e Maia são jovens e trabalham desvendando casos misteriosos da pequena cidade de Valleby. Desta vez eles precisam descobrir porque Ribston, o cachorro sensível e caríssimo da importante família Akero, desapareceu durante a ceia de Natal no hotel. Indicação a partir de 9 anos

Indicação 9 a 12 anos

O mistério do Hotel (Editora Callis)

A Agência de Fantasmas do jovem Will Moogley está à beira da falência. Não é nada fácil arranjar trabalho para um bando de fantasmas temperamentais... Mas, quando tudo parece ir de mal a pior, seu fiel amigo Tupper traz uma notícia fantástica: a rede de hotéis Scary Inn quer transformar um antigo castelo em um hotel assombrado, um lugar onde os hóspedes terão experiências arrepiantes. E para isso a Scary Inn precisa contratar fantasmas, muitos fantasmas! Entre muitas assombrações e um bocado de confusão, será que Will conseguirá salvar sua agência e... sua pele?


Matrículas Abertas

seu o e z i t Alfabe glês! n i m e filho

O que seus filhos aprendem aqui, eles levam para toda a vida MAPLE BEAR FLORIANÓPOLIS Educação Infantil e Ensino Fundamental

Acesse maplebear.com.br e agende uma visita. Rua Antônio Gomes, 55 - Balneário Estreito (48) 3012-1255 | florianopolis@maplebear.com.br


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Inventare

Acervo pessoal

Num dia de chuva...

Quando a instabilidade do clima traz dias de chuva e frio, e que coincidem com o fim de semana, as opções se limitam e as portas ficam abertas para o tédio. Neste momento, é preciso se mexer para criar momentos de distração e diversão para os filhotes. Com um pouco de criatividade, alguns poucos materiais e crianças empolgadas, é fácil mandar a tristeza embora rapidinho. A ideia deste mês é um mini golfe feito com papelão – convide seus filhos para ajudar na confecção do brinquedo e os desafie quando estiver pronto: quem será o melhor na pontaria? Não importa muito os materiais que serão utilizados, você poderá adaptar aquilo que já tiver em casa - o importante é que o resultado seja divertido. Começamos o trabalho com uma caixa de papelão velha. Se a que você tiver em casa for muito grande (como foi nosso caso), faça cortes e diminua seu tamanho pra deixar a brincadeira mais interessante e desafiadora. Faça pequenas aberturas por onde a bolinha entrará - nós fizemos três, mas pode-se fazer mais. Essas aberturas podem ter pontuações diferentes (utilize papéis coloridos para essa finalidade). O objetivo é que cada um jogue uma vez e vá acumulando pontos, que no final são somados – o campeão é aquele que conseguiu pontuar mais. Ah, se você tiver um gato em casa, ele poderá atuar como goleiro - foi o que aconteceu por aqui! Paulo de Almeida é pai e esposo apaixonado que adora participar das brincadeiras, e acredita na família como melhor lugar do mundo pra se viver. www.inventare.com.br


Cinema e livros

Meu Primeiro Livro de Mágica

A Rainha da Neve foi derrotada por Kai, Gerda e companhia. O troll Orm também deu uma ajudinha, mas não é isso o que ele diz a todos. O troll afirma que ele, sozinho, derrubou a Rainha e a partir dessa mentira ele alega que precisa se casar com a princesa e conquistar todo o poder da futura pretendente.

Editora Girassol Este livro traz truques de mágica com o passo a passo ilustrado para sua criança treinar e treinar, até se tornar um mágico brilhante. São truques que usam objetos simples como moedas, cordas, caixa de fósforo e alguns são especialmente para fazer rir. Abracadabra! Sim Salabim! Com este livro, repleto de incríveis e surpreendentes truques de mágica, a meninada vai deixar a família e os amigos de boca aberta.

Previsão de estreia nos cinemas: 12/11

A partir de 6 anos

O Reino Gelado 2

Para toda a família

Editora Matrix Quantas vezes você vê o final do dia chegar e sente culpa por não ter passado tempo de qualidade com os filhos? E se você usasse o tempo disponível para brincar? Há mais momentos sobrando no seu dia do que você imagina. Este livro apresenta 100 brincadeiras para você fazer em 10 tipos de lugares, com crianças entre 3 e 10 anos. Com as ideias aqui reunidas, você verá que o restaurante, a sala de espera do médico e até o engarrafamento são locais ótimos para brincar.

A partir de 6 anos

Tempo junto

A partir de 6 anos

Divulgação

Juju Bacana Editora Matrix Juju Bacana vai fazer aniversário. E quer fazer uma festa muito especial para os amigos. Mas será que ela não se esqueceu de alguma coisa?

As pequenas histórias do Príncipe Editora Matrix Este livro em forma de caixinha é baseado em O Pequeno Príncipe e estimula a imaginação e a criatividade. Em cada carta há um começo de história. Dê para a criança ler ou leia para ela. Depois peça a ela que dê continuidade do jeito que quiser.



Família

A vida com trigêmeos: três vezes mais alegrias

Texto: Auxiliadora Mesquita Fotos: Vinny Studio Figurino das crianças: Catavento Babies & Kids

O nascimento de um filho muda a vida de um casal para sempre. Agora imagine quando essa mudança vem em dose tripla? Foi assim para Fabíola Kontopp Grasso e Jucelito Grasso, mãe e pai orgulhosos de uma turminha linda – Guilherme, Thiago e Giovana, todos agora com 10 anos. E se o desafio de educar os filhos é grande, para dar conta de três de uma só vez é preciso ainda mais organização e jogo de cintura. Gestações múltiplas, com dois ou mais bebês, não são incomuns, mas ainda causam bastante surpresa. Não foi o caso de Fabíola, ela mesma uma irmã gêmea. Ela e Jucelito sempre quiseram ter mais de um filho e quando ficaram sabendo da notícia, a alegria foi imediata. “Ainda mais quando soubemos que teríamos dois meninos e uma menina”, lembra Fabíola. “Foi uma festa!”


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Regra número um para qualquer gestante, encontrar um bom obstetra também é essencial para a gravidez de gêmeos ou trigêmeos. Uma gestação tripla pode ser tão normal quanto a gravidez de um único bebê, mas é preciso acompanhamento para detectar riscos e oferecer orientação. No caso dos Grasso, Fabíola contou com esse apoio desde o início e garante que as restrições foram muito poucas. “O único problema era dormir com aquele barrigão”, diverte-se ela. Depois do nascimento, levar os três pequenos para casa trouxe a necessidade de buscar ajuda. O casal então contratou profissionais que foram valiosos para tudo correr bem. Lição importante: seja para gestações múltiplas ou não, contar com colaboradores é muito importante para aliviar a tensão, a carga de trabalho e o cansaço dos primeiros meses com os bebês. “Tivemos essa ajuda durante um certo tempo. Conforme foram crescendo, tudo foi ficando mais fácil”, explica Fabíola. De resto, Fabíola tratou de se organizar o máximo possível. “Para não me confundir, comprei cadernos para anotar tudo o que acontecia com cada um. A que horas mamaram, a que horas dormiram, se tomaram remédios. E nunca deixamos de passear, almoçar ou jantar fora, porque eles sempre seguiram nosso ritmo. Até hoje nossos filhos são parceiros para tudo.” Já para criar três personalidades diferentes, os Grasso acreditam que não há tanto segredo assim – o que vale para um, vale para todos. “E naturalmente

temos que ser firmes, porque senão eles assumem o comando”, confessa Fabíola, rindo. “São crianças muito intensas, como os pais!” E apesar de as regras valerem o mesmo para todos, Fabíola e Jucelito fazem questão de preservar a individualidade das crianças, respeitando as diferenças e opiniões. Fabíola conta que cada um tem seu estilo próprio, diferente, mas união é o que não falta para essa turminha – “eles têm uma cumplicidade muito forte”, garante Fabíola. Para permitir que se desenvolvam de maneira independente dos irmãos e criem seus próprios círculos de amizade fora de casa, cada um estuda numa turma diferente do Colégio Bom Jesus IELUSC. Como todos os pais do mundo, a preocupação de Fabíola e Jucelito é dar uma educação forte e consistente para as crianças. “Esse é o legado que queremos deixar para eles. O que não é tão simples, já que o mundo que estamos deixando para eles oferecerá vários desafios.” Mas desde aqueles primeiros dias, em que tiveram que arranjar um carro enorme para transportar a nova família e até levar uma carretinha de apoio para dar conta do recado, Fabíola e Jucelito descobriram, por meio do instinto, da preocupação e da rotina, que criar seus filhos é um aprendizado cotidiano. “Entendemos que até que se tornem jovens, nós teremos a oportunidade de conviver mais intensamente e educar pelo exemplo, para que possam crescer e ser felizes. Estamos atentos para que sejam cidadãos do mundo.” Fabíola lembra, divertindo-se, que toda vez que saíam alguém perguntava se as crianças eram trigêmeas. “Até pensamos em fazer uma plaquinha dizendo, sim, são trigêmeos”, revela rindo, “porque era demais!” Mas afinal, três nem é demais para os Grasso. Três vezes mais desafios, com certeza. Mas também, três vezes mais alegrias!


Variedades

Do forno

Por Auxiliadora Mesquita

Nas cantinas do mundo O site francês magicmaman postou um tour pelo mundo das cantinas escolares e o que elas servem para as crianças em cada país. Apesar de certos alimentos parecerem muito caros para serem servidos no dia a dia de uma escola, vale a pena dar uma olhada só para pensar na diversidade de opções que podemos oferecer às nossas crianças. Na Coréia do Sul, os pequenos podem saciar a fome com sopa, peixes, tofu com arroz e legumes. Na Espanha, uma sopa de tomate tradicional, o gazpacho, pode vir acompanhada de pão integral, salada de pimentões e uma laranja de sobremesa. Já os franceses parecem bem servidos com vagens e cenouras cozidas, carne, maçã picada e, é claro, um belo pedaço de queijo. E seu filho, o que anda comendo na hora da merenda?

A sala de aula do Harry Potter A professora americana Stephanie Stephens transformou sua sala de aula em Oklahoma City numa divertida versão da famosa escola Hogwarts, do livro Harry Porter e a Pedra Filosofal. Fã do livro e sabendo que muitos dos seus alunos pré-adolescentes também se encantariam com a história, Stephanie criou pequenos detalhes em sua sala que lembram a saga do menino bruxo. Nada de superprodução - a professora de literatura garante que só queria prestar homenagem a uma história de que ela gostou. E, ao mesmo tempo, criar um ambiente de estímulo para que surjam novos leitores entre seus alunos de middle school (entre 11 e 15 anos de idade). Com um pouquinho de imaginação, ela trouxe a mágica do livro para bem perto dos alunos. E não é da imaginação que se abrem os caminhos da leitura?

Foi o que um casal de americanos se perguntou – será que não estamos comprando coisas demais? Com vidas profissionais agitadas e dois filhos pequenos de 5 e 7 anos, Scott e Gaby, moradores do estado do Tenessee, nos EUA, desconfiaram que estavam disfarçando a falta nemiller n de tempo com as crianças com presentes a D o tt Sc em excesso. Em janeiro de 2013, colocaram em prática uma ideia diferente: passariam um ano só comprando o essencial, como comida e gasolina. E os presentes para a família deveriam ser experiências ou doações, e não objetos. Depois que o ano passou, eles voltaram ao “normal”. Ou quase: a família garante que agora pensa mais no porquê de estar comprando alguma coisa. E se recusa a encher a casa – e a vida – de coisas inúteis.

Stephanie Stephens

Coisas demais

Chato pra comer Você não é uma chefe famosa, mas tem um chato para comer em casa? Algumas dicas podem ajudar. • Não faça “mix” de nada, assim a criança pode sentir os sabores separadamente e descobrir melhor suas preferências. • Mesmo com uma recusa inicial, insista. Tente uma nova apresentação ou forma de preparar o alimento. • Insista na regra de “só pode não gostar quem experimentar”. • Seja firme na ideia de “isso é o que temos para hoje”. E sem biscoitos para acabar com a fome de quem se recusa a comer! • Chame os pequenos para cozinhar: isso pode ajudar a ver a comida com outros olhos.


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No mês passado, o chanceler britânico George Osbourne anunciou que até 2018 uma nova licença “maternidade” entrará em vigor na Inglaterra, beneficiando os avós dos recém-nascidos. A licença maternidade na Inglaterra já inclui o afastamento compartilhado de marido e mulher por até 52 semanas. Com o novo plano, avós também teriam direito a compartilhar dessa licença e dos pagamentos de benefícios sociais relacionados a ela. A medida visa alcançar uma realidade detectada por pesquisas do governo, que mostram que mais da metade das mães inglesas contam com os avós para ajudar no cuidado das crianças.

dramática de um contingente de crianças que estão sendo sistematicamente destruídas em seus sonhos e chances para o futuro. Dados da UNICEF apontam que até agora 9.000 escolas na região do mundo árabe em conflito deixaram de funcionar: ou por terem sido destruídas ou por estarem servindo de abrigo à população. Outras escolas foram transformadas pelos extremistas em prisão ou base de operação. Organizações como a Save the Children tentam reconstruir escolas e colocálas novamente em funcionamento. E um canal cristão da Grã Bretanha transmite aulas para crianças em campos de refugiados, via satélite.

Crianças árabes fora da escola Na última contagem, elas já eram mais de 13 milhões fora da escola. Vivendo em lugares de conflito no mundo árabe, seja em campos de refugiados ou em cidades destruídas pela guerra, as crianças da região estão sem chance de estudar. O pequeno Aylan, encontrado morto numa praia da Turquia, é a face mais

AP Photo/Hussein Malla

Foto Crissy Pauley

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Conto

Ilustração freepik.com

De tempos em tempos o mundo e, consequentemente, a forma como nos relacionamos com ele, se altera por meio de eventos emblemáticos, fantásticos e pontuais. Foi assim quando o homem buscou abrigo, deixando de ser uma presa tão disponível, fez faísca virar fogo, passou a estocar e preparar alimentos, costurou e, com isso, se adaptou melhor às diferenças de clima. Mas, talvez, nenhuma outra invenção tenha entrado tão em sintonia com a vida urbana do homem quanto a roda. Já em 3.500 a.C., está entalhada no Pote de Bronocice a primeira reprodução catalogada de rodas e de algo que lembra um veículo. Atrelava-se a um par dessa maravilhosa invenção tração animal, um boi, dois bois, talvez cachorros, um cavalo, dois cavalos, três cavalos, ganhava-se capacidade e velocidade. Então, após a invenção, a roda virou berlinda, bonde, caleche, carroça, carruagem, diligência. Ao homem foi possível cobrir maiores distâncias, carregando mais fardos, com, eventualmente, mais pessoas, e tudo isso com menor dispêndio de força. Nesse momento da história, por cerca de aproximadamente 400 anos, o homem conviveu nas cidades com o que se imaginava ser o equilíbrio perfeito. Havia cavalos em profusão, mercado estabelecido de compra e venda de animais, facilidade para comprar alimentos, recursos de saúde animal, a arquitetura das cidades contemplava locais para abrigá-los nas casas e nas vias públicas, os calçamentos previam a passagem dos animais com suas ferraduras, havia escrituração de propriedade animal, cavalos eram deixados como parte de

herança. Tudo funcionando, aparentemente bem, para quê mudar? Duas célebres frases marcam esse período de transição da história. As primeiras, “os cavalos são para sempre”, reportam ao chefe de crédito de algum banco em Dearborn quando da negativa de conceder um empréstimo de US$ 28 mil para que Henry Ford fundasse sua segunda fábrica, a Ford Motors. Na sequência, atribui-se ao próprio Ford, na mesma época, a frase “If I’d asked my customers what they wanted, they’d have said a faster horse” ou, em português, “Se tivesse perguntado aos meus clientes o que eles queriam, teriam dito cavalos mais rápidos”. Ambas as frases servem para demonstrar quão arraigada estava a cultura do transporte tal qual se apresentava às pessoas da época. Era absolutamente impensável a mudança. Então, com apenas 40 anos, Henry Ford fundou sua fábrica, inventou o conceito wage motive (salário de motivação) através do qual passou o salário da época de US$ 2,34 para inimagináveis US$ 5,00 por dia. Como o salário que oferecia era bom, aliás, o melhor, pôde contar com a mão-de-obra mais qualificada que existia. Inventou um padrão de fabricação que diminuiu os custos, fazendo um modelo Ford-T custar a bagatela de, apenas, US$ 825,00. Com a evolução da linha de produção, passou a produzir maior quantidade, cortou ainda mais os custos e os preços caíram, em 1916, para US$ 360,00 por carro. Henry Ford foi mais que um inventor, foi mola propulsora de mudanças, quebrou paradigmas,


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e seu país, os EUA, que em 1907 produzia 45 mil carros por ano, passou, em 1935, 28 anos depois, a quase 4 milhões de veículos produzidos por ano. A força titânica dessa mudança provocou outras mudanças fundamentais em série que alteraram, indelevelmente, o mundo como o conhecíamos. No princípio, carros precisavam de gente qualificada para fabricá-los; depois, para mantê-los funcionando, inventaram as oficinas, os postos de gasolina, tínhamos que ter ruas - e, se as pedras eram boas para os cavalos, o asfalto era superior para rodas de borracha – e ainda estacionamento, mais iluminação, passagens mais largas, regras de trânsito, aumento na extração e refino de combustíveis fósseis, fabricação de peças. Quando menos percebemos, as cidades ganharam um desenho arquitetônico completamente diferente, privilegiando o carro, e hoje tem-se, novamente, como na Era dos Cavalos, a impressão de que tudo funciona bem, para quê mudar? Em primeira análise, absolutamente todas as coisas que se produz na terra gera consequências diretas e indiretas para quem as usa ou, somente, convive com elas. Ainda que você não tenha carro, vale informar que o transporte em geral é responsável por 30% da emissão de gases poluentes na atmosfera. Além disso, um modelo de carro popular só para ser fabricado gera 6 toneladas de pegada de carbono (carbon footprint) e um modelo maior, SUV, 38 toneladas. Carros já nascem com DNA poluente e tudo, absolutamente tudo, que é aplicado ao carro tem origem não renovável. Outro dado alarmante? Olhe para o lado, quantos carros você consegue ver em utilização plena (4 pessoas)? Por uma questão matemática, é fácil verificar que são poucos. No Brasil, por exemplo, há cerca de 45 milhões de automóveis para 200 milhões de habitantes. Em um primeiro momento,

dir-se-ia que é 1 veículo para pouco mais de 4 habitantes, mas, lembre-se, o Brasil tem cerca de 10 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza, que teoricamente não compram carros, e 70 milhões ainda não têm idade para dirigir, são menores de 18 anos. Assim, na verdade, no Brasil há 1 veículo para pouco mais de 2 habitantes. Se todos os carros saíssem juntos da garagem, boa parte sairia com uma dupla, motorista e carona, e ainda assim transportaria toda nossa população. Há, portanto, um exagero entre quantidade produzida e demanda real. Nos primórdios, a Era dos Cavalos ganhou ênfase pela velocidade, cavalos eram sempre mais rápidos que pessoas, mesmo conceito que os esmagou quando do advento da Era dos Carros, pois, no mesmo sentido, carros eram sempre mais velozes que cavalos e infinitamente mais rápidos que pessoas. Isso ainda é verdade? Um motorista médio americano gasta 36 horas por ano somente em atrasos no trânsito, enquanto que na China gasta o equivalente a nove dias no ano, ou mais de 200 horas, só preso no trânsito. Neste ponto da história, passados pouco mais de 100 anos de apaixonante e produtivo convívio do homem com o carro, o processo de evolução tecnológica agraciou-nos com vários lampejos de futuro: o carro elétrico, o carro autônomo, o carro que voa, deixando sempre a pergunta: o futuro precisa, necessariamente, estar atrelado ao carro? Um gênio, Henry Ford, ajudou a estabelecer e consolidar a Era dos Automóveis, onde está o próximo que irá desafiála? André Rezende Administrador de Empresas, Auditor da Secretaria de Estado da Fazenda e pai do Arthur e Lucas.



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Galeria Nossa Cara

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Vitor

Arthur

Pedro Henrique

Arthur, Ricardo e Filipe

Ana Julia

Arthur

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