Reverso 79

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Abril |2014

Distribuição Gratuita

FALA POVO Cachoeiranos falam sobre “rolezinhos” P15

Cachoeira - BA EDIÇÃO 79

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Cidades do recôncavo adotam “Big Brother” P4

Saiba o que muda com o marco civil da internet P16

Expressão do livro do escritor inglês George Orwell tornou-se popular e ganha força nacional no combate a violência

Carroceiro: profissão que ficou no passado

iNVESTIMENTOS NA APAE

P3

Professores, alunos e familiares trabalham para que a associação não deixe de cumprir o papel de escola P6

CIDADE P5 DE PAI PARA FILHO

Filho do dono da rádio poste Franco Publicidade fala sobre sua satisfação em trabalhar no primeiro sistema de comunicação popular instalado nas ruas de Cachoeira. Ele fala sobre o principio que segue para entender a população e quando o assunto é futebol, politica ou religião, prefere não dar opiniões

DEFASAGEM DE SALÁRIO PREJUDICA TRABALHADORES P12

Rotary Clube: situação precária

Todos os projetos tiveram que ser interrompidos, entre eles seria o Agulhas e linhas, que desenvolve em parceria com o Sebrae P7

Trânsito urbano é uma das dificuldades. Carroças estão desaparecendo aos poucos

UM JORNAL DE OPINIÃO: De olho na Copa de 2014: registros de uma cidadã cruzalmense P2


Ineditorial De olho na Copa de 2014: registros de uma cidadã cruzalmense

F

Clécia Junqueira

altam poucos meses para o início da Copa do Mundo de 2014. Tão longos quanto têm sido os meses de preparação são os desdobramentos sociais e políticos associados, direta ou indiretamente, ao espetáculo esportivo. Em âmbito externo, temos as pressões da FIFA para que os prazos das obras sejam respeitados e, em âmbito local e nacional, uma diversidade de discussões que podem ser divididas, de maneira geral, em dois grupos: 1) Composto pelo Estado e pelos brasileiros que sinalizam para o chavão “vai ter copa”; 2) Composto por outros brasileiros mais resistentes que advogam uma politica mais radical do “não vai ter copa”. Após acompanhar os vários debates na mídia, nas redes sociais e na universidade, confesso que me sinto inclinada a observar os sentidos mais democráticos por trás do “não vai ter copa”. Essa negatória, antes de ser tomada ou confundida com mera baderna ou protesto, reflete movimentos que denunciam o caráter excludente e segregador do Estado brasileiro, apontando para as fragilidades e perigos por trás da retórica positiva da copa.

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo

Cachoeira - BA | Janeiro/2014

Convém observar que não estamos querendo desmerecer os possíveis efeitos positivos do mega evento mundial. O que parece urgente é reconhecer que os desdobramentos assimétricos dessa conjuntura esportiva fortaleceram problemas antigos de violência contra as populações desviantes e subalternas. Por óbvio, essas classes estão bem longe do que Bauman chamou de “bons consumidores”. Convém observar que não estamos querendo desmerecer os possíveis efeitos positivos do mega evento mundial Não bastasse a deficiência em termos de utilidade econômica, o Estado brasileiro, investido de práticas sutis tais como a internação compulsória de usuários de crack, também postula como outrora uma docilidade política. Trata-se de docilizar o subalterno ou o errante quando possível for e, quando não, fazê-lo desaparecer das ruas e confiná-los aos currais e laboratórios especializados no combate à diferença – social, étnica, sexual etc. Estamos, nesse momento, chamando atenção para a violência das práticas de higienização social que vêm Reitor da UFRB Prof. Dr. aulo Gabriel S. Nacif

Editor Prof. Dr. J. Péricles Diniz

Diretora do CAHL Profa. Dra.Georgina Gonçalves

Editoração Gráfica Prof. Dr. J. Péricles Diniz Ivisson Costa Valério Amós

Coordenação Editorial Prof. Dr.Robério Marcelo Ribeiro Prof. Dr. José Péricles Diniz

ocorrendo nos grandes centros. Violência essa que nem sempre é vista como tal. Ao observar conversas de pessoas mais experientes aqui no interior da Bahia, vejo que muito se concorda com esse tipo de limpeza social. Nos extremos, isso parece ensinar que muita gente no Brasil resiste ao processo democrático. Soma-se a esse ambiente de negação do outro, a grande modernização dos estádios. Torná-los mais luxuosos e caros é também uma forma de tirá-los do convívio e experimento de alguns. O que acarreta, segundo grandes intelectuais, profundos problemas políticos.

ESTUDANTE DE JORNALISMO

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CIDADE Carroceiro é uma profissão em extinção em Cachoeira

Nos últimos anos a carroça perdeu espaço no mercado. A concorrência é a grande quantidade de veículos na cidade Valério Amós Foto: Ivisson Costa

Trabalhar como carroceiro em Cachoeira já foi algo que gerou boa renda, em uma época em que os animais eram uma das principais forças de trabalho e as carroças faziam o transporte, principalmente de mercadorias, de um lado para o outro, de uma cidade a outra. Essa profissão sofreu com os avanços da tecnologia e vê cada vez mais próximo o seu fim. Mesmo o preço sendo 25% em média mais barato, a carroça perdeu espaço no mercado nesses últimos anos. A concorrência é feita pela grande quantidade de veículos de pequeno porte ou adaptados, que prestam os mesmos serviços que a carroça. São os chamados carretos. Por não ser uma atividade regulamentada e não possuir nenhuma fiscalização, novos entrantes nesse ramo é muito comum, o que aumenta a disputa pelo mercado.

Quantidade de carroças na cidade é pouca

Ao contrário desse crescimento no número de carretos, as carroças estão desaparecendo aos poucos. Quando Osvaldo Reis, 53 anos, ingressou nessa atividade há 30 anos existiam oito carroças, hoje restam apenas três. Segundo Osvaldo, eles perderam para os seus concorrentes “mais ou menos umas Mercado.Antônio Conceição, que trabalha dez viagens ao dia”, o que representa quase com carreto há 41 anos, contou que quan- 70% de queda. Quem ainda preserva e depende desse do começou haviam apenas dois e agora em menos de três anos já são cinco. Ele também oficío sobrevive com muita dificuldade, em reclamou da concorrência. “Essa é a maior contraste ao veloz crescimento dos carretos. Como é o caso de Antônio Batista, de 47 dificuldade”, afirmou. anos, que também é carroceiro há 20. Ele

contou que, como os ganhos são poucos, “tem dia que dá e tem dia que não dá”. Ele faz serviços como mototaxi para implementar a renda. Batista disse que muitos dos seus colegas já morreram, outros mudaram de atividade e que, com essa dificuldade de mercado, “vir trabalhar e não fazer nada, essa profissão vai acabar”.

Quem depende desse oficio sobrevive com muita dificuldade


CIDADE

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Cachoeira - BA | Abril/2014

Cidades do recôncavo adotam “Big Brother” para prevenir criminalidade Expressão que surgiu no livro 1984 do escritor inglês George Orwell tornou-se popular e ganha força nacional Karlos Vynicius Câmeras de vigilância estão sendo instaladas no centro de Cachoeira e em locais com maior índice de criminalidade, vitsando o combate à violência na cidade, como também garantir a segurança tanto dos munícipes quanto dos visitantes. A iniciativa é uma parceria da prefeitura com a Polícia Militar. De acordo com Mamed Dayube, secretário de Administração e Planejamento de Cachoeira, a vigilância através de câmeras de segurança é atualmente o método mais eficaz de combate ao crime. “Com as câmeras, nós temos o controle de tudo o que se passa em boa parte da cidade e tudo isso fica registrado e gravado”, afirmou. Segundo ele, as câmeras previnem possíveis roubos, arrombamentos e assaltos, devido à incerteza dos criminosos quanto à filmagem. “Já aconteceu de sujeitos, por não saberem que estavam sendo filmados, serem flagrados em ação a partir das câmeras”, disse o secretário.

Bons olhos. O motorista Edson dos Santos vê com bons olhos a vigilância eletrônica em Cachoeira e não teme a perda de privacidade. “Eu acho viável. Para mim não há com que se preocupar, se é para o bem do município, eu concordo. Acho inclusive que já

deveria ter sido implantada há muito tempo, devido aos crimes que têm acontecido na cidade”, afirmou. Outros municípios da Bahia também aderiram ao Big Brother. Em Amargosa, a 114 km de Cachoeira, devido aos diversos assaltos ocorridos e que mudaram os hábitos da população, a Associação Comercial decidiu implantar o monitoramento em todo o centro da cidade. A amargosense Dinalva Teles, de 54 anos, relatou a tranquilidade que era o município há cerca de 20 anos e a mudança que a violência causou na cidade. “Antes saíamos à noite despreocupados, as casas possuíam muros baixos e não se tinha toda essa inquietação com relação à criminalidade. Hoje, a cidade é quase um deserto à noite, são poucas as pessoas que saem e em muitas casas a gente só vê grades e cerca elétrica”, desabafou.

Curiosidade. Muitos não sabem, mas a expressão Big Brother é muito anterior ao programa televisivo. Na verdade, ela surgiu no livro 1984 do escritor inglês George Orwell, escrito no final da década de 1940. Na obra, Orwell descreve uma sociedade amplamente controlada e vigiada pelo Estado, daí a relação feita pela TV em que dezenas de pessoas são vigiadas pelas câmeras. Outra expressão famosa do livro é Big Brother is watching you! (O Grande Irmão está observando você!). Hoje em dia, a ficção tornou-se realidade pelo método de vigilância adotado em inúmeras cidades do país. Foto: Karlos Vynicius

Estatística. Segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional da Industria (CNI), divulgada no início de fevereiro, a violência é a segunda maior preocupação da população do interior do país, estando atrás apenas da saúde. A região Nordeste tem o maior percentual de insatisfeitos com a falta de segurança: cerca de 47% da população temem a criminalidade.

A organização conta com o apoio de 15 funcionários, todos remunerados, dando suporte aos profissionais das diversas áreas. Câmera instalada em local de grande circulação de pessoas


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Rádio poste mantêm população informada 23 anos de comunicação popular em Cachoeira. A sede fica perto da feira livre Ivisson Costa Foto: Natália Verena

Fábio Franco no estúdio da Franco Publicidade

Como toda rádio poste, a Franco Publicidade nasceu com o objetivo de conversar com a comunidade. Um dos idealizadores, o radialista Gilberto Franco, queria passar informações úteis e importantes, locais e nacionais, com um pouco de entretenimento, além de músicas e entrevistas. Hoje, o filho do radialista, Fábio Franco, é o locutor e também operador de áudio e apresentador. Quando Gilberto Franco assumiu o sistema de comunicação popular instalado nas ruas de Cachoeira em 1992, possuía dez caixas de alto falantes. Mas ainda assim enfrentava problemas técnicos. Só depois começou a investir em equipamentos.

Carreira. Fábio lembra que iniciou sua car- putador. A emissora é sustentada por meio reira de locutor após uma visita a uma rádio da região. “Fui com um amigo e gostei daquele mundo. Hoje, ela faz parte da minha vida”, diz. Para ele, compreender a realidade da comunidade é importante, um princípio que segue até hoje. Para ter sucesso, Fábio diz que é preciso respeitar os gostos musicais e, quando o assunto é futebol, política ou religião, prefere não dar opiniões. Na rádio são transmitidas informações da comunidade, repertório musical variado e alguns recados. A sede fica perto da feira livre e utiliza uma mesa de som com seis canais e um com-

de anúncios da região. Moradores de Cachoeira ouvem diariamente a Franco Publicidade. Para Nélio dos Santos, de 67 anos, do Distrito São Francisco do Paraguaçu, que ouve a rádio sempre que está em Cachoeira, ela cumpre bem o papel de informar. Ele salientou que ouve a rádio poste enquanto espera o ônibus para voltar para casa.

a emissora é sustentada por meio de anúncios da região


CIDADE

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Cachoeira - BA | Abril/2014

APAE investe em inclusão e educação social A organização conta com 15 funcionários remunerados, dando suporte a profissionais das diversas áreas Marlon Campos Foto divulgação

trabalham para que a associação não deixe de cumprir o papel de escola. Segundo eles, mesmo que a proposta de lei do Ministério da Educação implique que os alunos com deficiência sejam matriculados em ensino regular, a APAE luta para ter uma base de trabalho voltada para o desenvolvimento da autonomia de cada pessoa atendida.

Iniciativa. A Associação de Pais e Amigos

Apae de Cachoeira foi fundada em 1996

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Cachoeira (APAE) atende hoje a cerca de 102 portadores de deficiência cadastrados, diariamente, nos turnos matutino e vespertino. Para tanto, conta com o apoio de 15 funcionários, todos remunerados, e uma equipe técnica dando suporte aos profissionais das diversas áreas. Mais do que desenvolver a leitura e a escrita, esses alunos com deficiência são orientados no sentido de que seu papel é importante na sociedade, que são capazes e que podem interagir com o outro. Os trabalhos da APAE, segundo os seus responsáveis, contam com voluntários que realizam atividades

dos Excepcionais de Cachoeira (APAE) foi fundada em 16 de maio de 1997, mas a iniciativa de sua criação se deu em dezembro de 1996, durante encontro no Auditório do Colégio Estadual da cidade que contou com a presença do psicólogo Raimundo Oliveira; da presidente da APAE de Muritiba, Sued pedagógicas, culturais e sociais com cerca de Cavalcante; e da professora Gicélia Sodré, 20 crianças e jovens portadores de deficiência na época secretária municipal de Educação. Desde então, mais de 200 crianças e adolesjá então cadastrados na instituição. centes passaram pela unidade.

Espaço. Com o tempo o espaço onde funcionava a instituição ficou ineficiente e o setor público cedeu um prédio escolar com estruturas físicas mais adequada. Para a realização dos trabalhos diários com as crianças, os professores contavam apenas com material didático cedidos pelas escolas, alguns móveis encontrados no local e a boa vontade dos profissionais. Neste sentido, conforme os responsáveis, voluntários, professores, alunos e familiares

a APAE luta para ter uma base de trabalho voltada para o desenvolvimento da autonomia de cada pessoa atendida


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Rotary Clube de Cachoeira continua sem sede própria Todos os projetos tiveram que ser interrompidos, entre eles o Agulhas e linhas em parceria com o Sebrae Natália Lima Foto: Jessyka Evanesa

Ambiente encontra-se totalmente acabado

Devido ao desmoronamento de um prédio ao lado, que terminou atingindo a sua sede, o Rotary Clube de Cachoeira foi interditado pela defesa civíl do município. Com isso, todos os seus projetos tiveram que ser interrompidos, entre eles seria o Agulhas e linhas, que desenvolve em parceria com o Sebrae. Segundo seu atual presidente, Everaldo Rodrigues Dayube, o Rotary Clube já fez várias ações sociais em Cachoeira, como doações de cestas básicas e remédios em bairros periféricos, como também cederam um es-

paço para o funcionamento da APAE, mas agora encontra-se nesta situação.

Reuniões. O presidente do clube disse que irá entrar com uma causa na Justiça para que os donos do prédio que atingiu a sede do clube tenham que ressarcir pelos prejuízos causados. Até lá, as reuniões entre os sócios continuarão acontecendo em restaurazntes ou na sala em que funcionava a APAE. Os encontros acontecem todas as quintas de 12 h às 14 h..

O Rotary Clube de Cachoeira e São Felix, fundado em 17 de abril de 1940, é uma organização formada por líderes de negócios e profissionais que prestam serviços humanitários. Define-se como um clube de serviços à comunidade local e mundial, sem fins lucrativos ou nenhum envolvimento político e não recebe qualquer tipo de ajuda do governo. São mantidos através de doações dos seus sócios.


CIDADE

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Cachoeira - BA | Abril/2014

A L A F O V O P Cachoeiranos falam sobre “rolezinhos” O shopping center como reduto de consumo da classe média brasileira foi recentemente abalado pelo fenômeno do “rolezinho”. Quando jovens da periferia, em sua maioria negros, adentraram um ambiente que até então era reservado para gente rica e branca, até a polícia foi acionada. O debate em torno desses passeios se acirraram no último mês, levantando questões sobre seus entornos e sobre a ação policial. Fomos à rua, saber dos cachoeiranos o que eles pensam sobre os “rolezinhos”. Udinaldo Júnior “Eu acho que isso é racismo, por sermos de uma classe mais baixa. Até aqui em Cachoeira, acontece isso. Entramos em lugares com pessoas mais endinheiradas e eles fazem biquinho”.

Carla dos Anos 31 anos, dona de casa

“Eu sou contra, né? Porque isso gera de certa forma um vandalismo. Acho que a polícia deve agir, sim, porque quem sofre com isso somos nós.”

Damiama 25 anos, Atendente


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“Creio que é uma maneira deles se manifestarem. Só que há um mal entendido, já que as pessoas acham que eles vão pra lá roubar, saquear. E não é isso.”

“Eu só acho que é vandalismo, os jovens hoje em dia acham que tudo é permitido. Tudo isso tem haver com educação, os pais que permitem demais.”

Lindinalva 50 anos, artesã

Ariadne

52 anos, aposentada “É só uma mudança de lugar, saindo da periferia pros grandes centros comerciais. De alguma forma assusta, por conta da quantidade de gente.”

WIKIPÉDIA RESPONDE O QUE É ROLEZINHO? Rolezinho (diminutivo de rolê ou rolé, gíria brasileira, significa “fazer um pequeno passeio” ou “dar uma volta”, é um neologismo para definir um tipo de flash mob ou coordenação de encontros simultâneos de centenas de pessoas em locais como praças, parques públicos e shopping centers. Os encontros são marcados pela internet, quase sempre por meio de redes sociais como o Facebook

Israel

19 anos, estudante


ECONOMIA

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Cachoeira - BA | Abril/2014

ECONOMIA Comércio cresce entre casas em Cruz das Almas Comerciantes estão satisfeitos com a procura pelos seus produtos Fernanda Lemos

Fotos: Gabi Nascimento

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Quem passa distraído pela Rua Santo Antonio, na cidade de Cruz das Almas, pode não não notar a variedade comercial presente entre as residências. Nos último anos, a busca por uma renda extra levaram os cruzalmenses a montar um comércio em suas próprias casas, alimentando o mercado informal. A diversidade comercial presente na rua

é ampla e os moradores se arriscam em investimentos que parecem dar certo, como afirmou Vera Lúcia, 45 anos, ex-dona de casa e agora proprietária de uma pequena feira na garagem de casa. “Um bairro tão bom como esse não tem como não colocar comércio. Daí comecei a colocar frutas pra vender e deu certo, todo mundo compra”, contou.

Apesar da curta distância entre a Rua Santo Antonio e o centro da cidade, cerca de 15 minutos andando, os comerciantes estão satisfeitos com a procura pelos seus produtos, além da renda extra que permite cobrir as despesas básicas. Dona de uma boutique, Maria Lúcia, 56 anos, revelou que tem uma clientela de pelo menos 300 pessoas e que o lucro da sua lojinha cobre


11 as despesas essenciais. De acordo com a economista baiana Thaiz Braga, esse tipo de comércio informal surgiu como consequência da instabilidade da economia brasileira, que agravou os problemas estruturais no mercado de trabalho, o que contribuiu para o aumento do desemprego. Logo, o termo informal é facilmente ligado a subemprego, porém esse setor gera boas oportunidades e renda. O sapateiro conhecido como Seu Lio, 71 anos, abriu seu comércio em um pequeno quarto de casa, onde guarda aproximadamente 300 pares de sapato. Ele concorda que é possível gerar lucro com o comércio informal. “Ser sapateiro é uma profissão ingrata, o que a gente faz com as mãos o pessoal destrói com os pés, mas o que eu ganho aqui auxilia nas despesas de casa”, declarou.

tão variado, os moradores se disseram sat- dono de um dos bares declarou que nunca isfeitos com o fato de não precisarem se de- há brigas ou reclamações dos vizinhos, “a slocar até o centro. Entre feirinhas, salões vizinhança é maravilhosa”, garantiu. de beleza, minimercados, lojas de roupa, lava rápido, loja de materiais para construção e até uma bomboniere, os moradores da Santo Antônio se consideram privilegiados. “É bom porque facilita, precisou, é só ir ali do lado que você já tem. Além dos espaços de beleza, que você pode marcar o horário e esperar na sua própria casa, não precisa ficar o dia todo esperando. Tudo perto de casa é bom”, afirmou Marlene Souza, 52 anos. A diversão noturna na rua fica por conta Vera Lúcia, sobre a localização do bairo Santo dos barzinhos, que oferecem típicos pratos Antônio baianos, como o acarajé ou churrasquinho de gato, além de ser um espaço agradável. “É maravilhoso, um lugar que você vai, entra e sai sem problemas!”, contou LuPrivilégios. Com uma rua de comércio celia Trindade, 35 anos. Edson Batista, 58,

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Um bairro tão bom como esse não tem como não colocar comércio.


ECONOMIA

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Cachoeira - BA | Abril/2014

Salário mínimo aumenta mas ainda está defasado

Valor não contempla os alimentos necessários para uma boa alimentação, apenas garantindo produtos essenciais Gabi Nascimento Em primeiro de janeiro deste ano, o salário mínimo passou por reajuste de 6,78% e agora o trabalhador brasileiro ganhará R$ 724,00. Apesar do aumento de R$ 46,00 na receita no trabalhador, a quantia ainda é insuficiente para sanar os gastos. Em balanço dos últimos 12 meses, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou dados que apontaram defasagem no salário. O valor devido para que se cubram as necessidades mensais

seria, na realidade, R$ 2.765,44 (ver tabela 1), cerca de quatro vezes o valor atual. Os dados divulgados pelo Dieese mostram que, em Salvador, o baiano trabalha cerca de 86h02m para conseguir garantir sua alimentação básica, que inclui itens como arroz, feijão, carne, leite, pão e café (ver tabela 2). Em São Paulo, uma das capitais pesquisadas, esse tempo de trabalho chega a 106h11m, enquanto a média total da jornada de trabalho da maioria da população por mês é de 160h.

A pesquisa mostrou que em todas as capitais apresentadas, o brasileiro gasta mais de 50% do seu tempo de trabalho para comprar comida.

Alternativa. Em Salvador, o valor da cesta no último mês foi de R$ 265,13, embora não contemple todos os alimentos necessários para uma boa alimentação, apenas garantindo produtos essenciais para a subsistência. Em muitas capitais, como no Rio de Janeiro, Foto: Fernanda Lemos

Acumular contas não faz bem. Traz dor de cabeça


13 Manaus e Porto Alegre, o preço ultrapassou R$ 300,00 no mesmo mês de dezembro. A empregada doméstica Léa Raquel afirmou que é muito difícil administrar as despesas de casa com apenas um salário mínimo. “Para pagar aluguel e comprar comida só com o dinheiro que a gente ganha fica complicado. Está tudo caro, o feijão e a farinha estão com o preço lá em cima. Ou deixamos de comer ou diminuímos a quantidade”, disse. Ela mora em Cruz das Almas e disse que o valor da cesta lá é mais barato que na capital, estimada em R$ 180,00.

Efeito cascata. Marlene Lemos, auxiliar de escritório, também moradora de Cruz das Almas, contou que mesmo com o aumento, o salário continua pouco “O salário é muito pouco para o custo de vida, cesta básica, roupa e escola. O aumento do salário só dificulta porque se aumentar 10% do salário, as coisas sobem 20% a 25%, então as coisas ficam mais complicadas ainda”, afirmou. Marcos Augusto, diretor executivo de sindicato patronal de Cruz das Almas, afirmou que para quem é consultor empresarial o aumento do salário não é feito de forma correta “Para quem é consultor, o salário não é ajustado pelo INPC, então esse aumento não é repassado. Todos os encargos que vem em cima da cesta básica, da conta de energia, de água e de telefone, a gente termina pagando porque houve um aumento do salário mínimo. É o efeito cascata do salário mínimo, se você aumenta o salário, aumenta outras coisas também, inclusive o INSS”, concluiu.

A pesquisa mostrou que em todas as 18 capitais, o brasileiro gasta mais de 50% do seu tempo de trabalho para comprar comida

De olho no seu bolso Salário mínimo nominal e salário mínimo necessário em 2013 Dezembro Novembro Outubro Setembro Agosto Julho Junho Maio Abril Março Fevereiro Janeiro

R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00 R$ 678,00

R$ 2.748,22 R$ 2.761,58 R$ 2.729,24 R$ 2.621,70 R$ 2.685,47 R$ 2.750,83 R$ 2.860,21 R$ 2.873,56 R$ 2.892,47 R$ 2.824,92 R$ 2.743,69 R$ 2.674,88

Fonte: DIEESE

Variação da cesta básica em algumas capitas Dezembro e ano 2013 Cidades Salvador São Paulo Rio de Janeiro Manaus Porto Alegre Goiânia Brasilia

Tempo de trabalho 86h02m 106h11m 102h23m 99h51m 106h49m 89h08m 94h01m

Valor da cesta, em R$ 265,13 327,24 315,52 307,71 329,18 274,67 289,72

Fonte: DIEESE


ECONOMIA

Pais se preparam para compras de materiais escolar Os pais devem ficar atentos aos itens da lista para evitar exageros Juliana Leite Foto: Udinaldo Júnior

A cada ano que passa os preços sofrem alterações

Levar filhos para comprar o material escolar pode sair mais caro O ano já começou e a correria para as compras dos materiais escolares também. A lista de material escolar é mais uma das despesas no orçamento familiar que anualmente sofre alterações, tanto nos preços, como na quantidade dos produtos. Por isso, os pais devem ficar atentos aos itens da lista para evitar exageros. Segundo o economista e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana

Antônio Rosevaldo Ferreira, “as pesquisas de preço terão que ser feitas. O consumidor pode gastar um pouco a sola dos sapatos, mas deve, sim, pesquisar os preços. Afinal, o valor dos materiais em todas as cidades no Brasil encontra-se com disparidades de até 100%, caso da borracha. Os cadernos tiveram seus preços alterados em 7%, por exemplo”. De acordo com o comerciante cachoeirano Raimundo Dayube, “o começo de ano letivo é o período em que a minha loja mais vende artigos de materiais escolares”.

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Cachoeira - BA | Abril/2014

Planejar para economizar. O administrador Hernandes Rocha, em virtude do seu trabalho, busca por economia de tempo e comodidade. “Opto sempre por um local onde posso encontrar todos os materiais da lista, pois a variação de preço não é muito grande”, disse. A população precisa ficar atenta ao que pode e o que não pode ser solicitado pelas escolas. Existem alguns itens de uso coletivo, como pratos ou copos descartáveis, materiais de limpeza, papel sulfite, enfim, produtos que são da responsabilidade escolar e não a dos pais. A lei 12.886/2013, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, proíbe a exigência desses produtos. As compras de materiais escolares são responsabilidades que tendem a ser renovada todos os anos e planejar com antecedência é a sugestão oferecida pelo economista. “Sempre em planejamento é bom antecipar as demandas, não somente em material escolar, mas falando destes, comprar com antecedência itens que certamente serão demandados é de bom alvitre”, declarou Rosevaldo. Uma das maneiras eficientes de economizar que a dona de casa Fernanda Lopes encontrou foi deixar a filha em casa. “Se eu levar minha filha para me acompanhar na hora das compras, a conta sai mais cara”, afirmou. O Procon, órgão de proteção e defesa do consumidor, alertou a população, em seu site, que é importante verificar a qualidade dos produtos. Segundo professor Rosevaldo, “nem sempre o sofisticado ou o mais barato é o mais indicado, é importante ter responsabilidade ambiental, principalmente, buscar produtos de preferência pessoal e de boa procedência”, concluiu.


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VOCÊ SABIA 16|

Você Sabia? Marco Civil da internet Valério Amós Texto e Arte

A necessidade de um marco regulatório contrapõe-se à tendência de se estabelecerem restrições, condenações ou proibições relativas ao uso da internet. O marco a ser proposto tem o propósito de determinar de forma clara direitos e responsabilidades relativas à utilização dos meios digitais. O foco, portanto, é o estabelecimento de uma legislação que garanta direitos, e não uma norma que restrinja liberdade.

Cachoeira - BA | Abril/2014


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