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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Caminhos do Descobrimento

A magia de Trancoso. Página 9

Descubra o centro histórico. Página 3

As peculiaridades da passarela do álcool. Paginas 4 e 5


CARTA AO LEITOR

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Thácio Machado O primeiro contato entre índios e portugueses em 1500 foi de muita estranheza para ambas as partes. A cultura, os costumes, as vestes tudo era diferente. Em uma terra que se tornou um Porto Seguro para colonizadores nasceu o Brasil. 5013 anos após o primeiro contato Porto Seguro, terra de tantas belezas e rica história transformou-se em dos principais pontos turísticos da Bahia. Cheia de encantos a primeira vila portuguesa no Brasil recebe hoje mais de 5000 mil turistas por semana durante o verão. Nesta edição vamos “descobrir” Porto Seguro e desvendar os encantos e desencantos dessa terra. Os caminhos que iniciaram a colonização brasileira: a primeira igreja, a primeira missa, o centro histórico, o marco do descobri-

>>EXPEDIENTE<< Reitor Paulo Gabriel Soledad Nacif Coordenação Editorial J. Péricles Diniz e Robério Marcelo Editor Victor Érik e Thácio Machado Reportagem Larissa Molina Maelí Souza Roquinaldo Freitas Thácio Machado Victor Érik Coordenador de Editoração Gráfica/ Editor de Arte Roquinaldo Freitas

mento. Vamos retratar a vida de nossos ancestrais, primeiros habitantes dessa terra lutam para sobreviver e manter viva sua cultura. A tribo Pataxó, em Coroa Vermelha, é exemplo da resistência cultural indígena. Grande parte dos Pataxós vive do artesanato, da venda de artigos indígenas. Você leitor, vem com a gente atravessar o rio Buranhém, conhecer o Arraial D’ajuda e todos nós. Se encantar com as belezas da Mata Atlântica, as igrejas, aproveitar cada minuto como se o dia passasse mais devagar. Se perder nos caminhos para Trancoso, se render ao charme e a magia do quadrado, lugar que mescla luxo e simplicidade, onde a beleza é vista nas pequenas coisas. Vamos redescobrir e nos descobrir na passarela do álcool, agora passarela do descobrimento. Mostrar as peculiaridades e as artimanhas quebarraqueiros fazem para chamar sua atenção. Contar a história da passarela, desvendar seus personagens, nos divertir com as rimas e estórias da passarela. Nos caminhos do descobrimento, redescobriremos Porto com histórias de gente simples, lugares impressionantes, com a luta dos indígenas e com nossas histórias

Editoração Gráfica

Roquinaldo Freitas

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo

Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL) Quarteirão Leite Alves, Cachoeira/BA CEP - 44.300-000 Tel.: (75) 3425-3189

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I NEDI TORI AL

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Porto Seguro, a magia da descoberta

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Da Cidade Alta para o resto do Brasil

Laís Sousa Há 513 anos, quando Cabral atracou sua caravela, Porto Seguro foi reconhecido como um grande achado. Desde então, portugueses, espanhóis, holandeses, italianos, franceses, brasileiros, gente de todo canto não cansa de descobrir a terra que fica ao alcance de pouco mais de uma hora de voo das principais capitais nacionais. Porto é um lugar para ficar, para chegar, para receber! A cidade é dona de um dos maiores parques hoteleiros do Brasil, aproximadamente 45 mil leitos para todos os gostos - encontramos por lá jovens com amigos, famílias com filhos, casais em lua-de-mel, turistas da terceira idade, executivos viajando a negócios. Para todos diversão garantida: São passeios de escuna, mergulhos, trilhas ecológicas, reservas indígenas, Ecoparque (um dos maiores parques aquáticos da América Latina), centro de compras, artesanatos e comida. Para quem ainda tem fôlego, animadas noites todos os dias da semana, distribuídas por cabanas de praia ou casas temáticas onde em volta de fogueiras à beira mar, mesas de frutas os visitantes podem curtir shows musicais que vão de axé, à lambada, forró e até MPB. Tudo que é bom, garantido, protegido pode ser comparado com Seguro. E lá a geografia privilegiada assegura um verdadeiro museu natural a

céu aberto, exposto nas praias de águas despoluídas, coqueirais, mata atlântica, manguezais, falésias e arrecifes que alternam texturas e cores e é envolto por uma estrutura confortável ao visitante. Tombado pelo IPHANac(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), desde 1973, como Patrimônio Histórico Nacional e reconhecido pela Unesco, no ano 2000, como Patrimônio Natural da Humanidade o berço da civilização brasileira é destino correto daqueles que buscam na cultura e história emocionantes mergulhos no passado. A Cidade Histórica, primeiro núcleo habitacional do Brasil, abriga prédios e peças valiosas do século XVI, casas ricas do século XVII, o Marco do Descobrimento, trazido em 1503, a Igreja de Nossa Senhora da Pena,

padroeira da cidade, com sua torre toda em louça e a Casa de Câmara e Cadeia, que abriga o Museu de Porto Seguro. Porto Seguro ainda conta com refúgios paradisíacos como Arraial d’Ajuda, Trancoso e Caraíva ao alcance de uma travessia de balsas sobre o rio Buranhém, que separa Porto Seguro do Litoral Sul. São cerca de cinco minutos de travessia diante do abraço do rio com o mar, emoldurados por manguezais. Do outro lado do rio, não existem frustrações: Seja em Arraial, Trancoso ou Caraíva, tem história, natureza preservada, gastronomia de qualidade, o misto de descontração e conforto. Seja por qual for o caminho, a magia que aflora em Porto Seguro é uma descoberta digna de se encontrar, recordar, retornar!

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O primeiro vilarejo construído em terras tupi Maelí Souza

Dos muitos lugares a serem visitados em Porto Seguro, a cidade alta é prioridade. Chegar lá exige preparo físico, pois um dos acessos é feito por uma escadaria de duzentos metros. A vila foi conhecida primeiro como a Vila de Nossa Senhora da Pena, que é o nome da padroeira de Porto Seguro, com o objetivo de sediar a capitania Hereditária de Porto Seguro, e servir de sede do poder político e religioso e residência da elite social. Só quando chegou a capitania em 1535 é que veio a ser chamada de Porto Seguro. Foi um dos primeiros povoados, estrategicamente construída em cima de um platô, imitando o estilo europeu, pois de lá de cima ficava mais fácil visualizar as embarcações quando chegassem pelo mar, dando tempo dos habitantes se prepararem para contra atacar. Das 145 construções daquela época, restam apenas 48, e as casas da vila seguem a tipologia colonial portuguesa do século XVIII, apesar de terem sido construídas no século passado. São casas geminadas (uma colada nas outras). Segundo o ima-

ginário popular, são conhecidos como a eira, a beira e a tribeira, que significava cultura, dinheiro e posição social. As primeiras casas na entrada da vila possuem eira e beira e as últimas nem eira e nem beira. Nasce aí um dito popular, quando falam que alguém não tem eira e nem beira e quer se casar, ou seja, é um pobre coitado que não tem onde cair vivo. Outro dito popular vem sobre as telhas das casas. Dizem os mais antigos que as telhas eram feitas com barro batido, e ele ainda morno eram moldados nas cochas dos escravos, e depois colocavam ao sol para secar. Os escravos que tinham aquelas cochas mais grossas faziam as telhas mais bonitas, e os que tinham as coxas mais finas as telhas saiam feias e chegavam a quebrar. Daí o pessoal dizer que tudo que é feito nas coxas não presta. Porto Seguro viveu da pesca, agricultura e da madeira até a década de 1970, quando, em função do melhoramento das rodovias, chegaram os turistas. Estima-se atualmente que em

baixa temporada há uma média de até três mil pessoas por semana, segundo informações de uma agência de turismo da região. Isso sem contar turistas vindas por outras agências e os que veem de carro próprio. A cidade é uma área de preservação permanente, e desde 1973 ela foi tombada como patrimônio histórico, sendo proibido construções acima de 7,40mt que acabam por descaracterizar o lugar. Dentre as construções históricas do vilarejo, destacam-se a Igreja de nossa senhora da pena, padroeira da cidade, construída em 1535 por Pero do campo Tourinho, donatário da capitania; o Paço municipal ou casa de câmara e cadeia, onde funciona o museu do descobrimento; a Igreja de São Benedito, construída em 1551 pelos jesuítas, e o Marco do descobrimento, trazido de Portugal entre 1503 e 1526. Para quem enfrenta a subida, além de desfrutar da bela paisa-

gem panorâmica, pode ainda admirar e adquirir belos artesanatos produzido pelos moradores do lugar, dentre os quais encontramos alguns índios devidamente caracterizados com seus colares e penas, e degustar pratos típicos baianos, como o beiju de tapioca recheado e o acarajé.


4 Thacio Machado e Victor Érick

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Descobrindo a passarela do álcool Vale tudo para chamar sua atenção A disputa pelos clientes ao longo da passarela é muito peculiar. Para se diferenciar dos outros barraqueiros vale tudo desde luzes de boate, adereços espalhafatosos, repentes engraçados e amostras grátis das batidas. Tudo para atrair o cliente e se diferenciar da imensa concorrência. “Aqui é a barraca da Bel aqui tem capeta, beijo na boca, tira chifre, pega leve. Venha pinto mucho pra barraca da tia Bel, venha me ajudar a pagar o aluguel”, canta Isabel Bento dos Santos, um dos seus repentes para atrair clientes. A Bel do Aluguel,é a personagem interpretada por Dona Isabel uma Porto-Segurense de 55 anos que a 20 trabalha na passarela do álcool. Na barraca da Bel, ainda há uma grande variedade de batidas com nomes exóticos, que fazem parte da mística do local. Bebidas como: Pega leve, tira chifre, beijo na boca, espanhola, lua de mel, 10 segundos, noite de amor, ai se eu te pego, brilho da noite e muitas outras.

Em 21 de abril de 1500, o navegador Pedro Álvares Cabral avistou terra firme. Mais de 500 se passaram e o pedaço de terra avistada pelo navegador Português deu origem a cidade onde nasceu o Brasil. Habitada muito antes pelos Índios, Porto Seguro é uma das mais belas cidades da Bahia. Cheia de encantos, riqueza natural e histórica recebe turistas do mundo todo. Porto Seguro reserva boas surpresas para quem gosta da vida noturna. Bares lotados, festas e agitação são comuns na cidade. Um lugar em especial agrupa diversas lojas de artesanato e souvenirs, butiques, bares e restaurantes que ganham a companhia de barracas de batidas (Barraquinhas de capeta) ao entardecer é ponto sagrado para o pré-night.

A passarela do álcool é um dos principais pontos de comércio da cidade e um misto de Shopping com zona de boêmia. Com bares de um lado e barraquinhas de capeta do outro, a avenida se transforma em uma passarela com diversas opções de bebidas.

as barracas vão sendo montadas pouca a pouco e a passarela ganha forma. Muita gente vai à procura do famoso capeta (bebida que mistura vodka, guaraná em pó e muitas outras coisas). Porém a diversidade é imensa e os nomes bem criativos.

As barracas começaram a chegar ao final da década de 1980 e início dos anos 1990, com o crescimento do turismo no Sul da Bahia. Hoje são quase 50 barracas em mais de 1 km de passarela. Segundo o site da prefeitura de Porto seguro o nome Passarela do Álcool se deve a sua função histórica da avenida, durante o período colonial era a rua por onde transitavam as cargas de cana-de-açúcar e álcool.

Contudo, a passarela não ponto apenas para jovens desvairados loucos por bebida. É comum encontrar muitas famílias, inclusive, com crianças passeando pela passarela, a mesma tem uma um grande leque de opções de bares, restaurantes, botecos, pizzarias para atender todos os públicos. Nos períodos festivos, como: Carnaval e São João a passarela vira palco desses festejos populares recebendo diversos shows.

A partir das cinco da tarde os barraqueiros começam a chegar,

Mais de 2000 Drinks vendidos todos os dias na alta estação.

Mais de 5000 turistas passam por semana pela passarela durante o verão.

Mais de 50 barracas em 1,5 km de passarela.

Passarela do descobrimento A famosa passarela do álcool em Porto Seguro, a partir de 2010 passou a se chamar Passarela do Descobrimento. O projeto lei nº 066/2010, dos vereadores Paulinho Toa Toa e Erisvaldo Oliveira, foi aprovado pela câmera de vereadores e mudou oficialmente o nome do local. O argumento defendido pelos vereadores para a mudança de nome foi que como Porto Seguro recebe muitos estudantes, o nome de passarela do álcool deixava os pais dos jovens reciosos, pois o nome remete a bebidas alcoólicas. Mesmo como a aprovação da lei, a mudança de nome causou um certo desconforto em uma parte da população, a qual defendia a manutenção do nome, pois consideram que este local é internacionalmente conhecido e a troca de não faria sentido. Um dos pontos turísticos mais visitados da cidade, a antiga passarela do álcool tem lojas/barracas de artesanato, vestuário, alimentação, bebidas e muitos vendedores ambulantes expondo a sua arte. O local funciona de terça a domingo e das 18:00 às 00:00. Durante o dia aproximadamente 15% das lojas funcionam, então o bacana é ir a noite mesmo.

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Porto Seguro em Fotos

Porto Seguro é um lugar impar, terra de histórias, crenças, paisagens naturais belíssimas e cultura pulsante, um verdadeiro retrato do Brasil. Durante o dias os caminhos levam a passeios pelas praias, praças e monumentos, durante a noite as luzes da cidade são um charme a parte. São muitos detalhes para serem descritos, por isso apreciem as fotos deste lugar único.

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Arraial d’ Ajuda e de todos Por Larissa Molina Quem visita Porto Seguro também pode ter a oportunidade de conhecer o distrito de Arraial d’ Ajuda, que fica próximo da cidade, com acesso através da travessia de balsa em cerca de 20 minutos. O povoado surgiu por causa de uma suposta fonte milagrosa, também chamada de Nossa Senhora que teria aparecido a pedido de um padre. A partir da queda de um monte, abriu-se a terra e também uma fonte. E água pode ter sido de grande ajuda para os problemas de abastecimento da localidade, onde foi construída a Igreja de Nossa Senhora d'Ajuda. A igreja, apesar de pequena se destaca no centro do Arraial. Dentro há um altar muito bonito trabalhado em azul e dourado e gente de muita fé na santa e nos milagres. E atrás existe um mirante com

a tradição de amarrar uma fitinha de Nossa Senhora d’Ajuda na mureta fazendo um pedido. Elas formam um lindo tapete colorido que se completa com a vista do alto da Praia d’Ajuda. As casinhas ao redor da igreja que hoje abrigam comércios de artesanato e bares eram onde os jesuítas repousavam e alojavam romeiros que iam até lá atraídos por notícias dos milagres. No final da década de 70 chegaram os hippies, e o local foi ganhando as características de hoje. O turismo na região também atraiu trabalhadores afetados pela crise do cacau na região de Ilhéus. Muita gente como Orlando, vendedor ambulante que veio da cidade de Camacan para tentar uma nova vida. “Muita gente ficou sem trabalho lá e o turismo aqui foi uma oportunidade”, informou.

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A magia do Quadrado Larissa Molina Próximo a Porto Seguro e a Arraial d’ Ajuda existe um lugar especial que é a cidade de Trancoso. Um dos principais destinos do litoral da Bahia com diversos hotéis cinco estrelas, tem sido bastante explorado pelo turismo nos últimos anos e mescla simplicidade com luxo. O chamado “Quadrado” que quem conhece se encanta, está localizado no centro da cidade. Na verdade ele tem formato retangular e é um grande campo com várias casinhas e uma pequena igreja no final de portas em frente ao mar. O local antigamente era somente uma aldeia de índios e foi colonizado também pelos jesuítas no século 19 e por muito tempo desconhecido, até que nos anos 70 hippies descobriram e passaram a habitar o vilarejo. A partir da construção de estradas e aeroportos na região, nas ultimas décadas o local foi redescoberto e o seu potencial turístico explorado. Antes disso seu povo vivia isolado e com costumes antigos.

Rústico e o chique Multicultural e tranquilo Em Arraial d’ Ajuda se percebe uma diversidade de culturas e se escuta os mais variados sotaques. Já pode ser considerada uma segunda casa para muitos mineiros e paulistas. A secretária Maura da cidade de Betim em Minas Gerais vai todos os anos atraída pela tranquilidade do local: “Aqui é um lugar que a gente se desliga do mundo totalmente e pode ter um dia a dia voltando para as coisas mais simples, além de que o pessoal aqui também é muito acolhedor”, comentou. A jornalista Monica Lopes de Belo Horizonte, sócia de uma sorveteria sente falta de mais opções de lazer: “Gosto daqui, é um lugar tranquilo e ótimo pra passear só sinto falta mesmo de uma vida mais urbana”, afirmou. O comerciante mineiro Nilson chama atenção de que Arraial completa as atrações de Porto Seguro. “Eles tem ao mesmo tempo um lado histórico muito interessante e o turístico também. Os jovens também incrementam muito aqui”, disse.

Lá também se vê muito turista estrangeiro e também outros que se instalaram no local e viraram comerciantes, donos de bares e pousadas. Uma presença que ajuda a transformar o cenário da pequena vila com elementos de outras culturas. Restaurantes oferecem pratos da culinária local e de diversos outros países como Argentina e França. O artesanato indígena se junta a outros tipos de arte. A latitude em comum com lugares místicos também atrai esotéricos. Também existe uma rua chamada “Bróduei” em homenagem à Brodway dos Estados Unidos. E na rua do Mucugê, conhecida como a “rua mais charmosa do Brasil" o comercio ganha força quando o sol se põe.

De dia o pode-se admirar a vista do mar de Trancoso sombreados pelas arvores centenárias que a noite apoiam belas luminárias, com destaque para as feitas de garrafas pet recicladas com formato de flor. Sem iluminação pública é possível sentir ainda mais o caráter mágico do Quadrado. Tudo só fica visível a partir das poucas luzes de dentro das casas, o que deixa o lugar ainda mais especial. Cadeiras, bancos de madeira e poltronas confortáveis estão à disposição para relaxar. Bonitas mesas iluminadas com velas trazem ainda mais glamour e charme a falta de iluminação. O quadrado une bem a tradição com sofisticação, concentrando restaurantes que oferecem desde comida natural à culinária típica baiana como os mariscos e outras mais sofisticadas como opções da culinária internacional. As lojas de grife instaladas em casas modestas surpreendem destacando manequins e tendências longe de shoppings e grandes avenidas, com portas e janelas abertas e refrescadas pelo ventinho que vem do mar. No local também existem famílias habitantes e nativas, que entre uma novela e outra se reúnem nas portas para conversar.

Arte diversa As casas simples e bem decoradas do Quadrado exibem também a criatividade em seus ricos detalhes. Um local inspirador para tantas fotografias não podia deixar de abrigar arte. Diversas galerias exibem artesanato de todas as regiões do Brasil, pinturas e peças de todos os estilos, se destacando as decorativas com a estética indiana, africana e baiana. O quadrado tem essa magia que encanta e isso é apenas uma parte das suas possibilidades já que diversas praias em outras áreas da cidade ainda prometem muito mais para quem visita esse pedacinho de paraíso do sul da Bahia.

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Pataxó, a tribo guerreira

Roquinaldo Freitas

No extremo Sul da Bahia, fica localizado o exato local onde foram avistadas as caravelas portuguesas, lá os povos indígenas foram descobertos pelo europeus. De acordo com os relatos oficiais da história, foi o Monte Pascoal que levou as palavras “terra à vista” à boca de Pedro Alvares Cabral, o navegador português responsável pela expedição que iníciou a colonização dessas terras, em 1500. 513 anos depois da passagem de Cabral por essas bandas, a primeiro tribo à fazer contato com os portugueses, os Pataxós, lutam para sobreviver e manter viva a cultura indígena e suas tradições. O ponto de desembargue dos colonizadores portugueses agora é referência turistica na

região de Porto Seguro, a aldeia Pataxó de Coroa Vermelha. Hoje, vivem cerca de 5.000 índios na aldeia localizada em Santa Cruz de Cabrália, nos limites dos rios Mutá e Mutari, interligados ao município de Porto Seguro pela BR – 367 e vivem basicamente da agricultura, pesca, turismo e principalmente do artesanato. O turismo é fator determinante na região e os índios aproveitam para vender seus materiais artesanais como cocar, colares, arcos e flechas, dentre outros itens dos mais diversos tipos e modelos. Existe uma cruz que marca o local da primeira missa realizada no Brasil pelo Frei Henrique Soares de Coimbra e uma capela com a réplica da imagem de Nossa Senhora

da Boa Esperança, trazida por Cabral na viagem do Descobrimento. Enquanto o turista passeia pela orla, pode conhecer o artesanato dos índios Pataxó e

se deliciar com comidas típicas. Em Coroa vermelha, também, fica localizado o Museu do Índio. Lugar que tenta manter vivas as tradições índigenas ao mesmo tempo em que informa os visitantes. Jequitaiá, 13 anos, guia mirim do museu quando não estar na escola índigena recepciona os visitantes, diz que o fluxo de turistas é muito grande mas que em geral há muita desinformação em relação à cultura Pataxó. Ela guia os visitantes por entre peças decorativas enquanto narra a utilização no dia à dia da tribo e conta que o museu se mantém sem nenhuma ajuda da prefeitura, que só se manifesta em datas marcantes como os

festejos dos 500 anos do descobrimento e dia do índio. Fora isso, o museu sobrevive da taxa simbólica de R$ 1,00 cobrada de cada visitante. A Turista Catarinense, Márcia Conceição de 52 anos, em férias com o marido Daniel e o casal de filhos Luana e Pedro, ressalta a importância de manter viva a história índigena e fala sobre a importância de transmitir essa cultura às novas gerações. “Os índios são os verdadeiros donos dessa terra, tudo que temos hoje, o que somos hoje, como nação, devemos à eles. É uma injustiça muito grande o que esse povo vem sofrendo ao longo do tempo e cabe à todos nós mantermos viva essa cultura.”

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11 Diário de Bordo

Terra à vista! A Chegada antecipada, os protestos que assolavam todo o território nacional e os rumores de fechamento das estradas nos fizeram sair mais cedo de Ilhéus. Os temores se fizerem bem fundamentados e a decisão de chegar mais cedo foi a mais correta. Porto Seguro fez jus ao nome e estabeleceu o nosso ponto de apoio, fortalecemos vínculos de amizade construídos durante a viagem e reforçamos a coesão do grupo para então aproveitar as belezas naturais que nos aguardavam. O check-in na pousada do Descobrimento sob garoa e frio trouxe-nos a falsa impressão de que estaríamos reclusos nos ambientes internos dos diversos bares e lanchonetes da orla, literalmente “não daria praia”, não daria... Só nos restou partimos em busca de diversão em ambientes confinados, afinal, Porto Seguro nos esperava de braços abertos. Assim, uma rápida passagem pelo hotel para trocarmos de roupa e fomos para o shopping, mais precisamente para o boliche. Entre pinos e risos, brindamos à nossa amizade e, sobretudo a viagem que por essa altura, já entrava na metade do caminho. Na manhã seguinte fomos agraciados com um belo céu azul e sol forte, o clima levantou o astral e logo cedo saímos para “descobrir” Porto Seguro. A orla convidava para uma revigorante caminhada à beira mar e brincadeiras na areia, assim fomos seguindo guiados pelo vento e pelas belas paisagens. Ao fim, a areia encontrou o asfalto e decidimos nos aventurar... Pedro Alvares Cabral apontava a direção, subimos uma escadaria de duzentos metros sem saber muito bem aonde nos levaria, porém, fomos recompensados pelo esforço com o incrível visual do mirante. Praticamente viajamos no tempo! Ficamos sem eira e nem beira na pacata vila em estilo português, a antiga sede da capitania Hereditária de Porto Seguro. Qual foi a nossa surpresa ao encontrarmos índios devidamente caracterizado diante desse cenário? Só poderíamos admirar a paisagem no mirante ao lado do Marco do Descobrimento e mergulhamos na história, imaginando o encontro entre indígenas e portugueses e as caravelas no horizonte. Infiltrados nos grupos de turistas que volta e meia trafegavam por lá, ouvimos dos guias pedaços da história daquele lugar fantástico. O sol poente denunciava a hora da volta ao hotel, mas não o fim das atividades, a diversão estava só começando... À noite deixamos a história para trás e nos entregamos aos prazeres mundanos da modernidade, novamente fomos ao shopping e ao boliche! Os ânimos exaltados pela competição da noite anterior exigiam uma desforra, voltamos ao hotel realizados, satisfeitos e ansiosos pelo dia seguinte. No outro dia, fomos às compras! Seguimos para Coroa Vermelha, um povoado onde nativos da tribo Pataxó vendem artesanato, é lá também, onde oficialmente fica o ponto exato do descobrimento e o marco da 1º missa celebrada no Brasil pelo Frade Henrique de Coimbra. Entre Awêrys e Anauês fomos passando de barraca em barraca, olhando tudo, levando quase nada mas sempre sendo recebidos com uma palavra indígena e um sorriso no rosto. As compras atrasaram o passeio, não podíamos ir embora de Porto Seguro sem passar por Trancoso e Arraial D’Ajuda! Atravessamos a balsa e seguimos guiados apenas pela vontade de conhecer o litoral paradísiaco. A vontade era tanta, tínhamos tanto para conhecer em tão pouco tempo que acabamos nos perdendo. Chegamos no final da tarde em Arraial D’Ajuda, só o tempo de fazermos um lanche, tirarmos algumas fotos do visual incrível do mirante da igreja da Nossa Senhora d’Ajuda e seguirmos caminho para Trancoso noite à dentro. Nas estradas secundárias em quase total escuridão, seguimos perdidos, um grupo de estudantes universitários em viagens de férias, quase um roteiro de um filme de terror, não? O silêncio reinava absoluto dentro do ônibus e a apreensão era pálpavel no ar, seguimos, seguimos e seguimos... Uma estrada qualquer, viajando para um universo paralelo. Enfim, Trancoso! E seu visual nortuno, um charme, um frio e um encantamento. A energia elétrica não chegou completamento à esse lugar esquecido pelo stress alucinante da mordernidade, suas lojinhas, bares e restaurantes dão um toque espetacular ao cenário com cadeiras de praia sob ávores enormes e mesas à luz de velas. Todo aquele visual deslumbrante, as cores, as luzes, fizeram cada kilômetro valer à pena e foi com esse sentimento que voltamos à Porto Seguro. Não poderiamos passar a última noite na cidade sem visitar o destino de 9 à cada 10 jovens universitários, à infame passarela do álcool. Entre tequilas, capetas e capirinhas, ajudamos Bel a pagar o aluguel, difícil foi acertar alguns pinos depois. Seguimos viagem na manhã seguinte, descobrindo outros lugares e personagens...


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Primeiro Porto

Aqui a história começou a ser contada O caminho tão belo de entrada para o Brasil, Que até hoje é redescoberto Por tantos Cabrais, de tantos lugares, Que vem conhecer esse Porto Seguro, Suas praias, monumentos, igrejas Tendo todos a certeza Que esse é o lugar do ‘começo’ Assim em meio a tantas belezas, Todos que visitam Porto Torcem pra sua estadia não ter fim.

(Victor Érik)


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