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Eliandson Santos

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izem que a mulher é o sexo frágil, mas não na academia Por Dentro do Boxe, em Cachoeira, onde 18 mulheres de todas as idades estão subindo no ringue para fazer os adversários, dentro e fora do ginásio, literalmente beijar a lona. A academia faz parte de um projeto social criado pelo professor Ciborg, há 22 anos. No começo, só haviam alunos homens, mas não demorou para que aparecessem as primeiras mulheres interessadas em praticar o esporte. De lá pra cá, Joelson Conceição Oliveira, o Ciborg que sempre deu aulas de graça e se virou como pôde para manter o projeto vivo – quase sempre com pouca ajuda financeira e só com o básico da estrutura necessária – seguiu difundindo a sua filosofia e transformando sua história de persistência no esporte em uma lição de vida. Hoje dezoito meninas treinam boxe de graça, até três vezes por semana. Alunas como Carla Silva,

Fera

estudante de 15 anos que escolheu o boxe há um ano por influência dos amigos e para manter a forma. Desde então, não parou mais de lutar. Outra que segue na luta, foi a também estudante Luana Fraga, 17 anos. Para ela, a paixão pelo boxe vem de berço, pois a mãe e irmã são pugilistas. O talento que veio de casa deu resultado nos ringues e Luana se tornou campeã regional. O título rendeu novos objetivos. Agora, ela está com uma luta marcada para maio e sonha em disputar o campeonato baiano de boxe. Mas ainda não tem patrocínio. Luana espera repetir o caminho de outra atleta do projeto. Débora Cruz saiu de Cachoeira para se tornar a atual vice-campeã baiana de boxe na categoria peso-leve. E ainda chegou a receber propostas para se profissionalizar e defender clubes de outros estados, mas – apesar de também não ter patrocínio – declinou os convites para realizar um sonho. Débora virou professora e está aprontando os últimos preparativos para, em breve, abrir sua própria academia, um espaço voltado só para mulheres, onde espe-

ra revelar talentos como Carla e Luana. Para isso ela vai ter a ajuda de quem começou tudo, o professor Ciborg. E enquanto isso, não param de aparecer novos e novas interessadas em entrar no mundo do boxe. Pessoas como Jurema Neves, chefe de gabinete de 51 anos, a mais nova candidata a aluna da Por dentro do boxe. Ela resolveu praticar um esporte para manter-se jovem por mais tempo e acabou optando pelas luvas e o ringue, em razão da disciplina. Perguntada se considera o boxe um esporte masculino, respondeu com muito bom humor: “Trabalhar em construção já foi coisa de homem, dirigir coletivo já foi coisa de homem, hoje tudo é para ambos os sexos. Esporte é saúde. Ajuda quem quer fugir do estresse. Ajuda a ocupar a mente, além de ser um meio de integração com a sociedade, principalmente com os mais jovens.” Apoio dos amigos e da família ela vai ter de sobra, principalmente do neto de sete anos que já pediu para acompanhar a avó nas lutas. Jurema certamente é um bom exemplo desta nova mulher,

que se torna uma avó diferente ao trocar o casaco e as agulhas de tricô por um ringue de boxe. Comprovando a velha máxima de que mulher ser sexo frágil, é uma mentira absurda!

Carla Silva: antes o desejo de manter a forma, hoje uma paixão

Leomir Santana

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