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RIO PARAGUAÇU AGONIZA COM POLUIÇÃO (pag 5) Cachoeira - Bahia Julho de 2018 Edição

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

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Centro de Artes, Humanidades e Letras

Casarão em ruínas preocupa vizinhos Confira na página 3 Foto: Gabriella Freitas

Foto: Liane França

Leia na página 9 matéria com a cobertura da tradicional Guerra de Espadas em Maragojipe Pouco conhecida, hemeroteca do CAHL guarda acervo relevante da imprensa nacional (página 11)

Seleção da Cachoeira já treina de olho em mais um título do Intermunicipal

Saiba tudo na página 10

Foto: Leonardo Gonçalves

Foto: Maria Lara Pires


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OPINIÃO

CACHOEIRA | BAHIA Julho 2018

INEDITORIAL

Cachoeira: a ex-metrópole do futuro? Quais são os mais fixos limites e quais são as mais fluídas redes do território com o mundo no século 21? O que é ser cachoeirano ou cachoeirana e qual o maior valor do tombamento do espaço desde o século 20? Primeiro é preciso distinguir que o lugar e a localização de Cachoeira são coisas distintas: a cidade inteira está distribuída por lugares fixos e tem uma localização em fluxo. Ainda que sua ponte de origem inglesa permaneça ocupando os lugares em que foi fixada há séculos, esse monumento metálico mudou diversas vezes de localização ao longo da globalização, passando por todas as revoluções industriais.

Toni Caldas Cheguei à Cachoeira há quase dez anos, em 2009, para estudar Jornalismo. A UFRB me ofereceu a mobilidade e eu saí para ver o mundo do lado de lá (Portugal). Voltar para Cachoeira e encontrá-la vista pelo mundo por uma telenovela nacional, um megaevento literário internacional e até por um longa de ficção regional protagonizado por atrizes negras premiado foi uma experiência estética. Entre as escalas pelas geografias hoje posso escrever algumas provocações aos que pensam o futuro de Cachoeira neste espaço livre oferecido pelo Jornal Reverso.

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo Reitor da UFRB Prof. Dr. Silvio Soglia Diretor do CAHL Prof. Dr. Jorge Cardoso Filho Edição e Editoração Gráfica Prof. Dr. J. Péricles Diniz Editorias: Gabriella Freitas (Educação), Leonardo Gonçalves (Esportes) e Maria Lara Pires (Cultura)

O capital local foi valorizado e desvalorizado, do material ao imateiral. O capitalismo da cidade, como em todo Recôncavo, demonstra as desigualdades do regional frente ao global. Sobretudo entre negros e brancos localmente falando. “Quem perambula é quem pode ver”. As novas redes sobrepõem as antigas: “o Vapor de Cachoeira não navega mais no mar”. O que agora navega em outras frequências são imagens e sonoridades. Poéticas que ressignificam identidades, saberes e fazeres, mudando os valores.

A arte sincrética da cidade no entanto valoriza o popular e o erudito em um espetáculo produzido no cotidiano banal: “A dialética da baianidade” é materializada em vertentes diversas emitidas das artes e da vida em Cachoeira. Basta ter sentidos para perceber... A identidade do cachoeirano é que, no entanto, vive uma virada de paradigma na chamada pós-modernidade. Com o território sendo apropriado por novos residentes, a cada dia são mais amplificados pelas técnicas e ciências da UFRB a ideia de uma “cidade universitária” que, no entanto, antes disso foi “outras cidades” com marcas contidas na sua paisagem. Onde estará Cachoeira daqui há dez anos? Ela pode retornar a ser um pólo da Bahia em 2028? Seria essa uma ex-metrópole do futuro? De certo que a produção horizontal com bases matrizes culturais regionais desloca o território e seus residentes cada vez mais ao centro global. Por uma outra globalização do Recôncavo.

Antônio Heleno Caldas Laranjeira realiza mestrado na linha de Geografias da Comunicação pela UFS e graduado em Comunicação Social pela UFRB com intercâmbio pelo IPB (Portugal), com experiências diversas em marketing digital para mídias móveis e jornalismo cultural em redes colaborativas.

Os caminhos do Reverso

Todo jornal laboratório, instrumento de papel fundamental para a formação dos aprendizes de repórter dos cursos superiores de Jornalismo, tem sempre uma decisão inescapável em sua trajetória acadêmica. Pode escolher ocupar-se das rotinas e conquistas da própria universidade, das práticas e desafios que enfrentam seu curso e professores, técnicos administrativos e estudantes em processo de convivência e crescimento pessoal e institucional. Nada mais natural.

Contudo, há outro caminho, mais difícil e desafiador, é preciso dizer, mas igualmente mais prazeroso e recompensador - ao menos, confesso, para este velho repórter hoje feito professor. Que é justamente a direção escolhida pelo Reverso: pautar e ouvir a comunidade regional que nos acolhe, ser a voz inquieta e objetiva do cotidiano da Cachoeira e seu Recôncavo, agora revigorada por voltar às ruas em seu formato impresso. Ora, vivas! Péricles Diniz, editor


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CIDADE

Casarão em ruínas corre risco de desabamento e preocupa vizinhos

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Imóvel está com rachaduras, janelas quebradas, cheio de problemas de infraestrutura e pode ruir a qualquer momento

Janeise Santos (texto) Gabriella Freitas (fotos)

Um casarão em ruínas na Rua J.J Seabra tem preocupado os moradores. O prédio localizado no centro da cidade é conhecido por ter sido a casa do ex-prefeito João Vieira Lopes e está em iminente risco de desabamento, devido às más condições. De acordo com o morador Cláudio de Carvalho Barbosa, o Ministério Público foi acionado, mas alegou que é um assunto de interesse particular e não público. A Prefeitura de Cachoeira também foi acionada, um engenheiro foi enviado há dois anos e deu um laudo atestando que o imóvel está condenado e pode desabar a qualquer momento. Mesmo assim, não foi definida uma postura por parte das autoridades e nem dos proprietários. Conselho de Segurança “Nós moradores estamos aqui em pânico constante. Eu e minha família, por exemplo, estamos morando próximo ao local e quando começam as chuvas, à noite principalmente, a gente não dorme com medo de vir a desabar e ceifar as nossas vidas. O nosso estado de preocupação é total, a gente não cessa”, afirmou Cláudio Barbosa. Segundo Agilson Silva Trindade, atual presidente do Conselho de Segurança de Cachoeira, os proprietários alegaram não ter recursos para fazer o escoramento, procedimento indicado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ou a demolição do imóvel. Eles teriam se prontificado a doar o casarão a uma entidade ou pessoa que esteja disposta a arcar com os custos dos advogados e contratar uma empresa para fazer os procedimentos necessários. Omissão Cláudio de Carvalho Barbosa contou também que os seus advogados entraram com uma ação indenizatória

O prédio, que fica na Rua J. J. Seabra, já foi residência do ex-prefeito João Vieira Lopes contra os proprietários, mas até agora nada foi decretado. O morador também afirmou que o IPHAN não se manifestou. “Eles foram intimados recentemente, o juiz mandou intimar o IPHAN e vamos ver nos próximos capítulos qual vai ser a posição deles, que até então não foi passada uma postura mais enérgica, visto que eles são responsáveis pelos monu-

A maioria dos imóveis da cidade, como os casarões antigos, é de responsabilidade do IPHAN, que é o órgão responsável por conservar e fazer a contenção e o isolamento da área. O instituto recomenda, nos casos em geral, que o escoramento da fachada seja feito. Por ser um prédio tombado, ela deve ser mantida e todo o resto pode

mentos históricos da cidade”, disse.

ser demolido.

A situação do imóvel é ruim e, segundo Cláudio Barbosa (abaixo) causa pânico entre os moradores


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CIDADE

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Artesãos mostram trabalho na Feira do Porto

Texto: Eliane dos Santos Bispo da Cruz Fotos: Giovani Alcântara

Mais de 100 artesãos estiveram na tradicional feira de artesanato da cidade, mostrando o que sabem fazer. Os trabalhos vão desde pequenos objetos de decoração e utensílios de cozinha até moveis feitos artesanalmente . O evento acontece durante o período da festa junina, umas das mais procuradas da região. Localizado no Jardim Faquir, no porto, o evento acontece todos os anos, entre os dias 22 e 28 de junho, trazendo pessoas de diversos lugares da Bahia para mostrar sua arte para turistas e público em geral, que vêm apreciar o São João da Feira do Porto. Moacir Casaes, cachoeirano, disse que a feira, “está bem bonita e com muitas variedades. Está joia, já fiz minhas compras”.

A Feira do Porto contou com a participação de mais de uma centena de artesãos, que expuseram seus produtos durante so festejos juninos que agitaram a cidade neste último mês de junho. sideraram alta. Os artesãos ficaram acampados no jardim durante todo o período da festa junina, trazendo cobertores, colchão, fogão, além de produtos de higiene.

Moacir Casaes disse que gostou da variedade do artesanato Custos altos Para poder comercializar seus Em comparação aos anos ante- produtos na feira, a prefeitura cobrou uma riores, esta edição foi mais organizada, mas taxa de R$ 100,00, por metro quadrado, a o fluxo de barraqueiros diminuiu por conta título de custear o espaço, refeição e transda taxa paga à prefeitura, que muitos con- porte.

Segundo os artesãos, isto tornou o custo alto e resultou num gasto excessivo, como informou Luís Carlos, que veio do Sul da Bahia e participa do evento há 10 anos. “ Esse ano a feira está fraquinha, mas sempre foi boa. O valor pago é muito alto, viajo o Brasil para outras feiras e tem lugar em que pago R$36,00 o metro quadrado. Ano que vem talvez não venha”, afirmou. Na feira era possível encontrar muitos produtos de ótima qualidade, na barraca de Roque Santos, os preços variavam de R$2,00 a R$150,00 . “Eu fabrico a maioria das peças, por isso tem para todos os bolsos”, disse ele.

O artesão Luis Carlos reclamou da taxa cobrada pela prefeitura, que considerou muito alta


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CIDADE

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Rio Paraguaçu agoniza com a poluição

Ana Célia Coelho (texto) Caio Batista (fotos)

Apesar de ter seu projeto de revitalização anunciado há 10 anos, o Paraguaçu, maior rio da Bahia e importante cartão-postal de Cachoeira e São Félix, segue constantemente ameaçado pela poluição e desmatamento. O curso d´água continua sendo degradado pelo lixo, entulho e dejetos jogados em seu leito. Segundo o secretário de Obras e Meio Ambiente de Cachoeira, Edgar Moura, a atual gestão não conseguiu dar continuidade a este projeto, por causa do corte de verba dos governos estadual e federal. Mas disse que está em processo de execução a instalação de placas educativas nas margens, adquiridas em parceria com o Programa Áreas Protegidas da Amazônia. “Devido ao baixo orçamento, a principal ação da secretaria para combater a poluição do rio tem sido a fiscalização. Nosso objetivo é a preservação ambiental, fiscalizar os comerciantes da orla e alertar a população para não jogar lixo no rio”, afirmou o secretário. Impactos Nascido e criado em Cachoeira, Carlos Rocha de Jesus, de 49 anos, avaliou que a poluição do rio é muito complicada de se resolver, porque os moradores continuam construindo casas próximas à margem e isso gera vários impactos ambientais. “Antigamente, o rio era limpo e cheio de cachoeiras, a gente podia tomar banho à vontade. Mas, para mim, a maior destruidora é a ignorância das pessoas que

Só quando há variação na maré e o nível do rio baixa é possível ter dimensão da poluição no rio

jogam lixo e esgoto no rio”, disse. Segundo Alexssandro Simão, conhecido como Sandro Guia, presidente da Associação de Condutores e Guias do Vale do Paraguaçu (ACTUP), a degradação começou com a construção da barragem de Pedra do Cavalo, na década de 70, que destruiu a mata ciliar para encher o lago. “A partir do momento em que a

hidrelétrica foi instalada, começamos a perder vários peixes nativos de Cachoeira, porque não se dá descargas de água da barragem como se dava antes, então o mar praticamente está invadindo o rio, a água que era doce, hoje está salobra”, relatou. O condutor contou ainda que a ACTUP possui um projeto de limpeza das margens e riachos do Paraguaçu, mas falta

apoio ou patrocínio da prefeitura e demais órgãos públicos para ser executado. “Todos são responsáveis pela preservação do rio: estado, municípios, empresas, agricultores e cidadãos. Temos que fazer nossa parte, não jogar lixo no rio e exigir do poder público que desenvolva projetos para despoluir e proteger nosso Paraguaçu”, concluiu.

As placas feitas pelos próprios moradores não são suficientes para evitar o acumulo de lixo nas margens do riacho


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CIDADANIA Programa Social possibilita que jovens de baixa renda viajem de graça por todo país

Monalysa Melo O programa Identidade Jovem (ID Jovem), criado pelo governo federal desde 2015, vem possibilitando que jovens de baixa renda de todo Brasil possam viajar com mais facilidade, garantindo a eles o acesso a vagas gratuitas ou com desconto no sistema convencional de transportes interestaduais. “Logo que fiquei sabendo do programa, no final do ano passado, fui ao Centro de Referência da Assistência Social atrás de saber o que era preciso para gerar o meu cartão do ID Jovem. E desde então, com a possibilidade de poder viajar de graça, ficou bem mais fácil participar dos eventos acadêmicos que acontecem em outras cidades”, afirmou o estudante Bruno Leite, natural de Feira de Santana. O programa se destina a pessoas com idade entre 15 e 29 anos, não necessariamente estudantes, mas que sejam pertencentes a família com uma renda mensal de até dois salários mínimos, inscrita no cadastro único do governo federal, atualizado há pelo menos dois anos. Isto possibilita o acesso tanto a vagas gratuitas ou com desconto de 50% em transportes coletivos interestaduais, como também aos benefícios de meia-entrada em eventos artístico-culturais e esportivos. Para ter acesso aos benefícios, os jovens que se enquadrem nos critérios do programa precisaram emitir o cartão do ID Jovem, que será utilizado para comprovar o direito. O cartão poderá ser gerado após o preenchimento e validação dos dados pessoais no site da Secretaria Nacional de Juventude (idjovem.juventude.gov. br).

Conselho Tutelar de São Félix é ponte de refúgio para crianças e adolescentes

Carlos Augusto Santana

O Conselho Tutelar de São Félix atua na prevenção de abuso sexual contra crianças e adolescentes por meio de palestras nas escolas e diálogos com os estudantes. Celso Messias Ciqueira, coordenador do conselho, relatou como é realizado o processo de prevenção de abuso sexual, o acolhimento a vítima e os caminhos que a entidade segue após o relato da denúncia. “A prevenção é mais voltada para a conscientização, com palestras, normalmente nos 18 de maio que é um dia de combate ao abuso e exploração sexual, a gente vai para rua, panfleta, chama a atenção, visita escola e conversa diretamente com as crianças fazendo trabalho de alerta”, contou. Ele explicou que, normalmente, na maior parte dos casos são as pessoas próximas que as abusam, é o próprio tio, padrasto, avô, o próprio pai. Assim, prosseguiu Ciqueira, “a gente chama realmente a atenção para o comportamento dessas pessoas para com elas, para estarem atentos a qualquer comportamento estranho. Pedimos que conversem com a mãe, com a tia, a professora ou qualquer pessoa que se tenha a confiança e essa pessoa vai ajudar a instruir ou tomar medidas que deve-se tomar”. Ele contou ainda que, “ultimamente, nós tivemos um aumento relacionado a abuso e esse aumento veio de denúncias da zona rural, a maioria”, disse. Em relação aos caminhos trilhados após o acolhimento da denúncia, Celso afirmou que o conselho tutelar não faz a investigação do caso, mas encaminha para os órgãos responsáveis pela investigação e acolhe a vítima do abuso sexual. “Quando a denúncia chega, a gente encaminha para o órgão competente, que é a delegacia de polícia e também comunica ao Ministério Público o fato. Com

Representantes do conselho em São Félix. Foto: Ivana Moreira

relação à criança ou adolescente com direito violado, a gente faz encaminhamento das medidas protetivas, o acompanhamento psicológico, encaminha para o centro de referência, pra uma equipe interdisciplinar”, disse. Ele explicou que existe um telefone funcional dos Direitos Humanos, que é o disque 100, nacional, para o qual o denunciante liga, identifica a cidade de onde está fazendo a denúncia e o funcionário do Direitos Humanos passa para o conselho local. “Temos também o nosso telefone funcional de 24 horas, (75) 9227-1730 e a pessoa pode vir pessoalmente no conselho e pedir o sigilo, que é garantido e resguardado”, concluiu. O psicólogo Edson Santos, do Núcleo de Apoio à Saúde da Família, explicou os efeitos da violência sexual em crianças e adolescentes. Segundo ele, “a criança fica com medo de adultos. Um outro comportamento é a agressividade. Essas crianças ficam muito agressivas. Se forem adolescentes, têm o hábito de fazerem uma coisa chamada de automutilação, o autoflagelo, eles começam a se cortar e isso dando um sinal que algo já não está bem com eles. Um outro sinal muito característico de alguém que está tendo o abuso é a falta de atenção. O rendimento escolar cai, eles não conseguem prestar atenção, as notas vão diminuindo, os professores vão sinalizando aos pais que o rendimento escolar destes alunos vai baixando”.


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Bolsa Permanência é importante para estudantes quilombolas

Jelson Júnior

A permanência estudantil é um dos problemas enfrentados por alunos de comunidades remanescentes de quilombos ao ingressarem no ensino superior. Muitos discentes chegam a Cachoeira para estudar na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) com pouca ou nenhuma condição financeira para assumirem despesas como aluguel, alimentação e transporte. A universidade possui um Programa de Bolsa Permanência para esses estudantes que tem como objetivo minimizar as desigualdades sociais e contribuir para a sua permanência, mas o processo de homologação para receber o benefício nem sempre é imediato e o pagamento também registra constantes atrasos. De acordo com o programa, a Bolsa Permanência é um auxílio financeiro destinado a estudantes matriculados em instituições federais de ensino superior com situação de vulnerabilidade socioeconômica, estudantes indígenas e quilombolas. A estudante de Jornalismo Ivana Moreira, quilombola da Vila Guaxinim, em Cruz das Almas, afirmou que a bolsa tem fundamental importância para a sua permanência dentro da UFRB. Para ela um jovem que sai da sua comunidade enfrenta dificuldades para conseguir se manter na universidade e através da bolsa consegue custear os gastos como transporte, alimentos e moradia, entre outros. “Pensar em permanência é muito mais do que um auxílio financeiro, é também enfrentar o racismo que nós estudantes indígenas e quilombolas sofremos dentro do ambiente acadêmico. Muitos acham injusto que estudantes quilombolas e indígenas recebam essa bolsa, mas não entendem que isso é uma reparação social amparada pela constituição”, disse a estudante. Para outro estudante de Jornalismo, Carlos Augusto Santana, quilombola de Conceição de Salinas, em Salinas das Margaridas, a Bolsa Permanência é muito im-

portante, garantindo o aluguel da casa na cidade, bem como as contas de luz, água, internet, alimentação e os demais custos que a universidade exige. Segundo ele, antes do recebimento do auxílio, passou muitas dificuldades para permanecer na universidade, sobrevivia com alguns pescados que trazia da sua comunidade para alimentar-se e contava com uma ajuda financeira de sua mãe. Ele contou que passou muito sufoco durante o processo de inscrição da bolsa e era muito difícil se concentrar nas demandas da UFRB, porque gastava a maioria do seu tempo no acúmulo de documentações e o pouco dinheiro que tinha em idas à sua comunidade. A estudante de Cinema e Audiovisual Darine Santana da Conceição também está entre os inúmeros estudantes quilombolas que saíram de sua comunidade (São Francisco do Paraguaçu) com destino à cidade de Cachoeira para estudar na UFRB. Quando ingressou na universidade em 5 de Setembro de 2016, ela se viu em uma situação de medo por não saber como ia se manter na faculdade. Eram muitos gastos e sua família não tinha condições de te mantê-la em Cachoeira. “Hoje recebendo esse auxilio há quase dois anos, eu me sinto cada vez mais segura em relação à minha permanecia na UFRB, pois garante minha sobrevivência na cidade e, quando sobra um dinheirinho, ajudo meus pais” afirmou a Jovem. A cada semestre é liberado um edital do Programa Bolsa Permanência. O processo de inscrição até a homologação dura alguns meses. Durante esse tempo, os estudantes ficam sem assistência. Muitos acabam desistindo e voltando para as suas comunidades, pelo fato de não conseguirem se manter na cidade até o recebimento do beneficio. Após aprovação no processo de homologação, o aluno, a cada um mês, recebe o auxílio equivalente ao valor de R$ 900,00 para ajudar na permanência à universidade. O recurso é pago pelo Ministério da Educação diretamente ao estudante por meio de um cartão de benefício.

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Conselho de Segurança quer combater a violência no município Leilane Fernandes

O Conselho de Segurança do município da Cachoeira (Conseg) foi reativado há seis anos, depois de um período de inatividade. Segundo o seu atual presidente, Agilson Silva Trindade, o principal motivo para essa reformulação foi a onda de violência que vinha atingindo a cidade, com assaltos diários ao comércio e à população em geral. Recebendo apoio do Ministério Público e contando com a participação de seus membros, o conselho tem o compromisso de atuar na fiscalização e resolução de problemas na cidade. “A gente conseguiu ver que o objetivo do conselho não é fazer um trabalho de polícia, mas sim de fiscalização dos outros conselhos, do poder público, pra ver o que tá bom, o que não tá”, disse Agilson. Porém, segundo ele, é necessário maior participação das pessoas nas reuniões, já que, depois que os assaltos diminuíram, as pessoas deixaram de frequentar, prejudicando o trabalho. “Se o povo participar mais, facilita”. O Conseg também atua em outras áreas além da segurança, como a saúde, educação e meio ambiente, auxiliando na manutenção de conselhos e fiscalizando-os, de forma que integrem a comunidade. Os Conselhos Comunitários de Segurança (Consegs) são institutos ligados ao Ministério Público, formados com o objetivo de fiscalizar as instituições públicas, principalmente as policias municipal, estadual e civil, assegurando a segurança, o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas de uma determinada comunidade. Esses conselhos são formados por pessoas da própria comunidade, escolhidas através de uma eleição anual. Qualquer pessoa pode se candidatar a um cargo e a formação das chapas são feitas a partir de um edital divulgado pelo próprio Conseg. Através de reuniões mensais, os Consegs abrem espaço para que os cidadãos possam analisar os problemas e reivindicações da comunidade e dar sugestões para resolvê-los da melhor forma.


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REGIÃO

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Falta de transporte gera dificuldades para estudantes de Muritiba Alguns andam por até 20 minutos para esperar ônibus às margens da BR 101

O estudante Daniel reclamou da demora de até 20 minutos

Bruno Brito (texto) Adalaine Souza (fotos)

Moradores do povoado de Pernambuco, na zona rural de Muritiba, reclamaram da falta de transportes e das dificuldades enfrentadas para conseguir estudar. Daniel Santos, estudante de Gestão em Cooperativa, destacou a demora em chegar até a BR 101, local em que consegue pegar o transporte. “Em média 20 minutos, pois a gente anda muito rápido para não perder o ônibus”. Além da falta de transporte, outros problemas apontados por Érica Coutinho, estudante de curso técnico em Segurança do Trabalho, foram as condições em que os estudantes ficam à espera do transporte, em um lugar sem iluminação e próximo à rodovia. Segundo ela, é necessário “disponibilizar um transporte para os alunos da zona rural, para poder buscar os alunos em suas casas e entregá-los com segurança”. Daniel Santos reforçou que as condições não são as melhores no trajeto até conseguir o transporte, listando também outras dificuldades enfrentadas nesse percurso. Para ele, “a escuridão do caminho, a distância e o risco de ser assaltado” fazem parte do dia a dia dos estudantes que se deslocam para conseguir transporte.

Falta segurança Railane Souza, estudante de curso técnico em Segurança do Trabalho, relatou que tem de pegar o transporte sob condições de risco, sem nenhuma segurança. Contudo, seu maior problema é esperar o transporte às margens da rodovia, em um local perigoso e escuro. Estudantes de cursos noturnos explicaram que contam com a boa vontade de pessoas que dão caronas no retorno para casa, mas, quando não conseguem encontrar precisam encarar a volta para casa a pé. Conforme Daniel Santos, “quando o pai de uma amiga não vai buscar no ponto, eu tenho que vir às 23h sozinho e a pé, correndo vários riscos, já que a minha casa é muito longe do ponto”. A solução encontrada por Jacson Brandão, estudante de Administração, foi custear um transporte particular para evitar passar por toda essa dificuldade. Um ponto ressaltado por ele, foi que o transporte até existe, mas não contempla as zonas rurais. “No nosso município existe transporte público para universitário, porém, atende à sede e ao distrito. Seria de suma importância que tivesse um transporte que passasse nas comunidades rurais para incentivar a juventude a ingressar no ensino superior, já que é uma grande dificuldade”, concluiu.

Jacson espera um transporte melhor para atender às comunidades rurais da região

Chuvas causam estragos também na zona rural de Cachoeira

Bruno Leite (texto) Lucas Neves (foto) Durante as chuvas, comuns nesta época do ano, esta é a situação das vias da zona rural de Cachoeira. Na foto, estrada vicinal na comunidade da Lagoa Encantada tomada de lama. O risco de atolamento é iminente. A situação flagrada não é diferente do que se vê em outros lugares, Carla Antunes, moradora do povoado do Alecrim, considera que este é o pior período em relação às estradas. “Fizeram uma reforma da tubulação de água e piorou tudo, muita lama, muito buraco e as estradas estão horríveis. Antes jogavam cascalho direto, passava trator, mas nesses últimos tempos não está acontecendo isso”, lamentou. A Prefeitura de Cachoeira, através de sua assessoria de imprensa, comunicou que desde o dia 10 de outubro de 2017 a Secretaria de Obras e Meio Ambiente vem trabalhando em diversas estradas da zona rural. “Já foram mais de 180 quilômetros de estradas vicinais recuperadas. Estamos concluindo a estrada do Calolé, mas, por motivo das chuvas, ainda não terminamos a recuperação. Depois do Calolé, a secretaria planeja recuperar estradas das comunidades da Embiara, Opalma, Nova Brasília e outras que fazer parte deste itinerário”, declarou.


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REGIÃO

Guerra de espadas em Maragojipe é uma tradição que não se apaga

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Liane França (texto e fotos) Por volta das 19h do feriado de 2 de julho, quem apareceu na ponta da Travessa Teótimo Ribeiro, no Porto Pequeno, em Maragojipe, pôde assistir a um show de labaredas que rodavam por toda a parte. O som emitido pelos explosivos e o fogo colorido anunciavam o início da guerra de espadas. A tradição – que acontece anualmente sempre no dia 2 de julho – chegou ao bairro pelas mãos de dois moradores que fabricavam espadas e faziam aniversário no mesmo dia, conhecidos como Dona Cacho e Seu Zel. Essa foi a forma que eles encontraram para comemorar. “Isso aconteceu há mais de 20 anos, quando moradores fizeram um abaixo assinado pedindo para que a guerra pudesse acontecer no bairro e a juíza da época autorizou”, revelou uma das organizadoras, Jacilene Baião Dias. Defesa Enquanto uns admiravam de longe, outros se divertiam correndo, pulando

Para os moradores da Travessa Teótimo Ribeiro, a tradição de pular espadas é algo contagiante e que deve ser mantida e soltando as espadas. O espadeiro Gilmar Teles defendeu a tradição. Enquanto ele se pronunciava sobre como a guerra era importante não só para os espadeiros mas também para os admiradores, um grupo de moradores, em coro, gritava: “a tradição não pode acabar”. Mesmo reconhecendo os riscos da queima dos fogos de artifício, era visível no olhar de cada espadeiro a sensação

de prazer e liberdade de fazer algo que foi passado de uma geração para outra. “Desde pequeno, eu vejo meu pai e meus tios tocando espadas. Toquei a primeira com sete anos, porém só comecei a participar da guerra aos 14, acompanhado pelo meu primo mais velho. Ainda que tenha riscos, não tem como não amar”, disse Ian Guerreiro, 17 anos.

nhecido por Zel. No entanto, alguns moradores queixaram-se dos prejuízos causados pela guerra. A professora Lilian Denise teve algumas telhas quebradas pelas espadas e seu ar condicionado danificado. “Ouvi um barulho muito forte e um cheiro de queimado, sai do quarto e vi muita fumaça saindo do ar condicionado e minha varanda estava toda suja e com marcas da espada”, relatou.

Prós e Contras Grande parte dos moradores é a favor do festejo. Eles resguardam o valor cultural, mas também reconhecem os riscos que a queima das espadas pode trazer. Denominado Tradição, um grupo conhecido por espadarianos defende a importância de

Grupo de espadeiros acende os rojões e inicia a guerra

manter a festa organizada, mesmo após o falecimento de um de seus fundadores, co-

A professora Lilian Denise mostrou os vestígios da espada que entrou pela varanda da sua casa e causou uma série de estragos


10 ESPORTES

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Seleção de Cachoeira mantém base em busca do nono título do Campeonato Intermunicipal

Alexandro Lopes (texto) Leonardo Gonçalves (fotos)

A seleção de Cachoeira inicia os trabalhos para a disputa do Campeonato Intermunicipal de Futebol Amador 2018. Oito vezes campeã do torneio, a seleção local aposta na manutenção do elenco do ano passado, quando chegou até a quinta fase da competição, sendo eliminada na disputa de pênaltis pela seleção de Eunápolis, atual campeã da competição. A principal novidade está no comando técnico da equipe. José Luiz dos Santos (Careca), o novo treinador da Seleção de Cachoeira, comandou a equipe de Santo Amaro na edição 2017 do intermunicipal chegando até as semifinais. Careca conta com um elenco formado por 26 jogadores, destaque para os recém convocados, os meias Igão e Pithaco que têm recebido muitos elogios dos torcedores, além dos já conhecidos, o zagueiro Rogério e o volante Léofai. A seleção tem intensificado os

treinamentos e a preparação para a disputa do torneio, visando chegar à final da competição, que ocorrerá no mês de dezembro. “ O treino está sendo bom, o professor Careca, junto com o preparador de goleiros Eliabe, vêm desenvolvendo um treino bastante pegado para chegarmos na competição bem, inteiros” disse o goleiro Negrote, que vai disputar a sua segunda edição do intermunicipal por Cachoeira.

Segundo Negrote, todo esse esforço e a rotina de treinos valem a pena. Ele também ressaltou a importância da competição para o elenco de jogadores e

Em seu estádio, a seleção da Cachoeira lembra que é a maior vencedora do torneio, com oito títulos

entra como uma das favoritas, pelo valor do investimento que é realizado e por ser oito vezes campeã desse torneio”, afirmou Cristiana Oliveira, radialista que acompanhou a equipe em 2017. A 63ª edição do Campeonato Intermunicipal de Futebol terá duração de cinco meses, com a participação das maiores vencedoras, Cachoeira e Itaberaba, ambas com oito títulos cada.

A comissão técnica aposta em manutenção do elenco da temporada anterior para a cidade de Cachoeira. “Temos que entrar com foco. O nosso objetivo é chegar até dezembro na final e quem sabe arrastar esse título, que é importante para nós e para cidade também”.

O goleiro Negrote disputará a sua segunda edição do Intermunicipal

edição de 2017, devido ao grande investimento que foi feito pela prefeitura e por ser uma das que mais títulos têm, a equipe cachoeirana entra pressionada, sem conquistar o Campeonato Intermunicipal desde o ano de 2014, quando venceu a repreFavoritismo sentação de Santa Luz. A cobrança é visível Considerada uma das favoritas e o favoritismo assumido pelo grupo. ao título desta edição, assim como era na “A seleção de Cachoeira sempre

A comissão técnica intensificou os treinamentos para a disputa do torneio deste ano


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EDUCAÇÃO

Hemeroteca do CAHL tem acervo relevante para a memória da imprensa

Adrielly Novaes (texto) Maria Lara Pires (fotos)

A porta com o papel escrito Hemeroteca passa despercebida no Quarteirão Leite Alves, no centro de Cachoeira. Porém, logo após passar a sala 14 e a do Movimento Estudantil, existe um acervo com mais de 3 mil revistas, jornais e monografias do curso de Jornalismo.

desconhecido por alguns alunos. “Eu tô também da imprensa nacional, como as re- muitas vezes, para a continuidade do no CAHL desde 2014 e só soube da exis- vistas Placar, Manchete e Cruzeiro, que cir- projeto, elas tiveram de tirar dinheiro tência da hemeroteca no ano passado. Na cularam nos anos 1970 e 80. do próprio bolso, já que nem sempre a real, eu nem sei ao certo como funcionaria esse espaço, mas soube que tem muito material jornalístico lá dentro e ter acesso a isso com certeza seria bastante útil para os estudantes, não só de Jornalismo”, disse Jamille Novaes, estudante no último semestre do curso.

O local está inativo e ainda é

Origem do acervo Grande parcela do acervo foi doação da família Ramos de Almeida, de São Félix. De acordo com o professor Péricles Diniz, então coordenador do curso, com a morte do proprietário e provável venda do imóvel, todo material ficaria disperso, sem ter onde guardar. Por isso, a coordenação manifestou interesse e o recebeu. Muito do material se encontrava desgastado em razão do tempo, impossibilitando a identificação do nome ou edição do exemplar. Nas caixas de arquivos, enconO uso de luvas e máscaras ajuda tanto no ma- nuseio correto quanto na proteção do indivíduo tram-se não só exemplares da região, mas principalmente ao respirar

Com a interrupção do Projeto, muitos documentos continuam empilhados apesar de ter espaço nas prateleiras

Quem passa pela porta da hemeroteca não imagina o grande acervo de impressos lá guardado

O ar-condicionado precisa ficar ligado 24h para manter a temperatura do ambiente e os arquivos não serem danificados por fungos

Reorganizando De setembro de 2013 a dezembro de 2015, as professoras de Museologia e Jornalismo, Ana Paula Pacheco e Hérica Lene, respectivamente, deram início ao projeto de extensão intitulado Memória e História da Imprensa – organização da Hemeroteca do curso de Jornalismo, que levou 10 estudantes para cuidar do acervo. O curso de Muse-

universidade oferecia os recursos necessários. “O ideal, como afirmava Ana Paula, era ter um servidor do CAHL que pudesse trabalhar em um período na hemeroteca, para que as pessoas pudessem ter acesso ao acervo para pesquisas. O material está organizado lá, mas para ser acessado é preciso ter alguém responsável para administrar e para manter a organização”, contou. Foto: Adrielly Novaes

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ologia tem disciplinas específicas para lidar com o manuseio e conservação de arquivos, portanto estes alunos participaram da organização, higienização e arquivamento de todo conteúdo. A professora Hérica revelou que, Revista placar dos anos 70 faz parte da coleção


CACHOEIRA | BAHIA Julho 2018

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Pontos de Cultura em Cachoeira resistem em meio a instabilidades Shagaly Ferreira (texto) Leonardo Gonçalves (fotos)

Oficinas de música, seminários, aulas de dança e rodas de conversas são algumas das atividades constantemente oferecidas pelas entidades reconhecidas como Pontos de Cultura, em Cachoeira. Amparadas pelo programa Cultura Viva, através de convênio com o Ministério da Cultura e com a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult), essas organizações são incentivadas a dar continuidade às ações culturais já realizadas há anos junto à comunidade local. À frente da Associação Cultural de Samba de Roda Dalva Damiana de Freitas, que é Ponto de Cultura desde 2014, a gestora Any Manuela Freitas ressalta que o programa ajudou na manutenção de atividades e no aluguel no espaço que é sede da associação desde 2009. “Decidimos nos tornar ponto por causa das atividades que já vínhamos realizando. Era uma grande oportunidade para ter o apoio e manter as atividades”, comentou. Assim como Any Manuela, a coordenadora

Para Luísa Mahin, situação dos Pontos de Culturas é preocupante

de projetos da Casa de Barro, Luísa Mahin também evidenciou os benefícios do convênio. Ponto de Cultura há quatro anos, a instituição que coordena oferece, desde 2005, atividades culturais gratuitas para a comunidade, na sede do órgão, nas praças e nas ruas. “Trabalhamos com formação de educadores, de multiplicadores. Montamos espetáculos que vão para a rua como metodologia de sensibilização para o patrimônio e para a memória oral”, acrescentou. Fim de convênio O repasse fixo anual de verbas para os Pontos de Cultura, no valor de R$ 60 mil rea, dura três anos. Se, por um lado, proporciona um tempo de estabilidade para as entidades contempladas, por outro a proximidade do fim desse recurso se torna preocupante, atualmente, quando os pontos já estão cumprindo seu último ano de convênio. De modo geral, o financiamento das atividades dessas organizações vem de editais públicos,

doações e parcerias, o que torna mais incerta a garantia de continuidade das ações. Para Luísa, a Casa de Barro precisará buscar alternativas de autossustentabilidade. “Ser organização cultural é um risco, né? Ainda mais para quem paga aluguel e não sabe até quando vai poder se manter de pé. Me preocupa a diminuição de editais, mas, ao mesmo tempo, quem trabalha com cultura viva não tem medo dos desafios. A gente vive muito de fé”, sinalizou a coordenadora, acrescentando que já está planejando a criação de cursos e serviços para o sustento da Casa de Barro e de suas atividades gratuitas. No caso da Casa do Samba de Dona Dalva, a situação não é diferente. Por conta do fim do convênio que a instituição mantinha com a prefeitura municipal, o fomento das ações acontece de forma muito pontual e instável, contando com recursos do Edital de Ações Continuadas do Estado e de projetos de parceiros. “Infelizmente, estamos em um momento político desfavorável para as culturas populares e ficamos sujeitas ao que vai acontecer a cada período eleitoral”, enfatizou Any Manuela.

Suporte Em contato frequente com as entidades, através da Diretoria de Cidadania Cultural, a Secretaria de Cultura infrmou que atua gerindo e dando suporte à Rede de Pontos de Cultura da Bahia. Dos cinco Pontos de Cultura do município de Cachoeira, três foram contemplados no edital de 2014 e dois foram selecionados pelo edital de 2008. “Esses pontos contribuem significativamente para a ampliação do acesso da população de Cachoeira aos meios e condições de exercício dos direitos culturais, e, por consequência, contribuem para a valorização da diversidade cultural e para a cidadania ativa”, afirmou Caroline Araujo, coordenadora de Ações Transversais da DCC. São também Pontos de Cultura em Cachoeira: a Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Município de Cachoeira Instituto do Desenvolvimento Sustentável, o Centro de Educação e Cultura do Vale do Iguape e a Associação de Capoeira Muleki é Tu. A Rede de Pontos de Cultura da Bahia é constituída por 270 instituições culturais, presentes em 142 municípios e distribuídos nos 27 Territórios de Identidade, segundo dados da DCC.


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