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ASSÉDIO INCOMODA MULHERES EM CACHOEIRA (Pag.11) Cachoeira - Bahia Julho de 2016 Edição

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Orquestra Reggae Cachoeira comemora seus quatro anos

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Centro de Artes, Humanidades e Letras

Saiba como funcionam as residências universitárias (página 5) Cresce a venda de móveis rústicos em Governador Mangabeira (página 8)

Foto: Camila Souza

Confira a matéria na página 9

Descubra porque a Rua da Feira é um lugar de muitas histórias e mitos Foto: Érica Matos

(página 3)

Localidade da zona rural está sem agente de saúde (página 4)

Foto: Vitor Rosa

Embrapa sedia em Cruz das Almas um curso pioneiro de criopreservação (página 10)


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OPINIÃO

CACHOEIRA | BAHIA Julho 2016

INEDITORIAL

O ofício de lecionar e o que realmente importa

O ofício de lecionar nunca foi fácil. E, mesmo em uma época em que as informações circulam em espantosa abundância, o papel de quem leciona, sobretudo na universidade pública, ainda pode servir como tema para suscitar reflexões, visando propiciar uma visão sobre a profissão que ultrapasse os rótulos reducionistas. Ainda neste início de século XXI há os que julgam que o exercício do magistério, mesmo no ensino superior, se resume a aplicar lições, ministrar aulas, apurar com severidade as faltas, transmitir conteúdos de modo que assegure aos estudantes uma aprovação e um passe para seguir. De fato, o ofício de lecionar deve garantir a quem estuda que se torne uma pessoa capaz, preparada para atuar no nicho da área de conhecimento que escolheu. Mas de modo algum se restringe a tal. Assim, o ofício de lecionar, sobretudo em uma universidade pública, dialoga permanentemente com a pesquisa. E o campo da pesquisa, aqui, não está necessariamente ou essencialmente a serviço de resultados imediatos, da busca de lucros, de fórmulas que garantam o mais por menos. No leque da pesquisa há amplo espaço para estudos dos mais variados, que propiciam aos estudantes que a ela se dedicam uma melhor compreensão de si mesmos e do mundo. Isto ocorre aos poucos, através, por exemplo, da promoção de debates, realização de seminários e ordenação de contribuições resultantes da renovação do conhecimento de temas essenciais. Logicamente nada disto ocorre sem embates, sem noites de insônia voltadas para um novo modo de pensar, dedicadas a preparar uma apresentação, a escrever um artigo, a formatar um projeto. Nada disto ocorre sem um pouco de incerteza ou insegurança. Sem uma ou outra decepção e sem genuínos momentos de alegria. O ofício de lecionar deve, igualmente, estar envolvido com atividades de extensão. Andar pela cidade, pelo campo, ouvir a comunidade, dialogar com a sociedade. Divulgar o que se pesquisa, devolvendo os resultados em publicações, eventos, compartilhamentos. Extensão é integração. É juntar, no sentido de unir

Prof. Dra. Juciara Nogueira

variados segmentos e dividir, no sentido de repartir o conhecimento. Não pode e não deve se restringir às paredes da universidade. É preciso caminhar. Ir ao encontro, saudar, sorrir, ouvir, anotar, gravar, fotografar, filmar, trocar. Aprender com os mestres dos seus ofícios, documentar os saberes, os jeitos e modos. As modas e tipos. E, ainda assim, não se esgotará quando o trabalho for concluído pois a extensão é essencialmente dinâmica, viva e exige de quem com ela se envolve o prazer de, a um só tempo, aprender, ensinar e apontar novas possiblidades a se trabalhar. Por fim, lecionar é propiciar um modo diferenciado de olhar. E este modo outro de ver o mundo e de se ver no mesmo só é possível através do conhecimento. No modo como a pessoa que estuda passa a se enxergar, a enxergar sua própria história, a compreen-

der o espaço geográfico no qual transita, a navegar pelo mundo virtual – não a esmo, mas buscando também seu crescimento intelectual – se encontra a gênese, o processo inaugural desse novo olhar. É só a partir desta metamorfose que o ofício de lecionar cumpre uma de suas mais importantes funções, que é a de colaborar para que a pessoa, ciente do seu lugar de fala e do seu papel, possa ser também agente de transformações necessárias, vitais, no âmbito da coletividade. No Brasil, um país historicamente marcado pelo analfabetismo e pela desigualdade, o exercício do magistério, sobretudo nas universidades públicas, é uma atividade que vem contribuindo para configurar uma sociedade mais justa. Muitos vão alegar que os formados por estas universidades aos poucos vão se moldando às circunstâncias ao ingressarem na luta diária para conseguir seus empregos, construir suas carreiras, pagar suas contas. Imersos nestas vitais e urgentes batalhas, é realmente difícil pensar em mudar o mundo quando, com um diploma nas mãos, a necessidade imediata é, de fato, mudar a própria vida. Ora, mas mudar a própria vida já é, por si só, uma revolução. Todas aquelas famílias reunidas durante cada solenidade de formatura compreendem muito bem a importância de comemorar a conclusão de um curso universitário. E não compreendem apenas pelo fato de acharem que a pessoa, ao se formar, terá mais chances de alcançar uma certa estabilidade financeira. Todos – consciente ou inconscientemente – sabem que a vida em nosso país é de incessante luta, sobressaltos, dissabores e incertezas. Mas o que de fato compreendem é que o modo de ser e de estar no mundo de quem teve uma formação universitária mudou. Esta conquista, propiciada em boa medida pelo ofício de lecionar, deverá contribuir para o que realmente importa: a compreensão de que uma sociedade mais justa é um direito pelo qual podemos de fato lutar a partir do momento em que erguemos a cabeça trazendo nos olhos novos modos de olhar, respeitando indistintamente as pessoas e suas peculiaridades.

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo Reitor da UFRB Prof. Dr. Silvio Soglia Diretor do CAHL Prof.Dr. Jorge Cardoso Coordenação Editorial Prof. Dr. Robério Marcelo Ribeiro Prof. Dr. José Péricles Diniz Editor Prof. Dr. J. Péricles Diniz Editoração Gráfica Prof. Dr. J. Péricles Diniz

Professora Juciara Nogueira com turma de Jornalismo em visita à exposição Leonardo Da Vinci em Salvador.


CACHOEIRA | BAHIA Julho 2016

CIDADE 3

Rua da Feira: lugar histórias e mitos

Fotos: Érica Matos Welder Souza O bairro da Rua da Feira, um dos mais antigos e populosos da cidade de Cachoeira, herdou esse nome porque, no passado, a feira livre funcionava no local. Mesma rua que abrigava a fabrica de charuto Leite e Alves, lugar de grande movimentação comercial, onde centenas de pessoas visitavam diariamente. Pelo grande fluxo de feirantes que havia no bairro, a violência era constante, deixando uma visão negativa do local. Nos dias atuais, moradores de outros bairros e até mesmo de cidades vizinhas temem frequentar a comunidade, alegando ser um local perigoso e violento. Segundo o vereador do bairro, Carlos Raimundo Cardoso, pelo fato de no passado já terem existido muitos matadouros bovinos e suínos, alguns moradores andavam pelas ruas portando armas brancas (facas e facões) e

quando havia rixas com pessoas de outros bairros aconteciam graves confrontos. “A violência aqui é coisa do passado, hoje os moradores da Rua da Feira são pessoas civilizadas,

Carlos Cardoso é o vereador do bairro

hospitaleiras, qualquer pessoa de bem entra e sai sem nenhum problema no bairro”, afirmou. Pechincha O local, que abriga muitos terreiros de candomblé, também é onde acontece a tradicional lavagem da pechincha, uma festa que reúne moradores de todas as gerações para comemorar a existência de uma fonte de águas cristalinas, nascida das rochas, que no passado abastecia as casas de quem não tinha água encanada. Os festejos da pechincha são realizados uma semana após o carnaval. São dois dias de festa, com apresentação de vários grupos musicais. O presidente da comemoração, Menézio Conceição, 66 anos, organiza o evento há 18 anos e disse que não sabe de fato quando surgiu a festa. “Foi uma brincadeira que passou de vó para neto, que hoje estou passando para a nova geração, mas sempre vai ficar aos meus cuidados,

ajudando naquilo que for preciso”, concluiu. Ainda segundo Menézio, o recurso gasto na organização é doado pelos comerciantes e colaboradores, a prefeitura dispõe de uma pequena parte. “Todas as vezes que fui à porta de um comerciante para pedir ajuda financeira, sempre fui bem atendido. Agradeço ao comércio de Cachoeira por me ajudar fazer a festa”, disse.

Menézio Conceição organiza a Pechincha


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CIDADE

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QUEBRA-BUNDA

Localidade não recebe agentes de saúde há meses Tarcilo Santana (texto e foto)

Moradores do Quebra-Bunda reclamam que tanto a agente comunitária responsável pelo acompanhamento das famílias na região, quanto os agentes de endemias, não têm atuado no local desde o ano passado. Com o aumento de casos de zika, dengue e chicungunya no país e a chegada da época de chuvas, eles estão preocupados com possíveis focos do mosquito Aedes Aegypti na comunidade. Como não há coleta de lixo e nem rede de saneamento básico, alguns pontos de lixo podem ser encontrados próximos às residências, e há também tanques destampados ou cobertos apenas com panos, o que aumenta o risco de propagação de focos.

A comunidade fica situada na zona rural de Cachoeira, a poucos quilômetros da sede municipal. Denise Conceição, 28, mora na comunidade e diz que “tem agente comunitária, mas só no papel. Não trabalha. Não vem fazer uma visita. Tem crianças e idosos que precisam desse acompanhamento, mas que não é feito”. Denise ainda afirmou que Selma, a agente comunitária correspondente a essa área, em quase 10 meses fez apenas uma visita à sua casa para pedir dados (peso e altura) seus e da filha, necessários para o Bolsa-Escola, mas nada relacionado à saúde da família. Conta que teve zika em junho do ano passado, mas que mesmo assim não recebeu visita de nenhum agente de saúde. “Antigamente ela vinha fazer a visita, mas de uns tempos

Tanques sem tampa e outros improvisos aumentam o risco de propagação de doenças como a zica e a dengue.

pra cá, parou. Durante anos ela dava aquele frasquinho pra botar na água (hipoclorito de sódio). Nessa casa, eu moro há uns oito anos e eu nem lembro. A gente não tá aqui pra prejudicar o trabalho de ninguém, só queremos o que é nosso por direito.” Vigilância Epidemiológica

Emmanuel Ferreira da Luz, coordenador de Endemias, afirmou que “por conta desse surto de zika, o Ministério da Saúde determinou que o agente de endemias deve priorizar a parte central do município, ou seja, a zona urbana.” Segundo ele, “para que o agente de endemias vá até a comunidade, seria preciso um relatório do agente comunitário correspondente apontando para esta necessidade, pois ele é o responsável por fazer esse acompanhamento. Caso seja identificado algum caso de zika, dengue, chicungunya ou foco do mosquito, o agente de endemias visita o local para eliminar o foco e fazer um rastreamento nas proximidades do local onde este foi detectado à procura de mais pontos de risco”, completou. A agente comunitária Selma, que também é moradora do Quebra-Bunda, negou que não tenha realizado visitas às residências por tanto tempo, como alega Denise, mas afirmou que, nos últimos dois meses, não teve condições de trabalhar de maneira eficaz. “Desde o recente agravamento da minha diabete, diagnosticada em 2014, tenho estado muito debilitada e sem condições de fazer as visitas, mas sempre apresentando atestado médico no posto de saúde e também estou tentando conseguir a licença do trabalho pra poder me tratar.” Segundo a Coordenadora de Atenção Básica, Cecília Rebouças, todas as residências da comunidade designadas ao agente devem ser visitadas por ele uma vez por mês para que seja feito esse acompanhamento na vida dos moradores.


Saindo de casa:

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CIDADE 5

saiba como funcionam as residências universitárias Erica Matos O convívio nas residências universitárias é marcado por transformações culturais e sociais dos universitários. Eles passam a ter contato com pessoas de culturas, estilos e pensamentos diferentes, incentivando o individuo a essa fase importante para o aprendizado e companheirismo.

o quarto com nove meninas e os banheiros com todas as demais na residência, por dois anos. Hoje ela é aluna da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde está cursando Odontologia há seis meses e se diz completamente agradecida de ter chegado à outra universidade e ver o que realmente esperava em uma residência. Agora, ela divide um apartamento com três colegas. Segundo a estudante, a assistência que é prestada pela UFBA é totalmente diferente da encontrada na UEFS. O aluno de Cinema e Audiovisual Girlan Tavares, natural da cidade de Santo Antonio de Jesus, mora há um ano e meio na Residência Universitária Ademir Fernando, em São Félix, e afirmou não ter enfrentado problemas em termos de adaptação, mesmo não se relacionando com todos os outros moradores. Para ele, um ponto complicado é o auxílio oferecido pela Pró-reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis (PROPAAE) da UFRB. A bolsa de R$ 300,00 mensais tem atrasos que

acabam prejudicando a manutenção da estadia dos estudantes: “uma coisa que complica é a questão do dinheiro quando acaba e você fica esperando o mesmo cair na conta, mas fora isso acredito que as dinâmicas estabelecidas pela casa são favoráveis” afirmou. A residência universitária da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) é formada por 11 apartamentos, com dois quartos cada e capacidade para abrigar duas pessoas. O caráter coletivo está intrínseco no ambiente da moradia, onde é preciso compreender os limites da liberdade individual, tendo em vista a liberdade dos outros. A estadia disponibilizada nos respectivos centros da UFRB se dá a partir do processo seletivo, incluindo análise de documentos e entrevista social. Essas etapas irão avaliar as condições dos candidatos e escolher a partir daí os que estão aptos a morar em uma das 44 vagas ofertadas. Assistência A estudante Eliana Bispo, natural da comunidade quilombola de Santiago do Iguape, ex-estudante de Administração na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), teve que dividir

Adaptação Rodrigo de Azevedo, nascido em São Paulo, cursa Comunicação Social – Jornalismo e chegou à Cachoeira há um ano. No início ele teve que dividir casa com pessoas que ele não conhecia, hoje mora na Casa Ademir Fernando há quatro meses e divide um apartamento com mais três pessoas. “Aqui precisamos dividir, além da casa, as tarefas e os afazeres. Em termos de adaptação, estou me acostumando. Problemas sempre têm, mas vamos tentando nos organizar para que haja uma boa convivência entre nós quatro”, disse. Leonardo Luz, natural da cidade Valença, cursa História no Centro de Artes Humanidades e Letras, morando há quase dois anos na residência Ademir Fernando, em São Félix. Ele destacou a distância física em relação ao campus, localizado em Cachoeira, dando ênfase a problemas como a travessia da ponte D. Pedro II, considerada perigosa, com vários casos de assaltos a

alunos. Além da distância física, também há uma distância no sentido de diálogo, por isso os residentes apresentam um histórico de movimentos e ocupações para apresentar pautas da casa para a universidade. Visando que o espaço de adaptações é rico em formação política, passando por todos os níveis de intensidade comuns na defesa das ideologias e da responsabilidade coletiva em prol da

boa convivência por meio da autogestão. Para Leonardo, os problemas de convivência são inevitáveis, segundo ele as várias personalidades tendo que conviver harmonicamente dentre variadas manias, conceito e idéias, tentando manter um equilíbrio na responsabilidade coletiva inerente à autogestão, sem sobrecarregar ninguém. “O ambiente do quarto está para o apartamento, assim como o apê está para a casa, e este segundo não pode invadir aquilo que reporta exclusivamente ao primeiro, contudo, todos dialogam sobre a dinâmica do


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REPORTAGEM

SÃO FÉLIX

Prefeito assina documentos de repactuação para quitar o débito dos empréstimos tomados. Nesse primeiro diálogo foi informado que o débito era decorrente há alguns meses. Segundo a presidente da Câmara dos Vereadores, vereadora da oposição Melissa Campos, o prefeito não estava pagando o corrente (do mês), nem as parcelas dos empréstimos. Ao procurarem saber o valor do débito, foram comunicados pelo superintendente que o valor se estimava em aproximadamente R$ 1 milhão. As providências adotadas pelos vereadores foram os questionamentos levados ao prefeito, como também dar entrada junto ao Tribunal de Contas Municipal e fazer solicitações ao Ministério Público, os quais estão tomando as medidas necessárias.

Vereadora Melissa Campos, esclarece as medidas tomadas pela oposição. Foto: Noézia Teixeira Noézia Teixeira (texto e fotos)

A oposição

O prefeito de São Félix, Eduardo José de Macêdo Junior, foi denunciado pela Caixa Econômica Federal ao Ministério Público Federal, por não ressarcir o valor dos empréstimos consignados tomados pelos funcionários públicos, pois seria obrigação da prefeitura descontar dos salários e repassar a quantia das parcelas ao banco. No dia 16 de maio último, o prefeito assinou a repactuação das parcelas dos empréstimos, no gabinete da Senadora Lídice da Mata. Várias solicitações foram enviadas ao prefeito pela Caixa Econômica Federal e pela Procuradoria Regional da 1º Região, mas nenhuma das notificações foram respondidas até o dia em que a denúncia foi publicada no site oficial do Ministério Público. Um tempo após a denúncia, o prefeito entrou em contato com o superintendente da Caixa para repactuar o valor do débito, que devia ser pago até o mês de setembro, três meses antes do término do mandato atual. Nessa situação, o prefeito foi até Brasília tentar novos acordos e foi aceito que a dívida seja quitada até dezembro deste ano.

Vereadores da oposição questionaram ao prefeito sobre o destino do dinheiro dos empréstimos que não estavam sendo repassados. Eles foram informados de que o valor das parcelas haviam sido retirados para a folha de pagamento pessoal, como

Assessoria se manifesta A assessoria da administração municipal informou não haver nenhuma denúncia contra o prefeito Eduardo José e que houve apenas solicitações à prefeitura por parte do Ministério Público, pelo não pagamento das parcelas dos consignados. “Na verdade quem colocou essa questão de denúncia foi o Bocão News”, afirmou o assessor Cláudio Reina. Logo após a solicitação, o prefeito junto ao setor jurídico da prefeitura, responderam ao Ministério. O assessor contou que já havia um primeiro contato do prefeito com o superintendente da Caixa, no sentido de fazer repactuação dos valores. Com a queda brusca do Fundo de Participação do Município (FPM), a renda caiu e os custos aumentaram, impedindo de pagar as parcelas dos empréstimos tomados pelos servidores pú-

por exemplo, algum contrato em atraso. Portanto, a oposição alega que visa essa ação como uma apropriação indébita. Após o esclarecimento, no dia 6 de maio passado, os vereadores foram até a Superintendência da Caixa Econômica, em Feira de Santana, onde conversaram com o superintendente Edmilson Assis, juntamente com o advogado e o gerente da Caixa Econômica de Cachoeira, Gerente Ivan, da Caixa Econômica de Cachoeira, Advogado da Caixa, Vereadores, José Fernando, Balbino, onde os empréstimos foram Silvano, Roquelina, Melissa e o Superintendente Edmilson Assis, da Caixa Econômica de Feira de Santana.


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De acordo com o assessor Claúdio, o posicionamento geral do prefeito foi assumir a responsabilidade e dar solução. E justamente no dia em que foi marcado para o prefeito prestar explicações, pessoalmente, na sessão da Câmara de Vereadores, chegou o comunicado da Caixa, por ter aceitado o novo contrato de repactuação. Portanto, o prefeito, Eduardo José se dirigiu até o gabinete da Senadora Lídice da Mata para fazer algumas colocações junto à superintendência de Salvador, onde assinou os papéis da repactuação, após a autorização dos órgãos de Brasília. A assessoria afirmou não haver dolo nesse caso, pois o prefeito não colocou o dinheiro no bolso e se mostrou disponível a explicar e tomar soluções cabíveis.

Melissa Campos, juntamente com os vereadores Geraldo dos Santos e José Fernando Souza. Foto: Noézia Teixeira. blicos. A Caixa só queria aceitar o contrato de repactuação dos consignados até setembro, (antes do contato com os setores responsáveis de Brasília), e dessa forma o município seria penalizado, já que o arrecadamento mensal, o FPM, diminuiu a cada mês. Então, o prefeito quis adequar as parcelas com a quantia que o município recebeu, para não prejudicar outros setores. Uma das primeiras atitudes foi reduzir alguns salários para 20%. Um tempo antes, por meio de solicitação, o prefeito fez pedido à Câmara de uma redução orçamentaria, para movimentar alguns recursos porque ele já previa tempos de crise. “Entre pagar a Caixa e pagar outras obrigações da cidade, o prefeito optou pagar as despesas do município, pois com a Caixa ele poderia renegociar depois, e isso foi feito”, disse o assessor, que colocou como exemplo de justificativa que o dinheiro não tinha sido repassado para pagar a folha salarial do mês seguinte. Desde então, a oposição passou a usar esse exemplo, argumentando que os funcionários vinham pagando o próprio salário, mas o valor de cada parcela não seria o suficiente para pagar os salários. Assim que a notícia saiu, o prefeito enviou prepostos do setor jurídico à Câmara para prestar informações. Essa mesma ação foi utilizada pelo antigo prefeito Alex Sandro Aleluia Brito, apoiado pelo corpo de vereadores da oposição. Alguns funcionários da antiga gestão tomaram empréstimos que não foram totalmente pagos e a gestão atual estava pagando algo que não deveria, pois necessitava ter sido pago até o fim do mandato no ano de 2012. Diante dessa situação, o prefeito Eduardo entrou na justiça para não mais pagar os débitos que não eram

do seu mandato. Segundo a assessoria, os servidores públicos que tomaram os consignados não procuraram saber o que havia acontecido, mas foram orientados que as providências já estavam sendo tomadas, e de não aceitar a proposta de pagamento da Caixa, em razão de acrescentar juros. A prefeitura sofreu um impacto, pois esperava receber de FPM R$ 1,8 milhão no mês de maio, porém só recebeu R$850 mil.

Servidores municipais Os servidores públicos também tomaram providências e se dirigiram até a Prefeitura Municipal de São Félix para cobrar esclarecimentos ao prefeito, o qual comunicou que já estava tomando as providências cabíveis. Apesar dos boatos de que a Caixa Econômica estava oferecendo acordos para quitar os débitos, porém acrescentaria juros, a coordenadora Gilzia Amaral, da Associação dos Professores Licenciados da Bahia (APLB) de São Félix, afirmou não ser verdade, informando que se dirigiu à Caixa para se certificar do que estava acontecendo e foi orientada a esperar as ações do prefeito. A coordenadora disse que pela conversa que teve com o prefeito, não tem mais interesse em continuar com os empréstimos, e somente pagar as parcelas. Os empréstimos feitos pelos servidores com vínculo entre prefeitura e a Caixa Econômica Federal são realizados por conta dos impostos serem menores e facilitarem em questões financeiras.

Assessor Claúdio Reina informou as medidas adotas pelo prefeito Eduardo José para dar solução ao problema. Foto: Noézia Teixeira


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REGIÃO

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GOVERNADOR MANGABEIRA

Cresce a venda de móveis rústicos às margens da BR 101 Iêda Maria Brito A fabricação de peças rústicas nos últimos tempos vem ganhando espaço no Recôncavo. Nas margens da BR 101, à altura do quilômetro 212, em Governador Mangabeira, a comercialização desse material tem aumentado. A produção valoriza o artesanato, com obras detalhadas e criativas, cuja arte, em alguns casos, é passada de pais para filhos. Adailton Moreira, 38 anos, artesão, confecciona e vende peças rústicas às margens

da BR101, há mais de dez anos. Ele disse: “Tenho grande satisfação de ter herdado este oficio do meu pai, que veio de gerações passadas e continua sendo o meio de sobrevivência da nossa família”. Jaqueira e escambo Com o crescimento do comércio, aumentou também o número de barracas e de artesãos que buscam produzir suas próprias rendas. Lindoval Ribeiro da Silva, 43 anos, se mantém no mercado há mais de 15 anos, con-

feccionando os móveis madeira da jaqueira. Árvores com mais de meio século de existência, são compradas na própria região, na maioria das vezes através de escambo, quando o cliente oferece a madeira em troca de uma peça de seu interesse. Sua clientela é diversa, sendo a maioria de Feira de Santana e Salvador, que tem preferência por mesas com bancos. As peças produzidas variam de R$ 10 até R$ 2.500 e, com esta renda, ele tira o sustento da família e permite contratar quatro funcionários

artesãos. Reflorestamento No diz respeito ao reflorestamento, ele afirmou que oferece ao cliente “uma muda de quatro jaqueiras comprada aqui no horto. Em parceira com a Embasa, cheguei a conectar a possibilidade de reflorestar as margens da Barragem da Pedra do Cavalo. Porém, aqui não tem quem doe, não temos apoio da prefeita, tanto no comercio quanto na conscientização e capacitação dos artesãos no que diz respeito à sustentabilidade do meio ambiente. A prefeita nunca veio nos visitar”, reclamou. Por sua vez, a prefeita Dominga Souza da Paixão afirmou que “nunca me procuraram ou solicitaram a minha presença. Se eles se organizarem e me enviarem um ofício requerendo um treinamento, capacitação e uma área para reflorestamento, terei o maior prazer em ajudá-los, juntamente com a Secretaria de Meio Ambiente e o governo do Estado. Inclusive, temos uma área muito grande na localidade do Roteiro, que nos foi doada pelo próprio governo estadual e outra área da CHESF, que podem ser usadas”. Segundo ela, “é preciso que eles saibam que mesmo à distância procuro ajudá-los. É de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) intervir junto ao órgão para que pudessem permanecer ali com seus negócios. Acho bonito, admiro os artesanatos e estou aberta a receber as reivindicações e fazer o que for possível, dentro do nosso alcance, como o fornecimento de um galpão para armazenamento dos moveis”. Concluiu afirmando que “a prefeitura pode comprar, se eles oferecerem o produto através de um requerimento. Sugiro que façam uma exposição dos moveis dentro da cidade para melhor divulgarem seus trabalhos, terão o nosso total apoio”.


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CULTURA 9

Orquestra Reggae Cachoeira completa quatro anos

Josuel Rocha Fotos: Camila Souza

Completando quatro anos de vida no último dia 12 de junho, o projeto do maestro e flautista Flavio Santos abarca jovens da cidade, ensinando-lhes a arte da música e proporcionando também a chance de realizar apresentações. Nesses anos, foram diversas experiências de felicidades, dificuldades, desafios e persistência. O projeto teve origem em 2012, através do presidente da Lira Ceciliana, José Bernardo, que viu no maestro Flávio o potencial para montar um grupo instrumental. Devido a sua experiência em outras bandas, como a Banana Fumegante, bem como na própria filarmônica. No início, a intenção do maestro era tocar com músicos profissionais, como os colegas de filarmônica e das bandas, mas com um conselho de sua esposa ele viu novas possiblidades e decidiu ensinar o que sabia para crianças e adolescentes. Partituras A dificuldade inicial se deu por haver apenas uma partitura com música de reggae na Lira Ceciliana. Com o tempo, o maestro foi escrevendo novas partituras, junto com alunos e amigos, e hoje são 24 arranjos escritos. Além disso, houve uma carência de instrumentos musicais. Os que a orquestra usava no início eram cedidos pela Lira Ceciliana, mas aos poucos, através de shows realizados e também com investimentos do próprio bolso, eles foram comprando novos instrumentos e devolvendo os da Lira. “Eu tinha que dar meus pulos para não ficar dependente da filarmônica, ela tem o corpo dela, que é a Lira Ceciliana, pode ajudar, mas também não pode viver o que é a Orquestra Reggae, cada um vive a sua realidade. Então, juntei aquele dinheiro e fui comprando os instrumentos”, afirmou o Maestro Flávio Santos. Apoio Além da Lira Ceciliana, a Orquestra Reggae de Cachoeira dispõe do apoio estadual, por meio de alguns editais. Em relação ao município, contam com a ajuda do Espaço Cultural Hansen Bahia, que cede espaço para que eles possam ensaiar, bem como da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que volta e meia convida a orquestra para fazer shows. O estudante Lucas Miranda, de 16 anos, toca trompete na orquestra e entrou no grupo por

convite do maestro Flávio Santos. Ele contou que entrar para orquestra o inspirou a pesquisar mais sobre a música, o estilo reggae e improvisação, principalmente. “Penso em seguir no meio musical, até mesmo fazer faculdade de música, continuar na orquestra também. Aqui estou ao lado de colegas, boas amizades”, disse Lucas. O também estudante Victor Souza, 15 anos, toca saxofone alto e clarinete, além de estar aprendendo flauta. Veio à orquestra a convite do maestro e logo no começo, quando ela havia se formado. Como mudanças em sua vida, ele relatou mais postura ao sentar e ao tocar um instrumento. “Quero seguir na música, fazer faculdade, conhecer outras orquestras, seguir o mundo. Aqui eu pude conhecer outros músicos tocando com

a gente e assim aprendi coisas novas”, disse Vitor. Porque reggae A ideia da orquestra veio do próprio maestro, com ajuda da esposa. Ele optou por trabalhar com esse estilo devido à sua experiência com a filarmônica e com o ritmo. Então, decidiu juntar as duas coisas e formar um grupo instrumental de reggae. Além disso, pesou o fato também da forte cultura reggaeira que há em Cachoeira, com artistas conhecidos em diversos pontos da região. Mas após a ideia da orquestra, o maestro pensou em algo mais amplo, primeiramente formaria o grupo simples, para depois o composto. O grupo simples é o que se vê hoje, a filarmônica com clarinetas, saxofones, trombones, trompe-

tes, além do reggae, que tem guitarra, baixo e bateria. Enquanto que ao composto há violino, fagote, piano, dentre outros instrumentos, o que consistiria em uma orquestra com 50 músicos. “Mas eu não posso chegar e fazer logo uma orquestra de 50 músicos, eu comecei com seis músicos, uma filarmônica e um pouco de reggae. Então, esse projeto eu acho que ainda vai expandir, quando se tornar o composto mesmo, com violinos, violoncelos, piano, enfim”, afirmou o maestro Flávio. Objetivos futuros Os objetivos do maestro são pegar um destes prédios que há em Cachoeira e construir uma Escola da Orquestra Reggae, que começaria ensinado os jovens a tocar instrumentos e depois acrescentariam eles ao corpo da orquestra. “O que eu penso é que a Orquestra Reggae tem que ser uma verdadeira escola, instituição para formar jovens, adolescentes, enfim, ser humano. Porque todos nós somos capazes, só não temos muitas oportunidades”, afirmou o maestro. Além disso, outro objetivo citado pelo maestro Flávio Santos seria viajar bastante com a garotada, não apenas pela Bahia, mas por todo Brasil. Segundo o maestro Flávio, isto daria oportunidade para eles conhecerem outras culturas. Os ensaios da Orquestra Reggae de Cachoeira são abertos ao público, acontecem no Espaço Cultural Hansen Bahia, na Rua Treze de Maio, Nº 13, nas sextas feiras a partir das 18 horas e nos sábados os horários são alternados.


10 CIÊNCIA

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Embrapa realiza curso pioneiro de criopreservação e não comerciais e para o melhoramento genético, por isso é algo de extrema importância e que tende a crescer no futuro”, afirmou o pesquisador de Santa Catarina, Ramon Scherer.

Victor Rosa (texto e foto) Durantes os dias 10 e 15 de julho último, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) ofereceu, na cidade de Cruz das Almas, o primeiro Curso de Criopreservação em Plantas, tanto na instituição como na Bahia. A iniciativa contou com a participação de pesquisadores e estudantes da Universidade Estadual de Feira

de Santana (UEFS), IF Baiano e da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), como a mestranda em ciências agrárias Jacqueline Borges, que comentou que a criopreservação é seu tema de estudo e afirmou que é uma área que tende a crescer no Brasil. O curso também teve participação de estudantes e pesquisadores de outros estados, como Rio de Janeiro e Santa Catarina.

“Dentro da cadeia da vida as plantas são a base tudo. Tudo que nós comemos é recurso genético e até mesmo tudo que é da biodiversidade e não é recurso genético precisa ser preservado. Então as pesquisas em criopreservação vegetal são importantes por ela ser uma questão de conservar a biodiversidade”, pontuou a pesquisadora Fernanda Vidigal. “A criopreservação é uma técnica que pode ser utilizada para preservação de espécies comerciais

O que é A criopreservação é a conservação de células a temperaturas baixas, aproximadamente -196°C, através do nitrogênio líquido e pode ser utilizado tanto em origem animal, como a conservação dos gametas masculinos (espermatozoide) e femininos (óvulos), quanto em origem vegetal com preservação de plantas, caules e sementes. Segundo a pesquisadora da Embrapa Fernanda Vidigal, a criopreservação acontece porque se consegue adequar todas as condições para o congelamento e para a sobrevivência depois do congelamento graças a parada do metabolismo da célula. “[Criopreservação] É um tipo de conservação em que você precisa dominar a técnica de deixar a célula pronta para o congelamento e para o descongelamento. Não adianta congelar se você não souber descongelar”, citou a pesquisadora na edição 243 do informativo interno da Embrapa, A Semana. O Recôncavo ainda não possui uma instituição que trabalhe com a criopreservação de célula, mas tanto a Embrapa quanto a UFRB, ambas localizadas na cidade de Cruz das Almas, trabalham com pesquisas que envolvem a criopreservação de células vegetais e o seu melhoramento.


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Iasmyn Gordiano

COMPORTAMENTO

Assédio sexual nas ruas incomoda mulheres que vivem em Cachoeira

Está havendo um grande debate na mídia sobre assédios sexuais sofridos pelas mulheres ao redor do mundo. Desde experimentos em que as repórteres gravam seus caminhos para casa e trabalho, enquanto registram o que sofrem no percurso, até matérias que mostram o quão naturalizado é o assédio nas ruas. Para as moradoras de Cachoeira, essa é uma situação corriqueira e bastante incômoda. São queixas como a da comerciante Lúcia Freitas, segundo a qual os homens invadem o espaço das mulheres nas ruas de forma desrespeitosa. “Quando eu saio do trabalho, ouço comentários dos motoboys que ficam em frente à rua onde eu passo. Só não comentam nada quando estão sozinhos”, reclamou. A estudante de jornalismo Aline Ogasawara também já enfrentou situações semelhantes quando passava pelo caminho de casa junto com a amiga Karla Souza. “Tem uma pracinha no começo da ladeira da nossa rua [no bairro Morumbi] e toda vez que a gente subia tinha uns cinco caras sentados nessa praça. Eles ficavam chamando a gente e, como não olhávamos nem respondíamos, eles nos xingavam, chamavam de mal educadas, mal amadas e por aí vai”, denunciou Aline. Para Helen de Souza, outra estudante de jornalismo, o que separa a paquera do assédio é a sensação de medo que o assédio dá. “Pra mim, a diferença entre paquera e assédio é a forma como acontece. Na paquera, há um respeito, há uma conveniência de lugar. E também a forma como você fala, tom de voz, o jeito de olhar. Não é legal você chegar falando num tom sexual, tocando na pessoa”, explicou.

quadros de depressão e Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT). Sintomas como a hipervigilância – estado de vigilância contínua e disfuncional para elementos que sugiram possíveis situações de repetição do evento – a ansiedade exacerbada e medo; principalmente de enfrentamento de situações que remetam ao risco. A exposição contínua a situações que remetam ao assédio sexual pode gerar problemas de ordem física, social, cognitiva e psicológica. “A depressão pode ser percebida através de sintomas gerados pelo sentimento de culpa, auto percepção distorcida – é comum mulheres que passaram por este tipo de situação repetida, em um ou diversos ambientes, começarem a se responsabilizar pelos eventos e se estigmatizarem, com leituras negativas sobre si mesmas – insegurança, tristeza, diminuição da autoconfiança, baixa autoestima, falta de vontade de realizar atividades Traumas Segundo a psicóloga Lúcia Rocha, o assédio prazerosas e isolamento social”, explicou. sexual vivenciado por mulheres pode gerar No caso do TEPT, as consequências podem

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não vou a um bairro porque um agressor mora na entrada”, desabafou uma das meninas entrevistadas, que preferiu manter o anonimato, sobre o pior assédio já sofrido. O sentimento de desproteção e medo foram unânimes entre as entrevistadas. Elas afirmaram ter receio de contestar ou chamar atenção para a situação, pois acham que seus assediadores poderiam tentar algo pior se fossem confrontados em público. “Depende do momento e do lugar que estou. Como estudante, me sinto desprotegida e desencorajada a denunciar, devido a experiências de ameaças graves sofridas por colegas”, afirmou uma das fontes que também não quis ser identificada. Aline Ogasawara também afirmou ter medo de revidar os comentários. “Eles sempre estavam em maior número. Inclusive, sozinhos não falavam nada”, salientou.

ser a repetição – em que a mulher revive situações que a exponham a desconforto e incômodo, como parte da revitimização – ou o evitamento de ambientes, pessoas ou objetos que remetam a lembranças dos eventos. A hipervigilância para a possibilidade de riscos faz desencadear a disfuncionalidade da ansiedade, deixando a mulher atenta a quaisquer sinais de repetição dos eventos. “Acaba sendo uma defesa desenvolvida contra riscos, como fator de sobrevivência”, salientou. Enquete Em um questionário no Facebook, 63 mulheres responderam às perguntas e 93,4% afirmaram já ter sofrido assédio sexual nas ruas de Cachoeira. Cerca de 80,3% têm medo de reagir ao assédio e 77% têm medo de sair sozinhas pela cidade. “O trajeto que faço todo dia daria pra ser feito em oito minutos, mas eu faço em 15 ou mais, pois tenho medo de passar nas ruas em que fui agredida, pois meus agressores estão sempre lá. Também

Desrespeito “Não gosto quando saio de casa para pegar minha filha na escola e ouço fiu fiu de gente desconhecida. Me sinto invadida”, disse a dona de casa Elisângela Barreto. A falta de respeito com as mulheres é evidenciada quando elas saem sozinhas ou acompanhadas por outra mulher. “Quando a gente passava nas mesmas condições da situação anterior, mas na companhia de um homem, eles [os assediadores] ficavam quietos. Respeitam a presença do cara, mas a nossa que é bom...”, lamentou Aline. Campanhas como a #ChegadeFiuFiu, da página feminista Think Olga, traz à tona debates sobre o assédio sexual sofrido pelas brasileiras. Com a hashtag, milhares de mulheres denunciam online as agressões sofridas ao andarem pelas ruas. Criada em 2014, a Chega de Fiu Fiu recebeu mais de 40 mil curtidas em sua fanpage do Facebook, dando início a um movimento forte que busca denunciar os assédios em locais públicos.


CACHOEIRA | BAHIA Julho 2016

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Mesa redonda destaca mulheres no fotojornalismo baiano

Foto de Caíque Fialho Amanda Dias Com 26 anos de carreira, a fotojornalista Shirley Stolze, duas vezes vencedora do prêmio ABI (Associação Brasileira de Imprensa) de jornalismo, abriu a mesa redonda intitulada A fotografia como atividade profissional afirmando que “um dos principais atributos do fotojornalista é a ética profissional”. Segundo ela, a foto diz quase tudo, mas pode ser manipulada de diversas formas, por isso o fotojornalista deve sempre se preocupar com a verdade que é passada. A mesa foi realizada no dia 26 de julho, no auditório do Centro de Artes, Humanidades e Letras, coordenada pela professora Juciara Nogueira. Além de Shirley, o evento contou com a participação de Margarida Neide, outra conceituada fotojornalista várias vezes eleita fotógrafa do ano de esportes. Elas apresentaram suas respectivas carreiras, exposições, fotos premiadas e sobretudo dicas sobre o mercado fotojornalístico. Ensaio Shirley Stolze é bacharel em artes, porém sua carreira de fotojornalista começou quando o então diretor do jornal Correio da Bahia viu seu ensaio em preto e branco com moradores de rua e a convidou para trabalhar com fotojornalismo para o veículo. Bastaram três meses de experiência para ela se apaixonar pela profissão. “Eu fotografo quase todos os dias, saio com a câmera, fotografo minha cidade, sou uma fotógrafa de rua e sou completamente viciada em fotografia, não posso ficar um dia sem fotografar”, declarou com brilho nos olhos. Atualmente, Shirley trabalha como freelancer porque a adrenalina

do jornal não a deixava tempo para se dedicar aos seus trabalhos autorais. “No jornal é dedicação exclusiva. Como eu já havia feito meu nome, decidi trabalhar por conta própria, no momento eu estou nessa fase autoral do meu trabalho”. Para ela, o jornal foi como uma grande escola, além de ser uma grande vitrine para o fotojornalista. Analógica Margarida Neide também é do tempo da fotografia analógica. “Antigamente eu ia fazer uma partida de futebol no interior, fazia 15 minutos de partida, corria para o hotel, me trancava naquele banheirinho, montava um laboratório ali, revelava a foto correndo e passava no fax, a ligação caía e a foto saia cheia de ruído. Hoje em dia eu estou na Fonte Nova, aperto um botão e o mundo está

vendo a minha foto”, lembrou. Ela defende que a câmera digital oferece muitos clicks e a qualidade das fotografias acaba caindo porque os profissionais estão deixando de treinar o olhar. Margarida também acredita que depois das câmeras digitais o mercado fotográfico virou uma “prostituição”. “Todo mundo se acha fotografo, vende e vende barato. Então, o mercado caiu muito. Hoje em dia eu não faço mais freela como antigamente por causa do preço. Mas fotojornalismo é paixão, a gente nunca fez isso por dinheiro, a gente faz por que tá no sangue. Eu não consigo ficar fora da redação, me dá coceira”. Brincou ela que, aos 30 anos de carreira, ainda se define como uma “repórter fotográfica que gosta de ação”. Margarida também pode ser definida como pioneira, pois em 1986 já era uma das primeiras mulheres a fotografar partidas de futebol, um ineditismo ousado para a época. “No começo foi punk, eu invadi um dos maiores redutos machistas. Era uma coisa inédita uma mulher fazendo futebol, mas hoje em dia, graças a Deus, eu sou muito respeitada, inclusive por alguns fotógrafos que tentaram ficar no meu caminho”. Exposição Simultaneamente à mesa, no foyer do auditório, acontecia a exposição Múltiplas Realidades, organizada pela professora Alene Lins e com curadoria dela e de Juciara. Foram 34 imagens retratando lugares e personagens diversos, nos tamanhos 50X70 e 29,7X42, acompanhadas por textos produzidos pelos estudantes descrevendo as coordenadas da produção fotográfica e, ainda, contextualizando sobre o conteúdo imagético. O resultado somou variações de enquadramentos, perspectivas, tempo de obturação nos borrados, congelados, nuances de luz e cor.

A fotógrafa Shirley Stolze e a professora Juciara Nogueira. Foto de Tamires de Jesus.


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