Viram as flores vermelhas e as caras pálidas de
O senhor Milhões
abatimento. O palácio de mármore e as cabanas de O Senhor Milhões herdara seu nome e seus milhões de
palha. O Senhor Milhões, à janela, coberto de ouro e os
outro Senhor Milhões, filho de um Senhor Milhões, neto
seus homens esfarrapados e descalços.
de outro Milhões.
Também os criados do grande ricaço se espantavam
Tinha dinheiro como milho. Cofres de moedas de ouro,
com o mundo que lhes foi dado a ver: as casas com seus
baús de moedas de prata, caixotes de moedas de cobre.
quintais, as caras com seus sorrisos, as lojas com suas
Os seus lençóis eram feitos de notas de conto, muito
compras e o dinheiro nas mãos daqueles que
bem cosidas umas às outras; seus guardanapos eram
trabalhavam.
notas de quinhentos; e em vez de papel da retrete usava
De repente, como se uma força os puxasse, os criados
notas de cem.
do Senhor Milhões começaram a sair para a rua.
Redondo como uma moeda, o Senhor Milhões tinha
Primeiro, a medo, um a um, hesitantes; depois, aos
umas perninhas curtas, que nunca andaram mais do que
pares, aos grupos, aos bandos, em aluviões. Largavam
o espaço que ia da cama ao salão, da casa de jantar à
enxadas,
entrada do jardim. Tinha uns bracitos delgados, que
abandonavam rebanhos, manadas de touros, coelheiras
nunca haviam pegado em nada mais pesado do que um
e capoeiras. Cantavam e riam.
talher de prata.
Habituado ao silêncio que nenhuma voz podia cortar, o
A casa era forrada de espelhos. Neles se via, belo,
Senhor Milhões surgiu à varanda. Atarantado, dava
reluzente, de careca muito polida como uma bola
ordens e contra-ordens. Ninguém o ouvia. Mandava
envernizada, óculos de aros de ouro, dentes de ouro,
chicotear, ordenava que prendessem. Ninguém o ouvia.
alfinete de ouro na gravata, botões de punho de ouro e
Quando a noite desceu, estava sozinho com seus
moedas de libras de cavalinho a fazer de botões. Da
caixotes de moedas de cobre, baús de moedas de prata,
algibeira pendia-lhe um relógio de ouro, a que nunca
cofres de moedas de ouro. Sentou-se à mesa - ninguém
dava corda, pois as horas para si eram todas iguais, e na
o serviu. Deitou-se - ninguém lhe apagou a luz. Enrolou-
ponta de uma corrente enorme tilintava um molho
se nos lençóis de notas de mil, assoou-se a uma nota de
imenso de chaves de todos os tamanhos e formatos.
cinquenta e toda a noite esperou que os criados
Possuía o Senhor Milhões um exército de criados:
voltassem. Mas quando o dia raiou, nem um passo
porteiros,
rangia nas salas, nem um vulto ao longe se vislumbrava.
motoristas,
engraxadores,
cozinheiros,
mata-moscas,
limpadores de pó, enxotadores de moscas, jardineiros,
Então o Senhor Milhões,
carregadores, alfaiates, cultivadores do campo. Não
redondo, redondo como uma
faltavam sequer os capatazes, de chicote na mão, para
moeda, luzente, luzente como
os obrigar a trabalhar.
o seu ouro, sentou-se na
Em redor das suas terras, cercando as suas gentes,
poltrona dourada, cobriu-se
erguiam-se muros enormes, que ninguém podia
de notas e deixou-se morrer
transpor. Mas certo dia, velho de centenas de anos, um
de fome.
tesouras,
martelos;
dos portões enferrujou de todo. Foi preciso tirá-lo para o substituir. Então os homens de fora espreitaram as
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imensas quintas, as searas curvadas ao peso do trigo, os trabalhadores curvados ao peso do trabalho desmedido.
PROFESSOR-LEITOR: ____________________________
21 de Março
Caro colega, No âmbito das comemorações da Semana da Leitura 2011, a Equipa da Biblioteca vem solicitar-lhe que, caso não prejudique as actividades que tem programadas, leia aos alunos o texto que se segue. Após a leitura, agradecemos que assine o documento para evitar duplicações Grata, A equipa da Biblioteca