dia 21 março

Page 1

Viram as flores vermelhas e as caras pálidas de

O senhor Milhões

abatimento. O palácio de mármore e as cabanas de O Senhor Milhões herdara seu nome e seus milhões de

palha. O Senhor Milhões, à janela, coberto de ouro e os

outro Senhor Milhões, filho de um Senhor Milhões, neto

seus homens esfarrapados e descalços.

de outro Milhões.

Também os criados do grande ricaço se espantavam

Tinha dinheiro como milho. Cofres de moedas de ouro,

com o mundo que lhes foi dado a ver: as casas com seus

baús de moedas de prata, caixotes de moedas de cobre.

quintais, as caras com seus sorrisos, as lojas com suas

Os seus lençóis eram feitos de notas de conto, muito

compras e o dinheiro nas mãos daqueles que

bem cosidas umas às outras; seus guardanapos eram

trabalhavam.

notas de quinhentos; e em vez de papel da retrete usava

De repente, como se uma força os puxasse, os criados

notas de cem.

do Senhor Milhões começaram a sair para a rua.

Redondo como uma moeda, o Senhor Milhões tinha

Primeiro, a medo, um a um, hesitantes; depois, aos

umas perninhas curtas, que nunca andaram mais do que

pares, aos grupos, aos bandos, em aluviões. Largavam

o espaço que ia da cama ao salão, da casa de jantar à

enxadas,

entrada do jardim. Tinha uns bracitos delgados, que

abandonavam rebanhos, manadas de touros, coelheiras

nunca haviam pegado em nada mais pesado do que um

e capoeiras. Cantavam e riam.

talher de prata.

Habituado ao silêncio que nenhuma voz podia cortar, o

A casa era forrada de espelhos. Neles se via, belo,

Senhor Milhões surgiu à varanda. Atarantado, dava

reluzente, de careca muito polida como uma bola

ordens e contra-ordens. Ninguém o ouvia. Mandava

envernizada, óculos de aros de ouro, dentes de ouro,

chicotear, ordenava que prendessem. Ninguém o ouvia.

alfinete de ouro na gravata, botões de punho de ouro e

Quando a noite desceu, estava sozinho com seus

moedas de libras de cavalinho a fazer de botões. Da

caixotes de moedas de cobre, baús de moedas de prata,

algibeira pendia-lhe um relógio de ouro, a que nunca

cofres de moedas de ouro. Sentou-se à mesa - ninguém

dava corda, pois as horas para si eram todas iguais, e na

o serviu. Deitou-se - ninguém lhe apagou a luz. Enrolou-

ponta de uma corrente enorme tilintava um molho

se nos lençóis de notas de mil, assoou-se a uma nota de

imenso de chaves de todos os tamanhos e formatos.

cinquenta e toda a noite esperou que os criados

Possuía o Senhor Milhões um exército de criados:

voltassem. Mas quando o dia raiou, nem um passo

porteiros,

rangia nas salas, nem um vulto ao longe se vislumbrava.

motoristas,

engraxadores,

cozinheiros,

mata-moscas,

limpadores de pó, enxotadores de moscas, jardineiros,

Então o Senhor Milhões,

carregadores, alfaiates, cultivadores do campo. Não

redondo, redondo como uma

faltavam sequer os capatazes, de chicote na mão, para

moeda, luzente, luzente como

os obrigar a trabalhar.

o seu ouro, sentou-se na

Em redor das suas terras, cercando as suas gentes,

poltrona dourada, cobriu-se

erguiam-se muros enormes, que ninguém podia

de notas e deixou-se morrer

transpor. Mas certo dia, velho de centenas de anos, um

de fome.

tesouras,

martelos;

dos portões enferrujou de todo. Foi preciso tirá-lo para o substituir. Então os homens de fora espreitaram as

ANO: _______________ TURMA: _________________

imensas quintas, as searas curvadas ao peso do trigo, os trabalhadores curvados ao peso do trabalho desmedido.

PROFESSOR-LEITOR: ____________________________


21 de Março

Caro colega, No âmbito das comemorações da Semana da Leitura 2011, a Equipa da Biblioteca vem solicitar-lhe que, caso não prejudique as actividades que tem programadas, leia aos alunos o texto que se segue. Após a leitura, agradecemos que assine o documento para evitar duplicações Grata, A equipa da Biblioteca


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.